Vinte Um

Arquivo : Tiago Splitter

Tim Duncan, mais três anos de Spurs
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Giancarlo Giampietro

Tim Duncan, Spurs

Steve Nash no Lakers! Deron Williams no Nets! Ray Allen no Miami! E um monte de negociações menores que renderam exclamação atrás de exclamação no mercado da NBA. Mas não a do acerto entre Tim Duncan com o San Antonio Spurs. Havia uma certa dúvida sobre a continuidade de carreira de Kevin Garnett, seu contemporâneo, e se ele ficaria em Boston. Sobre o pivô supercampeão no Texas muito pouco se especulou. Claro que ele jogaria por mais um tempinho.  E, se fosse assim, claro que seria pelo Spurs.

Com Duncan, 36, conduziu as coisas sempre desse jeito: tudo com muita discrição. Tirando seu currículo impressionante em quadra, pouco se fala a respeito desse astro. E pode falar astro? Ele não curte nada disso.

Sabemos que algo que o diverte bastante é pescar, até mesmo ao lado de Gregg Popovich. Outra: quando a NBA passou a obrigar os jogadores a seguir uma etiqueta de vestimenta, o pivô foi um dos que ficou mais pê da vida, ainda que não se enquadrasse ao lado de Allen Iverson como um ícone hip-hop – só não gostou nem um pouco de ter de abrir mão do bermudão e da camiseta. É muito ligado a seus familiares. E… Bem… Fica por aí. Lidera, mas é quieto. Nem Twitter usa.

A ex-promessa da natação de Ilhas Virgens fechou contrato de mais três anos com o Spurs, sendo que o terceiro é opcional. Supostamente, então, ele joga no mínimo até 2014 e, antes de começar a campanha 2014-2015 (esses números parecem inacreditáveis aqui no QG 21…), vai avaliar se ainda pode ou quer continuar.

Duncan já está na NBA há 15 anos. Nesse período, o time texano venceu absurdos 70% de seus jogos (830 vitórias, 352 derrotas). Ganhou quatro campeonatos. Esteve sempre na briga pelos playoffs, sonhando com o título: já soma em sua carreira 190 partidas de mata-mata. Hoje, sem a agilidade e força de antes, não é mais uma figura irresistível no garrafão. Mas ainda faz bem vê-lo em quadra, e para Tiago Splitter deve ser um privilégio tê-lo por perto, mesmo que sua presença lhe roube minutos de quadra.


Málaga reforça com pivôs seu elenco, e Augusto fica em situação nebulosa na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Um dos clubes mais fortes da Espanha e tradicionais da Europa, o Unicaja Málaga estava ficando para trás, bem para trás. Barcelona e Real Madrid mantiveram um núcleo fortíssimo e ainda fizeram contratações mais que pontuais para a próxima temporada.

Os catalães agora contam com o talento do pivô croata Ante Tomic, que veio do arquirrival, aliás, além de um certo armador legendário Sarunas Jasikevicius, de volta após nove anos, nos quais passou por praticamente todos os clubes de elite do continente. Já o Real acertou o retorno do Rudy Fernández, eleito vilão olímpico no Vinte Um, e com o pivô Marcus Slaughter, que nunca teve uma chance real na NBA e construiu sua carreira na Europa, jogando por agremiações menores até chegar ao primeiro escalão.

Augusto enterra na Espanha

Augusto: pivô muito atlético, veloz, saltador, mas que pode ficar preso no banco

E nada de o Málaga se mexer? Mesmo depois de terminar a Liga ACB passada com um decepcionante nono lugar, fora dos playoffs, e de uma campanha nada empolgante na Euroliga, com 17 vitórias e 17 derrotas?

Bem, na semana passada seu elenco enfim começou a tomar uma forma mais séria, e aí vem a má notícia na parte que refere ao basquete brasileiro: as contratações são pouco promissoras para o progresso de Augusto Lima. Três dos principais reforços para o técnico Jasmin Repeša são homens de garrafão: o norte-americano James Gist, o sérvio Kosta Perovic e o espanhol Fran Vázquez, que deixou o Orlando Magic falando sozinho mais uma vez. Eles se juntam ao croata Luka Žorić, e, de repente, a rotação de pivôs da equipe já parece deixar o brasileiro afundado no banco.

Claro que depende de Augusto também, de tentar se impor nos treinamentos e deixar um dos medalhões para fora. Mas é muito difícil: Gist, Perovic e Vázquez chegam com salários altos e status de soluções. Žorić seria o homem a ser batido, mas é muito mais experiente e foi dos poucos, do elenco passado, que agradou e seguiu no clube.

Augusto, hoje com 21 anos, vem sendo preparado em Málaga há tempos, em mais um caso de brasileiro que foi cedo para a Espanha para ser cultivado por um grande clube – trilha aberta por Tiago Splitter em 2000. Dezenas de jogadores daqui repetiram essa rota, e foram poucos os que vingaram. Dois deles apenas quando se desvincularam do Unicaja:

– Vitor Faverani, que hoje está por cima, precisou de uma reviravolta na carreira na temporada passada, na qual jogou pelo Valencia. Hoje é visto como um dos melhores pivôs da liga, mas, diga-se, vai ter de dar sequência ao trabalho e confirmar essa confiança toda no próximo campeonato.

