Vinte Um

Arquivo : Pacers

Remendado, Pacers surpreende (antigo?) rival em Miami
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Hibbert dominante em Miami, de novo

Hibbert dominante em Miami, de novo

Era como se fosse um Indiana Pacers x Miami Heat dos bons e velhos tempos. Tipo da temporada passada, mesmo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Nesta quarta-feira, os dois times que disputaram o Leste nos últimos dois campeonatos voltaram a se enfrentar bastante modificados, comparando com suas versões da final da conferência há sete meses. E o que a gente viu? Novamente um jogo tenso, equilibrado, decidido nos últimos instantes. Um jogo em que os visitantes de Indianápolis conseguiram novamente desacelerar o jogo ao dominar chutar traseiros nos rebotes e tirar seu adversário de seu ritmo. Venceram por 81 a 75.

Nesse caso, foi uma baita surpresa.

Se o Heat vai se virando bem depois da saída de LeBron, com Chris Bosh e Dwyane Wade elevando a produção e os armadores ajudando a manter o dinamismo do ataque, o Pacers era basicamente o time oficial da depressão na liga. A equipe perdeu Paul George devido a uma lesão horripilante, deixou Lance Stephenson ir embora no mercado e ainda viu George Hill e David West se lesionarem no training camp. Não nos esqueçamos dos problemas físicos também de CJ Watson, Rodney Stuckey e CJ Miles. Impossível brigar quando 80% de seu forte quinteto titular e dois de seus principais reforços acabam afastados, certo? Ainda mais quando o banco de reservas era sua principal deficiência.

Já (nem) faz tempo, né?

Já (nem) faz tempo, né?

Pois o técnico Frank Vogel vai dando um jeito de manter seu conjunto competitivo em quadra. “Sloan, Hill, Copeland, Scola, Hibbert, Price, Rudez, Lavoy Alen, Ian Mahinmi e Shane Whittinton”, disse Vogel, elencando o que tem ao seu dispor na rotação. “A vida te manda uma bola de rosca, veneosa em sua direção às vezes. Você tem apenas de acertá-la.”

O engraçado é que a frase serve tanto para os atletas, que têm uma oportunidade de ouro para mostrar serviço, como para o próprio treinador, que falhou seriamente nos últimos dois anos em desenvolver uma segunda unidade do Pacers. Enquanto o time titular voava, o rendimento da equipe despencava quando era a hora de usar os reservas. Muitos dos caras que estavam enterrado em seu banco no ano passado agora provam um certo valor. Especialmente os alas Chris Copeland e Solomon Hill.

Imagine se a direção do clube (oi, Larry Bird!) tivesse adotado a mesma saída de um ano atrás, quando empacotou Gerald Green e Miles Plumlee numa troca por Scola? Os dois atletas despachados se tornaram peças relevantes para o Phoenis Suns instantaneamente. Dessa vez, por força de um ocaso e de seguidas desgraças, ao menos o desenvolvimento dos coadjuvantes vai acontecendo internamente.

Na Flórida, essas novas peças se mostraram bastante adequadas para o plano de Vogel de triturar os adversários dentro do garrafão. Os caras pegaram 53 rebotes no geral, 16 ofensivos, contra 28 de Miami – 25 rebotes a mais que o oponente = a massacre nas minhas contas. Roy Hibbert, sempre ele contra o Heat, apanhou 15 rebotes por conta própria, sendo quatro no ataque. Mas o destaque fica para Solomon Hill, mesmo, com 10 no geral, igualmente divididos entre defensivos e ofensivos.

O ala foi selecionado no Draft de 2013, na posição 23, para surpresa geral dos especialistas. Um formando da Universidade do Arizona, ele chamava a atenção pelos atributos atléticos, mas ninguém o julgava como alguém digno da primeira rodada. O mais estranho, porém, foi que em sua campanha de novato, ele mal jogou. Foram apenas 28 partidas e média de 8 minutos. Para um calouro de 22 anos, mais experimentado? Uma decepção e uma situação equivalente à de Miles Plumlee.

Donald Sloan parte para cima. Repita: Donald Sloan parte para cima

Donald Sloan parte para cima. Repita: Donald Sloan parte para cima

Agora não teve jeito. Era Solomon Hill, ou nada. “Estamos sofrendo com lesões há um tempo já, então eu nem olho mais para quem está jogando, ou não”, afirmou Hibbert, que vem num excepcional início de temporada, e lembrou o Miami de seu potencial ofensivo, quando está motivado e em boa forma. “Seja lá quem estiver em quadra, vamos caminhar juntos.”

Foi com essa galera de segundo ou terceiro escalão que o Pacers respondia a cada boa jogada de Wade para se manter à frente do placar no quarto período, deixando a torcida local muda, aflita, como nas vezes em que triunfaram por lá nos mata-matas, mesmo. Algo até chocante, considerando a formação do time.

Peguem o AJ Price, oras. O armador foi selecionado pelo Pacers em 2009. Jogou três temporadas por lá, sem gerar muita comoção quando dispensado. Passou por Wizards e Timberwolves nos últimos dois campeonatos. Estava sem clube, depois de não conseguir uma vaguinha no Cleveland LeBrons. E lá estava o cara reencontrando Shabazz Napier no início do quarto período, em mais um racha empolgante, como aquele da pré temporada no Rio. Não era nem para ter acontecido isso. Antes de Price, o Pacers tentou contratar o israelense Gal Mekel para ajudar Sloan na armação. O negócio estava fechado, mas acabou caindo devido a um impasse burocrático, de visto trabalhista.

Com a raspa do tacho, defendendo pacas e espremendo uma cesta ou outra, eles limitaram um superempolgado Bosh a apenas nove pontos, errando 10 de seus 13 arremessos. “Nosso ataque é baseado em movimentação de bola. E eles nos esmagaram”, disse o ala-pivô. Copeland concorda: “Tem jogos em que é isso que conta: deixar a defesa vencer por nós. Acho que dificultamos os arremessos deles. Tem dias em que o jogo na estrada fica feio.”

Pensem nisso: temos aqui o Chris Copeland falando sobre uma vitória contra o Miami Heat, fora de casa, comentando sobre como o ataque não foi lá uma maravilha. Quem iria imaginar uma coisa dessas? Fruto da história recente entre as equipes? “Só estava pensando em não permitir uma sequência de derrotas novamente”, disse Hibbert. “Perdemos seis seguidas e vencemos o último jogo. Não estou pensando em rivalidade. Só estou pensando em conseguir algumas vitórias.”


O Indiana Pacers da depressão
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos chatiados

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos #chatiados

Apesar de este ser um blog e de o seu… blogueiro ter uma carreira toda (coff! coff!) construída na internet, venho por meio deste confessar minha ignorância digital. As coisas podem estar bombando na internet há um bom tempo, todo mundo já se matando de rir com a piada da semana, e o cara aqui, boiando geral nas redes sociais, sem entender nada do que está acontecendo. Como nos casos dos constantes “memês” – já foi um desafio entender o conceito. Dentre essas ondas, existe a expressão “da depressão”, né?

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Comunidade Ninja da depressão, pequeno polegar da depressão, ciclone da depressão etc. Esses, pelo menos, já se explicavam pelo nome, ao menos. De qualquer forma, nem sabia a origem do, hã, fenômeno. Coisa que o site da Vejinha SP, num serviço de (in)utilidade pública, nos conta.

Pensava que, a partir do momento que a bola subiu para a temporada 2014-2015, esse tema deveria ser limitado a um só time: o Indiana Pacers. Mas aí a gente vê a tempestade de lesões que abala o Oklahoma City Thunder e o pior início de campanha da história do Lakers, e o clube acabou aumentando por um tempinho. De qualquer forma, o simples fato de dois times surgirem para roubar até mesmo as manchetes negativas do Pacers só aumenta a fossa deles, não?

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Estamos tratando de um clube  que foi sério candidato ao título da NBA nos últimos dois anos. Que, ao final da era LeBron em South Beach, poderia muito bem acreditar que era chegada a hora. Mas aí Paul George se arrebentou num jogo-treino besta da USA Basketball, Lance Stephenson se mandou para Charlotte, e toda a base promissora montada por Larry Bird e Donnie Walsh se ruiu. Sabemos bem que o Pacers tinha dificuldades para pontuar mesmo com os dois jovens alas no time. Sem as suas duas principais forças criativas, sobrou para George Hill, CJ Miles, Chris Copeland e Rodney Stuckey a coordenação e produção ofensiva? Argh.

Com Roy Hibbert ao centro do garrafão apoiado por David West,  George Hill pressionando qualquer armador que passe à sua frente, Solomon Hill batalhando por um futuro na liga nas alas e um sistema já bem engendrado, o Pacers poderia muito bem segurar as pontas pela defesa. Em seus primeiros quatro pontos, nem isso vem acontecendo, porém – não de acordo com o padrão que vimos desde que Frank Vogel foi empossado técnico.

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Mais aí tem mais aaaargh: West torceu feio o tornozelo na pré-temporada,  G-Hill tem problemas no joelho e CJ Watson, no pé. É um trio que está fora de ação por tempo indeterminado, deixando a equipe num estado de calamidade.

Do ponto de vista de Vogel, demorou, mas ele ao menos teve seu esforço premiado com uma renovação contratual. Entre as boas notícias também consta o ressurgimento obrigatório de Copeland.

De qualquer modo, fazendo as contas aqui de baixas e reforços, o saldo é gravíssimo. Nem mesmo na pálida Conferência Leste dá para sonhar em competir por algo relevante. Muito provavelmente nem pelos playoffs. Então perdoem as lágrimas que escorrem desde Indianápolis. É deprê geral.

O time: mas que time?

A pedida: eles querem ainda uma vaguinha nos mata-matas, mas deveriam se concentrar, mesmo, na loteria do Draft.

(Bom, ok, ok, só para não deixar passar batido: Si Pacers vai tentar defender bem ainda, e para isso vai precisar de um Roy Hibbert muito mais motivado do que esteve no campeonato passado, com a cabeça em ordem. West e Hill precisariam voltar rapidamente, e bem. Copeland tem de de sustentar sua produção de início, acertando os chutes de longa distância ao lado de Miles e do croata Damjan Rudez. Stuckey precisa render vindo do banco. Enfim, são muitos “ses” para serem conferidos, gente.)

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Olho nele: Chris Copeland. Enquanto muitos apostavam em Stuckey como o cestinha do time, suprindo a ausência de George e Stephenson, quem vem despontando como a principal arma ofensiva é o ala ex-New York Knicks, que tem qualidades interessantes, mesmo: o chute de longa distância bastante elevado combinado com um corpo esguio e veloz. O veterano havia sido posto de castigo por Vogel na temporada passada, meio que inexplicavelmente, para um time que precisava de mais arremessadores – ele poderia não ter a mesma consistência defensiva do resto da trupe, mas aí cabe ao comandante encontrar um equilíbrio entre os dois lados da quadra, não? Essa foi uma das falhas do técnico, que não conseguiu desenvolver uma segunda unidade consistente e produtiva, dependendo demais de seus titulares. Ver Copeland render neste ano é uma boa, mas ao mesmo tempo não deixa de ser mais um ponto deprimente para o clube, uma vez que o torcedor mais amargurado pode muito bem perguntar por que diabos eles tiveram de abraçar Rasual Butler nos playoffs.

Abre o jogo: “Vamos ser uma das surpresas da NBA. Esta equipe é capaz de fazer seu trabalho. Temos talento o suficiente para cumprir nossas metas e competir com os melhores. Não vamos complicar mais as coisas. Um banco de qualidade será uma grande parte de nosso sucesso este ano”, Frank Vogel, bastante otimista. Mas é preciso dizer: a declaração foi antes das lesões de West, Hill e Watson. A ideia do treinador é a de usar uma rotação mais extensa, com dez atletas, e ele vem fazendo isso, apesar dos desfalques.

Você não perguntou, mas… Roy Hibbert se reuniu com Kareem Abdul-Jabbar durante as férias por motivos de tutelagem, aconselhamento, ombro amigo e… filmes de ninja! Sim, sim. O legendário pivô, o maior cestinha da história da liga e hoje uma espécie de guru espiritual visitou Hibbert em sua casa, e os dois deram um tempo no divã para se divertir com pancadaria. Hibbert infelizmente não revelou os títulos assistidos. A história, todavia, nos remete a…

Jalen Rose, Indiana Pacers, card, 2000Um card do passado: Jalen Rose. Uma curiosidade a respeito do Pacers? Na história da franquia, quatro de seus atletas já foram eleitos aqueles que mais evoluíram numa temporada – o já prêmio de Most Improved Player. Esse quarteto foi apontado desde o ano 2000, com o ala-armador Rose puxando a fila. Na sequência, viriam Jermaine O’Neal (2002), Danny Granger (2009) e Paul George (2013). Hoje um popular comentarista da ESPN, Rose credita sua melhora em quadra exclusivamente ao seu trabalho com Larry Bird, então técnico da equipe que foi derrotada pelo Lakers na decisão (4-2). Para ter qualquer perspectiva de sucesso nesta temporada e justificar o otimismo de Vogel, o Pacers bem que poderia usar mais um salto de qualidade desses para qualquer um de seus atletas.


