Vinte Um

Arquivo : Popovich

Quais os desafios que aguardam Tiago Splitter nas finais contra o Miami Heat?
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Giancarlo Giampietro

Splitter pra mais dois pontos

Dificilmente Tiago vai encontrar um caminho tão livre assim para fazer a bandeja

Ele pode ser o primeiro brasileiro campeão da NBA. É o nosso melhor e mais consistente jogador na Seleção há anos. Decidiu tudo que é título na Espanha e na Europa em geral. Agora está no palco mais brilhante, chamativo, com um papel muito importante, encarando talvez seu maior desafio. Dá um frio na barriga intenso só de pensar. O que esperar de Tiago Splitter na decisão contra o Miami Heat? Vamos respirar fundo e tentar entender/projetar o que vem pela frente.

Ataque
A característica mais marcante do Miami Heat é sua capacidade atlética coletiva. São aqueles que representam, na prática, aquilo que se idealiza sobre a liga norte-americana em termos de exuberância física.  Erik Spoelstra pode mandar para quadra jogadores de muita velocidade e agilidade, impulsão e invariavelmente empenhados em fazer o serviço sujo. Quando levam isso ao máximo, se torna um inferno atacar contra esses caras – como Paul George descobriu no Jogo 7 das finais do Leste.

Um páreo duro, ainda mais para um jogador como Tiago, que gosta de produzir se esgueirando pelos mínimos espaços oferecidos por uma defesa, a despeito de seu corpanzil.

Além de muito inteligente, enxergando os diversos ângulos para se cortar para a cesta, o catarinense corre bem e se desloca por toda a quadra e também é bastante coordenado para um cara de seu tamanho, podendo receber o passe nas redondezas do garrafão em velocidade e, tal como o carteiro Karl Malone, entregar a carta no destino certo (sua  média na carreira é de 57,2% nos arremessos, sensacional).

Contra os mutantes de Miami, porém, essa habilidade para finalização será testada ao máximo. É preciso cuidado com a defesa que virá do lado contrário em seus pick-and-rols com Parker e Manu, especialmente quando LeBron tiver Dwyane Wade e Chris Andersen ao seu lado. Os três têm ótimo tempo de cobertura.

Só não dá para confundir precaução com receio, temor, mesmo que estejamos falando desses atletas de primeiríssimo time – e aqui, literalmente, já que são os atuais campeões.

Splitter nunca  teve o jogo mais vertical. É difícil, por exemplo, lembrar a última cravada, ou até mesmo um grande highlight de sua carreira nessa linha. E não teve problema nenhum para o pivô prosperar e se tornar um dos melhores do mundo (Fiba) em sua posição. Ele desenvolveu uma série de movimentos, digamos, criativos, para não escrever estranhos, mas que obviamente são úteis e eficientes.

Splitter se vira

Splitter vai precisar finalizar com autoridade, ao seu modo, contra uma defesa hiperatlética

Colocar isso em prática na NBA, envolto por jogo mais veloz, explosivo e aéreo que o da Liga ACB ou Euroliga, sempre foi visto como o grande desafio para o catarinense, alguém que foi analisado pelos scouts das franquias norte-americanas desde a adolescência na Espanha, uns bons deeeeez anos atrás.

“A evolução foi lenta, mas consistente. Claro que todo mundo quer chegar e jogar, se adaptar o mais rápido possível. Demorou um pouco, mas agora estou bem, com mais protagonismo tanto no ataque quanto na defesa”, disse o pivô em entrevista completinha a Daniel Neves, companheiro aqui do UOL Esporte.

Demora um pouco, mesmo, para captar o que se passa ao seu redor. Talvez Gregg Popovich o tenha segurado um tico demais da conta. Ou talvez ele só estivesse realmente esperando a plena adaptação de seu jogador. Mas o fato é que hoje o brasileiro está confortável e perfeitamente integrado ao plano de um dos maiores treinadores da história. Enfrentando quem quer que seja, com suas bolas heterodoxas, mesmo.

Dentre essas jogadas, aliás, o arremesso em flutuação pode lhe ser muito útil no confronto. É um chute que ele converte com boa frequência e pode ser utilizado quando o tráfego rumo ao aro estiver intenso. Além disso, como destacamos em outro post quando o rival ainda era o Golden State Warriors, é muito incomum que um pivô tenha esse tipo de bola, que até hoje surpreende os narradores e comentaristas da liga e, imagino, também os seus oponentes.

Veja aqui a sequência a partir de 1min01s, com seu floater em pleno funcionamento e os comentários de Jeff Van Gundy na sequência:

Um Splitter eficiente em quadra será fundamental para o Spurs. Se o pivô conseguir incomodar a defesa interior de Miami, estará criando um senhor problema para Spoelstra, que poderá ter dificuldade para decidir o que fazer na hora em que ele e Tony Parker jogarem em dupla.  “Vamos continuar fazendo nosso jogo. Todos os times têm brechas e vamos aproveitar tudo o que está à nossa disposição”, disse ao Daniel.

Fica a dúvida sobre que marcador seria designado para o brasileiro de cara. Muito provavelmente Chris Bosh nos primeiros minutos, com o técnico do Heat tentando preservar o jogador de um embate direto com Tim Duncan.  Além disso, resta saber se Spo vai optar por ficar com dois pivôs em quadra como fez contra o Indiana Pacers, ou se vai voltar com Shane Battier para sua rotação, confiando no ala para segurá-lo. Se esse duelo realmente acontecer, Splitter precisaria fazer de tudo para se impor em quadra no mano-a-mano, fazendo o oponente pagar pela estratégia de small ball, seguindo o exemplo dado por  David West.

Defesa
Vocês podem não acreditar, mas o mesmo time que é superveloz e atlético na defesa, também leva esse mesmo pacote para o ataque. :  )

A diferença que os percalços para Tiago aqui estão distantes da cesta, independentemente de quem estiver em quadra do outro lado – Haslem, Bosh, Battier, LeBron, Mike Miller ou Rashard Lewis. Ops, esqueçam o Lewis. Apenas Chris Andersen não fica posicionado desse jeito.

A ideia é espaçar bastante a quadra, abrindo trilhas para os cortes de LeBron e Wade. Por isso, os “pivôs” do Miami se afastam costumeiramente da área pintada, preparados para receber o passe e matar os chutes de média e longa distância. Splitter vai ter de persegui-los em muitas ocasiões no perímetro, mesmo Haslem, que, do nada, recuperou sua confiança e voltou a representar uma ameaça nesse quesito.

Foi algo que David West fez excepcionalmente bem pelo Pacers, contestando os chutes de longa distância até de Ray Allen – Shane Battier, então, nem se fala: foi reduzido a pó, a ponto de se tornar uma peça inútil para o Heat. O catarinense tem velocidade e movimentação lateral para dar conta disso, ainda que não esteja tão habituado a correr atrás de alas. Como o chapa Rafael Uehara mostra nesta edição aqui, com ações focadas na contenção de pick-and-roll:

Ao mesmo tempo que tem de vigiar essa turma, o brasileiro vai ter de ajudar, e muito, Kawhi Leonard na inglória missão para tentar incomodar LeBron James de algum jeito. A ideia é que ele ou Duncan se posicionem atrás de Leonard, centralizados, para desencorajar as infiltrações os atropelos do superastro. Uma ação que requer uma baita organização tática e sintonia fina com os companheiros.  “Não existe uma pessoa no nosso time que possa pará-lo [LeBron]. A única forma é adotar uma defesa forte no coletivo. Só assim conseguiremos enfrentar os astros do time deles”, afirmou o brasileiro ao Daniel.

Splitter x Z-Bo

Splitter lidou bem com Z-Bo na final do Oeste; Miami apresenta desafio bem diferente

Muitas vezes é quase como uma defesa por zona, com a limitação dos três segundos imposta pela NBA. Para alguém criado na Europa, não é problema algum. A verdade é que a promoção e efetivação de Splitter no quinteto titular do Spurs foi capital para a solidificação de uma defesa que andava estranhamente mambembe sob a orientação de Popovich. Sua mera presença física ao lado de Duncan ajuda a congestionar tudo.

De todo modo, poucos são tão grandes como um Roy Hibbert, dos raros casos capazes de intimidar LeBron. Nesse confronto, para o brasileiro vai contar muito mais sua aplicação e desenvoltura tática.

