Vinte Um

Arquivo : seleção feminina

Ao menos uma vitória para fechar a campanha melancólica das meninas. E agora?
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Giancarlo Giampietro

Érika tentou de tudo no torneio, mas ataque não funcionou

Bem, o placar de 78 a 66 sobre a Grã-Bretanha valeu realmente como uma vitória de honra. Ao menos uma vitoriazinha que seja para evitar o vexame de cinco derrotas em cinco rodadas em Londres. A seleção brasileira feminina deixou para fazer sua melhor partida no torneio, quando era muito tarde para qualquer coisa.

E agora?

Bem, vamos tentar juntar alguns cacos:

– Nunca vi uma seleção brasileira com um ataque tão pobre, mas tão mal arquitetado numa Olimpíada, mesmo com a presença de Érika no elenco, uma das forças ofensivas mais irresistíveis do basquete internacional (16,2 pontos na primeira fase, 56% nos arremessos e 75% nos lances livres). Com um dínamo desses ao seu lado, que pediu marcação dupla e muita ajuda durante toda a campanha, a equipe terminou com uma média de 38% de acerto nos chutes, ganhando apenas de Rússia (37%!?), Grã-Bretanha e  Angola nesse quesito. Indesculpável, ainda acrescentando na conta os 16,6 erros por jogo, quinta pior marca da competição.  Isto é: não conseguimos nem cuidar bem da bola, para retardar o ritmo da partida, nem atacar a cesta com eficiência e rapidez. Faltou movimentação, criatividade, inteligência e controle emocional. Direção, em suma.

– A defesa brasileira se comportou bem muitas vezes no torneio, mas em geral seu desempenho oscilou demais, ainda mais quando Érika se complicava com o excesso de faltas. Terminou com média contrária de 70,8 pontos (sendo que no ataque converteram apenas 65,8). Foi a quinta pior retaguarda do torneio, acima de Angola, China, Croácia e Grã-Bretanha. Vale uma ressalva, no entanto: chinesas e croatas tiveram de encarar os Estados Unidos na primeira fase. Descontando as sacoladas que tomaram neste confronto, suas médias seriam bem inferiores.

– As rotações foram muito confusas: o Brasil não sabia se queria jogar com uma equipe mais alto ou um quinteto mais baixo. Rendeu bem melhor quando apostava em velocidade em vez de tamanho, uma vez que os talentos de Damiris foram desperdiçados: a jovem ala-pivô ficou extremamente deslocada no perímetro exterior. Seu chute pode cair dali, mas essa é apenas uma faceta de seu basquete, que acabou estrangulado.

– Apostar em Joice como a substituta de Adrianinha não foi a melhor cartada. Por outro lado, quando as duas jogaram juntas, o time rendeu bem melhor, ganhando em velocidade e pegada. Essa combinação, no entanto, foi pouco  repetida durante a competição. Começar com Karla e Chuca nas alas teoricamente daria ao time um chute mais confiável, para abrir a quadra para Érika, mas não deu certo: acertaram muito mais aro do que redinha, não tinham poderio de rebote e cobriam pouco terreno na defesa.

– Para um país que ficou bem-acostumado por anos e anos de Paula, Janeth, Hortência, Alessandra, Leila, Branca e outras, normal considerar que esta seleção londrina estivesse muito aquém em termos de talento. De 1 a 11, a média não era alta realmente, mas ainda havia possibilidades a serem exploradas. Tinha talento ali, sim. De Érika é melhor nem comentar mais nada. Clarissa complementou bem sua parceira de garrafão, não se intimidando contra as diversas adversárias mais altas que encarou. Terminou com 12,6 pontos e 9,0 rebotes (mais até que a grandalhona). Jogadora de muito vigor físico, energética, tino para os rebotes que ainda toma algumas decisões equivocadas no ataque, pode ficar exposta na defesa em determinados duelos, mas, no geral, oferece muito mais do que tira. Damiris não é uma escolha de Draft da WNBA de graça. Franciele pareceu sem confiança alguma, mas ainda é uma atleta de primeiro nível. Quando não tinha a obrigação de conduzir a equipe, Joice jogou muito mais solta e causou impacto com sua velocidade e explosão.

