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Jukebox NBA 2015-16: a maldição do pelicano
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Season of the Witch”, por Donovan

Você abre o HoopsHype numa manhã quente de princípio de (?) outono como outra qualquer e, depois do mais recente ba-fa-fá do Lakers, desce a barrinha e alcança aquilo que parece um boletim médico todo dedicado ao New Orleans Pelicans:

– Jrue Holiday foi diagnosticado com uma fratura de órbita ocular inferior. Ele vai perder o restante da temporada. A lesão ocorreu com 56s1 restando no quarto período da partida contra o New York Knicks.

– Alonzo Gee sofreu uma ruptura Ruptura completa do músculo reto femural  direito e vai perder o restante da temporada.

– Ryan Anderson foi diagnosticado com uma hérnia do atleta. Ele vai procurar uma segunda opinião de um especialista da Filadélfia ainda nesta semana. Detalhes adicionais serão anunciados de modo apropriado após a avaliação.

– Norris Cole está com um desconforto nas costas e vem sendo avaliado diariamente.

E aí? Já tomou seu remedinho hoje? É, ou não é de se contorcer todo na cadeira?

As ocorrências foram todas divulgadas num dos releases mais deprimentes da história. Isso depois de o técnico Alvin Gentry dar uma das entrevistas coletivas mais engraçadas (e desesperadas) da história da NBA, mesmo depois de um triunfo sobre o Knicks, em casa, por 99 a 91. Pudera: quando Holiday foi atingido por Kristaps Porzingis e teve de ser retirado de quadra, o treinador olhou para o banco de reservas e não soube o que fazer. “Queria colocar alguém capaz de levar a bola, e lá estavam Omer, Perkins e Alexis”, lembrou. “Não me senti confortável em usar nenhum deles para essa função”, completou. “É assustador.”

O sarcasmo parece ser a única escapatória para Gentry. Imagine a cabeça do cara: seu ex-clube, o Warriors, flerta com a marca de 73 vitórias. Já o Pelicans está fora dos playoffs, com uma das campanhas mais decepcionantes da temporada, enfrentando uma urucubaca que parece não ter fim.

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Lembremos que, além dos quatro desfalques acima, o time já não podia contar mais com seu craque, Anthony Davis, além do ala-armador Tyerke Evans e dos alas Quincy Pondexter, Eric Gordon e Bryce Dejean-Jones, o calouro que foi contratado da D-League justamente para preencher a lacuna na rotação de perímetro. Depois dessa atualização, até mesmo Dave Joerger, do Grizzlies, pode se sentir protegido por forças superiores.

“Vou mandar um boletim detalhado para todo mundo no French Quarter, ou em qualquer lugar. Precisamos de um médico de vudu, ou alguma coisa desse tipo aqui. Temos de encontrar os ossos enterrados debaixo desse ginásio. Temos de fazer algo, porque isso já virou até cômico”, disse Gentry. “No momento, todos os caras da D-League estão sentados olhando para seus telefones achando que a chance deles chegou.”

Para constar, o armador Tim Frazier (ex-Blazers) já teve seu contrato efetivado até o final da temporada, enquanto o ala Jordan Hamilton (ex-Nuggets) cumpre um contrato temporário de dez dias. Então pode ser que as vagas já estejam fechadas. Mas a piada de Genry foi muito boa para ser ignorada. “Não sei, acho que você tem de rir dessas coisas. Não sei mais o que podemos fazer. Agora temos mais de 100 pontos por jogo sentados lá fora. Se fizermos só sete pontos na próxima partida, apenas considere isso.”

Para ser mais preciso, somando as médias de todos os desfalques do Pelicans, o time está perdendo 109,2 pontos. Claro que o número de cada jogador seria diferente, se o time estivesse inteirinho do início ao fim, mas dá para ter uma ideia do tamanho do estrago. E do prejuízo também: em termos de salário, a enfermaria do Pelicas hoje está tratando de mais de US$ 60 milhões em investimentos (contando os holerites dos jogadores apenas desta temporada).

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Agora, na hora de preparar seu time, Gentry vai ter de imaginar jogadas para Frazier e o andarilho Tony Douglas decidirem. Ou Hamilton, que sempre teve tino para pontuar, ainda que de forma irregular. Ou Luke Babbitt, que mal foi utilizado entre dezembro e janeiro e, de repente, nos últimos cinco jogos, tem média superior a 28 minutos por confronto. Se tiver uma propensão ao sadismo, também pode tentar jogadas de postup com Omer Asik e Kendrick Perkins.

Sim, esta foi uma temporada com a bruxa solta em New Orleans, para citarmos a canção de Donovan, o compositor escocês que começou rotulado como “folk”, mas arriscou de tudo um pouco. Entre tantas opções de canções impregnadas pelo ocultismo, seja com reverência ou com a zoeira, esta ao menos tem uma das letras mais, digamos, pueris. De desgraça o Pelicans já está farto.

De time emergente no Oeste, pensando em até mesmo ir longe nos playoffs, já estão fora da disputa e agora concentrados no próximo Draft, com 27 vitórias e 46 derrotas, com aproveitamento de 37%. Um baque daqueles para uma equipe que havia melhorado seu rendimento por quatro campanhas consecutivas, dos 31,8% de 2012 aos 54,9% do ano passado, quando conseguiu superar forte concorrência para chegar aos mata-matas pela primeira vez num mundo pós-Chris Paul.

Gentry, Monocelha e o vudu

Gentry, Monocelha e o vudu

Agora não tem jeito. É virar a página e ao menos se contentar com o fato de que terão mais uma escolha alta de Draft, ainda que num recrutamento considerado fraco para a maioria dos scouts da liga. Se acertarem o alvo, poderão adicionar um jogador jovem, talentoso e barato para tentar contra-atacar no próximo campeonato, provavelmente ainda sob o comando de Alvin Gentry, um cara de currículo irregular e bastante rodado na liga, mas que nunca viu nada parecido com isso.

O técnico vem sendo bastante criticado e, de fato, não esteve tão inspirado assim em seus ajustes, ainda mais se compararmos com o que Joerger conseguiu em Memphis, em circunstâncias semelhantes. Insistiu por muito tempo com Asik, sacrificando o ataque sem melhorar a defesa. Assim como Fred Hoiberg, insistiu com um sistema mesmo quando não tinha mais peças para fazer a máquina andar ao seu modo. De qualquer forma, é injusto avaliar qualquer trabalho sob essas condições. Em vez de demitir um treinador pelo segundo ano consecutivo, o mais certo talvez fosse torcer por melhor sorte e saúde no training camp deste ano. Ou contratar logo uma benzedeira.

A pedida? A… sorte grande no próximo Draft. De repente Ben Simmons ou Brandon Ingram como parceiros do Monocelha?

A gestão: pois é. Aqui a coisa fica mais feia.

Que a sucessão de lesões tem a ver com azar, não há dúvida. Mas é inegável também que o gerente geral Dell Demps, mais um ano do Instituto Spursiano Popovich & Buford de basquete, contratou uma série de jogadores com histórico médico duvidoso para formar uma base em torno de Anthony Davis. Tyerke Evans e Ryan Anderson nunca foram reconhecidos como ironmen. Muito menos Eric Gordon, que poderia ter saído para o Phoenix Suns em 2012, mas teve seu contrato renovado, na marra.

(O armador Jrue Holiday parece ter se contagiado e também virou desfalque constante, depois de ter custado ao time duas escolhas de primeira rodada – que resultaram em Nerlens Noel e Dario Saric. Desde que chegou a N’awlins, ainda não conseguiu bater a marca de 70 partidas, sendo que as 65 desta temporada são um recorde.)

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

O que pode ser dito em defesa do gerente geral é que a franquia tem uma situação instável no andar de cima. Também proprietário do New Orleans Saints, Tom Benson, 88 anos, se envolveu em uma disputa judicial com sua família sobre o controle dos dois clubes. Pela idade avançada, Benson teria exercido forte pressão para que Demps apressasse o processo de reconstrução em torno do Monocelha, exigindo que o time voltasse aos playoffs o quanto antes.

