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Arquivo : Liga Sul-Americana

Bagunça com calendário da Liga Sul-Americana contraria valores da candidatura de Grego
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Giancarlo Giampietro

Tenham calma, que a gente chega lá. Ante de chegar ao tema polêmico da vez, é necessário passar por esta introdução aqui.

Presente de Grego

CBB vai receber seu presente de grego mais uma vez?

Era uma vez o ex-presidente da CBB, candidato a voltar ao trono e presente de grego Gerasime Bozikis, que promete em sua campanha tudo, mas tudo mesmo de que a modalidade precisa no país. Não vai sobrar nada! O cartola assegura que, agora, sim, está preparado para levar o basquete a um outro patamar. Que revisou sua desastrada gestão na confederação e que teve diversas conversas por todo o Brasil para saber quais as necessidades vitais do esporte por aqui.

Detalhe: isso vindo de alguém que já havia ficado por três mandatos no poder.

O sujeito passou 12 anos no comando e diz só ter assimilado seus erros e as carências do baquete bem depois, em “momento de reflexão” situado convenientemente em um período eleitoral. Porque, quando você é presidente de uma entidade e viaja para cima e para baixo com os amigos, não sobra muito tempo para refletir, mesmo. Ainda mais quando suas bandas acontecem por aquela loucura que são os cassinos de Las Vegas.

Bem, por outro lado, talvez não precise ser tão inclementes assim, gente. Talvez todos mereçam uma segunda chance, para se redimir, aprendendo com o passado para se fazer melhores pessoas, melhores dirigentes. De modo que, renascido e revigorado, Grego propõe uma chapa guiada pelos seguintes valores:

– Ética;

– Transparência;

– Busca da Excelência;

– Gestão integrada e participativa;

– Sustentabilidade social e ambiental;

– Inovação e ousadia;

(Toca o violino com um som afinado e limpinho, enquanto os lenços são encharcados).

Bonito, né?

Aí vem o choque de realidade: se não vale falar do passado, recorremos ao presente. E o presente de Grego – não confundir com “presente-de-grego”, tá? 🙂 – é chefiar a Abasu (Associação do Basquete Sul-Americano). É a entidade responsável pela organização da Liga Sul-Americana de clubes, em convênio com a Fiba Américas.

Lucas Dias, revelação do Pinheiros

Será que pelo menos o garoto Lucas Dias conseguiria ganhar mais experiência na 2ª fase da Liga Sul-Americana?

Pois a Abasu acaba de aprontar uma daquelas: marcou um de seus quadrangulares semifinais para os dias 13, 14 e 15 de novembro, colocando o Tiburones de Vargas, da Venezuela, ao lado dos três brasileiros nesta chave. Entre eles, o Pinheiros. O mesmo que vai começar a jogar a final do Campeonato Paulista em breve, em datas que certamente vão coincidir com a competição sul-americana.

E aí faz como? Revoltado, João Fernando Rossi, dirigente do clube paulistano, já ventilou no Twitter a possibilidade de disputar o torneio internacional com seu time sub-17. “Assim, poderão ganhar experiência!”, afirma.

O Campeonato Paulista já passa por um período de interrupção bizarra neste momento, para abrir espaço para a famigerada viagem de São José até a Venezuela, com o Bauru esperando por dez dias para concluir sua série semifinal. O quinto jogo está marcado para quinta-feira, com o horário de 20h15 mantido, depois de a TV e a federação terem tentando antecipá-lo para 17h30, um horário ingrato daqueles.

Agora sabe-se lá o que vai acontecer entre os possíveis caminhos…

a) o Pinheiros se mata e joga os dois torneios, desde que as datas não coincidam?

b) o Pinheiros manda seus garotos para disputar a Liga Sul-Americana e escancara a bagunça?

c) a Federação Paulista vai congelar novamente seus jogos? E aí que se virem o NBB e os clubes paulistas mais para a frente?

d) a Abasu recua e posterga sua tabela – aliás, quais seriam as limitações de calendário por parte deles?

