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Na Sul-Americana, Pinheiros avança, mas ignora jogador mais eficiente do Paulista
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Giancarlo Giampietro

Joe Smith, do Pinheiros

Smith e Paulinho dominaram a bola pelo Pinheiros no Equador em uma classificação sofrida

O pivô Rafael Mineiro terminou a fase regular do Campeonato Paulista como o jogador mais eficiente da competição. Antes de ir aos mata-matas para poder confirmar sua ótima fase, porém, o rapaz teve de viajar com o Pinheiros para o Equador, numa breve – e, ainda assim, extremamente nervosa – pausa para a disputa de um torneio que não vale nada como a Liga Sul-Americana.

Quer dizer: imagino que não valha muita coisa. É a impressão que fica quando, nas três partidas sofridas da semana passada, vimos o time do técnico Claudio Mortari preservar seu melhor jogador deste início de temporada para as decisões que vêm em outubro. Acho que é por isso que ele foi utilizado tão pouco contra Obras Sanitarias, Centauros e Mavort.

Considerem os seguintes números:

– Mineiro jogou 104 minutos em três jogos e tentou 21 arremessos no total;

– Paulinho jogou os mesmos 104 minutos e tentou 59 arremessos;

– Joe Smith jogou 93 minutos e tentou 41 arremessos;

– Dos 202 arremessos do Pinheiros nesta fase, 87 foram de três pontos (43%);

Como justificar esse contexto? Mais quatro chutes de quadra para Paulinho, o herói da classificação, e ele teria somado o triplo do que tentou seu pivô. O triplo! Mais um chute para o norte-americano, em 11 minutos a menos de quadra, e ele teria somado o dobro de Rafael.

Aceitando duelar em jogos extremamente corridos, bagunçados, o clube paulista se privou de explorar um jogador que vive o melhor momento de sua carreira, tendo encaixado, enfim, suas habilidades de um modo satisfatoriamente produtivo. Para quem não é muito apto a eufemismos, dá para aceitar que o grandalhão foi solenemente ignorado ou, como prefiro, alienado. Uma má e velha história do basquete brasileiro recente.

Teria Mineiro sido muito passivo, se escondido do jogo? Foi muito bem marcado? Mesmo que tenha sido o caso, cabe ao treinador também encontrar soluções para aproveitar melhor as peças que tem. Além do mais, o fato é que Mineiro não foi o único a ser colocado de escanteio. O paraguaio Araújo teve 18 arremessos a seu dispor em 50 minutos, enquanto a Morro foram designados preciosos 12 chutes em 54 minutos. Somem aí A + B + C, e temos 51 arremessos para os três principais pivôs da equipe, oito a menos do que tentou Paulinho. (Para não falar que o caçulinha Lucas Dias jogou por 63 minutos e ganhou o direito a se esbaldar com sete disparos.)

A bola não chegou com a frequência adequada porque em muita ocasiões ela é atirada de longe com afobação. O elevado volume no jogo de três pontos do Pinheiros no Equador fez ainda menos sentido quando era evidente que seus armadores tinham muita facilidade para infiltrar e conseguir passes limpos para os pivôs, mais bandejas e/ou carregar os adversários de falta. No geral, o clube brasileiro acertou 58,3% nas bolas de dois pontos, 75% nos lances livres e apenas 26,4% de longa distância, um número muito abaixo do aceitável.

O ponto aqui não é crucificar Paulinho ou Smith. Na sucessão de ‘peladas’ que vimos em Ibarra, com o Pinheiros entrando na dança, era natural que o jogo ficasse concentrado nas mãos dos baixinhos, aqueles que partem primeiro para o contra-ataque.  Boracini, também em sua melhor temporada, teve a confiança para definir em um momento de extrema tensão. Não é para qualquer um.

Mas talvez um lance heróico daqueles só não fosse necessário caso o plano tático tivesse envolvido mais cestas fáceis com Mineiro ou com o próprio cestinha. Foi um tiro de três pontos no último segundo salvador Na prática, quase um cara-ou-coroa, que dessa vez sorriu para a turma de Mortari.

Agora, é o bastante para conquistar um título internacional, que vale, e muito?


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