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Arquivo : Sullinger

Mercado da Divisão Nordeste: Boston está chegando lá
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Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central, a Divisão Pacífico, a Divisão Sudeste e/ou a Divisão Noroeste pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de 20 dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

Boston Celtics

Atlanta Hawks v Boston Celtics

Quem chegou: Al Horford e Jaylen Brown.
Quem saiu: Jared Sullinger (Raptors) e Evan Turner (Celtics).

O clube teve sua chance. Kevin Durant, no final das contas, realmente pensou na possibilidade de jogar em Boston. Mesmo que tenha optado pelo Warriors, para choque geral da liga, a mera consideração pelo Celtics deveria deixar o gerente geral Danny Ainge ainda mais encorajado com seu longo plano de reconstrução. Afinal, times como Lakers e Knicks não conseguiram nem mesmo marcar uma reunião com o ala.

E tem outra: não é que Al Horford seja um frustrante prêmio de consolação. Muito pelo contrário. O pivô dominicano se soma a uma base de jogadores competitivos, inteligentes e bem treinados e, sozinho, já vai fazer o produto de Brad Stevens melhorar consideravelmente em quadra, de tantos fundamentos e versatilidade em geral que oferece. Um time que venceu 48 partidas está basicamente trocando Sullinger por um All-Star. Nada mal.

Já a perda de Evan Turner não é algo para se lamentar tanto. A equipe perdeu, sim, seu condutor da segunda unidade, mas acho que dá para acreditar em um salto de qualidade para Marcus Smart e até mesmo para Terry Rozier, compensando. Além disso, a rotação ganha toda a vitalidade e capacidade atlética do número três do Draft, Brown. O jovem ala não está nada pronto como atacante, dependendo basicamente de investidas explosivas rumo ao aro para pontuar, mas já pode ajudar na contenção no perímetro, dando uma força para Jae Crowder contra alas mais altos e fortes.

De todo modo, Ainge não deve parar por aí. O gerente geral ainda busca mais um ou dois negócios, na forma de trocas, tendo ainda uma dúzia de ativos. A franquia obviamente aguarda o que OKC e Russell Westbrook pretendem da vida. Não custa insistir com Vlade Divac sobre DeMarcus Cousins também. Ou quiçá Cleveland já não se importe mais em segurar Kevin Love, precisando de reforços no perímetro devido ao fator Durant. Vai saber. Há sempre um negócio para se fechar por aí, desde que pelo valor certo – esta tem sido a filosofia paciente de Ainge, mesmo depois de um Draft no qual foi obrigado a selecionar seis atletas.

Uma eventual troca vai decidir o futuro de alguns desses jovens jogadores. É certo que Ante Zizic seguirá na Europa. De resto, ninguém sabe ainda o seu destino. O trator francês Guerschon Yabusele impressionou durante as ligas de verão e parece preparado para jogar na liga para já. Por ora, porém, não há espaço no elenco.

Brooklyn Nets

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Quem chegou: Jeremy Lin, Trevor Booker, Luis Scola, Greivis Vasquez, Randy Foye, Anthony Bennett, Justin Hamilton, Joe Harris, Caris LeVert e Isiah Whitehead.
Quem saiu: Thaddeus Young (Nets), Jarrett Jack (Hawks), Willie Reed (Heat), Wayne Ellington (Heat), Sergey Karasev (Rússia), Donald Sloan (China).

Não dá para dizer que Sean Marks esteja recomeçando o projeto do zero, mas é quase perto disso, hein? Considerando o estado em que estava a franquia ao final da temporada passada, é bastante compreensível essa chacoalhada toda. O neozelandês tinha dinheiro para gastar, mas o clube não atrairia grandes nomes. Então optou por apostas em jogadores que ainda teriam potencial para ser explorado, na expectativa de que evoluam com mais tempo de quadra e possam formar um núcleo mais interessante daqui a dois anos, eventualmente. Sim, Jeremy Lin ainda se encaixa nesse perfil, ainda mais agora que ai reencontrar o técnico Kenny Atkinson, uma das principais figuras por trás das semanas de Linsanidade que viveu pelo Knicks há quatro anos.

Outros jogadores nessa linha: Hamilton, um pivô que jogou muita bola pelo Valencia na temporada passada e pode ser considerado um stretch 5, com bom chute da cabeça do garrafão; Bennett, um dos maiores fiascos da história do Draft, mas que ainda é jovem o bastante para não ser descartado de vez; e Harris, que entrou na liga com a reputação de ser um grande chutador de três pontos, mas que não impressionou a serviço do Cavs. Não são nomes que comovem tanto, mas vale a prospecção.

Lembrando também que a ideia inicial de Marks nem era contratar tanta gente assim. Acontece que, quando o Miami Heat e o Portland Trail Blazers decidiram cobrir suas polpudas (e um tanto ousadas) ofertas, respectivamente, por Tyler Johnson e Allen Crabbe, lhe restou dinheiro e poucos alvos no mercado. Aí ele optou pela contratação de veteranos como Scola, Vasquez e Foye, que são caras muito respeitados dentro do vestiário. Pensou em química. Mas será que tantos veteranos assim não podem roubar minutos preciosos dos mais jovens? Caras como Rondae Hollis-Jefferson, Chris McCullough, Sean Kilpatrick e os calouros LeVert e Whitehead deveriam ter a prioridade. Ou Brooklyn acreditaria que um quinteto Lin-Foye-Bogdanovic-Booker-Lopez seria competitivo no Leste?