– Não era nossa melhor fornada, ok, mas o que dizer do restante da concorrência? Austrália e Rússia não detonaram ninguém na competição. A França veio forte, mas também não pode ser considerado um rival realmente dominante. Apenas os Estados Unidos jogaram como superpotência. Então não me venham falar de grupo forte, que deu azar, que sei lá o quê.

– Por fim, a última desculpa, aquela básica: a de que formamos um time pensando  longe, no Rio-2016. Pelamor. A presença de Karla e Chuca, ambas de 33 anos, na lista final nos remete a esta pergunta: vamos tentar realmente emplacar o discurso de que este ciclo olímpico era apenas uma fase de experiência? Quatro anos de preparação exatamente para quê?

As duas alas tiveram, respectivamente, médias de 23min39s e 20min07s de quadra, posicionadas entre as cinco que mais jogaram pela Seleção, ao lado de Érika, Clarissa e Adrianinha, que se despediu da equipe, enquanto Tássia (3 jogos com 3min58s), Nádia (4 jogos com 8min24s), Franciele (4 jogos com 5min10s) e Damiris (5 jogos com 19min32s, a única efetiva na rotação), as mais jovens, ficaram entre as cinco que mais ficaram no banco, junto de Silvia. Desse grupo londrino, apenas essas quatro e Clarissa chegarão ao Rio abaixo dos 30 anos. Érika vai ter de 33 para 34. Que renovação foi essa?

 


Seleção feminina agora perde para o Canadá e já não joga mais por nada em Londres
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Giancarlo Giampietro

Canadá elimina o Brasil

A seleção sofre a quarta derrota em quatro jogos, está fora e ainda pede tapa na cara (?)

Realmente não faz muito tempo: no dia 25 de setembro de 2011, em Neiva, na Colômbia, as  meninas deram um sacode no Canadá: 56 a 39, em jogo pela segunda rodada da Copa América, valendo a classificação para Londres-2012. A seleção brasileira, então com o técnico Ênio Vecchi, iria vencer o torneio sem dificuldade alguma. As canadenses tiveram de se virar contra Cuba na disputa pelo bronze e ao menos uma vaga no Pré-Olímpico Mundial deste ano.

Hoje, menos de um ano depois, as canadenses vencem esse mesmo confronto, mas dessa vez no comando do placar por quase toda a partida, até vencer por 79 a 73, garantindo seu lugar nos mata-matas e eliminado o velho adversário, que acumula quatro reveses em quatro rodadas.

Em setembro de 2011, tomamos 39 pontos no jogo todo. Em agosto de 2012, foram 39 já no primeiro tempo. O que mudou de lá para cá?

Bem, no Canadá não foi muita coisa. A simpaticíssima treinadora Allison McNeill segue orientando sua equipe, mesmo como rendimento fraco no torneio continental. Aliás, ela faz isso desde 2002. Em nota no site da federação canadense, é considerada um “ícone nacional, um tesouro e um recurso valioso” para o esporte.

Qual seria o paralelo hoje para Allison McNeill no mundo da CBB?

Érika domina, mas em vão

Érika: 22 pontos, 12 rebotes, 2 assistências, 2 roubos de bola, 2 tocos… E o Brasil nada

Alguém arrisca algum palpite?

De primeira assim não dá para apontar ninguém, convenhamos.

Continuidade é um príncipo de pouco prestígio por cá nos trópicos. Quando estamos falando de basquete feminino, então, vixe… Precisaríamos do auxílio de um historiador bem competente e que o sistema de busca online estivesse funcionando direitinho para recuperarmos as datas certinhas de tantas demissões executadas nos últimos anos.

Ajuda a explicar – um pouco ou muito? – por que motivo o Canadá, sem nenhum grande reforço, com a base de sempre, mas muito mais organizada, conseguiu se livrar de um antigo vantasma e, enfim, bater o Brasil. O quarto revés em quatro jogos das meninas. A segunda vitória em quatro rodadas para as canadenses.

