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Arquivo : Nate Robinson

Bulls vence, mas volta para Chicago tenso com Rose; Nenê recebe duras vaias
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Giancarlo Giampietro

Nenê e um sábado de vaias no Rio

As vaias a Nenê acabam roubando a cena em vitória do Bulls

O Corcovado, o Pão de Açúcar, as diversas praias, o humor e a hospitalidade dos cariocas e uma vitória. Cada membro da delegação do Chicago Bulls poderia estar retornando neste fim de semana para os Estados Unidos com a bagagem pesada, repleta de boas lembranças, celulares e computadores abarrotados de fotos sorridentes e de uma paisagem com a qual eles não estão nada habituados.

Mas, com o desfalque de Joakim Noah e, principalmente – e bota principalmente nisso –, Derrick Rose, Tom Thibodeau, diretoria e seu elenco só podem embarcar no avião um pouco preocupados, para não dizer assustados. Depois de duas partidas amistosas nos Estados Unidos e alguns eventos promocionais na Cidade Maravilhosa, seu armador e principal esperança foi vetado (de última hora?) para o confronto com o Washington Wizards, neste sábado, sentindo dores no joelho esquerdo.

A notícia começou a pipocar nos veículos de Chicago, deixando a galera por lá agitada. Nestes tempos em que a palavra e/ou a imagem correm o mundo em alta velocidade, quando oficial, a informação só pôde desanimar os fãs do clube hexacampeão que demoravam em chegar à Arena HSBC, presos no tráfego pesado. Fica a frustração, claro, de não poder ver uma aberração atlética dessas de perto, mas, a longo prazo, a tensão é muito maior.

Precaução em excesso? Dores normais para quem ficou tanto tempo parado? Será? Não teria Rose ficado fora de toda a temporada passada justamente para, na hora de retornar de uma ruptura no ligamento, não ter nenhum percalço? A diretoria e os médicos do clube vão ter muito o que explicar no desembarque em casa.

Sem o armador? Não há a menor chance de o Bulls competir por um título ou nem mesmo por uma das primeiras posições de uma Conferência Leste bem mais forte. Até porque dessa vez não há nem mesmo um tresloucado Nate Robinson como uma apólice de seguro para substitui-lo. Antes de falar de Marquis Teague, melhor esperar um diagnóstico mais preciso sobre o suposto titular.

Sobre Noah, os cuidados são bem menos preocupantes. Ele tem uma lesão na virilha, que cuida aos poucos. Provavelmente jogue na próxima partida de pré-temporada. De todo modo, um pecado para o torcedor que foi ao ginásio. Noah é também ao seu modo um atleta de qualidades impressionantes, com velocidade, energia e coordenação incomuns para alguém de sua altura.

No fim, no lugar deles, o público foi… Hã… Brindado com Kirk Hinrich e Nazr Mohammed. Nada contra eles. O armador é um exemplo de operário,d e gente que faz muito com pouco em quadra – na verdade, um jogador que serve como exemplo bem mais realista para qualquer basqueteiro do que um Rose. O outro já foi campeão pelo San Antonio Spurs e também se firmou na liga como um veterano de respeito, mais uma influência positiva no vestiário.

As vaias
Ao menos Nenê, que ainda não está na melhor forma, jogou.

Mas será que alguém no ginásio estava interessado em vê-lo ou admirá-lo?

O Wizards obviamente esperava que sim. Em seu primeiro ataque, quem foi acionado? Bola para ele, claro, numa jogadinha básica. O grandalhão, vaiado em seu discurso de agradecimento (vejam só), recebeu na zona morta pela direita, fez o giro e tentou um arremesso sem muita elevação, bem marcado por uma defesa que costuma contestar bolas muito mais criativas que essa.

Ainda está sem perna o paulista. Foi tirado de quadra rapidamente no primeiro quarto. Quando voltou para quadra, não conseguiu se destacar, limitado a cinco pontos e seis rebotes em 20 minutos, com uma cesta de quadra em seis tentativas.

Agora, para aqueles inclementes, fica um exercício de imaginação: se em 12 de outubro ele se apresentou desta forma, como seria seu desempenho, digamos, num dia 30 de agosto, quando a Copa América teve início? Talvez, um mês e meio atrás, Nenê pudesse fazer de Caio Torres realmente um pivô ágil, numa comparação direta..

Que coisa, hein? Que coisa deselegante, na verdade. Dá para entender que haja, para os mais rancorosos, a insatisfação com o constante pula-fora da seleção brasileira. O mesmo público que vaiou minutos depois iria aplaudir Oscar Schmidt, justamente a voz crítica ao pivô com mais reverberação midiática, para além das fronteiras do basquete. Havia também muitos torcedores vestidos de Bulls o torneio, que talvez vaiassem até mesmo Michael Jordan trajado de Wizard – mas não imagino que tenha sido clubismo a maior influência aqui.

É de se questionar se todos que o vaiaram sabem exatamente os motivos que levaram o são-carlense a tomar algumas decisões no decorrer de uma carreira longa e acidentada na NBA. Quando se ausentou e quando ele simplesmente estava fora de combate? Quem se lembra da cronologia completa?

O pior foi ver as vaias se repetirem durante o jogo, implacáveis, quando o atleta foi para a linha de lances livres. Leandrinho também recebeu das duas quando anunciado no ginásio. Lamentável – e não é uma exclusividade do basquete: Thomaz Bellucci, o número um do tênis, já foi achincalhado no Ginásio do Ibirapuera, a Seleção de futebol já foi banhada por bandeirinhas no Morumbi, e por aí vamos… É um esporte nacional, como disseram os companheiros do Draft Brasil.

Realmente lastimável, incluindo a participação do mesmo Oscar ao vivo na RedeTV. “O povo não esquece, o povo sabe tudo”, sentenciou o legendário ala, em entrevista. A questão não é a opinião em si, ter intolerância com quem pensa diferente. Só incomoda os modos, a educação. Ou melhor: a falta deles, na hora de se manifestar. Magic Paula? Durante a transmissão, muito mais sensata, sem se preocupar em julgar qualquer um a cada momento. Não surpreende, claro.