Bruno Caboclo mantém nome no Draft da NBA. Com promessa de clube?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Bruno Caboclo ficou no Draft, com fortes indícios de promessa

Bruno Caboclo ficou no Draft, com fortes indícios de promessa

Vamos com a notícia direta e reta: o jovem Bruno Caboclo, ala do Pinheiros que nem 19 aos completou ainda, manteve seu nome na lista de jogadores inscritos no Draft da NBA, assim como o pivô Lucas Mariano, do Franca e 21 anos. Os atletas estrangeiros tinham até esta segunda-feira para decidir se permaneciam no processo de recrutamento de novatos da liga norte-americana. Discretamente, os promissores atletas, por enquanto pouco mencionados pelos jornalistas especializados na cobertura do evento, seguiram essa linha.

Poderíamos escrever aqui que é uma surpresa. Quer dizer, não deixa de ser uma surpresa, especialmente no caso de Caboclo – poucos olheiros e dirigentes da NBA tinham contato com o rapaz. Se Mariano se apresentou em Treviso por dois anos seguidos, Caboclo não deu as caras, e nem Mundiais de base disputou. A familiaridade que têm com seu jogo é, em geral, mínima. A despeito disso, a decisão de manter o nome na lista de candidatos vai de encontro rumor que o blog ouviu há mais de um mês. O de que ele já teria a promessa de uma franquia de que seria draftado. De um time que disputou os playoffs da Conferência Leste. Fiquem de olho especificamente em Indiana Pacers (#57) e Toronto Raptors (#59).

Veja bem: não li nenhum documento que comprove isso. Na verdade, as coisas nem funcionam assim. Mas ouvi de fontes diferentes da liga, no início de maio, a suspeita de que o o ala do Pinheiros já havia recebido a garantia de que seria escolhido na segunda rodada – sobre Mariano, não tenho informações a respeito. Na época, entrei em contato com o agente brasileiro de Bruno, Eduardo Resende, da EW Sports, que trabalha em parceria com a Octagon, gigante do marketing esportivo dos Estados Unidos. Resende me disse que o ala havia sido inscrito apenas para chamar a atenção dos  clubes de lá. Ganhar exposição. De que não havia a menor intenção de mandar o atleta para os Estados Unidos para já. Que ele ficaria no mínimo mais um ano no Pinheiros, para ganhar cancha, rodagem e trabalhar fundamentos. Que seria bobagem pensar nisso.

Acontece que, no caso de um jogador ser draftado, não há obrigação nenhuma que ele se apresente de imediato ao time que o escolher. Tiago Splitter e Serge Ibaka estão aí para comprovar isso, mesmo tendo sido selecionados na primeira rodada, com maiores expectativas. Na segunda ronda, então, os times tendem a agir com ainda mais liberdade – ou flexibilidade, o termo que preferem. Podem apostar num menino ultratalentoso, pouco burilado, de olho no futuro. Em dois ou três anos, pode não dar em nada. Ou, quiçá, pode vir por aí um novo Manu Ginóbili ou Luis Scola, dois craques que não saíram nem mesmo entre os 50 primeiros de seus respectivos Drafts, e hoje são o que são. Nunca se sabe exatamente, mas pode-se projetar e apostar.

Então temos a seguinte questão: se, desde que o companheiro aqui de UOL Esporte, Fabio Balassiano, deu o furo sobre sua inscrição, havia chances reduzidíssimas – “quase 0%” era a impressão passada – de que  ele continuaria no Draft, o que mudou desde então para que pudesse permanecer ? Ou: será, mesmo, que mudou alguma coisa?

Uma coisa é certa: a partir do momento que o nome de “Bruno Correa Fernandes” apareceu entre os inscritos no recrutamento, a NBA ficou ouriçada. Os profissionais de lá não gostam de se deparar com o desconhecido. Não por medo, mas simplesmente porque, num ambiente extremamente competitivo, com 30 clubes procurando qualquer trunfo possível sobre os concorrentes, a busca por informação é grande. Não saber = fraqueza, posição de desvantagem. Então quem diabos seria esse menino Bruno Caboclo?

Pode parecer estranho, não? Afinal, no ano passado mesmo o ala do Pinheiros foi eleito o melhor jogador do “Baketball without Borders”, camp oficial da liga realizado na Argentina. Foi um sinal de fumaça, e a partir daí alguns clubes começaram a sondar o Pinheiros e jogador – pelo menos cinco franquias o fizeram por meio dos canais oficiais durante a temporada. Mas não foi o suficiente para colocá-lo oficialmente no radar de dirigentes. Daí que os clubes inicialmente fora da alçada tiveram de sair em busca de qualquer informação, qualquer novidadena respeito do jogador. Queriam vídeos, queriam saber sobre o comportamento do jogador e tudo o mais. No caso de um adolescente brasileiro, que nem bem jogou no campeonato principal de seu país? Estamos falando de termos como “obscuro” e, ao mesmo tempo, “intrigante”.

O que os clubes estão vendo nas gravações de jogos a que têm acesso é um garoto ainda muito cru tecnicamente, mas com potencial absurdo. Destacam sua envergadura, altura e atributos físicos incomuns. “A história mostra que prospectos da segunda rodada não vingam. Então por que não apostar em um garoto  assustadoramente atlético?”, pergunta retoricamente um scout, que pede para não ser identificado, em contato com o blog.

Nesse processo, descobre-se que o agente responsável pelas negociações de Bruno em solo norte-americano é Alex Saratsis, o mesmo que representou o grego Giannis Antetkounmpo no Draft do ano passado e que já trabalhou com Jonathan Tavernari, do Pinheiros. Ao entrarem em contato com Saratsis, porém, os clubes tiveram uma ingrata surpresa. O agente não cooperou muito em termos de divulgação de informações de seu cliente. Só souberam que Bruno não faria treinos privados com os clubes no Estados Unidos. Bruno também não participaria do Nike Hoop Summit, em Portland (na época estava contundido), nem do adidas Euro Camp, no qual competiram Cristiano Felício, Lucas Mariano e Rafael Luz. (E aqui cabe um esclarecimento: por terem nascido em 1992, Felício e Luz participam do Draft automaticamente. Eles não entram, nem saem do Draft. Os times podem escolhê-los se bem entenderem. O caso de Mariano é diferente: nascido em 1993, ele teria a opção de retirar o nome nesta segunda, sendo que 2015 seria o limite para ser recrutado.)

A pergunta que muitos clubes fizeram: se Bruno quer ganhar exposição, por que sumiria do mapa desta forma? Por que seguir treinando em dois períodos no Pinheiros, com os meninos de sua idade, mantendo a rotina, em vez de ao menos exibir seus talentos mais perto dos olheiros e aguçar de vez o interesse deles? Sniff, sniff, alguma coisa não batia nessa.

Ainda mais porque Saratsis havia apresentado uma conduta completamente diferente no ano passado, na condução da candidatura de Antetokounmpo – hoje uma sensação do Milwaukee Bucks. “Giannis pelo menos convidou todos os times para irem vê-lo na Grécia e inclusive fez treinos para eles. Agora eles simplesmente evitam? Não falam nada nem sobre contrato etc.”, afirmou um scout. É nesse contexto que as suspeitas sobre uma eventual promessa a Bruno ganham força.

O outro cenário possível na estratégia da Octagon seria o seguinte: a recusa em passar informações sobre Bruno teria simplesmente o intuito de realmente criar o burburinho em torno de seu nome e aí, sim, colocá-lo na lista de alvos para o Draft de 2015, de modo a forçar que todo santo time da liga a viajasse ao Brasil para assisti-lo. Inclusive, a expectativa interna no Pinheiros, aliás, é (era?) a de dar não só a ele, mas também ao ala Lucas Dias e ao armador Humberto mais tempo de quadra, inseri-los para valer na rotação.

Seria um caminha realmente plausível. Os mesmos times da NBA que passariam a acompanhar Bruno com atenção, na verdade, já buscaram informações de imediato sobre ligas para jovens aqui no Brasil. Calendário, o nível de competição. E se até mesmo haveria a chance de assisti-lo in loco ainda neste mês de maio que passou. Com o Pinheiros eliminado do NBB e alguns jogos do Paulista sub-19 largados, ficava mais difícil. Ainda existe a especulação de que alguns clubes tenham vindo para São Paulo para vê-lo de perto mesmo assim, em treinos. Algo que não consegui confirmar.

São conjecturas, temos de admitir. Mas o simples fato de Bruno seguir inscrito dá outra cara para esse relato. Das duas, uma: ou os agentes do garoto se sentem realmente confortáveis de que ele será escolhido por um time, ou estão fazendo uma aposta imensa. Até porque este Draft promete ter uma presença maciça de estrangeiros. Uma breve consulta ao DraftExpress mostra isso: em sua confiável projeção, constam nesta segunda 13 atletas de fora dos Estados Unidos (sem contar canadenses e outros que venham da NCAA ou NBDL). Desses 13, nove sairiam na segunda rodada, justamente a área que imaginamos para Caboclo. A expectativa entre as franquias é de que Bruno seja escolhido realmente entre as posições 50 e 60. Qual poderia ser o time interessado no ala do Pinheiros? Podem anotar: Indiana Pacers e Toronto Raptors são candidatos seríssimos.

Outra opção natural seria o Philadelphia 76ers – mas não por qualquer informação que eu tenha recebido, neste caso, e, sim, por uma questão de lógica. O clube simplesmente tem CINCO escolhas de segunda rodada no recrutamento deste ano – sem contar mais duas no top 10 –, depois de tantas trocas que fez nos últimos anos. Em processo de renovação, a equipe pode juntar todos esses picks e fechar mais transações. Ou simplesmente poderia sair colhendo a torto e a direito jogadores internacionais, sem compromisso ou necessidade de aproveitá-los a curto prazo.  Mais: o San Antonio Spurs, bastante famoso por seus projetos no exterior, também tem duas escolhas no final da segunda rodada. Com um elenco formado e pouco espaço para apostar em calouros para já, poderiam muito bem investir em um adolescente como Bruno, tal como aconteceu como já fizeram com o ala-armador francês Nando de Colo, o ala letão Davis Bertans, entre outros.

E outra: os picks hoje têm dono, mas durante uma noite de NBA, o que não faltam são negociações. Lucas Bebê e Raulzinho, por exemplo, foram draftados no ano passado, usaram o boné de Boston Celtics e Atlanta Hawks e foram dormir como apostas de Hawks e Utah Jazz, respectivamente. É uma área movediça pacas – “como se fosse uma nova loteria”, nas palavras de outro scout.

Resta saber apenas se Caboclo estará disponível para eles ali no final da segunda rodada.

E, de novo: se (quando?) o ala for draftado, isso não quer dizer que vá ser aproveitado de imediato. Ele pode muito bem seguir carreira no Pinheiros. Pode ir para a Europa. Tudo depende da contingência da franquia: espaço no plantel, negociações com agentes livres e, tão ou mais importante, perfil da comissão técnica. Além, claro, do seu progresso.


O que fazer com Lance Stephenson? É o dilema do Pacers
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Podemos tratar o confronto como algo ainda em aberto. Afinal, sempre existe a chance de o Indiana Pacers vencer mais um joguinho em casa, forçar o sexto jogo, e aí um cataclisma floridiano acontece, e aí… Jogo 7 em Indianápolis.

Ok, fica o registro.

Depois do que vimos nesta segunda-feira, difícil acreditar num desfecho desses, não?

Nunca diga nunca, mas, a essa altura, até mesmo um deprimido Larry Bird já deve estar pensando longe, no que fazer com o elenco para a próxima temporada, quais mudanças serão necessárias para que seu clube desbanque o Miami Heat, enfim, depois de falhar em três tentativas (já contando com essa). Dentre as muita questões que vão entrar em pauta em suas conversas com Donnie Walsh e o gerente geral Kevin Pritchard, a mais instigante e mais complicada tem dono. “O que diabos fazer com Lance Stephenson?”, terão de ruminar.

Dwyane Wade já sofreu com Stephenson, mas também já aprontou com ele

Dwyane Wade já sofreu com Stephenson, mas também já aprontou com ele

Estamos tratando de um cara cheio de surpresas e que, em uma temporada e meia, se transformou numa figura-chave do Indiana Pacers, e, ao mesmo tempo, uma das mais controversas da NBA. Ele foi de fenômeno no high school, a garoto problemático, a uma transição frustrada para o universitário, a aposta de Bird no segundo round do Draft, a reserva-no-fim-do-banco, a contribuidor, a titular depois da lesão de Granger, a candidato barrado do All-Star, a brigão com Evan Turner, a desafiador de LeBron James, a saco de pancada de LeBron James, a… Agente livre, aos 23 anos.

Pois é. O primeiro contrato do jogador está expirando em mais um momento de encruzilhada para aquele que afirma que já “nasceu pronto”.