New York Knicks

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Quem chegou: Derrick Rose, Joakim Noah, Courtney Lee, Willy Hernángómez, Brandon Jennings, Justin Holiday, Mindaugas Kuzminskas, Maurice N’Dour e Marshall Plumlee.
Quem ficou: Lance Thomas e Sasha Vujacic.
Quem saiu: Robin Lopez (Bulls), José Calderón (Bulls/Lakers), Jerian Grant (Bulls), Arron Afflalo (Kings), Derrick Williams (Heat), Langston Galloway (Pelicans) e Tony Wroten (Grizzlies).

É, Phil Jackson também trabalhou bastante nas últimas semanas. Quantas canetas foram necessárias para assinar tanta papelada? Desde a troca surpreendente com o Bulls por Derrick Rose (análise aqui) a contratações de veteranos com histórico de lesão, passando pela busca por talento na Europa, o Mestre Zen fez de tudo um pouco para tentar conduzir o Knicks de volta aos playoffs. Carmelo Anthony não aguentava mais. Agora está empolgadão com os nomes que chegaram. Deveria?

Em tese, Noah e Lee fortalecem bastante a vulnerável defesa da equipe. O Knicks pagou um preço caro por um dos marcadores mais inteligentes e aguerridos do basquete. Ele tem tudo o que Jackson ama em um jogador. Precisa ver apenas se o pivô – um dos meus cinco jogadores prediletos em toda a liga, acreditem – vai ter condições físicas para jogar a temporada toda em alto nível. Do contrário, vai ter de apelar a Hernángómez e Plumlee, que até são mais maduros que a média entre calouros, mas não estão à altura da missão. O espanhol tem força, munheca e movimentos para pontuar, mas não é um grande defensor. Já Plumlee vem com a grife Dukep-Coach K, joga pesado, não vai inventar onda nenhuma, reconhecendo todas as suas limitações com a bola. E bota limitação nisso.

O temor pela enfermaria naturalmente se estende aos armadores. Rose terá a companhia de Jennings, que tentará mostrar que a ruptura no tendão de Aquiles ficou no passado. Registre-se aqui uma curiosidade quase mórbida: vamos ver se os dois vão conseguir passar da marca de 70 jogos e de 40% nos arremessos.

Já Lee acrescenta muito na contenção do perímetro. É um defensor muito mais intenso e capaz que Afflalo, que hoje só tem fama. Também arremessa bem e sabe jogar coletivamente, se movimentando pelo ataque, abrindo espaços, acostumado a jogar em função secundária. Definitivamente não vai brigar com Melo e Rose por arremessos. Baita contratação.

Por fim, completando o elenco, Kuzminskas é um ala que vive de oportunismo no ataque. Não é um cara que cria situações de cesta por conta própria, mas sabe aproveitar muito bem as rebarbas em rebotes ofensivos e cortes para a cesta pelo fundo da quadra. Imagino muitas assistências de Noah e Jennings para ele. Na defesa, é uma negação, e talvez seja superado por Holiday na rotação justamente por isso. N’Dour, o atlético senegalês que mal jogou pelo Real Madrid, deve passar mais tempo com o time da D-League do que com as estrelas.

Se estivéssemos em 2010, as contratações de Phil Jackson seriam bombásticas. Mas o calendário, salvo engano, aponta 2016. Se tirarmos o Warriors da dicsusão, talvez o Knicks seja o time mais interessante para se acompanhar na temporada que vem, pela combinação perigosa de egos, pelo simples fato de Rose e Noah estarem fora de Chicago e pela situação de Carmelo – mais um ano de fracasso, e o ala muito provavelmente vá forçar uma troca.

Philadelphia 76ers

Quem chegou: Ben Simmons, Dario Saric, Sergio Rodríguez, Jerryd Bayless, Gerald Henderson e Timothy Luwawu.
Quem saiu: Ish Smith (Pistons), Isaiah Canaan (Bulls) e Christian Wood (Hornets)
Quem chegou e nem ficou: Sasha Kaun

Pela primeira vez desde 2013, o Sixers vai abrir uma temporada em que o objetivo não são as derrotas. O Processo de Sam Hinkie foi abortado abruptamente na campanha passada, com o Clã Colangelo afanando todos os seus ativos, e agora o metódico, cultuado (por uns) e ridicularizado (por muitos) dirigentes tem de se contentar, de alguma forma, com o fato de que pelo menos a franquia conseguiu uma estrela em torno da qual pode se fortalecer, que é Simmons. Mesmo que ele já não esteja mais por lá para curtir esse desenvolvimento.