Sobre o jogo: vimos um Bulls mais bem preparado, sem se deixar abalar pela ausência de seus dois principais jogadores, vencendo por 83 a 81. Típico de Thibs. Não que a máquina esteja azeitadinha, como se fosse abril. Mas a continuidade do trabalho e a seriedade de seu treinador ajudam um bocado, não importando o mês. Os reservas do Wizards ainda endureceram o jogo, numa noite em que Eric Maynor foi melhor que John Wall.

Mas venceu o melhor programa. Não que eles se matarão de comemorar, sem ter Rose ao lado.

Na verdade, era para ter sido uma festa geral. Mas nem o anfitrião conseguiu ser celebrado.


Na tabela 2013-2014 da NBA, os jogos (alternativos) que você talvez queira ver
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Giancarlo Giampietro

Com olançamento sempre adiantadíssimo de tabela, agora da temporada 2013-2014, a NBA já reservou em seu calendário – sem nem consultá-los, vejam só! – algumas noites ou madrugadas de suas vidas. E nem feriado eles respeitam, caramba.

Já é hora, então, de sentar com o noivo, avisar a namorada, checar se não é o dia da apresentação do filho, e que a universidade não tenha marcado nenhuma prova para essas datas: Kobe x Dwight, retorno de Pierce e Garnett com Boston, o Bulls abrindo a temporada contra os amáveis irmãos de Miami, Kobe x Dwight, as tradicionais visitas de LeBron ao povoado de Cleveland, Nets x Knicks, revanche Heat x Spurs, Kobe x Dwight etc. etc. etc. Não precisa nem falar mais nada a respeito.

Mas, moçada, preparem-se. Que não ficaria só com isso, claro. A liga tem muito mais o que oferecer para ocupar seu tempo de outubro a junho. Muito mais. Colocando a caixola para funcionar um pouco – acreditem, de vez em quando isso acontece –, dá para pescar mais alguns jogos alternativos que talvez você esteja interessado em assistir, embora não haja nenhuma garantia de que eles vão ocupar as manchetes ou a conversa de bar – porque basqueteiro também pode falar disso no bar,  sem passar vergonha. Pode, né?

Hora de rabiscar novamente a agenda, pessoal. Mexam-se:

– 1º de novembro de 2013: Miami Heat x Brooklyn Nets
Depois de encarar o Bulls na noite de abertura, de descansar um pouco diante do Sixers, lá vem o Nets para cima dos atuais campeões logo em sequência. Essa turma de David Stern não toma jeito. Querem colocar fogo em tudo. Bem, obviamente esse jogo não é tão alternativo assim, considerando as altíssimas expectativas em torno dos rublos do Nets. Mas há uma historieta aqui para ser acompanhada em meio ao caos: será que Kevin Garnett, agora que não se veste mais de verde e branco, vai aceitar cumprimentar Ray Allen? Quem se lembra aí de quando o maníaco pivô se recusou a falar com o ex-compadre no primeiro jogo entre eles desde que o chutador partiu para Miami? Vai ser bizarro para os dois e Paul Pierce, certamente. Assim como a nova dupla de Brooklyn quando chegar a hora de enfrentar o Los Angeles Clippers de Doc Rivers em 16 de novembro.

No hard feelings? KG x Allen

E o KG nem aí para esse tal de Ray Allen ao chegar a Miami

1º de novembro de 2013:  Houston Rockets x Dallas Mavericks
Sim, uma noite daquelas! Mas sem essa de “clássico texano”. O que vale aqui é o estado psicológico de Dirk Nowitzki e o tamanho de sua barba. Contra o Rockets, o alemão vai poder se perder no tempo, divagando no vestiário sobre como poderiam ser as coisas caso o plano audacioso de Mark Cuban tivesse funcionado: implodir um time campeão para sonhar com jovens astros ao lado de seu craque. Dois astros como Harden e Howard, sabe? Que o Houston Rockets roubou sem nem dar chance para o Mavs, que teve de se virar com um pacote Monta Ellis-Samuel Dalembert-José Calderón e mais cinco chapéus e três botas de vaqueiro para tentar fazer de Nowitzki um jogador feliz.

Hibbert x Gasol

E que tal um Hibbert x M. Gasol?

– 11 de novembro de 2013: Indiana Pacers x Memphis Grizzlies
Vimos nos playoffs: dois times que ainda fazem do jogo interior sua principal força, e daquele modo clássico (pelo menos que valeu entre as décadas de 70 e 90), alimentando seus pivôs, contando com sua habilidade e físico para minar os oponentes*. Então temos aqui David West x Zach Randolph e Roy Hibbert x Marc Gasol. Só faça figas para que eles não esmaguem o Mike Conley Jr. acidentalmente. Candidatos a título, são duas equipes que estão distante dos grandes mercados, mas merecem observação depois do que aprontaram em maio passado.  Não dá tempo de mudar. (*PS: com a troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, o Grizzlies deve adotar algumas das diretrizes analíticas de John Hollinger, provavelmente buscando mais arremessos de três pontos, mas não creio que mudem taaaanto o tipo de basquete que construíram com sucesso nas últimas temporadas e, de toda forma, no dia 11 de novembro, talvez ainda esteja muito cedo para que as mudanças previstas sejam totalmente incorporadas pelos atletas.)

– 22 de dezembro de 2013: Indiana Pacers x Boston Celtics
O campos da universidade de Butler está situado no número 4.600 da Sunset avenue, em Indianápolis. De lá para o ginásio Bankers Life Fieldhouse leva 17 minutos de carro. Um pulo. Então pode esperar dezenas e dezenas de seguidores de Brad Stevens invadindo a arena, com o risco de torcerem para os forasteiros de Boston, em vez para o Pacers local, time candidato ao título. Sim, o novo técnico do Celtics é venerado pela “comunidade” de Indianápolis e esse jogo aqui pode ter clima de vigília. (E, sim, mais um jogo do Pacers: a expectativa do VinteUm é alta para os moços.)

– 28 de dezembro de 2013: Portland Trail Blazers x Miami Heat
Se tudo ocorrer conforme o esperado para Greg Oden, três dias depois do confronto com o Lakers no Natal, ele voltará a Portland já como um jogador ativo no elenco do Miami Heat, deixando o terno no vestiário, indo fardado para a quadra. Da última vez em que ele esteve no Rose Garden, foi como espectador, sem vínculo com clube algum, sendo vaiado e aplaudido, tudo moderadamente. E se, num goooolpe do destino, o jogador chega em forma, tinindo, tendo um papel importante nos atuais bicampeões? Imaginem o tanto de corações partidos e a escala de depressão que isso pode – vai? – gerar na chamada Rip City.