*  *  *

Essa campanha lamentável, sim, explica bastante o descontrole das jogadoras ao final do confronto, reagindo mal a provocações (com espírito de porco, ou não) dos torcedores, e desferindo frases como “Dá um tapa na minha cara” aos jornalistas presentes. Foi o que disse a ala-armador Joice, por exemplo, na zona mista na qual estava presente Bruno Freitas, um dos enviados do UOL a Londres, e velho companheiro. No mínimo bizarro.

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Sobre o jogo em si vamos tentar resumir de maneira breve: um primeiro tempo horroroso da seleção, apanhando feio, mesmo. Sem conseguir explorar Érika no garrafão, comendo poeira na defesa, um banho de bola das norte-americanas. No terceiro quarto, com Adrianinha e Joice bem adiantadas em uma defesa sobre pressão muito eificente, a seleção tirou toda a diferença, desestabilizou as canadenses e voltou para o jogo. Quando não conseguia bandejas no contra-ataque, tinha paciência para usar a força de Clarissa (um partidaço) e Érika (mais do mesmo, no sentido de dominante).

No quarto período, no entanto, tinha de maneirar, porque não há quem aguente também jogar pressåo tempo todo. Ok. Mas veio uma sucessão de erros: rotações difíceis de entender – em 30 segundos, mudávamos de uma formação baixíssima para uma gigante, instruída a seguir com a marcação adiantada, mesmo que fossem mais lentas que as adversárias no caso –, Adrianinha (justamente em sua melhor partida) esquecida no banco, a superpivô novamente ignorada, alguns chutes do meio da rua de Karla, e a crise do Canadá estava contornada.

E aí vemos o discurso de sempre: “O time lutou o tempo todo, mas caiu em uma chave difícil. Pegamos uma sequência muito complicada, com três grandes times nas três primeiras rodadas. E o time chegou desgastado física e emocionalmente hoje”, afirmou Tarallo.

Vai ver que a culpa é da sorte, mesmo.


Seleção feminina cai em jogo vencível, perde chance em grupo aberto e se complica
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Giancarlo Giampietro

Quando foi divulgado o grupo olímpico da seleção brasileira feminina em Londres, todo mundo torceu o nariz. Danou-se.

Austrália? Vixe.

Rússia? E precisava?!

França? Só para afundar de vez.

Avançamos para hoje, finalzinho de julho, torneio rolando, e as coisas realmente estão complicadas para as meninas, com duas derrotas em duas rodadas. Mas não exatamente do modo como se imaginava.

Érika precisa de ajuda

A produção de Érika não foi suficiente para a seleção feminina agarrar suas chances

Primeiro na parte que não depende dos nossos esforços: a Rússia sofreu, mesmo, para derrotar o Canadá na estreia, virando o jogo no finalzinho. A Austrália, considerada a segunda força do torneio, perdeu hoje para a França. Era para estar tudo embolado, e o Brasil com uma boa chance. Mas a equipe não estava preparada para agarrá-la. A seleção teve dois jogos bem vencíveis contra francesas e russas e não conseguiu aproveitar.

Nesta segunda, ok, só lideramos o placar por um pontinho durante 18 segundos, 32 a 31, de 7min50s a 7min32s. Enão não é que o jogo esteve na mão e foi atirado fora. Elas, diga-se, venceram os quatro quartos.

Então talvez seja falsa essa impressão, admito: mas, durante vários trechos do confronto, parecia de que dava, sim para sair com a vitória. Afinal, a menos de seis minutos de jogo, as europeias estavam apenas a dois pontos de distância, após uma cesta de Damiris (53 a 51).

O problema é que, dali para a frente, as brasileiras novamente entrariam em colapso. Fariam apenas mais oito pontos, quatro deles no último minuto quando o jogo já estava decidido, enquanto as russas, sem balançar a cesta neste mesmo minuto final, fizeram o dobro de pontos, terminando por vencer por 69 a 59.