Enfim. Um simples movimento, a simples marcação de um quadrangular já derruba alguns dos pontos prometidos pelo candidato, que é um presente de grego.

Nada como uma “gestão integrada e participativa”, não? Apenas divulgue a programação de jogos, e que se virem.

Nada como “transparência”, hein? Tente achar o regulamento do torneio no site oficial.

E mais: os clubes foram distribuídos por região na semifinal. Quatro argentinos de um lado e a brasileirada e os tubarões venezuelanos do outro. Por quê? Já estava previsto isso? É para não correr o risco de se ter um quadrangular final só com argentinos? É para poupar dinheiro? E como as sedes são definidas? Por que não há uma mísera notinha no site para abordar essas decisões? Nada como a “excelência”, né?

De todo modo, um tópico, ainda que de modo irônico, é acertado em cheio: não deixa de ser ousado.

*  *  *

A trapalhada na marcação de jogos é até mais difícil de compreender quando consideramos que Grego estaria prejudicando um dos principais clubes da principal federação estadual do país, federação que deve ter um peso danado na eleição do ano que vem. Por que jogar contra algo deste tamanho? Não parece uma boa cartada política. Ou, talvez, nem haja uma preocupação nesse sentido, considerando que o presidente da FPB, Toni Chakmati, foi um dos principais aliados de Bozikis durante seu triplo mandato, atuando como vice-presidente.


São José é o primeiro clube brasileiro eliminado na Liga Sul-Americana
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Giancarlo Giampietro

O americano Kenneth Cooper ataca Murilo no jogo interior

A sequência de dobradinhas entre brasileiros e argentinos nos playoffs da Liga Sul-Americana foi quebrada nesta sexta-feira com a eliminação do São José, depois do revés por 88 a 82 diante do Tiburones de Vargas, clube venezuelano anfitrião do grupo D. Foi a segunda derrota em dois jogos para os vice-campeões do NBB, que haviam perdido na véspera para o Libertad Sunchales, também classificado.

O time de Régis Marrelli começou a partida na frente, abriu sete pontos na primeira metade do primeiro quarto. Mas os anfitriões zeraram esse prejuízo rapidamente e, uma vez assumida a dianteira no placar, nunca mais olharam para trás, chegando a ter uma vantagem de 16 pontos. No quarto final, finalmente com uma defesa minimamente combativa, os brasileiros conseguiram reduzir o déficit para seis pontos (78 a 72, restando 6min13s).

A partir daí, porém, São José passou praticamente quatro minutos zerado, combinando desperdícios de posse de bola e chutes de longe fora do alvo e permitindo uma nova folguinha no placar para os Tiburones. Duas bolas seguidas de três pontos, então, de Fúlvio e Álvaro, deixaram os visitantes a cinco pontos (80 a 85, restando 39 segundos).

Aí você pode dizer que o time foi valente, que não desistiu nunca, que tiveram uma chance. Considerando a exaustiva  viagem, os três importantes desfalques e tal, essa narrativa não pode ser descartada de prontidão.

Por outro lado, até mesmo considerando todas essas dificuldades, faltou a São José maior cadência na partida, mais inteligência na hora de selecionar seus arremessos diante de um adversário muito mais forte fisicamente e também bem superior atleticamente.

Embora Fúlvio e Laws conseguissem quebrar a primeira linha de defesa venezuelana em diversas ocasiões, o time brasileiro falhou em (pouco) buscar os chutes mais próximos ao aro, ao garrafão, procurando quase sempre pelo “kick-out”, o passe para trás. Uma jogada muito previsível que contribuiu bastante nos 14 erros cometidos – contra apenas nove dos rivais. Entre as diversas comparações estatísticas entre os dois times, então, uma chama bem a atenção: os tubarões conseguiram 18 pontos e um saldo de +14 depois de desperdícios.