– 13 de março de 2014:  Atlanta Hawks x Milwaukee Bucks
O tão aguardado reencontro entre Zaza Pachulia com essa fanática torcida de Atlanta, que faz a Philipps Arena tremer a cada jogo do Hawks. Não dá nem para imaginar como eles vão se comportarem na hora de acolher de volta esse cracaço da Geórgia, ainda mais vestindo a camisa do poderoso Bucks de Larry Drew – justo quem! –, o ex-técnico do Hawks. E, para piorar as coisas, o Milwaukee ainda tentou roubar desses torcedores o armador Jeff Teague. Não vai ficar barato! (Brincadeira, brincadeira.) Na verdade, an 597otem aí o dia 20 de novembro, bem mais cedo no campeonato, que é quando Josh Smith jogará em Atlanta pela primeira vez com o uniforme do Detroit Pistons. Neste caso, os 597 torcedores do Hawks presentes no ginásio e que consigam fazer mais barulho que o sistema de som vão poder aloprar o ala sem remorso algum quando ele optar por aqueles chutes sem-noção de média distância, desequilibrado, com 17 segundos de posse de bola ainda para serem jogados.

Ron-Ron tem um novo amigo agora

Ron-Ron agora vai acompanhar Melo em Los Angeles

– 25 de março de 2014: Los Angeles Lakers x New York Knicks
Já foi final de NBA, Carmelo Anthony seria um possível alvo do Lakers no mercado de agentes livres ao final da temporada, Mike D’Antoni não guarda lembrança boa alguma de seus dias como técnico Knickerbocker. São muitas ocorrências. Mas a cidade de Los Angeles tem de se preparar mesmo é para o retorno de Ron Artest ao Staples Center. Na verdade, o ala já terá jogado na metrópole californiana em 27 de novembro, contra o Clippers, mas a aposta aqui é que apenas quando ele tiver o roxo e o amarelo pela frente que suas emoções vão balançar, mesmo. E um Ron-Ron emocionado pode qualquer coisa. Nesta mesma categoria, fiquem de olho no dia 21 de novembro para o reencontro de Nate Robinson, agora um Denver Nugget, com seus colegas do Bulls, a quem ele jurou amor pleno. Robinson também é uma caixinha de… Fogos de artifício, e não dá para saber o que sai daí. Ele volta a Chicago no dia 21 de fevereiro.

– 12 de abril de 2014: Charlotte Bobcats x Philadelphia 76ers
O Sixers lidera os palpites das casas de apostas a pior time da temporada. O time nem técnico tem hoje – o único nesta condição –, seu elenco tem uma série de refugos do Houston Rockets, eles vão jogar com um armador novato que não sabe arremessar e lá não há sequer um jogador que possa pensar em ser incluído na lista de candidatos ao All-Star Game. Desculpe, Thaddeus Young, nós amamos você, mas tem limite. E, Evan Turner, bem… Estamos falando talvez da última chance. Então, no quarto confronto entre essas duas equipes na temporada, Michael Jordan espera, desesperadamente, que o seu Bobcats esteja beeeeem distante do Sixers na classificação da Conferência Leste. Se não for em termos de posições, que aconteça pelo menos em número de vitórias. Do contrário, é de se pensar mesmo se, antes de o time voltar ao nome Hornets, não era o caso de fechar as portas.

– 16 de abril de 2014: Sacramento Kings x Phoenix Suns
Como!? Deu febre?!? Não, não, tá tudo bem. É que… no crepúsculo da temporada, essa partida tem tudo para ser uma daquelas em que ninguém vai querer ganhar. Embora os torcedores do Kings tenham esperanças renovada com um nova gestão controlando o clube, a concorrência no Oeste ainda é brutal o suficiente para que eles coloquem a barba de molho e não sonhem tanto com playoffs assim. Ou nem mesmo com uma campanha vitoriosa. Fica muito provável que esses dois times da Divisão do Pacífico estejam se enfrentando por uma posição melhor no Draft de Andrew Wiggins (e Julius Randle, Aaron Gordon, Jabari Parker, Dante Exum e outros candidatos a astro). Então a promessa é de muitos minutos e arremessos para os gêmeos Morris em Phoenix, DeMarcus Cousins mandando bala da linha de três pontos, defesas de férias e mais esculhambação.


Thibodeau leva o Bulls ao limite em campanha memorável. Mas a que custo?
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Giancarlo Giampietro

JoJo quase que não aguenta

Há situações em que os fins justificam os meios, sim. Mas e se não tiver fim?

Deixando a filosofia de mercearia de lado, pensando em um caso mais específico de basquete, o Chicago Bulls 2012-2013 de Tom Thibodeau, vale ponderar. Sem o nível de exigência aque o treinador submete seus jogadores, talvez eles nunca tivessem chegado perto de incomodar o Miami Heat numa semifinal de conferência sem poder contar com Derrick Rose. Agora… será que com esse mesmo nível de exigência o time conseguirá chegar ao menos uma vez inteiro aos mata-matas?

Talvez Gregg Popovich não acredite em nada disso. Um dos treinadores mais zelosos com a administração de minutos de seus principais jogadores, ele viu nos últimos anos uma torção de tornozelo, um estiramento ou uma pancada qualquer sabotar todo seu planejamento. Talvez seja realmente uma questão de sorte. Ou talvez os problemas de Pop tenham só a ver com uma questão específica sobre a fragilidade física de Manu Ginóbili. E que o resto esteja tudo certo na preparação do técnico do Spurs, no sentido de preservar seus jogadores.

Kirk Hinrich está fora

Hinrich foi mais uma baixa do Bulls na temporada, com lesão na panturrilha

É no que acredita o comentarista Henry Abbott, que assina o blog TrueHoop, da ESPN, que vai direto ao ponto em um post bastante trabalhoso: “Minutos demais atrapalham a chance de título“. Um de seus achados foi que as equipes que possuem os líderes na tabela de minutos por jogo nas temporadas não vêm tendo sucesso recente algum nos playoffs. Outra: muitas vezes o atleta que tem a melhor média não é necessariamente aquele que jogou mais minutos no total por uma equipe. E um terceiro ponto que vale ainda mais destaque: e quem disse que ter um jogador por 40 minutos em quadra significa que você realmente está contando com o cara por 40 minutos? No sentido de que esse atleta pode ter seu rendimento comprometido com tanto tempo de quadra. Mais vale contar com, digamos, 30 minutos com esforço pleno ou com 25 ótimos minutos e 12 ou 15 masomeno?