Para isso, conta com os serviços do gestor Mickey Loomis, um cara que, de modo improvável, acumula as funções de vice-presidente executivo e gerente geral do Saints, assim como vice-presidente executivo do departamento de basquete do Pelicans. Sim, acreditem: a confiança de Benson em Loomis é tamanha que ele acredita ser possível supervisionar uma equipe de basquete e outra de futebol americano ao mesmo tempo. Existe nos bastidores da NBA, então, uma dúvida sobre quem estaria dando as cartas, mesmo. Em princípio, as negociações ainda são responsabilidade de Demps, incluindo a estranha demissão de Monty Williams no ano passado, depois de suposta disputa interna entre o cartola e o treinador.

A despeito dos caprichos de Benson, o tópico mais urgente para a franquia é deixar Anthony Davis satisfeito. A acidentada temporada do Pelicans pode custar ao ala-pivô uma grana considerável, algo em torno de US$ 24 milhões em bônus contratual. Com médias de 24,3 pontos, 10,3 rebotes, 2,0 tocos, 1,3 roubo e 1,9 assistência, é provável que o jovem astro conseguisse uma vaguinha na eleição dos três quintetos ideais da liga (All-NBA) nesta temporada. A péssima campanha da equipe, porém, pode tirá-lo do páreo.

Publicamente, ao menos, Davis vem dizendo todas as coisas certas. Que seria egoísta da parte dele seguir jogando, mesmo com o ombro e o joelho comprometidos, para tentar buscar essa premiação. “Ainda é muito dinheiro o que vou receber: US$ 125 milhões. Mas não há nada que se possa fazer a respeito. É um contrato, não tenho controle sobre isso. Você só controla aquilo que pode, que é o que acontece em quadra”, afirmou o ala-pivô, que vai ficar fora de quadra por três a quatro meses, ficando fora também do #Rio2016.

Por outro lado, para se ter em conta: Davis já perdeu 68 partidas em suas primeiras quatro temporadas. Quase um campeonato inteiro.

Olho nele: Alexis Ajinça

No ano passado, Ajinça marcou 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

No ano passado, todo espichado, Ajinça fez 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

Não, não estamos falando de um craque. Mas, sem Anthony Davis e Ryan Anderson, alguém que sobrou na linha de frente do time precisa pontuar, certo? E não dá para esperar que esses pontos venham de Asik e Perk. Entra em cena o espigão, que, perto da dupla, parece um superatleta até. Isso passou, de certa forma, despercebido, mas o pivô fez um bom campeonato em 2014-15, confirmando seu potencial, merecendo uma extensão contratual de US$ 20 milhões por quatro anos. O negócio só merece críticas quando somado ao de Omer Asik. Não havia por que gastar tanto nos dois, e o preço do francês saiu muito mais em conta.

Seu momento mais produtivo aconteceu num período em que Davis estava fora de combate, entre fevereiro e março. Em seis partidas, teve médias de 13,8 pontos, 8,3 rebotes e 1,5 toco, em 23 minutos. Agora tem nova oportunidade para mostrar que tem jogo, desde que maneire nas faltas – em sua carreira, comete 6,3 faltas numa projeção por 36 minutos. Quer dizer, não conseguiria completar uma partida sem ser excluído. A questão é saber se Tim Frazier e Toney Douglas conseguirão acioná-lo de modo apropriado.

marquinhos-new-orleansUm card do passado: Marquinhos. Olha ele aí! Já faz tanto tempo, que corremos o risco de nos esquecer que, dez anos atrás, o ala dava sequência à trilha de jogadores brasileiros no Draft, inaugurada por Nenê em 2002. Inserido nos registros históricos da liga como “Marcus Vinícius”, ele  ficou uma temporada e meia no clube, após ser selecionado na 43ª colocação do recrutamento de novatos.

É interessante relembrar a curta passagem de Marquinhos por lá por dois motivos. Primeiro que até hoje o clube o acompanha de alguma forma.  Depois de sua ótima participação na Copa de 2014, fez sondagens para uma possível repatriação. Um ala alto com chute e versatilidade é do que se tem mais de cobiçado na NBA. Mas é improvável que uma proposta seja formalizada.

O segundo item que chama a atenção aqui é o nome do time gravado no card: NO/OK Hornets. Como consequência do devastador furacão Katrina, a franquia se viu obrigada a dividir suas operações com Oklahoma City, que a acolheu de modo caloroso. Foi um gesto que impressionou tanto o antigo comissário David Stern, aliás, que valeu como semente para o sequestro do Seattle Supersonics pela cidade, pouco depois.

A nomenclatura ficou ainda mais estranha quando o apelido Hornets foi devolvido a Charlotte, enquanto New Orleans adotou a atual alcunha. É uma confusão, do ponto de vista administrativo, digna dos primeiros anos instáveis da liga.


Pelicans bate Spurs, vai aos playoffs e garante visibilidade a Davis
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Giancarlo Giampietro

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Um primeiro momento marcante para Anthony Davis

O torcedor do Oklahoma City Thunder não vai gostar da frase. Mas paciência: Anthony Davis fez justiça ao liderar o New Orleans Pelicans em uma grande vitória sobre o San Antonio Spurs, por 108 a 103, nesta quarta-feira. Uma vitória que o classifica pela primeira vez aos playoffs.

Antes que Russell Westbrook se irrite, explico: “justiça” aqui tem muito mais a ver com a atenção que o inestimável Monocelha vai receber do fã casual da NBA do que qualquer falta de merecimento dos rapazes de OKC. Ele pode ter sido eleito titular no All-Star Game em votação popular. Mas, estranhamente, não entrou na discussão pelo prêmio de MVP, por exemplo. É como se não contassem o prodígio do Pelicans entre os grandes ainda – somente para a festa. Na marra, ele se insere nesse grupo.

Wess e sua turma batalharam e fizeram sua parte na saideira da temporada, ao esmigalhar a garotada de Minnesota (138 a 111). Numa campanha acidentada, sem Durant e Ibaka, o controverso astro do Thunder também poderia receber uma vaguinha nos mata-matas como recompensa. Mas o alto nível da Conferência Oeste deixa vítimas pelo caminho. Na temporada passada, foi Goran Dragic. Agora… poderia ter sido Davis. Para alívio do gerente geral do Pelicans, Dell Demps, não foi o que aconteceu.

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O cartola tinha em mãos o atleta mais promissor a dar as caras na liga em muito tempo. Em vez de optar por uma construção lenta, gradual e segura, aos moldes do Thunder com Durant, acelerou a formatação de seu elenco ao buscar ‘jovens veteranos’ como Tyreke Evans, Jrue Holiday e Ryan Anderson. Por trás disso, havia uma urgência do proprietário do clube, Tom Benson, de 87 anos.

Para tanto, gastou escolhas de Draft sem pestanejar. A última delas serviu para tirar Omer Asik de Houston. No papel, tinha um bom time, competitivo – mas nada era garantido nessa brutal conferência. De qualquer forma, o Pelicans estava bem posicionado para o caso de a sorte ajudar um pouco. E aí vieram as lesões em OKC e os problemas de vestiário em Phoenix.

A exuberância atlética de Davis. Agora, nos playoffs

A exuberância atlética de Davis. Agora, nos playoffs

Ainda assim, por semanas e semanas, todo mundo se perguntava se a oitava posição ficaria entre Suns e Thunder. Era como se o basquete praticado em New Orleans fosse irrelevante – não era o caso. Um pecado: estavam ignorando uma campanha assustadora de Anthony Davis, o jogador mais eficiente da temporada. Que acabou de completar 22 anos em março. É mais jovem que Lucas Bebê e Jonas Valanciunas.

Então cá está o Monocelha, pronto para receber toda a atenção que o confronto com os darlings do Golden State Warriors vai propiciar. Um garoto, apenas, mas que já teve uma das temporadas estatísticas mais impressionantes da história. E que botou em prática esses talentos múltiplos contra o Spurs, saindo de quadra com 31 pontos, 13 rebotes, 2 assistências, 2 roubos de bola e 3 tocos, em 43 minutos. Tudo nos conformes: durante o campeonato, passou da marca de 30 pontos em 14 partidas; deu três ou mais tocos em 25 rodadas; pegou mais de 10 rebotes 38 vezes. Etc. Difícil entender como um jogador desse potencial e já com esse nível de produtividade pode ser, de certa maneira, ignorado.