O novato australiano já encantou durante as ligas de verão com sua visão de quadra especial, lembrando muito um Jason Kidd de 2,08m de altura. Tal como era o caso do armador, porém, em seus primeiros anos de profissional, Simmons não representa absolutamente nenhuma ameaça como chutador, e isso vai ter um preço em seu ano de novato. Enquanto ele não der um jeito nesse fundamento, não deve entrar na pauta de um All-Star Game, por exemplo.

Com Saric e Rodríguez vindo da Europa, de todo modo, o Sixers certamente será um dos times mais divertidos da liga nas trocas de passe e jogo em transição. Depois de sofrer com armadores abaixo da linha da mediocridade, Brett Brown agora pode chorar de alegria no banco. Ele merece.

Fora isso, Henderson vai contribuir com profissionalismo, defesa e chutes de média distância, jogando em casa, enquanto o francês Luwawu se encorpa e se ajusta a um jogo no qual não será mais a figura mais atlética em quadra, como acontecia na Sérvia.

A missão de Colangelo agora deveria ser encontrar uma nova casa para Jahlil Okafor, cujos talentos ofensivos não se encaixam com o restante do elenco – independentemente, inclusive, do que acontecer com Joel Embiid. A rotação da linha de frente com Robert Covington, Jerami Grant, Simmons, Saric, Nerlens Noel e Richaun Holmes já é interessante o bastante.

Toronto Raptors

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Quem chegou: Jared Sullinger, Jakob Poetl e Pascal Siakam.
Quem ficou: DeMar DeRozan.
Quem saiu: Bismack Biyombo (Magic), Luis Scola (Nets) e James Johnson (Heat).

Masai Ujiri teve a chance de acrescentar Serge Ibaka ao finalista da Conferência Leste, mas não aceitou o preço cobrado por OKC (que era a nona escolha do Draft + Patrick Patterson + Cory Joseph + Norman Powell). Os dois reservas são figuras muito queridas no vestiário e compuseram uma segunda unidade que foi um dos pontos fortes do time canadense na última temporada. Joseph também é adorado em Toronto, um queridinho local. Powell deixou claro seu potencial nas últimas semanas do campeonato. Ainda assim… Por mais salgada que fosse a pedida, se o Raptors pretendia melhorar nessa temporada, talvez valesse a aposta. Ibaka seria um parceiro perfeito para Jonas Valanciunas e ainda supriria a inevitável ausência de Biyombo como protetor de aro.

Outra opção badalada que o clube vislumbrou foi Pau Gasol. Aparentemente, se não fosse a aposentadoria de Tim Duncan em San Antonio, o pivô espanhol estava muito disposto a fechar com Toronto. Taj Gibson também foi cortejado, mas as reviravoltas de mercado em Chicago impediram o negócio. Aí restou ao nigeriano a contratação de Jared Sullinger, por US$ 6 milhões.

Considerando os alvos primários, o ala-pivô não empolga muito. Não é ele que vai aproximar o Raptors do Cavs. Mas foi uma alternativa razoável e barata, para assumir os minutos de Luis Scola. Uma evolução. Sullinger é um reboteiro muito mais eficaz, também sabe passar a bola, embora seja um arremessador no mínimo irregular. Como ele vai se encaixar na equipe depende basicamente de seu condicionamento físico. Em Boston, teve constantes embates com a balança.

Já os calouros Poetl e Siakam entram no programa de desenvolvimento da franquia, que agora está lotado. Para um time que briga para se manter no topo da conferência, são diversos os jovens jogadores que não devem receber muita atenção de Dwane Casey na próxima temporada. Talvez o austríaco possa brigar por posição com Lucas Bebê, valendo a vaga de reserva imediato de Valanciunas.

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Celtics está fora. Mas tem cenário otimista para voltar a lutar pelo Leste
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Giancarlo Giampietro

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

De todos os times que poderiam se despedir dos playoffs do Leste logo pela primeira rodada, o Boston Celtics é o que teria uma saída mais confortável. Ninguém gosta de perder. Isaiah Thomas estava com os olhos marejados no vestiário da equipe após a dura derrota sofrida contra o Atlanta Hawks nesta quinta-feira, para definir o segundo classificado às semifinais da conferência, para enfrentar o Cavs. Brad Stevens certamente esperava estender a bela série que fizeram contra o Hawks para um Jogo 7 em Atlanta. Com cara de bom moço, sempre calmo na lateral da quadra, o técnico é na verdade mais uma dessas figuras supercompetitivas, que não lida muito bem com as derrotas. Ainda assim, ele se sentiu obrigado a dizer como essa eliminação estava bem longe de significar o fim do mundo.

“É difícil pensar nisso agora por causa da emoção do momento e por termos perdido do modo como perdemos estes últimos dois jogos, mas acho que, olhando a longo prazo, tendo isso em mente, me sinto bem sobre nosso progresso. E também temos ótimas oportunidades para seguir adiante com nossa flexibilidade”, afirmou.

Esse termo já apareceu em diversos artigos aqui no blog: fle-xi-bi-li-da-de. É a palavrinha-chave para a gestão moderna da NBA, enquanto as atuais regras trabalhistas vigentes, de contratos mais curtos firmados nos últimos anos e que se tornarão bem baratos quando confrontados com os acordos que estão prestes a serem assinados em julho, quando o teto salarial será elevado consideravelmente.