O talento de Stephenson não se discute. O ala-armador é forte para burro, veloz, atlético, que corta para a cesta, assimila o tranco e consegue finalizar. Tem muita capacidade no drible, atuando como um facilitador no perímetro em jogo de meia quadra e rasgando a defesa em contragolpes. Essa habilidade se alia a uma visão de jogo acima da média – é quem melhor coordena o pick-and-roll no ataque do Pacers, isso se não for o único. Seu chute de três pontos ainda não tem o aproveitamento ideal, mas vem melhorando a cada ano. Bela combinação para alguém em evolução.

Agora, tem o outro lado da moeda. Stephenson tem números muito interessantes à primeira vista, tendo terminado a temporada regular com 13,9 pontos, 7,2 rebotes e 4,6 assistências – isso, jogando por um time que apenas trota pela quadra, ao contrário de um Philadelphia 76ers que infla as estatísticas com tanta correria. Nas métricas mais avançadas, que avaliam a eficiência do atleta, seu rendimento já não é tão formidável assim, estando apenas 0,7 pontos acima da média da liga.

Um tanto errático, ele pode exagerar em suas aventuras rumo ao garrafão, atirando a bola por cima da tabela. Tem uma tendência a se enamorar por seu arremesso de média distância ou com seus dribles marotos, sambando na frente do oponente até forçar o chute, não importando que esteja bem marcado. Pode por vezes tentar enxergar demais em quadra, passar a bola para o árbitro e cometer mais um turnover. E por aí vamos. São coisas que podem ser limadas. Afinal, é jovem e tende a melhorar com tudo isso, com o acúmulo de experiência.

Mas aí que chegamos ao grande problema. Vai melhorar, mesmo? Com Stephenson e seu temperamento ao mesmo tempo abrasivo e avoado, nada é garantido. Considerando os problemas que teve como adolescente, o nova-iorquno já deu uma boa acalmada fora de quadra, embora possamos imaginar que ele exija mais atenção dos treinadores e dirigentes aqui e ali – nem tudo o que rola nos bastidores vira público. De todo modo, com as questões do jogo,  já sabemos que ele ainda tende a se perder facilmente em imaturidade. Seu histórico diante dos astros do Miami Heat é uma prova disso.

Episódio 1: 2012, semifinais do Leste, quando Stephenson, então um reservão, faz sinais de que LeBron estaria amarelando depois de errar um lance livre. Juwan Howard dá um pito no rapaz no treino do dia seguinte, e o gigantão Dexter Pittman o acerta de maneira extremamente bruta no retorno a Miami.

Episódio 2: Stephenson conclui uma linda infiltração em duelo da temporada regular deste ano, se enrosca debaixo da tabela, sai fazendo pose e fala alguma bobagem na cara de Dwyane Wade, este, sim, malandro de tudo. Toma falta técnica e acaba excluído do final do jogo. O Pacers acabou vencendo, mas David West ficou pê da vida. “Ele precisa amadurecer. Ele tem de vestir calça de gente grande”, afirmou.

Episódio 3: seu time perde dois jogos seguidos para o Miami Heat pela primeira vez em dois anos, mas isso não impede Stephenson de sair por aí dizendo que havia entrado na cabeça de LeBron, que o fato de o Rei descer do pedestal para rebater suas provocações em quadra era “um sinal de fraqueza”. Nesta segunda, o ala terminou a partida com 9 pontos, 5 rebotes e  4 assistências. LeBron mandou uma linha de 32 pontos, 10 rebotes e 5 assistências para a galera, afirmando depois que achou graça e soltou um “tsc, tsc” esnobe daqueles, quando ouviu aquilo que pareceu uma piada do adversário.

Vejam. Nenhum crime foi cometido, não é é nada causar para espanto na comunidade. É bem normal que um bafafá desses aconteça. Stephenson não foi o primeiro, nem será o último a mexer com James. Os caras tentam de tudo, porque em quadra está difícil de segurar o homem.

Porém, levando em conta sua própria experiência contra os atuais bicampeões e o simples fato de seu time estar perdendo o confronto, seus comentários já foram arquivados imediatamente na pasta de tremendas bobagens. “Já enfrentamos Boston um monte de vezes, e eles sempre fizeram questão de ir além do basquete, sempre nos superando em jogos mentais e no jogo físico. Aprendemos que o único modo que os derrubaríamos seria na dedicação ao jogo de basquete”, afirma Dwyane Wade.

É, Stephenson, tem o Cole para provocar antes do LBJ

É, Stephenson, tem o Cole para provocar antes do LBJ

E, aliás, na hora de jogar basquete, o ala-armador por enquanto tem de se preocupar muito mais com Norris Cole e Ray Allen do que com LeBron. O armador topetudo do Heat infernizou a vida do titular do Pacers nas últimas duas partidas, atacando seu drible com ferocidade. E aí que está: Stephenson tem habilidade para seu tamanho, é um diferencial que ele oferece para a armação do time, mas, individualmente, não é nenhum Allen Iverson ou Carlos Arroyo, enfrentando percalços quando pressionado por alguém mais ágil. Em Miami, com o baixinho grudado a seus braços, seu rendimento despencou, comparando com o que apresentou em Indianápolis. Do outro lado, não é sempre que consegue perseguir um veterano 15 anos mais velho.

Sim, conforme dito: Stephenson ainda é um produto em formação. Com muito potencia, mas ainda com buracos em seu jogo que podem ser explorados por oponentes que não se perturbem com suas fintas e infantilidades.

Da sua parte, orgulhoso, o ala-armador afirmou que não se arrepende de nada do que tenha dito. “Tentei jogar bola, tentei irritá-lo, e acho que ele decidiu e conseguiu a vitória. Eu aguento as críticas, não tem problema”, afirmou. Para seus companheiros de equipe, contudo, as coisas não ficam desse jeito –  em mais uma manifestação pública de discórdia, com a preciosa química do início da temporada escoando sem parar pelo ralo.

Antes da terceira derrota na série, Paul George já havia se pronunciado de maneira ressabiada. “Ele está falando para o cara errado, latindo para a árvore errada. LeBron é desse jeito, se motiva a partir dessas coisas”, disse. “O Lance é um cara genuíno. Ele poderia às vezes ser mais modesto e manter as coisas entre nós.”

Depois do jogo, o ala já não foi tão dócil assim. “Sabe, o Lance é jovem, e essa foi uma lição. Tem hora que você apenas tem de controlar o que fala. Você está num palco grande. Tudo o que você diz vai ganhar um significado mais forte. Temos de ser mais espertos nessas situações, na hora de expressar nossas opiniões. Quando você provoca e se vê em um duelo, você tem de corresponder, tem de se garantir. Tenho certeza de que um monte de gente ia ficar ligado para ver o que Lance faria devido ao que ele disse.”

O armador George Hill, por outro lado, disparou: “Quanto mais a gente puder ficar quietos e apenas jogar bola, será melhor para nós”.

Momento de reflexão, Stephenson

Momento de reflexão, Lance. Sem arrependimentos

A cotação de Stephenson já vinha caindo – junto com a produção coletiva da equipe. Na final do Leste, ele escolheu a pior hora para relembrar o mercado sobre suas extravagâncias.

Ao final da temporada, pelo menos dez franquias estarão mais de US$ 12 milhões abaixo do teto salarial – o que não é o caso de Indiana, que terá algo em torno de US$ 66 milhões comprometidos para o ano que vem, caso decidam manter Luis Scola, enquanto as projeções de para a aplicação da temida luxury tax são para cada dólar gasto a partir dos US$ 77 milhões. Além disso, o time estaria obrigado a completar seu elenco com pelo menos mais dois contratos mínimos, o que elevaria a folha a US$ 70 milhões. Isto é, caso o versátil atleta aceitar uma proposta acima de US$ 7 milhões, o Pacers, uma franquia num dos menores mercados da liga, teria de arcar com as consequências financeiras para mantê-lo em sua base.

Dependendo do que LeBron, Wade e Bosh decidirem, a classe de agentes livres de 2014 não será das mais generosas. Temos Eric Bledsoe e Kyle Lowry como opções mais jovens entre aqueles que não têm restrição nenhuma, enquanto Pau Gasol e Paul Pierce puxam a fila dos velhinhos, e aqui, nem vale incluir Dirk Nowitzki, tá? Outros nomes: Greg Monroe, Rudy Gay, Zach Randolph, Gordon Hayward, Chandler Parsons, sendo que alguns deles são restritos, com seus respectivos times tendo a palavra final sobre qualquer negócio, e outros precisam exercer cláusulas contratuais para entrar na roda.

Quando muitos clubes têm grana para gastar e poucos craques estão ao seu dispor, é quando somos brindados com aqueles contratos atrozes, em que os agentes extorquem os dirigentes com sadismo. Nesse contexto, o ala-armador do Pacers aparece como uma opção intrigante, ainda que de risco.

A cada bandeja espetacular, alternada com uma presepada no Jogo 5, é para se pensar bem sobre o que vem por aí com Stephenson. O Pacers já apostou no atleta uma vez e, no custo x benefício, saiu ganhando. Até aí, era fácil, já que ele recebeu apenas US$ 980 mil de salário neste ano. Para seu próximo contrato, no entanto, a expectativa é de um valor muito maior que essa… Hmm… Mixaria.

Alguém vai se candidatar a tentar domar a fera, a refinar seu talento, torcendo para que seu comportamento se amanse a cada página de calendário dispensada? Segundo os setoristas norte-americanos, há diversos clubes realmente preocupados com isso. Até que ponto a franquia está disposta a pagar para ver?

Bem que Larry Bird gostaria de adiar essa decisão. O presidente do clube preferiria fazer projeções sobre sua equipe, sobre como os Pacers se comportaria contra Spurs, ou Thunder – mas isso já parece muito distante. Em sua curva ascendente e sinuosa, ainda não chegou a hora de Stephenson encarar LeBron.


Nova arrancada do Miami coloca Indiana contra a parede
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

Por três jogos seguidos, o Indiana Pacers abriu uma boa vantagem no placar, mas só conseguiu protegê-la na partida inicial da série. Por um lado, pode ficar a sensação de que o time de Frank Vogel vacilou geral e que entregou a série de bandeja para o Miami Heat. Mas seria injusto dizer isso. Injusto com os atuais bicampeões.

Estamos falando de um time que perdeu o primeiro período deste sábado por sete pontos, mas que venceu o restante do jogo por 19. O time que anotou apenas 14 pontos em 12 minutos, mas que acumulou 85 nos 36 restantes. Mesmo contra uma defesa como a do Indiana Pacers, que, durante o campeonato, chegou a atingir níveis históricos de eficiência.

“É uma dura derrota para nossos caras”, diz o comandante do Pacers, Frank Vogel. “Acho que competimos muito bem, viemos para a quadra de modo bastante forte, tivemos um bom início e, então, não soubemos controlar nossas faltas e não conseguimos também reagir ao aumento de intensidade defensiva deles.”

O técnico faz um bom resumo, mas as coisas não são tão simples assim, né?

Com cinco faltas, George Hill foi limitado a apenas 21 minutos de ação, e isso de fato interferiu demais com seus planos para a equipe. O quinteto inicial de Indiana ainda tem um saldo positivo quando reunido em quadra, a despeito de duas derrotas em três jogos. No entanto, qualquer outra formação usada pelo treinador tem saldo negativo. Dureza, hein?

Sem Hill, Vogel perde um de seus poucos dribladores minimamente competentes, sobrecarregando Lance Stephenson e Paul George – especialmente quando consideramos as responsabilidades que ambos têm na defesa. Evan Turner poderia ajudar nesse sentido, mas como ficaria, aí, o espaçamento de quadra? Ainda mais comprometido, algo grave para um time que acertou apenas 28,6% de seus chutes de fora na primeira partida em Miami. E dá para confiar no ala marcando algum dos astros adversários ou mesmo Chalmers ou Cole? Nem.

Luis Scola dessa vez mostrou sinais de vida, terminando, vejam só, com o melhor saldo de cestas do Pacers (+9 em 13 minutos). Com a cabeça fresca, o argentinou reagiu e marcou oito pontos em algo como três minutos no primeiro tempo. Mas isso de nada adiantou no segundo tempo quando a bola mal chegou ao pivô – ao contrário do que se passou em Indianápolis, diga-se, em que foi acionado e não correspondeu.

Da mesma forma que DJ Augustin no ano passado, o armador reserva CJ Watson vem enfrentando imensa dificuldade contra o abafa constantemente promovido por Erik Spoelstra, que pediu a seus atletas para que não se esquecessem da identidade de sua equipe. Valeu, professor. Se a pressão defensiva do Miami desestabiliza até mesmo ataques bem coordenados como o do San Antonio Spurs, contra o Pacers, quando as coisas encaixam, vira massacre, mesmo.

Depois de 13 jogos com os rivais alternando vitórias, o Heat colocou o Pacers contra a parede ao conseguir, enfim, dois triunfos seguidos. Restam mais dois para que o time volte a uma decisão da NBA pela quarta vez consecutiva, para repetir algo que não acontece há quase 30 anos, desde o Los Angeles Lakers de 1982 a 1985 (uma vitória e uma derrota contra Celtics e Sixers).

