Vinte Um

Arquivo : Jim Buss

NBA, onde nepotismo também acontece
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Giancarlo Giampietro

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Ray Felton está afastando, com uma lesão muscular na coxa. Pablo Prigioni também, depois de sofrer uma fratura no dedão do pé direito. Iman Shumpert não virou o armador que o time esperava – no máximo, ele consegue controlar a bola apenas como uma segunda válvula de escape. Beno Udrih arrasou ontem contra o Bucks e, ao mesmo tempo, foi arrasado por Brandon Knight.

Tudo isso deixa o técnico Mike Woodson numa situação ainda mais delicada. O New York Knicks já é o time mais decepcionante da temporada. E agora só restou um armador para constar história? Justamente numa posição tão crucial?

E, agora, diabos, a quem ele poderia recorrer?

Ao Chris Smith?!

Acho que não.

Sabe o armador Chris Smith, né? Irmão mais jovem do JR, que ganhou um contrato garantido e salário de cerca de US$ 500 mil para ser o 15º homem do Knicks na temporada, ainda que, segundo relato do superrepórter Adrian Wojnarowski, exista integrantes da própria comissão técnica do time que acreditam que o caçulinha não tenha “sequer talento para ser um jogador da Liga de Desenvolvimento da NBA”.

Chris Smith, nem na liga de verão

Chris Smith, nem na liga de verão

Pois, então. Foi esse o atleta convocado às pressas por Woodson para, ao menos, ajudá-lo a formar dois times nos treinamentos. Ao que tudo indica, Chris não está pronto para encarar um Madison Square Garden lotado e irritado. Na mesma reportagem de Wojnarowski, um gerente geral rival o definiu como “talvez o pior jogador da história das ligas de verão”.

Quando a franquia garantiu o contrato do armador, o burburinho foi tamanho que a direção da liga se viu obrigada a abrir uma investigação interna – obviamente a negociação estava vinculada à renovação com JR, ainda que não haja documentos comprovando isso… Mas até que ponto era algo irregular?

No fim, as repostas que tiveram foram de que não seria um absurdo assim considerar Chris Smith como um cara digno de NBA. “Chris tem talento suficiente”, disse um dirigente, sem se identificar, ao  New York Post. “Ele pode se tornar um jogador da NBA um dia. Algumas equipes preferem manter aqueles que são considerados projetos em vez de jogadores que podem ajudar imediatamente, e Chris é um desses projetos.”

Agora… Obviamente é um projeto. Mas que se frise: de 26 anos. Nascido em outubro de 1987, é mais velho que Stephen Curry, Jrue Holiday, Derrick Rose e Ty Lawson, para citar apenas quatro integrantes de uma das posições mais concorridas da liga hoje em dia. Mais velho também que Brandon Jennings, o atrevido reforço do Detroit Pistons que foi a público no Twitter para questionar o que o (nem tão) jovem Smith fazia por ali, citando dois experientes armadores que hoje fazem carreira na Europa, esperando por uma proposta da liga. “Espere, espere, espere. O irmão do JR Smith está na NBA, mas o Pooh Jeter e o Bobby Brown, não? Pode me chamar de hater, mas isso não dá!”, disparou.

(No fim, o crítico deletou seu post, mas não foi rápido o suficiente para evitar que jornalistas e outros seguidores espalhassem sua mensagem. JR tomou as dores da família. “É meu irmãozinho, então eu vou interferir por ele, de um jeito ou de outro. Não apenas contra Brandon, mas contra qualquer um que diga alguma coisa para ele”, declarou.)

Desnecessário dizer que nem Woodson, nem James Dolan e talvez nem mesmo o ala do Knicks esperam que Chris Smith vire um craque ou alguém do nível de Jennings. Desde o início da temporada, ele foi enviado para a liga de desenvolvimento, defendendo a filial do clube de Manhattan, o Eerie BayHawks. E, mesmo num campeonato com números bastante inflados, o jogador não chega a impressionar, com médias de 11,3 pontos, 4,5 rebotes, 2,7 assistências, 2,0 desperdícios de posse de bola, 24,7 minutos, em seis partidas.

Quando o técnico da equipe, Gene Corss, foi questionado pelo New York Times sobre a perspectiva de Smith se encontrar na NBA, sua resposta não foi das mais entusiasmadas.”Acho que ele tem potencial para trabalhar, continuar a crescer e se tornar um bom jogador. E, qualquer que seja a situação em que ele estiver, acho que pode ter sucesso. Mas você nunca sabe qual a situação que vai rondar um atleta”, disse.

Chega a ser um pouco embaraçoso, não?

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema...

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema…

Mas tem mais. Mike Woodson nem tem como refutar que o laço de sangue com seu talentoso – mas incontrolável – ala pesa nesse contexto. “Tenho um grande respeito por essa família. É o irmão dele. Eu respeito isso”, disse.

Hein?

E como fica Chris Smith nisso tudo?.

“Isso me ajuda? Obviamente. Ele é meu irmão mais velho. As pessoas querem que fiquemos juntos o tempo todo. E ele me ajudou muito”, afirma.

“É claro que eu tenho muito o que provar”, afirmou o armador ao Times. “Mas eu ainda não consegui jogar direito desde que deixei Louisville. Digo, eu sinto que sou um dos jogadores mais subestimados agora. Mas sempre fui subestimado. Ninguém espera nada de mim. Vão sempre me olhar como o irmão mais novo do JR, porque ele é um atleta fenomenal, sexto homem do ano e tudo isso. Mas eu sempre tive minha própria plataforma, meus objetivos próprios.”

Difícil, porém, é que esses objetivos coincidam com os do Knicks, afundados na Conferência Leste.

*  *  *

O caso de Chris e JR Smith com o Knicks pode ser aquele mais vexatório ou espalhafatoso, mas está longe de ser o único vínculo nepotista na liga norte-americana. O mais grave deles, aliás, deve ser aquele descoberto durante o lo(u)caute que escancarou diversos problemas do sindicato dos jogadores. Entre eles, foi descoberto que o diretor executivo, Billy Hunter, empregava dois filhos e uma nora no órgão. Uma apuração da Bloomberg, aliás, revelou que a família Hunter recebeu mais de US$ 4 milhões em salários durante a década.

De qualquer forma, de modo bem menos escandaloso, o emprego de familiares é usual entre as franquias, especialmente entre treinadores e dirigentes.

Não que a prática seja preliminar ou fundamentalmente errada. É compreensível que, num mundo bastante competitivo, em que por vezes a capacidade de guardar segredos é a mais importante, se corra a alguém da maior confiança. O problema é correr o risco (grande) de misturar as coisas. Quando a confiança é colocada muito da competência. Não se trata de uma regra. Mas, que pode acontecer, ô se pode.