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É difícil vasculhar a liga e encontrar uma situação mais promissora que a do Celtics, num trabalho impecável de Danny Ainge. O chefão do departamento de basquete do clube conseguiu conduzir um trabalho de reformulação após a era Pierce-Garnett sem chafurdar como um Philadelphia 76ers. Foi um ano de mergulho, no primeiro ano de Brad Stevens, carregando um Gerald Wallace. Nas últimas duas temporadas, já voltaram aos playoffs. Com o brinde: o direito de projetar uma escolha alta no próximo Draft justamente por causa da troca de PP e KG ao Brooklyn Nets, sem proteção alguma.

Okafor já foi especulado como alvo de Ainge. É mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se reconstruiu com muito mais rapidez que o Sixers

Okafor já foi especulado como alvo. Mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se remontou com muito mais rapidez

Hoje, voltando a cabeça exclusivamente para o recrutamento de novatos, com o time nova-iorquino tendo terminado com a terceira pior campanha, o Celtics tem 15,6% de chances de ganhar a primeira posição. Na pior das hipóteses, fica em sexto. O Philadelphia 76ersm que escapou novamente por pouco de registrar a pior campanha da história, tem 25%. Quase 10% a mais, algo significativo, mas qual caminho você preferiria: vencer dez jogos e ter 25% de chances para a escolha número um, ou ganhar 48 jogos e ter 15,6%? Para ser justo, quando Sam Hinkie assumiu o Sixers, ele não tinha veteranos do gabarito de Garnett e Pierce para seduzir e surrupiar um time desesperado por luzes, com o Brooklyn Nets. Tá certo. Mas que o Celtics tenha conseguido aproveitá-los desta forma e já veja o Boston beirando a marca de 50 vitórias, diz muito sobre a visão de Ainge. Não é sorte isso.

Hoje, o cartola olha para o seu elenco, anota o que tem de salários garantidos para a próxima temporada e todos os trunfos em termos de Draft que tem em mãos e sabe que tem diversas trilhas para seguir daqui para a frente. É incrível até:

1) se o teto salarial for de US$ 90 milhões, o Boston vai ter um mínimo de US$ 23,7 milhões para investir em agentes livres. Se decidir renunciar aos direitos de Amir Johnson, Jonas Jerebeko e Tyler Zeller, pode chegar a US$ 49,4 milhões, permitindo a contratação, por exemplo, de dois salários máximos para atletas de até seis anos de experiência, sobrando um troco, ou um contrato máximo para alguém de sete a nove anos (Kevin Durant, por exemplo) e mais US$ 24 milhões para propor a um alvo ou diversos alvos.

(Quer saber a situação de seu time? Vale checar o estudo de Eric Pincus, do Basketball Insiders, referência no assunto.)

Thomas, Jae Crowder, Marcus Smart, Avery Bradley, Kelly Olynyk, Terry Rozier, ames Young, RJ Hunter e Jordan Mickey são os atletas com salário garantido. O detalhe: Thomas, Crowder e Bradley vão ganhar, juntos, pouco mais de US$ 20 milhões. Na economia da NBA, isso é mixaria, especialmente para três veteranos tão produtivos. Para comparar, David Lee, sozinho, embolsou US$ 15 milhões do time.

Amir Johnson e Jonas Jerebko, contratados no ano passado, têm cláusulas que Ainge pode ativar, ou, não valendo US$ 12 milhões e US$ 5 milhões, respectivamente. Zeller e Sullinger dão agentes livres restritos. Evan Turner estará disponível, tendo se valorizado nesta campanha, e não estranhe se receber oferta de Phil Jackson.

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

2) em termos de Draft, chega a ser ridículo: só neste ano, o Celtics tem três escolhas de primeira rodada e cinco (!?) de segunda. São oito no total. Uma das escolhas de segunda, na real, vale como uma de primeira, por ser a 31a.

A mais valiosa é a do Nets. Além disso, o time tem a do Dallas (número 16! Numa cortesia de Rajon Rondo) e sua própria (número 23). Obviamente, não há espaço para oito novos calouros na equipe. No mínimo, Ainge vai escolher diversos atletas que não façam questão de jogar na liga de imediato, os chamados stash picks. Gringos ou universitários que topem jogar na D-League, na Europa, na Austrália (como o ala-armador Marcus Thornton neste ano) ou em qualquer lugar. O mais provável, porém, é que ele faça pacotes. Que acumule escolhas e tente subir no Draft a partir de uma posição mais avantajada. Por exemplo: três escolhas de segunda e a 16a. pela 10a. Coisa do tipo. Ou trocar por escolhas futuras também.

A cesta, de todo modo, não vai ficar vazia após 23 de junho, data do recrutamento. Em 2017, o clube tem o dirigente de trocar sua escolha com a do Brooklyn e possui mais três escolhas extra de segunda rodada. Em 2018, nova escolha do Brooklyn. Em 2019, tem uma escolha de primeira do Memphis (valeu, Jeff Green). É muita munição: todas essas seleções podem ser envolvidas em negociações.