A julgar pelo que vimos nos três primeiros confrontos, é difícil apostar numa derrapada, por conta desses e outros motivos – bastante óbvios, mas que voltam à tona na final do Leste de maneira impositiva:

Poder de fogo
Para plantéis que contam com figuras como LeBron e Durant, parece que nenhuma vantagem está plenamente segura – em dois ou três minutos de mão quente, a liderança se evapora. Se ao lado deles se apresentam talentos como Wade e Westbrook, então? Todo o cuidado é pouco: 15 pontos não são nada. Ainda mais para uma equipe com problemas ofensivos como o Pacers.

No segundo tempo do Jogo 3, o Miami Heat deslanchou. Mas não se esqueçam do que já haviam feito no final da primeira etapa. Juntos, LeBron e Wade anotaram 14 dos últimos 18 pontos antes do intervalo, reduzindo a diferença de 15 (37 a 22) para apenas quatro (42 a 38, praticamente um 0 a 0). É difícil se intrometer no caminho dos dois, quando estão determinados a atacar o aro.

Daí que a inteligência na montagem do elenco de suporte aos astros também nunca pode ser ignorada. Os craques estão em quadra para resolver, mas a diretoria chefiada por Pat Riley conseguiu armar uma estrutura exemplar ao redor dos dois. Os cartolas deram a Erik Spoelstra não só um conjunto formidável de atletas, mas também uma porção de bons chutadores para aliviar a pressão em cima dos cestinhas – a contratação de Ray Allen, neste caso, se prova mais e mais mortal. O veterano de 38 anos segue em forma refinada, graças a uma das rotinas mais abnegadas da liga.

O ex-chapa de Garnett e Pierce matou quatro bolas de três no quarto final, se aproveitando de algumas cochiladas de Lance Stephenson. Mas é difícil também manter a concentração o tempo todo, ainda mais com Wade e LeBron ao lado de um dos maiores arremessadores da história do basquete. Por conta própria, o trio marcou mais pontos que todo o time do Pacers no segundo tempo: 47 a 45. Veja no gráfico abaixo, da ESPN, a anatomia de um baita estrago:

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal dos analistas estatísticos da vez: jogo interno + chutes de fora com alto rendimento

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal sugerida pelos analistas estatísticos da vez: jogo interno + lances livres + chutes de fora com altíssimo rendimento

Foi a segunda vez na temporada em que os rapazes eleitos por Larry Bird abriram 15 no placar e perderam. A primeira havia acontecido no dia 18 de dezembro. Coincidentemente, elas se equiparam como as maiores viradas na campanha da equipe da Flórida. Tem a ver com a artilharia pesada da equipe.

Em pormenores…

LeBron James, essa aberração
“Temos de jogar nosso tipo de basquete. Temos de ser disruptivos. Acelerar o time que estamos enfrentando, e tentar voar por todos os lados na defesa… Somos um time que ataca. Quando encaixamos nosso jogo, muitas coisas acontecem ao nosso favor, e até conseguimos cobrir alguns dos erros que fazemos tanto ofensiva como defensivamente”, afirmou o superastro nos vestiários neste sábado. Hmm… Na mosca.

E como é que faz, LeBron?

Ah, tá. Fácil assim.

É impressionante sua consistência em um nível altíssimo, coisa de panteão. A cada jogo, seguimos acompanhando a história. Que bom que todos tenham aprendido a conviver com isso.  Nos três primeiros jogos, LeBron tem 24,3 pontos de média, 7,3 rebotes e 6 assistências, com 58% nos arremessos de quadra, em 123 de 144 minutos possíveis.

Mas… Vem cá: esse cara não se cansa nunca?

Nas últimas quatro temporadas, apenas dois atletas beiram os 14.700 minutos de jogo: LeBron e Kevin Durant. Isso equivale a algo como 300 partidas inteiras. Para muitos, esse seria o principal empecilho para um tricampeonato. Fadiga física e mental, especialmente de seu principal astro. Era o que muitos esperavam. Por enquanto, nada. E como apostar contra esse cara?

Ainda mais quando ele vem tendo uma certa ajudinha de…

Dwyane Wade, valeu o descanso
Neste mesmo período de quatro temporadas de parceria na Flórida, Wade não bateu os 12 mil minutos. Ele soma algo como 240 partidas na íntegra – ou 73% de uma temporada regular. Faz diferença. Spoelstra teve ainda mais precaução em administrar os minutos do ala-armador durante a temporada, na qual ele foi para quadra em 54 partidas, a menor quantidade desde 2008 – descontando, claro, o ano do lo(u)caute. O resultado é um Wade cheio de gás contra o Pacers, sem permitir que Lance Stephenson o maltrate. Aliás, pelo contrário. Suas médias são de 24,3 pontos, 4,3 assistências e 62% nos arremessos na série, em 36,7 minutos. Se ele mantiver esse rendimento, fica difícil até mesmo para o Spurs, gente. Dois jogadores de capacidade atlética de primeiro nível, experientes, entrosados, com fôlego para sustentar grande volume de jogo.

“Não sei porque as pessoas ficam agindo como se ele tivesse jogando aos 47 anos. Até parece que é o Bob McAdoo jogando”, disse Chris Bosh, em defesa do amigo. Ok, Christopher. Wade tem apenas 32 anos. Mas é inegável o esforço do clube para preservar sua saúde, pensando nos momentos de decisão da temporada. Algo, aliás, que até livra a sua pele…

Chris Bosh nem tchum. E daí?
Em termos de minutagem, Chris Bosh também já foi longe. O ala-pivô admitiu publicamente é o terceiro jogador que mais ficou em quadra nos últimos quatro anos, superando a marca de 12 mil jogados. São 2.500 a menos que o grande craque do time,  verdade. Mas lembrem que não é todo jogo que o camisa 6 tem de encarar brutamontes como Hibbert, Tyson Chandler e Al Jefferson. Bosh até conta com a escolta de Birdman e Haslem (e, de vez em quando, de Greg Oden). Mas teve de digladiar com esse tipo de gigante por muito tempo, admitindo estar cansado pacas no momento. E jogar contra o Indiana é uma dureza. Em especial para ele, que, nos últimos sete confrontos de mata-mata com seus arquirrivais, sustenta médias de 7,9 pontos e 4,6 rebotes, com 29,9% de aproveitamento nos arremessos. O Ian Mahinmi conseguiria estes números? Talvez não. Para um cara com o status de Bosh, porém, o caso é de bombar no exame. Mesmo com seu terceiro principal atleta rendendo pouco, o Heat está na frente.

Mando de quadra
O arranque do Pacers no início da temporada e todo o sofrimento na reta final para manter a primeira colocação no Leste, ter mando de quadra…Foi tudo para o espaço. A turma de LeBron conseguiu uma vitória em Indianápolis e confirmou, neste sábado, a “quebra de saque”. Acabou? Ainda não. Vamos ver se essa intensidade do Miami será mantida no Jogo 4, agora que estão liderando a série. A ver também se o Indiana segue confiante em completar a missão para a qual foi especificamente preparado.  Naturalmente, os visitantes têm mais uma chance na segunda-feira de recuperar a vantagem de decidir em casa. Basicamente, está em jogo sua sobrevivência na temporada. Se os visitantes não triunfarem no Jogo 4, aí, sim, bau-bau.


Miami força o impossível: Scola estremecer em quadra
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

É difícil saber quem fica mais perplexo ao assistir a um Luis Scola completamente estremecido contra o Miami Heat na final da Conferência Leste da NBA. Certo é que os dois terão um nó na cuca daqueles.

O argentino, claro, do seu canto vai se assustar, mas não deve perder a ternura. Nem tem como. Agora, do lado brasileiro, daquele que já se cansou de tomar marretadas na cabeça, para o qual o camisa 4 acabou se tornando o maior símbolo de uma geração brilhante e impiedosa, imagino os mais diversos sentimentos.

Scola fica livre, mas não converte a bandeja. Pressão total

Scola fica livre, mas não converte a bandeja. Pressão total

Aqueles que pendem propensão maior a espírito de porco devem estar se divertindo à beça, chorando de rir no sofá. Outros, podem ficar indignados: “Tá vendo!? Não é impossível marcá-lo! O cabelo já era!”, berrando, para nenhum Rubén Magnano ouvir. Dá para imaginar também aquele cara mais desiludido que toda essa penitência por que passa o argentino vai deixá-lo ainda mais motivado para o Mundial, e aí sai da frente…

Independentemente de qual for a sua impressão, meu senhor e minha senhora, não vai aliviar o que já se passou nos últimos clássicos sul-americanos. E podem ter certeza de quem está sofrendo mais é o próprio Scola, um cara que não está habituado a ser tratado desta maneira em quadra. Geralmente ele é o cara a ditar as regras. Vocês bem sabem.

Mas é isso que a turma de Erik Spoelstra faz. Essa situação automaticamente  nos remete ao que aconteceu com Tiago Splitter no ano passado, não? Agora é a vez de seu ex-companheiro de TAU Cerámica claudicar ao encontro dessa defesa superatlética e agressiva. Por mais inteligente e experiente que seja o personagem, se a sua tendência é jogar de pés no chão, sem voar em direção ao aro, chega uma hora que os caras de Miami entram em sua cabeça. Nesse sentido, Roy Hibbert é uma exceção – além de ser muito mais alto e comprido.

Nesta terça, Scola hesitou sem parar na hora de atacar, com receio de soltar suas tradicionais bombas de média distância. Contentava-se em fazer a finta apressada, passar desajeitado por baixo do marcador que saltava para engoli-lo vivo. E toca passar para o lado, para trás, passar para onde quer que seja possível, com a bola pelando em suas mãos. Passes inseguros, mal direiconados, que não saíam do modo que se espera para alguém com tanta habilidade nas mãos e munheca. O chute, quando tinha coragem para arriscar, era precipitado, sem elevação nenhuma.

Foram 11 minutos no total para este campeão olímpico, apenas uma cesta de quadra em seis tentativas. Nenhum rebote. Uma assistência. E duas faltas. Fosse uma noite isolada de acidentes, tudo bem. Acho. Mas, se o Pacers venceu bem o Jogo 1, não foi por causa de Scola – sua produção também foi pífia, com dois pontos e cinco rebotes em 14 minutos, acertando apenas 1 de 3 arremessos.

Vamos além: nas últimas cinco jornadas, suas médias são de 2,6 pontos e 2 rebotes, em 10,4 inutos, com 27,8% de aproveitamento nos chutes. Imagine o drama para Júlio Llamas de aguentar a uma atrocidade dessas.

E faz como para brecar um cara desses?

E faz como para brecar um cara desses?

Na defesa, em marcação individual, a arrastada movimentação lateral do pivô, aod 34 anos, fica muito mais exposta diante dos arroubos dos armadores e alas do Miami. O veterano não consegue bloqueá-los, muito menos acompanhá-los uma vez que passam pelo corta-luz, avançando em direção ao garrafão. Haja cobertura para interditar essa avenida.

Se a diretoria do Pacers fez seu dever de casa antes de acertar a troca pelo argentino, obviamente sabia dessas limitações de mobilidade. Os cartolas só esperavam que seu empenho nos rebotes e habilidade ofensiva compensassem., para liderar a segunda unidade e dar um merecido descanso a David West.

Aconteceu raramente durante a temporada, e todos esperavam pacientemente que Scola viesse para o jogo nos mata-matas. Nos respingos da temporada regular em abril, sua produção até parecia direcionada para isso, com 11,6 pontos e 5,3 rebotes em 19 minutos, com 55% de quadra. Que nada.

Contra o Hawks, o pivô até conseguiu dois bons jogos no início da série, mas, depois, acabou banido da rotação, sem conseguir encontrar um bom matchup – ficou em quadra por apenas oito minutos no Jogo 5 e nem tirou o agasalho nos duelos seguintes. Depois, contra os veteranos pivôs do Wizards, num embate aparentemente favorável, a mesma história: ganhou minutos na abertura, mas terminou jogando apenas 27 minutos entre as quarta e sexta partidas. E cá estamos, acompanhando uma rara e prolongada draga para um atleta tão regularmente eficiente.

Por essas e outras, experimente dar uma busca no Twitter por “Luis Scola” ao final dos jogos. A coisa fica feia. Ao menos não esbarrei em muitos palavrões, mas dá para dizer que o cabeludo não está na lista dos queridinhos do público em Indianápolis – ou de qualquer um que esteja torcendo contra o Miami Heat. Para muitos, já está mais para um vilão bastante maligno.

Quem diria, né?

Quando o Indiana fechou a transação com o Phoenix Suns lá atrás, Larry Brid foi incensado por 95% da crítica (sim, sim, estamos quase todos nessa). Aí que não só o argentino vem tendo este ano miserável, como Gerald Green e Miles Plumlee chocaram a Costa Oeste, e o clube do Arizona ainda terá de brinde a 27ª escolha do Draft deste ano. Vixe.