O Brasil cometeu mais dois erros e permitiu quatro rebotes ofensivos e um aproveitamento de quatro cestas em sete arremessos para as adversárias, sendo duas dessas bolas de três pontos. Um rendimento superior a 50% para uma equipe que havia convertido apenas 35% de seus chutes até ali (20 de 57). Gente, olha o baixo nível.

Mas, se preferir, dá para dizer que o jogo foi entregue, mesmo, pelos atrozes 15 desperdícios de bola cometidos no primeiro tempo – dos 20 no total. Escolha a sua.

*  *  *

Adrianinha foi mal contra a Rússia

Adrianinha não cuidou da bola contra Rússia

Preocupa, muito, o desempenho ofensivo anêmico  da seleção brasileira. São diversos os momentos em que as jogadoras param de mexer a bola de um lado para o outro, se perdendo em dribles, tropeços, faltas ofensivas e chutes forçados. Como nesses cinco minutos finais contra as russas, em que essa sequência, os quatro pontos derradeiros de Érika, quando já perdíamos por 14 pontos, o time conseguiu apenas duas cestas: umavcom a pivô e outra com Chuca.

Em duas rodadas, a equipe de Tarallo vem com aproveitamento de apenas 38% nos chutes de dois pontos e 29% de três. No geral, converteu 43 em 120 arremessos, bom para 35,8% de mira. Argh. Além disso, foram cometidos 35 turnovers. Aaaaargh. Não há defesa combativa que dê conta de suportar um ataque desses.

Falta mais criatividade nos movimentos brasileiros. Precisam encontrar mais (sim, mais!) alternativas para abastecer Érika. Mas, principalmente, falta aproveitar melhor as qualidades de Damiris, que está jogando muito distante da cesta. Ela pode cortar para dentro? Pode. Mas nas duas primeiras partidas isso pouco aconteceu e, seu chute de média distância, que era para ser um diferencial, virou a única bola disponível, aparentemente. O técnico precisa desenhar algo que deixe a ala-pivô mais confortável em quadra. Érika precisa de ajuda.

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É um mistério: já dissemos aqui há alguns dias que o Vinte Um andava distante do basquete feminino. Então alguém por aí sabe dizer o que acontece com a ala-pivô Franciele? Fisicamente, ainda é a mesma jogadora. Mas aonde foi parar aquela volúpia ofensiva, aquele jogo dinâmico? De novo: Érika precisa de um reforço urgentemente.

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As médias de Érika em duas partidas por enquanto são de 16 pontos, 11 reboes e dois tocos, com 50% de quadra e 73% nos lances livres.

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Pelo que vi nas prévias olímpicas, apenas Paulo Bassul, justiça seja feita,  deixou no ar que talvez a França fosse o time mais forte, mesmo, da chave. E ele disse hoje de novo: “Não foi surpresa nenhuma”. Nesta segunda, o time sobreviveu a uma bola milagrosa de Belinda Snell da metade da quadra, se aguentou na prorrogação e venceu por quatro pontos, tendo usado seu talentoso garrafão para estourar Lauren Jacson e Liz Cambage com cinco faltas.


Não dá para viver só de Érika numa Olimpíada
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Giancarlo Giampietro

Enquanto Érika pôde e conseguiu jogar contra as francesas, a seleção brasileira estava muito bem, obrigado. Depender, porém, excessivamente, exclusivamente de uma única opção ofensiva não pode. Dá nisto: após uma primeira etapa empatada em 34, a França venceu a segunda metade com facilidade para fazer um placar de 73 a 58 no final.

Com um elenco volumoso, especialmente um garrafão muito versátil, o técnico Pierre Vincent levou um tempo, uns 20 minutos, mas voltou do intervalo preparado e determinado a segurar a superpivô brasileira.

Érika encara forte marcação no segundo tempo contra a França

Érika encara forte marcação no segundo tempo contra a França

As linhas de passe para a jogadora foram obstruídas. Ágeis e compridas defensoras a vigiavam de perto e, mais tarde, a força-bruta Isabelle Yacoubou foi acionada para trombar com a adversária, sem precisar de ajuda.