– O armador Rafael Luz conseguiu sair do Málaga para o bem e, até onde se sabe, sem traumas com a diretoria. Na temporada passada, fez um bom campeonato pelo falido Alicante e agora está no Obradorio, com vida própria no mercado espanhol.

Tem também o Paulão, que acabou de assinar com o Cajasol, mas ainda busca estabilidade na carreira após uma jornada igualmente turbulenta pelo clube da Andaluzia. Se Faverani teve problemas de comportamento, o pivô revelado em Ribeirão Preto penava para se manter em forma devido a uma série de lesões que deixou muita gente frustada.

Augusto Lima, do Málaga

Augusto vai tirar o uniforme de treino?

É um problema: o Málaga investe em projetos de base, mas não consegue incorporar os talentos desenvolvidos ao seu time principal. Há muita pressão por resultados em uma liga bastante competitiva, e a saída de Aito Garcia no ano passado, um treinador mais afeito ao trabalho com jovens, não ajudou em nada.

Fica, então, esse impasse para Augusto, que também rendeu bem mais quando foi emprestado para o Granada em 2010-2011 e ganhou minutos preciosos. Tudo para,  campanha seguinte, de volta ao seu clube, ser atrapalhado por uma cirurgia nas costas. Não pôde mostrar serviço e agora enfrenta uma dura concorrência para pisar em quadra.

Lembrando que, até para o seu futuro longe da Espanha, a próxima temporada é muito importante para o brasileiro. Como vai completar 22 anos em 2013, ele participará do draft da NBA automaticamente. Seu jogo – de capacidade atlética, vigor e energia incomuns para alguém de seu tamanho – é bem conhecido pelos olheiros europeus, mas uma boa produção nos meses que antecedem o recrutamento de calouros da liga poderia alçá-lo até mesmo ao primeiro round.

Para produzir, no entanto, ele precisa, antes, jogar.


Argentina vence o Brasil novamente, e dessa vez não há um carrasco ou vilão. Foi só o jogo
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Giancarlo Giampietro

Nenê x Juan Gutiérrez

Nenê e Varejão tiveram juntos os mesmos 11 pontos de Gutiérrez

Por muito tempo, uma crítica predominou sobre a seleção brasileira: a de que basquete da seleção brasileira era por vezes muito destrambelhado. Nesta quarta-feira, o time foi bastante cuidadoso – foram somente oito bolas desperdiçadas de graça em 40 minutos, um fato raro. O problema é que essa passividade atingiu a equipe do outro  lado da quadra também. Por três períodos, faltou a combatividade na defesa que vinham apresentando até então na competição.

Era como se o time de Magnano estivesse esperando que a Argentina se cansasse no fim, para que aí, sim, desse o bote. Se foi isso mesmo, quase deu certo.

Quase.

Com 1min45s para o fim, uma larga diferença de até 15 pontos caiu para três, 74 a 71.

Os brasileiros conseguiam, a essa altura, enfim defender, liderados por Nenê, que, no sacrifício, brecou Luis Scola, impedindo que o argentino fosse acionado. Quando os adversários conseguiam envolver o pivô brasileiro em simples trocas, o pivô também foi bem, mesmo quando atacado frontalmente por Carlos Delfino.

O problema é que… Uma vez feito o “serviço sujo”, uma vez tendo o time voltado ao jogo, as precipitações voltaram, e com tudo, no ataque. Primeiro, Alex, com uma falta de ataque atropelando Manu Ginóbili, e Marcelinho Huertas, com um chute de três pontos mesmo tendo um Scola carregado de faltas à sua frente. No fim, com Leandrinho abaixando a cabeça e se deixando encurralar na lateral da quadra. Entre o primeiro erro e o terceiro, foram três pontos para o ligeirinho, dois para Nocioni e quatro lances livres convertidos por Ginóbili, Scola e Delfino (dois cada). O placar pulava para 80 a 71, restando 30 segundos. Aí já era.

A ideia aqui não é apontar culpados.

Chegando a esse ponto, a seleção penava para alcançar a marca da medíocridade, 50%, nos lances livres. Foram 12 desperdiçados em 24 batidos. Se pelo menos seis amais tivessem caído… Os argentinos também erraram seus chutes parados na linha (9 em 28, 68%), mas saíram com sete pontinhos preciosos a mais no fundamento.

Mas podemos ir além. Splitter e Nenê sempre se atrapalharam com lances livres, mesmo. Então talvez fosse injusto colocar esse fardo em seus ombros, ainda mais com os argentinos fazendo faltas descaradamente.

Então, o que falar daquela velha coqueluche? Os tiros de três pontos. Depois de duas partidas atípicas diante de chineses e espanhóis – convenhamos, galera, não dá nem para comparar a intensidade desses dois duelos com os três primeiros do grupo –, a seleção caiu na arapuca: voltou a atirar desenfreadamente de fora.

Foram apenas 7 convertidos em 23 tentativas, resultando em anêmicos 30% de aproveitamento. Se lembrarmos que duas dessas caíram em chutes no desespero de Leandrinho no finzinho, é provável que a seleção tivesse uma pontaria de apenas 25% até os minutos finais. Um número pífio, que foi cultivado durante todo o torneio e acaba, no fim, jogando contra, sabotando seu próprio empenho defensivo. E, ainda assim, superior aos 29% dos oponentes. Creiam.  Mas não que a falha de um redima a do outro.