Pior: quando não estava repassando a bola de graça para o oponente, a equipe brasileira, claro, se apegava aos tiros de três pontos. Foram 28 disparos de longe contra apenas 40 de dois pontos. De novo: faz muito, mas muito tempo que algum conjunto venceu um jogo internacional baseando seu ataque nesse tipo de (des)equilíbrio. O aproveitamento de 39% dessas bola não justifica essa insistência, especialmente diante dos 42% do Tiburones. No fim, mesmo apostando alto nos chutes de longe, São José conseguiu apenas nove pontos a mais neste fundamento do que seu opositor. Uma diferença que não serviu para cobrir o saldo de +11 que os venezuelanos conseguiram nos lances livres.

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O espanhol Álvaro arriscou o mesmo número de bolas de três pontos que Murilo teve de dois: 12. No geral, o ala foi acionado 20 vezes para arremessos contra 14 do pivô, um jogador muito mais eficiente ofensivamente.

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Os mata-matas do torneio continental serão compostos por quatro times da Argentinas (Libertad, Peñarol, Obras Sanitarias e Águas Corrientes), três do Brasil (Brasília, Flamengo e Pinheiros) e pelo time venezuelano.

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Confesso que ainda não havia visto o jovem Chandler, 20 anos, em ação por Araraquara. Quem acompanha o ala treinar todos os dias tem muito mais informação para julgar como e quando ele deve ser usado. De todo modo, chamou a atenção sua atuação nesta sexta, de certo modo numa fogueira. Foram nove pontos com 66% de acerto nos arremessos, sem aparentar nada de nervosismo. Sua presença, porém, fazia ainda mais sentido em quadra para propósitos defensivos em um time carente de defensores altos e atléticos (um quinteto de Ícaro, Fúlvio, Luiz Felipe, Álvaro e Deivisson é muito vulnerável, por exemplo).


Combalido São José joga para sobreviver e minimizar danos na Liga Sul-Americana
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Giancarlo Giampietro

Como recusar a participação num torneio internacional? Ainda mais para um clube que não vivenciava esse tipo de experiência há 30 anos em competições oficiais?

Por mais que a viagem seja custosa, em muitos sentidos, num momento crítico da temporada – em meio a uma batalha quente (e bota quente nisso) contra Bauru –, com desfalques que vão se acumulando, São José não tinha direito de dizer não, apesar do calendário complicado que tem pela frente.

Então tem de tentar fazer valer o deslocamento de mais de 4.300 km até a cidade de Vargas, na Venezuela. E, para fazer valer, a equipe precisa bater o Tiburones, nesta sexta-feira, 22h20 (SporTV 2 transmite). Pois uma derrota significa a eliminação da Liga Sul-Americana logo na primeira fase. Não dá para pensar que os peruanos possam aprontar alguma coisa.

São José x Libertad Sunchales

Álvaro persegue argentino: defesa dos vice-campeões do NBB precisa melhorar

O time do Vale do Paraíba não foi páreo na noite de quinta para o Libertad Sunchales, da Argentina: foi dominado no primeiro tempo, perdendo por 41 a 28, e, na segunda etapa, só lutou para evitar que levasse uma sacolada daquelas.

Contra os donos da casa, Régis Marrelli vai precisar encontrar algum meio de reforçar sua defesa, que jogou desfalcada da dedicação e valentia do ala-pivô Chico na véspera – justamente a posição em que já não conta com Jefferson William. O cestinha Dedé é outro que está de fora, enquanto Murilo vai apenas agora recuperando sua melhor forma, recuperando-se de cirurgia no joelho, e Fúlvio parece jogar com dores por todo o corpo.

Na estreia, sua retaguarda permitiu ao Libertad um aproveitamento altíssimo de 74% nos arremessos de dois pontos, além de 50% nos tiros de três. Esses já seriam números bem altos se analisados separadamente. Quando combinados pelo mesmo adversário, é praticamente impossível vencer.

