Vinte Um

Menos instável, São José sai na frente e rouba mando de quadro do Pinheiros na final do Paulista

Giancarlo Giampietro

O comentarista, dono de um dos currículos mais belos e impressionantes do esporte nacional, afirmou algo nesta linha: ''não é tão simples assim''. Ele estava discorrendo sobre as insistentes críticas ao excesso de arremessos de três pontos por parte dos ''leigos'' quando esses resolvem falar sobre o Campeonato Paulista masculino.

Duvido que o mestre dedique parte de seu tempo a este humilde casebre, mas, de todo modo, dá para soltar um: ''presente!'', mesmo com o risco de soar pedante.

De certa forma, concordamos com o bicampeão mundial: realmente não é tão simples assim. Os excessivos chutes de longa distância são apenas a evidência mais clara do basquete impraticável que domina as quadras brasileiras há anos. Mas as coisas vão muito além disso, conforme a vitória do São José sobre o Pinheiros por 79 a 76 provou nesta quinta-feira, na casa do clube paulistano (nenhum fã pinheirense vai ficar bravo com o gentílico neste caso, né?).

Teve erro em reposição de bola restando menos de sete segundos no cronômetro. Faltas técnicas fora de hora – e faltas técnicas dadas no grito também, em todos os sentidos ;). Os 27 desperdícios de posse de bola. Os ataques fraturados pela volúpia do cestinha da vez. E, importante, duas equipes também fora de ritmo, algo que teve a contribuição do calendário completamente incongruente da federação paulista. A longa espera para entrar em quadra, porém, não serve como motivo único para se entender o que se passou em quadra, especialmente para entendermos o modo comos os times procuram a cesta.

Existem diversos jeitos de se atacar tresloucadamente.

O Pinheiros investe (de0mais nas jogadas individuais de Paulinho e Joe Smith. Boa parte de suas ações ofensivas se baseiam na habilidade no drible dos dois armadores. Bacana. Dribles para quebrar as frágeis defesas nacionais, buscar o garrafão, cavar falta, servir aos pivôs e/ou buscar um chute mais próximo ao aro fariam muito sentido. Mas quando você executa a finta e para logo no próximo passo, para arremessar de três sem equilíbrio, com muito tempo no cronômetro? Aiaiai. Não é legal, não. (Daí os 10/29 no jogo de hoje, marca bem fraca não só pela pontaria de 34% como pelo volume imposto.)

Comparando, o ataque do São José foi mais fluido, procurando envolver mais os cinco jogadores em quadra, alternando ações de pick-and-roll com os pivôs com muita movimentação dos chutadores fora da bola, com a finalidade de espaçar a defesa adversária. Nada como a cadência e visão de jogo de Fúlvio, no caso. Até aí é interessante. Mas quem acompanha a equipe do Vale do Paraíba sabe que, não importando a extensão das jogadas, é praticamente 50/50 a chance de ela resultar em um disparo de fora: eles vêm praticamente o campeonato todo com uma balança bizarra na qual os arremessos de três se equiparam aos de dois.

Além disso, depois de controlar quase toda a partida, os visitantes se perderam no quarto período ao aceitarem o ritmo de ''pelada'', passando a forçar uma atrás da outra, dando uma grande chance para o Pinheiros descolar, por assim dizer, uma vitória. Bruno Foi um prolongamento da nossa boa e velha  gangorra. Mas, com uma baita ajuda de uma falta técnica de Mineiro, eles conseguiram se aguentar de qualquer maneira e roubaram o mando de quadra da final.

Agora que deu para tirar o ferrugem, esperamos um espetáculo um pouco mais agradável nas próximas partidas.

*  *  *

A presença de público novamente deixou a desejar no Pinheiros. A vocação de entretenimento do paulistano em geral já não inclui o basquete em suas prioridades, mas as idas e vindas da tabela e o horário de 21h também não contribuem para nada.

*  *  *

Só não pode deixar de constar o número básico: vimos 55 arremessos de três pontos nesta quinta em 40 minutos de jogo. Média de 1,375 por minuto. Das posses de bola que terminaram em arremesso neste primeiro jogo da final, 44,3% foram direcionadas para o perímetro.

*  *  *

Quando empenhado, envolvido na partida, o ala-pivô Jefferson William se torna um jogador muito perigoso. Seus 17 pontos e 14 rebotes no ginásio do Pinheiros corroboram isso. Foi um duelo interessante com Rafael Mineiro (26 pontos e 6 rebotes).

*  *  *

Suponho que não tenha sido a jogada combinada, mas o último ataque do Pinheiros terminou nas mãos de Bruno Mortari, em busca do empate. Bruno é um excepcional arremessador de longa distância, mas desde que tenha os pés plantados no chão, equilibrado para  sua tentativa. Ele não está nada habituado a receber uma bola no meio da quadra para criar algo por conta própria.