Para Thibs, pode ser que essas perguntas sejam pura asneira. É o que se imagina quando vemos seu Bulls em quadra. Um time que, na falta de melhor termo, se mata na defesa, mesmo, que, supostamente, não tem limite. Nas palavras de Chris Bosh, eles são como zumbis amedontradores. “Você dá vida a um time desses, e qualquer coisa pode acontecer. É como se estivesse vendo um fillme de terror, algo assim, e tudo acontece em slow-motion. Você vai para Chicago (para o jogo 6), e a torcida deles está se levantando novamente, estão animados novamente, e aí você se vê numa briga de cachorro. Eles voltam para casa, vencem oo jogo, e aí qualquer coisa pode acontecer num jogo 7”, elaborou o pivô do Heat, que despachou seus rivais por 4-1, depois de terem perdido a primeira partida em casa.

É um discurso de quem realmente respeita os sujeitos de Chicago. Não é para menos. Eles deram um jeito de perturbar os atuais campeões mesmo sem Kirk Hinrich e Luol Deng, sem contar Rose.”É uma pena. Acho que todo mundo gostaria de ter visto ambos os times inteiros”, afirmou Erik Spoelstra, com muita classe, mas provavelmente bastante aliviado de ter enfim deixado a tropa de Thibs para trás. Veja o que eles fazem:

Deng, aliás, foi o líder em minutos por partida desta temporada, com 38,7: uma loucura, sem se esquecer que ele disputou as Olimpíadas de Londres como a grande referência de sua seleção. Joakim Noah, com todos os seus problemas físicos dos últimos anos, foi o 16º, com 36,8. Os dois chegaram estourados aos mata-matas. Doente, Deng perdeu toda a série contra o Miami, sendo hospitalizado – o esforço foi tanto que  estava proibido de fazer qualquer atividade física. Noah foi para quadra no sacrifício, lidando com a praga chamada fascite plantar. O desafio com o pivô, agora, é tratar seu pé sem que ele precise de uma cirurgia. Se não há provas materiais que liguem um ponto ao outro – de que minutos demais significam desgaste físico –, o que é certo que um pouco mais de descanso não faria mal nenhum ao par, faria?

Fica esse dilema, então, para um dos melhores táticos da liga, em sua ingrata missão de tentar desbancar o poderoso Miami Heat no Leste. Como cobrar seus atletas, deixá-los totalmente preparados, perto do máximo, mas sem passar desse limite. Uma equação de solução dfiícil para um devotos mais hardcore do basquete.

*  *  *

Toda a expectativa de Chicago agora se volta para um retorno saudável de Derrick Rose no próximo campeonato, com um grupo que ainda evoluiu este ano, apesar de tantas perdas de atletas importantes. “Ele faria toda a diferença”, disse Carlos Boozer. Até que chegue a pré-temporada, com o clube, inclusive, visitando o Brasil para enfrentar o Washington Wizards, de Nenê, seu departamento de basquete e relações públicas terá de se desdobrar para fazer os reparos necessários depois da interminável e atrapalhada novela em torno de sua recuperação.

Clinicamente reabilitado, o armador não se sentiu confortável para jogar nesta temporada, lidando com problemas musculares e nas costas, efeitos óbvios de uma cirurgia que o tirou de ação por muito tempo. O problema é que nem o jogador, nem os diretores, nem o técnico falaram pública e claramente sobre o que estava acontecendo. “Nunca diga nunca”, “Vamos ver como será próxima semana” etc. etc. etc. O suspense se alongou por muito tempo e de modo desnecessário. Se Rose estava clinicamente recuperado, é uma coisa. Se não estava bem fisicamente? Outra, bem diferente.

O que se sabe é que os jogadores do Bulls se mantiveram ao lado do armador. O que já é um grande passo para sua reintegração – aliás, sua presença no banco de reservas durante viagens das quais ele nem era obrigado participar já difere bastante da postura de Russell Westbrook, em Oklahoma City, durante o embate com o Memphis Grizzlies.

“Ele nunca atingiu o nível de conforto de que ele precisava jogar. Então ele tomou a decisão certa”, disse Thibs, em sua entrevista de fechamento de campanha. Mas por que isso não foi dito antes, diacho?

*  *  *

O retorno de Derrick Rose terá impacto direto em um dos personagens mais surpreendentes da temporada: Little Nate Robinson, que não deve continuar em Chicago. Um dos heróis da equipe nos playoffs, o baixinho certamente espera ganhar mais do que o salário mínimo que recebeu nesta temporada. “Eu adoraria voltar. Honestamente, realmente gostaria. Mas, sabendo dos caras que temos aqui, provavelmente o espaço que sobra para mim é limitado. Mas vamos ver o que acontece.”


Baixinho Nate Robinson supera rejeição da NBA e faz as vezes de Derrick Rose pelo Bulls
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Giancarlo Giampietro

Nate Robinson x Mario Chalmers

O Miami Heat não conseguiu parar o pequenino Nate Robinson. Série fica beeem interessante agora

No dia 24 de dezembro de 2011, Nate Robinson foi dispensado pelo Oklahoma City Thunder. Feliz Natal!!!

No dia 31 de julho de 2012,  ele assinou um contrato sem garantias com o Chicago Bulls, correndo o risco de ser dispensado a qualquer momento.

Nesta segunda-feira, dia 7 de maio de 2013, o baixinho carregou o ataque do Bulls para uma vitória surpreendente contra o Miami Heat na abertura das semifinais do Leste. Ele marcou 27 pontos, 9 assistências, pegou três rebotes e matou oito em 16 arremessos, tornando os acontecimentos citados nas datas cima ainda mais chocantes.

Como pode um sujeito com esse tipo de habilidade teri ficado na berlinda desse jeito?