Contra o Spurs, aproveitando da energia de sua torcida, sua equipe abriu 34 a 19 logo no primeiro quarto. Chegou a abrir 23 no segundo período e a liderar por 18 no terceiro. A artilharia pesada dos texanos, porém, deu um pouco de emoção ao duelo no período final, quando a vantagem despencou para quatro pontos (86 a 82). Os jovens anfitriões, contudo, resistiram, liderados pelo Davis, dos dois lados da quadra. Depois dessa, de certo não passarão mais despercebidos.

*   *   *

A derrota custou caro ao Spurs. Combinada com as vitórias do Houston Rockets e do Memphis Grizzlies, acabou empurrando os atuais campeões da segunda para a sexta posição no Oeste. No que isso vai dar? Um confronto com o potentíssimo ataque do Los Angeles Clippers. Não que Gregg Popovich, Tim Duncan, Ginóbili, Parker se intimidem com isso. Mas é claramente, hoje, um adversário mais forte, com todas as suas principais peças em quadra. O Rockets ficou com a vice-liderança e terá pela frente o Dallas Mavericks, para delírio daqueles que vibram com a rivalidade Mark Cuban-Daryl Morey, enquanto o Grizzlies subiu para quarto, para encarar o desfalcado Portland Trail Blazers.  Os playoffs ficaram assim:

1º Warriors x 8º Pelicans
4º Trail Blazers x 5º Grizzlies
2º Rockets x 7º Mavericks
3º Clippers x 6º Spurs

(Lembrando sempre que o Grizzlies, com melhores resultados, tem mando de quadra contra Portland.)

*   *   *

No Leste, o Brooklyn Nets deu um jeito de evitar um vexame total. Com a folha salarial mais custosa da liga, a equipe nova-iorquina venceu o Orlando Magic, viu o Indiana Pacers perder para o Memphis e garantiu a oitava e última vaga. O Chicago Bulls venceu o Atlanta Hawks – num duelo em que até mesmo Tom Thibodeau preservou seus atletas – e terminou em terceiro, na chave do Cavs.

Estamos assim, então:

1º Hawks x 8º Nets
4º Raptors x 5º Wizards
2º Cavs x 7º Celtics
3º Bulls x 6º Bucks

Apagadíssimo no início da temporada, o croata Bogdan Bogdanovic foi o grande nome da vitória derradeira dos Nyets, sobre o Orlando Magic (101 a 88), marcando 28 pontos em 34 minutos, tendo desperdiçado apenas cinco de 17 arremessos. Demora, mas os astros europeus se adaptam.

Já o Pacers fica pelo caminho devido a uma derrota para Memphis, por desvantagem no confronto direto com Brooklyn. A equipe de Frank Vogel é a versão do Thunder em sua conferência. Mútliplas lesões, inclusive envolvendo seu principal nome. Batalharam, dependiam apenas de seus próprios esforços nesta quarta, mas simplesmente não tinham armas para derrubar a fortaleza que é a defesa do Grizzlies com Marc Gasol em boa forma (95 a 83).

*   *   *

Não havia como escapar da insanidade. Coisas estranhas, beeem estranhas sempre acontecem na jornada de conclusão da temporada. De modo que Ron Artest certamente madrugou na Itália para conferir os descobramentos pela TV – ou, mais provável, pela grande rede, via League Pass.  Conhecendo o apreço que ala do Cantu tem pelas coisas malucas da vida, deve ter se divertido horrores assistindo a Philadelphia 76ers x Miami Heat. Um jogo bizarro pela natureza dos negócios da NBA, daqueles que ninguém tinha muitos incentivos para ganhar.

Michael Beasley brilha na hora... Errada?

Michael Beasley brilha na hora… Errada?

O Sixers, conforme os deuses do basquete já testemunham há anos agora, não anda tão interessado em obter vitórias imediatas. Contra o Heat, porém, o buraco era mais fundo: dependendo da loteria do Draft, a escolha de primeira rodada do clube da Flórida pode ser encaminhada para a Filadélvia (via Cavs). Para obter esse pick, precisam que ele não fique entre os dez primeiros lugares.

Daí que o time da Flórida entrou em quadra para fechar sua temporada tendo justamente a décima pior campanha da liga. Caso vencesse e o Brooklyn Nets perdesse para o Orlando Magic, os dois ficariam empatados na classificação geral. E aí a ordem seria definida na famosa moedinha. Melhor não depender disso, né? Erik Spoelstra decidiu, então, acionar apenas seis jogadores na partida. Mais: o único reserva a participar foi o veterano Udonis Haslem, por sete minutinhos, rendendo Zoran Dragic, o irmão caçula do Goran. (Para constar: Brett Brown jogou com sete caras, mas os dois reservas, Thomas Robinson e Hollis Thompson, tiveram 26 e 31 minutos.)

De resto, Michael Beasley, Henry Walker, Tyler Johnson e James Ennis jogaram todos os 48 minutos. Ainda assim, esses renegados tiveram perna para segurar uma reação dos adversários no segundo tempo, depois de terem vencido a primeira etapa por 18 pontos. Placar final:105 a 101. Beasley quase pôs tudo a perder, aliás, somando 34 pontos, 11 rebotes, 8 assistências, 2 tocos e 2 roubos de bola, com direito a 27 arremessos de quadra. Spo e Riley devem ter soluçado: “Mas é isso é hora de mostrar serviço?!”

Mas deu tudo, hã, certo. O Brooklyn venceu o Orlando e ainda entrou na zona dos playoffs, caindo para 15º no Draft. O Indiana ficou em 11º, com duas vitórias a mais que Agora… Não quer dizer que a escolha esteja garantida para Miami. Se, por um milagre (para uns) ou uma desgraça (para outros), algum dos times situados entre os 11º e o 14º lugares saltarem para o Top 3 no sorteio, Sam Hinkie vai receber mais um presentinho.


Poucos notam, mas o New Orleans Pelicans ainda está na briga
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Giancarlo Giampietro

Anthony Davis pode ser o MVP. Desde que o Pelicans...

Anthony Davis pode ser o MVP. Desde que o Pelicans…

Nesta segunda-feira, demos uma passada pela situação de classificação do Leste. Se a gente virar a tábua, no Oeste, existe uma situação curiosa: virou lugar comum falar que o Phoenix Suns vai tentar de tudo para se segurar com a oitava colocação diante da pressão de um Oklahoma City Thunder completo, e sobre como será difícil resistir ao ataque destes. Até faz sentido quando lembramos que o Suns foi o time que brigou por esse oitavo lugar até o fim do campeonato, sem sucesso, enquanto OKC surfava lá em cima, perto do Spurs.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Só tem um problema nessa história toda: o New Orleans Pelicans de Anthony Davis, que insiste em se manter entre uma franquia e a outra, ocupando a nona posição numa corrida – aí, sim, de verdade – pelos playoffs.

(Ao contrário do que acontece na outra metade do país, em que muitas equipes de fato até querem uma vaguinha, mas estão completamente  danificadas. O Charlotte Hornets, por exemplo,  que hoje é o oitavo, de um dia para o outro, descobriu que Kemba Walker vai precisar passar por uma cirurgia devido a um menisco lateral rompido no joelho esquerdo. Ele deve ficar afastado por um mínimo de seis semanas. Então lá vai Brian Roberts para o resgate.)

Os Monocelhas estão curtindo sua maior série de vitórias na temporada (quatro, com 24 vitórias e 21 derrotas no geral) e têm o Denver Nuggets como próximo compromisso. Tudo isso em meio a um período extremamente favorável na tabela: dos 12 jogos antes do intervalo do All-Star Game, dez serão em casa. Alguns visitantes são bem incômodos: Los Angeles Clippers (30/01), Atlanta Hawks (02/02). No fim de semana, porém, a equipe venceu o Dallas Mavericks para ganhar confiança.