De novo o Brasil teve chances, mas não soube capitalizá-las. Pesa a experiência de nossos vizinhos, o maior talento individual de dois jogadores, mas contam também erros que se repetem com uma frequência que acaba sendo implacável.

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O Bala havia cantado a pedra já no primeiro tempo, o Murilo, que cobriu o torneio in loco, só reforçou: a Argentina propôs ao Brasil, especialmente no primeiro tempo, a mesma armadilha do confronto das oitavas de final do Mundial de Istambul-2010. Pablo Prigioni estava claramente com sua movimentação debilitada, não conseguia e nem tentava acompanhar Huertas, mas Júlio Lamas não se mostrava nada preocupado. Manteve em quadra seu veterano, que perdeu dois jogos devido a cólica renais, e só usou o novato Campazzo por dois minutinhos na etapa inicial. Que o armador chutasse todas, mesmo, privando o jogo interno do Brasil de mais algumas investidas. Lembrando que o jogo com os pivôs funcionava muito bem no primeiro quarto, com Splitter e Varejão, forçando inclusive as duas faltas em Scola.

No fim, muitos jogadores foram alienados: enquanto o Brasil teve 22 pontos de Huertas e outros 22 de Leandrinho, fora a dupla, só Alex passou teve dois dígitos na pontuação (11). De resto, foram 2 pontos de Machado, 2 de Larry, 4 de Varejão, 7 de Nenê, 2 de Giovannoni e 6 de Splitter.

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Dessa vez não houve um “carrasco”, um “algoz”, um super-herói argentino que tenha esmigalhado. Com um ataque mais solidário, nossos vizinhos contaram com 17 pontos de Scola, 16 de Ginóbili, 16 de Delfino, 12 de Nocioni e 11 de Juan Gutiérrez. Creiam: o pivô reserva argentino, sozinho, marcou o mesmo número de pontos de Nenê (7) e Varejão (4) somados.

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Terminar os Jogos de Londres em quinto lugar não é o fim do mundo, claro. No fim, a seleção mais venceu (quatro) do que perdeu (duas). Para quem não participava da competição há 16 anos, parece algo satisfatório. E aí você que tem de decidir em qual grupo se enquadrar: numa faixa mais condescendente e/ou conformada, está de bom tamanho a campanha. O Brasil competiu em alto nível, fez o que dava e parabéns. Se for mais minucioso, inevitável também a sensação de que dava, sim, para buscar mais neste torneio.

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O basquete volta a ser discutido. As pessoas voltam a torcer por basquete no Brasil. Mas estamos bem distantes de presenciar uma massificação do esporte. A CBB contratou um ótimo técnico, ok, mas este é apenas um paliativo, um movimento de curto prazo. Podem elogiar a seleção pela campanha londrina, mas as palavras não podem ser usurpadas por quem não é de direito.

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O discurso de que o Brasil ao menos resgatou um pouco de seu prestígio internacionalmente se justifica até a segunda página. A seleção foi elogiada, jogou no pau contra um time duas vezes medalhista olímpico, e tal. Inegável. A dúvida que fica é: até que ponto esse prestígio vai ser levado adiante? Em breve, venho  as datas de nascimento com mais calma (vocês podem checá-las aqui), mas exsiste  a possibilidade de que a participação em Londres pode ter sido a primeira e última de muitos dos jogadores do Magnano.


Não adianta se empolgar: Scola avisa que não vai ser seu último Brasil x Argentina
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Giancarlo Giampietro

Luis Scola gigante

Luis Scola ainda tem pique para jogar muito mais

Uma das narrativas que acompanha a Argentina neste torneio masculino é a suposta despedida da Geração Dourada, que, depois de Londres-2012, chega de Manu Ginóbili, de Pablo Prigioni, de Andrés Nocioni, de não sei quem mais. Em alguns casos, deve até acontecer de fato. Só não incluam o Luis Scola nessa.

Aos 32 anos, o ala-pivô, que já torturou a seleção brasileira em uma ou outra ocasião, avisa que não está preparado para se aposentar dos compromissos da Argentina, independentemente de quem o estiver acompanhando nas futuras batalhas. (E esse é o ponto que já doeu em muita gente por estas bandas tropicais: fez chuva, fez sol, os astros se apresentaram, os astros folgaram, e o camisa 4 estava lá, como uma constante, enquanto se acumulavam desfalques do outro lado.)

“Não me sinto velho. O tempo assa, e temos um grupo de caras que estão aqui há mais de dez anos, claro, e uma hora isso chega ao fim. Mas eu não vejo desta maneira. No decorrer do caminho, houve muitos caras que já não estão mais com nós, e outros que entraram durante a jornada. Isso vai continuar acontecendo. Em algum momento, todos os caras de 2004 vão ter ido embora. Mas eu espero jogar mais. Alguns novos vão chegar e tomara que continuemos competitivos”, afirma o craque do Phoenix Suns ao Sporting News.

Não tem tempo ruim para ele.

Em todos os contatos que tive com Scola, o argentino sempre se mostrou um entrevistado educado inteligente, ligado. Nunca se importou se era um brasileiro, um porto-riquenho ou um americano com o gravador na mão. Um cara legal. Se perguntarem para Tiago Splitter, a quem teve como um irmão mais novo por muito tempo em Vitoria, na Espanha, vão ouvir muito mais que isso.