Com tudo isso na mesa — imagine um jogador de poker que até some atrás de seu monte de fichas –, Ainge certamente vai ser agressivo, mas podendo agir com paciência. Como tem feito. Dependendo do que acontecer com Cleveland nestes mata-matas, voltará à carga por Kevin Love. Outros nomes aos quais o clube já foi vinculado: Boogie Cousins e Jimmy Butler. E será que Blake Griffin vai estar disponível? Carmelo Anthony toparia? Por aí vai.

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

A opinião geral da NBA é de que, para o Celtics conseguir uma superestrela, uma troca seria a via mais provável. Historicamente, seja pelo clima frio ou, infelizmente, por questões raciais da cidade (válidas ou não), a franquia não tem muito sucesso na contratação de agentes livres. Dominique Wilkins topou uma oferta em 1994, mas já aos 35  e ficou apenas uma temporada por lá. No ano passado, Amir Johnson foi o grande prêmio. O prestígio crescente de Stevens e a competitividade da equipe seriam fatores para ajudar nessa empreitada.

Mas aí voltamos à flexibilidade. Ainge pode tentar de tudo em trocas, com jogadores valiosos e baratos e múltiplas possibilidades de Draft, com um escritório de excelente aproveitamento no assunto. Ao mesmo tempo, tem espaço salarial para insistir em reforços de mercado. Não precisa se precipitar.

O cenário ideal seria receber uma das duas primeiras escolhas deste ano, aguardando a loteria do dia 17 de maio. Isso valeria um dos pródigos mais elogiados pelos scouts: os alas Ben Simmons ou Brandon Ingram. Qualquer um dos dois seria sensacional para Stevens: Simmons poderia ser o armador do time, ou no mínimo aliviar a pressão em cima de Thomas. Dá para imaginar facilmente um quarteto com Thomas, Smart/Bradley, Crowder e Simmons correndo pela quadra. Já Ingram ofereceria aquilo que é uma carência: arremesso de fora e a capacidade para criar suas próprias situações de pontuação.

Ou isso, ou seriam moedas de troca muito atraentes. Entre os oito times do Leste classificados para os playoffs neste ano, o Celtics tem o segundo elenco mais jovem, ficando acima apenas do Pistons. Vale adicionar mais um garoto à rotação?  Ou é melhor buscar veteranos? O objetivo é voltar à briga pelo topo da conferência, algo que não acontece desde aquela grande série contra o Miami em 2012, quando chegaram a abrir 3-2. O último título do Leste, para lembrar, saiu só em 2010. Claro que seus fanáticos torcedores e Ainge estão cientes disso. Chega uma hora que esses trunfos futuros têm de ser traduzidos em realidade, em algo concreto. Parece que chegou a hora de capitalizar, mas nem sempre é tão fácil assim. No ano passado, por mais que tenha tentado, o clube não viu cenário algum que lhe favorecesse.

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

“Amo o que Boston tem feito na sua reconstrução: acumular ativos que podem um dia gerar um ‘home-run’, enquanto, simultaneamente, construíram uma equipe competitiva, disciplinada. Eles têm um dos baús de tesouro mãos ricos da liga para investir (qualquer combinação de escolhas de Draft e bons jogadores jovens com contratos amigáveis)”, disse Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-dirigente do Phoenix Suns. “Mas é aí que reside a piada cruel da NBA: todos esses ativos não significam nada se você não pode comvertê-los em um negócio valha a pena. Então, basicamente o Celtics tem duas possíveis armadilhas para contornar: fechar uma troca por um jogador que não necessariamente vá fazer o programa avançar, ou não fechar nada, ficar estagnado e ver o valor desses ativos eventualmente cair. Recomendo uma atuação agressiva, que assuma riscos quando apropriado, mas o presidente Ainge tem de fazer seus ativos valer.”

Ainge é daqueles cartolas que sabendo manipular a mídia como bem entende, para plantar informações, mandar recados e tal. Só não abre o jogo ao falar sobre seus principais alvos e intenções. Ninguém sabe se ele prefere um dos calouros top ou uma jovem estrela. O fato se ter passado por julho e, agora, em fevereiro sem fechar grandes negócios indica que ele tem sido exigente em suas investidas. Nesse sentido, a evolução apresentada neste ano lhe dá mais segurança, amparo, esperando o negócio certo. Boa parte da liga adoraria estar nessa posição. Pensando longe, talvez até mesmo o Atlanta Hawks, que acabou de passar à semi do Leste.

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Boston Celtics: Alguém vai atender o telefone?
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Stevens e Rondo: juntos para sempre ou até quando?

Stevens e Rondo: juntos para sempre ou até quando?