E aí?
Esses são apenas alguns dos pontos que envolvem Tiago Splitter num grande  e promissor jogo de tabuleiro que começa nesta quinta-feira e se estenderá para os próximos dias. Lembrando que o brasileiro se tornará um agente livre ao final da temporada. Dependendo do quão bem ele executar seu papel, o Spurs pode ter problemas para segurá-lo em seu elenco. Agora, se isso for ajudá-los a conquistar um título depois de seis anos, Popovich e Duncan aceitarão de bom grado. Vamos ver no que dá.


Miami, enfim, iguala intensidade do Indiana, se livra de zebra e está na final da NBA
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Giancarlo Giampietro

Chris Bosh vive na defesa!

Até o Chris Bosh marcou bem nesta segunda. Aí complicou para o Indiana de David West

De tanto que se fala, pode parecer o discurso mais automático de todos, uma falácia, o clichê dos clichês. E nem sempre esse discurso explica tudo, mesmo. Mas que pode fazer diferença? Ô se pode.

Tudo isso para falar de “energia”, “intensidade”, “vontade”, “raça”. São quesitos que supostamente seriam obrigatórios para jogadores que ganham milhões e milhões por seus contratos – só de salário. Mas nem sempre é fácil, assim, de se explicar. Nem sempre estamos falando exatamente de coração: “cabeça” pode explicar isso muito bem: a concentração para executar aquilo que é necessário em quadra.

Paremos por aqui, contudo. Independem as razões para as oscilações de empenho na análise deste Jogo 7: uma vez que o Miami Heat enfim pôde fazer frente, mesmo, consistentemente, frente ao Indiana Pacers  nas pequenas coisas, na briga pelos rebotes, na aplicação defensiva, seu talento fez a diferença. Vitória por 99 a 76 e a vaga nas finais da NBA para enfrentar o San Antonio Spurs.

Comecemos pelos rebotes, a batalha que todos julgaram ser impossível para os atuais campeões desde o começo da série. Nesta segunda-feira, o time da casa dominou as coletas (43 a 36), em especial na tábua ofensiva (15 a 8).

LeBron, rumo ao aro

LeBron e o Miami agrediram muito mais o aro no Jogo 7, sem ajuda dos juízes

Destaque aqui para Chris Bosh. Sim, é possível! No caso, consegue pegar mais de cinco rebotes num jogo! Vocês podem não acreditar, mas ele apanhou nove nesta partida decisiva, um recorde pessoal na final do Leste. Mas a ovação fica por conta, mesmo, de Dwyane Wade. O ala-armador orgulhoso e quebradiço que  até mesmo superou Bosh no garrafão com nove rebotes – seis deles ofensivos! Spoelstra chorou ao checar as estatísticas finais, certeza.

Além disso, temos o caminhão de 21 desperdícios de posse de bola cometidos pelo oponente. Mesmo quando venceram o primeiro tempo período por dois pontos, os jogadores do Pacers não tiveram a chance de se sentirem confortáveis em quadra. Cometeram nos 12 minutos iniciais 9turnovers. Eram 15 ao final do primeiro tempo. Reparem, então: cometeram apenas seis na segunda etapa, mas, francamente, o confronto já estava decidido. Uma vez que o time da casa abriu 15 pontos antes de ir ao intervalo, a fatura estava praticamente liquidada.

Pois o Pacers depende em demasia de seu quinteto titular (mais a respeito em um artigo sobre o fechamento de temporada deles). Significava, basicamente, que seus cinco principais jogadores precisariam fazer um trabalho tão impecável a ponto de tirar uma desvantagem dessas em 24 minutos de jogo contra um time que tem LeBron James. Muito difícil.

Mas mais difícil ainda quando esse mesmo time está jogando com uma defesa dessas. É impossível jogar com esse tipo de suor o tempo todo, 48 minutos por partida. Quando eles conseguem, todavia, entregar por alguns – ou muitos – minutos uma defesa com um nível de pressão acima da média dentro das quatro linhas, fica muito difícil. E só assim, mesmo, para inverter o tabuleiro apresentado apresentado na série.

Penando por todo o confronto com Roy Hibbert debaixo da cesta, resolveram cortar, de uma vez por todas, seu acesso ofensivo. Em vez de parar o poste com a bola dominada, melhor evitar que ele a receba de vez, não? E taca Mike Miller flutuando para a cabeça do garrafão, Bosh (aleluia!) marcando de modo antecipado, nem que fosse com um posicionamento 3/4 consistente, Chris Andersen, Udonis Haslem, Wade, Chalmers, todos eles esticando bem os braços, procurando o passe, acotovelando, cutucando, incomodando, sufocando, desgastando. Sem contar a defesa exemplar de LeBron para cima de George: colado em seu jovem e emergente rival (só 7 pontos em 2/9 de quadra, com 4 assistências e três turnovers), sem perder a pose ou o foco. Impressiona demais mesmo quando não faz cesta.

Como se ele também não tivesse arrebentado no ataque, ué: foram 32 pontos em 40 minutos, 15 deles na linha de lances livres (traduzindo: agressividade ao extremo e sem a ajuda da arbitragem geralmente caseira da liga). Perdeu o medo de encarar Hibbert? Sim. Mas também enfrentou  menos o paredão do Indiana rumo ao aro, uma vez que o gigantão teve um raríssimo problema com faltas no duelo. Além disso, o astro desta vez contou com a ajuda de Wade (19 pontos, 7/15, 5 lances livres) e Ray Allen (10 pontos, todos no segundo quarto decisivo). Quem é vivo aparece, gente. Wade definitivamente não jogou como o craque de sempre, mas ao menos compensou a explosão reduzida com um pouco mais de coragem.

Com a vitória, o Miami se insere num grupo seleto de equipes a jogar a final da NBA por, no mínimo, três anos seguidos: apenas o Los Angeles Lakers (em seis ocasiões), o Boston Celtics (duas), Chicago Bulls (duas), Detroit Pistons (uma) e Knicks (uma, nos anos 50) deram conta disso.

Só mesmo, os elencos mais talentosos para se estabelecer desta maneira.

Desde que a habilidade natural esteja acompanhada por tudo aquilo que os técnicos imploram nessas gravações registradas em discursos inflamados durante paradas de tempo. Súplicas que podem parecer as mais banais. Mas que, no calor de uma decisão, podem fazer toda a diferença.

*  *  *

Pequenos detalhes. Dentro e fora de quadra. Como Erik Spoelstra  comprovou neste jogo ao limar Shane Battier de sua rotação e inserir Mike Miller. Para os técnicos conscientes, metódicos, é algo MUITO difícil de se fazer. Pense o seguinte: você ficou com um padrão de equipe por mais de 90 partidas no ano. Chega uma hora, porém, em que fica de frente para a parede. As coisas estão difíceis, tem de fazer algo. Mas primeiro você se sente obrigado a tentar até o último instante a reabilitação de um de seus homens de confiança. Até que chega a hora em que diz chega. E, para Battier, ao menos no duelo com o Pacers, chegou o fim. Toca botar Mike Miller, que estava afundado no banco de reservas, em quadra.

Mike Miller x Paul George

Mike Miller, mais do que um chutador e peça quase esquecida no banco do Miami. Talento

Miller foi muito bem em pouco tempo no Jogo 6 e mostrou que estava pronto. Na volta a Miami, não contribuiu em nada no ataque naquele fundamento que basicamente paga seu salário – o chute de longa distância –, mas mostrou por que já foi um agente livre cortejado por James e Wade para se juntar ao time. Porque ele pode fazer, sim, mais do que arremessar. Ótimo reboteador para sua posição, bom passador e um jogador inteligente que cobre bem os espaços dos dois lados da quadra. Fez a diferença em diversas posses de bola dessa maneira: ajudou muito nas dobras defensivas do segundo período derradeiro e conseguiu várias interceptações. Não por acaso, em sua linha estatística, o número mais elevado foi de roubos de bola: três. Parece nada, mas é muito mais do que o esperado e, ao mesmo tempo, descreve muito pouco o que ele fez em quadra.

E ter um Mike Miller como solução de última hora diz muito a respeito do desnível de talento nos dois grupos. O cabeludinho certamente seria o sexto homem do Pacers se estivesse do outro lado.