Em quadra, o argentino é uma aula ambulante. Quantos centímetros ele sai no chão? Consegue pular uma caixa de sapato? Caso consiga, pouca diferença faz. Com os pés no chão, já levou para a escolinha adversários de todo o continente e de alto gabarito com seu movimento de pernas criativo e bem fundamentado. Primeiro, então, ele tenta limpar espaço tecnicamente. Se for o caso, também aguenta bem o tranco, fortaleza que é. Na pior das hipóteses, arruma as coisas na munheca, com suas mãos gigantes que controlam a bola com muita facilidade.

Esse problemão vai cruzar o caminho de Splitter e Anderson Varejão (e Nenê?) novamente.

Rafael Hettsheimeir

Rafael Hettsheimeir voltou consagrado de Mar del Plata, mas não pôde ir para Londres

No ano passado, foi Rafael Hettsheimeir, para surpresa de todo o continente, quem se virou melhor contra o veterano. Atacou com personalidade, se virou na defesa e feriu o orgulho do cabeludo. O rapaz se lesionou, passou por cirurgia e está fora agora. Que seus compatriotas mais badalados se virem, então.

Algo interessante para se observar: em vez de insistir com Juan Gutiérrez por muito tempo, Júlio Lamas tem adotado uma formação mais baixa, com Nocioni, Carlos Delfino e Ginóbili ao mesmo tempo em quadra, numa formação parecida com a dos Estados Unidos. Neste caso, ele empurraria Scola para um duelo com Splitter, e Varejão teria de ficar atento a Nocioni, que voltou a chutar com confiança durante o torneio.

Seria importante fazer uma boa marcação individual sobre Scola, para que os demais defensores não precisem se desligar de seus respectivos oponentes e contestem seus chutes de longa distância de modo apropriado.

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Isso tudo para falar só de Scola. Melhor seria abstrair, então, os 20 pontos, 6 rebotes e 4,8 assistências de Ginóbili no torneio, né?

Magnano certamente adoraria. Mas não é o caso.

Alex vai perseguir o astro do Spurs pela quadra toda. Seu maior desafio no torneio. Ele tem capacidade para executar a missão, mas precisa tomar cuidado com excesso de agressividade e evitar faltas bobas em rebotes e fora da bola. O argentino é mais badalado, sabe vender (cavar) bem uma falta e vai tentar usar a arbitragem a seu favor. Se  o trio escalado for daqueles que vai para quadra como se fosse um baile de Carnaval, apitando sem parar, pode ser um problema.

Pelo que observamos dos amistosos em confronto direto e do torneio olímpico, Larry também deve ganhar seus minutinhos para testar o narigudo.

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Tiago Splitter

Splitter também pode atacar Scola, ué

Escrever dessa forma sobre os dois craques argentinos pode passar a impressão de que eles são os favoritos para este duelo de quartas de final. Não são: trata-se de um confronto muito equilibrado.

A velocidade e a capacidade atlética, por exemplo, sempre foram um trunfo da seleção brasileira neste clássico. Contra a envelhecida Argentina, essa combinação pode desequilibrar ainda mais. Para isso, precisam forçar erros e chutes desequilibrados na defesa para ganhar o contra-ataque. Preparados para isso os jogadores foram. Magnano conhece bem demais os adversários e pode atacá-los em seus pontos fracos.

Se Scola dá muito trabalho de um lado, do outro, se bem municiados, especialmente em movimento, os pivôs brasileiros também podem aprontar um bocado, por serem muito mais ágeis e velozes.

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Num caso de jogo equilibrado até o fim, teoricamente a seleção brasileira tem mais gás render. Por outro lado, não consigo imaginar um cenário em que, na hora de matar ou morrer, batalhadores como Scola, Ginóbili e Nocioni simplesmente arrefeçam e aceitem o maior vigor adversário.

 


Lavada contra a China, classificação garantida e armadilha a ser evitada
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Giancarlo Giampietro

Varejão marca Jianlian

Yi Jianlian foi dominado pelos pivôs brasileiros: apenas cinco pontinhos, três deles em lances livres

Para um time que ainda jogava por sua classificação, impressionou negativamente a pouca intensidade dos chineses neste sábado. Ressaca, ou não, a seleção brasileira não tinha nada com isso: se impôs desde o início e fez seu trabalho muito bem, obrigado, para vencer por 98 a 59.

Para garantir a classificação para as quartas, a equipe começou sua partida buscando o jogo interior, ufa, e viu aquele Tiago Splitter eficiente, ao qual se habituou nas últimas temporadas, executar bons movimentos, abrindo caminho para  uma boa diferença logo de cara. Com pivôs menores e mais leves, a China teve de encolher sua marcação e permitiu uma série de chutes de três pontos para os brasileiros, e dessa vez, livrinhas, as bolas caíram.

Não houve egoísmo também, tendo o time acumulado 27 assistências. Foram pouquíssimos os desperdícios de bola (6). A defesa não afrouxou em nada, continuou desestabilizando os chineses e forçou este desempenho pífio: nos primeiros 20 minutos, seu oponente somou seis erros e apenas uma assistência, por exemplo. Na segunda etapa, foi um treino.

