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Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Quando ninguém entende os placares de Spurs x Thunder
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Giancarlo Giampietro

spurs

okc

Durante a temporada regular, o San Antonio Spurs teve o sexto melhor ataque da NBA, seguido bem de perto pelo Oklahoma City Thunder, o sétimo. Era praticamente um empate técnico. Se você quiser filtrar as estatísticas de defesas mais eficientes, verá que o time texano foi o quarto melhor do ano. Em quinto? seu oponente da final do Oeste novamente. Em saldo de sexta, ainda nesta ordem, temos +7,8 pontos x +6,4.

Em termos de aproveitamento dos arremessos de quadra, pode dar 48,6% para o Spurs, em segundo, e 47,1% para o Thunder, em sexto. Na hora de proteger sua cesta, o Thunder limitou seus adversários a míseros 43,6% de acerto, enquanto o Spurs empurrou seus oponentes para um rendimento de apenas 44,4%. Em lances livres, o time da Divisão Noroeste aparece em segundo, com 80,6%, enquanto a equipe da Divisão Sudoeste está em quarto, com 78,5%.

Se for para matar os chutes de três pontos, a franquia de San Antonio foi bem superior, com 39,7% (líder!), contra 36,1% dos rapazes de Oklahoma (14º). Do outro lado da quadra, o time de Gregg Popovich permitiu 35,3% de longa distância aos adversários, enquanto a rapaziada de Scott Brooks, 35,8%.

No ranking de assistências, o Spurs também foi quem mais deu passes para cesta por jogo, com 25,2. O Thunder aparece em 13º, mas com 21,9. E quem força mais turnovers? A galera de Thabo Sefolosha fica em 10º, com 14,5, enquanto os amigos de Kawhi Leonard estão em 25º, mas com 13,3.

Poderíamos ficar listando números e mais números aqui. Mas já deu para sentir mais ou menos o ponto, não? Durante 82 jogos, Spurs e Thunder estiveram na elite da liga. Como candidatos ao título, independentemente de um desfalque aqui (alô, Wess) e outro lá (oui, Parker). Seus números, em termos de colocação geral na concorrência com os outros times, podem destoar um pouco, mas, em geral, o que vimos acima foi muito equilíbrio, com os veteranos do Texas ligeiramente acima.

Então, tudo isso para repetir a pergunta que muitos não conseguem explicar: por que raios ainda não assistimos a uma partida equilibradinha que seja nesta série melhor-de-sete até agora?

Cinco partidas já foram disputadas, e a menor diferença produzida foram os nove pontos a favor de OKC no Jogo 4 – e esse foi um placar ilusório, uma vez que a equipe da casa liderava por 20 pontos quando restavam apenas 3min17s no cronômetro. É a primeira vez que isso acontece nas finais de uma conferência desde os duelos em que Michael Jordan maltratava o coração de Cleveland em 1992. Ou apenas o segundo desde 1988, quando Lakers e Mavericks venceram sempre por mais de 12 pontos.

Steve Kerr já havia falado no ar durante a transmissão que não conseguia entender. Ele, o homem de cinco títulos. Tim Duncan, de 17 temporadas e mais de 200 partidas nos playoffs em seu currículo, soltou esta: “É a série mais maluca em que eu já estive envolvido”.

Um corajoso sujeito foi perguntar para Gregg Popovich na coletiva em San Antonio a respeito. Vejam a transcrição do ocorrido (obs – nenhum boletim de ocorrência foi emitido):

Repórter na coletiva: Cinco jogos, cinco lavadas. Para nós que não entendemos tanto do jogo, como você explica isso?
Gregg Popovich
: Você está falando sério? Você realmente acha que eu posso explicar isso?

Nos termos mais simples (risos). Sei que você pode. A questão é: você vai?
Meu Deus do céu. E eles pagam você, não?

Muito pouco.
Então é por isso a pergunta. Você não vale muito.

Ninguém consegue explicar, aparentemente. Obviamente que o treinador poderia dar uma palavrinha ou outra a respeito. Mas em situações como essa ele prefere apelar ao sarcasmo, seja por impaciência, ou para dar um charme. Deve ser as duas coisas em conjunto, mesmo.

Fica essa coisa no ar.

Aqui, penso numa teoria abelhuda. Não espere, sinceramente, nenhuma tese de mestrado, nada muito científico. É só um palpite.

Mas acho que tem a ver com o contraste de estilos entre os times.

O sistema ofensivo de qualquer equipe é fazer cesta. Dãr. Mas, entre esses finalistas do Oeste, os meios alternam bastante, não?

O Spurs com sua movimentação constante, com apenas um jogador geralmente estacionado na zona morta do outro lado da bola, para alargar a defesa. E olhe lá, dependende das mudanças de direção nas infiltrações de Manu ou Parker. É corta-luz num determinado ângulo, depois em outro, seguido por outro. O passe para o lado, para trás, para a frente, sempre em busca de alguém boa condição para pontuar. A tendência é os elegermos como os guardiões de tudo o que jogo tem de puro e bom.

(Vale o parêntese aqui para uma aspa bem legal de Reggie Jackson, que vai se revelando como uma fonte obrigatória para repercussão: “É por isso que eles são conhecidos (os passes). Não acho que importe quem jogue. Eles poderiam usar cinco pivôs, e ainda encontrariam um jeito de mexer a bola. É o que eles fazem, é o sistema deles, e eles são bons nisso”.)

Já o Thunder pode emendar cinco ataques em que apenas um passe ou dois passes foram trocados, se tanto, e ainda assim ser ameaçador. Graças aos talentos exclusivos de Durant e Wess, que têm recursos atléticos e técnicos para jogar no mano-a-mano até amanhã de manhã, se Brooks deixar (ou quiser). Um pick and pop entre eles aqui, outra combinação de dupla com Ibaka em pitadinhas, e podem ficar muito bem nisso. Não que sejam fominhas. Os caras também fazem a assistência extra. São camaradas. Mas, pela natureza de seus supercraques, a ofensiva tende a ficar bem acomodada com facilidade. Irrita um pouco, mas dá certo na maioria das vezes.

Na defesa, Oklahoma tende a ser mais disruptivo, com atletas muito mais explosivos e de envergadura assustadora, enquanto San Antonio não é muito afeito a botes e riscos, preferindo guardar posição, com um ou outro tendo licença para atacar (Kawhi e Manu, por exemplo, e Mills por teimosia própria).

Uma equipe é harmonia, a outra, caos.

Quando cada um encaixa seu jogo perfeitamente, com confiança, o oposto acaba sendo engolido?

Pode ser? Ou é muito simples, idiota?

Provavelmente.

O difícil realmente é entender como é possível que, em cinco jogos de cinco, de rivais que já se conhecem perfeitamente, cada estilo tenha conseguido se impor de maneira tão clara em coisa de 30 minutos, para que a lavada fosse considerada irreversível..

No caso dos dois primeiros jogos, obviamente que ausência de Serge Ibaka também foi decisiva. O homem pode influenciar, e muito, os rumos de qualquer jogo, como vimos bem em seu retorno. Ainda assim, neste Jogo 5, o time texano conseguiu repetir os números auspiciosos dos dois primeiros confrontos. Por outro lado, não é possível também que não tenha passado pela cabeça de Scott Brooks que Popovich pudesse acionar Matt Bonner nesta quinta-feira e que abrisse mão de atuar com seus dois pivôs tradicionais ao mesmo tempo. Digo: os ajustes são sempre necessários na caminhada das equipes em um playoff. É o que acontece sempre.

Da mesma forma como não se pode relevar o fator emocional, com duas dúzias de atletas estressados, beirando a estafa, tentando resolver em quadra essa pendenga. E aí temos as duas melhores campanhas como visitante no campeonato – 30 vitórias, 11 derrotas para o Spurs longe de seus domínios, algo absurdo, contra 25 e 16 do Thunder. No entanto, sabemos também que a pressão não é lá uma exclusividade do ano de 2014. “Obviamente parece que o mando de quadra dá uma bela motivação para as equipes. Ambas estão confortáveis em casa. Então é por isso que optamos para não ir para OKC”, brincou Popovich.

Vamos ver o que sai daí, tentando sempre entender o que se passa para justificar tanto extremismo. Fato é que o Thunder agora está diante daquela situação de tudo ou nada, mas de volta ao conforto de seus aposentos neste sábado, Jogo 6. O Spurs está a uma vitória da final. Numa hora dessas, qualquer técnico aceitaria de bom grado uma vitória mesmo com meio ponto de diferença.


Em meio a trovões de Westbrook, uma vitória minúscula para Popovich
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Giancarlo Giampietro

Banco Spurs, OKC, Popovich

Até pode não dar em nada, mas é por essas e outras que Gregg Popovich merece o título de maior técnico da NBA desde a aposentadoria de Phil Jackson. O truque já é velho, mas não deixa de ser surpreender e admirar, né? Afinal, quantos têm coragem e pachorra para aplicá-lo? Restando ainda quase 20 minutos de um jogo valendo final de conferência, e quem mais sacaria todos seus titulares de quadra para afundá-los no banco de reservas?