*  *  *

Frank Vogel foi duramente criticado por sua decisão de sentar Roy Hibbert na posse de bola final da prorrogação do primeiro jogo. Uma pane que acabou sendo custosa demais, e ele mesmo assumiu o erro. Neste Jogo 7, seu erro foi um o pouco mais sutil, mas também valeu como uma senhora derrapada. Ele falhou feio em sua rotação. Depois de vencer o primeiro período por dois pontos, abaixou a guarda muito rapidamente, ao descansar três titulares de uma vez (DJ Augustin, Sam Young e Tyler Hansbrough), permitindo a reação imediata – e a escapada dos adversários no placar. Uma coisa as estatísticas mais avançadas mostraram claramente na série: quando o Indiana tinha seus cinco titulares, juntinhos, ao mesmo tempo em ação, a equipe venceu o Miami Heat. Qualquer outra formação, porém, mesmo que fosse apenas um reserva acompanhando quatro titulares, deu Miami. Numa partida dessas, era hora de segurar um pouco mais as mudanças, mesmo que se corresse o risco de esgotar o quinteto inicial. Era a hora de ver como o oponente viria para quadra e, aí, tomar uma decisão. Mas tudo bem também: o que o treinador tirou de um plantel limitado desses é incrível, e, apenas em sua terceira temporada como o comandante, está crescendo junto com seus atletas.

*  *  *

Depois do jogo de cartas e blefes entre Popovich e Spoelstra durante a temporada regular – nos dois confrontos diretos entre dois candidatos ao título, pelo menos um dos times poupou alguns de seus principais jogadores –, agora chegou a hora de eles e suas equipes se enfrentarem para valer em quadra. As finais começam no dia dia 6, quinta-feira, em San Antonio Miami, claro. Expectativa de um grande embate.

 


Spurs varre Grizzlies e alcança 5ª final na era Duncan, a primeira com um relevante Splitter
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Giancarlo Giampietro

Timmy!

Tim Duncan está de volta a uma final de NBA depois de seis anos. Já não era hora

Segundo o próprio Tim Duncan, parecia uma eternidade. No caso, desde a última participação do San Antonio Spurs nas finais da NBA. Mas a espera acabou nesta segunda-feira com a quarta vitória em quatro jogos contra o Memphis Grizzlies, e, para o veterano, já não era sem tempo. Afinal, vejam só o absurdo: a última participação do clube texano na disputa direta pelo título havia acontecido em 2007. Não era sem tempo, então, hein, Timmy!?

Desde que o clube selecionou o pivô no Draft de 1997, haviam sido quatro decisões. Agora em 2013, 14 anos depois da primeira, eles agora partem para a quinta, com o jogador e o técnico Gregg Popovich como os únicos presentes em todas edições – enquanto Tony Parker e Manu Ginóbili chegam a este patamar pela quarta vez.

Não tem jeito. A competência acaba sendo premiada.

Entre 2007 e agora, é de se supor que por muitos momentos bateu a tentação de desmontar esse trio de estrelas. Especialmente em 2011, quando a equipe teve a melhor campanha da Conferência Oeste e acabou eliminada pelo mesmo Grizzlies logo na primeira rodada. Isso depois de eliminações para Dallas Mavericks (também na abertura dos mata-matas) e Phoenix Suns (nas semifinais) nos anos anteriores.

Mas Popovich e o gerente geral RC Buford, comandando as operações esportivas na franquia de propriedade de Peter Holt, se mantieram frios e pacientes. Em vez de mexer com seu núcleo central – mesmo enfrentando uma negociação contratual difícil com Tony Parker no meio do processo –, foram fazendo testes e trocas com os jogadores ao redor deles, até encontrar um equilíbrio ideal ao redor deles.

No ano passado, as coisas pareciam novamente bem encaminhadas, até que esbarraram no salto de qualidade de Kevin Durant e Russell Westbrook durante a final do Oeste. Neste ano, não tiveram a chance de uma revanche contra o Oklahoma City Thunder, que foi eliminado pelo Grizzlies na segunda rodada, já sem Wess, lesionado e operado. Pois os valentes de Memphis não foram páreo para a categoria e energia de um revigorado Spurs.

Depois de mudar sua identidade com o passar das temporadas, assimilando muito da filosofia do Phoenix Suns dos “Sete Segundos Ou Menos”, o time de Popovich retomou sua força defensiva, sem perder a destreza ofensiva, e chegou forte aos mata-matas. Forte em muitos sentidos, incluindo a saúde, sem nenhuma grave lesão aparente para seus principais jogadores.

Com o físico em dia, sobraram ao Spurs técnica, experiência, a cabeça e a determinação para despachar o Grizzlies em quatro jogos, com um placar de 93 a 86 no triunfo derradeiro.

Splitter x Z-Bo

Splitter: relevância muito além dos números

Técnica: seu elenco é muito mais volumoso do que o do Grizzlies, que disputava sua primeira final de conferência (experiência). Cabeça: com Tiago Splitter entre os destaques aqui, desestabilizaram as fortalezas Marc Gasol e Zach Randolph, que não conseguiam operar em uma zona de conforto durante toda a série. Determinação: explícita a cada contra-ataque, seja no ataque ou defesa, com os homens de preto – ou cinza – povoando os dois lados da quadra, sempre em maior número do que os adversários, e nas declarações de Tim Duncan e demais veteranos, que não viam a hora de voltar ao grande palco.

Agora eles esperam o desfecho da dura batalha entre Miami Heat e Indiana Pacers no Leste. Para os texanos, o interesse é que eles obviamente estendam o confronto por mais algum tempo. De todo modo, o início das finais da NBA tem data marcada: não antes do dia 6 de junho. Já é um bom período de descanso para os homens de Popovich.

Depois de tanto tempo, da “eternidade” por que teve de passar, porém, difícil vai ser conter a ansiedade de Tim Duncan. Este garotão de 37 anos.

*  *  *

Tony Parker foi absolutamente dominante nesta segunda, com 37 pontos contra o Grizzlies – 29 deles no segundo tempo, com um aproveitamento incrível de 15 arremessos convertidos em 21 tentados. Depois de sofrer uma torção de tornozelo na reta final da temporada regular, o francês se mostra completamente em forma, o que torna o ataque do Spurs algo muito mais poderoso. A forte defesa de Lionel Hollins não soube como lidar com a movimentação incessante do armador. Parker foi um terror tanto a partir do drible como na movimentação fora da bola, se aproveitando dos corta-luzes firmes e diversificados de seus pivôs. Splitter se destacou aqui, dando duas assistências para o companheiro.

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A linha final de Tiago Splitter neste quarto jogo: 9 pontos, 2 rebotes, 3 assistências e 4 tocos, em 30 minutos. São números que não contam nem a metade da importância do brasileiro no confronto. Especialmente o par de rebotes. Supostamente, para um pivô, seria uma quantidade ridícula. Mas aí, realmente, é preciso ver o jogo para ver o que aconteceu de fato em quadra. Duelando contra pivôs de forte presença na tábua ofensiva, Zach Randolph em especial, o catarinense por muitas vezes se via obrigado a, prioritariamente, bloquear Z-Bo, buscar o contato e afastar o adversário da zona pintada. Ainda assim, o gordote apanhou quatro rebotes ofensivos. Mas foi um esforço e tanto por parte do pivô, numa atuação inspiradora que foi replicada por seus companheiros. Como Parker, mesmo, disse na entrevista pós-jogo, Splitter, Bonner, Diaw e Duncan devem estar saindo de Memphis com alguns bons hematomas. Tudo por uma boa causa.

No geral, o QI excepcional de Splitter ficou em evidência neste confronto, sendo constantemente elogiado pelos narradores americanos, e com razão. Ele fecha muito bem os espaços na defesa e também sabe como se deslocar do outro lado com a mesma facilidade, se apresentando como uma opção constante para os companheiros próximo da cesta. O melhor: muita gente está acompanhando seu desempenho neste momento. Prestes a se tornar um agente livre, o brasileiro caminha para receber um bom aumento.


Modelo sustentável de contratações é um dos segredos para a longevidade do Spurs
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Giancarlo Giampietro

Gary Neal, ele mesmo

Gary Neal não deixou muita saudade em Barcelona, mas se encaixou no Spurs

Ter um Tim Duncan ajuda. Um treinador com a versatilidade, inteligência e o cartaz de Gregg Popovich também. Quando você combina esses dois fatores, já tem grandes chances de encaminhar uma longa jornada de sucesso como no caso do San Antonio Spurs. Mas isso não serve como a única explicação sobre o quão vitoriosa – e por um período tão duradouro – a franquia texana vem sendo nos últimos 17 anos, desde que o pivô foi selecionado no Draft de 1997.

Um dos segredos para essa prosperidade está no modelo sustentável de contratações orquestrado justamente pelo Coach Pop e seu fiel companheiro RC Buford, gerente geral do Spurs, um clube que nunca ficou fora dos playoffs após a contratação de Duncan e, acreditem, só perdeu duas vezes na primeira rodada dos mata-matas durante essa sequência.