Ah, antes que esqueça: quem também vai dar um pulo por Nova Orleans em breve é o… Oklahoma City, dia 4 de fevereiro. E mais: no dia seguinte, os dois times voltam a se enfrentar no ginásio do Thunder, numa daquelas dobradinhas lá-e-cá que se encaixam da melhor maneira possível em meio à maratona da temporada regular.

Se ninguém cogita o Pelicans como opção viável para os mata-matas da conferência, dependendo do que aprontarem nas próximas semanas, as coisas podem mudar rapidamente, dependendo muito do que acontecer no confronto direto com Durant e Westbrook. É a chance de a franquia romper com a mediocridade e partir para cima da concorrência.

Antes de mais nada, como o vocábulo é gasto à vera por aí, vale esclarecer que, segundo um dos pais de nós todos, “mediocridade” se assimila, pela ordem, da seguinte maneira: “1. Médio ou mediano. 2. Meão. 3. Que está entre bom e mau. 4. Que está entre pequeno e grande. 5. Ordinário, sofrível, vulgar. Naturalmente, em tempos de ódio mortal por qualquer coisa, para a esmagadora maioria, o quinto lugar virou o primeiro. No caso do Pelicans, vale o primeiro.

Até esta segunda-feira, quando massacrou o Philadelphia 76ers, a  galera do Monocelha nunca havia ficado mais que duas vitórias acima da marca de 50% (5-3 e 7-5 foi o máximo que conseguiu). Ao mesmo tempo, também nunca se viu duas derrotas abaixo dessa linha mediana (8-10, a pior). Além disso, antes de engatar esta sequência de quatro resultados positivos, os caras não haviam somado mais do que dois triunfos consecutivos, assim como também não perderam mais do que três em série (sendo derrotado por Sacramento Kings, quando eles ainda eram bons, Atlanta Hawks e Washington Wizards). Já tomaram vareios de Warriors, Blazers e Clippers, é verdade, mas, além do Mavs, também derrotaram Grizzlies, Raptors e Rockets. Isto é: a lei de que tudo se equilibra no decorrer da temporada da NBA  encontra em N’awlins seu maior representante nesta temporada.

No Oeste e na estrada, Pelicans se manteve na linha da mediocridade. Hora de deslanchar?

No Oeste e na estrada, Pelicans se manteve na linha da mediocridade. Momento para deslanchar?

Se o aproveitamento de 53,3% não chama tanta a atenção, é bom reparar que eles fizeram até o momento cinco partidas a mais fora de casa – e, jogando como anfitriões, os rapazes têm a quarta melhor campanha do Oeste, com 15-5, abaixo apenas de Golden State (21-1), Portland (20-5) e Memphis (19-5). Interessante, até porque a tabela que eles enfrentaram é, por ora, a nona mais difícil. Seus oponentes sustentam um aproveitamento de 50,5% na média, enquanto os do Phoenix Suns têm 48,6% (a segunda mais fraca). OKC, todavia, teve o quarto caminho mais pedregoso (51%). O aproveitamento intraconferência rende outro número otimista para o técnico Monty Williams: eles também venceram muito mais do que perderam (17-11, o quinto melhor).

Por essas e outras, na hora de fazer projeções estatísticas – como a fórmula/brincadeira desenvolvida por John Hollinger no ESPN.com, antes de ele virar dirigente do Grizzlies –, o Pelicans aparece, sim, como um convidado realista para a festa dos playoffs. Nesta segunda, antes mesmo da surra sobre o Sixers, o clube já aparecia como o favorito ao oitavo lugar, com 43,8% de chances, contra 40,8% do Thunder e 39,5% do Suns. Legal que, na projeção pelos resultados acumulados até esta terça-feira, os três podem terminar com a mesma campanha: 44 vitórias e 38 derrotas, com o ex-Hornets levando a vaga no desempate. Haja coração, amigo.

Para constar, de acordo com esse mesmo sistema, restaria de fato apenas uma vaga em aberto. O San Antonio Spurs seria o único time entre os sete primeiros abaixo dos 90% de probabilidade, mas com 88,6%. Como esses números são calculados? Bem, o cara explica de forma mais detalhada, mas saiba que eles saem depois que a temporada regular é simulada 5.000 vezes. A partir dos 5.000 resultados possíveis, saem os percentuais. É ciência? Sim. Exata? Dãr.

Obviamente o computador precisa fazer seus palpites a partir de uma fonte, e essa fonte são os dados enfatizados pelo mesmo Hollinger em sua medição estatística diária da liga, que não leva em conta apenas números básicos como a soma de vitórias e derrotas. Outra: a máquina também não vai saber se algum favorito ao título vai perder, ou adicionar uma peça importante daqui para a frente. Assim como não sabe, por exemplo, que o Pelicans está jogando neste exato momento sem o armador Jrue Holiday e que Austin Rivers, ineficiente que só, foi mandado para as cucuias, antes de ser resgatado pelo pai.

Sem Holiday (afastado por conta de uma reação de estresse na perna direita), um armador que intimida pela combinação de tamanho, porte físico e velocidade, a equipe vem respondendo bem, com seis vitórias em oito compromissos. A subida de produção se explica por um desempenho defensivo bem superior ao do restante da temporada: em janeiro, eles têm a sétima defesa mais eficiente da liga; na temporada como um todo, ocupam apenas o 22º lugar. O padrão ofensivo, um dos dez melhores do campeonato de modo consistente, se manteve, aliás. Mas o ganho na contenção dos oponentes representou um saldo de quatro pontos por posse de bola a mais. Lembrando que o armador titular disputou cinco partidas no mês. De qualquer forma, confesso minha surpresa aqui.

Dante Cunningham, importante na nova química do Pelicans

Dante Cunningham, importante na nova química do Pelicans

Tyreke Evans foi quem assumiu a armação, jogando ao lado de Eric Gordon na back court. Nenhum dos dois é reconhecido na liga como um defensor implacável. A efetivação de Dante Cunningham na formação titular já dá uma pista mais confiável (ao menos segundo o teste dos olhos). O ala dispensado pelo Minnesota Timberwolves tem envergadura e agilidade para tapar buracos. Sozinho, porém, não vai fazer milagre. Decorre que, com ele ao lado de Evans, Gordon, Davis e Omer Asik, o técnico Williams descobriu uma formação que lhe rende 19,4 pontos a mais a cada 100 posses de bola, um número para lá de ótimo, que só merece o asterisco pela baixa incidência, pelo fato de ser uma amostra pequena (98min47s no final). Supera os +15,2 do quinteto Holiday-Gordon-Evans-Davis e Asik (169 minutos). Para contextualizar, o Golden State Warriors titular, com Curry-Thompson-Barnes-Green-Bogut, bate os adversários por +29,1 pontos por 100 posses de bola, mas em 366 minutos juntos. Trocando Bogut por Speights, cairia para +23,2, em 170 minutos.

Agora, discutir qualquer assunto ligado ao Pelicans sem enfatizar a excelência de Anthony Davis é impossível. Com o Monocelha em quadra, a equipe tem um saldo de +5,3 pontos/100. Sem ele, despenca para -9.7/100. Os números do jovem astro ficam ainda melhores na condição de anfitrião, quando sua presença em quadra resulta num impacto de +14,4/100, com melhora substancial no setor defensivo. Com mais energia para usar os braços intermináveis e todo o seu pacote atlético, interfere muito mais nos planos dos adversários. Como no dia em que não se cansou de dar tocos em Tim Duncan, vibrando demais.

Em termos de medição de eficiência, com PER de 31,9, a temporada que o estimado Monocelha vem conduzindo em Nova Orleans está entre as melhores da história. Algo equivalente ao que Wilt Chamberlain e LeBron-no-auge atingiram.  Ah, e Michael Jordan também. Agora calma: isso não quer dizer que ele seja do nível de nenhum desses três – mas ‘apenas’ que, no seu tempo, comparando com os números de seus concorrentes da atual temporada, o ala-pivô vem sendo igualmente produtivo.

Até para efeito de reconhecimento do que Davis vem fazendo, com um jogo que vai muito além de cravadas e tocos (ainda que seus lances individuais sejam realmente chocantes), seria legal ver seu time deslanchar. Até porque a narrativa predominante na atual campanha vai impedir que ele entre para valer na discussão pelo prêmio de MVP, uma vez que sua equipe tem hoje, respectivamente, 15 e 7 derrotas a mais que o Golden State Warriors e Houston Rockets, ou Stephen Curry e James Harden. Dois craques, mas que, em termos de rendimento individual, não se equiparam do garoto de 21 anos.