O comandante do San Antonio Spurs não estava nada satisfeito com a cacetada que seus velhacos tomavam do Oklahoma City Thunder, nesta terça-feira, e optou por um de seus ardis. Tirou Parker, Duncan e Manu. Kawhi e Green (que depois voltaria). Sobrou até mesmo para o Splitter. E taca Matt Bonner em quadra! Se tivesse autoridade para tanto, certeza que ele mandaria Austin Daye tirar o blazer e jogar também.

Reserva Baynes que se vire com um Westbrook ligado no turbo: 40 pontos, mas em preocupantes 45 minutos; Durant jogou 41 e Ibaka, 35

Reserva Baynes que se vire com um Westbrook ligado no turbo: 40 pontos, mas em preocupantes 45 minutos; Durant jogou 41 e Ibaka, 35. Eles dão conta do recado

Com esse movimento, ele manda uma série de mensagens.

Para seus principais jogadores: “Estou decepcionado”.

Para Boris Diaw: “Mon Dieu, Boris, arremesse com confiança, s’il vous plaît!!!! Eu suplico.”

Para os demais reservas: “As portas estão sempre abertas”

Para a comunidade do basquete: “Sim, é possível”.

Para os repórteres de TV: “Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa”.

E, principalmente, para Scott Brooks: “Se viraê com esse presentinho”.

Porque o Spurs já não tinha nada (mais!!!) a perder. A batalha já estava cedida, então, no mínimo, ele tratou de reduzir suas baixas, pensando na guerra, que tem sequência no Jogo 5, de volta ao Álamo, em menos de 48 horas. O técnico passou um pito em seus principais jogadores e, ao mesmo tempo, os preservou, sabendo que, fisicamente, o outro lado tende a levar sempre a vantagem. E não fica apenas  nisso: se desse certo, ainda forçaria que seu concorrente mantivesse Durant, Westbrook e até mesmo o sacrificado Ibaka em quadra.

Bingo.

Com 3min31s restando no quarto período, Bonner (+12 de saldo!) e cavalaria reduziram a antes bombástica diferença do Thunder para 12 pontos, anotando sete em sequência. Cory Joseph ofereceu muito mais que Patty Mills em termos de deslocamento e pegada e ainda botou Ibaka no YouTube (ver mais abaixo), Boris Diaw aceitou o chamado e passou a atacar com agressividade, Marco Belinelli esteve mais solto, e a bola foi girada de um lado para o outro.

Os titulares simplesmente deixaram de praticar esse tipo de basquete após cinco excelentes minutos no primeiro tempo. Deixaram de fazer aquilo que o Spurs deve executar o tempo todo para combater um time muito mais atlético. A turma do fundão do banco deixou claro, então, que dava para encarar aqueles caras. Desde que do modo correto, com um ataque mais equilibrado, que resulta em melhores situações de arremesso (veja tabela abaixo) e diminui as chances de contragolpes mortais.

Reservas do Spurs contra Thunder no Jogo 4: 9/13 no garrafão, a partir de meados do terceiro período

Reservas do Spurs contra Thunder no Jogo 4: 9/13 no garrafão, a partir de meados do terceiro período

“Não jogos de modo inteligente consistentemente, e, de uma hora para outra estávamos tentando ver se Serge poderia dar um toco, ou não. Pensei em distribuir uma foto para eles no banco. Eles sabem quem é Serge. Mas foi realmente, de uma hora para a outra, um basquete pouco inteligente. Em vez de acertar os jogadores livres, começamos a atacar o aro sem inteligência, e isso resulta em tocos. Tivemos sete turnovers no primeiro tempo, mas na verdade foram 14 por causa dos sete tocos. E aí você precipita a diferença de 20 a 0 nos contra-ataques”, afirmou Popovich, durante a coletiva, numa loooonga resposta ao repórter JA Adande, da ESPN, que ficou até emocionado.

“Então você tem de jogar mais espertamente contra grandes atletas. Eles são talentosos, obviamente, mas a capacidade atlética e a envergadura deles é o que causa uma margem pequena de erro, e contra isso não dá para para se atrapalhar tanto como fizemos. E acho que temos de jogar com mais empenho. Eles jogaram com mais determinação que nós nesses dois jogos”, completou.

Claro, contra os reservas, a defesa adversária, cansada e também mais relaxada, já não tinha mais a mesma energia da etapa inicial e nem estava tão familiarizada assim com aqueles oponentes, mas tudo isso está incluído nas contas que Pop fez antes de tomar sua decisão.

E como Brooks responderia? Era um jogo que ele simplesmente não poderia perder. Seria uma catástrofe. Iria de Fisher-Lamb-Jones-Collison-Thabeet nessa? Baita arapuca: não só o quinteto não tem rodagem, como dificilmente apresentaria qualquer coesão. Então, que ficassem os craques, mesmo, para liquidar a futura. Foram substituídos apenas dois minutos depois, aí, sim, com a vitória garantida.

A vitória é de OKC, série empatada em 2 a 2, mas Pop deu um jeito de tirar alguns pequenos triunfos morais dessa. E ele precisava de um empurrão desses – e, se Reggie Jackson, com uma torção no tornozelo não puder jogar, melhor ainda. Estava aquela barulheira infernal no ginásio, Ibaka voltava a influenciar o jogo defensivamente, os cestinhas eram explosivos, Thabo Sefolosha nem tinha dado as caras… Enfim, o confronto ia pendendo perigosamente a favor de seus adversários, numa virada como a de 2012.

Agora, pode muito bem ocorrer de o efeito dessa cartada ser nulo.

Com o turbo acionado, magnífico, Westbrook atropelou os adversários nesta terça, construindo uma das linhas estatísticas mais brilhantes da temporada: 40 pontos, 10 assistências, 5 roubos de bola, 5 rebotes, 12/24 nos arremessos e 14/14 nos lances livres. Mamãe. Vejam só este lance:

Foi até engraçado ao vivo. O armador do Thunder atropelou Tony Parker e foi para a cesta feito um trovão. Depois de alguns minutos, porém, que a equipe da TNT (a melhor transmissão da NBA, tecnicamente) foi reparar que a roubada de bola veio com os dois pés fora da quadra. Em slow-motion, você percebe isso no ato. Quando o lance aconteceu, de tão rápido, ninguém apontou nada.

Ter de conter um sujeito desses já é um problemão. E aí, de repente, a gente vai lembrar que Brooks também pode atacar com aquele tal de Kevin Durant. O MVP da temporada, cestinha da liga em quatro das últimas cinco temporadas, com média de 27,4 pontos por jogo. Durant somou 31-5-5 dessa vez. Juntos, os dois astros contribuíram com 71 (de 105) pontos, 15 (de 22) assistências , 8 (de 12) roubos de bola e 23 (de 37) chutes de quadra certos e 21 (de 24) lances livres convertidos.

Essa dupla de craques não está nem aí para os minutos jogados por Bonner ou Joseph. Agora, os titulares de Popovich deveriam, sim ter tomado nota. Vamos ver na quinta se haverá qualquer tipo de repercussão diferente da parte deles.

Enquanto isso, San Antonio se prepara, de olho na previsão do tempo:

Possível previsão do tempo tenebrosa para o Spurs

Possível previsão do tempo tenebrosa para o Spurs


Vida nova: 5 jogadores que tentam salvar a carreira na NBA
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Giancarlo Giampietro

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

O esporte, assim como a vida, está rodeado de surpresas agradáveis, sim. Mas, ao mesmo tempo, decepção é o que não falta.

(Chorei.)

No jogo jogado, são diversos os atletas em quem se pode apostar uma fortuna, fazer planos grandiosos  e ver toda essa grana ir ralo abaixo. Por vezes, é questão de azar: uma lesão grave e precoce, por exemplo. Más influências externas também podem atrapalhar muito. A falta de personalidade para fazer valer o talento. Um técnico cabeça-dura e rancoroso. A simples avaliação errada de um departamento de scouts. E mais e mais fatores podem determinar uma aposta furada.

Mas qual é o momento exato para definir que uma determinada história deu errada? Até quando os dirigentes, treinadores, torcedores e analistas devem esperar para dar uma carreira como “acabada”? No Brasil, somos especialmente bons nisso. A facilidade que temos para julgar alguém como “lixo” é incrível. Muitas vezes sem saber nem quatro linhas sobre a vida ou o contexto em torno de um atleta qualquer.

Agora brecamos o negativismo por aqui, sem se apegar tanto a amarguras da vida, tá? Afinal, é final de ano, hora de erguer a cabeça, estufar o peito. Simbora.

Então, assim bruscamente, vamos virar o disco. Quer dizer, vamos identificar algumas das boas e surpreendentes histórias do início de temporada da NBA. Uma turma que vai usando os primeiros meses do campeonato para tentar prolongar suas carreiras:

Xavier Henry, ala do Lakers
O pai de Xavier jogava na Bégica. A mãe integrou a equipe feminina da universidade de Kansas. Seu irmão mais velho foi escolhido na primeira rodada do Draft de 2005 – na MLB. Quer dizer: o DNA estava ali, pronto para ser explorado. E não teve jeito: o garoto seguiu a trilha de esportista, com destaque desde cedo. Foi um dos destaques de sua geração no colegial, sendo eleito para jogar o McDonald’s All American, o Nike Hoops Summit (do qual foi o cestinha americano) e o Jordan Brand Classic. Badaladíssimo.

