Vinte Um

Arquivo : Joe Smith

Fla abre luta pelo tri com números inflados de ataque (e defesa)
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Giancarlo Giampietro

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

A concorrência do Flamengo que fique atenta no NBB7: os atuais bicampeões vão se garantindo, por ora, com base em seu poderio ofensivo. Uma artilharia. Em duas partidas, os rubro-negros flertaram com a marca centenária, tendo média de 98 pontos por partida para vencer Paulistano e Liga Sorocabana, fora de casa.

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Um detalhe: nesses dois triunfos, a equipe carioca matou 25 bolas de longa distância. Somou, então 75 pontos, ou 38,2% do seu total com bombas a partir do perímetro – para quem arremessou da linha da NBA em três amistosos da pré-temporada, parece que ficou mais fácil o fundamento, né? Quem quiser derrubar os caras, então, vai ter de fiscalizar bem no perímetro.

Agora, será que o Fla consegue manter um ritmo assim? Difícil, bem difícil. O mais razoável, na briga por um terceiro título consecutivo, seria encontrar um equilíbrio, ainda mais priorizando uma evolução considerável em sua defesa, que também cedeu mais de 90 pontos para a dupla paulista. Na temporada passada, para constar, o time carioca teve médias de 84,7 pontos pró e 76 contra.

Olho no campeão olímpico trintão...

Olho no campeão olímpico trintão…

Ao menos na contenção dos chutes de longa distância a equipe de José Neto vem bem. Somados, Paulistano e LSB acertaram apenas 15/54 (6/24 e 9/30, respectivamente), para um aproveitamento de 27,7%. Neste caso, não valeu a premissa do toma lá, dá cá.

O cestinha flamenguista nessas duas primeiras partidas foi Walter Herrmann, com 38 pontos no total, contra 33 de Marquinhos e 32 de  Marcelinho. O veterano argentino, ainda um craque ao seu modo, é quem vem mais fazendo estragos nos arremessos de fora, com 8/13 (61,5%). Sua habilidade para puxar um dos pivôs para fora do garrafão vem sendo um problema, então, para os adversários, que vão precisar estudá-lo com mais atenção.

Um detalhe: da parte dos sorocabanos, o ataque também vai funcionando, com média de 94 pontos, acima dos 75,9 do campeonato passado. Mas tem muita coisa para rolar ainda.

Sem conclusões precipitadas, é só um registro de duas contagens anormais para o basquete brasileiro neste princípio de campeonato.

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Idem para o Bauru e Jefferson William

Idem para o Bauru e Jefferson William

Assim como Herrmann, outro strecht four que fez chover* bolas de três na segunda rodada foi Jefferson William, pelo Bauru. O ala-pivô anotou 30 pontos, dos quais 15 foram em tiros de fora (em nove tentativas). Eitalaiá. Os scouts ligados ao movimento de estatísticas avançadas da NBA ficariam malucos por aqui. Não é segredo que Jefferson gosta desse tipo de jogada. Mas também não foi marcado: seu aproveitamento é de 52,9%, com 9/17. Não deve ser algo sustentável, porém. Em sua carreira no NBB, a média é de 36,9%. Vamos monitorar, uma vez que o time de Guerrinha não faz questão nenhuma de esconder sua predisposição pelos chutes de longa distância, com até cinco atletas abertos em quadra. Na vitória sobre o Basquete Cearense, eles tentaram 29 bolas de três pontos e 30 de dois. Um (des)equilíbrio ao qual não chegaria perto nem mesmo um time maluco por esse tipo de jogo como o Houston Rockets. Em média, o time texano vem com 73,5 arremessos por partida nesta temporada 2014-2015, com 31,3 tentativas exteriores.

(*Sim, uma indireta ao problema com goteiras no ginásio Panela de Pressão, que fez a partida ser adiada. Algo que acontece, sabemos, não pode deveria mais, né? Da parte da cidade, clube e liga.)

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Na estreia do técnico Marcel em um NBB, seu Pinheiros venceu o Rio Claro, fora de casa, por 84 a 70, num jogo um tanto maluco. Também uma novidade neste campeonato nacional, os rioclarenses chegaram a virar a partida no segundo tempo e abrir nove pontos no placar, só para tomar um 24 a 11 na última parcial. Não vi a partida. De todo modo, chama a atenção o quinteto titular usado por Marcel: Paulinho teve a companhia dos irmãos Smith, formação com três armadores bastante agressivos. Eles eram protegidos, digamos assim, por dois atletas muito físicos na linha de frente Marcus Toledo e Douglas Kurtz. O trio Paulo-Joe-Jason terminou com 52 pontos –61,9% do total do time da capital. Não só: foram mais 11 assistências, de 15, para o trio, e oito roubos de bola (sete por parte dos americanos). Epa.