RC Buford, gerente geral

Buford tem sua parte significante no interminável sucesso do Spurs

Não que eles não gastem –  até porque, para manter seu renomado trio, custa dinheiro, por mais bonzinhos e fiéis que sejam. Sua folha de pagamento, porém, é apenas a 12ª maior da liga, tendo valido US$ 69,838 milhões nesta temporada. Foi um pouco menos do que desembolsou o Golden State Warriors, justamente a equipe que tanto lhe deu trabalho nas semifinais do Oeste, com US$ 70,1 milhões. Já uma comparação com a folha do Los Angeles Lakers, a mais custosa deste ano, é de envergonhar a família Buss, que torrou US$ 100,131 milhões numa equipe que foi varrida pelos rivais na primeira rodada dos mata-matas.

Os confrontos com o Lakers, aliás, deixaram evidentes as diferentes concepções de montagem de um elenco. As estrelas estavam em ambos os lados. Na hora de recorrer ao banco de reservas, contudo, Mike D’Antoni tinha um número bem reduzido de alternativas, ficando com a vida ainda mais complicada com a ocorrência incessante de lesões. Do outro lado, Popovich obviamente tinha Parker, Ginóbili e Duncan em forma, mas suas opções para complemento de rotação eram bem mais animadoras, caso necessárias. Tanto que o clube não teve receio em dispensar um cestinha comprovado como Stephen Jackson a apenas alguns dias dos playoffs, por “motivos-de-Stephen-Jackson”.

E como o Spurs montou seu elenco? Quem são esses jogadores baratos que se enquadram no modelo sustentável de gestão? Como eles buscaram essas peças complementares? Vamos lá:

Cory Joseph: o armador canadense tem apenas 21 anos e ainda está em desenvolvimento – e esse é um dos pontos positivos da equipe, que trabalha muito bem com seus atletas mais jovens. Joga pouco, mas bem, com 11 minutos sólidos por partida nos mata-matas, aproveitando suas chances para pontuar e sem cometer turnovers, para dar um descanso a Parker. Quando ingressou na Universidade do Texas, era badalado vindo do colegial – fazia parte das seleções de base de seu país. Os Longhorns não chegaram a empolgar tanto, com o armador sendo considerado muito cru e nada preparado para jogar na NBA. Mesmo assim, se inscreveu no Draft e foi premiado com a 29ª escolha pelo Spurs. Por causa da escala salarial imposta aos novatos, seu salário custa pouco mais de US$ 1 milhão.

Patty Mills: o terceiro armador na rotação de Popovich é o titular da seleção australiana e, quando Andrew Bogut não se apresenta, se torna o principal jogador de um time que sempre dá trabalho – e é dirigido, vejam só, por um assistente técnico de Popovich, Brett Brown. Então temos esse cenário: um atleta que não saiu muito valorizado da universidade de Saint Mary’s, mas que já tinha prestígio internacional. Mills foi selecionado apenas na posição 55 do Draft de 2009, dois anos antes de Joseph. Durante a temporada do lo(u)caute, assinou com o Melbourne Tigers, em seu país. Depois, foi para a China, para defender o Xinjiang Flying Tigers. Uma vez que não tinha mais contrato com o Blazers, quando a temporada chinesa se encerrou e voltou a ficar disponível para a NBA, assinou com o Spurs. Da espécie de formiguinha atômicas da liga, daquelas que pode botar fogo na quadra com sua habilidade ofensiva, custando também pouco mais de US$ 1 milhão.

Gary Neal: ala-armador que não teve a carreira universitária mais expressiva e começou a preencher seu currículo na Europa, a começar pela Turquia. Em 2008, teve uma passagem bastante discreta pelo Barcelona ao lado de um envelhecido Pepe Sánchez. Foi no Benetton Treviso em que se encontrou, jogando por um dos clubes mais tradicionais do continente. Em 2010, defendeu o Málaga novamente na Espanha. Até que, do nada – do ponto de vista de quem nunca havia ouvido falar do jogador –, fechou um contrato de três anos com o Spurs no dia 22 de julho daquele ano, que se tornou uma tremenda de uma barganha: salário de US$ 854 mil, aproveitamento de 39,8% nos tiros de três pontos e a capacidade de sempre poder oferecer um pouco mais em quadra quando Parker e/ou Ginóbili estão fora. Vira agente livre ao final do campeonato.

Nando De Colo: ala-armador francês de 25 anos, 1,95 m de altura e um talento natural impressionante, de movimentos fluidos, boa visão de jogo e arremesso em evolução. Ganhou quase 13 minutos de média durante o campeonato, mas, com Ginóbili novamente em forma, não sai mais do banco durante os playoffs. De qualquer forma, devido ao que mostrou em seu primeiro ano de liga, o Spurs já sabe que poderá contar com ele no futuro. Draftado na posição 53 em 2009, ficou na Europa por mais três anos, progredindo naturalmente, jogando na Liga ACB, a liga nacional mais difícil da Europa. Salário de US$ 1,4 milhão neste ano e no próximo.

Danny Green, versão Euroliga

Danny Green, em dias eslovenos

Danny Green: ala de 25 anos formado na tradicional Universidade de North Carolina, pela qual foi campeão em 2009 como titular. O único jogador da história dos Tar Heels a somar mais de 1.000 pontos, 500 rebotes, 200 assistências, 100 tocos e 100 roubos de bola. E é isso mesmo: fazia um pouco de tudo pela equipe, mas nada excepcionalmente bem, a ponto de ser questionado: será que poderia se transformar em um jogador de NBA? Os analistas com viés estatístico juravam que sim. Foi selecionado pelo Cleveland Cavaliers de LeBron James em 2009, na 46ª posição – percebam que estamos falando de mais um caso de jogador escolhido na segunda rodada do Draft. Não foi aproveitado pela franquia, porém, sendo dispensado em outubro de 2010. O Spurs o contratou em novembro e o dispensou duas semanas depois. Jogou na D-League até retornar a San Antonio para o final da temporada. Durante o lo(u)caute, assinou com o Union Olimpija, da Eslovênia, clube de Euroliga, e vinha em uma grande campanha até que exerceu uma cláusula de liberação quando a NBA garantiu sua temporada 2011-2012. Assinou por três anos e US$ 12 milhões.

Kawhi Leonard: o ala de apenas 21 anos já era bem cotado quando se candidatou ao Draft de 2011, mas o interessante foi como o Spurs conseguiu selecioná-lo. Leonard passou batido, de alguma forma, por 14 equipes até ser escolhido pelo Indiana Pacers a pedido do clube texano, em troca do armador George Hill, alguém que era natural de Indiana e se encaixava no plano de reconstrução de Larry Bird. Hill foi mais um que o Spurs selecionou em uma posição nada vantajosa (26ª em 2008) e que estava pronto para receber um aumento salarial que não se enquadraria no elenco de Popovich, mesmo sendo um dos favoritos do técnico. Antes de perdê-lo por nada, então, descolaram essa troca mágica. Hoje, Popovich jura de pés juntos que Leonard está destinado a virar um All-Star.

Boris Diaw: figura estabelecida na liga, mas, completamente desmotivado em Charlotte, foi dispensado pelo Bobcats em março de 2012, com problemas de peso (coloquemos assim, de modo educado). Foi recolhido pelo Spurs no ato, para jogar ao lado de seu melhor amigo, Tony Parker, e virar titular num time que esteve muito perto de se garantir na final no ano passado até levar uma virada incrível do Oklahoma City Thunder. Renovou por dois anos e US$ 9,2 milhões. Mais um contrato abaixo do valor de mercado e, melhor, de curta duração.

Splitter, bons tempos

Splitter, MVP na Espanha

Tiago Splitter: o catarinense foi a 28ª escolha do Draft de 2007. Era uma estrela na Europa, o que deixava sua contratação complicada: ganhava bem pelo Baskonia e a escala salarial de novatos da liga não permitiria que os valores fossem equiparados – sem contar a multa rescisória exorbitante. Mas tudo bem: tempo a franquia, sempre brigando nos playoffs, tinha de sobra. Esperaram três anos e conseguiram mais uma barganha, pagando US$ 11 milhões por três anos de vínculo com aquele que era o melhor jogador da liga espanhola. Depois de duas temporadas de pouco tempo de jogo, despontou este ano como titular e peça fundamental para o fortalecimento da defesa do Spurs. Agente livre ao final da temporada, aos 28 anos.

DeJuan Blair: cotado como um talento top 10 no Draft de 2009, teve suas aspirações abaladas pelo exame médico oficial da liga, que constatou problemas estruturais em seu joelho. A ponto de ser escolhido pelo Spurs apenas em 38º. Titular nos dois primeiros anos, perdeu espaço este ano com a ascensão de Splitter. Último ano de contrato, valendo US$ 1 milhão.