Little Nate

Nate Robinson, quem diria, barbarizando nos playoffs da NBA

Bem, no caso de Robinson é até fácil entender, e não por causa de sua altura (1,75 m). Não são necessários nem dois ou três minutos de jogo para ver o quão explosivo, nos mais diversos sentidos, pode ser. Na verdade, tem dia em que um mero close do banco de reservas de Tom Thibodeau para ver a formiguinha atômica surtando.

Mas já foi muito pior. Ele tirou uma série de treinadores do sério com suas intempestividades e atos infantis em quadra e no vestiário – foi considerado, por exemplo, um caso perdido por Larry Brown e irritou até mesmo caras como Mike D’Antoni e Doc Rivers, que estão longe da fama de autoritários ou disciplinadores.

E, uma vez que um jogador qualquer pega esse tipo de reputação, a Rádio Fofoca nos bastidores da liga tende a ser inclemente. Que o diga Kenyon Martin, que teve de implorar por trabalho até o Knicks perder todos os seus pivôs e não ter a quem recorrer mais.

Daí que Robinson saiu de um contrato de mais de U$ 12 milhões por três anos assinado com o Boston para viver, nos últimos dois campeonatos, pulando de galho em galho, dependendo de que algum clube que estivesse disposto a se arriscar a adicioná-lo ao elenco. Depois de ser chutado pelo Thunder, foi contratado com um contrato não-garantido pelo Warriors. Depois, teve de passar pelo mesmo processo pelo Bulls.

O curioso é que ele já havia feito pelo Golden State uma de suas melhores campanhas, rendendo Stephen Curry do banco, ou assumindo o posto de titular, mesmo, quando o armador foi afastado devido ao seus preocupantes problemas de tornozelo. Em Chicago, manteve o mesmo ritmo, num reforço providencial para um time que sabia que não contaria tão cedo com Derrick Rose.

Robinson obviamente não está à altura do ex-MVP da liga. Mas, para um time desesperado por força ofensiva e, ao mesmo tempo, muquirana, foi considerado o reforço ideal – não se esqueçam: o baixinho já venceu o torneio de enterradas, poderia jogar futebol americano facilmente de tão forte e atlético e sempre teve facilidade para criar seu arremesso apesar da (falta de) estatura. Problemas de temperamento à parte, era um bom negócio.

(Vejam do que é capaz:

)

Thibodeau sabia com o que estava lidando, foi seu técnico em Boston. “Tinha um bom entendimento sobre quem ele é. Você tem de aceitar o pacote inteiro, e a parte boa prevalece diante da má”, disse o treinador, dia desses, depois de uma vitória dramática sobre o Nets, em tripla prorrogação, na qual ele anotou incríveis 34 pontos em apenas 29 minutos, torturando CJ Watson e Deron Williams.

Com esta produção, o Thibs não era doido de reclamar: as médias do ‘armador’ nos playoffs são de 17 pontos em 30 minutos, com aproveitamento de 50,5% nos arremessos, algo inédito em sua carreira. Ele não é o sujeito mais solidário quando tem a bola em mãos, com 3,6 assistências por jogo, mas o Bulls depende muito, mesmo, de sua criatividade para avançar. De modo que ele serve como bom complemento com Kirk Hinrich, Luol Deng e Jimmy Butler, outro que já vai ganhar seu próprio texto também. “Nate é a chave para este time”, disse o jovem Butler. “O ataque que ele traz do banco, o modo como ele pode facilmente mudar o rumo do jogo. Isso é grande para qualquer equipe, e é o que Nate vem fazendo para nós.”

Contra o Heat, embora tenha chutado oito vezes da linha de três pontos, conseguiu um bom equilíbrio em sua agressividade no ataque, batendo para dentro, furando uma defesa composta por adversários igualmente superatléticos, ganhando dois dez lances livres para cobrar – praticamente a mesma quantia que acumulou em toda a primeira rodada, 11, mas em sete partidas.

“Para alguém desse tamanho fazer as coisas que ele faz… Você precisa me dizer de um jogador abaixo de 1,80 m que seja melhor que ele, em toda a história do jogo”, avaliou Joakim Noah.

Mugsy Bogues, Spud Webb, Earl Boykins, todos eles podem ficar enciumados, mas, se Robinson continuar nessa tocada, vai ser difícil acusar Noah de camaradagem.

*  *  *

O Little Nate – ou Neitinho, Neitezinho, escolham – tinha um saco de gelo maior que sua cabeça, colado a sua face, na hora de falar com os repórteres depois do jogo. Num choque com LeBron James e a quadra, arrebentou a boca, precisando tomar pontos no vestiário. Imagine o drama. “Vamos logo”, disse ao médico. Voltou para o banco pouco antes do intervalo. Thibodeau surpreendeu – para os seus padrões, claro – e disse que iria apenas usar o jogador quando ele se sentisse pronto. “Estou pronto agora”, ouviu de resposta.

No final do jogo, estava prontinho mesmo para bagunçar, agora no bom sentido:

*  *  *

Contra o Nets, Robinson quase quebrou o recorde de pontos no quarto período de um jogo de mata-matas pelo Bulls. Com 23 pontos, ficou a apenas um da marca de… Bem, vocês tem três chances.

1) Não, não estamos falando de Rose.

2) Nem de Luc Longley!

3) Sim, Michael Jordan. Aquele da camisa 23. Jordan anotou 24 pontos no dia 12 de maio de 1990 contra o Philadelphia 76ers do então menos gordote Charles Barkley, que, mesmo assim, saiu vencedor de quadra.


Depois da eliminação, os desafios ainda não cessam para o Lakers. Podem piorar
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Giancarlo Giampietro

Por Rafael Uehara*

Fab Four do Lakers

Quarteto de resultados nem tão fantásticos do Lakers já pode ser desmontando

Quando o Lakers acertou as contratações de Steve Nash e Dwight Howard, a expectativa era a de que eles estavam de volta à briga pelo título, depois de duas eliminações devastadoras na mãos de Mavericks e Thunder em dois anos seguidos. E tinha bastante lógica por trás desse pensamento. Mesmo aos 38 anos de idade, Nash ainda era considerado o melhor armador com o qual Kobe Bryant já dividiria a quadra e Howard era o pivô perfeito para cobrir as deficiências defensivas daqueles a sua frente.