Danny Ainge não vai parar, disso todos sabemos. O irrequieto chefão do Celtics é daqueles que torra dólares em contas telefônicas. A orelha de seus contatos no Skype já está cansada. E lá está ele ligando para aquele pobre gerente geral novamente, em busca de mais escolhas de Draft, de mais trunfos para poder apostar alto depois. É isto: o cartola não vai sossegar, enquanto não conseguir fechar mais uma supertroca que dê ao tradicionalíssimo time mais um grande craque, aos moldes do que obteve em 2007 com Ray Allen e Kevin Garnett.

Quando Kevin Love visitou o Fenway Park, do Red Sox, nas férias, você imagine como a cidade, doente por esportes, ficou. Em polvorosa? É pouco até, especialmente depois de David “Big Papi” Ortiz se empenhar no recrutamento. Um torcedor sortudo até mesmo flagrou um encontro do ala-pivô com Rajon Rondo:


Acontece que o flerte durou pouco. Flip Saunders, presidente, gerente geral, técnico, roupeiro e segurança do Timberwolves, não se empolgou tanto assim, não, com o que Ainge lhe ofereceu, o contrário de Kevin McHale, todo camarada com seu ex-companheiro, tempos atrás. Obviamente LeBron James ficou bastante satisfeito com essa decisão.  Já Rondo… Por mais que o armador fale em público, e que a diretoria do Celtics sublinhe cada palavra – está tudo bem, estão todos felizes –, fato é que o astro e a franquia estão em pontos diferentes da curva, neste momento. O time está em fase de reconstrução, ainda sem identidade. O atleta, em último ano de contrato, voltando de lesão no joelho e de uma fratura na mão, acostumado a lutar pelo título, a brigar nos playoffs. Vai demorar para acontecer isso em Boston. A não ser que alguém diga sim a Ainge. Sempre levando em conta que, no fim, Rondo é aquele poderá ser trocado. Senta, que lá vem história, viu?

 Marcus Smart arranca elogios por onde passa. Por ora, aguarda se Rondo vai ou fica

Marcus Smart arranca elogios por onde passa. Por ora, aguarda se Rondo vai ou fica

O time: que o Celtics vai estar bem preparado, bem treinado, disso não há dúvida. Brad Stevens impressionou em seu primeiro campeonato profissional e agora chega mais experiente. O jovem técnico é elogiado por todos em sua habilidade para fraturar o jogo em pequenos detalhes, repassando-os de modo claro para seus jogadores. Esses relatórios são acompanhados de toda e qualquer estatística disponível.  O problema é que, em quadra, o elenco é bem inferior ao da maioria de seus concorrentes: faltam arremessadores de primeira linha e um defensor que proteja o aro. São carências que Vitor Faverani poderia suprir, desde que consiga jogar: além de uma segunda cirurgia no joelho, o pivô ainda teve dificuldades com a língua e a cultura do basquete americano, segundo Ainge. A defesa ao menos conta com armadores ágeis e implacáveis, que podem atormentar os adversários. No geral, cabe a Stevens desenvolver os novatos Marcus Smart (badalado por onde quer que passe, até em treinos contra o Team USA) e James Young (um mês e cinco dias mais velho que Bruno Caboclo), além do segundanista Kelly Olynyk.

A pedida: se a troca por um atleta de ponta não acontecer, a direção do Celtics não vai fazer força nenhuma, nem torcer para que a equipe renda bem em quadra. Nos planos de longo prazo, mais vale uma escolha alta no próximo Draft, do que uma campanha beirando a mediocridade.

Sullinger, o novo atirador

Sullinger, o novo atirador

Olho nele: Jared Sullinger. No geral, o Celtics não tem muitos chutadores, mesmo, em seu plantel. Mas bem que o ala-pivô tem trabalhado para aumentar essa lista. Na pré-temporada, o rapaz de 22 anos converteu 14 de 22 disparos de longa distância nos primeiros sete jogos de pré-temporada. Vejam só. Seu apetite (sem trocadilhos, por favor) para os chutes de fora vem sendo incentivado por Stevens. Na temporada passada, ele tentou 208 arremessos em 74 partidas, mesmo que tenha convertido apenas 26,9% deles. O interessante é que Sullinger consegue combinar esse maior volume (de novo: sem trocadilhos!!) no jogo exterior com uma presença relevante na briga por rebotes: tem média de 10 por partida nesses mesmos amistosos, com direito a 19 num duelo com o Brooklyn Nets. Se o treinador preferia ter Kevin Love cumprindo esse tipo de papel? Ô. De todo modo, o jovem Sullinger ao menos vai se esforçando para deixar sua marca.

Você não perguntou, mas… o Celtics está prestes a dispensar um de seus jogadores, sendo obrigado a pagar o salário dessa figura na íntegra. O mais cotado é o armador Will Bynum, recém-adquirido em uma troca por Joel Anthony, que foi para Detroit. Cada franquia só pode levar 15 contratos garantidos para a temporada regular. Acontece que, em sua volúpia para fechar transações, a diretoria acabou juntando um plantel com com peças uma peça sobressalente. Bynum chegou de última hora, com US$ 2,9 milhões por receber – muito mais que o calouro Dwight Powell (US$ 500 mil). Mas preferiram apostar no potencial do ala-pivô canadense, mesmo arcando com a diferença: é como se estivessem assinando um cheque de US$ 2,4 milhões para nada. Pense nisso.