Matt Bonner: escolhido como o 45º do Draft de 2003 pelo Chicago Bulls, começou jogando na Itália até retornar ao clube e ser trocado para o Toronto Raptors. Progrediu bem no Canadá e virou alvo de Gregg Popovich. Está na liga por uma só razão, e isso não tem a ver com seu cabelo ruivo: tem aproveitamento de 41,7% na carreira em arremessos de longa distância. Habilidade que encaixou com o plano de jogo de Popovich perfeitamente nos últimos anos, espaçando a quadra para seus astros brilharem. Salário de US$ 3,6 milhões, inferior ao que Steve Novak, ex-Spurs, ganha em Nova York.

Aron Baynes: mais um australiano observado em primeira mão por Brett Brown, o gigante de 2,08 m e 118 kg assinou com o Spurs no meio da temporada, depois de arrebentar pelo mesmo Union Olimpija na Euroliga, com médias de 13,8 pontos e 9.8 rebotes (liderava o torneio neste fundamento até seu time ser eliminado). Recebeu apenas US$ 239 mil este ano – pela metade do campeonato – e tem salário de US$ 788 mil para a próxima temporada.

Sobre Tracy McGrady, desnecessário elaborar. Uma contratação pontual para os playoffs, com uma medida de segurança que Popovich espera não ter de usar.

Fazendo um balanço de tudo isso: são seis jogadores de fora dos Estados Unidos (sem contar Parker e Ginóbili) e mais dois americanos que vieram do basquete europeu; apenas um desses operários foi escolhido entre os 20 primeiros do Draft (Leonard); cinco saíram apenas na segunda rodada do recrutamento de calouros, sendo que Baynes e Neal nem selecionados foram; três deles (Mills, Green e Bonner) foram dispensados rapidamente por seus primeiros times. Todos eles estão abaixo ou na conta em relação ao valor de mercado da NBA (considerando idade x produção).

Com um departamento de olheiros atentos, que não tem limites na sua caça a talentos, uma direção que não dá tiro no pé, assinando contratos curtos e de valores palatáveis para uma cidade como San Antonio, uma das menores da liga, a franquia estabeleceu um método de trabalho que virou exemplar para toda a concorrência. Hoje são vários os dirigentes formados dentro do clube texano que gerenciam outras franquias – Sam Presti, do Oklahoma City Thunder, o principal exemplo entre esses.

Moral da história? Não basta ter sorte para vencer – como ganhar a primeira escolha num Draft com Tim Duncan disponível, justamente depois de um ano em que o Spurs, já competitivo no Oeste, sofreu com diversas e diversas baixas, David Robinson entre elas, e ficou fora inesperadamente dos playoffs. Quando isso acontece, faz um brinde, sorriso bem aberto, e segue em frente. E, se puder coletar Tony Parker e Emanuel Ginóbili, respectivamente, nas 28ª e 57ª escolhas do recrutamento de novatos, melhor ainda.


Splitter faz seu melhor jogo nos playoffs e caminha para batalhas contra Gasol e Randolph
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Giancarlo Giampietro

Tony Parker, Kawhi Leonard e Manu Ginóbili foram os autores das jogadas decisivas para o San Antonio Spurs, enfim, eliminar o jovem e petulante Golden State Warriors na semifinal da Conferência Oeste, nesta quinta-feira. Mas uma das melhores notícias para Gregg Popovich foi a apresentação de Tiago Splitter nesta partida. A equipe texana venceu fora de casa por 94 a 82, num jogo que foi muito mais equilibrado do que o placar sugere, fechando a série em 4-2.

Tiago Splitter está de volta

Splitter desenferrujou contra o Warriors

Figura importante no esquema defensivo do Coach Pop, preenchendo espaços no garrafão, facilitando as rotações com seu posicionamento sólido, o catarinense dessa vez foi fundamental no ataque. Jogou por 31 minutos e terminou com 14 pontos, com seis cestas de quadra em oito arremessos, mostrando novamente toda a sua inteligência nos deslocamentos de pick-and-roll, se apresentando sempre como uma opção viável e de fácil encontro nos arredores do garrafão.

Mais importante, aliás, foi poder observar o pivô brasileiro se movimentando muito bem lateral e verticalmente, sem aparentar sentir nenhuma dor no seu tornozelo, depois da torção no tornozelo esquerdo durante o confronto com o Los Angeles Lakers pela primeira fase dos mata-matas. Bastante ativo, somou ainda 4 rebotes, 2 roubos de bola e 1 bloqueio, batalhando contra um limitado Andrew Bogut e o cavalar Festus Ezeli.

Splitter correu tão à vontade que, no primeiro tempo, chegou a matar uma bola em flutuação, feito Tony Parker, o que chamou a atenção de Jeff Van Gundy, comentarista da ESPN que não parece disposto a largar o cargo para voltar à liga como técnico. Van Gundy brincou que o pivô talvez seja o jogador mais alto na história da NBA a converter esse tipo de arremesso, daqueles que o jogador parte frontalmente rumo à cesta e chuta, digamos, à meia altura, ficando no meio do caminho entre um jump shot tradicional e a bandeja. Realmente. É um recurso raro para um homem de sua estatura (2,11 m), mas que consta de seu repertório há anos – e que, salvo engano, nem Dirk Nowtizki tem o hábito de fazer.

Depois de perder a primeira partida em San Antonio, o brasileiro teve atuações um tanto limitadas nos últimos quatro confrontos com o Warriors, mas com uma elevação constante de tempo de jogo – ele mal teve tempo de treinar no retorno de sua contusão. Ficou em quadra por 10, 19, 19 e 25 minutos, respectivamente, e, no geral, havia somado 18 pontos (4,5 em média). Era muito pouco, como provou nesta quinta.

Não tinha melhor hora para ganhar confiança. Pois a vida não será fácil nas próximas semanas…

*  *  *

A melhor dupla de pivôs da liga

Marc Gasol e seu novo irmão, Z-Bo

Vem chumbo grosso pela frente. O Spurs reencontra o Grizzlies pela primeira vez nos playoffs desde a dolorida eliminação na primeira rodada de 2011, uma derrota que chegou a por em dúvida a continuidade da base Popovich-Duncan-Parker-Ginóbili. Na ocasião, os texanos eram os primeiros cabeças-de-chave e caíram por 4-2, tendo perdido o craque argentino cedinho no embate.

Splitter estava em sua temporada de novato e recebeu pouquíssimo tempo de quadra. Nos mata-matas, porém, com dificuldade para brecar Zach Randolph, Pop acionou o brasileiro, que até correspondeu numa fogueira dessas. Agora o contexto é bem diferente. O brasileiro ganhou o posto de titular na primeira metade do campeonato e seguiu em frente. E o Spurs precisa, e muito, de sua energia e talento para tentar anular, ao menos, atrapalhar a conexão cada vez mais azeitada entre o Z-Bo e Marc Gasol, hoje o detentor do título de melhor Gasol da liga.

Os dois combinam muito bem, podendo alternar a posição no high-low em sucessivos ataques. E não importa quem está no topo ou embaixo no garrafão. O pau come do mesmo jeito. É provável que o catarinense tenha a incumbência de lidar com Randolph no início do confronto, deixando o Big Marc para Duncan. De todo modo, qualquer um dos dois seria um páreo duríssimo. Com Gasol, Splitter está mais habituado, devido ao passado de ambos na liga espanhola. Contra Randolph, ele não terá descanso em nenhuma posse de bola, como pode atestar Serge Ibaka, que cansou de apanhar  e, invariavelmente, saiu perdendo na disputa por posição nas imediações da cesta. Vejam isto aqui:

Não subestimem de modo algum o quão difícil é segurar o Z-Bo no jogo de corpo e o quanto essas trombadas minam/desgastam/torturam a longo prazo.


Spurs domina Lakers em San Antonio e deixa disputa no Oeste mais promissora
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Giancarlo Giampietro

O Howard de Lakers contra a prede

São diversas questões para tirar da frente. Mas duas delas são mais importantes para tratar aqui:

1) Gregg Popovich, para variar, blefou o tempo todo?

2) Ou seria o Lakers tão ruim assim?

Porque, horas antes de abrir a série contra os velhos rivais de Los Angeles, o treinador do San Antonio Spurs dizia que estava “preocupado” com sua equipe. “Terminamos a temporada da pior forma que me lembre”, disse. Supostamente, Tony Parker ainda estaria com dificuldade para recuperar sua melhor forma física depois de uma torção de tornozelo em péssima hora. Manu Ginóbili estaria em frangalhos. Sem Boris Diaw, sua rotação de garrafão estaria seriamente comprometida. Segura.