Porém, nada disso deu muito certo, e uma tumultuada temporada chegou ao fim neste último domingo, quando o Spurs o eliminou dos playoffs no primeiro round com uma varrida. Mais um encerramento decepcionante de campanha em Los Angeles, ficando no ar a necessidade de se encontrar um culpado, não?

Nem tanto.

Sou da opinião de que a culpa não é de ninguém. Se o Lakers tinha time suficiente para brigar com Miami, San Antonio e Oklahoma City, é difícil de saber. Mas que eles tinham o suficiente para fazer bem melhor se não pelas tantas lesões que em um momento ou outro tiraram peças fundamentais do time é certeza.

Tudo começou quando Howard voltou cedo demais da cirurgia que fez nas costas. Nos primeiros sete anos de sua carreira, Howard perdeu apenas sete jogos devido a lesões. Até metade do ano passado, tinha se provado um dos atletas mais duráveis da atualidade. Logo, não foi tão questionado quando regressou da operação a tempo para o início da temporada. Mas o atleta claramente não estava pronto. Sofreu para se manter confortável em quadra e não era capaz de elevar a defesa a níveis respeitáveis.

Além disso, Nash fraturou o pé na segunda partida da temporada. Não que Howard a meia velocidade e a ausência de Nash fosse impedir a diretoria de demitir Mike Brown depois de apenas cinco jogos. Em seguida, Pau Gasol começou a lidar com lesões na coxa e no pé, Steve Blake e Jordan Hill pararam bastante tempo com lesões sérias, Mike D’Antoni foi contratado dias depois de fazer cirurgia no joelho, e quando o objetivo dos playoffs começou a ser realista, Ron Artest machucou o joelho e Bryant sofreu lesão séria com a ruptura do tendão de Aquiles. Quando se para pra pensar, como o Jazz permitiu que esse time amaldiçoado passasse na sua frente?

 Com a temporada finalmente encerrada, o Lakers pode agora olhar para frente e pensar em como reestruturar essa equipe, o que não será tarefa fácil. Muitas decisões complicadas terão de ser tomadas, começando pela dúvida se franquia deveria oferecer uma extensão estratosférica para Howard. Não há o que pensar, na minha opinião. No fim do ano, o pivô pareceu bem, a caminho de recuperar sua forma dos tempos de Orlando. Com mais um verão para se recuperar totalmente, Howard deve voltar ao nível que estava antes da cirurgia. O Lakers teve um dos cinco melhores recordes depois da parada para o jogo das estrelas, e Howard teve participação direta nisso, se movimentando melhor a cada jogo que passou, elevando, enfim, a defesa a níveis minimamente decentes.

E, calma, que tem muito mais.

Decisões sobre Bryant e Gasol vêm logo em seguida. Pessoalmente não acho que haverá muito debate sobre Bryant. Ele é o símbolo da franquia pós-Magic Johnson. Lembrem-se também que o veterano é um maníaco que, dadas as mínimas condições, estará em quadra o mais rápido possível, pois tenta empatar Jordan em número de títulos ou passá-lo em pontos, o que torna possível um retorno às quadras em algum momento na próxima temporada.

Tecnicamente, a rescisão de seu contrato através da provisão de anistia deveria ser estudada. O Lakers já tem U$ 79,6 milhões na folha salarial para o ano que vem, isso sem contar o total designado a Howard. Como vimos neste ano – quando a folha salarial foi de U$ 99,8 milhões, o Lakers não veem problemas em pagar as multas que a liga cobra de times que gastam acima dos $70 milhões em salário. O problema é que, nesta próxima janela de verão, as restrições para times pagando o “imposto de luxo” (“luxury tax” no original) reestruturar o elenco serão mais pesadas. As chamadas “sign-and-trades” (quando um clube renova o contrato de um jogador apenas para envolvê-lo imediatamente em uma negociação) agora estão fora de questão e as trocas têm de ser exatamente dólar-por-dólar. Anistiando Bryant e apagando seus $30 milhões da folha proporcionaria a maior flexibilidade na remontagem do time. Mas Bryant é mais que um jogador, é um ícone e dificilmente essa opção será estudada seriamente, mesmo que haja o risco de o ala não estar disponível para jogar ano que vem.

Uma alternativa bem mais plausível é que o time use a anistia para tirar o último ano do contrato de Ron Artest da folha salarial e troque Gasol em seqüência. Mas também há complicações aqui. Gasol está para receber salário de U$ 19,2 milhões na temporada que vem, e é muito desafiador fazer uma troca envolvendo alguém que ganhe tanto.Times bons geralmente já estão ao redor do imposto e, ao adicionar Gasol, estariam se aproximando das mesmas restrições que dificultam o Lakers a remodelar seu elenco neste momento. Também existe a questão que nem todo dono tem condições de gastar quase U$ 100 milhões na montagem de um elenco. Envolvendo um time ruim com espaço para absorver dinheiro morto também é difícil porque os Lakers já tem futuras escolhas do draft indo para Phoenix e Orlando nos próximos anos, precisando assim encontrar um clube que realmente admire o espanhol a ponto de contratá-lo sem nenhum incentivo a mais como recompensa.

Esses times também vão querer se desfazer de alguém em retorno. E quem está disposto em aceitar Tyrus Thomas, Hedo Turkoglu, Andris Biedrins ou Drew Gooden? E quem o Lakers pode em realidade conseguir que faça valer a apenas ter um desses caras no time mais do que Gasol? Meu palpite é que Gasol retorna pelos menos para o início do seu último ano de contrato e que, se for trocado, será com a próxima temporada já em andamento.

Tudo isso serve para dizer que o Lakers tem um verão muito desafiador pela frente. Porém, escrevi basicamente exatamente a mesma coisa ano passada e Mitch Kupchak deu um jeito de adicionar Nash e Howard. Então, vai saber se não veremos Kevin Love, Danny Granger ou Eric Gordon em Los Angeles ano que vem… Mas, levando em consideração que Gasol e Howard começaram a se entender muito bem no fim da temporada e as restrições sistemáticas, talvez a melhor opção seja manter essa base por mais esse ultimo ano nos contratos de Bryant, Gasol e Artest.