A ideia era que o banco, tão fraco no ano passado, ganharia mais um cestinha respeitável, ao lado de Danny Granger. Chegaram ainda CJ Watson e Chris Copeland. O time curava sua principal deficiência, abastecendo uma segunda unidade fraquinha que só.

Rasual Butler, mesmo? Miami, seu ex-time, também não acredita

Rasual Butler, mesmo? Miami, seu ex-time, também não acredita

Depois de tanto chacoalho no mercado – algo que continuou fazendo ao ir atrás de Bynum e Turner, agitando demais a química de sua equipe –, Bird só não poderia imaginar que o veterano Rasual Butler (seis pontos em oito minutos) seria seu melhor reserva em quadra no segundo jogo da aguardada série contra seus grandes rivais. Butler que, para muitos, já foi dos piores jogadores da liga nas últimas temporadas e que precisou apelar e disputar a liga de verão de Orlando este ano para se manter empregado.

Para CJ Watson, o bom senso pede um desconto. O armador, substituto do antes famigerado DJ Augustin (é, o Thibs também sabe cuidar dos atletas no ataque…), teve uma partida péssima (0/4 FG, três rebotes e só), mas fez uma boa temporada. De Ian Mahinmi, não se pode exigir muita mais do que alguns rebotes e umas trombadas.

Com a garganta inflamada, Evan Turner até estava liberado para jogar, mas não é que Frank Vogel estivesse desesperado para reinseri-lo em sua rotação. Sua contratação foi um grande erro de cálculo de Bird. O ala simplesmente não combina com Paul George e/ou Lance Stephenson em quadra.

Depois de Plumlee, mais uma de suas escolhas de primeira rodada mal pisou em quadra. Dessa vez foi o ala Solomon Hill, um novato de 23 anos que teoricamente estaria mais bem preparado para jogar do que um molecote de 19, mas que nem relacionado para a partida estava.

No calor de mais uma dura série contra o Heat, porém, não é para Hill ou Butler que os torcedores vão olhar. Scola chegou com enorme expectativas e custou caro. Para um vencedor como ele, é de se esperar que encontre alguma solução para o terror que vem pela frente, a não ser que Vogel já opte por Chris Copeland em sua vaga a partir do Jogo 3. Enquanto os times não voltam para quadra, ficam todos em suspense e boquiabertos, um tanto incrédulos: a rapaziada de Indianápolis, mas também os argentinos e brasileiros.


Larry Bird não pára quieto, e agora Evan Turner que se vire
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Danny Granger e Evan Turner estrelando em... A Troca

Danny Granger e Evan Turner estrelando em… A Troca

Evan Turner foi o número dois do Draft de 2010, logo abaixo de John Wall e oito postos acima desse tal de Paul George. Depois de construir uma sólida carreira por Ohio State, evoluindo a cada temporada, o ala era visto como um tiro certo naquele recrutamento: alguém que chegaria para resolver no perímetro. No fim, se tornou mais uma de uma longa lista de segundas escolhas que não renderam conforme o esperado em seus primeiros anos de carreira.

Está certo que, em Filadélfia, ele nunca encontrou a situação certa para por em prática suas habilidades. Jrue Holiday, Andre Iguodala e, agora, Michael Carter-Williams são todos atletas que curtem dominar a bola, criando por conta própria ou para os companheiros. Sim, exatamente o que Turner mais gosta de fazer.

Agora… Se o ala enfrentou dificuldades, isso também pode indicar que encara o jogo de uma forma limitada, sem conseguir se adaptar ao que está ao redor. Basicamente, por não se movimentar da maneira adequada fora da bola e ser (ainda!) um péssimo arremessador de longa distância. Além do mais, com um ou dois passos dentro do zona interior, continua sem fazer lá muita coisa:

Nesta temporada, Turner atingiu a média da liga (amarelo), no máximo, em dois quadrantes

Nesta temporada, Turner atingiu a média da liga (amarelo), no máximo, em dois quadrantes

Agora, pior, mesmo, é ver que nem próximo da cesta ele consegue usar sua envergadura e altura para finalizar com precisão. No fim, parece que a única jogada saudável para o atleta, no momento, é uma semi-infiltração pela direita, brecando para o chute em elevação. Muito pouco, para alguém supostamente tão talentoso e com tanto volume de jogo. Sua capacidade no drible é indiscutível, algo que pode encantar e, ao mesmo tempo, iludir – o quanto de produção sai dali?

Turner e seu arremesso tenebroso. Com a mão esquerda, parece que está bloqueando a si próprio

Turner e seu arremesso tenebroso. Com a mão esquerda, parece que está bloqueando a si próprio

Além do mais, considerem que o Sixers foi o time que mais correu nesta temporada, com média superior a 102,5 posses de bola por partida (comparada com as 96,1 do Pacers). Na correria, a ideia é pegar as defesas menos preparadas, armadas para a contestação de seus arremessos. Ok, funciona bem melhor quando se tem um Steve Nash na condução dos contragolpes, mas o fato é que Turner só usou esse ritmo acelerado para inflar suas estatísticas (mais ritmo, mais posses de bola, mais arremessos…), sem nenhum acréscimo em aproveitamento. Ele tem médias de 17,4 pontos, 6 rebotes, 3,7 assistências, mas ainda, em termos de eficiência, segue abaixo da linha mediana da liga.

Aos 25 anos, fica a dúvida sobre o quanto pode evoluir ainda. De todo modo, se Larry Bird decidiu apostar (mais uma vez!), quem é que vai duvidar? Fica a expectativa agora sobre como Frank Vogel vai usar Turner em sua rotação, uma vez que Paul George e Lance Stephenson são tão ou mais controladores do que Jrue, Iggy ou MCW – e colocar Tuner ao lado dos dois diminuiria, e muito, o espaçamento de quadra, limitando os ângulos para as infiltrações dos dois jovens astros.

Talvez os diretores do Pacers confiem no seu programa de desenvolvimento de talentos – e pensem no cara como um plano B para o caso de perderem o futuro agente livre Stephenson ao final da temporada. Talvez queiram Turner para diminuir um pouco a carga de minutos de George e Stephenson nesta reta final antes dos playoffs.  Ou talvez a troca só diga algo significativo, mesmo, sobre Danny Granger.

O veterano havia disputado apenas cinco partidas no campeonato passado. Demorou um tempão para voltar nesta edição, com problemas no joelho. O clube aguardou exatamente 29 jogos para ver se ele conseguia, de alguma forma, relembrar ao menos 60% do que foi no passado – no auge, em 2009, foi um All-Star. Provavelmente seria o suficiente para lhe manter como sexto homem, completando a rotação de perímetro fortíssima. Não aconteceu – e, na avaliação da franquia, fica evidente, não vai acontecer tão cedo.

É muito vermelho para o gosto de quem luta pelo título

É muito vermelho para o gosto de quem luta pelo título

O ala conseguiu, de alguma forma, abaixar sua média nos arremessos de dois e três pontos, seja pelas métricas mais tradicionais ou pelas ditas avançadas. O aproveitamento de 33% nos disparos de fora ainda é superior ao de Turner, mas não o suficiente para convencer Bird a mantê-lo na base, ainda mais com a mobilidade bastante limitada e a incapacidade de produzir rumo ao aro.

Como o legendário Bird já disse, é tudo ou nada para o Pacers este ano. Se Granger não estava preparado para ajudar a equipe nos próximos meses, especialmente a partir de abril, que tentassem outra direção – ainda que estranha, a princípio. Com o título e só o título como plausível meta, qualquer noção de lealdade pelos serviços prestados vai para o espaço. Bye, bye, Danny, foi bom enquanto durou.

Granger vai se apresentar ao Sixers nos próximos dias. Sua turma já está espalhando na imprensa que seu desejo é apenas assinar a papelada e rescindir o contrato, para ficar livre e beliscar uma vaguinha em outro concorrente ao título. Estão de olho: Thunder, Spurs e… Heat  que, glup!, acabou de despachar Roger Mason Jr. para Sacramento justamente para abrir uma vaga em seu elenco.

Só faltava oa ala seguir Ray Allen e se mudar para South Beach. Teoricamente, um movimento muito improvável. Seu relacionamento com George, David West, demais companheiros e membros da comissão técnica é hoje ainda muito mais amistoso do que o do chutador com Boston. Na sua despedida, por exemplo, fez questão de abraçar um por um que estava presente no ginásio. Agora imaginem se acontece? Como se a eventual disputa Miami x Indiana precisasse de mais ingredientes picantes…

De qualquer maneira, para um time que está no topo da Conferência Leste – agora bastante pressionado, é verdade –, o Indiana ainda se mostra irrequieto, se mexendo sem parar, tentando achar a combinação perfeita para destronar os LeBrons. Vamos ver se Evan Turner se encaixa nessa. Ele vai ter de se virar. A essa altura, seu status de número dois do Draft já não serve mais para nada.

(PS: sobre o pivô Lavoy Allen, não há muito o que dizer. Só deve entrar em quadra no caso de alguma gripe suína se espalhar por Indianápolis.)


Andrew Bynum, a aposta enigmática de Larry Bird
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Bynum x Bosh: algo para se ver nos playoffs? E aí, Bird?

Bynum x Bosh: algo para se ver nos playoffs? E aí, Bird?

Quando o Indiana Pacers avançou rapidamente com a contratação de Andrew Bynum, não foram poucos os que entenderam o acerto como uma medida preventiva por parte atual líder da Conferência Leste. Prevenção em muitos sentidos, dentre os quais se destacaria sorrateiramente a intenção de tirar o pivô da alçada do Miami Heat. Poxa, os caras já estão se virando com o Greg Oden – qual o motivo, então, de dar a Pat Riley a chance de reabilitar dois gigantes talentosos?

Larry Bird, o Jesus do basquete em Boston e chefão do Pacers, não achou a menor graça nessa lógica. Ao menos foi o que disse: “Não temos dinheiro para jogar fora assim e deixá-lo sentado no banco. Essa talvez seja uma das coisas mais estúpidas que já ouvi”.

Se ele está falando, quem somos nós para discordar, né? Mesmo que a cada jogo entre Indiana e Miami as coisas fiquem mais quentes, na esteira de dois confrontos eletrizantes em duas temporadas seguidas pelos playoffs da liga, com os treinadores e jogadores falando abertamente sobre cada elenco/time está moldado para bater o outro…

Mas tudo bem. É o que está colocado publicamente. E, de qualquer forma, Bird menciona algo indiscutível: a despeito da capacidade que a franquia tem para competir pelo topo no Leste, o Pacers está bem distante da elite em termos de arrecadação. Eles até se viram com boa administração, algumas apostas certeiras no Draft e um programa sólido de desenvolvimento dos atletas. Só não dá para fazer aviãozinho com notas de cem e distribuir em seja lá qual for a praça central de Indianápolis.

Agora, mesmo que a ressalva do legendário ex-jogador seja aceita, diante dessa lógica de economia apertada, a pergunta ainda se faz necessária: se não podem queimar a grana, vale, ao menos, apostar?

Porque Bynum, a essa altura, é, sim, uma aposta. De um milhão de dólares.

* * *

Orgulhoso, Andrew Bynum fez questão de espalhar a informação por toda a NBA: ele não assinaria contrato algum que fosse pelo salário mínimo da liga. Mesmo que estivesse desempregado, dispensado imediatamente pelo Chicago Bulls, depois da troca por Luol Deng. Mesmo que já tivesse embolsado US$ 6 milhões na temporada, para ficar em quadra exatamente por 420 minutos pelo Cavs – fazendo as contas, dá mais de US$ 14,2 mil a cada 60 segundos de jogo.

Podem falar que o cara é um sanguessuga, mercenário, depravado, o que for. Mas, assim como Kobe se recusou a ganhar menos em sua extensão contratual, para teoricamente ‘ajudar’ o Lakers, Bynum simplesmente não aceitou ganhar o piso – que é, por exemplo, o que o Phoenix Suns vai pagar a Leandrinho pelo restante do campeonato.

Típico. De jogador mais jovem da história da liga a pivô dominante, passando por muitas lesões e lições desde que foi selecionado pelo Lakers no Draft de 2005 – o último em que foi permitida a entrada direta dos adolescentes de high school e no qual foi ensanduichado, acreditem, por Ike Diogu e Fran Vázquez! –, o pivô se firmou como um dos personagens mais singulares numa liga CHEIA desses tipos. Até mesmo Phil Jackson se viu encafifado em diversas ocasiões tentando entender o sujeito.

Bynum e um de seus possantes

Bynum e um de seus possantes

Quando Bynum foi afastado pela diretoria do Cleveland Cavaliers nesta temporada, o Mestre Zen, mesmo depois de alguns anos separado do jogador, propenso a reflexões sobre o Cosmo e a Vida, não foi capaz de avaliar com propriedade o que se passa com o cara. “Fico relutante em julgar as intenções dele no basquete. Ele é um homem com muitos interesses e que tem uma vida fora do jogo”, disse. “Mas ele gosta de competir.”