Érika passou a encarar sérias dificuldades para se posicionar ou receber qualquer bola no garrafão e, afastada da cesta, ela está longe de ser uma jogadora produtiva e eficiente, cometendo muitos erros na tentativa de fazer o passe por cima de suas marcadoras.

Em números: no primeiro quarto, a pivô anotou nove pontos. No segundo, quatro. No terceiro, mais quatro. E ficou por aí, somando 17. Por outro lado, depois de ter cometido apenas um turnover em todo o primeiro tempo, ela acumulou cinco na segunda etapa. No total, teve mais desperdícios de bola (seis) do que rebotes (quatro)

Sem essa – única mesmo, gente? – alternativa, o ataque brasileiro descarrilou. Faltou criatividade e movimentação fora da bola para tentar gerar bons arremessos. A equipe anotou apenas nove pontinhos no quarto final, três deles quando a derrota já estava decidida. Entre uma cesta de média distância de Silvia Gustavo aos 7min46s e dois lances livres convertidos por Clarissa aos 2min25s, o Brasil passou mais de cinco minutos sem pontuar, estacionado nos 54.

Desequilibrado ofensivamente, cada vez pressionado na partida, o time também perdeu o controle na defesa, permitindo um alto aproveitamento de quadra para as francesas: 50% nos tiros de dois pontos e três pontos. Difícil sobreviver assim, ainda que tenham forçado, no geral, 19 bolas perdidas das adversárias, um ótimo número, que foi construído quarto a quarto, depois de terem terminado a primeira parcial abaixo dos 40%.

Fez muita diferença no decorrer do jogo a maior versatilidade e preparação do elenco francês. Confiante, seu treinador usou todas as suas 12 atletas, e para valer: a rotação alternou entre os oito minutos de Florence Lepron e os 28 da armadora Céline Dumerc, cestinha do jogo com 23 pontos.

Dumerc atuou com muita liberdade, chutando de longe (duas bolas de três convertidas em dois chutes tentados), fazendo fintas e ainda agredindo o garrafão brasileiro (bateu sete lances livres). As rotações defensivas falharam muito nesse sentido, e Érika também ficou muito imposta quando envolvida em pick-and-rolls. A francesa se esbaldou com os chutes da cabeça do garrafão, acertando sete de nove arremessos no total.

No quarto final, que fez toda a diferença no jogo, não houve uma só jogadora que tenha desequilibrado: as cestas vieram de todos os lados da quadra. Tanto que, das 12 escaladas, apenas Jennifer Digbeu, que jogou por nove minutos, não pontuou. A França foi, então, um time com muito mais recursos táticos e técnicos.

Ora: não dá para viver só de Dumerc numa Olimpíada.

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O pior para Tarallo é que, nem se quisesse, ele poderia usar 12 atletas no jogo, desde o corte de Iziane na França, claro. E fez falta a maranhense hoje? Inegável. Sem a ala, o perímetro brasileiro fica muito enfraquecido ofensivamente, perdendo sua jogadora mais criativa em lances individuais que poderiam aliviar a pressão sobre Érika. Por outro lado, não dá para saber como a atleta se comportaria em quadra. Uma coisa é criar dentro de um sistema e outra é rompê-lo por conta própria pela sede de chutes e cestas costumeira.

*  *  *

Contra a Rússia – segunda-feira, 12h45 –, o Brasil ainda entra com chances. As europeias fizeram uma estreia preguiçosa e complicada diante das canadenses e só foram vencer a partida com uma virada na metade final do quarto período, lideradas pela experiente armadora Becky Hammon, que fez seis de seus 15 pontos nos últimos três minutos.

As russas venceram por 58 a 53 apenas com uma parcial de 21 a 10 no último quarto. Periga, porém, que esse susto as despertem para a continuação do torneio. Aí complica.


Hortência afirma que caso Iziane estava mexendo com nervos da seleção
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Giancarlo Giampietro

Em bate-papo/entrevista com Galvão Bueno nesta quarta-feira, no SporTV, Hortência, diretora da seleção feminina, soltou um pouco mais do vinha falando durante a semana, desde o (nada) chocante corte de Iziane na França.