(Agora um parêntese obrigatório, e que se tome cuidado com as armadilhas: foram 25 tiros de longe e 12 cestas, a maioria equilibrada, sem pressão alguma. Mas não achem os brasileiros que vão enfrentar uma defesa esburacada como essa em duelos com Espanha, França e Argentina. Fica o exemplo do comportamento dos Estados Unidos hoje contra a Lituânia, acreditando que a tempestade de três pontos que causaram contra a Nigéria se replicaria naturalmente.)

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Só Leandrinho, Giovannoni e Alex ficaram em quadra por mais de 20 minutos, e raspando. Deu, então, até para Caio Torres e Raulzinho jogarem. Pelo andar da carruagem olímpica brasileira, a convocação do pivô do Flamengo parece cada vez mais deslocada: se era para ter um jogador para ser usado tão pouco no torneio, não era melhor investir em alguém mais jovem, mesmo?

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Excluindo os jogos dos Estados Unidos, essa foi a maior vitória do torneio olímpico masculino, com 39 pontos de vantagem. A maior diferença até então havia sido da Argentina sobre a Lituânia: surpreendentes 23 pontos (102 x 79). Os argentinos também haviam vencido a Tunísia pelos mesmos 23 pontos (92 a 69).

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Agora o assunto que vai dominar as próximas 48 horas: ganhar, ou não, da Espanha, para evitar um eventual confronto com os Estados Unidos nas semifinais. Imagino que haverá muitos a torcer para uma vaga como terceiro colocado. Desta forma, evitaríamos também o clássico diante da Argentina nas oitavas. Bem… Para mim, não tem essa de entregar jogo. A bola está com Magnano.

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Duas notas sobre a China:

– Wang Zhizhi foi o primeiro atleta do país a jogar na NBA, contratado em 2001 pelo Dallas Mavericks, um ano antes de Yao Ming ser selecionado pelo Houston Rockets na primeira colocação do Draft que também levou Nenê para a liga norte-americana.

– Quem se lembra do técnico Robert Donewald Jr.? Ele foi contratado pelo ex-agente de Nenê e Leandrinho, Michael Coyne Jr., para trabalhar no Brasil na temporada 2005-2006 com o ala Marquinhos. Ele foi o treinador do time de São Carlos, do qual Nenê também participou na formação. Depois, ele ainda treinou Guarujá, antes de partir para a Ásia. Neste meio-tempo, Donewald trabalhou com Marquinhos e o pivô Morro, do Pinheiros, na preparação dos dois atletas para o Draft da NBA de 2006. O ala foi selecionado na posição 43 pelo Hornets.

 


Com mais sufoco, seleção vence a 2ª, encaminha vaga, mas ainda segue aquém de seu potencial
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Giancarlo Giampietro

Tiago Splitter comemora vitória contra Grã-Bretanha

Tiago Splitter comemora vitória contra Grã-Bretanha. Ufa

Vocês queriam Olimpíadas? Então toma.

Melhor do que lamentar a ausência da seleção brasileira masculina em Londres-2012, é sofrer com os caras até o final? Por enquanto, vai desse jeito, mesmo.

Contra a Grã-Bretanha, equipe de Magnano mais uma vez não jogou bem no ataque, não encheu os olhos de ninguém – patriotada você não acha aqui, não –, mas sobreviveu com sua forte defesa contra um adversário bem inferior tecnicamente. Os britânicos acumularam 19 erros e converteram horrendos 38,9% nos arremessos.

Então a boa notícia fica sendo esta: duas vitórias em duas rodadas e a classificação muito bem encaminhada, mesmo que no sufoco. Basta mais um triunfo em três jogos para assegurá-la.

Que mais tem nessa linha?

– Nunca vi Leandrinho defendendo com tanta entrega, determinação e inteligência assim. O ligeirinho foi muito mal no ataque no começo de jogo, mas segurou seu ímpeto nos quartos seguintes e deve estar morto agora de tanto correr atrás de Luol Deng. Repararam? O ala do Chicago Bulls, faz-tudo dos britânicos, passou diversas posses de bola sem nem participar do ataque porque o brasileiro se colocava na frente da linha de passe de maneira insistente. Foi um desempenho fundamental para suprir a ausência de Alex, afastado por faltas.

Alex segura Luol Deng no rebote

Deng teve problemas contra Alex e Leandrinho

– Marquinhos ganhou seu merecido espaço na rotação e foi uma força estabilizadora para o ataque brasileiro a partir do terceiro período. Pode ter cometido dois turnovers nos minutos finais do quarto período, pisando na linha lateral, mas o segundo deles foi mais pelo passe na fogueira de Nenê. De resto, acompanhado de Larry ou Huertas, o ala ajudou a equipe a cadenciar um pouco a partida (mesmo chutando 3/10(, passando mais a bola e também partindo para dentro para quebrar a defesa britânica. Seus números de 8 pontos, 4 rebotes e 2 assistências não contam exatamente sua importância no embate.

– Larry também conduziu bem o jogo no segundo quarto, dando um descanso providencial para Huertas. Foram nove minutos nada brilhantes, mas consistentes. E é disso que precisamos vindo de nosso armador reserva. (Raulzinho, em compensação, deve demorar para retornar.)

– Tiago Splitter teve um jogo de “sai, uruca”. Soube se posicionar bem no garrafão e foi devidamente municiado por Huertas no segundo tempo para terminar a partida como seu cestinha 21 pontos, com várias bandejas.