Que o diga Michael Jordan e quem quer que trabalhe para o…

Charlotte Bobcats
No que se refere a nepotismo, Jordan também pode ser considerado o melhor na NBA. Ok, podemos atenuar o termo e dizer que, em matéria de cuidar dos chapinhas do passado e compadres, não tem para ninguém. Buzz Peterson, seu rival dos tempos de colegial e ex-companheiro na Universidade da Carolina do Norte, foi um de seus cartolas. Fred Whitfield, presidente do clube, é seu amigo há 30 anos. Ex-parceiros de Chicago Bulls como Rod Higgins (vice-presidente e manda-chuva do departamento de basquete), Sam Vincent e Charles Oakley também foram aproveitados. Conto em mais detalhes nesta reportagem aqui. Depois que o texto foi publicado, MJ ainda promoveu seu irmão Larry a diretor, no cargo anteriormente ocupado por Peterson.

Cory Higgins, o filho do Rod

Cory Higgins, o filho do Rod

Higgins, aliás, aprendeu direitinho e chegou a contratar seu filho, Cory, como terceiro armador do clube – na época, não havia um scout sequer que entendesse a aposta no jovem graduado pela Universidade do Colorado. O atleta ficou uma temporada e meia na equipe. Aí chegou o dia em que teve de ser dispensado, em dezembro de 2012, olho no olho. “Quando você toma uma decisão como essa, de contratar seu filho, sempre sabe que um dia como esse poderia acontecer. O jogador também sabe disso. O aspecto pessoal é o aspecto pessoal. Mas, quando você dá o próximo passo e se dá conta de que isso é um negócio, você sempre sabe que isso poderia acontecer”, disse o pai, com toda a franqueza do mundo. “Ele não deixa de ser meu milho.”

Então tá.

O Higgins filho tinha média de 3,7 pontos em 10,3 minutos pelo Bobcats, tendo disputado 44 jogos, com aproveitamento de 32,4% nos arremessos de quadra em sua carreira, com 20% nos três.

Em meio a esse contexto, como Jordan ou Higgins poderiam punir Paul Silas, ex-treinador da equipe, quando este optou por não dirigir a draga de elenco que tinha na temporada 2011-2012, pós-lo(uc)aute, quando conseguiram terminar com a pior campanha da história da liga, em termos de aproveitamento de vitórias. Na ocasião, o veterano Paul tinha as melhores intenções. Seu filho Stephen era seu principal assistente, e o papai coruja acreditava que chegaria o dia em que sua cria seria um técnico principal na liga. Então por que não começar logo, pegando experiência? O Bobcats não iria para nenhum lugar mesmo…

(Como podemos testemunhar até hoje. E, antes mesmo da família Silas, os Bickerstaffes haviam tomado conta do banco de reservas. O experiente Bernie foi o primeiro treinador da franquia e teve seu filho John-Blair em seu estafe e por três anos – aos 25, ele foi, inclusive, o assistente mais jovem da história da liga. J.B. hoje trabalha com Kevin McHale no Houston Rockets.)

Minnesota Timberwolves e Boston Celtics
Quando Rick Adelman cedeu e aceitou a bucha que é treinar um Minnesota Timberwolves, ao menos garantiu mais alguns trocados para sua família ao incluir seu filho David em sua comissão técnica. Antes da NBA? O herdeiro havia trabalhado, até então, apenas no nível de high school, em Portland. Não era o currículo mais impressionante disponível no mercado, certeza.

Em Boston, Danny Ainge encontrou um lugar na sua equipe de gestão para o filho Austin. Formado na BYU, na qual foi companheiro do ala Jonathan Tavernari, o Ainge filho migrou direto para o banco de reservas, com terno e gravata. Foi assistente na Southern Utah University e treinador do Maine Red Claws (filial do Celtics na D-League) antes de ser contratado pela franquia mais vencedora da história da NBA.

Em sua defesa: sua saída do Red Claws foi bastante sentida. “Eu sinto muito em ver Austin partir para seu novo cargo com o Celtics”, disse o presidente e gerente geral do clube, Jon Jennings, via release. “Todos nós gostamos de trabalhar com ele. Ninguém trabalhou  mais duro e estava mais comprometido com a evolução de nossos jogadores.”

Além de ajudar o pai na condução e formação do elenco, Austin também quebra um galho do brasileiro Vitor Faverani, ajudando na tradução do espanhol para o inglês, sempre que necessário.

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Sacramento Kings
Na capital californiana, o processo foi inverso. Michael Malone assumiu o comando de um time pela primeira vez e recorreu ao pai Brendan, extremamente experiente, que seria seu principal assistente. Sua missão seria ajudar a guiar o filho em sua temporada de calouro. Em cerca de três meses, porém, o Malone sênior abriu mão do cargo, dizendo que basicamente não tinha mais paciência para esse tipo de atividade.

“Foi um choque completo para mim. Estava na minha sala, e ele entrou e disse: ‘Estou saindo’. Eu respondi: ‘Aonde você vai?’. E ele simplesmente falou que estava saindo para valer. Foi uma surpresa. Acho que era algo com o qual ele estava lutando por um tempo. Foi difícil lidar com isso e algo muito emocional porque não é apenas a relação de um técnico com um assistente. Há uma dinâmica de pai e filho, mas, para ser justo, eu não estaria aqui se não fosse por ele. Ele me deu um empurrão para chegar aqui”, afirmou o Malone júnior, que vinha fazendo ótimo trabalho no estafe de Mark Jackson no Warriors e com Monty Williams no Hornets, hoje Pelicans, diga-se.

Dallas Mavericks
Don Nelson fechou com Mark Cuban para reestruturar uma franquia que foi uma piada durante grande parte da década de 90. Levou junto na bagagem o filho Donnie, que trabalhou como gerente geral, nos bastidores, como o braço direito de Cuban nas negociações com atletas. O Don filho, porém, já tinha mais o que oferecer. Trabalhou como assistente da seleção lituana em diversas competições coordenou a seleção chinesa por dois anos e em ambos os cargos teve sucesso. Também criou os chamados Global Games, em Dallas, um torneio amistoso que reúne algumas das melhores seleções juvenis do mundo. Ele só ficou em uma situação constrangedora no Texas quando a relação do Don pai e do magnata se estremeceu a ponto de envolver os tribunais. No final, Cuban teve de pagar mais de US$ 6 milhões em um acordo.

Los Angeles Lakers
Bem, o falecido Jerry Buss não quis nem saber: seu legado teria de ser sustentado pelos filhos. Quando seus problemas de saúde o afastavam gradativamente da condução diária da célebre franquia, o Sr. Buss transferiu suas responsabilidades para os dois filhos. Jim ficaria com o basquete. Jeannie, com os negócios. Ric Bucher escreve mais a respeito aqui. Jim foi assistente do gerente geral Mitch Kupchak desde 1998. Na visão dos torcedores do Lakers, é uma nulidade, famoso por seu apreço por corridas de cavalo, por não tirar o santo boné da cabeça e por ter demitido mais de uma dezena de empregados do vitorioso departamento esportivo antes do lo(u)caute.