Franciele escondida pela bolaA ex-jogadora vinha adotando uma postura bastante sigilosa em torno do caso, ainda mais pela fria em que se meteu, depois de ter brigado por muito tempo e com muita gente para bancar a ala maranhense. Agora sabemos um pouco mais sobre a história, importante demais por tocar no que se refere ao restante do grupo, as 11 meninas que já estão em Londres.

“Não preciso falar sobre o que aconteceu, porque ela já veio a público e contou tudo o que aconteceu, o que achei muito legal. Ela estava levando namorado para a concentração, e isso não é permitido. Mas já estava (notando) um clima ruim, e aí fui atrás. Apertei aqui e ali, e… (e se informou sobre o caso)”, afirmou.

Depois, a dirigente acabou cometendo o que considero uma indiscrição ao dizer que o técnico Luiz Cláudio Tarallo não sabia do que vinha acontecendo. “A equipe se assustou um pouco (com o corte), mas elas sabiam o que tava acontecendo. A comissão técnica, não.”

Hortência hoje vê a seleção mais unida e usou uma vitória sobre a Croácia em seu último amistoso, nesta quarta-feira, como indício disso. “O time está subindo.”


Prévia olímpica: a chance de as meninas jogarem como um time
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Giancarlo Giampietro

Hortência e Érika

Hortência entra em quadra, mas não pode ser a 12ª jogadora infelizmente

A Iziane vai falar aqui e ali, mas, pelo menos nas próximas duas semanas, a ala maranhense é passado em termos de seleção brasileira. Esperemos que os colegas em Londres não atormentem as outras 11 legitimamente olímpicas com isso.

A aposta de Hortência na cestinha não deu em nada – ou melhor, só deu em mais polêmica –, e agora as meninas têm a chance de provar em Londres que talvez não valesse tanto esforço assim pela imprevisível jogadora.

Que elas possam se unir e fazer a melhor Olimpíada possível. E aqui não dizemos meramente no sentido de “grupo fechado”, “família Tarallo” e nhe-nhe-nhém. Vale isso, ok, mas valeria muito mais uma equipe unida em quadra em torno de um jogo coletivo, bem disputado, com defesa e ataque solidários.

Tem gente de peso que acredita nisso: alguém cujo apelido “Magic” de nenhum modo parecia heresia, mesmo que tivesse de sustentá-lo em tempos em que a memória de Earvin Johnson Jr., aquele camisa 32 do Lakers, ainda era bem viva. Enfim, Paula escreveu em seu blog no R7: “O jogo da Iziane jamais me encheu os olhos. Não gosto de quem joga por jogar, quem não sabe escolher a melhor opção, quem não lê o jogo, que não joga para equipe. Enfim, não faz minha cabeça”.

Continua a genial armadora e agora empreendedora: “Estou mais convencida de que está na hora de apostar em jogadoras que tenham em mente a importância de um TIME, e que o individual jamais pode se sobrepor ao trabalho do grupo”.

Estrela por estrela ainda temos uma pivô como Érika, uma força natural absurda. A jovem Damiris também está em ascensão e tem muitos recursos. Elas têm talento para desequilibrar, ainda que a ala-pivô, bem jovem, não precise desse tipo de responsabilidade por ora.

Mas, com a despedida de Iziane, o técnico Tarallo tem agora nos Jogos uma ótima oportunidade para envolver essas atletas de enorme talento em benefício de um conjunto, ao mesmo tempo em que pode armar esse conjunto, essa equipe de um modo que potencialize as qualidades e virtudes de suas atletas.

Se o time jogar bem, fazendo as coisas certas, as estrelas e o talento tendem a fluir naturalmente.

Nesse contexto, realmente não faria sentido algum impor qualquer medida forçosamente.