Essa foi a parte positiva da coisa, para se construir em cima.

Deve-se aplaudir a eficiência do time para segurar ótimos jogadores como Luol Deng e Joel Freeland. Mas que fique bem claro: eles não são os adversários mais qualificados que enfrentarão daqui para a frente se estiverem pensando realmente em pódio. Se Pops Mensah-Bonsu causou problemas em determinados momentos, que fiquemos beeeem ligados quando estiverem do outro lado Pau Gasol, Juan Carlos Navarro, Manu Ginóbili, Luis Scola, Sarunas Jasikevicius, Nicolas Batum, Andrei Kirileko, e… Ficamos por aqui, ok?

Em duas partidas, para somar duas vitórias, o Brasil enfrentou dois quintos da parte mediana da tabela. Nesse nível, ainda falta a China. Mas com uma terceira rodada diante da Rússia e a quinta contra a Espanha, o torneio vai apertar.

Contra times deste porte, não dá para marcar apenas quatro pontos num quarto. Não dá para repetir a atuação do primeiro tempo de modo algum. Haja “nervosismo” até lá para dar conta disso. Pressão existe em todo jogo olímpico? Se assim a seleção permitir.

Enterrada de Nenê

Um dos três “chutes” de Nenê no jogo

Acertar apenas três chutes em 22 tentativas de longa distância é algo que deve ser riscado de qualquer caderninho técnico. E dessa vez a sangria toda não tem o álibi chamado Marcelinho Machado, limitado a apenas dois minutos de ação.

Precisa realmente demorar mais de dez minutos de jogo, numa segunda rodada olímpica, para entender que nosso ataque funciona muito melhor quando se busca a infiltração? A partir do momento em que Huertas, Larry e Marquinhos “colocaram a bola no chão”, se assentaram em quadra, os pontos de Splitter começaram a surgir. No segundo tempo, quando este passou a ser o padrão ofensivo, marcamos 40 pontos, 13 a mais do que na primeira etapa.

Então ficamos assim momentaneamente: um ataque avariado sustentado por um empenho defensivo pouco visto na história deste país, contra adversários fortes, sólidos, mas não os mais temerosos de toda a competição.

Vamos vencendo sofrendo, valendo os mesmos pontos na classificação, mas, para cumprir qualquer que seja o nosso potencial, falta muito.


Em estreia olímpica, Marcelinho queima tudo de três pontos e pivôs são subutilizados
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Giancarlo Giampietro

 

Como costuma dizer o vizinho Bala, “é até chato” repetir isso aqui, mas não tem como evitar.

Sobre o Marcelinho Machado, que jogou por 15 minutos contra a Austrália e tentou dez arremessos.

Pior, aquele mesmo causo de sempre: oito desses dez tiros foram de três pontos, tendo convertido apenas um. Descontando Machado, a seleção foi bem comedida e arremessou apenas sete vezes de longa distância: três com Leandrinho, duas com Huertas, que não acertaram nenhuma,  e mais duas de Alex, que matou a primeira).

Nenê contra australianos

Enquanto Marcelinho não se cansa de chutar, as trombadas de Nenê são pouco recompensadas

Marcelinho só livrou a cara nessa, em termos de resultado, porque os australianos foram ainda mais teimosos e incompetentes no perímetro externo (com apenas 4 cestas em 22 arremessos, 18%). Patty Mills chutou nove bolas de três e matou apenas uma. Joe Ingles: 1/4. Brad Newley: 0/1. Matt Dellavedova: 0/2. Matt Nielsen: 0/1.  David Andersen: 2/5 (as duas em reação no quarto período, diga-se).

Apenas dois jogadores brasileiros chutaram mais que Machado na partida de estreia: Huertas (12) e Leandrinho (15). Mas… para comparar de modo justo: Huertas ficou em quadra por 32 minutos. Leandro, poor 25 minutos.  A média de chutes por minuto do flamenguista, então, estoura.

O que o veterano fez hoje em quadra para justificar um tempo maior de quadra do que recebeu Marquinhos (limitado a 11 minutos)? Bem, não foi rebote (zero), assistência (necas) e roubo de bola (nada). Hmm… Não sei, então.

*  *  *

Nenê jogou 20 minutos e encestou quatro de seus seis arremessos. Varejão foi ainda mais produtivo: em 25 minutos, matou seis em sete. A dupla som ou 22 pontos extremamente eficientes, então. Por que diabos não usá-los mais? Qual a dificuldade?

Principalmente quando Splitter não estava bem em quadra, com oito erros em dez tentativas de quadra, muitas delas mal posicionadas, com ganchos da cabeça do garrafão no estouro do cronômetro – nessa ocasião, porém, a culpa não é sua de sobrar com a batata quente na mão.

 


Vitória importantíssima para a seleção na estreia. E por que acharam que seria fácil?
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Giancarlo Giampietro

Seleção vence a Austrália na estreia olímpica

15 pontos e 10 assistências para Huertas na estreia sofrida

Quem falou que ia ser fácil?

Compreensível que se demonstre confiança em torno da seleção e era difícil, mesmo, segurar a euforia. Afinal, o time voltava a uma Olimpíada após 16 anos e vinha bem nos amistosos.

Mas… Daí a menosprezar a Austrália? Não se justifica.