É preciso cuidado com o veterano Axiers Sucre, da seleção venezuelana, um jogador muito forte e versátil, difícil de ser contido no mano-a-mano. Windy Graterol, que também joga pela seleção e vem evoluindo bastante nas últimas temporadas, é outro que pode dar trabalho por sua capacidade atlética incrível, que destoa quando comparada com os pivôs brasileiros que vai enfrentar. Esses dois precisam ser repelidos, afastados da tabela.

Tiburones de Vargas x El Bosque

Tu-tu-tubarões de Vargas: vale vaga ou a eliminação

No ataque, batendo sempre na mesma tecla, por mais que o plano de jogo realmente conte muito com os disparos de fora, São José vai precisar maneirar a algum momento. Já foram mais 30 chutes na derrota para os argentinos, e apenas sete caíram (23%). Importante notar que o desgaste físico pelo qual passa seu elenco não combina de modo algum com essa propensão ao arremesso de três pontos – quanto mais longe, maior a força que você tem de empregar, não? E uma boa mecânica começa com o equilíbrio nas pernas. Se elas estiverem pesadas, ou bambas, a probabilidade de acerto cai consideravelmente.

Vale notar que, em sua primeira partida, na vitória fácil sobre El Bosque, do Peru, os anfitriões tentaram os mesmos 30 chutes do perímetro e conseguiu ser ainda pior, matando apenas seis bolas. Irco. Então, em vez de aceitar um bangue-bangue desses, seria muito mais interessante que o treinador Marrelli e os armadores Fúlvio, Luiz Felipe e Ícaro procurassem municiar Murilo de modo insisten,  tentando explorar sua eficiência em contraponto ao tiroteio inconsequente dos venezuelanos. Não deixaria de ser uma ironia.

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Argentina 4, Brasil 0. Terminou assim o placar do confronto entre times de cá contra os de lá na primeira fase da Liga Sul-Americana. Foi de lavada, mesmo.


São José agora encara maratona em calendário apertado após empatar semifinal
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Giancarlo Giampietro

Laws em ação pelo São José

Calma, São José, que a corrida só está na metade

No ano passado foi o Pinheiros. Agora é o time São José que tem de encarar a maratona quem um calendário apertado pode oferecer. A equipe de Régis Marrelli voltou a vencer Bauru nesta segunda-feira, por 92 a 79, e forçou o quinto jogo da série semifinal pelo Campeonato Paulista.

E sabe para quando ficou essa quinta e derradeira partida? Inicialmente, está prevista para o dia 8 de novembro. Daqui a dez dias. Se não estivesse fazendo tanto, mas tanto calor no estado, daria para dizer que o confronto esfriaria um bocado.

Essa espera fica por conta da viagem que o clube do Vale do Paraíba tem de fazer para a Venezuela, com a missão de fechar a primeira fase da Liga Sul-Americana em confrontos do Grupo D da competição continental. Murilo, Fúlvio e cavalaria embarcam para o norte do continente já nesta terça de manhã, para encarar o Libertad Sunchales e o local Tiburones de Vargas. Jogos de quinta-feira a sábado.

“Está  sendo jogo dia sim, dia sim. E o ‘dia não’ é uma viagem de seis horas de ônibus. Agora é superação”, afirmou o pivô Murilo ao chapa Fernando Gavini, da ESPN Brasil. Já seu treinador afirmou que “quatro jogos em cinco dias é desumano”, comentando a tabela à qual São José e Bauru foram submetidos.

É um problema grave, sim. Supostamente a FPB (Federação Paulista de Basquete) tem pouco a ver com o que decide a Abasu (Associação de Basquete Sul-Americana, presidida pelo presente de grego) em relação aos torneios continentais. Mas no mínimo falta um entendimento entre as entidades ou entre o órgão continental e a nem sempre altiva, muito menos ativa CBB (Confederação Brasileira de Brasileira), ainda mais em tempos em que o chefe de uma está concorrendo com o chefe da outra em uma eleição.