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O outro lado: Iziane também não pode ser vilã para tudo
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Giancarlo Giampietro

Se não bastasse todo o bafafá que rondou o time desde a madrugada de quinta-feira, desde o corte de Iziane, a seleção brasileira feminina ainda teve de encarar um de seus principais adversários em amistoso na sexta, a França, sendo derrotada por 67 a 57. As francesas são as oponentes de estreia nos Jogos de Londres, logo antes das pedreiras que virão pelas segunda e terceira rodadas: Rússia e Austrália.

Iziane, seleção brasileira, 2012A partida realizada em Lille já aconteceu sem a presença da ala maranhense, que, afastada do grupo, deu coletiva explicando o motivo de seu afastamento: passou algumas noites com seu namorado no hotel. Ela se disse arrependida, pediu desculpas para suas companheiras e a Hortência.

Se foi só esse o motivo para sua dispensa e se ele é o suficiente para justificar tal ação, é muito difícil julgar e, para efeitos práticos, não vou discutir aqui – é uma discussão que vem desde não sei quando, interminável e em torno da qual é difícil chegar a um consenso.

Agora, dado o péssimo timing para o corte de Iziane, inevitável que ele se torne o tema dominante na cobertura da campanha das meninas em Londres. Posto isso, pode ficar muito cômodo também para a CBB se apoiar na “rebeldia” da jogadora para justificar qualquer campanha aquém do esperado nas Olimpíadas, como alguns internautas já vêm apontando. E isso não é nada bacana.

Primeiro: não dá para esquecer que foi a própria Hortência quem batalhou tanto pela permanência da ala na equipe, depois das crises anteriores. A diretora, então, ao mesmo tempo em que acaba traída, também fica responsabilizada por ter comprado essa briga. E de que valeu?

Além disso, a lógica no esporte brasileiro funciona quase sempre deste jeito: diante de um revés, procura-se um vilão para atirar toda a culpa em cima. A reincidência de Iziane não a ajuda em nada a se defender. Mas, se as meninas não conseguirem cumprir uma boa campanha nos Jogos, seria simplista, ingênuo e injusto apenas criticar a “infratora”.

Clarissa, pivô da seleção feminina

Contra os EUA, a seleção e Clarissa viram Iziane jogar poucos minutos devido a problema com faltas

Depois da derrota para a França, em jogo parelho, veja o que o técnico Luís Cláudio Tarallo declarou em release divulgado pela confederação: “A equipe se comportou bem, diante dos últimos acontecimentos. Buscou a vitória em todos os momentos se adaptando a nova realidade, além disso, contra uma equipe forte jogando dentro da sua casa”.

Ok. As meninas podem ter jogado bem considerando os “últimos acontecimentos”? Louvável que o tenham feito.  Mas há um grave problema em outro trecho declaração do treinador: com ou sem Iziane, a ” velha realidade” já não estava nada bem.  A seleção se ver em apuros na quadra não é uma nova realidade. Antes do corte, o Brasil já havia apanhado de Austrália e Estados Unidos sem clemência e feito partidas de qualidade duvidosa contra a enfraquecida Cuba.

Iziane pisou na bola? Sim. A bomba é só dela? Não.

 


Iziane volta a trair as companheiras de seleção
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Giancarlo Giampietro

Iziane, pela seleção

Iziane jogou o Pan, mas está fora das Olimpíadas

O Bala deu o furo ontem (vizinho taí pra isso!), Iziane está fora de Londres-2012, e imagino que a vontade de boa parte da galera era levantar a placa básica: “Eu já sabia!”

Nos últimos meses, Hortência, que apostou tudo na jogadora, e Iziane contaram com a sorte em termos do tabuleiro específico para “astros que vão, ou não, se apresentar, se comportar e jogar as Olimpíadas pelo basquete brasileiro”. A dupla Nenê e Leandrinho chamou muito mais atenção nesse caso, e a maranhense ia tocando sua vida com a seleção feminina com um pouco mais de sossego.

Ou melhor: certamente “sossego” não é o termo mais apropriado.

Não foi divulgado o motivo exato para o corte da cestinha. A CBB apenas cita “razões disciplinares”. Segundo consta, não houve briga, bate-boca com a diretora ou com o técnico. Então que tipo de episódio poderia acontecer para uma atitude tão drástica assim?