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

(Esse processo aconteceu também no Denver Nuggets, lembremos, com Josh Kroenke, de 33 anos, assumindo a presidência do time, deixando o pai Stan mais afastado. Josh jogou por Missouri na NCAA e já marcou Carmelo uma vez. Leia seu perfil aqui, do intrépido Wojnarowski.)

Em quadra, depois de muito tempo separados, hoje em dia para onde quer que Mike D’Antoni vá, ele carrega junto o irmão Dan, mais velho. Enquanto Mike conquistava a Itália – e, sobretudo, Kobe – e Milão, como jogador, depois de passagem não muito brilhante na NBA, Dan era treinador na boa e velha West Virginia, em high school. Na verdade, ele se ocupou disso por (!) 30 anos até ser convencido pelo caçula a assumir um cargo de assistente no Phoenix Suns. A parceria se repetiu em Manhattan e, agora, em Hollywood.

Atlanta Hawks e Utah Jazz
Dias depois de fechar a surpreendente contratação de Paul Millsap, Danny Ferry não foi tão criativo assim ao anunciar seu elenco para a liga de verão de Las Vegas em 2013. As atrações principais eram o brasileiro Lucas Bebê e o alemão Dennis Schroeder, mas não deixava de chamar a atenção o número 45 da equipe, John… Millsap. Irmão (três anos) mais velho de Paul, conseguiu a vaguinha na carona do contrato milionário do ex-jogador do Jazz, claro. A generosidade, no entanto, se limitou a uma assinatura de contrato. Em Vegas, John jogou por apenas 17 minutos, em duas partidas, marcando dois pontos no total.

Em Utah, aliás, John já havia ganhado um empurrãozinho ao defender por um bom tempo o Flash, da D-League, que hoje é chamado Delaware 87ers, afiliado ao Philadelphia 76ers.

Para saber mais sobre a saga dos irmãos Millsap – há ainda Elijah, do Los Angeles D-Fenders, e o caçulinha Abraham, é só acessar o site do Paul.

Golden State Warriors

Seth e Stephen, filhos do Dell

Seth e Stephen, filhos do Dell

Com Stephen Curry e Klay Thompson, o Golden State Warriors causa inveja a muita gente. Será que é justo que o mesmo time possa ter dois arremessadores tão acima da média? Que dois gatilhos desses possam fazer dupla? Bem, há outra franquia que ao menos pode replicar esses sobrenomes. Estamos falando – coincidência ou não! – do Santa Cruz Warriors, filial da equipe na D-League. É lá que jogam Seth Curry e Mychel Thompson, irmãos dos cestinhas.

Seth é mais jovem que Stephen. Os dois herdaram do pai, Dell, a mecânica belíssima e a eficiência nos chutes de longa distância. Mychel, mais velho que Klay, já é moldado de um jeito diferente, muito mais voluntarioso do que o refinado caçula. Os dois são filhos de mais ums ólido veterano da NBA, o pivô Mychal Thompson, bicampeão pelo Los Angeles Lakers em 1987-88.

Comparando com John Millsap, há algo que os separa, contudo. Depois de brilhar pelo Erie BayHawks na liga de desenvolvimento, Mychel foi contratado pelo Cleveland Cavaliers – aparentemente sem influência do sobrenome. Jogou cinco partidas pelo Cavs, sendo titular em três ocasiões. Já Seth se formou pela tradicional Universidade de Duke, sob o comando do Coach K, como um jogador importante na NCAA. Uma grave lesão de tornozelo antes do Draft acabou atrapalhando suas pretensões no recrutamento de calouros. Provavelmente teria espaço em uma grande liga da Europa, mas preferiu acompanhar o irmão na Califórnia.

Los Angeles Clippers
Não foi possível confirmar os rumores de que Doc Rivers, com tantos desfalques, estaria interessado na contratação do Little Chris (Paul) para fortalecer seu banco de reservas:

(Brincadeira. Fui!)


Do contra, Kobe renova por valor alto. E o futuro do Lakers?
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Giancarlo Giampietro

Fala, Kobe

Você aprende a gostar de um Kobe Bryant por tudo aquilo que ele faz de diferente.

Para começar, são poucos os que podem igualar seus talentos em quadra. Desde que entrou na NBA como um colegial em 1996, sua capacidade atlética já deixava claro que tinha tudo para ser um dos grandes. Ágil, maleável, explosivo, saltitante, já conseguia competir com os grandalhões, ainda que o Los Angeles Lakers tenha controlado direitinho sua decolagem. Foi sendo solto aos poucos. Quanto mais jogou, mais óbvias ficavam outras características que o carregariam ao topo. De atletas de alto nível a liga estava cheia. Que o diga Harold Miner. Mas o ala tinha muito mais que isso. Visão para o passe e dos diferentes ângulos para se infiltrar, chute de média distância e, talvez ainda mais importante, propensão para se ralar na defesa no mano a mano. Sem contar as horas sem fim de internação no ginásio para refinar essas habilidades. Sim, era um craque, distante dos outros.

Com o tempo, foi moldando sua personalidade em uma liga dominada por dinheiro, ególatras e muita gente competitiva, o ala teve diversas fases. Primeiro, tentou se enturmar como um dos manos do hip-hop, tentando combater a imagem de “fresquinho” que tinha, pelo período longo de educação que teve na Europa, acompanhando a carreira do pai. Não deu muito certo, e viu que o negócio era, mesmo, se concentrar dentro de quadra. Já foi o queridinho jovial e exuberante, virou o vilão introspectivo e intratável – os anos entre 2003 e 2006 foram especialmente complicados, com os constantes entreveros com Shaq, a acusação de estupro no Colorado a roupa suja lavada de Phil Jackson etc. –, perdeu, ganhou, retomou a coroa e, hoje, é talvez a melhor entrevista de toda a liga. Consagrado, com um currículo quase imbatível, confiante, inteligente, veterano, faz a alegria de quem consegue gravá-lo. Bem distante do usual.

Como esperar, então, que, na hora de definir algo tão importante como os próximos e últimos anos de uma carreira dessas, ele fosse seguir o convencional, aquilo estabelecido como padrão? No caso, renovar seu contrato com o Lakers com um desconto camarada para a franquia, com a ideia de que, desta forma, poderia ter mais ajuda para buscar o (supostamente) tão sonhado sexto anel? Oras, isso é coisa para Tim Duncan, Kevin Garnett, LeBron James e outros fazerem.