Eles têm gente de NBA, atletas na elite da Europa há tempos – David Andersen é um dos jogadores mais bem remunerados no nível Euroliga por cinco ou seis anos já –, pivôs fortes, um técnico muito competente e um cestinha tão ou mais qualificado do que qualquer jogador brasileiro (Mills hoje tem muito mais facilidade para pontuar em jogadas individuais do que Leandrinho e Splitter, inegável).

O Brasil pode estar muito bem, ser considerado um favorito ao pódio, mas isso não servia para desqualificar nosso adversário de estreia.

Tivemos de ganhar o jogo, por  75 a 71. Não entramos com a partida já liquidada.

*  *  *

E, para quem perdeu a hora, como foi?

Bem, um primeiro quarto tenso. Huertas pressionado, chutes forçados, transição australiana funcionando, mas conseguimos apertar as coisas no final do primeiro quarto, ficando um pontinho atrás apenas. O segundo quarto seguiu travado, com os brasileiros dessa vez terminando com o pontinho na frente.

No terceiro quarto, por cinco, seis minutos, a seleção enfim apresentou um basquete de acordo com o que havia praticando nas últimas duas semanas. Em vez de atuar como presa, foi o time que optou por caçar os adversários, forçando sete desperdícios de posse de bola, enfim conseguindo sair de modo organizado no contra-ataque. Abriu 13 pontos de vantagem.

E aí veio algo inesperado: podemos esperar algumas bobagens aqui e ali de Leandrinho com a bola, uma falta de ataque mal marcada pelo árbitro, 300 chutes forçados de Machado, mas não estávamos preparados, não, para um equívoco sério de… Magnano!

O argentino fez um favorzão aos Aussies ao sacar o quinteto brasileiro em sua íntegra, justamente quando o time estava em alta. Em três minutos, a diferença já estava na casa  de cinco pontos. Não era hora para colocar o Caio, che.

Entendeu, Leandro?!?!?

Magnano dá aquela bronca em Leandrinho, mas dois cometeram erros graves na partida

Uma vez com o núcleo Huertas-Leandrinho-Nenê em quadra para iniciar o quarto final, voltou o respiro no placar. Não que tenha de ser obrigatoriamente desta forma daqui até o final do torneio. Não vai ser necessariamente com esses que o Brasil vai render seu melhor – quer dizer, no caso do armador, sim. Mas cada jogo tem sua história e, contra os australianos, o físico e a disciplina de Nenê foram muito mais eficazes.

Na metade do quarto final, porém, duas bolas de três convertidas por David Andersen voltaram a mexer com a partida. De repente, o placar voltava para a casa de cinco pontos, caminhando para o os minutos decisivos daquele jeito que cardíaco não gosta.

Um jogo parelho, dois minutos no cronômetro, e o que fez a seleção? Colocou a bola nas mãos de Leandrinho. No primeiro ataque, o ala fez tudo direitinho: gastou a posse de bola, encontrou uma brecha na defesa, bateu para dentro e descolou a falta de Andersen e dois lances livres. Tudo de acordo com o script, levando o placar para 73 a 67.

Muito bom para ser verdade?

Parece que sim.

Nas duas posses de bola seguintes, Leandrinho tentou uma descabida e egoísta bola de três pontos (com 52 segundos no relógio e vantagem de quatro pontos…) que a gente já viu acontecer diversas vezes. Inexplicável, mesmo.

Do outro lado, Mills errou seu disparo de longa distância, e o ala brasileiro voltou a se precipitar. Tentou acelerar para um contra-ataque, foi de ombro em direção a Joe Ingles e cometeu a falta de ataque. O lance até pode ser discutível, mas não haveria bate-boca se o brasileiro não tivesse se colocado naquela posição. Faltavam 44 segundos, não era hora de correr com a bola.

Leandrinho acabou excluído, e Machado entrou em seu lugar. O veterano ala, em sua primeira Olimpíada, ficou caçando borboletas na defesa e permitiu que um Ingles livrinho da silva, cortando pela porta dos fundos :), fizesse a bandeja e diminuísse para dois pontos o placar.

Foi aí que a sorte deu uma ajudinha.

Huertas controlava o jogo, gastando tempo até chamar um corta-luz impecável de Splitter, desmarcando o companheiro. O armador entrou no perímetro interno e faria um perigoso passe quicado para a zona morta. No meio do caminho, porém, a bola bateu no pé de um australiano e morreu, com nove segundos no relógio. Resultado: os brasileiro ganharam alguns segundinhos preciosos para atacar, exigindo que os oponentes fizessem a falta.

E, gasp!

Foi por um triz que Mills não roubou a bola, antes de cometer a falta em Huertas. O armador acertou os dois lances livres.

Vitória na estreia? Sim, e ufa. Mas, de novo: com o jogo jogado.


Brasil bate Austrália e agora faz últimos ajustes para enfrentar a… Austrália?
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Giancarlo Giampietro

Então é assim: em seu último amistoso antes das Olimpíadas, a seleção brasileira derrotou a Austrália por 87 a 71, neste domingo, e agora entra em sua semana decisiva, para fazer os últimos preparos e ajustes para enfrentar… a Austrália!

Tiago Splitter

SplitteR: 17 pontos e 2 rebotes neste domingo

Não é erro de digitação. Acabou sendo bastante estranho o timing dessa partida em Estrasburgo, na França, não?