E aí o que acontece nos dois primeiros jogos?

Duas vitórias, sem deixar nenhuma chance para os cacarecos que restam do Lakers, ainda que os placares não sejam os mais chocantes (91 a 79 e 102 a 91). Quando Manu Ginóbili está passando a bola por trás das costas encontrando Tony Parker para uma cesta de três pontos na zona morta, você sabe que as coisas estão indo bem, seguras para esses eternos candidatos ao título.

O único asterisco para se levantar aqui diz a respeito do Lakers, mesmo. Sem Kobe. Sem entrosamento algum. Steve Nash tendo de tomar uma assustadora injeção epidural atrás da outra. Steve Blake acaba de sentir uma fisgada muscular. Ron Artest talvez esteja jogando sem sentir o joelho. “Essa é disparada a pior temporada para lesões de que eu tenha participado”, afirmou Nash. “Pessoalmente e coletivamente.”

Aí que o ataque angelino talvez seja muito fácil de ser parado por uma defesa que se fortaleceu na temporada – daí a pífia média de 85 pontos por partida até o momento.

Pode ser. Por outro lado, mesmo se for esse o caso, os duelos com o Lakers podem servir como um período de intertemporada de luxo em pleno início dos playoffs. Se Parker e Ginóbili estavam realmente avariados, ou apenas jogando na terceira marcha, quatro, ou, vá lá, cinco joguinhos destes talvez sejam o bastante para que eles cheguem 100% para o embate de segunda rodada contra Nuggets ou Warriors.

“Estamos recuperando nosso ritmo”, afirmou Tim Duncan, prestes a completar os 37 anos mais jovem que um basqueteiro pode aparentar. “Agora Tony está entrando em forma, saudável, e vamos ver mais um Tony da velha escola. Tipo o Tony de novembro, dezembro e janeiro”, afirmou Ginóbili sobre seu armador. “Lentamente, mas seguramente”, concordou Parker. “Se eu e Manu conseguirmos ficar saudáveis, confio no nosso time.”

O francês somou 46 pontos e 15 assistências nos confrontos em San Antonio. O argentino tem 15,5 pontos, 5 assiistências, 3,5 rebotes em apenas 19 minutos por jogo, com aproveitamento de 66,6% nos três pontos. “Ambos estão parecendo muito bem”, diz Duncan, feliz da vida.

Claro que, com todo o azar que o Spurs enfrentou nas últimas temporadas, especialmente em relação a Ginóbili, ainda é muito cedo para comemorar. Ainda tem muito playoff pela frente.

Só não deixa de ser intrigante esta retomada dos texanos. Uma semana atrás, a Conferência Oeste parecia toda do Oklahoma City Thunder – e ainda pode ser o caso. Agora começa a reacender alguma fagulha na oposição.

*  *  *

Depois de destroçar a concorrência nos últimos jogos da temporda regular, Pau Gasol ven enfrentando sérias dificuldades contra a defesa do Spurs, e Tiago Splitter tem dado uma forcinha para isso. Embora cause impacto na partida de diversas maneiras (25 rebotes e dez assistências somadas em 78 minutos), o espanhol retorna para Los Angeles com aproveitamento de apenas 40% nos arremessos, sem conseguir se firmar como um ponto seguro na hora de atacar a cesta.

Dwight Howard, por sua vez, vai tendo um desempenho típico, com 36 pontos, 24 rebotes e seis tocos em 75 minutos, com aproveitamento de 62,5% nos arremessos e os mesmos infelizes 50% na linha de lance livre, perigando sempre de cair na lamentável, mas procedente tática de faltas intencionais por parte de Popovich.

Cabe ao técnico Mike D’Antoni pensar em outras formas para fazer Gasol jogar. Com tantos problemas em eu elenco, se o pivô espanhol, enfim saudável e feliz, não funcionar ofensivamente, o Lakers dificilmente escapa de uma varrida, de modo que teriam lutado tanto para  chegar aos playoffs, apenas para cumprir tabela em quatro jogos.


Lesões voltam a assombrar o Spurs com os playoffs se aproximando
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Giancarlo Giampietro

 

Tony Parker, ai

Tony Parker vai ficar sentado por mais tempo? Pop está preocupadíssimo

Esse filme está virando uma constante na vida de Gregg Popovich. Que tortura!

O técnico encontra e treina operários no mundo todo. Num dos menores mercados da NBA, consegue manter um time extremamente competitivo em quadra desde 1999. Ou melhor: “extremamente competitivo” tem a ver mais com equipes menores lutadoras, valentes, né? O que o Spurs virou nas mãos do Coach Pop foi um rolo compressor, sempre lutando pelo título.

Mesmo nesta temporada, ou na passada, com o relógio avançando rapidamente para Duncan e Ginóbili, o time texano sustentou por um bom tempo a melhor campanha da liga, sendo ultrapassado no mês passado pelo impossível Miami Heat. Agora, com a derrota de ontem para o Thunder, corre o risco também de perder a liderança do Oeste – e, numa eventual revanche contra Durant e Westbrook e os ensandecidos torcedores de Oklahoma City, perder o mando de quadra pode ser fatal.

Agora, mais preocupante que se manter na ponta da tabela, é a repetição dos problemas físicos para seus principais jogadores justamente quando eles se aproximam dos playoffs, por mais que seu treinador controle drasticamente o tempo de quadra deles durante a campanha.

Primeiro foi Manu Ginóbili, que sofreu uma distensão muscular e deve ficar afastado por até quatro semanas, o que o tiraria da primeira rodada dos mata-matas. Agora é Tony Parker quem corre risco. Ele saiu mancando de quadra na derrota para o Thunder, e o Spurs ainda não tem ideia do que está acontecendo.

“Eu o vi voltando para a quadra mancando uma vez, e foi aí que o tirei de quadra. Disse que ele precisava parar, para entendermos o que é. Ele não podia continuar mais”, disse Popovich, que já se assumiu “muito preocupado”. “Acho que é tendinite, alguma coisa em sua canela, ou sei lá onde, pelo que vi no jogo. Pensamos que ele estava meio que se recuperando da torção em seu tornozelo, então esse é um novo problema  em sua perna.”

Aiaiai. Se Popovich estiver certo em seu palpite sobre um eventual problema na canela, o repórter Chris Broussard, da ESPN, traz uma informação que realmente é para deixar qualquer um tenso. Ele consultou um preparador físico que afirmou que é praticamente impossível de se ter tendinite na canela. E, se for lá mesmo, seria bem mais provável uma fratura por estresse.

Sem Ginóbili, com tempo de quadra e influência cada vez mais reduzidos, o Spurs ainda se vira hoje, e muito bem. Neste ano, por exemplo, venceram 71,4% das partidas em que o craque estava afastado, melhorando a marca de 68,8% da temporada anterior, números bem superiores aos 64,2% no geral, desde que o argentino entrou para seu elenco.

Tim Duncan descobriu a fonte da juventude este ano, vem sendo um paredão na defesa, mas as chances do Spurs hoje se baseiam em Parker, que faz o time andar, colocando pressão na defesa sem parar, com um arremesso já confiável, além de ser um contra-ataque de uma pessoa só. Sem ele, por melhores que sejam os jovens Nando de Colo, Patty Mills e Cory Joseph, o Spurs cai de patamar e teria de se virar para passar por Nuggets, Clippers ou Grizzlies.


Spoelstra dá o troco em Popovich, poupa astros e ainda vence em San Antonio
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram quando Gregg Popovich foi a Miami e poupou, de uma vez só, Tony Parker, Tim Duncan e Manu Ginóbili, né? Causou o maior reboliço na NBA, levantando a questão ética se um técnico pode, ou não, tirar seus jogadores da lista oficial sem nenhuma lesão para justificar tal iniciativa, considerando que muita gente pode ter pago o ingresso apenas para ver determinado atleta, sem contar os interesses das emissoras de TV. Pois bem, o Spurs acabou multado por David Stern, e foi uma facada de US$ 250 mil.

Tony Parker x Norris Cole e Shane Battier

Tony Parker dessa vez jogou. E o Spurs sofre uma derrota que é para deixar Popovich cabisbaixo

Na ocasião, os atuais campeões sofreram para ganhar do mistão do Pop, vencendo por 105 a 100, em jogo decidido apenas no último minuto, com direito a uma virada do time da casa no quarto período – eles perdiam por três pontos ao final da terceira parcial. Tiago Splitter, aliás, jogou muito, com 18 pontos e 9 rebotes, desfrutando da condição de ponto focal da ofensiva de seu time pelo menos por uma rodada.