Quer dizer, não que Kobe não os respeite, de um jeito ou de outro. Mas, na cabeça de um sujeito desses, não há quem possa se colocar em seu patamar – e por trás dessa lógica há muito mais coisa que a simples habilidade de jogar basquete.

“Você não pode apenas entender seu esporte. Tem de entender a indústria dos esportes”, afirmou, no Twitter, o astro, depois de ser malhado por 99,5% da internet americana pela extensão contratual que assinou, por mais duas temporadas além da atual, com média salarial superior a US$ 24 milhões. “As regras do teto salarial forçam que os jogadores sejam ‘altruístas’ para ajudar proprietários BILIONÁRIOS. E são as mesmas regras que os proprietários nos obrigaram a aceitar. #Pense”, completou.

Ciente disso, do tipo de coisa que circunda a mente de seu principal pilar, a diretoria do Lakers apostou alto ao já resolver a negociação prontamente. Se cada centavo desse contrato não importasse para o que vai ser da equipe até 2016 (mais abaixo), a definição mais correta para o acordo selado seria a da repórter Ramona Shelbourne, do ESPN.com americano. “É só pensar que ele vai ganhar qualquer coisa a mais que o segundo jogador mais bem pago da liga”.

Saca? Para Kobe, parece realmente importante encabeçar a lista dos holerites emitidos na liga. É uma questão de status, reconhecimento por serviços prestados e relevância para o jogo – e a indústria, como deixou claro no seu tweet. Algo que Jim Buss e Mitch Kupchak sabem muito bem. Além disso, pega bem para a franquia, diante de jogadores e agentes, essa demonstração de “lealdade” e, ao mesmo tempo, agradecimento.

“Sou muito afortunado de estar em uma organização que entende como cuidar de seus jogadores e colocar um grande time na quadra. Eles descobriram como fazer isso. A maioria dos jogadores na liga não tem isso. Eles ficam presos a uma situação difícil, algo provavelmente algo feito intencionalmente pelos times para forçá-los a ganhar menos dinheiro”, disse, depois, o jogador ao Yahoo! Sports em entrevista imperdível. “Enquanto isso, o valor da organização cresce até o teto, graças ao sacrifício de seus jogadores altruístas. É a coisa mais ridícula que já ouvi.”

É difícil fazer frente aos argumentos do Sr. Bryant, não? Os jogadores da NBA vivem em um mundo no qual a ridicularizada franquia do Sacramento Kings é vendida pela quantia recorde de U$ 534 milhões. Se os Maloof conseguiram fazer uma bolada dessas, seria certo que Peja Stojakovic, Mike Bibby ou Chris Webber, no auge do clube, aceitassem ganhar menos para facilitar a vida de empresários que, no fim, se mostraram gestores incompetentes?

Além do mais, a situação de Kobe ainda tem outro aspecto especial. Por mais que o atleto já tenha engordado seu cofre sem parar na última década, a ponto de garantir um vidão para seus eventuais bisnetos ou tataranetos, um atleta desse calibre nunca é devidamente pago. Não dá para dimensionar sua importância para a marca do time. Certamente vale mais que os US$ 30 milhões a serem embolsados apenas por este campeonato.

Ainda não está muito claro o caminho que levou a esse relativamente rápido acerto. Se Rob Pelinka, o homem que negocia por Bryant, já estava forçando a barra nos bastidores. Se a diretoria que resolveu se apressar, mesmo, independentemente da forma física do astro em recuperação de uma cirurgia no tendão de Aquiles ou do quanto a concorrência estaria disposta a oferecer pelo ala, se ele eventualmente viesse a se tornar um agente livre. De qualquer forma, antes de bater o martelo, cartolas e jogador tiveram a chance de ponderar o que faziam. E, justa ou não a remuneração do camisa 24, fato é que, se a prioridade nessa renovação de vínculo fosse realmente esportiva, tentar fazer do Lakers novamente um candidato ao título, os valores divulgados são, mesmo, incompreensíveis.

Sem entrar tanto assim na matemática – há quem faça muito melhor –, a franquia basicamente só poderá contratar um craque de ponta, alguém que faça a diferença, nos próximos dois anos, enquanto durar o novo contrato de Kobe. E, para fazer isso, ainda teria de se despedir de Pau Gasol, se livrar da carcaça de Steve Nash, dos rebotes de Jordan Hill e de qualquer outro “achado” da campanha 2013-2014. As novas regras do acordo trabalhista da NBA basicamente sufocam qualquer time que gaste (mais de) US$ 40 milhões em dois atletas. A ideia era realmente atar as mãos de clubes mais poderosos financeiramente como o Lakers e o Knicks – mbora a ironia das ironia seja que essas regras também detonam com as equipes menores que consigam formar grandes elencos, como o Thunder, que se viu obrigado de escolher entre Ibaka e Harden.

Na atual configuração de negócios da liga, pensando na próxima temporada, o Lakers caminharia para ter Kobe, Astro X, um jogador mediano Y e uma banca de Shawne Williams e Robert Sacres para preencher as lacunas restantes no elenco. Isso é muito pouco, mesmo para o caso de o craque retornar de uma lesão devastadora em plena forma. É possível? Claro, nunca é bom desconfiar de alguém tão obstinado como o ala. Mas já será um desafio e tanto – e, a propósito, ele afirma ainda faltar algumas semanas para que possa retornar. “Tentei me isolar (das negociações de renovação), bloquear isso. Precisava me concentrar na minha recuperação em levar meu traseiro de volta para quadra.”

Kobe afirma também que confia na habilidade de Kupchak em formar uma equipe competitiva. Mas ele talvez simplesmente esteja ignorando as minúcias da nova NBA. Ao defender seus interesses, o ala acabou por deixar os cartolas em uma posição mais difícil, embora esteja pê da vida com quem entenda desta maneira. “Não dá para ficar pensando isso: ‘Bem, vou ganhar substancialmente menos porque existe uma pressão pública para isso’. De uma hora para outra, se você não aceitar ganhar menos, é como se você não desse a mínima para vencer. Isso é pura bobagem.”

Antes dessa frase, porém, ele fez a seguinte colocação: “Muitos de nós (jogadores) temos aspirações para virarem homens de negócio quando nossa carreira chegar ao fim. Mas isso começa agora. Você precisa ser capaz de pensar ambas as coisas”.

Dessa vez, Kobe acabou pensando mais em seus futuros negócios.

(PS: Uma explicação. Não tem sido um final de ano fácil para o blog. Perdi minha última avó, uma semana depois tive de embarcar para uma longa viagem profissional para o outro lado do mundo. Na volta, tinha uma coisa beeeem gostosa para coordenar: simplesmente uma mudança de casa me aguardava, junto com outras obrigações no trabalho, e aí as coisas fugiram de controle. Era melhor parar por um tempo, sentir falta do VinteUm e voltar com alguma coisa que preste para escrever. Espero que este post já sirva de algo. Amanhã de manhã tem mais, sobre os problemas de um ex-armador genial em comandar um timaço numa das vizinhanças de Nova York. As coisas parecem ter voltado ao lugar aqui. Abs, até mais.)