Menos instável, São José sai na frente e rouba mando de quadro do Pinheiros na final do Paulista
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Giancarlo Giampietro

O comentarista, dono de um dos currículos mais belos e impressionantes do esporte nacional, afirmou algo nesta linha: “não é tão simples assim”. Ele estava discorrendo sobre as insistentes críticas ao excesso de arremessos de três pontos por parte dos “leigos” quando esses resolvem falar sobre o Campeonato Paulista masculino.

Duvido que o mestre dedique parte de seu tempo a este humilde casebre, mas, de todo modo, dá para soltar um: “presente!”, mesmo com o risco de soar pedante.

De certa forma, concordamos com o bicampeão mundial: realmente não é tão simples assim. Os excessivos chutes de longa distância são apenas a evidência mais clara do basquete impraticável que domina as quadras brasileiras há anos. Mas as coisas vão muito além disso, conforme a vitória do São José sobre o Pinheiros por 79 a 76 provou nesta quinta-feira, na casa do clube paulistano (nenhum fã pinheirense vai ficar bravo com o gentílico neste caso, né?).

Teve erro em reposição de bola restando menos de sete segundos no cronômetro. Faltas técnicas fora de hora – e faltas técnicas dadas no grito também, em todos os sentidos ;). Os 27 desperdícios de posse de bola. Os ataques fraturados pela volúpia do cestinha da vez. E, importante, duas equipes também fora de ritmo, algo que teve a contribuição do calendário completamente incongruente da federação paulista. A longa espera para entrar em quadra, porém, não serve como motivo único para se entender o que se passou em quadra, especialmente para entendermos o modo comos os times procuram a cesta.

Existem diversos jeitos de se atacar tresloucadamente.

O Pinheiros investe (de0mais nas jogadas individuais de Paulinho e Joe Smith. Boa parte de suas ações ofensivas se baseiam na habilidade no drible dos dois armadores. Bacana. Dribles para quebrar as frágeis defesas nacionais, buscar o garrafão, cavar falta, servir aos pivôs e/ou buscar um chute mais próximo ao aro fariam muito sentido. Mas quando você executa a finta e para logo no próximo passo, para arremessar de três sem equilíbrio, com muito tempo no cronômetro? Aiaiai. Não é legal, não. (Daí os 10/29 no jogo de hoje, marca bem fraca não só pela pontaria de 34% como pelo volume imposto.)

Comparando, o ataque do São José foi mais fluido, procurando envolver mais os cinco jogadores em quadra, alternando ações de pick-and-roll com os pivôs com muita movimentação dos chutadores fora da bola, com a finalidade de espaçar a defesa adversária. Nada como a cadência e visão de jogo de Fúlvio, no caso. Até aí é interessante. Mas quem acompanha a equipe do Vale do Paraíba sabe que, não importando a extensão das jogadas, é praticamente 50/50 a chance de ela resultar em um disparo de fora: eles vêm praticamente o campeonato todo com uma balança bizarra na qual os arremessos de três se equiparam aos de dois.

Além disso, depois de controlar quase toda a partida, os visitantes se perderam no quarto período ao aceitarem o ritmo de “pelada”, passando a forçar uma atrás da outra, dando uma grande chance para o Pinheiros descolar, por assim dizer, uma vitória. Bruno Foi um prolongamento da nossa boa e velha  gangorra. Mas, com uma baita ajuda de uma falta técnica de Mineiro, eles conseguiram se aguentar de qualquer maneira e roubaram o mando de quadra da final.

Agora que deu para tirar o ferrugem, esperamos um espetáculo um pouco mais agradável nas próximas partidas.

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A presença de público novamente deixou a desejar no Pinheiros. A vocação de entretenimento do paulistano em geral já não inclui o basquete em suas prioridades, mas as idas e vindas da tabela e o horário de 21h também não contribuem para nada.

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Só não pode deixar de constar o número básico: vimos 55 arremessos de três pontos nesta quinta em 40 minutos de jogo. Média de 1,375 por minuto. Das posses de bola que terminaram em arremesso neste primeiro jogo da final, 44,3% foram direcionadas para o perímetro.

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Quando empenhado, envolvido na partida, o ala-pivô Jefferson William se torna um jogador muito perigoso. Seus 17 pontos e 14 rebotes no ginásio do Pinheiros corroboram isso. Foi um duelo interessante com Rafael Mineiro (26 pontos e 6 rebotes).