O New Orleans Pelicans, claro, como time, não persegue mais Warriors, nem Rockets. Está de olho apenas em Suns e Thunder. Ainda que poucos estejam reparando nele.


New Orleans Pelicans e o show do Monocelha
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

"Quem é que sobe?", estrelando Anthony Davis

“Quem é que sobe?”, estrelando Anthony Davis

É rodada cheia? Várias opções para ver no League Pass? Na dúvida, gente, a opção mais segura nesses dias é colocar num jogo do New Orleans Pelicans. Para testemunhar a contínua e assustadora evolução de Anthony Davis e sua Monocelha. Mesmo que as TVs americanas não estejam muito interessadas: apenas dois jogos do Pelicans serão transmitidos por ESPN e TNT nesta temporada.

Claro que os especialistas já estão todos de olho nele. Mas, em termos de popularidade, ainda não é o caso, como se perecebe. Então vocês, meus amigos e minhas amigas, podem sair na frente. Sempre melhor começar o movimento do que ser acusado de modinha daqui a alguns meses, né? : )

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Pois o que está acontecendo agora já parece histórico. A ponto de deixar nossos amigos do Basketball Reference, a bíblia online da NBA, de queixo caído. Vamos a alguns dados destacados pelos caras nos últimos dias:

Cuidado, Hayward. Que o Monocelha vai te pregar

Cuidado, Hayward. Que o Monocelha vai te pregar

– Com 39 tocos em 10 jogos até esta quarta-feira, dia 19,  Anthony Davis, sozinho, superava nesse fundamento o Memphis Grizzlies (de Marc Gasol), o Minnesota Timberwolves, o Boston Celtics, o Cleveland Cavaliers e, por fim, o Miami Heat. Sem brincadeira. O time inteiro. Depois da rodada de quarta, o Grizzlies conseguiu empatar com ele, enquanto Celtics e Cavs o superaram.

– Anthony Davis lidera no momento a lista de tocos e roubos de bola. Nunca um jogador conseguiu isso na história da liga, pelo menos desde que ambos foram computados a partir de 1973.

– Nos últimos 30 anos, o recorde para jogos de ao menos 24 pontos, 11 rebotes e 3 tocos, com um ou nenhum turnover, foi de Shaquille O’Neal, com sete em uma temporada. Anthony Davis já tem cinco, e restam 72 partidas.

E por aí vai, galera. Isso falando apenas de seus números para estatísticas defensivas. Somem aí os 25,4 pontos, os 10,8 rebotes e as 2 assistências, e temos um jogador realmente assustador e imperdível. Com apenas 21 anos de idade, colocando sua equipe na briga pelos playoffs no Oeste selvagem.

 Agora sabe da pior? Talvez nem mesmo seus companheiros ainda se deem conta, plenamente, do que está acontecendo. Jrue Holiday, Eric Gordon e Tyereke Evans ainda não exploram o Monocelha como deviam no ataque. Mesmo com uma carga menor de minutos, saibam que Tim Duncan toca na bola duas vezes mais que o jovem pivô do Pelicans, segundo dados das câmeras do sistema SportsVU. “Parece que os condutores de bola do New Orleans olham para Davis apenas quando ele é a única válvula de escape para eles, quando estão saltam sem um plano apropriado e acabam atirando-a apressadamente em sua direção”, observa o analista Tom Haberstroh, do ESPN.com. Acabei de assistir ao VT de Kings x Pelicans, e esse foi realmente o caso.

Afe

Afe

Davis não está nem aí, por enquanto. Não pensa em recordes, em criticar companheiros, nem nada. Ele quer apenas fazer o dele. “Apenas tento ficar dentro do sistema, no ritmo do jogo. Apenas tenho de ter confiança em mim mesmo. E paciência também é uma parte muito importante. Não vou perseguir arremessos ou nada disso. Apenas deixo o jogo vir até a mim, e é bem mais fácil jogar desta forma”, afirma. Muito fácil, né?

Davis não vai contar vantagem, seus companheiros podem até ignorá-lo aqui e ali, mas a concorrência está impressionada. O rapaz combina agilidade, impulsão, elasticidade, reflexos, velocidade todos muito acima da média. Com envergadura interminável. O pacote físico é realmente único, e suas habilidades vão se desenvolvendo para tornar tudo isso mais assustador.

“Não sei se há algum jogador na história de nosso jogo que tenha melhorado tanto como ele desde que saiu do colegial”, afirma Flip Saunders, técnico e presidente do Minnesota Timberwolves. Saunders trabalhou de 1996 a 2005 com outro fenômeno, que foi dominante de maneira precoce: Kevin Garnett. E encontra similaridades entre eles. “Para mim, eles lembram um o outro, mesmo, nesse crescimento”, diz.  Para Kobe Bryant, que não é lá muito afeito a elogiar os outros, Davis é um “Pau Gasol atlético, que pode ser um dos maiores alas-pivôs da história”.

Temos essa mania de sempre buscar uma comparação. Faz parte de nossa natureza, buscar parâmetros aos quais nos habituamos para avaliar o que é novo. No caso dessa emergente estrela, é bem provável que, salvo um acidente, ele mesmo vire assuma esse posto, digamos, paradigmático para gerações futuras.

LeBron James, mesmo, imaginava Anthony Davis como alguém semelhante a Marcus Camby, mas depois notou que o garoto do Pelicans pontua muito mais, agride a cesta de forma diferente. Disse, no fim, antes de reencontrá-lo neste mês, que não dá para comparar ninguém com o jovem aspirante ao seu trono de melhor da liga.

De novo, com tanto zum-zum-zum, o que o Monocelha pensaria a respeito?

“Apenas entro em quadra e jogo. O que as pessoas esperam de mim? Bom, isso fica para eles. Não presto atenção no que se pode dizer sobre mim, porque isso meio que pode mexer com sua cabeça, e você começa a ficar complacente. Isso fica para os torcedores lerem e ouvirem. Meu objetivo é ajudar essa equipe a vencer. Só quero vencer os jogos, ir aos playoffs, ganhar um título, sabe? Isso é o que o LeBron já fez, e ainda preciso fazer. Significa muito ele dizer isso de mim. É um testemunho do trabalho que tenho feito para melhorar e que está começando a aparecer. Mas, ao mesmo tempo, não posso me dar por satisfeito”, afirma.

Tudo bem, essa parte de satisfação fica por nossa conta, mesmo.

O time: com o elenco inteiro, sem lesões, o Pelicans já teve um dos melhores ataques do campeonato passado, e esse padrão vem se repetindo. As bombas de três pontos de um ala-pivô como Ryan Anderson representam uma dor-de-cabeça incrível para os treinadores adversários, que já precisam lidar com a explosão física e o arsenal em expansão do Monocelha. Obviamente Holiday, Evans e Gordon ainda podem melhorar em seu entrosamento e soltar mais a bola e mais rapidamente, mas, quando esses cinco estão em quadras, o técnico Monty Williams tem a formação ofensiva mais produtiva da liga, com um mínimo de 50 minutos jogados.

A defesa está melhorando, saltando neste mês dez posições no ranking de eficiência. É a retaguarda, mesmo, que pede mais ajustes por parte do treinador. Para isso, a contratação de Omer Asik parece fundamental. O pivô ainda é dos atletas mais subestimados da liga, em termos de reconhecimento geral, mas custou caro ao Pelicans – que sabe o seu valor. O turco fecha bem os espaços no garrafão, com movimentação lateral impecável, inteligência e força. Também protege o aro com sua verticalidade e ajuda muito nos rebotes. Ao lado de  Davis, pode formar um verdadeiro paredão, conforme mostraram na noite de abertura do campeonato.  Ter Jrue também ajuda: o ex-jogador do Sixers é alto e muito forte para a posição, podendo incomodar seus oponentes.

A pedida: mais um time a sonhar com uma vaga nos plaoffs do Oeste. Até porque, se caírem na loteria, podem ceder uma escolha valiosa de Draft ao Houston Rockets.

