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Arquivo : Rudy Tomjanovich

Mike Brown não é mais o técnico do Lakers. Na franquia, “nada é injusto”
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Giancarlo Giampietro

Nesta sexta-feira, o ESPN.com americano publicou que Mike Brown tinha uma sequência de seis jogos em casa pra tentar acalmar as coisa em Los Angeles. No fim, o site foi muito generoso: depois de quatro derrotas em cinco jogos, o Lakers decidiu demitir o treinador.

Mike Brown e o Lakers

Não, Kobe, em Princeton a gente faz assim…

Na matéria publicada mais cedo pelo grande articulista Marc Stein, uma declaração do gerente geral Mitch Kupchak já havia chamado muito a atenção: “Nada é injusto. Cada um tem uma opinião, e todos têm o direito de ter sua opinião. Você está livre para decidir o que é justo e o que não ´ejusto”, disse. “Acho que é justo dizer que, depois de cinco jogos, não achávamos que estaríamos com uma vitória  e quatro derrotas. Mas temos muitos jogadores novos, alguns lesionados e estamos introduzindo novos conceitos. Vamos continuar a monitorar o time. Entendemos as expectativas.”

Sério: por mais fora do contexto que essas aspas possam ter sido tiradas, já não soava o dirigente mais entusiasmado com o andar da carruagem, não? Ao ler isso, a impressão que ficava que era questão de tempo. Não levou nem dez horas para descer a guilhotina.

Pode parecer uma declaração insensível de Kupchak, mas você precisa entender o contexto disso tudo. O cara já está calejado em Los Angeles. Sabem como as coisas funcionam. Viu Phil Jackson chegar, sair, voltar e se aposentar. Teoricamente. Viu Kobe e Shaq se metralharem pela imprensa. Viu Gary Payton fazer pirraça. Viu o que dá jogar com Smush Parker ao lado de seu astro. São negócios, a pressão é enorme, e assim é a vida dentro da franquia.

Mike Brown nunca pareceu exatamente preparado, com o estofo necessário para controlar uma fogueira dessas. Virou incêndio. Mesmo que  a missão não fosse fácil – e não era –, mesmo que possa parecer insano demitir o técnico depois de apenas cinco jogos, menos de 10% de um calendário cumprido, na cabeça da família Buss, do dirigente ou de Kobe Bryant, nada tem de ser avaliado como justo ou injusto, mesmo.

Em Cleveland, Brown foi engolido pela tensão em volta do futuro de LeBron James. Em Los Angeles, o futuro era agora, e daí para considerar infeliz sua intenção de instaurar o sistema Princeton na equipe é um pulo. Com muitas peças novas, sem tempo para azeitar tudo, foi suicídio tentar algo nessa linha, ainda que, em longo prazo, pudesse fazer sentido.

Dwight Howard agora posa de Laker

Dwight Howard está fora de forma ainda, assimilando novo sistema e companheiros… Mas o Lakers não iria mais segurar Brown

É um sistema que se assemelha em alguns pontos com o dos triângulos, tão bem-sucedido na equipe angelina. Mas, para fazer dar certo, o técnico precisa da confiança de seus jogadores, precisa que eles realmente estejam dispostos a se sacrificarem no início para lucar lá na frente. E, de novo: por mais que Kobe e a direção se esforçassem em público para dizer que davam cobertura ao treinador, no conjunto das coisas, avaliando o cenário geral, a impressão que ficava era de que esse apoio todo não passava de mera formalidade, mesmo.

Do lado do Lakers, a demissão não se deve simplesmente pelas quatro derrotas em cinco jogos. Essa insegurança em torno de Brown pesou muito. Ainda mais para uma franquia acostumada aos métodos de trabalho de um vencedor como Phil Jackson. Lembrem que, quando da primeira saída do treinador mais vitorioso da história, nem mesmo um bicampeão como Rudy Tomjanovich segurou o tranco por lá. Ele ficou apenas 41 jogos no cargo e se mandou. Não aguentava mais o estresse.

Outro ponto: foram oito derrotas na pré-temporada em oito jogos. Ok, não era para contar, mas, quando somadas ao fraco início de campanha, ajudam a dar aquele empurrãozinho. Juntando com as atuações não muito convincentes da campanha anterior, e o risco de o Lakers pagar US$ 100 milhões em salário este ano com mais provavelmente US$ 30 milhões em multas, e o movimento pela demissão começa a ganhar corpo.

Prematuro? Talvez.

Justo? Ninguém que mande no Lakers quer saber.


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