Mais alguns pontos para ponderar aqui:

1) um campeonato estadual mais enxuto também evitaria esse tipo de problema ou eventuais percalços futuros com a iminência da disputa dos Jogos Abertos do Interior em São Paulo (de 18 a 24 de novembro) e o início do NBB (dia 24), logo ali na frente, no dia 24 de novembro. Muito provável que alguma competição seja prejudicada, considerando que ainda temos a decisão do estadual pela frente;

2) os clubes participantes precisam definir melhor suas prioridades, o que vale mais, em vez de acabarem com seus atletas ao tentar disputar tudo até o fim;

3) os jogadores também parecem longe de atingir qualquer nível de organização, para se defenderem de abusos como esses.

Então lá vai novamente São José para a estrada o aeroporto, testando a força e resistência de seu elenco, sobrevivendo a dois confrontos de playoff duríssimos mesmo sem contar com dois de seus principais pontuadores – Dedé e Jefferson William, lesionados. Enquanto seu departamento técnico torce para não ser mais testado.

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Como se já não bastasse um jogo atrás do outro, a FPB ainda marcou o quarto confronto da semifinal interiorana para 16h30 de uma segunda-feira (de Brasília). Algo bizarro, seja pela nada sutil alienação a quem trabalhe em horário comercial na cidade e, por ventura, goste de ver a equipe em ação, seja pela alta temperatura (altíssima) no ginásio são-joseense sem uma refrigeração adequada. Teve casa cheia? Bem, ótimo que o público da cidade esteja tão ligado ao seu time assim – é realmente uma notícia surpreendente e agradável. Uma raridade no basquete. Mas não dá para dizer que tenha sido uma tremenda de uma sacada comercial ou esportiva, não.

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aAlém disso, a federação paulista informou nesta segunda, a 30 horas do jogo, que a quarta partida da série entre Pinheiros e Paulistano foi deslocada de terça-feira para quinta-feira, atendendo a pedido da ESPN Brasil. Mesmo porque não deve ter tido tempo suficiente para os organizadores discutirem as datas dos jogos com a TV, né? Mas também nem importa que alguém tenha se planejado para ir ao (vazio?) ginásio da capital em determinada data. Deixe de ser chato, que vá na quinta, ué. Não dá na mesma?

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Em quatro jogos, Bauru e São José já somaram 200 arremessos de três pontos. A conta é fácil, então: média de 50 chutes de longa distância por partida. Nesta segunda, foram 55, sendo 28 para os visitantes e 27 para o time da casa.

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Sem poder treinar com regularidade, ainda em busca de melhor forma e ritmo, o pivô Murilo fez sua melhor partida pelas semifinais nesta segunda, com 31 pontos e 11 rebotes, lembrando aquela arma que deu muito trabalho para as defesas no último NBB, oferecendo perigo tanto dentro como fora.


Jogos na Argentina sinalizam Marquinhos como ponto de desequilíbrio do Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos sobe para mais dois pontos

Marquinhos, de visual novo, em seu início de trajetória rubro-negra

Se tem algo que chama bastante a atenção quando você assiste a um jogador como Marquinhos ao vivo, de pertinho, em quadra, é como o jogo vem fácil para ele. Como, com 2,05m de altura, muitas vezes ele se mostra mais criativo e habilidoso do que um armador na hora de bater para a cesta. Como seu arremesso parece sair sem força alguma, acima da cabeça, mesmo que a mecânica não seja a mais bonita disponível no mercado.

Enfim, basquete fica parecendo a coisa mais legal do mundo – na verdade, é a coisa mais legal, não? 😉

Não estava em Mar del Plata para ver o Flamengo e o ala em ação tão de perto assim pela Liga Sul-Americana, mas deu para espiar os três jogos aqui do QG 21, mesmo. E arrisco a dizer: o time rubro-negro vai chegar até aonde o ala ex-Pinheiros puder liderá-lo.

No elenco de prestígio que o clube rubro-negro montou para a temporada, Marquinhos é quem tem os melhores predicados para desequilibrar, com facilidade para chegar ao aro, um tiro de média distância raro de se ver e as bolas de três pontos. Além disso e, talvez mais importante, também é um bom e disposto passador – para quem duvida, pergunte ao Olivinha, que já foi o receptor de várias assistências de seu fiel companheiro dos últimos anos. São capacidades raras de se unir num só atleta, ainda mais nos clubes sul-americanos, e, se bem aproveitadas, podem abrir a quadra para os chutes de Marcelinho e Benite e cestas fáceis dos pivôs no garrafão.