Xavier, astro colegial

Xavier, astro colegial

Depois de se inscrever na Universidade de Memphis, voltou atrás e seguiu a trilha da mãe e passou seu primeiro e único ano de NCAA jogando pelos Jayhawks. Na estreia, anotou 27 pontos e estabeleceu um recorde pela tradicional universidade. Tudo seguia de acordo com o plano, até ser selecionado pelo Memphis Grizzlies em 12º no Draft de 2010. Em suas primeiras semanas com Lionel Hollins, agradou o bastante para ser promovido a titular por 11 partidas. Aos poucos, porém, começou a sentir dores crônicas no joelho e, de janeiro em diante, foi escalado em apenas 10 jogos. Na segunda temporada, foi a vez de ele sofrer uma torção e ruptura de tendão no tornozelo.

Jogado de canto num time com aspiração de ir longe nos playoffs,  foi envolvido em uma troca tripla no dia 4 de janeiro por Marreese Speights (que seria um taa-buraco devido a lesões de Zach Randolph e Darrell Arthur), indo parar no New Orleans Hornets. Em sua nova equipe, nunca chegou a empolgar. Não passou dos 17 minutos por jogo em duas campanhas – teve médias no geral de 14,6 minutos e meros 4,3 pontos, acertando apenas 40,1% dos arremessos. Foi dispensado.

Talvez seja justo afirmar que, quando assinou um contrato  sem garantias com o Lakers para a atual temporada, ninguém deu bola. Até que, na pré-temporada, começou a fazer barulho e conseguiu passar pelos cortes para compor o elenco de um time que precisava de ajuda desesperadamente no perímetro, enquanto Kobe não voltava.

Ok, o ala vem com uma produção inconsistente, não é que esteja incendiando a cidade, mas ao menos seus espasmos indicam que talvez seja muito cedo ainda para que seja descartado. Só tem 22 anos.

(PS: Jonathan Abrams contou tudo com mais detalhe no Grantland esta semana).

Jordan Crawford, ala-armador do Boston Celtics
Crawford não era tão cobiçado assim quando adolescente e, para piorar, ainda perdeu todo o seu último ano de colegial devido a uma lesão de tornozelo. Ainda assim, fez o suficiente em Detroit para atrair algumas universidades, optando por se inscrever na tradicional equipe de Indiana, pela jogou por um ano (2007-2008).

Jordan Crawford, o armador

Jordan Crawford, o armador

Depois que o técnico Kelvin Sampson foi afastado, no entanto, transferiu-se para Xavier e teve de ficar uma temporada de molho por violar alguns dos mais diversos códigos que a NCAA impõe. Ainda assim, o cestinha conseguiu aquele que talvez seja o mais comentado lance de sua carreira, em 2009, quando enterrou na cara de LeBron James durante um coletivo em um camp organizado pelo próprio atleta (ou pela Nike em seu nome, digamos).

Quando voltou para as quadras para valer, arrebentou pelos Musketeers, com média de 20,5 pontos por jogo e 39,1% nos três pontos. Bastou para lhe garantir a 27ª colocação no Draft de 2010, o mesmo de Henry, para o Atlanta Hawks. Lá, ele arrumou uma confusão danada para os mais desatentos que fossem conferir as tabelas de estatísticas do time, uma vez que suas credenciais se misturavam com as de Jamal Crawford. Waka-waka-waka.

Mas esse foi basicamente o único destaque de sua passagem por Atlanta, mesmo, uma vez que foi repassado para o Washington Wizards ainda como um novato. Na capital americana, não demorou para deixar seu talento evidente (um pontuador criativo a partir do drible), ao mesmo tempo em que foi devidamente posicionado na turma dos cabeças-de-vento JaVale McGee e Andray Blatche como uma figura que não ajudava em nada na química no vestiário.

Em dois anos e meio pelo Wizards, por vezes substituindo John Wall na armação, ele conseguiu dois triple-doubles e algumas noites incríveis de cestinha, com quando 39 pontos contra o Miami Heat. Mas nunca chegou nem a 42% no aproveitamento de quadra e tirou muitos companheiros (e técnicos e torcedores) do sério com seu “apetite” pela bola. Em fevereiro deste ano, foi chutado fora da cidade e acolhido pelo Boston Celtics, em troca de um lesionado Leandrinho. Para ver a moral que tinha.

Num time em derrocada física, não ajudou muito nos playoffs. Mas eis que, nesta campanha, em meio a um time de renegados ou desprestigiados, Crawford encontrou a Luz. Ou Brad Stevens, no caso, que o transformou num armador competente, enquanto não termina a reabilitação de Rajon Rondo. O técnico novato guia o a talentoso jogador em sua temporada mais eficiente na liga, e de longe, na qual, não por acaso, é a que está mais passando a bola.

Ao Zach Lowe, do Grantland, Stevens jura que não teve uma conversa do tipo “venha-conhecer-jesus” – e foi esta a pergunta de jornalista, de me matar de rir.

“A única coisa que eu queria ter certeza era de que ele sabia do meu ponto de vista: que era um novo começo e que acreditamos nele”, afirmou. “Eu já tinha visto ele ser quase impossível de se parar na faculdade, em um jogo que eu treinei contra ele. Eu sabia que ele era um cestinha implacável. A outra coisa que eu sabia era que ele não está com medo em momento algum. Mesmo no Torneio da NCAA, numa atmosfera tensa daquelas, e isso pede muito colhão.”

E o que saiu daí? Simplesmente que o Miami Heat está interessado em seus serviços.

DeMarre Carroll, ala-pivô do Atlanta Hawks
“Junkyard Dog”.

Algo como “Cachorro de Ferro-Velho”. Bravo, salivando para dar umas boas dentadas em quem ousar escalar e saltar a grade. Se cuida aí, mermão!

(Associo sempre esse tipo de cão ao doberman, que anda sumido de nosso ecossistema. Sem preconceito, ok.)

Bem, era esse o apelido de Carroll em seus tempos de universitário, especialmente quando ele jogava sob a orientação de seu tio, Mike Anderson, em Missouri – depois de duas temporadas por Vanderbilt.

Criado no Alabama, o ala-pivô não despertava tanta atenção assim dos olheiros, mas conseguiu bolsa-atleta  um universidades grandes – embora não necessariamente de ponta, esportivamente falando. Pelos Tigers, teve seu grande momento ao liderar uma campanha rumo às quartas de final do Torneio da NCAA.

Foi quase uma dádiva para um garoto que havia recebido uma notícia para lá de preocupante um ano antes. Incomodado com uma persistente coceira nas pernas, Carroll procurou dermatologistas para saber se tinha alguma espécie de alergia. Depois de muita investigação, acabou constatado algo bem mais grave: uma doença no fígado. Pior: uma doença no fígado que muito provavelmente exigiria um transplante no futuro.

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

A doença foi mantida sob sigilo por um bom tempo – segundo os médicos, era algo que não afetaria sua carreira. Ele poderia jogar o quanto quisesse e cuidar do órgão depois. Acontece que, após sua grande campanha nos mata-matas universitários, durante os treinos privados pré-Draft, o segredo acabou revelado. Por mais que tentasse amenizar a notícia, viu sua cotação cair. Não era o fim do mundo, contudo. Acabou escolhido pelo Memphis Grizzlies em 27º.

Aos 23 anos – mais velho que o calouro regular destes tempos –, estaria pronto para ajudar na rotação de Lionel Hollins, antes da chegada de Xavier Henry. Ou não. Mesmo num elenco jovem, em formação, na lista dos minutos distribuídos pelo técnico, foi apenas o nono mais utilizado.

Na temporada seguinte, foi trocado para o Houston Rockets, que devolveu Shane Battier ao time do Tennessee. Menos de um mês depois, em abril, foi dispensado. Só voltou no campeonato seguinte, defendendo o Denver Nuggets. Ficou no clube de dezembro a fevereiro, quando foi novamente mandado para o olho da rua, tendo participado de apenas quatro partidas.

De qualquer forma, a recuperação estava por vir. Foi contratado prontamente pelo Utah Jazz, encontrando espaço no banco de reservas do time, fazendo aquilo que mais sabe: correr pela quadra toda, enchouriçar a vida de quem estiver driblando nas redondezas, lutar por rebotes. O serviço sujo. Mesmo sem Deron Williams, o time deu um jeito de se intrometer entre os oito classificados aos playoffs do Oeste.

Depois de mais um ano de contrato pelo Utah Jazz, foi recompensado nesta temporada com uma proposta de certa forma surpreendente – mais de US$ 7 milhões por três anos. E, sim, para quem interessar possa, um valente como Carroll já garantiu US$ 12 milhões na carreira, no mínimo.

“Eu sou o junkyard dog e você realmente não pode tirar isso de mim”, orgulha-se.

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ala do Philadelphia 76ers
Quase todo o elenco do Sixers podia estar listado aqui, na verdade. É o time com mais refugos desde a montagem do Charlotte Bobcats em seu draft de expansão. Mas vamos com este, ao menos por enquanto.