O Fantástico Mundo de Ron Artest: Give Peace a Chance
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers.

E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo absurdo de informação oferecido diariamente, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

As novelas das negociações de LeBron James e Carmelo Anthony foram certamente as líderes em manchetes nos últimos anos desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo.  Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura  –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

*  *  *

Ron x Meta

Sim, aconteceu. Para poupar alguns tostões, umas caixas de cerveja e uma dúzia de Mojitos para Jim Buss, o Lakers decidiu mandar a paz mundial para o beleléu. Quer dizer: anistiaram Ron Artest na noite desta quinta-feira, uma noite triste e fria em Los Angeles.

Antes de prosseguirmos, o que significa “anistiar”? É a medida que o novo acordo trabalhista permitiu aos clubes, podendo dispensar um jogador, retirando seu salário automaticamente de sua folha salarial, ainda que precisem pagá-lo normalmente. O incentivo da franquia nessa decisão foi economizar a grana que pagariam de taxas – algo em torno de US$ 15 milhões.

Desde que o impertinente repórter Kevin Ding, do Orange County Register,  ter soltado no Twitter a notícia de que o #mettaworldpeace estava prestes a ser anistiado, o mistério estava no ar. Kobe Bryant se pronunciou também na rede social para lembrar alguns dos melhores momentos do ex-companheiro pela equipe e disse que gostaria que ele seguisse no elenco, ainda que não tenha sido extremamente crítico.

Agora, quanto aos torcedores?

Aí foi dureza.

Um grupo chegou a organizar uma petição online pró-Artest endereçada a Buss e ao gerente geral Mitch Kupchak. Antes do texto da petição em si, eles redigiram um texto profundamente tocante para contextualizar o que estaria em jogo para toda uma nação Laker:

Nesta semana, recebemos a triste notícia de quem de nossos maiores heróis, Metta World Peace, seria anistiado em um movimento para corte de custos. Entendemos que o basquete, no final do dia, é um negócio. Mas Metta é um homem para o qual as regras ordinárias não deveriam ser aplicadas. A diretoria do Lakers não pode oficialmente  anistiar Metta até o dia 10 de julho, uma quarta-feira. Temos que esperar apenas que eles mudem de ideia. Então aqui vão algumas palavras sobre o homem, o mito, o Metta:

– É um cara que é um dos defensores mais duros e sovinas de todos os tempos.

– É um cara que sempre nos fez rir  quando tudo o mais nos fazia chorar.

– É um cara que nunca desistiu de uma jogada.

– É um cara muito mais sexy do que o normal.

– É um cara que brinca com seus fãs no Twitter.

– É um cara que passou da maior suspensão da história da NBA para ganhar o Prêmio de Cidadania da liga.

– É um cara que colocou seu time nas costas e fez a cesta decisiva do Jogo 7 das finais da NBA e, então, prontamente agradeceu seu terapeuta em seu discurso ao final da partida.

– É um cara que deu seu anel de campeão  aos torcedores.

Agora é hora de retribuir a ele de alguma forma. Por favor, assine a petição abaixo para manter Metta aonde ele pertence. De roxo e dourado.

Sniff, sniff!

Que belas palavras, né? ; )

Resumindo, então, o texto que clamava pela continuação de Artest: que todo mundo podia imaginar o Lakers sofrendo na temporada que vem, mas que não seria bem assim, que dava para lutar, e para isso o ala deveria ficar no elenco. Que ele teria dado um duro danado no campeonato passado, ajudando a equipe a enfrentar a crise, que voltou de uma operação no menisco em 12 dias e que suas contribuições não teriam preço.

Não adiantou de nada. Deram um chute no jogador, mesmo.

E como fica ele, a parte mais afetada, em toda essa história?

Ron-Ron procurou agir com ironia e piadas a partir de sua dispensa. Um comportamento natural para tentar driblar a frustração, a humilhação e o orgulho ferido. Pobre coitado. Disse que ia se aposentar e jogar hóquei pelo LA Kings. Disse que jogaria pelo Shangai Sharks, de Yao Ming, na China. Também afirmou, antes, que havia anistiado seu iPhone 3 e uma calça jeans, que não servia mais. Mas que não era para todo mundo acreditar no que ele sempre dizia. Bidu. Até que anunciou que não iria mais postar nada em sua conta por 48 horas, sem saber ao certo até quando o jejum duraria, já que “havia perdido seu relógio”.

Até a noite de sábado, Artest estará, digamos, na lixeira da liga. Um lugar do qual poderá ser retirado por qualquer equipe abaixo do teto salarial que lhe faça uma proposta salarial. Mas podemos apostar que ninguém será maluco de se meter nessa. Aí, ao final de 48 horas, ele estará livre para assinar com quem bem entender. As primeiras especulações apontam o New York Knicks, de sua cidade natal. O interesse seria mútuo. Mas dá para imaginar o Clippers também tentando alguma coisa. Vai saber.

O fato é que são dias extremamente tristes estes, em que o lunatismo já não é mais respeitado.

Silêncio.

(…)

Pronto. Agora é de cantar:

Deem uma chance para a Paz!


Saída de Howard deixa caldeirão de Mike D’Antoni borbulhando em Los Angeles
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Giancarlo Giampietro

D'Antoni, LA Confidential

D’Antoni vai ter trabalho para colocar um Lakers coeso em quadra. Howard, o 12, caiu fora

É, Mike D’Antoni, e a gente pensando que 2012-2013 já havia sido complicado…

Com a saída de Dwight Howard rumo a Houston, o treinador que já dirigiu um dos times mais divertidos da história da NBA vai ter de ser bastante criativo se quiser voltar a sorrir – uma vez que seja – no próximo campeonato. Se ele já havia enfrentado enorme pressão nos últimos meses, a coisa pode ficar feia, mesmo, é a partir de agora.

Aliás, faz tempo que ele tem prazer de verdade na profissão.

Desde que viveu temporadas mágicas pelo Phoenix Suns em 2008, o técnico conseguiu apenas duas campanhas vitoriosas na liga. Vitoriosas no sentido de ter um aproveitamento superior a 50%, pelo menos. Em 2011, venceu 42 e perdeu 40 pelo Knicks (51,2%). Em 2013, venceu 40 e perdeu 32 pelo Lakers (55,6%).

Nash & D'Antoni

D’Antoni e o “jovem” Nash: será?