Abre o jogo: “Cara, estamos assistindo a muito basquete europeu. Não… o jogo é que está crescendo, e essa é a direção que todos estão tomando”, Brandon Bass, experiente ala-pivô que também vai adicionando o chute de três pontos ao seu arsenal, sob insistência de Stevens. Para Bass, porém, o arremesso se restringe a zona morta, e só. Resta saber se a parada no meio da frase, para mudar o tom, tem a ver com ironia ou reclamação.

Danny Ainge, beisebol, MLB, Blue JaysUm card antigo antigo: antes de entrar na NBA para ganhar dois títulos pelo histórico Celtics dos anos 80, Danny Ainge primeiro jogou na liga profissional de beisebol, a MLB, pelo Toronto Blue Jays.  Ao mesmo tempo em que estudava na BYU, o segunda-base estreou pelo time canadense no dia 21 de maio de 1979 e se despediu da modalidade em setembro de 1981, optando pelo basquete. Ainda hoje, o armador tem um recorde nos campos: é o mais jovem atleta a ter conseguido um home run pelo Blue Jays, com 20 anos e 77 dias. Detalhe: nos tempos de colegial, o cara era também um craque no futebol americano, com direito a dois títulos estaduais no Oregon. Quem pode, pode, né?


Situação difícil: Faverani passa por nova cirurgia
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Giancarlo Giampietro

O Hospital Mesa de Castillo, de Murcia, na Espanha, publicou nesta tarde o seguinte tweet:

Aqui, temos o pivô Vitor Faverani prestes a passar por uma cirurgia no joelho esquerdo, para limpar uma inflamação persistente e avaliar seu menisco, que já havia sido operado em março deste ano. Estes são os fatos declarados. O que é mais difícil de entender e explicar é a situação delicada na qual o futuro do brasileiro em Boston fica em dúvida.

É a segunda cirurgia em sete meses para o jogador. Algo que já seria péssimo para qualquer pessoa, quanto mais para um jogador de basquete. Mas a situação piora bastante quando você é um jogador de basquete que está num clube que tem pouco mais de duas semanas para se livrar de pelo menos um contrato excedente em seu elenco um tanto bagunçado – com talentos que se duplicam e não necessariamente chamam a atenção da liga.

O gerente geral Danny Ainge chegou a este ponto ao fazer troca atrás de trocas na esperança de estocar escolhas de Draft  e formar um pacote que se tornasse irresistível e que lhe pudesse executar mais uma negociação que lhe desse um craque, como já havia que feito por Kevin Garnett e Ray Allen em 2007. As escolhas vieram, mas a tão sonhada transação envolvendo Kevin Love, não.

Smart e Young: duas raras certezas no time de Ainge e Stevens

Smart e Young: duas raras certezas no time de Ainge e Stevens

Agora, ele precisa resolver este impasse: no momento, o Celtics tem 20 jogadores com papelada assinada. No dia 28 de outubro, quando a temporada começar, este número precisa ser reduzido para 15. Obrigatoriamente. Destes, quatro deles podem ser dispensados sem… hã… problema – isso quando você consegue esquecer que está, na verdade, cortando, demitindo quatro pessoas. Os vínculos que podem ser rescindidos sem que o clube precise lhes pagar nada durante a temporada regular são de Christian Watford, Rodney McGruder e Tim Frazier, calouros convidados para o training camp, além do ala-pivô Erik Murphy, ex-Bulls, Jazz e Cavs, que chegou de última hora numa troca tripla.

Então tudo bem: o dirigente chegaria a 16. Ainda está sobrando um. Neste caso, as coisas ficam um pouco mais complicadas para se resolver. Pois os 16 atletas têm seus salários garantidos por todo o campeonato. Isto é, aquele que fosse desligado ganharia um belo cheque sem nem mesmo disputar um jogo sequer pelo time. O que os cartolas podem tentar fazer é acertar uma troca na qual a franquia só receberia uma escolha de Draft, os direitos sobre um jogador… Tudo menos um jogador. Ainge é um negociador quase compulsivo até e certamente já tem cenários em mente para seguir com esse plano – foi algo que conduziu Fabrício Melo, outro pivô brasileiro, para fora de Boston, inclusive, no ano passado.

Se não obtiver sucesso, aí, sim, teria de sacrificar um contrato. Mas qual?

É certo que os armadores Marcus Smart e Avery Bradley, o ala James Young e os os alas-pivôs Jared Sullinger e Kelly Olynyk jamais seriam mandados embora a não ser em uma negociação por uma estrela. Assim como Rajon Rondo, o melhor jogador do time. Ou Jeff Green, o ala que o clube parece dar muito mais valor do que a concorrência – cujo salário pode servir como grande peça para uma aguardada supertroca, da mesma forma que os de Brandon Bass, Marcus Thornton e Gerald Wallace (altíssimos e no último ano de duração). O pivô Tyler Zeller também ainda é jovem, tem grife, tamanho e bons fundamentos.