Na época, para tentar limpar a barra de tantas calças enlameadas, diretores e treinadores do Cavs vazaram descaradamente diversas informações (ou “opiniões” travestidas de fatos) sobre como o pivô era uma figura apática no cotidiano da equipe e de como já não parecia ter mais o mínimo desejo de estender sua carreira. Coincidentemente ou não, foi a mesma linha de raciocínio que o seguiu durante sua passagem patética pela Filadélfia, cuja única contribuição para o Sixers só foi a estética capilar diversificada do lado de fora da quadra.

E vale a ênfase no “fora de quadra”, aliás. É o que mais se ouve sobre Bynum, como o próprio Jackson ressaltou.

É bastante curiosa, aliás, a reação generalizada aos “interesses do jogador para além do basquete”, como um viés crítico – obviamente não é o caso do treinador mais vitorioso da liga, que sabe muito bem: nem todos são maníacos feito Kobe Bryant. De qualquer forma, para aqueles de visão mais cerrada, é como se um advogado ou um dentista não pudessem pensar em outra coisa que não a lei, contratos, cáries e resina.

Um perfil da Sports Illustrated (daqueles imperdíveis, clássicos a partir da impressão) já detalhou suas diversas paixões. Como carros e o automobilismo em geral, por exemplo. Suspeita-se que, no mundo da NBA, talvez seja um dos poucos que acompanhe a Fórmula 1 para valer e vá identificar Rubens Barrichello numa pista de esqui em Aspen. Sabemos que ele também gosta bastante de futebol e já chegou a adiar uma importante cirurgia para acompanhar a Copa do Mundo de 2010 de perto – aí, sim, o Mestre Zen ficou fulo da vida.

O quanto essas coisas servem como distração? Ou, por outro lado, o quanto a “mente aberta” de Bynum poderia ajudá-lo a prosperar em sua profissão de verdade?

Kareem Abdul-Jabbar – 1) o maior cestinha da NBA; 2) ex-assistente do Lakers pessoal para Bynum; 3) co-piloto de aviões nas horas vagas – tenta nos ajudar a entender um pouco mais sobre isso. “Quando trabalhei com Andrew, eu o descobri como alguém brilhante e dedicado, mas que se entendiava com a natureza repetitiva do trabalho com os fundamentos do basquete, algo muito importante para que ele fosse bem-sucedido”, disse. “Na minha opinião, Andrew é o tipo de pessoa que tem uma batida diferente, é como se fosse um ‘baterista diferente’. Então não vamos saber os fatos até que Andrew decida nos dizer exatamente qual o problema (em Cleveland) e que compartilhe seus pensamentos a respeito.”

Abdul-Jabbar e o poder da mente com Bynum

Abdul-Jabbar e o poder da mente com Bynum

Quem também pode contar um pouco mais sobre o “homem Andrew Bynum” é Darvin Ham, alguém com um currículo muuuuuito mais modesto que o de Jabbar, mas que sempre foi daqueles jogadores prediletos dos técnicos por onde quer que tenha passado e que trabalhou como seu treinador da mesma forma. “Realmente passei muito tempo com ele em sessões de um contra um e também fiquei em trabalhos de grupo. Ele não é, mesmo, um cara que cria problemas. Ele apenas quer ficar sozinho, na dele, jogando basquete. Simples assim”, disse o hoje integrante da comissão técnica do Atlanta Hawks.

“Ele é um cara inteligente. Tem essas ideias sobre novas maneiras de treinamento. Umas coisas que ele sugeria para mim. Tivemos uma chance de conversar nas últimas férias, e ele simplesmente me deixou embasbacado pelo nível de como ele pensa as coisas”, continuou Ham.

Daí que ele foi questionado sobre quais técnicas novas seriam essas para se trabalhar com jogadores ou pivôs? “É uma atividade de ninja que poucos já viram e que ninguém dominou ainda. Vamos colocar as coisas desta maneira. E ele foi um dos melhores pupilos nisso. Abraçou isso totalmente.”

Técnicas ninja completamente secretas?!

Calma, não se assustem, pede o assistente do Hawks.

“É uma pena que ele tenha passado por tantos problemas físicos, mas agora estou feliz. Fico feliz de ver que alguém se prontificou a seguir em frente e foi atrás dele. No ambiente certo, mas sem querer dizer que outro lugar era o ambiente errado… Quando ele está focado, ele se foca de verdade.”

*  *  *

Larry Bird, seja na versão de jogador, técnico, dirigente, comentarista ou amigo de bar, é daqueles que não alivia em nada. Sai falando “verdades” na fuça de qualquer um. Obviamente, ao negociar com o pivô e seu agente, deve ter exposto quais condições ou tipos de conduta que não serão aceitas em seu quintal. Definitivamente não vai tolerar muito do que se ouviu sobre seus maneirismos em Cleveland.

Segundo consta, Bynum por diversas vezes entrou em conflito com Mike Brown e seus assistentes, sem aceitar bem o que se passava em quadra. Desafiava a comissão ao quebrar jogadas e rotações defensivas nos treinos. Ficava com cara de poucos amigos no banco ou no vestiário. Esse tipo de coisa que irrita no dia a dia.

Bynum gostava, ou não, de treinar com o Cavs? Dava trabalho?

Bynum gostava, ou não, de treinar com o Cavs? Dava trabalho?

Agora, também é preciso dizer que, no Cavs, o grandalhão não era o único resmungão ou forrrgado a atrapalhar a pretensa arrancada do time rumo aos playoffs. Bynum já foi dispensado, Deng chegou para tentar ensinar boas maneiras aos rapazes, e as derrotas não pararam de acontecer. Na mais recente visita desta cambada a Nova York, consta que diversos jogadores caíram na noite ao lado de JR Smith – e de quem mais, oras? – na véspera da partida. Tomaram mais uma sova daquelas (21 pontos).

As coisas estão pegando fogo por lá. O gerente geral Chris Grant foi demitido. Os rumores não cessam. O Akron Beacon Jorunal publicou que, “se não acontecer nenhuma virada significante antes da data final para trocas, este elenco vai passar por uma reformulação”. Para quem tiver um tempinho sobrando e o mínimo de interesse sobre o inferno que ronda Anderson Varejão, também vale a leitura. Dion Waiters, o talentoso e tinhoso ala-armador, já estaria nas últimas, com um temperamento de supercraque e produção extremamente irregular que alienam qualquer um. Mas até mesmo o queridinho Kyrie Irving também não passa despercebido. “Seu comportamento tem irritado companheiros e outros membros da organização”, diz a reportagem. Sim, Luol Deng não poderia estar mais deslocado.

Esperava-se que Irving e Waiters, pelo prestígio com que chegaram na NBA, seriam dois jogadores a liderar uma reação do Cavs, que colocariam fim ao luto pela partida de LeBron James – e seus talentos – para a Flórida. Em vez disso, os corajosos torcedores da combalida franquia são obrigados hoje a ouvir Bynum falando este tipo de coisa: “Não é que não tenha dado certo. Aconteceu apenas que a atmosfera por lá não era daquelas que promovem energia positiva”.

Agora bem distante desse ambiente, num time muito mais sereno e que é sério candidato ao título, o pivô tem a chance de recuperar sua imagem, já arranhada pelo ano sabático que passou em 2012-2013 e por algumas intempéries que deixavam Kobe e Gasol malucos em Los Angeles.

*  *  *

Você pode apelar aos números, pode passar horas e horas diante da TV ou laptop, vendo basquete que não acaba mais. É assim que se entende e se ama o jogo. Mas, para um time prosperar, as ações que se passam longe das câmeras e calculadoras também são igualmente importantes. A famosa química fora de quadra. A cultura de vestiário.

Na construção do atual elenco, Bird, traumatizado pelos assustadores acontecimentos em Auburn Hills há mais de dez anos, enfatizou por anos e anos a contratação de sujeitos de “bom caráter”, “comprometidos com o clube a comunidade” e tudo isso. Mesmo que custasse o desmanche de uma base muito talentosa e que tivessem de passar por um longo processo de reformulação, foi por esse caminho que ele seguiu. Acostumada a jogar os mata-matas desde os tempos de Reggie Miller novato, a equipe chegou a ficar quatro anos fora dos playoffs na década passada. Foi preciso paciência.

Paul George tinha apenas 14 anos quando Artest e Ben Wallace quase fizeram David Stern infartar. Há um distanciamento claro aqui. Mas o progresso que testemunhamos tanto do ala como de Roy Hibbert e Lance Stephenson tem influência direta desse trabalho que Bird desenvolveu a partir de 2005. Assim como a composição de uma das melhores defesas de todos os tempos. Não se trata de mera falácia. Para se armar um paredão desses, é preciso que um atleta cubra o outro, e isso vai além de conceitos táticos, embora Frank Vogel ainda não receba os créditos devidos pelo que armou. Fato é que, todavia, neste plano de longo prazo, a franquia juntou aos poucos as peças que formam o timaço de hoje, tendo sempre em vista uma só diretriz pessoal.

Para os que cobrem regularmente o Pacers 2013-14, a sinergia no discurso dos jogadores e a camaradagem entre eles são grandes marcas e se impõem jogo após jogo, treino após treino. Não que sejam todos santos. Stephenson já aprontou das suas, inclusive como um reservão há dois anos no primeiro grande embate com o Heat, provocando LeBron James. Agora uma figura importantíssima para o time, o ala-armador se acalmou.E muito disso tem a ver com o contato diário com Bird e jogadores bastante sérios como David West e Luis Scola, entre outros, que metem medo ao seu jeito. As costelas dos adversários têm marcas a respeito.

É nesse contexto que a enorme e controversa figura de Bynum será inserida. Nem mesmo nos tempos de títulos com o Lakers o pivô teve contato com um ambiente regrado, controlado desses. Como vai reagir? E, talvez mais importante, como os donos do pedaço encaram sua chegada?

George x Granger: disputa só no game no vestiário do Pacers

George x Granger: disputa só no game no vestiário do Pacers

Paul George foi o mais receptivo, durante a repercussão da negociação, embora colocando uma ou outra vírgula aqui e ali. “Não dá para deixar passar um talento gigante desses, e espero que ele seja capaz de nos ajudar, vindo com uma atitude para aceitar nosso programa”, afirmou o jovem astro. “Ele vai ter de provar muita coisa para si mesmo, se ele quer jogar, ou não. Se ele vier pronto para isso, pronto para trabalhar bastante, realmente acreditando em nosso programa, não temos nenhum problema de tê-lo por aqui. Esperamos que, no segundo em que ele entrar no vestiário, que todos o recebam de braços abertos e que ele sinta a química da equipe. Temos um grupo muito próximo aqui. Vamos saber de cara se ele está comprometido conosco, ou não.”

Não parece, realmente, um discurso de irmandade? Seria Bynum capaz de aprontar tanto a ponto de bagunçar com isso? Seria dispensado de imediato, ao menor sinal de alerta?

David West e George Hill, por exemplo, não quiseram falar de imediato sobre o assunto. “O que o Larry disse? Se você tem alguma questão, vá perguntar para ele, ou Frank”, afirmou o ala-pivô. “Pergunte para o Frank”, reforçou o armador, em contato com o Star, de Indianápolis.

Bem, Frank Vogel, aquele que vai tentar fazer o que Mike Brown fracassou em duas ocasiões – dobrar Bynum –, estava bem mais sorridente que seus atletas. “Ele sabe que aqui é o lugar certo. Acreditamos também que oferecemos o lugar certo para ele. Ele expressou (durante as tratativas) que quer se encaixar no time, e essa foi a palavra que queríamos ouvir, considerando nossa mentalidade de que o que conta primeiro é o time”, afirmou.

Tudo isso é muito bacana, mesmo, mas não impediu que o próprio Vogel ligasse com urgência para Brian Shaw, seu ex-braço direito e outro a trabalhar no Lakers com Bynum, para se informar mais a respeito do grandalhão antes que qualquer cheque fosse assinado. Qual foi a resposta?

“Acho que muito do que se fala sobre ele… Ele é um bom sujeito. Não é má pessoa”, disse.

(Parêntese 1: Reparem que, tal como Darvin Ham, Shaw interrompe seu discurso e redireciona a frase para algo mais direto.)

“Acho que ele passou por algumas situações em qe ele realmente não respeitava o treinador e o programa.”

(Parêntese 2: Essa foi uma baita espetada em Mike Brown, e vale relembrar que muitos esperavam e/ou torciam para que Shaw fosse contratado como o sucessor de Phil Jackson no Lakers… Mas continuemos.)

“Sei que, em sua vida pessoal, ele vem lidando com algumas coisas com sua mãe. Então ele ficou meio que distraído, o que é algo você espera, levando em conta essas coisas.”

*  *  *

No release para anunciar a contratação, a equipe de comunicação do Pacers fez questão de incluir esta frase aqui do bebezão: “Será ótimo ficar na reserva de Roy, e eu farei qualquer coisa para ajudar este time”. Bem conveniente, né? Que gesto bonito. “Não foi uma decisão difícil. Acho que é o lugar certo para mim e, com toda a honestidade, acredito que temos a melhor chance para vencer.”