O jogou não passou aqui no QG 21, que estava esvaziado devido a uma expedição providencial a um restaurante mineiro, recanto que  já se tornal tradicional aqui na Vila Guarani. A fome falou mais alto.

Mas, bem, estávamos falando que não vimos o jogo, então não dá para comentar nada de maneira muito apropriado. Se o time só desperdiçou a bola sete bolas e forçou o triplo de turnovers dos adversários, essa parece ter sido uma atuação bastante centrada, que manda aquele alô para os australianos, dominados do segundo quarto ao fim.

Em declaração ao site da CBB, Rubén Magnano fez questão de ressaltar que “não mostramos tudo o que temos”. Vai entregar o ouro para o bandido assim? Mas como fazer para ganhar a partida, de modo dominante assim, sem se expor demais? “A essência do jogo é uma só e não pode ser mudada, não há muito o que esconder”, comentou o técnico argentino.

Ontem escrevemos que não existe uma derrota que possa ser considerada legal. Da mesma forma que não há vitória que não venha em boa hora. Bacana, e tal, mas o que vale, mesmo, é o jogo do dia 29, né? Esperamos agora que os australianos tenham se impressionando com o recado dado, mas sem ter aprendido muito com ele.

*  *  *

Nenê terminou o confronto com os Aussies com seu primeiro duplo-duplo dessa série de amistosos: 12 pontos e dez rebotes. Varejão apanhou outros 13 rebotes. E Splitter anotou 17 pontos. A trinca botou para quebrar, pelo visto, somando 37 pontos e 25 rebotes.

*  *  *

Magnano colocou em quadra dessa vez todos seus 12 jogadores, depois de deixar Raulzinho no banco durante todos os 40 minutos do revés diante da França. O armador deu quatro assistências em 14 minutos. Caio jogou por oito minutos. Alex foi quem ficou mais tempo em quadra: 31 minutos. Huertas conseguiu um respiro, com apenas 18 minutos. Pelos australianos, ninguém jogou mais que os 27 minutos do talentoso ala Joe Ingles. Patty Mills jogou por 20 minutos, com 14 pontos e duas assistências. David Andersen por 22, com 16 pontos e 10 rebotes.

*  *  *

Marcelinho Machado jogou por 20 minutos, arriscou nove arremeso, sendo seis deles de três pontos (para dois convertidos). Os australianos chutaram 26 vezes de longa distância, acertando apenas 31%.


Liberdade para Varejão
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Giancarlo Giampietro

Já faz tempo também, estávamos em agosto de 2005, mas ainda me lembro da surpresa que causou informação de que Tiago Splitter se arriscava na linha de três pontos em amistosos da seleção brasileira por cá nos trópicos. Os olheiros europeus e norte-americanos não estavam nem um pouco familiarizados com essa faceta do jogo do catarinense que, na época, aos 20 anos, começa a ser enfurnado no garrafão do TAU Cerámica, jogando de costas para a cesta e só.

Anderson Varejão treina o chuteBem, tendo em vista o Splitter de hoje, sabemos o fim que levou essa aventura no perímetro – e pensar que houve um dia em que ele, ainda adolescente, era visto como um futuro Dirk Nowitzki na NBA, na época da efervescência de scouts na Europa.

Mas o ponto aqui é sobre Anderson Varejão, na verdade.

Essa estava guardada na manga há um tempo, mas, depois de sua exibição na derrota contra os Estados Unidos, chegou a hora.

Quem reparou nos chutes de média para longa distância que ele converteu? Em sequência. O capixaba estava aberto no ataque, provavelmente numa suposta armadilha do staff do Coach K. Oras, o Varejao (sem acento mesmo) ou Varejo, como escreveu Shaq no Twitter, não mata essa bola pelo Cavs. De jeito nenhum.

Agora imagino que o scout seja atualizado. Ô, se mata.

Talvez a trupe de Jerry Colangelo não estivesse tão ligada assim durante a Copa América de 2009, que eles não precisaram jogar por já estarem garantidos no Mundial da Turquia. Naquele torneio, sob o comando de Moncho Monsalve, ainda que numa amostra pequena, Anderson acertou 44% de seus chutes de três pontos e também mostrou predisposição a atacar o aro após fazer a finta no perímetro. Algo impensável no time em que a bola, então, ficava 90% do tempo, no mínimo, nas mãos de LeBron James.

Na seleção, ainda que saibamos que os pivôs mereçam mais carinho, é inegável o contraste de mundos para o cabeleira. Ele joga com muito mais confiança e liberdade para criar no ataque, se recusando a ser apenas um cara que viva de rebotes e sobras, trombadas por posicionamento defensivo preciso e cotovelos ralados.

Deixando bem claro: todas essas virtudes quase nunca são devidamente valorizadas por aqui e ainda compõem o que Varejão faz de melhor numa quadra. É por isso que ele ganha o que ganha em Cleveland e é idolatrado pela torcida de lá. Justo, bem justo.

Mas se tem alguma coisa que frustra o Vinte Um é ver jogador amarrado, algemado. E a liberdade da qual ele desfruta de verde e amarelo só aponta mais um sinal da mente inteligente que tem Rubén Magnano, por mais exigente e controlador que o argentino pareça ser.