Dá para entender também: nos dois primeiros anos em Nova York, ele herdou um elenco que precisava ser fraturado e regenerado por Donnie Walsh, o homem incumbido de limpar toda a sujeirada que Isiah Thomas havia feito durante a década. O Knicks estava jogando, dolorosamente, para perder, mesmo. O objetivo era abrir espaço para a contratação de LeBron James e mais uma estrela em 2010. Acabou que chegou apenas Amar’e Stoudemire – que se reuniu com seu mentor do Phoenix Suns e ao menos conduziu o clube de volta aos playoffs.

Quanto ao Lakers? Bem, o aproveitamento esteve bem longe do esperado, a despeito de toda a turbulência que o clube enfrentou no último campeonato. Ainda assim, também se garantiram nos playoffs, mesmo que não tivessem chance alguma contra o Spurs sem Kobe, Nash e, glup!, Steve Blake, no fim.

Agora… Se as lesões certamente foram um fator decisivo em uma temporada que chacoalhou Los Angeles, boa parte do drama todo em volta de um elenco estelar que não teve liga alguma também foi causado pela incapacidade do treinador em controlar a situação. Ele simplesmente não teve personalidade para apaziguar os ânimos.

Só não dá para dizer que era tudo sua responsabilidade também. Com o afastamento e, depois, a triste morte de Jerry Buss, o KAkers foi tomado pela instabilidade. Seus filhos travavam uma guerra fria há anos pela sucessão, e essa disputa abalou consideravelmente a capacidade administrativa de Mitch Kupchak, que operou durante todo o ano sem um assistente e com um número reduzidíssimo de scouts, numa época em que a maioria dos concorrentes investiu mais e mais.

Também não foi D’Antoni quem telefonou para Phil Jackson e levou a negociação a público logo após a demissão de Mike Brown. A diretoria – Jim Buss, nêmesis de Jackson, e Kupchak, na verdade – atiçou uma das torcidas mais exigentes do esporte americano e, depois, decidiu inovar na contratação do substituto. Sobrou para quem?

O pior efeito deste flerte foi sobre Dwight Howard. Em suas primeiras entrevistas desde que escolheu o Rockets, o pivô, ao seu modo evasivo, expressou sua frustração com o treinador do Lakers. “Acho que tivemos nossos bons momentos, mas acho que seu estilo de jogo era um pouco diferente daquele ao qual estava acostumado”, disse – e isso que é de matar em Howard… Ele simplesmente não consegue ir direto ao ponto nunca. Depois, lamentou também o fato de não ter podido trabalhar com o Mestre Zen: “Bem, eu pedi para tê-lo como técnico no começo do ano”.

Para o torcedor do Lakers mais fanático, essa combinação de frases pode ser mortal quanto a D’Antoni – a não ser que este mesmo torcedor esteja puto o suficiente com o próprio pivô e todos seus caprichos, que possa dar um desconto ao técnico. De todo modo, bastará um início de campanha com acúmulo de derrotas para que o caldeirão borbulhe.

E como fazer para controlar isso e ter sucesso em quadra?

Ryan Kelly, inglês

Ryan Kelly é o único reforço até agora

Kobe Bryant ainda é uma incógnita. Voltar bem (mas bem mesmo, de acordo com seus padrões) de uma ruptura de tendão de Aquiles aos 35 anos seria algo inédito na NBA. Steve Nash? Completará 40 anos durante a temporada, um ano mais velho e um ano a mais distante dos curandeiros do Phoenix Suns. Pau Gasol? Mesmo que tenha reclamado horrores também de D’Antoni, seu maior problema foi mesmo o excesso de lesões – só disputou 49 partidas e, na verdade, nenhum jogador do time esteve em quadra por toda a temporada, cumprindo as 82 rodadas.

Entre os operários, Earl Clark, o mais atlético num plantel de jogadores enferrujados, saiu. Jordan Hill, outro que podia revigorar a equipe, mal parou em pé. Jodie Meeks esteve distante dos 40% na linha de três pontos (35,7%). Darius Morris, único novinho da turma, não foi desenvolvido. Draft? Chega apenas o ala-pivô Ryan Kelly, talentoso britânico de Duke – bom atirador de longa distância, bom passador –, mas que não defende quase nada.

Difícil.

Para o time poder prosperar, o técnico vai ter de fazer um dos melhores trabalhos de sua vida e, ao mesmo tempo, torcer para que algumas – ou todas? – questões tenham soluções positivas: 1) que Kobe desafie qualquer prognóstico e esteja pronto feito Kobe em novembro; 2) que Gasol possa ficar saudável (mesmo com mais responsabilidades sem Howard); 3) o mesmo vale para Nash; e 4) que a diretoria acerte nas contratações periféricas e parem se apaziguem nos bastidores.

Por outro lado, se dois desses quatro tópicos tiverem resposta negativa, independentemente de quais, aí pode ter certeza que, no Staples Center, haverá mais um a gritar por Phil Jackson: o próprio Mike D’Antoni.


Morre Jerry Buss, proprietário dez vezes campeão da NBA pelo Lakers
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Giancarlo Giampietro

Jerry Buss e Magic Johnson

Jerry Buss e seu amigo pessoal Magic Johnson durante os anos de Showtime

Morreu nesta segunda-feira Jerry Buss, magnata norte-americano que deixou sua marca no basquete como proprietário do Los Angeles Lakers desde 1979. Nestes 34 anos, foi dez vezes campeão da NBA e viu a equipe sustentar um aproveitamento de 65,9% em vitórias. Ele estava internado em L.A. devido a complicações de um câncer, aos 80 anos.

Esse é mais um baque na conturbadíssima temporada que vive o Lakers. Bem distante do alto rendimento marcante da época de Showtime nos anos 80 ou da gestão ultravencedora de Phil Jackson nos últimos anos, o time hoje sofre para se manter na briga por uma vaga nos playoffs, algo impensável em outubro, quando Kobe Bryant e Pau Gasol receberam Steve Nash e Dwight Howard para iniciar a fase de treinamentos.

O Buss pai, craque no pôquer e uma das presenças mais ativas nas noitadas célebres de Los Angeles, já vinha se afastando gradativamente do controle do clube, mas participou ativamente das contratações de Nash e Howard, além da demissão de Mike Brown no início da campanha.

A situação de comando da franquia agora fica incerta. Jim Buss havia assumido as operações de basquete, para o desespero de muita gente. Sua irmã mais velha, Jeanie, noiva de Phil Jackson, controla a parte de negócios. Entre as razões para entender a escolha de Mike D’Antoni como sucessor de Brown, com o Mestre Zen disponível e interessado. Ter Jackson de volta para “salvar o time” poderia fortalecer, e muito, um dos lados da família.