Ok, vamos dar um voto de confiança, então. Que ele se dedique ao máximo e desencane de jogar boliche com o joelho estourado. Já ajudaria bastante. Mas, pensando em quadra, que tipo de Bynum vai se apresentar em Indiana?

Sonhar com seus números e atuações dos bons tempos de Los Angeles Lakers, quando chegou a ter médias de 18,7 pontos e 11,8 por jogo, parece delírio. Mas será que, num time muito mais bem estruturado, ele consegue render (muito) mais do que fez em pouco tempo de Cleveland? Bird e Vogel esperam que sim. Porque o que ele apresentou nos primeiros meses da temporada não deixa muita gente animada, não. Vejamos, por exemplo, seu aproveitamento ofensivo:

Em uma palavra: desastre. Bynum teve muita dificuldade para converter seus arremessos de perto da cesta, como as manchas vermelhas mostram no gráfico

Em uma palavra: desastre. Bynum teve muita dificuldade para converter seus arremessos de perto da cesta, como as manchas vermelhas (abaixo da média da liga) mostram no gráfico

Agora, segue seu quadro de arremessos na temporada 2011-2012:

Em 2011-2012, sua última temporada inteirona, o vermelho se espalha por todos os lados, mas próximo da cesta, a área mais importante, vemos um aproveitamento muito melhor. Muito melhor

Em seu último campeonato em que estava inteiro, ou algo perto disso, o vermelho se espalha por todos os lados, mas próximo da cesta, a área mais importante de atuação, vemos um aproveitamento muito superior.

Além de ser muito mais eficiente nas finalizações próximo da cesta – quem não se lembra das ponte aéreas de Gasol para o cara? –, é importante comparar a diferença  no volume de chutes de média distância entre os dois gráficos, constando-se um padrão de jogo bem diferente . Sem explosão ou mobilidade, Bynum se viu afastado do garrafão. Mas, mesmo ali perto, não foi nada ameaçador. Na defesa, ele pode ficar ainda mais exposto a jogadas em pick-and-roll, sem conseguir se deslocar adequadamente para o lado, e, de certa forma, precisará ser protegido pelo sistema, sem precisar subir tanto em quadra.

Em termos estatísticos, suas médias despencaram tanto do ponto de vista de índices de eficiência (que podem ser comparados aos de seu segundo ano na liga, quando tinha apenas 19 anos) como nas projeções de produção por minuto. Definitivamente não estamos mais diante de uns dos três ou cinco melhores pivôs da liga. Ainda assim… Seus números são bem mais palatáveis que os do francês Ian Mahinmi, que, silenciosamente, vem fazendo uma campanha horripilante de ruim, nos 16 minutos em média que recebe para dar um descanso a Hibbert. Temos aqui, enfim, algo concretamente positivo a falar sobre o investimento.

E Frank Vogel está muito mais otimista, na verdade, do que qualquer blogueiro pé-rapado e abelhudo. “Ele tem uma mobilidade muito boa e deu a entender que pode ser uma força”, disse o técnico, com base nas análises de seu estafe sobre as atuações do grandalhão neste campeonato. “Ele pareceu bem.”

É de se imaginar que o treinador queira ver seu novo gigante atuando desta maneira:

No dia 30 de novembro, Bynum, mesmo pesadão, conseguiu se impor diante de Joakim Noah (também baleado, diga-se, sem ter feito uma pré-temporada adequada) e do chatíssimo Chicago Bulls, com 20 pontos, 10 rebotes e 5 tocos. Mesmo com tempo limitado, ele ainda emendaria mais três jogos sólidos em seu primeiro momento de brilho desde 2013 – e que durou pouco. Em Indiana, todavia, a carga será muito mais leve.

Mahinmi, prestes a ceder 16 minutos para Bynum

Mahinmi, prestes a ceder 16 minutos para Bynum

Vogel e sua comissão tentarão trabalhar o jogador de uma forma que ele se aproxime ao máximo de um fac-simile de Hibbert, nos minutos que tiver ao seu dispor. Que consiga, de alguma forma, proteger a cesta, sem se expor ao máximo no perímetro. Mas convenhamos que, para o Pacers, pensando no confronto que interessa, a final do Leste, eles realmente esperam que o reforço não tenha tanto tempo de quadra. Quanto mais Hibbert ao centro da defesa, melhor para brecar os LeBrons de Miami.

Sim, o Pacers vai passeando no Leste, a despeito de um ou outro tropeço recente, mas essa excepcional campanha só vai valer para alguma coisa se eles passarem pelo time da Flórida no final do ano. É só nisso que eles pensam, admita ou não Larry Bird.

A abordagem do presidente do clube é de tudo ou nada neste ano. “Não estou preocupado sobre o ano que vem, e nem tenho um ano todo pela frente. Estamos aqui e agora, e vamos fazer de tudo para que posamos avançar o mais longe possível. Sabemos que efrentaremos uma dura competição, mas, se tivermos a chance de melhorar nossa equipe, vamos fazer isso”, afirma.

O Indiana será uma equipe melhor com o enigmático pivô?

Erik Spoelstra, do seu lado, garante que não está  preocupado. “Estamos concentrados apenas em nós neste momento. Estou certo de que (a contratação) chama muitas manchetes e diversas histórias. Ele combina com o estilo deles, de terem um garrafão alto e físico, mas, pensando do nosso ponto de vista, isso não nos afeta em nada”, afirma o técnico do Heat.

Sim, definitivamente Andrew Bynum, hoje, não é um problema ou solução para os atuais bicampeões. Larry Bird não quis saber de permitir isso. Agora, para quem não tem tanto dinheiro para fazer estripulias no mercado, ele só espera que daqui a alguns meses sua aposta se mostre bastante lucrativa.


15 times, 15 comentários sobre o Leste da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

JR Smith x Joe Johnson

Já que estamos em dívida, com o campeonato já correndo a mil, tentamos aqui dar uma looooonga caminhada nesta terça e quarta-feira para abordar o que está acontecendo com os 30 times da NBA até o momento, dividindo-os em castas. Começamos hoje com a Conferência Leste, a famigerada E-League.

Antes de passar por cada franquia, em castas, é mandatória a menção sobre o quão patética vem sendo a porção oriental da liga norte-americana, com apenas três times acima da marca de 50% de aproveitamento, enquanto, do lado ocidental,  apenas quatro estão no lado negativo. Isso muda tudo na hora de avaliar o quão bem um time está jogando ou não num panorama geral. Ter de enfrentar Sixers, Magic, Bucks e… (!?) Nets e Knicks mais vezes do que Warriors, Wolves, Grizzlies e… (!?) Suns ajuda muito para inflar os números de sua campanha. É como se fosse um imenso ***ASTERISCO***.

Agora vamos lá:

Os únicos dois times bons – e que ao mesmo tempo são os principais favoritos ao título
Já sabe de quem estamos falando, né? É a categoria mais fácil de se identificar além de “os dois times que são um pesadelo para Spike Lee, Woody Allen, Al Pacino, Roberty De Niro, os Beastie Boys e qualquer outro nova-iorquino”.  Na saideira de David Stern, o certo era que ele instaurasse uma série melhor-de-81 na conferência, e que o restante se dedicasse a analisar todas as minúcias da fornada do próximo Draft.

Indiana Pacers: que o sistema já funcionava, não havia dúvida. Eles deixaram muito claro nos mata-matas do ano passado. É um time com identidade clara, que defende muito, contesta tudo o que pode perto do aro e na linha de três pontos, sufoca dribladores no perímetro e permite apenas chutes forçados de média distância. Com esse alicerce erguido, o que os eleva ao topo na temporada regular no momento, a outro patamar, é impressionante evolução individual de Paul George, Lance Stephenson e Roy Hibbert. Confiantes, entrosados e candidatos a prêmios desde já. Some isso à melhora do banco, e temos a defesa  mais dura da liga, de longe, agora com a companhia de um ataque que beira o aceitável, sendo o 14º mais eficiente.

Miami Heat: Dwyane Wade joga quando quer ou quando pode, LeBron James regrediu um tiquinho, se comparado ao absurdo que produziu nas últimas duas temporadas (embora esteja finalizando com ainda mais precisão), Udonis Haslem perdeu jogos, Shane Battier despencou, Greg Oden ainda não estreou e… Tudo bem, tudo na santa paz na Flórida. Eles não jogam pensando em agora e ainda é o bastante para, no Leste, sobrar e construir o melhor ataque e a sétima melhor defesa, uma combinação perigosa. Ah, e palmas para Michael Beasley! Por enquanto, em quase dois meses, ele conseguiu evitar a cadeia e, estatisticamente, escoltado por craques, vem produzindo como nunca antes na história dessa liga.

Eles querem, tentam ser decentes (ou talvez não)
Neste grupo temos times que estão entre os menos piores do Leste.

Atlanta Hawks: o mundo dá voltas, LeBron James passa de supervilão a unanimidade, Juwan Howard e David Stern enfim se aposentam, Bush vai, Obama vem, mas o Hawks não consegue se livrar da mediocridade.  Jajá teremos uma década com o time posicionado entre as terceira e sexta posições da conferência. E não podem dizer que Danny Ferry não está tentando. Joe Johnson e Josh Smith se mandaram. As chaves do carro foram entregues para Al Horford. Jeff Teague está solto. Kyle Korver, pegando fogo. DeMarre Carroll, surpreendendo. Mas, no geral, falta banco e consistência, enquanto os jogadores assimilam os conceitos Popovichianos de Mike Buddenholzer.

Detroit Pistons: ainda está cedo para detonar por completo os experimento com os três grandalhões juntos, mas todos os indícios apontam que talvez não tenha sido, mesmo, a melhor ideia. Greg Monroe parece deslocado e Josh Smith comete atrocidades no perímetro – assim como o bom e velho Brandon Jennings. Ao menos, a cada erro da dupla, Andre Drummond está por ali, preparado para pegar o rebote e castigar o aro. Rodney Stuckey, ressuscitado como um candidato a sexto homem do ano, também ajudou a aparar as arestas. Maurice Cheeks ainda precisa definir de uma vez sua rotação e encontre melhor padrão de jogo para adequar as diversas partes talentosas que, no momento, não conseguem se posicionar nem mesmo entre os 20 melhores ataques ou defesas. E, mesmo assim, o time ocupa o quinto lugar no Leste. Incrível.

O aproveitamento de quadra de Josh Smith nesta temporada: as marcas em vermelho, só para constar, estão abaixo da média da liga. E este vermelho lembra um pouco a cor de um tijolo velho

O aproveitamento de quadra de Josh Smith nesta temporada: as marcas em vermelho, só para constar, estão abaixo da média da liga. E este vermelho lembra um pouco a cor de um tijolo velho

Charlotte Bobcats: a franquia apanhou por anos e anos. Foi coisa de ser massacrada mesmo. Daí que, num ano antes do Draft mais generoso dos Estados Unidos em muito tempo,  Michael Jordan resolveu que era hora de gastar uma graninha, acertar em uma contratação (aleluia!) e formar um time até que bonitinho. Al Jefferson ainda não engrenou, recuperando-se de uma lesão no tornozelo, Cody Zeller não impressiona ninguém (positivamente, digo), Kemba Walker não progrediu, mas o time tem se sustentado com sua defesa, guiada por Steve Clifford, sobre quem havíamos alertado. A equipe mais escancarada do ano passado virou, agora, a terceira melhor retaguarda. E, aqui entre nós: Josh McRoberts é um achado.

Washington Wizards: Ernie Grunfeld pode ter feito um monte de barbaridades nas constantes reformulações de elenco que produziu desde que Gilbert Arenas pirou o cabeção. Também não tem muita sorte. John Wall se firmou como um dos melhores armadores de sua geração, mas não consegue levar adiante a dupla com Bradley Beal, afastado por uma misteriosa dor na canela que pode ser fratura por estresse (e aí danou-se). Marcin Gortat se entendeu bem com Nenê – e o brasileiro, todavia, não consegue parar em pé sem sentir dores. Quando Martell Webster vai bem, Trevor Ariza machuca. Quando Trevor Ariza vai bem, Martell Webster machuca. E Randy Wittman, coordenando uma defesa respeitável, tem de se virar do jeito que dá para manter sua equipe competitiva. No Leste, claro, não precisa de muito. Talvez nem importe nem que Otto Porter Junior esteja só na fase de aprender a engatinhar.

Chicago Bulls: pobre Tim Thibodeau. Deve estar envelhecendo numa média de um mês a cada semana nesta temporada. A nova lesão de Derrick Rose foi trágica – e dessa vez não havia Nate Robinson para socorrer. Para piorar, Jimmy Butler caiu, levando junto, agora mesmo, Luol Deng, que estava carregando piano de modo admirável. Em meio a tudo isso, Joakim Noah nem teve tempo de se colocar em forma. Para estancar os ferimentos, Taj Gibson faz sua melhor campanha, Kirk Hinrich tem evitado a enfermaria para organizar as coisas e, claro, muita defesa, a quarta melhor da liga. O suficiente para capengar por um oitavo lugar na conferência, esperando por um raio de sol.