Tyreke, o forte é a bandeja, que não vem caindo muito este ano. Já os tiros de fora...

Tyreke, o forte é a bandeja, que não vem caindo muito este ano. Já os tiros de fora…

Olho nele: Tyreke Evans. O ala-armador havia abraçado a causa na temporada passada: encarnaria um sexto homem à la Ginóbili. Não funcionou muito bem. Sua melhor fase aconteceu justamente na reta final do campeonato, quando voltou ao grupo dos titulares em meio a muitas lesões no elenco. Com o time agora completo, foi mantido no quinteto inicial e… perdeu em eficiência, com dificuldade para converter suas bandejas. Ainda não se encontrou perfeitamente ao lado de Holiday.

Evans precisa da bola em mãos. É um cara que cria por conta própria, bate para a cesta cheio de movimentos de hesitação e passada larga, além de ter a força necessária para absorver o contato e finalizar. Fez isso nos minutos finais do primeiro duelo com o Sacramento Kings nesta temporada. Quando entra nesse modo, quebra as defesas, mas também pode diminuir o ritmo de sua própria equipe, pela tendência fominha. Mas, poxa, ele dá muitas assistências, não? Sim, mas geralmente só o último passe, mesmo. E, como o Spurs nos ensina a cada rodada, a fluidez ofensiva depende de muito mais passes e menos dribles. Se conseguir dosar as coisas – seguir atacando o aro e, ao mesmo tempo, envolver seus companheiros, vai virar uma arma ainda mais preocupante.

De qualquer forma, para compensar esse desacerto, o ala-armador adicionou uma bola crucial para seu repertório: o chute de longa distância. Com apenas 27,7% em sua carreira, vem convertendo inacreditáveis 46,7% no início de temporada. Se esse for um dado sustentável, talvez suas aventuras frustradas em direção ao aro nem importem muito.

Abre o jogo: “Quero ser um All-Star. Cheguei perto disso algumas vezes. Mas nos últimos três anos as lesões me deixaram para trás”, Eric Gordon, que começa a temporada saudável, algo raro. O ala-armador ainda nem chegou aos 26 ano, mas já vê seu jogo em queda vertiginosa, devido aos joelhos deteriorados. E pensar que em 2012 o Phoenix tentou tirá-lo de Nova Orleans, como agente livre restrito. Em termos de dólar ganho e produção entregue, Gordon tem hoje o contrato mais desproporcional da NBA, com um salário de US$ 14 milhões nesta campanha e US$ 15 milhões para a próxima.

Gordon, uma das peças da troca que mandou Chris Paul a Los Angeles

Gordon, uma das peças da troca que mandou Chris Paul a Los Angeles

Você não perguntou, mas… o ala-pivô Ryan Aderson é tema de uma reportagem tocante e imperdível da revista Sports Illustrated, assinada por Chris Ballard. O tema é o suicídio de sua namorada, Gia Allemand, aos 29 anos. A modelo e estrela de um reality show havia discutido com o jogador no dia em que se matou. Gia passava por um severo transtorno disfórico pré-menstrual. Em seu depoimento a Ballard, Anderson fala muito sobre suas frustrações com o incidente – foi ele o primeiro a encontrar a modelo em seu apartamento, tendo ainda tempo de acionar uma equipe médica –, o turbilhão emocional pelo qual passou, mas também ajuda a trazer à luz essa questão de saúde pública. Enquanto ainda encara esse drama, o jogador vai retomando a forma pelo Pelicans, depois de ter perdido boa parte de sua primeira temporada com a franquia. No Twitter, ele falou sobre a repercussão do texto: “O fato de que esse artigo vem tendo uma conexão tão profunda com tantas pessoas me dá arrepio. Esse artigo ajuda a por em discussão um tópico que está muito escondido, na escuridão. As pessoas precisam saber que não estão sozinhas em suas dificuldades”, disse.

Pete Maravich, trading card, New Orleans, JazzUm card do passado: Pete Paravich. Jazz?! A franquia não é a mesma, mas a cidade, sim. Antes de escalar a montanha rumo a Salt Lake City, o Jazz estava em Nova Orleans. O que faz muito mais sentido. O clube começou a funcionar em em 1974 e decidiu fazer do legendário “Pistol Pete”, o maior cestinha da NCAA, seu principal jogador. Para tirá-lo de Atlanta, mandaram dois jogadores e mais quatro escolhas de Draft. Num time em expansão, Maravich vencia pouco, mas fazia seus malabarismos com a bola e conquistava a liga como um dos talentos mais carismáticos da história. John Havlicek, o mito do Boston Celtics, disse que ninguém driblou uma bola melhor que o astro.

Em 1976-77, ele marcou 31,1 pontos por jogo, com direito a 68 pontos num duelo com o New York Knicks. Só Wilt Chamberlain, Kobe Bryant, Elgin Baylor, Michael Jordan e David Robinson conseguiram superar essa marca. Maravich, no entanto, não teve uma carreira vencedora ou duradoura como a desses concorrentes. Após diversas lesões nos joelhos, se aposentou em 1980, já em Utah, no ostracismo. Ele não tinha condições de treinar. E seu técnico Tom Nissalke tinha uma regra: só punha para jogar aqueles que treinavam, e bem. Acabou dispensado e recolhido pelo Boston Celtics, com um Larry Bird novato. Teve algum sucesso vindo do banco de reservas e disputou os playoffs pela primeira vez desde 1973. A equipe acabou perdendo para um esquadrão do Philadelphia 76ers que tinha Julius Erving, Maurice Cheeks, Darryl Dawkins, Caldwell Jones, Doug Collins e Lionel Hollins.  Maravich morreu em 1988, aos 40 anos, depois de um ataque cardíaco, como um cristão devoto, no ginásio de uma igreja californiana.


As estranhas relações entre duas atrações imperdíveis do Lollapalooza e a NBA
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Giancarlo Giampietro

Shaq Fu

Shaq Fu! Aaaargh

É muito mais fácil ligar o basquete ao rap, ainda mais depois da geração gansta. Existem até mesmo aqueles cestinhas que se meteram a besta como artistas fora de quadra também, e a gente sabe que quase nunca isso vai dar certo. Shaquille O’Neal, Allen Iverson e o nosso lunático anti-herói Ron Artest, justo ele, podem rimar alguma coisa a respeito.

Por outro lado, tem gente que, em outro estilo, mandou muito bem, como o finado Wayman Tisdale, que talvez tenha sido um melhor baixista de funk/jazz do que ala-pivô, embora fosse um habilidoso jogador para pontuar no garrafão – e não muito mais que isso.

Agora, com o festival Lollapalooza chegando a São Paulo com sua edição 2013 neste fim de semana de Páscoa, o blogueiro tem a chance de roubar um pouquinho e falar sobre outra coisa que lhe apetece. Mas, ok, para não soar ofensivo ao batalhador leitor que já podia reclamar do cansaço e da  perda tempo neste espaço, a gente dá um jeito de jogar o basquete no meio dessa história.

*  *  *

OS PIONEIROS CULTS DE OKLAHOMA CITY

Wayne Coyne

Flaming Lips, de Wayne Coyne, e seu ritual estão prestes a voltar ao Brasil

Kobe Bryant deve ter feito das suas. Alguma bandeja reversa por baixo do aro. Alguma mudança brusca de direção seguida de enterrada. Um arremesso em flutuação na zona morta, com o corpo já atrás da linha da tabela. Qualquer coisa desse tipo que tenha feito o esquisitão Wayne Coyne vibrar na plateia. Atitude que foi imediatamente repreendida.

“Mas aquilo foi maluco! Quem é aquele?”, perguntou o músico. Explicaram de quem se tratava e completaram que ali, na cidade deles, meu chapa, ninguém vai aplaudir alguém que jogue do outro lado, não importa quem ou o que o sujeito tenha feito.