(Além do mais, com um nome tão comum como esses, é um caso perfeito para esta lista, não? Numa liga dominada por LeBrons, Kobes, Dwyanes e Carmelos, fica difícil prosperar como “James Anderson”. Para piorar, ele não consegue ser nem mesmo o “J.A.” mais bem ranqueado na pesquisa do Google, perdendo para um jogador de críquete qualquer homônimo.

Mas, então, sobre o ala Anderson: aqui estamos falando de mais um “McDonald’s All-American”, vindo do Arkansas. Em seu primeiro jogo de NCAA, por Oklahoma State, marcou logo 29 pontos. No segundo ano pela equipe, teve média de 18,3 pontos e foi chamado para a Universíade. Ao final da terceira temporada, com 22,3 pontos, foi eleito o jogador do ano da conferência Big 12.

Estava pronto, então, para entrar na NBA, sendo selecionado pelo San Antonio Spurs em 20­º. E aí que ele se tornou um raro caso de jovem jogador que não evoluiu sob a tutela de Gregg Popovich no Texas. Se, por um lado, teve um pouco de azar com lesões na temporada de novato, por outro ousou reclamar do técnico por não receber os minutos que achava justo ter nos campeonatos seguintes. Aiaiai. Vagou pelo Austin Toros, a filial de desenvolvimento do clube, sem causar sensação alguma e simplesmente não teve seu contrato estendido. O Coach Pop simplesmente desistiu do atleta em dois anos. A partir daí, passaria um bom tempo na estrada viajando de um lugar para outro.

Anderson tentou, então, um emprego com Danny Ferry no Atlanta Hawks, mas não foi aprovado. Foi inscrito na D-League novamente, pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Houston Rockets. Foi chamado novamente pelo Spurs para cobrir um período de lesão de Stephen Jackson. Voltou para o Vipers, mas foi promovido de imediato para o Rockets, pelo qual disputou apenas dez partidas.

Na hora de escolher os chutadores que rodeariam James Harden e Dwight Howard em quadra, porém, Daryl Morey preferiu outras opções e foi mais um a dispensar Anderson. E aí Sam Hinkie, ex-braço direito de Morey, o recolheu de imediato na lista de waiver.  Em Philadelphia ele também reencontraria o técnico Brett Brown, ex-assistente do Spurs. Ufa.

“Esta é definitivamente uma grande oportunidade para mim. Sinto que esta é o melhor chance que tive até agora. Definitivamente quero aproveitá-la”, afirma Anderson, que começou a temporada como titular nas alas. Ok, agora está saindo do banco, mas jogando mais de 20 minutos por partida, com média de 10,9 pontos e aproveitamento de 47,7% nos arremessos neste mês. Aos 24 anos, ele enfim conseguiu um pouco de estabilidade.

“Ele se encaixa com nosso estilo com suas habilidades para correr na quadra”, disse Brown. “Ele tem um temperamento calmo. Sabe, talvez ele apenas esteja em uma fase de sua carreira em que vai aproveitar e seguir adiante. Talvez eu e nosso clube estejamos pegando James Anderson no momento certo de sua carreira.”

Josh McRoberts, ala-pivô do Charlotte Bobcats
Era 2005, numa época em que a NBA ainda permitia que os colegiais entrassem direto na liga, sem precisar passar pela hipocrisia do mundo da NCAA. De sua geração, Monta Ellis, Lou Williams, Martell Webster, Gerald Green, CJ Miles, Amir Johnson e Andrew Bynum, todos McDonald’s All-Americans, aproveitaram a brecha e se declararam para o Draft. McBob, considerado o ala-pivô mais promissor do país na categoria, optou por jogar em Duke antes de ganhar seus milhões.

Daí que… Podemos dizer que ele foi uma das maiores frustrações no reinado do Coach K. O potencial atlético do jogador sempre foi evidente, assim como sua versatilidade, preenchendo a tabela de estatísticas. Mas ainda havia muito o que trabalhar em seu jogo, como o físico, a consistência e fundamentos (rebote nunca foi o seu forte, por exemplo, a despeito de sua altura, impulsão e agilidade).

Os scouts começaram a se cansar do cara, a garotada em Duke também, e McBob resolveu sair ao final da segunda temporada. No fim, não fez uma coisa (entrar cedo, após o colegial, com base na aposta em seu talento natural), nem outra (ir para a faculdade para desenvolver seu jogo e se candidatar como um prospecto refinado). Resultado: despencou até a 37ª posição do Draft de 2007, via Portland Trail Blazers.

Na Rip City, o ala-pivô foi o jogador que menos minutos recebeu de Nate McMillan: apenas 28. No ano todo!  Bem, em 2008 acabou trocado para o Indiana Pacers, voltando para sua cidade natal com a benção de Larry Bird. Demorou dois anos, mas na temporada 2010-11, enfim, ele virou um jogador de NBA de verdade, com 22,2 minutos por partida, dividindo posição com Tyler Hansbrough, enquanto David West não chegava.

Como agente livre em 2011, assinou com o Los Angeles Lakers – a ideia dos Busses era combiná-lo com Troy Murphy para tentar suprir a ausência de Lamar Odom. Não deu tão certo assim, e na temporada seguinte ele acabou envolvido na supertroca que levou um suposto superpivô que marcaria história no time. “Isso não me incomoda. Não é que eles me trocaram por uma máquina qualquer ou algo assim. Eles me trocaram por um dos melhores jogadores da liga”, afirmou.

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

Em Orlando, McBob nem bem arrumou as malas  e já teve de se mudar para Charlotte, aos 25 anos.  “Estava em uma situação horrível em Orlando, onde eles só queriam me ver fora dali. Eles queriam jogadores jovens e contratos expirando. Em Los Angeles, também não estava muito bem, mas isso não é culpa de ninguém. Foi apenas o jeito como as coisas evoluíram para os agentes livres depois do locaute”, disse.

E foi pelo Bobcats que se encontrou.  Embora continue mal nos rebotes, vem com o melhor índice defensivo de sua carreira. Mas o que chama mais a atenção, mesmo, é sua média de 4,3 assistências por jogo, tecnicamente empatado com o armador Kemba Walker no fundamento. Além disso, ele é o segundo que mais cestas de três fez na temporada, atrás também de Walker.

“Tem sido ótimo para mim até aqui, em termos de ganhar uma oportunidade de jogar na minha posição. Você não quer nunca se acostumar em quicar de um lado para o outro. Este é meu sexto ano e já vi tanta coisa. Agora só quero ficar em um lugar em que eu tenha a oportunidade de ajudar e, tomara, vencer algumas partidas”, disse o ala-pivô.

No que depender Michael Jordan, de Charlotte ele não sai: “Espero que ele não exerça sua cláusula contratual. Temos de fazer de tudo para manté-lo”, disse o proprietário da franquia.

Menções honrosas: Gerald Green em Phoenix, Michael Beasley em Miami, Andray Blatche no Brooklyn, Wesley Johnson em Los Angeles e Lance Stephenson em Indiana. Quem mais?


Parker faz terapia com título europeu apenas 3 meses após decepção em Miami
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Giancarlo Giampietro

Tony Parker e os Bleus comemoram

Tony Parker arranjou um bom motivo para celebrar em quadra após a depressão de junho

A gente não sabe como anda a cabeça de Gregg Popovich nestes dias, mas sobre Tony Parker podemos tranquilamente dizer que é, hoje, um dos caras mais felizes do mundo. O armador francês ignorou qualquer tipo de “recomendação” de seu treinador do San Antonio Spurs, decidiu encarar o EuroBasket aos 31 anos, mesmo com todo o desgaste – físico e emocional – que viveu na temporada passada da NBA e viu seu esforço premiado com um saboroso primeiro título continental.

Ok, obviamente esta não foi a primeira grande conquista da carreira do francês, que já ganhou o título da liga norte-americana em três ocasiões, sendo o melhor jogador das finais de 2007. Mas algo que me diz que soa muito melhor para o armador a combinação de “silenciar a fanática torcida eslovena, dominar um batalhão de armadores de espanhóis e fechar a conta contra a Lituânia” do que “entortar os velhacos Eric Snow e Damon Jones” na decisão.

Nos mata-matas, especialmente nas quartas e nas semifinais, Parker aprontou como o diabo em quadra e comandou uma talentosíssima seleção a um merecido e demorado título. Uma tremenda recompensa, considerando o esforço que fez nos últimos dias. Vejamos: dos grandes astros europeus trintões, foi um dos poucos a se apresentar para a disputa, enquanto gente como Dimitris Diamantidis, Juan Carlos Navarro, Pau Gasol e Dirk Nowitzki ficou fora.

Aqui, não se trata de uma crítica a essas craques que já se sacrificaram muito nos torneios Fiba durante a década passada e sofreram bastante com problemas físicos nas últimas temporadas, tendo um ou dois motivos razoáveis para pedir dispensa. Mas, antes disso, vale como uma nota de destaque para o francês, que também tinha tudo para abrir mão da competição, precisando de descanso para as articulações e, especialmente, para a cabeça, após a dolorida derrota para o Miami Heat.