Boston Celtics: Danny Ainge certamente confia na capacidade de Brad Stevens como técnico. Do contrário, não teria dado um contrato de seis anos ao noviço. Talvez ele só não contasse que o sujeito fosse tão bom desse jeito. Aí complica tudo! O Celtics abriu mão de Paul Pierce e Kevin Garnett neste ano para afundar na tabela e sonhar com um dos universitários badalados do momento. E aí que, em meio a essa draga toda, uma boa mente pode fazer a diferença, mesmo sem Rajon Rondo e tendo que escalar Gerald Wallace e pivôs diminutos – sem dar a rodagem necessária para Vitor Faverani. Então, meninos e meninas, pode certeza de algo: se tiver alguém torcendo para a ascensão de Knicks e Nets, o Mr. Ainge é uma boa aposta.

Descendo, mas só por ora
Três equipes que ainda vão perder muito mais que ganhar neste ano, mas as coisas estão mudando. “Perdeu, valeu, a gente sabe que não deu.”

Philadelphia 76ers: ver Michael Carter-Williams estufar as linhas de estatísticas de todas as formas já valeria o ano inteiro para aqueles que ainda choram Allen Iverson (ou Charles Barkley, ou Moses Malone, ou Julius Erving). O armador é a maior revelação da temporada. Havia fãs dele no processo de recrutamento de novatos deste ano, mas, sinceramente, não li em lugar algum a opinião de que ele fosse uma ameaça para conseguir um quadruple-double na carreira, quanto menos em seus primeiros dois meses. Ao mesmo tempo, sem pressão nenhuma por resultados imediatos, o gerente geral Sam Hinkie e o técnico Brett Brown vão rodando seu elenco, garimpando talentos, avaliando prospectos como Tony Wroten, James Anderson, Hollis Thompson, Daniel Orton etc. Sem contar o fato bizarro de que Spencer Hawes, hoje, é um dos melhores pivôs da liga. Vende-se.

Orlando Magic: A base aqui, hoje, é melhor que a do Sixers, com Arron Afflalo jogando uma barbaridade, jogando de uma forma que assusta até. Nikola Vucevic vai se provando que sua primeira campanha na Disneylândia não foi um delírio. Victor Oladipo está cheio de energia e potencial para serem explorados. Andrew Nicholson, Tobias Harris e Maurice Harkless também oferecem outras rotas a serem exploradas. O técnico Jacque Vaughn é respeitado. Para o ano que vem, os contratos dos finados Hidayet Turkoglu e Quentin Richardson expiram, e o gerente geral Rob Hennigan terá espaço para investir.

Toronto Raptors: não houve uma negociação na qual Masai Ujiri se envolveu nos últimos dois, três anos em que ele não tenha, no mínimo, levado a melhor. Isso quando ele não rouba tudo de quem está do outro lado da mesa, sem piedade alguma. Em pouco tempo, já se livrou dos contratos de Rudy Gay e Andrea Bargnani, iniciando um processo de implosão para tentar reformular, de modo definitivo, a franquia canadense – que tem aporte financeiro para ser grande. Jonas Valanciunas está dentro. O restante? Provavelmente fora. Será que Andrew Wiggins vai acompanhá-lo, em casa?

Caos total
A bagunça é tanta que fica difícil de saber como botar tudo em ordem.

Cleveland Cavaliers: no papel, um time de playoff. Mas as peças por enquanto não se encaixam tão bem como o esperado. Para dizer o mínimo, considerando que Dion Waiters partiu para cima de Tristan Thompson no vestiário. Em quadra, Mike Brown simplesmente não consegue organizar um ataque decente que não tenha LeBron James em seu quinteto. O Cavs só pontua mais que o time que aparece logo abaixo aqui. É um desastre. Para se ter uma ideia, dos dez jogadores que ficaram mais minutos em quadra até o momento, apenas Anderson Varejão acertou pelo menos 50% de seus arremessos. Até mesmo Kyrie Irving vem encontrando sérias dificuldades. Os últimos jogos de Andrew Bynum seriam o único indício positivo por aqui – e não que isso sirva para compensar o fiasco total que são as primeiras semanas de Anthony Bennett como profissional:

Milwaukee Bucks: a Tentação de jogar Larry Drew na fogueira também é grande, mas fato é que o Milwaukee Bucks em nenhum momento pôde colocar em quadra o time que eles imaginariam ter. Larry Sanders passou vexame em uma briga na balada, Carlos Delfino ainda não vestiu o uniforme, Brandon Knight e Luke Ridnour se alternam na enfermaria, aonde Caron Butler já se instalou ao lado de Zaza Pachulia. Ersan Ilyasova só não está lá porque o time precisa desesperadamente de qualquer ajuda, ainda que seja de um ala-pivô cheio de dores nas pernas. Apenas OJ Mayo, John Henson e o surpreendente Kris Middleton disputaram as 20 partidas da equipe. De toda forma, esses nomes não chegam a empolgar tanto, né? Daria um sólido conjunto, mas sem grandes aspirações. Se for para empolgar, mesmo, então, com a vaca já atolada no brejo, melhor liberar o garotão Giannis Antetokounmpo para correr os Estados Unidos de ponta a ponta.

Os dois times que são um pesadelo para Spike Lee, Woody Allen, Al Pacino, Roberty De Niro, os Beastie Boys e qualquer outro nova-iorquino
Eles ainda têm tempo para reagir. Mas vai dar muito trabalho e ainda pode custar muito dinheiro.

Brooklyn Nets: bem, sobre Jason Kidd já foi gasto um artigo inteiro. De lá para cá, soubemos que Lawrence Frank tem um salário de US$ 6 milhões (mais que Andrei Kirilenko, Andray Blatche e Mason Plumlee juntos!) apenas para escrever relatórios diários, uma vez que foi afastado do posto de principal assistente. Depois de apenas três meses no cargo. E, esculhambado nos mais diversos sentidos, o Nets obviamente não consegue se encontrar em quadra, mesmo com Brook Lopez jogando o fino. Temos agora o 20º pior ataque e a penúltima defesa da liga, acima apenas do pobre Utah Jazz. Tudo isso, lembrando, com a folha salarial mais volumosa do campeonato. “Parabéns aos envolvidos” se encaixa aqui? Que Deron Williams volte rápido – e bem. Kirilenko também precisa colocar a reza em dia.

New York Knicks: agora fica meio claro a importância que tem um Tyson Chandler, né? Um sujeito de 2,13 m de altura (ou mais), ágil, coordenado, inteligente, corajoso e que ainda converte lances livres? Causa impacto dos dois lados da quadra, facilitando a vida de todo mundo. Inclusive a do Carmelo Anthony, que pode roubar um pouco na defesa, ciente de que tem cobertura. Sem ele, o time virou uma peneira, com a quinta pior marca da liga. No ataque, uma das maiores artilharias da temporada passada agora é somente a 18ª, numa queda vertiginosa que tem mais a ver, é verdade, com a fase abominável de JR Smith e Raymond Felton. Não é culpa do Carmelo, mesmo que ele também não esteja mantendo a forma do ano passado. Daí que temos uma surra de mais de 40 pontos para o Boston Celtics no Garden? Até Ron Artest está pasmo.


NBA 2013-2014: razões para seguir ou lamentar os times da Divisão Central
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Cada equipe tem suas particularidades. Um estilo mais ofensivo, uma defesa mais brutal, um elenco de marmanjos cascudos, outro com a meninada babando para entrar em quadra. Depois das Divisões Sudeste e Atlântico, vamos dar uma passada agora pela Central, mirando o que pode ser legal de acompanhar e algumas coisas que provavelmente há de se lamentar. São observações nada científicas, estritamente pessoais, sujeitas, então, aos caprichos e prediletos de uma só cabeça (quase) pensante:

CHICAGO BULLS
Para curtir:
– As infiltrações de Derrick Rose, que são de tirar o fôlego. É bom ter aberração atlética dessas de volta. Que o joelho aguente bem.

– Toda a dedicação e perspicácia de Joakim Noah na defesa. Difícil encontrar alguém que trabalhe tão duro e bem nas pequenas coisas que fazem do Bulls um candidato perene ao título.

Taj Gibson fazendo companhia a Noah.

– A sobriedade de Luol Deng, num basquete prático muitas vezes menosprezado.

Jimmy Butler evoluindo a cada campeonato, dando a Thibodeau mais uma opção para tentar cutucar LeBron.

– As defesas atenciosas e extremamente detalhistas de Thibs.

Para chiar:
– Os dólares que Jerry Reinsdorf economiza mesmo como proprietário de uma das franquias mais populares da liga, numa metrópole como Chicago.

– Crônicas tendinites e fascite plantar para Noah, limitando o guerreiro.

Carlos Boozer tentando comer a bola quando fica frustrado.

– A saída de Nate Robinson.

CLEVELAND CAVALIERS
Para curtir:
Kyrie Irving e seu vasto repertório, comum arremesso que precisa ser marcado de todos os cantos da quadra. Mas vai fazer como? Se ele também dribla tão rápido…

– Todos os minutos de Anderson Varejão em quadra, alguém que se equipara, sim, ao francês no jogo sujo.

– Qualquer afro de Andrew Bynum. (Ah, e uma eventual recuperação do bebezão.)

Tristan Thompson, o ambidestro, ágil e saltitante reboteiro.

Earl Clark ainda investigando, descobrindo quais são todas as suas possibilidades em quadra. A qualquer momento pode surgir algo de deixar besta.

– A noite das perucas. Não me canso de rir com isso.

– Qualquer ataque delirante de Dan Gilbert na internet.

Para chiar:
– O plantão médico para Irving, Varejão e Bynum. (Algo que pode ser das coisas mais frustrantes realmente de toda temporada).

– A falta de criatividade ofensiva de Mike Brown. Vai de Princeton de novo?

– A educação e o regime de Anthony Bennett, que, segundo Brown, vai demorar a ser o próximo Larry Johnson.

– Os arremessos descontrolados de Dion Waiters.

– O jogo pouco produtivo de CJ Miles.

Earl Clark demorando a entender quais são todas as suas possibilidades em quadra. A qualquer momento pode surgir algo de deixar besta.

– Qualquer ataque delirante de Dan Gilbert na internet. Quando ele vai contra o que você pensa. 😉

DETROIT PISTONS
Para curtir:
– A singular aposta de Joe Dumars na trinca Josh Smith, Andre Drummond e Greg Monroe.

– O pacote (quase, quaaaaaase) completo de Josh Smith. Vide abaixo.

Andre Drummond desafiando a natureza com abalos sísmicos artificiais.

Greg Monroe operando com destreza na quina do garrafão.

– A velocidade de Brandon Jennings.

– O retorno de Chauncey Billups a Detroit. E como, aos 65 anos de idade, ele ainda consegue iludir os rivais e cavar lances livres.

– A combustão de Will Bynum e Peyton Siva.

Gigi Datome!!!!

Para chiar:
– O concurso diário de pior arremesso possível entre Smith e Jennings.

– O excesso de faltas que Drummond ainda deve cometer.

Charlie Villanueva se comportando como se ainda importasse para algo. Blah.

– Toda a confusão mental que fez Rodney Stuckey encolher em quadra.

Gigi Datome no banco!!!!

INDIANA PACERS
Para curtir:
Paul George se transformando numa superestrela, passo a passo. LeBron já deu as boas-vindas a ele nos playoffs.

Roy Hibbert, paredão humano. Desde que mantenha a intensidade dos mata-matas.

 

– Ah, e as entrenvistas nonsense do Hibbertão.

– A Escola de Balé Clássico Luis Scola.

David West e como intimidar o adversário sem necessariamente um jogador maldoso. E os chutes de média distância do pivô também.

Frank Vogel, um excelente técnico, e na dele.

Larry Bird de volta após ano sabático.

Para chiar:
Danny Granger não consegui recuperar nem 50% da boa forma para ajudar um timaço.

– A limitação de George Hill como criador a partir do drible.

– A iminência de Lance Stephenson em se tornar um agente livre e muitos dos seus lapsos com a bola.

– O fim da era dos Irmãos Hansbrough.

MILWAUKEE BUCKS
Para curtir:
Larry Sanders e sua presença defensiva. E cada menção de LARRY SANDERS! feita por Zach Lowe no Grantland.

Ersan Ilyasova e sua versatilidade.

John Henson, que arrumem mais minutos para o ala-pivô, por favor.

– Soletrar Giannis Antetokounmpo a cada highlight que o molecote grego proporcionar nos finais das partidas.

Gary Neal (e Carlos Delfino) on fire.

Para chiar:
– Todo o tédio que Caron Butler pode proporcionar, com um basquete há tempos impraticável.

– Os poucos minutos para Antetokounmpo, para que o Bucks brigue pela oitava colocação no Leste.

– A quantidade desproporcional de pivôs no elenco, possivelmente com um atrapalhando o outro.

– Saber que o Golden State Warriors preferiu Ekpe Udoh a Greg Monroe.