Wayne Coyne, o líder do Flaming Lips, atração do festival paulistano na sexta-feira, é do tipo de pessoa que realmente não sabe quem seja esse tal de Kobe. Sua cabeça já anda bastante ocupada com muita coisa: as trezentas parcerias musicais que podem ser engatilhadas nas próximas semanas, com robôs que aterrorizem a pequena Yoshimi, sobre como os efeitos do ácido podem ser positivos para um ser-humano antes do almoço e de como poderia usar a próxima representação de vagina e/ou bichos de pelúcia em um palco, galeria ou kit para imprensa. É maluco, mas, no universo criado pela banda, acontece tudo de modo muito pueril, acreditem.

(Já entrei nessa isso em duas ocasiões, em 2005 aqui em Sampa, em 2011 em Santiago. É um ritual especial. O sujeito vai entrar em uma bolha de plástico e andar/rolar por cima de centenas no público. O telão sempre trazendo algo surpreendente para a apresentação. Eles vão estourar muitos confetes, serpentinas e balões de plástico. A banda emenda alguns refrões cativantes em sequência. O plano é fazer de tudo para que o show de sexta-feira seja inesquecível. Lendo assim, pode parecer apenas uma festinha tonta para a criançada mal-crescida, e talvez seja isso mesmo. Mas só vendo ao vivo para saber.)

Calha que a banda tem como base a mesma Oklahoma City do Thunder. Muito antes de Kevin Durant tomar conta dos outdoors e ser cultuado – junto com Westbrook e a barba de James Harden –,  Coyne, de 51 anos, e seu grupo eram os que mais chegavam perto de celebridades locais.

"Thunder Up", Coyne!

Wayne Coyne comemora. Resta saber apenas se foi cesta do Thunder

Ao contrário do Thunder com seus jovens superastros, o Flaming Lips nunca foi necessariamente um arrasa-quarteirão de vendas, embora tenham ganhado fama mundial no mesmo período em que sua cidade floresceu. Eles deram uma piscadela para o estrelado com a trilogia “The Soft Bulletin”(1999), “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002) e “At War with the Mystics” (2006), ganhando três Grammys, mas não tardaram em recuar para suas trincheiras obscuras.

Antes desse flerte com o mainstream, por exemplo, haviam gravado um disco quádruplo – “Zaireeka”, de 1997 – cujas partes deveriam ser tocadas simultaneamente numa orquestra do barulho (leiam com a voz do locutor global na cabeça, por favor, anunciando a próxima atração da “Sessão da Tarde”). Você pode entender como uma “coisa-de-lôco”, um lixo irrecuperável, mas eles sinceramente não se importam. Em um projeto mais recente, lançado no ano passado, fizeram um álbum coletivo – “The Flaming Lips and Heady Fwends” –, trocando arquivos de músicas com colaboradores espalhados pelo mundo todo, apresentando gente como Chris Martin, do Coldplay, e Bon Iver, para depois costurar tudo.

Enfim, antes da migração do Supersonics para Okahoma City, quais as referências possíveis da cidade para aqueles fora dos Estados Unidos? Para a maioria, provavelmente apenas o lamentável atendado de 1995,  que resultou na morte de 168 pessoas e em outras 684 feridas. Mas, pelas razões citadas acima, para um pequeno grupo de seguidores, havia também os Lábios Flamejantes.

Hoje, a coisa mudou. Quando o líder do grupo é abordado em turnês pela Europa, Austrália e, de repente, aqui no Brasil, o que ele mais ouve é sobre os fedelhos do Thunder, como as pessoas gostam de assistir aos jogos deles. Durant, Westbrook e, snif! snif!, James Harden haviam ultrapassado sua popularidade.

O time se tornou o símbolo perfeito para a revitalização por qual passou Oklahoma City da década de 90 para cá. De uma terra perdida no meio dos Estados Unidos, onde se encontram diversas formações vegetais, uma área de confluência climática e também de diversas culturas das diferentes regiões que a rodeiam, a cidade se tornou um pólo econômico e criativo.

Embora o grupo de Coyne tenha feito uma música que virou o hino oficial de rock da cidade – a encantadora “Do You Realize???”, do vídeo acima –, o Flaming Lips, com sua psicodelia e provações constantes, nunca seria mesmo um símbolo de nada institucional, muito menos em um território ainda bastante conservador. Um nativo que nunca deixou o local, por mais que Nova York ou Los Angeles pudessem ser muito mais convidativas e cômodas para sua carreira, Coyne reconhece a importância do clube nesse sentido, diante do ressurgimento de Oklahoma City. “Acho que as pessoas gostam da ideia de que, seja o roqueiro malucão ou o jogador de basquete, nós todos temos este espírito da cidade. É algo que eu realmente não acho que existe. Mas o Thunder provavelmente conseguiu unir isso mais do que qualquer um”, disse em entrevista ao New York Times, em abrangente reportagem sobre a relação da equipe e a cidade.

No ano passado, durante os playoffs, o Flaming Lips até regravou um de seus hits – acho que dá para ser classificado como um hit –, “Race for the Prize” como um hino para o time: “Thunder Up!”, sendo tocado minutos antes dos jogos. ‘”Kevin Durant / don’t say he can’t!”, diz um trecho da letra. Veja abaixo a versão atualizada, seguida pela original ao vivo:


Só não peçam que Wayne Coyne entenda alguma coisa de basquete. “Quando você está lá, não é que um jogo seja um evento que siga um script de Steven Spielberg. Fico meio confuso. Será que nós vencemos? Eles venceram? E, quando você olha para o placar, bem, será que o jogo acabou?”, disse ao NYT, se autodescrevendo como o torcedor mais perdido do ginásio e do planeta.

O negócio deles é no palco mesmo, território em que consegue encontrar as similaridades entre o jogo e um show. “É aquela ideia de que está todo mundo focado na mesma coisa, ao mesmo tempo, ficando juntos e fazendo da experiência algo maior. É uma tolice, mas todas as coisas são tolas assim.”

Com o Flaming Lips, é isso aí.

*  *  *

OS RENEGADOS DO GRUNGE

Fundada em meados dos anos 80, mapeada pela indústria musical americana apenas em 1993 com a entrada de “Transmissions from the Satellite Heart” nas paradas, o Flaming Lips poderia ter embarcado na onda grunge que dominava as rádios naqueles tempos, mas seguiram por um caminho absurdo, completamente distante do chamado “som de Seattle”. Ironicamente, Kevin Durant poderia ter sido uma figura totalmente ligada a essa cidade do Noroeste dos Estados Unidos, mas acabou jogando lá por apenas um ano, antes do polêmico deslocamento de sua franquia para Oklahoma City.

Shawn Kemp x Jeff Ament

Jeff Ament em peça publicitária com Shawn Kemp, seu ídolo em Seattle

Foi um movimento amaldiçoado por Jeff Ament, baixista do Pearl Jam e fanático pelo Supersonics, daqueles que compravam carnês de ingressos temporada após temporada junto com o guitarrista Stone Gossard. Os dois são outros que tocam no Lollapalooza, mas no domingo.

Muito antes de conhecer Chris Cornell ou Eddie Vedder, Ament era um armador talentoso no colegial em Montana, interiorzão da América profunda. Foi eleito para seleções estaduais e tudo, a ponto de ser recrutado pela universidade de… Montana (dãr!) como jogador. Entrou para a equipe dirigida por Mike Montgomery, futuro técnico de Stanford, do Golden State Warriors e hoje da universidade de California e, rapidamente, descobriu que, como aspirante a uma carreira no basquete universitário, ele provavelmente tinha mais jeito, mesmo, para o rock. “Os mundos de esportes e música não combinavam, realmente. Onde eu cresci, eu podia ser um esportista e um punk rocker. Quando fui para a universidade, ficou aparente que eu tinha de pertencer somente a um desses grupos”, disse em entrevista interessante à ESPN americana.