A solução, então, seria um foco mais atento às sobras de mercado, para tentar achar os Nate Robinsons, James Whites, Chris Copelands, Kenyon Martins e Chris Andersens da vida, torcer por melhor sorte com as lesões. O Bulls, outro time cuja torcida se acostumou a sonhar com títulos, sobreviveu muito bem desse jeito neste ano.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

 


Chicago Bulls segue em frente mesmo sem Derrick Rose
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Giancarlo Giampietro

Noah e Hinrich combinam em ótima defesa

Deeeefense: marcação e profissionalismo ainda mantêm o Bulls lá em cima

Por Rafael Uehara*

Quando o Chicago Bulls decidiu reter apenas Taj Gibson e disse adeus aos demais membros do seu banco de reservas, um dos pontos mais fortes do time, substituindo-os com renegados ganhando o salário mínimo e explorou a fundo um possível negócio que mandaria Luol Deng para o Golden State Warriors em troca pela sétima escolha no último draft, o senso comum era que a diretoria estava totalmente OK se o time desse uma diminuída no ritmo nesta temporada em que Derrick Rose continua a se recuperar de lesão séria no joelho. Poucos acreditavam que o Bulls estava em condição de continuar a batalhar por um degrau no topo da conferência sem Rose por uma grande parte do ano.

Só esqueceram de avisar Tom Thibodeau.

Na parada para o jogo das estrelas, o Chicago tem um recorde de 30-22 e é o quinto no Leste, mas apenas duas vitórias atrás do segundo colocado Knicks. Através de grande defesa e um tremendo esforço de cada jogador que pisa em quadra, o Bulls se mantem um time a ser levado a sério e potencialmente concorrente legítimo ao título caso Rose retorne, embora ele diga repetidamente que só o fará quando estiver 100%.

Desde que Thibodeau desembarcou em Illinois, o Bulls tem tido uma das melhores defesas a liga já viu. Joakim Noah pode não ser Kevin Garnett, mas sua mobilidade extraordinária para sua altura e QI estão bem próximos, dois fatores essenciais para a marcação do time em pick-and-rolls, contra a qual oponentes tem tido aproveitamento de tiro de apenas 40%, de acordo com o portal mysynergysports.com. Conforme o melhor jornalista cobrindo basquete na atualidade Zach Lowe descreve nesta coluna, Thibodeau posiciona Chicago para defender o pick-and-roll de uma maneira que sempre tentar forçar apenas os dois jogadores diretamente envolvidos na jogada a arremessar, tornando as demais opções inúteis.

Isto requer sincronia. Kirk Hinrich deve resistir ao corta-luz, para que Noah não tenha que se estender tanto no perímetro –  o defensor do lado oposto deve estar ciente de sua responsabilidade de cobrir o garrafão caso Noah esteja muito exposto e, ao mesmo tempo, marcar o seu ala individualmente. Como o pequeno Nate Robinson tem jogado muitos minutos e o veterano Hinrich não tem mais a capacidade defensiva de antigamente, armadores velozes têm desafiado a marcação fora de série do Bulls. Mas Chicago compensa controlando os rebotes e com rotações precisas. Além do mais, Deng e o promissor Jimmy Butler são grandes marcadores individuais. O resultado: o time é o segundo na liga em pontos permitidos por posse, atrás apenas do Indiana Pacers, que está fazendo uma campanha quase histórica em prevenção.

O ataque não tem sido de impressionar, mas um tanto quanto saudável, levando em conta a ausência de Rose. Sem o principal o foco de referência, ficou tudo um pouco mais democrático; um pouco de Hinrich e Robinson usando corta-luzes, Noah espaçando a quadra com sua capacidade de passe, Carlos Boozer tendo um excelente ano em tiros de meia distância, Deng e Richard Hamilton correndo pela linha de fundo e uma quantidade desconfortável de Marco Bellineli criando através do pick-and-roll. Mais uma vez, a produção não tem sido de impressionar – o time é o 20° em pontos por posse – mas tem sido o suficiente.

Obviamente, a chave para que o Bulls faça qualquer coisa de significância nesta temporada ainda depende do possível retorno de Rose, e, nesse caso, em que condições ele estaria retornando. Isto posto, o trabalho magnífico que Thibodeau e seus jogadores fazem não tem como ser elogiado o suficiente, especialmente levando em conta que Hinrich, Deng, Boozer e Noah também perderam tempo com lesões em algum ponto. Mesmo assim, o Bulls simplesmente aparece para trabalhar diariamente, joga o máximo que pode e em 57% das vezes leva a vitória pra casa. Um exemplo de profissionalismo.

 *Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


Conheça os reforços baratos que ainda podem ser úteis na NBA
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Giancarlo Giampietro

Nate Robinson, sim, senhor

Nate Robinson, o melhor jogador da semana no Leste. Acreditem

Quem poderia imaginar que Nate Robinson, fazendo as vezes de Derrick Rose no Chicago Bulls, poderia ser eleito o melhor jogador da semana no Leste em alguma ocasião? Larry Brown e Doc Rivers, que perderam alguns anos de vida ao comandar o dinâmico e tresloucado baixinho, certamente não.

Mas, para o Bulls, ele se provou um reforço perfeito. O time mantém um padrão defensivo absurdo, sufocante, e está bem posicionado na briga pelos playoffs no leste. Mas uma hora é preciso fazer cesta para vencer uma partida, não? E Robinson sabe fazer isso muito bem. Nem sempre ele é o jogador mais consciente e empenhado em quadra, mas seus talentos ofensivos são inegáveis. Ganhando o salário mínimo para sua idade, com o contrato sem garantia alguma, que mal teria, então? Thibodeau liberou a contratação, e foi na mosca.

Na NBA, muitas vezes o mercado funciona como o do futebol brasileiro, com uma oferta muito grande de jogadores. É normal que alguns passem despercebidos e demorem em fazer parte da liga, assim como há inúmeros casos de jogadores já contratados e envolvidos em negociações apenas como contrapeso e que, do nada, se tornam peças fundamentais em seus novos clubes (exemplo: ver Clark, Earl na enciclopédia que vai sendo preparada para dar conta dessa temporada completamente maluca por que passa o Lakers).

