LeBron James se afirma em quadra após desafio mental de Popovich e ganha o 2º título
Giancarlo Giampietro
Será que LeBron James fez ioga ou imergiu em meditação nesta quinta-feira?
Pode parecer a pergunta mais besta do mundo, mas bateu na cuca em algum momento desse Jogo 7, antes de sabermos que tudo desembocaria no segundo título seguido do Miami Heat, com uma vitória por 95 a 88, e numa performance histórica do ala.
Pensei por influência de um veterano jornalista americano, Roland Lazenby, que andava biografando Michael Jordan e tem bom trâmite com o que se passa no universo do Mestre Zen – seja em Chicago, seja em Los Angeles.
Vira e mexe, e Lazenby entra no Twitter para despejar uma série de notinhas saborosas sobre o que se passou com o técnico mais vitorioso da história da NBA. Calha que, ao acessar Jackson e seus trejeitos e causos, uma hora ou outra você vai passar por esse lance espiritual. Como fez nesta quinta.
Em muitos de seus livros, P-Jax bate de modo veemente nesta tecla: a da preparação mental (espiritual?) de seus atletas. As sessões de meditação, reflexão, (des)conscientização que promovia com seus jogadores são legendárias. A ponto de não sabermos exatamente qual o alcance dessas técnicas. Há jogadores que juram que saíam do tatame num outro astral. Há aqueles que deveriam gastar toda a energia de uma noite de descanso ao se segurar tanto para não cair em risos. Pudera: imagine você se sentar ao lado Dennis Rodman ou Will Perdue, de pernas cruzadas no chão, e acreditar que tudo aquilo é sério.
Mas aí basta se lembrar de todos os títulos de Jackson como jogador e técnico, que a piada murcha que só. Deve ser sério, né?
Na visão do treinador, essas sessões ajudavam o jogador a mentalizar o jogo, a imaginar o que se passaria em quadra. Era como se, mentalmente, eles já disputassem aquela batalha horas antes de entrar nas vias de fato.
Ao ver LeBron James extremamente confortável neste Jogo 7, foi daí que me veio esse flashback. O cara simplesmente estava relaxado em quadra. Tranquilo, confiante, assertivo. Sendo que, das arapucas armadas pelo San Antonio Spurs, nada havia mudado na sua frente. Kawhi Leonard, Boris Diaw ou Danny Green continuavam recuando sem pudor algum, dando todo o espaço do mundo para LeBron chutar. Ou, principalmente, pensar se deveria chutar.
Em primeiro momento, o mais apressado ou espírito de porco, pode querer traduzir isso num instante para “amarelar”. “Quem é craque decide” etc. Mas é preciso entender as razões por trás da hesitação.
Quando LeBron entrou na liga em 2003, o grande ponto fraco de seu jogo era o chute de longa distância. Em 2007, quando ele enfrentou Tim Duncan em uma primeira decisão, ainda era o caso (sua média de três subiu apenas de 29% no ano de novato para 31,9%). Demorou realmente um bocado até ele atingir a marca de 40,6% nesta temporada. Vejamos: 31,5% em 2008, 34,4% em 2009, 33,3% em 2010, 33% em 2011, 36,2% em 2012. Até que bateu pela primeira vez a marca de 40% agora – algo aliás que está longe de ser valorizado no ala: estamos habituados a tratar os talentos do ala como divinos, com dádivas, ignorando o quanto o adolescente já milionário trabalhou para expandir seu arsenal.
Mas, no geral, observando estes números acima, o que a gente tira disso? Que, consistentemente, LeBron nunca foi um grande atirador de fora, enquanto, lá dentro, seu aproveitamento é excepcional.
O que Gregg Popovich ordenou, então? Que seus rapazes congestionassem ao máximo o garrafão. Que fizessem o sujeito arremessar de fora, sim, senhor, a despeito de sua notória evolução nos últimos anos – acreditando que essa era ainda, sim, uma fraqueza do oponente. Ou, no mínimo, o aspecto em que ele era menos forte. E essas coisas ficam na sua cabeça. Você sabe exatamente o que geralmente dá certo em quadra. Pode acontecer até, mesmo, com o autoproclamado “Rei”, que, nos primeiros seis jogos, acertou apenas 29,2% do perímetro.
O que acontece: LeBron percebe que está sendo desafiado – ‘Estão aí esses Spurs o desafiando a meter bala de longe, e eu vou fugir da raia?’. Ao mesmo tempo, inteligentíssimo que é, sabe que tudo não passa de uma armadilha, que não pode perder de foco as cortadas vorazes rumo ao aro. Mas os espaços não estão ali para serem aproveitados. Daí que você recebe a bola e está criado um impasse – um impasse que precisa ser resolvido em segundos, e, não, em minutos ou horas que o jornalista pesadão leva para redigir um texto desses. LeBron, sim, pensa. Acabou pensando demais em quais caminhos seguir, quais decisões tomar – daí a diferença clara de fãs e fãs quando comparado a Kobe Bryant, alguém muito mais agressivo por natureza, ou fominha, mesmo. Kobe vai atacar, atacar, atacar, até romper um tendão de Aquiles não deixar mais. O craque do Heat primeiro quer entender qual a opção mais adequada.
No Jogo 7, porém, ele pareceu ter pisado em quadra já com toda essa coisa de compreensão finalizada, sem perder suas características. Deu assistências nas primeiras posses de bola do time e também aceitou a provocação do Spurs e disparou. Converteu os dois primeiros jumpers e, a partir daí, virou automático…
Cheguei a twittar – vejam lá o imediatismo… – de que talvez não fosse o melhor comportamento. Que talvez ele pudesse ficar acomodado demais com esses arremessos e que, uma hora, cedo ou tarde, começaria a dar aro. Era isso, elaiá, que Popovich esperava também. Mas o período de seca nunca veio. Acertou 5-10 de três pontos, como se fosse um Ray Allen. Matou 12 de 23 chutes no geral. E ainda bateu e converteu oito lances livres. Some tudo e chegue a 37 pontos. E, como LeBron é diferente, suas contribuições não se resumem a chuta-chuta, cesta-cesta. Coloque na planilha mais 12 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. Coisa de MVP.
Escrevo sem saber como foi a quinta-feira da estrela. Quais rituais seguiu. O que mudou em sua cabeça para que, após seis jogos em que os truques mentais de Popovich, fosse prevalecer de tal modo nesta quinta.
O que sei é que, a essa altura, em South Beach, ioga e meditação definitivamente LeBron James e sua turma não vão fazer.
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A noite de Battier, Tiago Splitter, mais uma bobagem bizarra de Popovich, o esforço de Tim Duncan… Vamos dividir essas coisas e outras pautas que forem sugindo em posts menores no decorrer desta sexta-feira e fim de semana, ok? Tem tempo.