São habilidades também que podem fazer um estrago no contra-ataque.  O Bala, nosso vizinho, já havia relatado que o técnico Neto estava dando muita atenção para as saídas em velocidade, forçando o ritmo. Na Argentina, quando puderam, foi isso o que os flamenguistas tentaram mesmo: sair em disparada com três ou até quatro homens, um cenário em que Benite e Kojo podem render bastante, explosivos que são. Mas faz toda a diferença neste plano alguém como Marquinhos. Quando um ala com sua mobilidade e tamanho recebe o último passe na corrida, é complicado para a defesa parar. Ou sai a bandeja, ou vem a falta. Difícil escapar disso.

Agora… Tudo isso aqui não quer dizer que o ala seja um super-homem ou um jogador irrefutável. Não é sempre que ele entra em quadra com a mentalidade agressiva, usando suas habilidades para ser dominante no ataque. Pudemos ver esta oscilação na cidade argentina.

Marquinhos e os novos companheiros

Marquinhos tende a envolver os companheiros quando controla a bola no ataque

No primeiro jogo contra a Hebraica uruguaia, o ala fez um primeiro tempo arrasador – se não me engano, com 16 ou 18 pontos de cara nos 20 minutos iniciais. Ele atacou a cesta com voracidade, intensidade e foi fundamental para garantir uma boa vantagem. A segunda partida contra o chileno Deportes Castro não conta lá muito, mas Marquinhos fez sua parte. Quando entrou em quadra, por fim, contra o Peñarol argentino, tinha já 43 pontos somados. Acabou fechando a primeira fase com 50, tendo anotado apenas sete no principal confronto, agredindo pouco a defesa adversária, e os argentinos viraram o placar no segundo tempo.

Não é questão de incentivar o individualismo. Especialmente no caso de Marquinhos, que realmente compartilha a bola.  O ponto é que, quando ele decide entrar no jogo e tentar domá-lo, a vida de seus parceiros tende a ficar mais fácil. Tenham isso em mente na hora de acompanhar o Fla durante a temporada.

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Marcelinho Machado mordeu a isca novamente: contra o Peñarol, enquanto Leo Gutiérrez viva uma noite de folião do outro lado, o veterano brasileiro terminou com péssimo aproveitamento de 11% nas bolas de longa distância, com apenas uma conversão em nove tentativas. Na primeira fase em geral, foram apenas 25%. Uma velha história que fica ainda mais complexa de se assimilar quando levamos em conta que ele foi o jogador que mais deu assistências pelo cube carioca (10), quem mais roubou bolas (7, ao lado de Benite) e o quarto reboteiro (ao lado de Marquinhos, com 15, apenas um a menos que Shilton e dois a menos que Olivinha, mesmo jogando muito mais tempo no perímetro).

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Até agora são três confrontos diretos entre brasileiros e argentinos e três vitórias para nossos vizinhos. Um jogo foi em campo neutro (Obras Sanitarias 88 x 81 Pinheiros), um foi na nossa capital federal (Regatas Corrientes 93 x 91 Brasília) e agora o terceiro foi na quadra deles, com o triunfo do Peñarol. O São José, em meio a suas batalhas pelo Campeonato Paulista, tenta quebrar a série na semana que vem, tendo o Libertad Sunchales pela frente, pelo Grupo D.


Deu Argentina de novo: Brasília erra muito e perde em casa para Regatas Corrientes
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Giancarlo Giampietro

Alex x Washam

Nem Alex, excelente defensor, teve muito sucesso contra Washam

Você pode não acreditar, mas, num embate entre brasileiros e argentinos no basquete masculino, deu Argentina. Nesta quinta-feira, o Brasília tinha seu confronto com o Regatas Corrientes muito bem encaminhado no primeiro tempo, mas se atrapalhou todo na etapa final, com um festival de desperdícios de posse de Nezinho, e acabou derrotado por 93  a 91, em casa.