Bem, a gente já sabe hoje no que deu isso tudo. O cara se mudou para Seattle, conheceu certas pessoas, as coisas demoraram para se encaixarem, mas de repente ele fazia parte de uma das bandas que se tornaria das mais populares do mundo. No início, na condição de estrela emergente do rock, Ament era obrigado a esconder do público sua outra metade. Afinal, tinha sempre quem importunasse. “Kurt Cobain e Coutrney Love sempre zoaram o fato de que eu jogava basquete. Uma vez eu parei para dizer oi antes de um show e, quando estava indo embora, Courtney gritou: ‘Vá jogar basquete com Dave Grohl!'”, recordou o baixista. Os roqueiros que foram etiquetados como grunge já eram aqueles que a sociedade não queria. Ament conseguiu ser um rejeitado dentro desse universo. 🙂

Jeff Ament, versão basqueteiro

Jeff Ament não tinha a maior pinta de basqueteiro do mundo, de todo modo

Nas turnês, porém, ele confessa que sempre havia uma bola de basquete ou futebol americano por perto. Vedder, segundo seu companheiro, era mais ligado ao beisebol. Hoje, mais maduro e consagrado, não há restrição alguma, claro, em se assumir um basqueteiro – que realmente acompanha a NBA em detalhes, ainda que em Seattle ele não tenha mais nenhum clube profissional pelo qual torcer. “(Se um novo time chegasse,) Acho que teria de namorá-lo por um tempo. Se as coisas dessem certo, poderia checar se alguém gostaria de dividir o carnê de ingressos por alguns anos”, afirma.

Avaliando a possível transferência do Sacramento Kings para Seattle, fica difícil de avaliar qual o comportamento adequado. “Seria a melhor e a pior opção ao mesmo tempo. É a melhor porque eles têm provavelmente o melhor potencial como time de playoff, se o DeMarcus Cousins conseguir entender seu cérebro de alguma forma, ou se eles conseguirem um técnico que possa treiná-lo, ou se o Tyreke Evans der as caras. Mas Sacramento é uma cidade pequena. Se você tira o Kings deles, vão ficar com o quê? Só um time menor de beisebol, algo assim”, diz.

A ligação do Pearl Jam com o basquete, desta forma, é muito mais intensa do que o normal entre os roqueiros, certamente maior que a do Flaming Lips com o Thuder. Desse vínculo, se  destacam duas histórias:

– Ament já escreveu uma canção para citando Kareem Abdul-Jabbar, chamada “Sweet Lew”, do álbum “Lost Dogs” (2003), em referência ao nome de batismo do legendário pivô, Lew Alcindor. Não foi bem uma homenagem: Jabbar foi seu técnico em um jogo de celebridades e o teria ignorado quando foi tentou puxar um papo – a propósito, ele identifica os bateristas Chad Smith, do Red Hot Chilli Peppers, e Steve Gordon, do Black Crowes, como os melhores músicos-jogadores que conheceu.

Mookie Blaylock, ex-Pearl Jam

Mookie Blaylock, ex-armador do Nets e ex-Pearl Jam. Seu número? Dez, ou “Ten”, primeiro álbum da banda que vendeu mais que água nos anos 90

– Um dos primeiros nomes da banda foi “Mookie Blaylock”, aquele armador que defendeu New Jersey Nets, Golden State Warriors, mas teve seu  melhor momento pelo Atlanta Hawks nos anos 90. Como isso aconteceu? O grupo estava em uma lanchonete para fazer sua primeira gravação em um estúdio, com uma diária de uns US$ 10. Ainda assim, conseguiam comprar alguns pacotes de cards. Em um deles, saiu o armador. Ainda não haviam decidido um um nome para o conjunto e colocaram a “figurinha” de Blaylock na capa da fita que gravaram. Depois, saíram em uma turnê de dez dias com o Alice in Chains usando esse nome. Só mais tarde que veio a combinação a ser consagrada.

Há diversas explicações para “Pearl Jam”. Uma fictícia, inventada por Vedder em uma entrevista é de que ele teria uma avó chamada Pearl, que fazia uma geleia inigualável. Outra teoria, que tem seus defensores entre biógrafos e velhos amigos, é de que “Pearl” seria uma referência ao apelido de Earl “The Pearl” Monroe, craque do Knicks e do Bullets nos anos 70, e fantástico nas enterradas. O “Jam” também teria sido unido a “Pearl” depois que os amigos compareceram a um show de Neil Young, e o figurão canadense não parava de esticar suas músicas, em “jam sessions” com os companheiros de palco.

 Por mais fanáticos que sejam, música para o Sonics Jeff Ament e Stone Gossard nunca fizeram. 🙁

*  *  *

Atração do Lollapalooza paulistano de 2012, a Band of Horses, também de Seattle, chegou a gravar uma música intitulada “Detelf Schrempf”. Mas eles juram que não tem inspiração alguma no ex-craque alemão. Investigamos isso na encarnação passada.

*  *  *

#NBAbands

De vez em quando tem dessas brincadeiras no Twitter que divertem, né? Demora, mas acontece. Ótima oportunidade, então, para resgatar alguns dos trocadilhos na fusão de nomes de bandas com jogadores da NBA, a #NBAbands, que foi trending topic há algumas semanas.

– “Durant Durant” = para ficar no tema.

– “Garret Temple of Dog” = o Temple of Dog uniu os integrantes de Pearl Jam e Soundgarden, vizinhos de Seattle. Garret Temple ainda busca se firmar na NBA, fazendo dupla armação com John Wall no Wizards.

– “Rajon Against the Machine” = A fama de esquentadinho de Rajon Rondo poderia ser direcionada contra o sistema, como fez nos anos 90 os revolucionários do Rage Against?

– “30 Seconds Dumars” = Quando Joe Dumars contratou Charlie Villanueva e Ben Gordon de uma só vez, quebranco a banca, muitos torcedores do Pistons se perguntaram certamente se ele estava com a cabeça a “30 Seconds to Mars”, banda do ator Jared Leto.

– “John, Paul George, and Ringo” = Eu realmente nunca havia pensado que o prodígio do Indiana Pacers reunia dois daquele quarteto de Liverpool em um só nome.

– “The Jimmer Fredette Experience” = A experiência de Jimi Hendrix não durou muito, mas deixou um baita legado para a música. Jimmer Fredette, fenômeno univeristário, ainda batalha para deixar sua marca na liga.

– “Bryant Adams” = uma combinação insólita de um dos maiores assassinos em quadra, Kobe Bryant, com um astro pop canadense de letras bem melosas, Bryan Adams.

– “My Darnell Valentine”, “My Bloody Valanciunas” = a banda shoegaze viajandona My Bloody Valentine voltou a lancar um álbum neste ano e serviu de inspiração para dois dos melhores nomes, seja com o ex-armador de Portland Trail Blazers, Cleveland Cavaliers e que terminou a carreira na Itália, ou com o jovem pivô lituano Jonas Valanciunas, aposta do Raptors.

– “Lillard Skynyrd” = Damien Lillard pode ter vindo do interior dos Estados Unidos, mas imagino ser pouco provável que a sensação do Blazers toque em seu iPod algum sucesso setentista do Lynyrd Skynyrd.

–  “Simon & Garnett” = Se Paul Simon já brigava com alguém de voz tão bonita como Art Garfunkel, o que aconteceria se ele fizesse dupla com um psicopata feito Kevin Garnett?

– “The Artist Formally Known as Tayshaun Prince” = hoje no Grizzlies, Tayshaun ao menos quer provar que ainda pode ser uma peça útil nos playoffs, enquanto Prince pirou por completo.

– “Bon Iverson” = Iverson chegou tarde. Bon Iver já tem em Kanye West seu rapper preferido.

– “Ol’ Dirk Bastard” = Nowitzki já é praticamente um texano de Dallas, mas parece estar longe do rap nervoso (e dos pileques) de Ol’ Dirty Bastard, um dos integrantes do histórico grupo de rap Wu Tang Clan.

– “Al Jefferson Airplane” = Os movimentos de costas para a cesta de Al Jefferson são tão criativos como o som psicodélico do Jefferson Airplane? Não chega a tanto.

– “Earth, Wind & Fire Isiah” = nesta versão, a banda favorita de qualquer torcedor radical do New York Knicks que tenha vivido um pesadelo na era Isiah Thomas em Manhattan.

– “Brad Lohaus of Pain” = É do House of Pain uma das músicas mais tocadas na história dos jogos de basquete, “Jump Around”. Para Brad Lohaus, um branquelo pouco atlético, ficar saltando muito por aí, apenas na primeira versão do NBA Jam, pelo Milwaukee Bucks, mesmo.


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