O que sobra? Se formos pegar pelos de menor valor, temos o ala-pivô Dwight Poweell, novato selecionado pelo Cavs no Draft e repassado para Boston ao lado de Murphy e Marcus Thornton, com salário de US$ 507 mil. O próximo da lista o armador segundanista Phil Pressey, com US$ 816 mil. Pressey, no entanto, é constantemente elogiado por Ainge e pelo técnico Brad Stevens. Faverani tem mais dois anos de contrato, mas só um deles é garantido, por US$ 2,09 milhões neste próximo campeonato. Há também o veterano Joel Anthony, com US$ 3,8 milhões para serem depositados. Matematicamente, Powell seria o corte mais barato. O canadense, revelado pela universidade de Stanford, membro de seleções de base, é três anos mais jovem que Faverani, no entanto, e vem batalhando na pré-temporada para tentar entrar na turma dos intocáveis.

Faverani não conseguiu jogar muito no primeiro ano de adaptação. Jogo exterior tem mais apelo

Faverani não conseguiu jogar muito no primeiro ano de adaptação. Jogo exterior tem mais apelo

E quanto ao brasileiro?

Vitor teve uma temporada de calouro na NBA irregular. Começou jogando muito, com direito ao incrível jogo de 18 rebotes e 6 tocos contra o Milwaukee Bucks no dia 30 de outubro, logo pela segunda rodada, mas viu seu tempo de quadra sendo reduzido gradativamente. Embora veterano de Liga ACB, o pivô passou pelo já tradicional período de adaptação ao basquete norte-americano – algo que Tiago Splitter e Mirza Teletovic, duas estrelas do campeonato espanhol, também encararam em San Antonio e Brooklyn, respectivamente.

Deslocado para a D-League, jogando pela filial Maine Red Claws, o brasileiro começava a ser produtivo (12,8 pontos, 9 rebotes, 2,8 assistências e 1 toco em 25 minutos) até sofrer a grave lesão. No geral, pela liga principal, o atleta disputou 37 partidas, com médias de 4,4 pontos, 3,5 rebotes em 13,2 minutos – numa projeção por 36 minutos, o rendimento é ótimo. Mais do que os números, o brasileiro possui características difíceis de se combinar e que valem muito na NBA moderna: o potencial para converter tiros de longa distância e ao mesmo tempo ajudar na defesa interior, com boa capacidade para tocos.

“Acho que ele provou que é bom. Quando ele estava recebendo minutos de nós e quando estava jogando na D-League, acho que ele provou a todos que é um jogador de NBA”, avaliou Ainge ao final da temporada. “Ele foi o único cara de nosso time que tinha, na verdade, qualquer tipo de presença na frente do aro. Mas uma vez que o (Kris) Humphries estava jogando bem, assim como Brandon, Kelly e Sully, foi duro para ele entrar na rotação. Teve também uma dificuldade com a língua e a cultura, mas, em termos de talento, acreditamos que ele definitivamente é um jogador de NBA. Gostaria de contratar mais um jogador que proteja o aro, mas acho que o Vitor provou que pode ter um papel no nosso time.”

As declarações eram animadoras – ainda que não pudessem ser levadas a ferro e fogo. Faverani pode ter mostrado talento, mas ao mesmo tempo não foi suficiente para ele entrar no time de Stevens, mesmo que o técnico tivesse carências na proteção da cesta e do garrafão. O diretor elogia e aponta alguns problemas. Vai ser político ao falar de seus jogadores. Dessa forma, a pré-temporada seria essencial para que o pivô mostrar serviço, evolução, justificando o investimento nele.

Vitor Faverani, Boston

Boston obviamente precisa de ajuda no garrafão, conforme mostrou contra o Bucks. Faverani entra nessa?

Acontece que seu joelho não ficou bom, nem mesmo com o tempo de descanso nas férias – período no qual precisou responder sobre um acidente de trânsito na Espanha, levantando suspeitas de que estaria embriagado, algo que ele negou de modo veemente. O tipo de incidente que não pega bem nos Estados Unidos e que a franquia não desmentiu, mas sobre o qual também não anunciou nenhuma punição.

O brasileiro se apresentou a Stevens ainda dores e inchaço, que o impediram de treinar direito. Passou por mais algumas baterias de exame de ressonância magnética, mas nada foi constatado. Constantemente questionado a respeito, o técnico já não sabia mais o que dizer aos repórteres. Até que o pivô decidiu viajar para a Espanha para consultar um médico com o qual é mais familiar. Chegou a Murcia e, dias depois, optou pela segunda cirurgia, que lhe deve afastar das quadras por seis a oito semanas. A pior hora possível, considerando o cenário exposto acima.

Quando indagado se havia a possibilidade de Faverani ser dispensado, Stevens afirmou que não havia conversado a respeito com seus superiores. O site Sportando afirma que existe essa hipótese, que ela vem sendo discutida. O jogador vai passar as primeiras duas semanas de recuperação em solo espanhol, adiando o retorno a Boston. Resta saber agora se o seu potencial vai prevalecer em meio as contas que Danny Ainge precisa fazer. A passagem de volta depende muito disso.


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