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Suponho que não tenha sido a jogada combinada, mas o último ataque do Pinheiros terminou nas mãos de Bruno Mortari, em busca do empate. Bruno é um excepcional arremessador de longa distância, mas desde que tenha os pés plantados no chão, equilibrado para  sua tentativa. Ele não está nada habituado a receber uma bola no meio da quadra para criar algo por conta própria.


Na Sul-Americana, Pinheiros avança, mas ignora jogador mais eficiente do Paulista
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Giancarlo Giampietro

Joe Smith, do Pinheiros

Smith e Paulinho dominaram a bola pelo Pinheiros no Equador em uma classificação sofrida

O pivô Rafael Mineiro terminou a fase regular do Campeonato Paulista como o jogador mais eficiente da competição. Antes de ir aos mata-matas para poder confirmar sua ótima fase, porém, o rapaz teve de viajar com o Pinheiros para o Equador, numa breve – e, ainda assim, extremamente nervosa – pausa para a disputa de um torneio que não vale nada como a Liga Sul-Americana.

Quer dizer: imagino que não valha muita coisa. É a impressão que fica quando, nas três partidas sofridas da semana passada, vimos o time do técnico Claudio Mortari preservar seu melhor jogador deste início de temporada para as decisões que vêm em outubro. Acho que é por isso que ele foi utilizado tão pouco contra Obras Sanitarias, Centauros e Mavort.

Considerem os seguintes números:

– Mineiro jogou 104 minutos em três jogos e tentou 21 arremessos no total;

– Paulinho jogou os mesmos 104 minutos e tentou 59 arremessos;

– Joe Smith jogou 93 minutos e tentou 41 arremessos;

– Dos 202 arremessos do Pinheiros nesta fase, 87 foram de três pontos (43%);

Como justificar esse contexto? Mais quatro chutes de quadra para Paulinho, o herói da classificação, e ele teria somado o triplo do que tentou seu pivô. O triplo! Mais um chute para o norte-americano, em 11 minutos a menos de quadra, e ele teria somado o dobro de Rafael.

Aceitando duelar em jogos extremamente corridos, bagunçados, o clube paulista se privou de explorar um jogador que vive o melhor momento de sua carreira, tendo encaixado, enfim, suas habilidades de um modo satisfatoriamente produtivo. Para quem não é muito apto a eufemismos, dá para aceitar que o grandalhão foi solenemente ignorado ou, como prefiro, alienado. Uma má e velha história do basquete brasileiro recente.

Teria Mineiro sido muito passivo, se escondido do jogo? Foi muito bem marcado? Mesmo que tenha sido o caso, cabe ao treinador também encontrar soluções para aproveitar melhor as peças que tem. Além do mais, o fato é que Mineiro não foi o único a ser colocado de escanteio. O paraguaio Araújo teve 18 arremessos a seu dispor em 50 minutos, enquanto a Morro foram designados preciosos 12 chutes em 54 minutos. Somem aí A + B + C, e temos 51 arremessos para os três principais pivôs da equipe, oito a menos do que tentou Paulinho. (Para não falar que o caçulinha Lucas Dias jogou por 63 minutos e ganhou o direito a se esbaldar com sete disparos.)

A bola não chegou com a frequência adequada porque em muita ocasiões ela é atirada de longe com afobação. O elevado volume no jogo de três pontos do Pinheiros no Equador fez ainda menos sentido quando era evidente que seus armadores tinham muita facilidade para infiltrar e conseguir passes limpos para os pivôs, mais bandejas e/ou carregar os adversários de falta. No geral, o clube brasileiro acertou 58,3% nas bolas de dois pontos, 75% nos lances livres e apenas 26,4% de longa distância, um número muito abaixo do aceitável.

O ponto aqui não é crucificar Paulinho ou Smith. Na sucessão de ‘peladas’ que vimos em Ibarra, com o Pinheiros entrando na dança, era natural que o jogo ficasse concentrado nas mãos dos baixinhos, aqueles que partem primeiro para o contra-ataque.  Boracini, também em sua melhor temporada, teve a confiança para definir em um momento de extrema tensão. Não é para qualquer um.

Mas talvez um lance heróico daqueles só não fosse necessário caso o plano tático tivesse envolvido mais cestas fáceis com Mineiro ou com o próprio cestinha. Foi um tiro de três pontos no último segundo salvador Na prática, quase um cara-ou-coroa, que dessa vez sorriu para a turma de Mortari.

Agora, é o bastante para conquistar um título internacional, que vale, e muito?


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