Neste domingo, quatro meses depois, num movimento de aguçada audácia e ironia, Erik Spoelstra deu o troco em seu renomado companheiro de profissão, bastante admirado – ou famigerado – por esse tipo de truque. Spo foi para San Antonio e, tome!, deixou LeBron James, Dwyane Wade (e Mario Chalmers) fora da partida. E, melhor, venceu o jogo: 88 a 86.

Chris Bosh dessa vez, sim, jogou como um superastro, somando 23 pontos, 9 rebotes, 3 assistências e 2 tocos, matando 9 de eus 15 arremessos, três deles da linha de três pontos, o último deles a 1s9 do fim, para dar a seu time uma vitória que praticamente lhe garante a vantagem do mando de quadra em todos os playoffs.

Bosh contou ainda com a ajuda dos 12 pontos e 5 assistências de Mike Miller, titular no lugar de Wade, além dos 7 pontos, 3 rebotes, 3 assisstências e 4 (!!!) tocos de Rashard Lewis, que ficou com a vaga de LeBron no quinteto titular.

Esse é um resultado que mostra que o Miami já tem, sim, seu sistema, que funciona por conta própria. Que também valoriza os jogadores coadjuvantes e os enche de confiança para os playoffs – assim como o técnico do Spurs já fez com Danny Green, Kawhi Leonard, Gary Neal e outros tantas vezes. E, mais do que isso, responde a Popovich na mesma moeda.

Você vai esconder o jogo?

(Pop não só usou a oportunidade de sabotar uma partida de alta exposição para atacar Stern e a direção da liga, devido a uma sequência massacrante de tabela e viagens pela qual passava sua equipe, como também evitava mostrar suas cartas diante de um eventual adversário na luta pelo título.)

Spoelstra, jogando como cachorrão, respondeu a trucada que levou no final de novembro. Pediu seis e ainda levou o monte, deixando Pat Riley orgulhoso que só.


Resumão da intertemporada da NBA: Conferência Oeste
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Giancarlo Giampietro

Com a temporada 2012-2013 da NBA fazendo sua pausa tradicional para o fim de semana das estrelas em Houston, é hora de fazer um resumão do que rolou até aqui, começando pela Conferência Oeste. Amanhã publicamos a do Leste:

Durant decola

Durant, atacando o aro, em constante evolução

Melhor jogador: Kevin Durant.
Dá sempre para melhorar, gente. Até mesmo um Kevin Durant. E por que não faria, ué? Ele tem apenas 24 anos – embora saibamos que há incontáveis casos de atletas que se acomodam rapidamente, rapidinho mesmo. Bem, o quanto melhorou o ala do Oklahoma City Thunder? Ele está chutando acima de 50% (51,9%!!!) pela primeira vez na carreira, em seu sexto ano, tem a melhor marca no tiro de três pontos (43,2%, e tenham em mente de que a maioria dos arremessos é contestada). Na verdade, ele está chutando melhor de todos os pontos da quadra – seja de fora, de média distância, pela direita ou esquerda, em bandejas e infiltrações. Em todos os lugares, desde que estreou na liga em 2007.  Vejam o estudo de Kirk Goldsberry para o Grantland. Mas não é só isso: Durant também tem a melhor marca em assistências, roubos de bola e tocos. Melhor que números, é ver também a evolução de seu jogo como um todo, com maior dedicação e destreza na defesa e o amadurecimento como um líder, tendo de conviver sadiamente com a bomba-relógio que é Russell Westbrook.
Não fosse a aberração chamada Durant, quem mais poderia entrar aqui? Tim Duncan e Tony Parker, Spurs; Kobe Bryant, Lakers; James Harden, Rockets; Chris Paul, Clippers.

Melhor técnico: Gregg Popovich.
O primeiro time a alcançar a marca de 40 vitórias na liga, de novo. A melhor campanha em um Oeste ainda brutal, sem nenhum grande reforço. A máquina de Pop está totalmente azeitada, não importando o que se pense ou não dele por causa de Tiago Splitter. A ponto de ele vencer o Chicago Bulls sem ter Duncan, Parker ou Ginóbili em sua escalação. Afinal, respeitando seus papéis, Kawhi Leonard, Danny Green, Nando de Colo, Gary Neal e o pivô catarinense estão produzindo como gente grande, ganhando confiança aos poucos sob a orientação do treinador. Mas o mais importante dado para ser considerado nesta campanha dos texanos é o seguinte: hoje eles têm a terceira defesa mais eficiente do campeonato, superando até mesmo os maníacos de Thibodeau. Isso era algo recorrente entre 2004 e 2007, mas não vinha acontecendo nos últimos anos. Sem perder o ritmo no ataque, com a quarta melhor ofensiva. O Spurs é o único time no top 5 dos dois lados.
Quem mais poderia estar no páreo? Mark Jackson, Warriors; talvez, mas talvez George Karl, Nuggets.

– Melhor reserva:  Jarrett Jack.
O armador sai do banco para dar mais consistência ao time, podendo render o genial Stephen Curry ou atuar ao lado do rapaz, devido a sua força física e capacidade defensiva. Ale ajuda na organização do time, mas também pode definir por conta própria, com um dos melhores chutes de média distância da NBA.
Quem mais? Jamal Crawford, Eric Bledsoe e Matt Barnes, Clippers (e um mata o outro); Andre Miller, Nuggets; Derrick Favors, Jazz.

Tony Parker e seu chute em flutuação

Tony Parker, cada vez melhor

– Dois quintetos:
1) Chris Paul, James Harden, Durant, Duncan, Marc Gasol.
Ficou clara a influência que CP3 tem dentro do Clippers quando ele teve de descansar nas últimas duas semanas. Harden supera Kobe estatisticamente e em resultados (mais, adiante). Marc Gasol é a âncora da segunda melhor defesa e o pivô mais inteligente da liga hoje.

2) Tony Parker, Russell Westbrook, Kobe Bryant, Blake Griffin, Al Jefferson.
Aos 30 anos, o armador francês joga sua melhor temporada, acreditem. Incrível. Já Westbrook acaba muitas vezes punido por aquilo que não é: um armador. Ele pode ter essa função determinada na hora de se anunciar a escalação, mas jamais deveria ser encarado como alguém que compete com Steve Nash ou John Stockton. Bota pressão na quadra toda, nem sempre toma as melhores decisões, mas é uma força aterrorizante. Kobe começou o ano muito bem, mas já erdeu rendimento e também perde pontos por se apresentar como um capitão muito temperamental, que não ajuda em nada seu time a se estabilizar em meio ao caos. Griffin é outro que, aos poucos, vai trabalhando seu jogo em diversos aspectos, tendo agora um chute de média distância respeitável. Para Al Jefferson ninguém dá muita bola, mas ele segue o pivô ofensivo consistente de sempre, liderando o Utah Jazz rumo aos playoffs novamente.
Quem mais poderia ganhar um convite para o baile? Stephen Curry e David Lee, Warriors; Damian Lillard e LaMarcus Aldridge, Blazers.

– Três surpresas agradáveis:

James Harden, surpresa pelo Rockets

Harden, agora barba de elite

1) James Harden, o craque: não havia dúvida alguma de que estávamos diante de um jogador talentoso, em seus tempos de assessor de Durant e Westbrook. Mas aqui no QG 21 a expectativa não era a de que ele poderia tomar a liga de assalto desta maneira. Em seu quarto ano na NBA, o barbudo se transformou num cestinha implacável, numa das maiores dores-de-cabeça para qualquer defensor de perímetro, com seu estilo muito vistoso e agressivo. O maior volume de jogo custou a Harden a eficiência nos tiros de quadra em geral e nas bolas de três pontos (agora ele não tem a duplinha do Thunder para aliviar a pressão, claro), mas, ao mesmo tempo, o ala tem se colocado ainda mais na linha de lances livres, cobrando quase 10 por partida. Ele também não deixou de olhar para os companheiros: 25% de suas posses de bola terminam em assistência. Depois de tanto tentar a contratação de Dwight Howard nas férias, o Rockets enfim conseguiu sua superestrela em Harden.

2) Golden State Warriors defendendo: a equipe das vizinhanças de San Francisco conseguiu limitar seus adversários a uma pontaria de apenas 44% na temporada, o suficiente para ter a sexta melhor marca de toda a liga. Empatados, pasme, com o Boston Celtics. O Warrios é o time que também permite o sétimo pior aproveitamento de três pontos aos oponentes (34,2%). Tudo isso com o novato e ainda cru Festuz Ezeli de titular por um bom tempo e Andrew Bogut trajando seus elegantes no banco de reservas.