Não só o revés conta como mais um no histórico recente entre clubes dos dois vizinhos, como também custou aos candangos a liderança do Grupo B da Liga Sul-Americana.

O Brasília chegou a abrir 17 pontos de vantagem com 14 minutos de jogo, quando caía tudo de três pontos e Guilherme Giovannoni (24 pontos no total) não encontrava resistência em suas investidas. Dava tudo certo. Depois o que acontece? Roda VT: na volta do intervalo, com um pouco mais de pressão sobre a bola, os argentinos conseguem desestabilizar os anfitriões, e aí acontece um carnaval de decisões equivocadas com a bola que permitem aos adversários, de pinguinho em pinguinho, a redução da desvantagem e a virada.

Nezinho, por conta própria, somou seis erros individuais, com muitos passes descabidos. Muitos deles difíceis de engolir. Por exemplo quando o armador, experiente que só, salta com a bola no meio da quadra sem um objetivo claro e acaba atirando a batata quente para os outros resolverem.

Sabemos que é um jogador tinhoso. Nezinho não se conforma com os erros que comete e passa a enfrentar a questão de frente. Em muitos casos, trata-se de uma boa postura. Não se deixar abater para supostamente manter a cabeça no lugar. O problema com o veterano é que o complemento desta fórmula nem sempre funciona. Quando voltou do banco, ele desembestou a chutar suas bolas de três pontos na corrida, sem paciência alguma. Por mais que alguns desses disparos tenham chorado, são bolas bastante absurdas nessa altura da carreira.

Uma delas veio em momento crucial. Após uma falha da arbitragem e o destempero do técnico argentino, o Brasília pôde bater quatro lances livres, abrir cinco pontos de vantagem com pouco mais de 1min30s no cronômetro e ainda ter a posse de bola. Posse que terminou com o disparo de longa distância em péssima hora, a possibilidade de um contra-ataque e o início de uma última reação dos visitantes. Reação que terminou com uma bola de dois pontos do americano Dartona Washam (23 pontos) a 2s do fim, debaixo da tabela, numa pane defensiva que também custou caro.

O torneio continental tem mais dois rounds entre brasileiros e argentinos. Pelo Grupo C vão se enfrentar o Peñarol deles e o Flamengo. Enquanto pelo Grupo D o confronto ocorre entre São José e o tradicional Libertad Sunchales.

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Em termos de aproveitamento de quadra, o Brasília teve uma ótima jornada, com 56,1% no geral (618% nas bolas de dois pontos e 47,8% nas de três), todos bem superiores ao que apresentou o adversário, respectivamente com 47,5% (56,3% e 37%). O que acabou determinando a derrota foram os 16 desperdícios de posse de bola contra apenas sete dos oponentes, além da discrepância no número de lances livres, devido ao elevado número de faltas do time da casa: 27 contra 18.

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Algo que chamava muito a atenção vendo o jogo: a enorme diferença de capacidade atlética dos jogadores de Brasília contra os rivais do Regatas. Alex, Nezinho, Tischer, o energégico Isaac, Ronald… Esse povo sobrava nesse quesito. Ainda assim, foram os argentinos quem bateram muito mais lances lives, dada a indisciplina dos oponentes e o acúmulo de faltas muitas vezes desnecessária. O time da casa cobrou apenas 21 lances livres e converteu 16. Os forasteiros tiveram 37 lances livres, matando 27. São nove pontos de diferença nesse quesito. Foram incontáveis os lances em que o corajoso Paolo Quinteros bateu a primeira linha de defesa candanga com fintas simples para entrar no garrafão e causar um rebuliço.