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Veja a lista de alguns dos jogadores contratados pelo Lakers durante a gestão de Jerry Buss: Magic, James Worthy, Byron Scott, Michael Cooper, Shaquille O’Neal, Kobe Bryant, Robert Horry, Pau Gasol, Lamar Odom, Karl Malone, Gary Payton, Dennis Rodman e muito mais. (Kareem Abdul-Jabbar já vestia a camisa do clube quando Buss se tornou o proprietário).

Ok, vamos brincar de lembrar mais alguns (não necessariamente super estrelas e, em alguns casos, folclóricos): AC Green, Vlade Divac, Mychal Thompson, Kurt Rambis, Sam Perkins, Benoit Benjamin, Sam Bowie, Sedale Threatt, George Lynch, Nick Van Exel, Cedric Ceballos, Eddie Jones, Sean Rooks, Travis Knight, Glen Rice, Mitch Richmond, Isaiah Rider, Slava Medvedenko, John Celestand, Mike Penberthy, Smush Parker, Luke Walton, Derek Fisher, Sasha Vujacic, Corie Blount, Rick Fox, Devean George e, claro, Samaki Walker.

Quem mais??? Diga lá.

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Jerry Buss pagou US$ 67,5 milhões a Jack Kent Cooke em 1979 para comprar o Lakers mais o Los Angeles Kings mais o antigo Forum (ginásio anterior ao Staples Center) mais alguns itens de catálogo imobiliário de Los Angeles. Hoje, de acordo com a revista Forbes, só o Lakers vale US$ 1 bilhão.

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“A NBA perdeu um proprietário visionário, cuja influência em nossa liga é incalculável e será sentida por muitas décadas”, foram as palavras de David Stern em comunicado sobre a morte de Buss. Honesto, mas não deixa de ser um pouco hipócrita: o Lakers se transformou em tamanha superpotência, invejada pela concorrência, a ponto de o próprio comissário se sentir obrigado a vetar uma troca que entregaria o armador Chris Paul para o clube alegando “razões esportivas”. Na verdade, o negócio foi desfeito em razão de toda a confusão originada do último lo(u)caute, com os donos dos clubes mais modestos questionando toda a estrutura dos negócios da liga, na qual supostamente pesava muito mais o glamour e poder do Lakers – e, não, sua competência.


Astros, diretoria e técnico dividem culpa em fiasco do Lakers
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Giancarlo Giampietro

Os astros do Lakers diante de um fiasco

Quem poderia imaginar?

Houve quem apontasse o banco de reservas repleto de inutilidades. Que a idade dos astros poderia ser um problema. Que Dwight Howard estava retornando de uma delicada cirurgia nas costas. Que Mike Brown não daria conta do recado – e, posteriormente, que Mike D’Antoni talvez também não representasse a combinação certa.

Já são muitas ressalvas no parágrafo acima, é verdade.

Mas, de novo: quem poderia imaginar? Com Kobe Bryant, Dwight Howard, Steve Nash, Pau Gasol, o Lakers haveria de encontrar um jeito de vencer. Batata.

Com a temporada se aproximando perigosamente de sua metade, a célebre franquia californiana não consegue se encontrar. Apresentamos um dia desses alguns números de seus concorrentes como Blazers e Rockets para dizer que a luta pelos playoffs no Oeste não estava – ou está – perdida. Desde que os caras arrumem seu próprio time, claro. E aí vieram mais duas derrotas lamentáveis contra Raptors e Bulls para complicar qualquer equação.

O que acontece de tão errado?

Aqui vão alguns personagens que dividem responsabilidade numa campanha sofrida e extremamente decepcionante:

A dupla Mitch Kupchak/Jim Buss: os relatos que vêm de Los Angeles são contraditórios. Há quem diga que Kupchak não tem nada com isso e que é apenas usado pela família Buss como a bucha de canhão, aquele que tem de dar a cara a tapa para imprensa, jogadores e torcedores, mesmo com seu papel cada vez mais reduzido na gestão do time. Mas há quem diga que ele ainda seja fundamental nas decisões, sim. Vai saber. O ponto é que, depois de reunir um elenco deste peso, de forma até milagrosa, impossível de não se elogiar, a diretoria falhou sofrivelmente num outro ponto que nem é tão importante assim, imaginem: encontrar alguém que fosse capaz de dirigir suas estrelas. A insistência com Mike Brown foi um erro desde o começo. Estava mais que claro que o especialista em defesa não tinha o estofo para manipular ou direcionar tantas cobras criadas. Depois de um ano de lo(u)caute, desperdiçaram por completo o training camp fundamental deste ano ao empregar alguém que já estava (moralmente) demitido há tempos. Não era nem mais uma questão de “se”, mas só uma questão de “quando”. Pois bem. Com a possibilidade de assinar com um certo Mestre Zen, disponível e interessado, decidiram fechar com…

Mike D’Antoni: considerando o árido cenário tático que testemunhamos no Brasil, não deixa de ser interessante observar um treinador que se mantenha fiel a suas próprias convicções e filosofia. Ele tem uma visão de basquete clara. Porém, quando você só sabe trabalhar de uma maneira, não importando o elenco que tem em mãos, essa característica pode ser qualificada como teimosia, para não dizer burrice. Por quatro anos, seu plano de jogo pelo Phoenix Suns causou um impacto enorme em toda a liga, a ponto de dobrar até mesmo seu maior rival, Gregg Popovich. E não me venham dizer que não deu certo, que era um brilhareco: o Suns jogou por dois anos a final do Oeste, perdendo para times com Tim Duncan, Tony Parker, Manu Ginóbili, Kobe Bryant, Pau Gasol e Andrew Bynum, foi para os playoffs sempre e venceu 230 partidas (média de 57,5 por ano). Agora… querer repetir essa fórmula com esse plantel do Lakers não faz o menor sentido por diversas razões: 1) hoje ele tem um Steve Nash ainda bem preservado, mas oito (8!!!) anos mais velho do que encontrou pela primeira vez no Arizona; 2) se há alguma deficiência a ser destacada no jogo de Pau Gasol, é sua reduzida velocidade – ele é ágil em seu jogo de pés e lê com facilidade o que acontece em quadra, mas nunca foi de correr de um lado para o outro. Além disso, por mais que se esforce e, de vez em quando dê certo, devido a seu pacote técnico invejável, jamais vai ser um Dirk Nowitzki na linha de três pontos; 3) na verdade, fora o promissor Earl Clark, o ainda inexpressivo Darius Morris e o pivô reserva e baleado Jordan Hill, não há velocistas no time para se querer correr; 4) também não há nem chutadores em excesso para se espaçar a quadra. Então esta seria uma boa hora para D’Antoni rever useus dogmas e se mostrar um treinador mais pragmático.