Embora já pareça uma eternidade (né?) desde que testemunhamos os acontecimentos da final histórica da campanha 2012-2013 da NBA, só se passaram três meses e dois dias entre o Jogo 7 em Miami e o duelo França x Lituânia deste domingo. Muito pouco. Mas Parker decidiu fazer terapia em quadra e, ao lado do melhor amigo Boris Diaw e de Nando De Colo, pôde celebrar uma conquista que só pode ser reenergizante, ainda que às vésperas do início de mais um training camp pelo Spurs, na (glup!) Academia da Aeronáutica, pela qual Popovich se formou em 1970, lá numa época em que a Guerra Fria ainda era meio assustadora.

Os treinos pelo clube texano, aliás, recomeçam já na próxima segunda-feira, dia 30 de setembro. Isto é, não sobram nem dez dias para o armador respirar. Por isso, a princípio, Popovich, sempre muito metódico, controlador em sua abordagem de gestor, se manifestava preocupado com o eventual cansaço, para ficar num eufemismo, que poderia arrebatar seu francês favorito.

Agora, por outro lado, deve se sentir intimamente aliviado por não ter forçado a barra para vetá-lo – aliás, seria uma luta em vão também, pois o jogador já fez muito pela franquia, é bem grandinho e tem o direito de se preparar do modo como bem entende. No coração generoso do treinador, deve haver espaço para comemorar o fato de que ao menos três de seus rapazes conseguiram celebrar por alguma coisa relacionada ao basquete. E para Parker obviamente não foi qualquer coisa.

*  *  *

Parker terminou o EuroBasket com médias de 19 pontos, 3,3 assistências, 2,1 rebotes e 50,7% nos arremessos, sendo eleito o MVP do torneio (veja sua ficha completa aqui). Mas a melhor notícia para Popovich, mesmo, talvez sejam os 29,6 minutos que ficou em quadra. Ainda que tenha disputado 11 partidas, algumas muito estressantes, no geral o astro foi preservado pelo técnico Vincent Collet.

*  *  *

Ocupando o cargo desde 2009, Collet, 50, que não é treinador exclusivo da seleção francesa, ganhou uma justa renovação de contrato: seu vínculo com a federação agora vai até as Olimpíadas do Rio 2016.

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A enxurrada de franceses que invadiu a NBA durante a última década só serviu para atestar o potencial atlético de seu basquete. A coisa começou com Parker – se preferirem uma abordagem realmente cronológica, teríamos de lembrar o tenebroso Jerome Moiso nos anos 00 –, passou por Diaw, chegou a Batum e, no meio do caminho, envolveu uma sacolada de pivôs crus, mas fisicamente impressionantes. Entre eles, Alexis Ajinça, ele que, em Charlotte, já foi uma das milhares de vedetes de Larry Brown, para ser, pouco depois, prontamente desprezado pelo vitorioso e genioso treinador.

Não há como assistir o esguio pivô em quadra e não ficar impressionado – ele é praticamente a definição do termo “potencial” no basquete. Uma envergadura absurda e muita agilidade para alguém de seu tamanho. Neste EuroBasket, ele entrou na fogueira, cobrindo emergencialmente os desfalques de Joakim Noah, Ronny Turiaf e Ali Traoré e deu conta do recado, com médias de 9,1 pontos, 7 rebotes e 1,3 toco em apenas 19,2 minutos. Sua presença debaixo do aro foi importantíssima para solidificar a defesa dos campeões europeus e, no ataque, ele também se mostrou surpreendentemente eficiente para aproveitar a rebarba do que seus companheiros mais talentosos criavam, convertendo 54,5% de seus arremessos.

Ajinça foi draftado pelo Bobcats em 2008, quando, num destes treinos privados de última hora, encheu os olhos de Brown. A ponto de o técnico torrar o saco de seus patrões para que comprassem uma escolha extra na primeira rodada – a 20ª – para adquiri-lo. No total, em duas temporadas, o jovem pivô acabou jogando apenas 212 minutos pelo time de Charlotte. Trocado para o Dallas Mavericks e, depois, para o Toronto Raptors, teve de voltar para casa em 2011 com a confiança em frangalhos. No EuroBasket, mostrou estar, enfim, no caminho certo. Vale observá-lo na próxima temporada europeia.


Recusa de Scott Machado ao Spurs em 2012 ganha outro contexto após duas demissões
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado

Não sei bem como me posiciono na hora de falar sobre “O que aconteceria se… ?”, sobre rotas alternativas, caminhos hipotéticos, saca?

É meio que da “natureza humana” (gasp!) ficar repensando as coisas? Remoendo, remexendo? Talvez. Mas é fato também que nem todo mundo age desta forma. São admiráveis também essas pessoas resolutas, que avançam como um trator, só mirando para a frente, sem volta. Desde que tenham um pouco de escrúpulo, claro.

Todo esse papinho filosófico para levantarmos uma pergunta daquelas, envolvendo Scott Machado:

“E se ele tivesse dito sim ao San Antonio Spurs?”

Foi uma lembrança do leitor “HFavilla”, em nosso post anterior sobre a dispensa do armador pelo Golden State Warriors. A de que o brasileiro nova-iorquino estava prestes a ser selecionado pelo clube texano no Draft do ano passado, na 59ª posição, mas forçou a barra para que Gregg Popovich o deixasse em paz.

Escreveu o “HFavilla”: “O erro do Scott aconteceu na noite do Draft, quando desprezou o San Antonio Spurs, que tem um armador que, apesar de estar no seu auge técnico, já é veterano e não possui nenhum reserva consistente ainda, fazendo com que o time procure por muitas alternativas. Passaria uns 2 anos evoluindo na Europa? Sim, provavelmente, mas é assim que as coisas funcionam por lá”.

Lembremos aqui o que Scott falou ao vizinho Balassiano em 2012: “O San Antonio Spurs me queria, e eu acabei recusando. Disse ao Aylton (Tesch, seu agente na época) que preferia tentar a sorte nas Ligas de Verão, porque sabia que iriam me mandar jogar fora dos Estados Unidos, algo que eu não queria. Foi uma decisão rápida, na hora mesmo, e que acabou dando certo. Logo depois o Houston Rockets me chamou pra jogar”.

Bem, nada na liga norte-americana é definitivo, como Scott agora já sabe bem. O que “dá certo” numa semana pode não se sustentar no mês seguinte. Contratado pelo Rockets, demitido pelo Rockets. Contratado pelo Warriors…

Reparem no termo que ele usa: “Uma decisão rápida, na hora mesmo”. Por ímpeto, claro. Scott cresceu em Nova York como jogador de basquete, uma cidade com muita tradição em seus playgrounds e colegiais, tendo revelado dezenas e dezenas de talentos que viriam a se tornar profissionais, especialmente armadores – Stephon Marbury, Sebastian Telfair, Mark Jackson são alguns exemplos de uma lista vasta. Neste contexto, imagine a expectativa, a pressão (também financeira), a ansiedade de um garoto da megalópole quando ele se aproxima da liga. Embora não tivesse o maior cartaz, o brasileiro fez um bom trabalho pela modesta universidade de Iona, entrou no radar dos scouts e desenvolveu legítima ambição de ser um cara de NBA.

Daí que, quando as coisas não saem conforme o esperado – descolar um contrato garantido na noite do Draft –, por vezes você se sente impelido a tomar um atalho, a querer resolver as coisas na hora. Foi a decisão que o armador tomou. Em vez de se colocar sob a alçada de uma franquia que é notória no desenvolvimento de seus atletas, preferiu se tornar um agente livre para ampliar seu leque de negociações. Fechou rapidamente com o Houston Rockets, mas acabou perdido nos planos do irrequieto gerente geral Daryl Morey.

Agora, as ressalvas. Os calouros selecionados na segunda rodada de um Draft também não têm presença certa na NBA, diga-se. Depende muito da equipe, de suas necessidades imediatas e do quanto gostam de um determinado jogador. Por exemplo: em 2008, o Bulls se empenhou horrores para ter o turcão Omer Asik. O Portland Trail Blazers o escolheu como o número 36 daquele recrutamento, mas foi convencido a repassá-lo para Chicago em troca de três escolhas futuras de segunda rodada. Três! Quer dizer, o gerente geral John Paxson realmente queria Asik.

No caso de Scott e do Spurs, ao fazer a escolha na penúltima posição da lista, não saberemos dizer se o Spurs estava necessariamente enamorado por Scott. Seria o caso de perguntar para Popovich ou RC Buford algum dia desses. Depois da recusa do brasileiro, o time optou pelo ala-armador Marcus Denmon, da universidade de Missouri. E não deu outra: Denmon iniciou sua carreira como profissional no basquete francês, sendo campeão nacional pelo Élan Chalon ao lado do pivô Shelden Williams.

Neste ano, Denmon participou da liga de verão de Las Vegas pelo Spurs. Quer dizer, estão monitorando o rapaz, de 23 anos. Na rotação do time, teve de dividir espaço com Nando De Colo e Cory Joseph, que são prioridade, e terminou com médias de 10,8 pontos, 2,8 assistências e 2,6 rebotes, em 21,8 minutos. O que ele faz de melhor é arremessar de fora, e ele mandou bala da linha de três pontos sem piedade (26 chutes no total, mais de cinco por jogo), que é sua especialidade. Acertou 38,5% desses disparos, um bom aproveitamento para as peladas que são esses confrontos. Pensando em seu progresso, seria um eventual substituto para Gary Neal, sendo moldando da mesma forma (em termo de vocação ofensiva), mas ainda com deficiências no drible. Não está pronto para a grande liga ainda, mas não é o mesmo que Rockets e Warriors acham o mesmo sobre Scott?