Na Sul-Americana, Pinheiros avança, mas ignora jogador mais eficiente do Paulista
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Giancarlo Giampietro

Joe Smith, do Pinheiros

Smith e Paulinho dominaram a bola pelo Pinheiros no Equador em uma classificação sofrida

O pivô Rafael Mineiro terminou a fase regular do Campeonato Paulista como o jogador mais eficiente da competição. Antes de ir aos mata-matas para poder confirmar sua ótima fase, porém, o rapaz teve de viajar com o Pinheiros para o Equador, numa breve – e, ainda assim, extremamente nervosa – pausa para a disputa de um torneio que não vale nada como a Liga Sul-Americana.

Quer dizer: imagino que não valha muita coisa. É a impressão que fica quando, nas três partidas sofridas da semana passada, vimos o time do técnico Claudio Mortari preservar seu melhor jogador deste início de temporada para as decisões que vêm em outubro. Acho que é por isso que ele foi utilizado tão pouco contra Obras Sanitarias, Centauros e Mavort.

Considerem os seguintes números:

– Mineiro jogou 104 minutos em três jogos e tentou 21 arremessos no total;

– Paulinho jogou os mesmos 104 minutos e tentou 59 arremessos;

– Joe Smith jogou 93 minutos e tentou 41 arremessos;

– Dos 202 arremessos do Pinheiros nesta fase, 87 foram de três pontos (43%);

Como justificar esse contexto? Mais quatro chutes de quadra para Paulinho, o herói da classificação, e ele teria somado o triplo do que tentou seu pivô. O triplo! Mais um chute para o norte-americano, em 11 minutos a menos de quadra, e ele teria somado o dobro de Rafael.

Aceitando duelar em jogos extremamente corridos, bagunçados, o clube paulista se privou de explorar um jogador que vive o melhor momento de sua carreira, tendo encaixado, enfim, suas habilidades de um modo satisfatoriamente produtivo. Para quem não é muito apto a eufemismos, dá para aceitar que o grandalhão foi solenemente ignorado ou, como prefiro, alienado. Uma má e velha história do basquete brasileiro recente.

Teria Mineiro sido muito passivo, se escondido do jogo? Foi muito bem marcado? Mesmo que tenha sido o caso, cabe ao treinador também encontrar soluções para aproveitar melhor as peças que tem. Além do mais, o fato é que Mineiro não foi o único a ser colocado de escanteio. O paraguaio Araújo teve 18 arremessos a seu dispor em 50 minutos, enquanto a Morro foram designados preciosos 12 chutes em 54 minutos. Somem aí A + B + C, e temos 51 arremessos para os três principais pivôs da equipe, oito a menos do que tentou Paulinho. (Para não falar que o caçulinha Lucas Dias jogou por 63 minutos e ganhou o direito a se esbaldar com sete disparos.)

A bola não chegou com a frequência adequada porque em muita ocasiões ela é atirada de longe com afobação. O elevado volume no jogo de três pontos do Pinheiros no Equador fez ainda menos sentido quando era evidente que seus armadores tinham muita facilidade para infiltrar e conseguir passes limpos para os pivôs, mais bandejas e/ou carregar os adversários de falta. No geral, o clube brasileiro acertou 58,3% nas bolas de dois pontos, 75% nos lances livres e apenas 26,4% de longa distância, um número muito abaixo do aceitável.

O ponto aqui não é crucificar Paulinho ou Smith. Na sucessão de ‘peladas’ que vimos em Ibarra, com o Pinheiros entrando na dança, era natural que o jogo ficasse concentrado nas mãos dos baixinhos, aqueles que partem primeiro para o contra-ataque.  Boracini, também em sua melhor temporada, teve a confiança para definir em um momento de extrema tensão. Não é para qualquer um.

Mas talvez um lance heróico daqueles só não fosse necessário caso o plano tático tivesse envolvido mais cestas fáceis com Mineiro ou com o próprio cestinha. Foi um tiro de três pontos no último segundo salvador Na prática, quase um cara-ou-coroa, que dessa vez sorriu para a turma de Mortari.

Agora, é o bastante para conquistar um título internacional, que vale, e muito?