Pau Gasol: ele até pode se justificar com motivos razoáveis, como o fato de já ter sido trocado pelo Lakers no ano passado, no famigerado negócio vetado por David Stern. Ficou magoado. Depois vem o Kobe alternando críticas indiretas ou diretas com afagos para o barbudo. Aí chega Mike D’Antoni com um sistema que não favorece e até atrapalha seu estilo. Tudo bem, entendemos. Mas, para quem é conhecido como um dos atletas mais cerebrais, inteligentes da liga, o espanhol andou reclamando demais nos últimos meses. Ainda mais agora, quando D’Antoni alterou sua rotação, buscando uma solução mais adequada para seus talentos – colocá-lo no banco para que ele possa jogar o máximo de minutos que puder sem a companhia de Dwight Howard, ficando mais próximo da cesta, em seu hábitat. Gasol chiou e disse que sempre foi uma “estrela titular” em toda a sua carreira. Mais infantil que isso não tem. O espanhol poderia se sentar uma hora dessas para bater um papo com um certo argentino narigudo do Spurs. Dá para tomar um chá e repensar o discurso.

Kobe Bryant: liderar por exemplo era o que Michael Jordan fazia, doendo em quem doesse – Steve Kerr, inclusive, já foi esmurrado pelo astro em um treino, num ato de imbecilidade do maior jogador de todos os tempos. Kobe sempre admirou MJ. A língua de fora, muitos movimentos com a bola e, a cada ano de um modo mais intenso, sua atitude fora de quadra. O superastro não aconselha, não conversa. Ele cobra. Em público mesmo. Cobra porque não deixa de jogar duro em um treino sequer, um jogo sequer etc. Em sua melhor temporada em muito tempo, nada mais do que justo? Podia até ser o caso. Mas, num caldeirão borbulhante como o desta temporada, não ajuda nada esse estilo confrontador. Por um tempo, tá certo, ele se manteve ao lado de D’Antoni, assim como havia feito com Brown. Agora, já começa a questionar o comandante. De todo modo, seu comportamento acaba sendo mais nocivo dentro do elenco, alienando os companheiros. Gasol já sofreu horrores com suas intempéries, e agora diversos rumores dão conta de que sua relação com Dwight Howard não é das melhores.

Agora digam qual o elemento em comum que permeia toda a dissonância entre os cinco personagens acima?

O ego inflado e irredutível.

Jim Buss não toleraria se desculpar e resgatar Phil Jackson. Mike D’Antoni é (foi?) tão celebrado como um gênio no ataque na década passada, então não daria o braço a torcer e adaptari seu sistema ou mesmo descartá-lo por completo. Pau Gasol se cansou tanto de apanhar em Los Angeles e não permitiria que um D’Antoni qualquer passasse por cima de seu status de estrela. Kobe Bryant é pentacampeão, um dos maiores cestinhas da história, o ídolo de ídolos como Nicholson ou Denzel, então não ousem dizer que ele deveria rever sua conduta.

Se esses figurões não conseguirem encarar com franqueza o fiasco que virou o time, sem arrefecer na defesa de suas agendas, vai ficando cada vez mais provável que o Lakers não vá para os playoffs no Oeste.

Inimaginável? Nem tanto.


Lakers já entra em contato com Phil Jackson. Agora depende do Mestre Zen
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Giancarlo Giampietro

Phil Jackson

As despedidas de Phil Jackson do Lakers têm duas coisas em comum: foram bastante turbulentas e duraram pouco.

Ou melhor: podem durar pouco.

Neste sábado o LA Times já publica que a franquia entrou em contato com o Mestre Zen . “Eles estão tentando contratá-lo feito malucos”, diz uma fonte anônima (o agente? Jeanie Buss? Derek Fisher? Arnold Schwarzenegger? Vai saber. De todo modo, a frase é boa e a gente encaixa aqui). Ainda não fizeram uma proposta concreta, ainda fica no campo da sondagem, mas já conta como um primeiro, e importantíssimo passo, para preparar mais um retorno triunfante ao comando de uma nova versão de seu elenco estelar.

O passo mais importante, na verdade: ninguém vai duvidar que ele seja a pessoa certa – e mais preparada, em todos os sentidos – para o cargo, dinheiro não é o problema, a torcida já pediu, os jogadores se animaram etc. etc. etc. Mas o que precisa ser tirado do caminho é a guerra tola de egos e mostrar que a franquia (leia-se “Jim Buss”) está pronta para recebê-lo de braços abertos. Isso depois de ter demitido todos os assistentes, scouts e, se bobear, os gandulinhas ligados ao professor em 2011. A ideia era promover uma mudança completa, num expurgo de qualquer influência do passado recente. Que agora pode virar o futuro.

(Tudo o que liga o clube ao técnico tem a ver com a expressão trocadilhosa “A volta dos que não foram”, é tudo meio confuso, contraditório, num clima de “ame ou odeie” assim mesmo).

Segundo o Times, Jackson não deixou de acompanhar o Lakers de perto e está interessado no cargo novamente. “Ele nunca se afastou do jogo”, dizem as fontes anônimas.  Então dá para imaginar Jackson em suas pescarias com Luc Longley sempre com o iPad ligado, plugado com o League Pass conectado, né?

Hã… Também não chega a tanto.

De todo modo, em carecia disso. Uma mente brilhante, devota ao jogo como a do treinador mais vitorioso da história da liga não precisa de muito empurrão, combustível para engrenar e botar um plantel como o do Lakers para funcionar.

Segundo consta, a diretoria angelina pretende definir o substituto de Mike Brown em “quatro ou cinco dias”. Algo rápido. Se Jackson, por alguma razão, não topar o retorno, Mike D’Antoni seria o plano B, devido a sua ligação com Nash, o respeito de Kobe e também pelas poucas opções disponíveis no mercado.

Mas a prioridade parece – e deveria ser – Jackson. Seu salário de US$ 10 milhões em seu último ano de contrato equivaleria a 8,3% do contrato anual de TV que o clube tem em Los Angeles. Para rearranjar um time desconjuntado, seria uma barganha. Mesmo que já estejam pagando mais US$ 10 milhões para Mike Brown sem empregá-lo (e que ninguém sinta pena do demitido, aliás).

“Conhecendo-lo do jeito que sei, acho que é só uma questão de saúde. Ele é um perfeccionista, todos sabemos disso. Se ele se sentir pronto para isso, para dar o que ele acha que tem de dar aqui, acho que ele estaria interessado”, afirma Kobe. “Ele ensina os jogadores a serem pensadores. Ele ensina as pequenas nuanças, os detalhes intrincados do jogo que nem todos sabem.  Não é culpa do restante, mas, quando falamos de basquete, ele está na classe dos gênios. É difícil para qualquer um assumir uma responsabilidade dessas depois que os jogadores foram cultivados sob uma tutela dessas”, completou o astro.

Tudo parece fazer muito sentido para não tentar essa via, a via Zen outra vez.

Phil e Kobe

Kobe e Jackson já conquistaram cinco títulos juntos


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