Há outros casos de escolhas de segunda rodada de Buford e Popovich que ainda não foram aproveitados no elenco principal. Entre os americanos, o ala-armador Jack McClinton (51 em 2009) e o pivô James Gist (hoje um nome top na Euroliga, 57 em 2008) são dois exemplos recentes. Temos também diversos jovens europeus nessa condição: o húngaro Adam Hanga em 2011 (também 59), o inglês Ryan Richards em 2010 (49), o centro-africano Romain Sato em 2004 (52), entre outros. Mas aí as coisas fazem mais sentido: são os clássicos casos de “stash picks”, quando as franquias da Europa fazem a seleção com o plano de já deixá-los nas ligas europeias para desenvolvimento.

Enfim, ser selecionado pelo Spurs e virar um jogador de NBA no futuro, então, não é uma ciência exata. Por outro lado, que o brasileiro não estava pronto também para a liga fica claro.

Mas, sabendo o que sabemos hoje, será que ali, nos minutos finais de uma looonga noite de 28 de junho de 2012, quando foi abordado pelos diretores do time texano, será que a resposta seria diferente?

 


Splitter vai renovar por US$ 36 milhões e quatro anos. Spurs não deu chance para o “se”
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Giancarlo Giampietro

Splitter pra mais dois pontos

Ah, como seria a trajetória de Tiago Splitter na NBA em outra equipe? De repente sem a pedagogia de Gregg Popovich, que o segurou por um ano e meio até que estivesse devidamente adaptado ao que ele espera dos jogadores do Spurs. Ou sem a necessidade de dividir espaço, toques e pontos com um mito chamado Tim Duncan. Parece que a gente nunca mais vai saber.

Nesta terça-feira, Adrian  “Fura o furo” Woynarowski, do Yahoo! Sports, publicou que a franquia texana e o pivô catarinense já encaminharam a renovação de seu contrato – as partes começaram as tratativas na segunda-feira e encaminharam o acordo raaaapidamente. Segundo o renomado jornalista, serão US$ 36 milhões pagos ao catarinense por serviços a serem prestados nas próximas quatro temporadas – ele se tornará, assim, o terceiro brasileiro, mais bem pago da liga, atrás de Nenê e Anderson Varejão.

(Nota: o vínculo ainda não é oficial.  Deve-se respeitar a moratória imposta pela liga até o dia 10 de julho, quando os clubes podem anunciar suas negociações. Até lá, nem dirigentes, nem jogadores podem comentar a respeito.)

Em entrevista coletiva neta terça-feira pela manhã, talvez ciente das conversas adiantadas para sua extensão contratual, Splitter já havia dito que considerava o Spurs “a melhor opção” para sua carreira. “É claro que o basquete é um esporte envolvido por muitos negócios, e nós não sabemos o que vai acontecer. Mas, pelo estilo de jogo, pela oportunidade que tive e por já conhecer o sistema, o técnico e forma de trabalho, o melhor pra mim seria ficar no Spurs.”

Segundo consta na mídia norte-americana, o Portland Trail Blazers, desesperado atrás de um guarda-costas para proteger LaMarcus Aldridge, estaria interessado em enviar uma proposta a Splitter, que era um agente livre restrito – poderia negociar com qualquer equipe, mas o Spurs teria o direito de cobrir uma eventual oferta. Gregg Popovich e RC Buford já logo disseram: “Nem vem, que não tem”. Foi a mesma coisa, aliás, que o Indiana Pacers fez com Roy Hibbert no ano passado – uma vez que o Blazers se engraçou para seu gigantão, o martelo da renovação foi batido prontamente.

Então, agora, temos o seguinte: Splitter segue em San Antonio para render e ajudar Tim Duncan sempre quando necessário, até que o legendário pivô decida pela aposentadoria. Em termos de impacto e manchetes, não foi o desfecho mais atraente, mas é o mais seguro. Já se sabe o que esperar do catarinense no clube texano no próximo ano: defesa, luta por rebotes, finalizações em pick-and-roll com Tony Parker e, possivelmente, Manu Ginóbili, umas cinco ou sete cestas por partida, eficientes corta-luzes e a certeza de que vai entrar em quadra novamente brigando pelo título.

*  *  *

A despeito da negociação concretizada, o pivô não vai defender a seleção brasileira na Copa América deste ano. Disse que precisava de descanso, independentemente da papelada assinada. Compreensível: seriam suas primeiras férias para acompanhar o filho e respirar um pouco após a temporada mais desgastante que já viveu – lembrem-se que o catarinense jogou as Olimpíadas em agosto do ano passado e que sua temporada se estendeu até junho. De 2005 a 2012, ele se apresentou para a CBB toda vez que foi chamado.

*  *  *

Não tem jeito: grandalhões são pagos quando chega a hora de entrarem no mercado de agentes livres. Com um pivô talentoso como Splitter, não seria diferente. Seu segundo contrato não deixa também de recompensá-lo pelo desconto que deu para o Spurs no primeiro vínculo: a média anual de cerca de US$ 3,6 milhões não fazia jus ao que o MVP da Liga ACB ganharia no mercado europeu.

*  *  *

Outro candidato ao título acertou uma renovação contratual importantíssima nesta terça: o Indiana Pacers, segurando David West. O pivô deve ganhar US$ 12 milhões em cada um dos próximos três campeonatos. Um valor que contextualiza bem a bolada que Tiago vai levar no Texas.


LeBron James se afirma em quadra após desafio mental de Popovich e ganha o 2º título
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Giancarlo Giampietro

LeBron, MVP

Agora, suponho, vão deixar o amarelão em paz

Será que LeBron James fez ioga ou imergiu em meditação nesta quinta-feira?

Pode parecer a pergunta mais besta do mundo, mas bateu na cuca em algum momento desse Jogo 7, antes de sabermos que tudo desembocaria no segundo título seguido do Miami Heat, com uma vitória por 95 a 88, e numa performance histórica do ala.

Pensei por influência de um veterano jornalista americano, Roland Lazenby, que andava biografando Michael Jordan e tem bom trâmite com o que se passa no universo do Mestre Zen – seja em Chicago, seja em Los Angeles.

Vira e mexe, e Lazenby entra no Twitter para despejar uma série de notinhas saborosas sobre o que se passou com o técnico mais vitorioso da história da NBA. Calha que, ao acessar Jackson e seus trejeitos e causos, uma hora ou outra você vai passar por esse lance espiritual. Como fez nesta quinta.

Em muitos de seus livros, P-Jax bate de modo veemente nesta tecla: a da preparação mental (espiritual?) de seus atletas. As sessões de meditação, reflexão, (des)conscientização que promovia com seus jogadores são legendárias. A ponto de não sabermos exatamente qual o alcance dessas técnicas. Há jogadores que juram que saíam do tatame num outro astral. Há aqueles que deveriam gastar toda a energia de uma noite de descanso ao se segurar tanto para não cair em risos. Pudera: imagine você se sentar ao lado Dennis Rodman ou Will Perdue, de pernas cruzadas no chão, e acreditar que tudo aquilo é sério.

Mas aí basta se lembrar de todos os títulos de Jackson como jogador e técnico, que a piada murcha que só. Deve ser sério, né?

Na visão do treinador, essas sessões ajudavam o jogador a mentalizar o jogo, a imaginar o que se passaria em quadra. Era como se, mentalmente, eles já disputassem aquela batalha horas antes de entrar nas vias de fato.

Ao ver LeBron James extremamente confortável neste Jogo 7, foi daí que me veio esse flashback. O cara simplesmente estava relaxado em quadra. Tranquilo, confiante, assertivo. Sendo que, das arapucas armadas pelo San Antonio Spurs, nada havia mudado na sua frente. Kawhi Leonard, Boris Diaw ou Danny Green continuavam recuando sem pudor algum, dando todo o espaço do mundo para LeBron chutar. Ou, principalmente, pensar se deveria chutar.

LeBron para o jump shot

Green recua e, depois, tenta em vão se aproximar de LeBron

Em primeiro momento, o mais apressado ou espírito de porco, pode querer traduzir isso num instante para “amarelar”. “Quem é craque decide” etc. Mas é preciso entender as razões por trás da hesitação.

Quando LeBron entrou na liga em 2003, o grande ponto fraco de seu jogo era o chute de longa distância. Em 2007, quando ele enfrentou Tim Duncan em uma primeira decisão, ainda era o caso (sua média de três subiu apenas de 29% no ano de novato para 31,9%). Demorou realmente um bocado até ele atingir a marca de 40,6% nesta temporada. Vejamos: 31,5% em 2008, 34,4% em 2009, 33,3% em 2010, 33% em 2011, 36,2% em 2012. Até que bateu pela primeira vez a marca de 40% agora – algo aliás que está longe de ser valorizado no ala: estamos habituados a tratar os talentos do ala como divinos, com dádivas, ignorando o quanto o adolescente já milionário trabalhou para expandir seu arsenal.

