Bagunça com calendário da Liga Sul-Americana contraria valores da candidatura de Grego
Giancarlo Giampietro
Tenham calma, que a gente chega lá. Ante de chegar ao tema polêmico da vez, é necessário passar por esta introdução aqui.
Era uma vez o ex-presidente da CBB, candidato a voltar ao trono e presente de grego Gerasime Bozikis, que promete em sua campanha tudo, mas tudo mesmo de que a modalidade precisa no país. Não vai sobrar nada! O cartola assegura que, agora, sim, está preparado para levar o basquete a um outro patamar. Que revisou sua desastrada gestão na confederação e que teve diversas conversas por todo o Brasil para saber quais as necessidades vitais do esporte por aqui.
Detalhe: isso vindo de alguém que já havia ficado por três mandatos no poder.
O sujeito passou 12 anos no comando e diz só ter assimilado seus erros e as carências do baquete bem depois, em “momento de reflexão” situado convenientemente em um período eleitoral. Porque, quando você é presidente de uma entidade e viaja para cima e para baixo com os amigos, não sobra muito tempo para refletir, mesmo. Ainda mais quando suas bandas acontecem por aquela loucura que são os cassinos de Las Vegas.
Bem, por outro lado, talvez não precise ser tão inclementes assim, gente. Talvez todos mereçam uma segunda chance, para se redimir, aprendendo com o passado para se fazer melhores pessoas, melhores dirigentes. De modo que, renascido e revigorado, Grego propõe uma chapa guiada pelos seguintes valores:
– Ética;
– Transparência;
– Busca da Excelência;
– Gestão integrada e participativa;
– Sustentabilidade social e ambiental;
– Inovação e ousadia;
(Toca o violino com um som afinado e limpinho, enquanto os lenços são encharcados).
Bonito, né?
Aí vem o choque de realidade: se não vale falar do passado, recorremos ao presente. E o presente de Grego – não confundir com “presente-de-grego”, tá? 🙂 – é chefiar a Abasu (Associação do Basquete Sul-Americano). É a entidade responsável pela organização da Liga Sul-Americana de clubes, em convênio com a Fiba Américas.
Pois a Abasu acaba de aprontar uma daquelas: marcou um de seus quadrangulares semifinais para os dias 13, 14 e 15 de novembro, colocando o Tiburones de Vargas, da Venezuela, ao lado dos três brasileiros nesta chave. Entre eles, o Pinheiros. O mesmo que vai começar a jogar a final do Campeonato Paulista em breve, em datas que certamente vão coincidir com a competição sul-americana.
E aí faz como? Revoltado, João Fernando Rossi, dirigente do clube paulistano, já ventilou no Twitter a possibilidade de disputar o torneio internacional com seu time sub-17. “Assim, poderão ganhar experiência!”, afirma.
O Campeonato Paulista já passa por um período de interrupção bizarra neste momento, para abrir espaço para a famigerada viagem de São José até a Venezuela, com o Bauru esperando por dez dias para concluir sua série semifinal. O quinto jogo está marcado para quinta-feira, com o horário de 20h15 mantido, depois de a TV e a federação terem tentando antecipá-lo para 17h30, um horário ingrato daqueles.
Agora sabe-se lá o que vai acontecer entre os possíveis caminhos…
a) o Pinheiros se mata e joga os dois torneios, desde que as datas não coincidam?
b) o Pinheiros manda seus garotos para disputar a Liga Sul-Americana e escancara a bagunça?
c) a Federação Paulista vai congelar novamente seus jogos? E aí que se virem o NBB e os clubes paulistas mais para a frente?
d) a Abasu recua e posterga sua tabela – aliás, quais seriam as limitações de calendário por parte deles?
Enfim. Um simples movimento, a simples marcação de um quadrangular já derruba alguns dos pontos prometidos pelo candidato, que é um presente de grego.
Nada como uma “gestão integrada e participativa”, não? Apenas divulgue a programação de jogos, e que se virem.
Nada como “transparência”, hein? Tente achar o regulamento do torneio no site oficial.
E mais: os clubes foram distribuídos por região na semifinal. Quatro argentinos de um lado e a brasileirada e os tubarões venezuelanos do outro. Por quê? Já estava previsto isso? É para não correr o risco de se ter um quadrangular final só com argentinos? É para poupar dinheiro? E como as sedes são definidas? Por que não há uma mísera notinha no site para abordar essas decisões? Nada como a “excelência”, né?
De todo modo, um tópico, ainda que de modo irônico, é acertado em cheio: não deixa de ser ousado.
* * *
A trapalhada na marcação de jogos é até mais difícil de compreender quando consideramos que Grego estaria prejudicando um dos principais clubes da principal federação estadual do país, federação que deve ter um peso danado na eleição do ano que vem. Por que jogar contra algo deste tamanho? Não parece uma boa cartada política. Ou, talvez, nem haja uma preocupação nesse sentido, considerando que o presidente da FPB, Toni Chakmati, foi um dos principais aliados de Bozikis durante seu triplo mandato, atuando como vice-presidente.