3) Damian Lillard, mais um armador de elite: a moral do novo queridinho de Portland é tamanha que ele foi o primeiro jogador escolhido no falso “Draft” entre Charles Barkley e Shaquille O’Neal para o jogo festivo da molecada no fim de semana do All-Star. Sim, ele saiu antes mesmo de Kyrie Irving (o que mostra, aliás, que o Chuckster talvez não desse um bom gerente geral, mas tudo bem). Quando deixou a modestíssima universidade de Weber State, nenhum especialista ou gerente geral estava apostando em uma coisa dessas. Lillard enfrentava basicamente o segundo escalão da NCAA. Hoje, bate de frente, em igualdade, com os melhores do mundo, que têm dificuldade para conter seu jogo bastante burilado. Ele não é o mais rápido, o mais explosivo, o de maior impulsão, ou melhor chute e visão de jogo. Mas combina um pouco de tudo na média ou acima da média nesses quesitos para se tornar o grande favorito a novato do ano.

– Três surpresas desagradáveis:
1) Los Angeles Lakers: Sério?! Não acredito!

2) As lesões em Minnesota: Ricky Rubio começou a temporada de muletas. Kevin Love depois fratura a mão. JJ Barea sofre com concussão e um tornozelo esquerdo. Os problemas crônicos no joelho de Brandon Roy, adivinhem, seguem crônicos. Chase Budinger rompe o menisco do joelho esquerdo. Nikola Pekovic torce o tornozelo esquerdo. O promissor ala-armador Malcom Lee, ótimo defensor, lesiona o joelho. Andrei Kirilenko começa a lidar com espasmos musculares nas costas. Kevin Love volta a fraturar a mão direita. Alexey Shved torce o joelho esquerdo. Andrei Lirilenko enfrenta problemas musculares no quadríceps. Ah, e Dante Cunningham ficou doente. E lá se foi o sonho de playoffs para o Wolves.

3) Phoenix Suns, o lanterna: Goran Dragic não chega a ser Steve Nash, está bem longe disso, mas se mostrou um armador competente, de acordo com o que o clube pagou. O resto? Um elenco extremamente lento numa liga que valoriza mais e mais a velocidade. Um elenco também desequilibrado, com muitos jogadores duplicados, o que não ajuda na hora de tentar diversificar o plano de jogo. A aposta em Michael Beasley se mostra um fracasso. O resultado é um time habituado a competir nos playoffs amargando a lanterna da conferência.

– O que resta para os brasileiros:
Bem, com a dispensa de Scott Machado pelo Rockets, sobrou apenas Tiago Splitter para contar história. O catarinense se tornou titular de Popovich, enfim, mas isso não quer dizer que fique tanto tempo em quadra assim. Num elenco vasto, lhe cabem por enquanto 23,8 minutos por jogo – e o tempo subiu, aliás, também pela lesão recente de Duncan. O interessante é que, estatisticamente, seus números são inferiores aos da campanha passada e, ainda assim, ainda lhe posicionam entre os jogadores mais eficientes da NBA. E o mais importante é que, com ele em quadra, o Spurs como um todo rende bem mais, como o chapa Rafael Uehara já nos alertou.

PS: encontre o Vinte Um no Twitter: @vinteum21.


Splitter se entrosa com Duncan, cresce em quadra e vira peça-chave pelo Spurs
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Giancarlo Giampietro

Uma bandeja ao estilo Splitter

Splitter agora divide quadra com Duncan, sem perder sua eficiência

Por Rafel Uehara*

O Vinte Um já cobriu exaustivamente como o San Antonio Spurs continua um concorrente legítimo ao título, mesmo que sem badalação. Tim Duncan permanece um dos jogadores mais impactantes da liga aos 36 anos de idade, Tony Parker lidera um rolo compressor ofensivo com sua capacidade de criar no pick-and-roll, e Greg Popovich controla os minutos de seus veteranos como um mago. Muitos pensam, incluindo este que os escreve, que o time da temporada passada (que em um momento venceu 20 jogos seguidos a caminho das finais da conferencia oeste) deveria ter ganhado o título, não fosse o crescimento do jovem e superatlético Thunder.

O argumento pode ser feito que o time deste ano seja na verdade ainda melhor que o da temporada passada, devido a sua melhor capacidade defensiva. O Spur tem permitido a quarta menor taxa de pontos por 100 posses do adversário. Em 2011-2012, ficaram em 11º nesse departamento. E o brasileiro Tiago Splitter, titular em 17 dos 39 jogos da equipe em 2012-2013, é um dos motivos pra isso. Depois de um primeiro ano em que mal viu a quadra e um segundo ano de avanço, mas ainda sem total confiança de Popovich, Splitter é agora peça-chave em San Antonio.

O desenvolvimento de Splitter para esta temporada era visto como crucial para os Spurs, devido ao panorama da Conferência Oeste. O Thunder de Kevin Durant e Russell Westbrook ainda era previsto como o time a ser batido (mesmo após trocar James Harden), sendo um caso especial, graças ao porte físico de suas estrelas. De resto, todos os demais concorrentes ou semi-concorrentes à vaga nas finais apresentam torres gêmeas no garrafão: o Lakers com Pau Gasol e Dwight Howard, o Grizzlies com Zach Randolph e Marc Gasol e o Clippers com Blake Griffin e DeAndre Jordan. Para ir à guerra contra estes, San Antonio necessitava que o par Duncan-Splitter desenvolvesse melhor sincronia e, para isso, que Splitter fosse mais confiável.

Em maior tempo de quadra na temporada passada, ficou evidente que Splitter tem talento pra jogar na NBA. Seu entrosamento com Manu Ginóbili e Stephen Jackson nos pick-and-rolls o permitiu várias oportunidades para contribuir no ataque. Mas, em vários momentos, Splitter levou Popovich à loucura com erros de atenção na defesa e falta de firmeza ao finalizar contra contato ao redor da cesta. Isso agora é coisa do passado, e Splitter tem sido um dos jogadores mais consistentes, produtivos e efetivos em toda a liga.

Splitter tem o sétimo maior PER entre alas-pivôs, com 19,87 (na merdição desenvolvida pelo hoje vice-presidente do Memphis Grizzlies e ex-analista da ESPN, John Hollinger, que avalia a produção estatística dos jogadores por minuto). De acordo com o portal mysynergysports.com, Splitter é o segundo maior anotador por posse em pick-and-rolls, marcado em média 1,39 ponto a cada jogada. Também está entre os 25 melhores defensores em post-ups, jogadas em que se recebe a bola de costas para a cesta próximo à linha de fundo, e entre os 40 melhores defendendo o pick-and-roll. E, de acordo com NBA.com/advancedstats/, com Splitter em quadra, o Spurs permite menos pontos que o Grizzlies, segunda melhor rankeada defesa na liga, e marca em média 9,5 a mais que o adversário em comparação a 6,3 com ele de fora. Esses dois números, em especial, são fantásticos.

Tem mais: de acordo com 82games.com, Splitter e Duncan estiveram em quadra 222 minutos juntos até o momento e, nesse tempo, San Antonio marcou um total de 95 pontos a mais que o adversário.

A maior preocupação com relação a formações envolvendo Duncan e Splitter juntos (motivo pela qual Popovich as usou em apenas 48 minutos na temporada regular passada) era o espaçamento do ataque. Matt Bonner e Boris Diaw proporcionam melhor espaçamento devido as suas habilidades de acertar tiros de três pontos com consistência.

Mas, segundo Zach Lowe, do site Grantland, a combinação tem funcionado melhor esse ano devido a maior variação de armações, inteligente visão de quadra e passes de ambos os pivôs, e a crescente química entre eles. Eles constantemente se posicionam em lados opostos de quadra, às vezes armam corta-luzes um para o outro, e a comissão técnica é atenta em sempre orientar um para que faça algo que chame a atenção da defesa quando o outro arma um corta-luz para Parker.

O brasileiro deve ganhar alguma consideração para o prêmio de quem mais evoluiu na temporada, o MIP (“Most Improved Player”), mas será difícil que ele ganhe, considerando que o Spurs está sempre fora do radar e que estrangeiros que não são estrelas já recebem menor atenção pra começo de conversa – aliás, mesmo se o caso não fosse esse, o montenegrino Nikola Pekovic tem tido um maior impacto em Minnesota.

Isso não muda o fato, porém, de que Splitter tem tido em temporada fenomenal e se desenvolveu em parte essencial para as aspirações do time. Agora não só por seu potencial, mas, mais importante, por sua produção.

 *Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.