Ao que parece, não foi necessariamente um só ato abusivo que tenha motivado essa decisão. Nesta quinta-feira, teria acontecido apenas a gota d’água após “uma reincidência de erros”, como relatou Hortência ao Bala. Agora, se foi assim mesmo, a dúvida que fica: desde quando a ala vem aprontando (o time já está treinando há dois meses…)? A segunda: por quantas vezes as regras foram quebradas a ponto de o Brasil jogar apenas com 11 jogadoras um torneio tão ‘insignificante’?

São duas perguntas importantes para se responder uma terceira crucial: precisava o problema chegar a Estrasburgo, na França? Tão tardiamente assim?

Quais foram os erros anteriores que foram sonegados de modo que o time não jogará com força máxima uma Olimpíada?  E, no caso, nem por ter desfalque por lesão de última hora: o time simplesmente não vai conseguir escalar nem mesmo 12 atletas por causa de uma indisciplina que já havia sido detectada antes e não foi corrigida.

Isso deixa qualquer um envolvido com o processo pê da vida, para lá de chateado.

Antes de pensarmos em pátria e blababla maior, o fato é que Iziane deixou suas companheiras na mão. Se houve uma sucessão de deslizes por parte da jogadora, a ponto de ser inevitável o corte, dá para dizer que Adrianinha, Karla, Chuca, Joice, Franciele, Silvia, Clarissa, Damiris, Nádia, Érika e Tássia – respectivamente, do 4 a ao 15, pulando um número – foram traídas pela jogadora 8. Mais uma vez. E a CBB falhou em protegê-las.

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Ao UOL Esporte, Iziane se recusou a comentar, informar ou falar qualquer coisa a respeito do(s) ato(s) que tenham motivado seu corte. “Não posso falar sobre isso. Minha assessoria publicou uma nota. Não posso falar com a imprensa”, afirmou. Justamente uma das atletas mais desbocadas do esporte brasileiro. Para a ESPN Brasil, teria falado em tom de indignação de que “sempre sobra” para ela”, segundo relatou José Trajano após conversa com o excepcional José Roberto Salim, que conversou com a jogadora durante o dia. Francamente: o que ela poderia dizer além disso? Sai técnico, entra técnico, e só há um denominador comum na história toda.

– Atualização (20h15): Mais tarde, em pronunciamento ainda na França, a ala abriu o jogo: passou algumas noites no quarto do hotel da seleção com seu namorado. “Sei que a atitude foi inadequada e que esta sanção não pune só a mim como todo o trabalho que realizamos”, disse. Pediu desculpas ao grupo e a Hortência.

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O Vinte Um espera que as 11 jogadoras restantes consigam superar essa e tentar, de algum modo, reverter a situação, juntando os cacos. Mas é difícil, claro. Por outro lado, não sei exatamente o quanto a seleção perde neste caso em quadra.

Antes que me acusem a ignorância, calma.

O talento da maranhense é inegável, é a pontuadora mais natural da equipe, ainda explosiva (infelizmente, em muitos sentidos). Mas, durante os amistosos, ela vinha muito mal, destrambelhada no ataque, um problema de longa reincidência também. Agora o foco, imagino, precisa ir para Érika no garrafão, nem que seja na marra – só não dá para esperar que a superpivô faça milagres. Damiris também deve ganhar mais oportunidades, a despeito de seu jogo deslocado para o perímetro.

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Faz tempo que não abordamos o basquete feminino por aqui – havia acompanhado bem mais de perto a versão anterior da seleção, o time de 2006 a 2008, com algumas meninas que já não fazem parte do grupo (a simpatia de Karen e Micaela era um destaque). Abrindo o jogo, fica difícil de dar conta de tudo, e por vezes é melhor não falar muito para não correr o risco de se passar por leviano.  Então para muitos a intervenção aqui pode parecer estranha. Mas é impossível evitar o caso Iziane. Vamos acompanhar todo o torneio olímpico e, na medida do possível, falar das meninas também no decorrer da temporada.