Com o dia 21 de fevereiro, a data-limite para a realização de trocas se aproximando, veja alguns jogadores para quem não se dá muita bola, ou que são muito pouco aproveitados hoje em seus atuais clubes, e que poderiam ganhar mais oportunidades ou ajudar outras equipes na briga pelos playoffs:

Sai de baixo que é o Will Bynum

Se não tomarem cuidado com Will Bynum…

– Will Bynum, armador, Detroit Pistons.
Pelo que vem produzindo vindo do banco na Motown, é um alvo de certo modo óbvio, de tão bem que vem jogando, fazendo dupla com o calouro-sensação Andre Drummond. Tem médias de 9,1 pontos e 3,7 assistências na temporada, com 45,6% de acerto, em apenas 18,1 minutos. Nos últimos cinco jogos, mesmo com a chegada de Calderón, seus números são de 13,6 pontos e 5,6 assistências, com pontaria incrível de 53,8%. Esse baixinho que não foi draftado por nenhum time ao sair de Georgia Tech e brilhou pelo Maccabi Tel Aviv na Europa não tem nenhum ano a mais em seu contrato, recebendo US$ 3,25 milhões nesta temporada. Isto é, seria uma opção para reforçar o banco de qualquer candidato ao título sem custar muito e produzindo demais, colocando pressão nas defesas com seu jogo explosivo e atlético.

– Ronnie Brewer, ala, New York Knicks.
Já em sua quarta equipe na liga, Brewer começou o campeonato como titular em uma campanha surpreendente do New York Knicks, mas perdeu espaço na metade da temporada, antes mesmo do retorno de Iman Shumpert, tendo jogado mais de dez minutos apenas em uma partida das últimas 11 – uma vitória contra o Hornets no dia 13 de janeiro. Estranho: embora estivesse visivelmente fora de forma (se comparado ao físico que mostrou em Utah e Chicago) depois de passar por uma cirurgia, ainda oferece a qualquer time vencedor uma importante presença física e atlética, dedicada ao serviço sujo. Esteticamente, seu arremesso é uma das coisas mais feias em toda a NBA, mas ele compensa isso com ataques ferozes por rebotes ofensivos, uma defesa capaz de incomodar gente como Dywane Wade. Recebe o salário mínimo no ano: US$ 1 milhão.

A prancheta de Luke Walton

QI: durante o lo(u)caute da NBA, Walton foi assistente técnico na Universidade de Memphis

– Luke Walton, ala, Cleveland Cavaliers.
Calma, calma, calma. O torcedor do Lakers pode ter vontade de rolar no chão, com uma síndrome do pânico às avessas. Já faz tempo que ele supostamente não servia para nada no banco de Phil Jackson. O que ele poderia fazer hoje que ajudaria uma equipe de ponta? Bem, nunca é demais ter um passador inteligente em seu elenco, e isso o veterano faz como poucos, deixando seu genial pai orgulhoso. Em sua carreira, tem média de 4,7 assistências numa projeção de 36 minutos por jogo. Tem armador que se contentaria com algo assim. De todo modo, é uma habilidade para ser empregada homeopaticamente: o Walton filho também tem o corpo quebradiço, é extremamente vulnerável na defesa e lento. Mas pode ajudar a dar fluidez pontualmente a uma equipe que dependa demais de investidas individuais. Salário um pouco alto (5,6$ milhões), mas no último ano de vínculo e já com boa parte dele paga pelo próprio Cavs.

– Chris Singleton e Dahntay Jones, alas, Washington Wizards e Dallas Mavericks.
Tal como Brewer, são defensores implacáveis, fortes e atléticos, e pouco usados por seus atuais treinadores. Não porque não consigam mais perseguir os principais jogadores da outra equipe, mas essencialmente por estarem elencos em que suas habilidades são sobressalentes. Acabaram vítimas das circunstâncias. Singleton é praticamente um joão-ninguém na NBA, mas tem lampejos pelo Wizards que mostram o quão relevante pode ser em quadra – com 2,03 m de altura, ótima envergadura, está equipado para jogar nesta nova liga que testemunhamos, que não se importa muito com posições. Seria um ala ou um ala-de-força? Não importa: fato é que, na defesa,  conseguiria ao menos fazer sombra a caras como LeBron James e Kevin Durant. Acreditem. Já Jones é um pouco mais baixo, reduzindo sua cobertura a jogadores com porte semelhante ao de Wade.

Deem uma chance a Ayón

Ayón pode fzer muito mais do que simplesmente posar para uma foto vestido de Orlando Magic

Gustavo Ayón, ala-pivô, Orlando Magic.
Na encarnação passada do Vinte Um, já revelamos que o mexicano é o orgulho de Zapotán, com direito a música em sua homenagem e tudo (veja abaixo). Já não é pouco. Mas saibam também que, em seus tempos de liga espanhola, Ayón sucedeu caras como Scola, Splitter e Marc Gasol como seu jogador mais eficiente, posicionado entre os destaques de diversas categorias no principal campeonato nacional da Europa. Na NBA, teve um começo discreto, mas muito interessante pelo Hornets na temporada passada, mas vem sendo pouco aproveitado na Flórida, atrás do emergente Nicola Vucevic, do calouro Andrew Nicholson (aposta da franquia) e do veterano Big Baby na rotação de garrafão. Superatlético, inteligente, bom arremessador de média distância, faz de tudo um pouco em quadra e seria uma ótima opção num time bem estruturado, em que cada jogador tenha suas missões bem definidas em quadra.

Timofey Mozgov, pivô, Denver Nuggets.
Na verdade, praticamente o elenco inteiro do Nuggets poderia se enquadrar nessa brincadeira. Entre eles e o Clippers, estamos falando certamente dos times com mais opções em toda a liga. Mas destacamos o gigantão russo, que já foi alvo de muita chacota em Nova York e agora não consegue sair do banco de George Karl. E o que tem de tão especial, então? Bem, qualquer um que viu a seleção russa jogando nas Olimpíadas vai sair responder. Ele dominou Splitter e Varejão em confronto direto, por exemplo. Mas não foi só isso: de um trabalhão para qualquer oponente na campanha rumo ao bronze, com movimentos sofisticados para quem supostamente seria apenas mais um lenhador russo. Também está no último ano de contrato e, de todos os listados aqui, é o mais provável para mudar de clube – até Karl já falou abertamente a respeito, de que ele merecia mais tempo de quadra, mas que, com Koufos jogando bem e McGee aprontando das suas, não há muito o que fazer no momento.


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