Mas, no geral, observando estes números acima, o que a gente tira disso? Que, consistentemente, LeBron nunca foi um grande atirador de fora, enquanto, lá dentro, seu aproveitamento é excepcional.

O que Gregg Popovich ordenou, então? Que seus rapazes congestionassem ao máximo o garrafão. Que fizessem o sujeito arremessar de fora, sim, senhor, a despeito de sua notória evolução nos últimos anos – acreditando que essa era ainda, sim, uma fraqueza do oponente. Ou, no mínimo, o aspecto em que ele era menos forte. E essas coisas ficam na sua cabeça. Você sabe exatamente o que geralmente dá certo em quadra. Pode acontecer até, mesmo, com o autoproclamado “Rei”, que, nos primeiros seis jogos, acertou apenas 29,2% do perímetro.

O que acontece: LeBron percebe que está sendo desafiado – ‘Estão aí esses Spurs o desafiando a meter bala de longe, e eu vou fugir da raia?’. Ao mesmo tempo, inteligentíssimo que é, sabe que tudo não passa de uma armadilha, que não pode perder de foco as cortadas vorazes rumo ao aro. Mas os espaços não estão ali para serem aproveitados. Daí que você recebe a bola e está criado um impasse – um impasse que precisa ser resolvido em segundos, e, não, em minutos ou horas que o jornalista pesadão leva para redigir um texto desses. LeBron, sim, pensa. Acabou pensando demais em quais caminhos seguir, quais decisões tomar – daí a diferença clara de fãs e fãs quando comparado a Kobe Bryant, alguém muito mais agressivo por natureza, ou fominha, mesmo. Kobe vai atacar, atacar, atacar, até romper um tendão de Aquiles não deixar mais. O craque do Heat primeiro quer entender qual a opção mais adequada.

No Jogo 7, porém, ele pareceu ter pisado em quadra já com toda essa coisa de compreensão finalizada, sem perder suas características. Deu assistências nas primeiras posses de bola do time e também aceitou a provocação do Spurs e disparou. Converteu os dois primeiros jumpers e, a partir daí, virou automático…

Cheguei a twittar – vejam lá o imediatismo… – de que talvez não fosse o melhor comportamento. Que talvez ele pudesse ficar acomodado demais com esses arremessos e que, uma hora, cedo ou tarde, começaria a dar aro. Era isso, elaiá, que Popovich esperava também. Mas o período de seca nunca veio. Acertou 5-10 de três pontos, como se fosse um Ray Allen. Matou 12 de 23 chutes no geral. E ainda bateu e converteu oito lances livres. Some tudo e chegue a 37 pontos. E, como LeBron é diferente, suas contribuições não se resumem a chuta-chuta, cesta-cesta. Coloque na planilha mais 12 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. Coisa de MVP.

Escrevo sem saber como foi a quinta-feira da estrela. Quais rituais seguiu. O que mudou em sua cabeça para que, após seis jogos em que os truques mentais de Popovich,  fosse prevalecer de tal modo nesta quinta.

O que sei é que, a essa altura, em South Beach, ioga e meditação definitivamente LeBron James e sua turma não vão fazer.

*  *  *

A noite de Battier, Tiago Splitter, mais uma bobagem bizarra de Popovich, o esforço de Tim Duncan… Vamos dividir essas coisas e outras pautas que forem sugindo em posts menores no decorrer desta sexta-feira e fim de semana, ok? Tem tempo.


Quando até Gregg Popovich falha: o jogo que o técnico do Spurs deixou escapar
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Giancarlo Giampietro

Gregg Popovich

Gregg Popovich teve seu momento de Frank Vogel

A grande armadilha em que os maiores técnicos, de qualquer esporte, podem cair é pensar o jogo demais. Algo ue aconteceu até com Gregg Popovich nesta terça-feira.

Numa série tão equilibrada, com marretadas distribuídas dos dois lados, era natural que, para seu desfecho, as coisas se equilibrassem um pouco mais e fossem se decidir em pequenos detalhes, quiçá no finalzinho da partida. E, nos momentos derradeiros da partida o supostamente inabalável treinador do San Antonio Spurs deu uma senhora derrapada.

O primeiro erro: com uma vantagem de três pontos a menos de 30 segundos para o fim, não ter orientado seus jogadores a fazerem a falta, mandar o adversário para o lance livre, obrigando Erik Spoelstra e o chutador em questão a optarem por duas cestas e a tentativa de roubo de bola na pressão sobre a saída de bola, ou tentar aqueles rebotes ofensivos a partir de um erro intencional no segundo chute – algo que quase nunca dá em nada.

“Nós não fazemos isso”, afirmou Popovich em sua entrevista pós-jogo, minutos depois. Justamente ele, que nunca teve pudor de chamar o “Hack-a-Shaq” em quadra nos embates com o Los Angeles Lakers na década passada.

Ok, LeBron James não é Shaq. Mas seu aproveitamento nos lances livres na série é de apenas 74,2%. Ontem, ele desperdiçou três lances livres. Acabou jogando 50 minutos no geral, correndo atrás de Tony Parker. Pernas cansadas? Vai saber. Mas, mesmo que convertesse as duas bolas, o Spurs ainda teria um ponto de vantagem, talvez com cerca de dez segundos no cronômetro.

O grande temor nessas situações é que o defensor erre em seus cálculos e cometa a falta justamente no ato do arremesso – podendo até contribuir para uma jogada de quatro pontos. Aí, sim, seria um desastre. De qualquer modo, levando em conta toda a aplicação defensiva de Kawhi Leonard desde a primeira partida, talvez o jovem ala merecesse um voto de confiança nessa. Outra coisa que pode ter pesado: sem um pedido de tempo, o temor de se encurralar debaixo da cesta e fazer a uma reposição de bola arriscada diante de um time superatlético. Com a velocidade de Tony Parker, porém, não sei se o risco era tão assustador assim.

Popovich ficou na sua e pagou para ver se o Miami Heat conseguiria acertar o seu tiro de fora. Quando viu LeBron James optar por um tiro de três pontos forçado, quase frontal, por um instante deve ter achado que foi a decisão certa. Acontece que, naquela sequência incrível, Chris Bosh pegou o rebote ofensivo e passou para Ray Allen na zona morta. O veterano, um dos melhores arremessadores de todos os tempos, subiu e matou a bola, mesmo um pouco desequilibrado. Ka-bum. Prorrogação na cabeça.

E a coisa fica ainda pior quando nos antentamos a este trecho em específico: “Chris Bosh pegou o rebote ofensivo”.

Popovich teve seu momento de Frank Vogel também ao tirar Tim Duncan de quadra. Essa é realmente incompreensível.

A ideia era jogar com Boris Diaw, que, a despeito de seus sandubas a mais, tem um jogo de pés bastante veloz, capaz de se manter diante de seu oponente no perímetro. Isso facilitaria a contenção na linha de três pontos.  O mesmíssimo raciocínio de Vogel no Jogo 1 das finais do Leste, quando sacou Roy Hibbert – com a diferença de que, naquela partida, a cesta saiu em uma bandeja tranquila de LeBron.

Duncan não só é o melhor reboteiro da equipe, como um baita marcador, protetor. Durante toda a partida ele contestou as infiltrações do Heat de maneira impecável, usando toda sua envergadura e inteligência. Sem contar toda sua experiência. Ali pesava a seu favor, então, não só um currículo único mas o que estava fazendo naquela noite. Você realmente vai querer tirar um cara desses de quadra no momento em que o vital é impedir uma cesta?

Quando o chute de LeBron amassou o aro, a defesa interior do Spurs estava totalmente desequilibrada. Vejam aqui:

Antes de LeBron arremessar, reparem que ele faz o corta-luz para Mario Chalmers, e aí consegue se livrar de Kawhi Leonard, que teve de desloar para cobrir o armador pela esquerda. Aí já temos um cenário preocupante: com Tony Parker correndo para segurar LeBron, um tanto desorientado. Então, Chris Bosh sobe para fazer outro corta para LeBron, deixando o francês perdidinho. No fim, tanto ele como seu compatriota Diaw saíram para contestar o disparo. Aí que Bosh caminha COMPLETAMENTE livre para o garrafão, numa falha de Parker, que deveria ter ficado com ele e ao menos se intrometido em seu caminho em direção ao aro, ainda que, evidentemente, essa não fosse a melhor pedida.

Teria Duncan se posicionado de melhor forma ali? Ou será que ele estaria no mesmo lugar que Diaw na linha de três pontos, e Bosh sempre deslizaria com liberdade para apanhar o rebote? Não dá para adivinhar. Na frieza dos fatos, do que aconteceu, só dá para dizer que Popovich se meteu em uma tremenda enrascada que pode ter lhe custado o título.


Spurs cuida da bola com paciência, evita o caos de Miami e vence a primeira nas finais
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Giancarlo Giampietro

Valeu, TP, valeu o chute

Miami espera uma bola de Parker e uma revisão certeira a 0s1 do estouro do cronômetro

Geralmente é o talento dos jogadores que define tudo em quadra. Mas ajuda ter um bom plano de jogo, né?

Se uma coisa que a sequência de 27 vitórias do Miami Heat mostrou durante a temporada regular, algo que foi confirmado no Jogo 7 na final do Leste contra o Indiana Pacers, é que os atuais campeões rendem melhor quando conseguem promover o caos na quadra. Caos total, mesmo. Com frenesi da torcida, dos técnicos, de todo mundo. Seus jogadores dobram, dobram, dobram em cima da bola sem cansar. Eles voltam para seus jogadores. Quando não dá, é porque um companheiro já estava lá na cobertura. E a bola vai ficando quente, bem quente na mão do adversário. Saem arremessos precipitados. Passes tortos, passes na mão dos juízes. Contra-ataques, enterradas, LeBron e Wade arrepiando.

O que o San Antonio Spurs fez, então?

Tomou conta da bola com o bem mais valioso em todo o ginásio, em toda a Flórida, em toda a Costa Leste americana. E a bola era tudo isso, mesmo. Em 48 minutos, eles a desperdiçaram sem nenhum arremesso por apenas quatro vezes. Com o maior zelo possível. Não cederam cestas fáceis para os oponentes e venceram o Jogo 1, fora de casa, por 92 a 88, com uma virada no quarto período.

Em certo momento, Tiago Splitter ou Tim Duncan podiam até estar decepcionados. Uma das regras básicas e não escritas do basquete é a de que, quando seu pivô faz o trabalho defensivo e corre a quadra com velocidade e suor, ele deve ser recompensado por seus companheiros com uma tentativa de cesta do outro lado. Em diversas ocasiões, o catarinense e um dos melhores jogadores da história cumpriram sua parte no script e foram ignorados quando cortavam em direção ao aro. As mãos erguidas na altura do peito, bem espalmadas, prontinhas para receber o passe que não vinha. Davam de ombro, giravam a cabeça e, por vezes, davam aquele tapinha leve no quadril para expressar certa frustração – mas nem tanta, claro, pois Spur que é Spur, não pode reclamar tanto.

Não é questão de que os alas ou os armadores estivessem esfomeando. Eles apenas respeitavam demais o poder de recuperação de seus oponentes. Talvez aquele corredor não estivesse tão aberto assim. Talvez eles imaginassem que ali havia uma linha de passe que poderia ser prontamente interrompida por aqueles freaks de Miami. Desta forma, então, seguraram, tiraram o tempo da bola e marcaram apenas quatro pontos de contragolpe, mesmo que Tony Parker seja excelente nesse quesito.

E, o sujeito é tão rápido, que, mesmo um ataque em meia-quadra pode resultar numa bandeja tranquila, bastando um corta-luz centralizado de Duncan:

Os jogadores de perímetro do Spurs simplesmente seguiram adiante, confiantes no plano, sem se importar que o Heat vencia a partida praticamente de ponta a ponta. Até que veio o quarto período e, com seus jogadores bastante descansados – seja pelo maior período de descanso entre a final do Oeste para a do Leste, seja pela rotação magistral de Gregg Popovich –, apertaram a defesa e forçaram por conta cinco turnovers por parte do Heat. Mais do que cometeram na partida inteira.

Parker somou 40 minutos, mas foi um desses preservados por Pop durante o jogo, ganhando descanso providencial no decorrer da partida. Chegou ao quarto final tinindo e passou a ser mais agressivo com a bola, junto com seus companheiros. Assumiram o controle do placar pela primeira vez desde um distante 9 a 8 na primeira parcial e nunca mais perderam o comando.

Parker, de olho na cesta

Parker escapa do quase-toco de LeBron, de outro ângulo

O armador francês, quietinho, quietinho, teve um jogo sensacional com 21 pontos, seis assistências e nenhum desperdício de bola. E o destaque, claro, fica para sua última bola, com apenas 0s1 no cronômetro de ataque – e  5s2 no geral. A arbitragem acertou por instinto, mas o lance só foi validado depois de longa conferência de vídeo. Pior, enquanto uma câmera de frente para Parker indicava uma coisa, a de trás indicava outra – mas, no fim, essa era melhor imagem, e a bola realmente saiu da mão do cestinha do Spurs por uma fração de décimo do milésimo de alguma coisa temporal (0s1, na verdade).

Foi um lance espetacular e de tirar o fôlego, em que Parker foi contestado múltiplas vezes com a bola, conseguiu manter o drible vivo de algum jeito e, na hora de subir para o chute de média distância ainda se desvencilhou de um quase-toco de LeBron para guardar um arremesso chorado, chorado, definindo o placar. Já uma jogada para a história, para clipes e clipes de YouTube ou comerciais “BIG”.

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O Spurs segue tanto seu plano de jogo que por vezes podem ser um pouco teimosos demais. Como na chuva de arremessos de três pontos errados da zona morta no início do quarto período. O Miami dava todas as chances do mundo para a reação, mas Danny Green e Kawhi Leonard desembestaram a chutar dali sem sucesso, adiando a virada. Esses disparos da zona morta são o arremesso da moda – quer dizer, uma moda que já vem de sete ou oito anos já, mas vá lá. Por ser a bola que abre as defesas e, ao mesmo tempo, vale mais do que dois pontos numa distância menor para a cesta, o chamado corner three, coqueluche da comunidade estatística. O que não quer dizer que seja sempre o melhor arremesso disponível.

Pior que essas bolas apenas a de Manu Ginóbili com 1min37s no cronômetro e vantagem de 88 a 83 para o Spurs. O argentino manda um pombo sem asa a 7,6m da cesta, sem o menor cabimento, se candidatando a herói sem sucesso. Já vimos o narigudo fazer isso diversas vezes, até mesmo contra a Seleção, e tem vezes que dá certo. Mas esse é o tipo de jogada que vale a morte de algumas células de Popovich.

Mesmo convertendo apenas 30,4% de longa distância, o Spurs venceu – fraquíssimo rendimento para uma equipe que converte 36,2% nos playoffs, a segunda melhor marca no geral (atrás apenas do Golden State Stephen Curries). Seria um sinal terrível para o Miami Heat, não fossem os próprios erros da equipe da casa. Depois de um primeiro tempo excepcional no fundamento, terminaram também com percentual reduzido: 32%, abaixo de sua média de 35,6%

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LeBron cozinhou o jogo por um bom tempo. Rodou a bola, fez alguns corta-luzes monstruosos para liberar seus arremessadores. Reboteou como nunca. Acumulou estatísticas (finalizando o jogo com 18 pontos, 18 rebotes e 10 assistências). E decidiu assumir a parada nos quatro, três minutos finais.  Marcou quatro pontos seguidos no ataque e tentou segurar Tony Parker na defesa. Mas já era muito tarde. Foi um grave erro de cálculo do astro e do técnico. Não que fosse fácil a missão de parar Parker. Não dá para colocar o astro correndo atrás do francês o tempo todo. Mas, se eles imaginavam desde o princípio que James teria essa função nos momentos derradeiros da partida, demoraram demais para fazer o ajuste. É de se esperar que ele assuma esse desafio bem mais cedo no Jogo 2.

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Splitter x Bosh

Splitter teve problemas com Bosh no 1º tempo, mas fez bem seu papel cobrindo por Leonard

Wade e Bosh não têm do que reclamar. LeBron trabalhou para sua equipe por mais de três quartos, envolvendo todo mundo em quadra.  E não foi dessa vez que os chorões retribuíram. Wade se mostrou muito mais explosivo com a bola (embora não tenha contribuído em outras facetas) e marcou 17 pontos com 7/15 nos arremessos, mas sumiu no segundo tempo. Bosh marcou 13 pontos com algumas belas jogadas, mas seu basquete hoje está privado de qualquer consistência ou energia  (apenas cinco rebotes em 35 minutos, ridículo) – se bem que, para o catarinense, macaco velho de era esperado

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Kawhi Leonard, Danny Green, Splitter… Os operários do Spurs não sentiram em nenhum momento a pressão de jogar uma final de NBA pela primeira vez na carreira – se bem que, para o catarinense, macaco velho de profissionalismo, não dava para esperar outra coisa. O destaque aqui fica para a compostura de Leonard, que deixou evidente o porquê de Popovich amá-lo tanto. Fez o máximo que dá para segurar James, se deslocando com agilidade, estendendo aqueles braços e mãos enormes para mantê-lo por perto, sempre numa postura ameaçadora. Além disso, terminou com um double-double de 10 pontos e 10 rebotes.

Mas o ala não marcou o superastro sozinho. Como Splitter havia adiantado, foi um esforço coletivo, com os grandalhões da equipe ou os armadores sempre numa posição de ajuda, dependendo do setor da quadra em que LeBron fosse acionado e esboçasse uma arrancada com a bola. Nesse ponto, o pivô brasileiro foi importante. Uma relevância que, novamente, vai bem além de seus números (sete pontos, dois rebotes e um toco em 25 minutos, com 3/6 nos chutes de quadra). Não é por acaso que, entre os grandalhões de Popovich, foi o segundo que mais tempo ficou em ação. Aliás, juntos, Boris Diaw e Matt Bonner, os caras do banco, tiveram apenas 16 minutos.

Tim Duncan jogou por 37 minutos, incansável. Correu feito um doido de um lado para o outro e terminou com 20 pontos, 14 rebotes, 4 assistências e 3 tocos. Vejam o vovô em ação no segundo período: