Vinte Um

Arquivo : Hortência

Presidente da CBB se pronuncia, antecipa déficit, revela obsessão pelo imediato e pouca atenção com desenvolvimento
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Alerta!

Entrevista do presidente reeleito da CBB, Carlos Nunes!

Para o próprio site da entidade, claro.

Mas tudo bem. Quando esses caras resolvem falar, é sempre um prato cheio para o blogueiro esfomeado. Dá até para brincar de fazer gabarito com o conteúdo. Vamos lá, então, com atenção aos grifos e comentários:

Presidente da CBB no ano em que a entidade comemora 80 anos
É um cargo honroso e vamos fazer uma grande festa para comemorar essa data marcante para o esporte brasileiro e mundial. Tenho o orgulho de estar no comando da CBB em dois mandatos consecutivos, com o basquete do Brasil participando de duas Olimpíadas seguidas, no masculino e no feminino. Devo tudo isso a um trabalho de equipe e das 27 Federações. A meta é manter o Brasil entre as grandes potências no cenário mundial.

>> Vejam só. Quando você começa uma entrevista tentando se gabar de algo assim – duas Olimpíadas seguidas para o feminino e masculino??? UAU! –, é porque sabe que vem muito mais pela frente. O grande achado da gestão Nunes foi realmente a contratação do ultracompetente Magnano, que conduziu um time muito mais tarimbado de volta a uma arena olímpica, ok. Agora só me ajudem, por favor, a entender em que ponto isso se conecta com a classificação automática para os Jogos do Rio, sendo o Brasil o país-sede? Tou com dor-de-cabeça, e não consigo pensar direito. Sem contar que uma hipotética eliminação da seleção feminina em competições classificatórias seria o maior vexame da história. Próximo tópico:

Metas para os próximos quatro anos
Já tínhamos um planejamento até 2016 e agora daremos continuidade. Temos competições importantes em 2013 como os Mundiais Sub-19 masculino, na República Tcheca, e feminino, na Lituânia. A equipe adulta masculina tem como desafio a Copa América da Venezuela, classificatória para o Mundial da Espanha em 2014. E no feminino, temos o Sul-Americano, que deveria ter sido realizado em 2012, e depois a Copa América do México, que também classificará para o Mundial na Turquia, no próximo ano. Além disso, temos os Campeonatos Brasileiros de base que realizamos em três divisões em todos os estados, com a participação das 27 federações. Esse ano a Copa Brasil Masculina reunirá mais de 40 equipes. Isso é uma demonstração concreta que o basquete brasileiro ressurgiu sendo um produto viável.

>> Resgatei aqui no QG 21 a terceira temporada da tresloucada e bizarramente frenética série americana “Arrested Development”, e estamos a ponto de conhecer melhor o personagem advogado Bob Loblaw, mais uma figurinha impagável. Na pronúncia deles, sempre devagar, propositalmente, sai algo como Bla-Bla-Bla. É o que vemos aqui. A pergunta era sobre metas para os próximos anos, e o presidente me sai descrevendo o calendário de competições de 2013. Qual é exatamente o planejamento da CBB? Perdeu a chance de se explicar. E essa história de a modalidade seguir um produto viável? Até poderia ser, sonhamos. Mas… A realidade nos mostra algumas situações bem contrastantes com essa frase. Se no NBB, temos clubes com salário atrasado, como será que estão as coisas no Brasil profundo do basquete? Veja aqui como anda pujante o eporte no país.

Balanço financeiro 2013
As contas apresentadas na Assembleia foram, de uma maneira geral, muito positivas, pois conseguimos diminuir o déficit de 2012. Fizemos uma contenção de gastos acentuada, com o objetivo de equilibrar os valores. O motivo do déficit foi uma defasagem no patrocínio da Eletrobras. Alguns itens foram glosados, pois o contrato não previa. E por força burocrática, o patrocinador teve que glosar. Essa mudança acarretou em uma perda substancial de quase 4 milhões de reais e resultou em uma dívida do mesmo valor. Mas isso está sendo resolvido. A Eletrobras está renovando o contrato nos próximos dias e abriu mão de ser o patrocinador máster, tendo em vista que reduziu em 50% o valor do contrato. Agora, temos a possibilidade de conseguir um novo parceiro que entrará nas camisas da seleção. Outro fator que precisa ser considerado é que nos primeiros quatro anos precisamos romper a inércia técnica, o que demandou esforços redobrados, inclusive financeiros. Neste novo período, a demanda financeira será menor em face do que já realizamos, o que provocará uma revisão de nossos gastos, certamente para menor. Tudo isso nos deixa a certeza de que em pouco tempo vamos melhorar a situação atual.

>> Haja grifo, gente! Primeiro, uma gafe: se o saldo é negativo, as contas não podem ser “muito positivas”, né? Quer dizer que a CBB conseguiu reduzir seu déficit. Agora falta pagar uns trocados só, algo em torno de R$ 4 milhões. Tem tempo ruim, não. E, claro, não fosse a Eletrobras agir com irresponsabilidade, de anular alguns pagamentos para a confederação, “por força burocrática” – Coff! coff! Leia-se aqui: dinheiro de empresa pública só pode ser investido para patrocinar entidades que não estejam dando calote, se endividando, agindo com austeridade. Agora a confederação tem, claro, a chance de acertar com um novo patrocinador master, mas está todo mundo na espera deste anúncio há um bom tempo – em ciclo olímpico em casa, não deve faltar interessado, mesmo, a questão é o quanto a credibilidade avariada da CBB pode atrapalhar em eventuais negociações. Por fim, Carlos Nunes aponta para a “inércia técnica” que teve de enfrentar. Depois dos anos de trevas de Grego, natural. Se for para excluir a combinação “Rubén + Magnano” da equação, fica difícil de entender bem em que ponto que o departamento técnico avançou. Talvez ele esteja se referindo aos constantes profissionais demitidos por Hortência? Ah! Deve ser isso, mesmo: inércia no comando da seleção feminina nem pensar!

Parcerias com o Ministério do Esporte e Lei de Incentivo
Em 2013, são quase 15 milhões de reais e sete projetos aprovados. Esse valor nos dá um suporte na preparação das seleções brasileiras e é importante frisar que, mesmo com a redução do patrocínio, não iremos sofrer nenhum tipo de problema. As seleções vão começar a trabalhar no prazo estipulado, irão se preparar para os campeonatos normalmente e disputar todas as competições internacionais oficiais ou não da FIBA.

>> Traduzindo: não fosse o aporte do ministério, estaríamos lascados!!!

Federações Filiadas
As federações são o suporte da CBB. Sem o trabalho e o apoio das federações não é possível fazer uma administração do basquete brasileiro. Por meio das seleções estaduais que participam dos Campeonatos Brasileiros, surgem os novos talentos e os futuros jogadores das Seleções Brasileiras. Dentro deste novo patrocínio que está por vir, pretendemos aumentar a ajuda que já é repassada para as federações desde o início da nossa administração. O objetivo é melhorar ainda mais o planejamento elaborado por elas. Os mais de oitenta por cento dos votos que tivemos na eleição do último dia 7 são motivados pelo interesse que a CBB sempre teve em ajudá-las e que fazem as federações se sentirem protegidas.

>> Percebem a obsessão de Carlos Nunes por “seleções”? Dá a impressão que, para ele, TODO, ABSOLUTAMENTE TODO o desenvolvimento do basquete brasileiro se passa por equipes de ponta. Sejam as seleções nacionais, ou as seleções estaduais. Seguindo sua lógica, parece pouco importante que os estados consigam realmente produzir 10 ou 12 talentos para compor suas seleções, e pronto. Mas que torpor, caceta. Quanto ao “planejamento elaborado” pelas federações, vocês que me desculpem, nada a declarar. Porque não há nada visível, mesmo, para se avaliar.

Campeonatos Brasileiros de Base
A nossa expectativa é sempre superar o ano anterior, no caso 2012. Se for possível, pretendemos aumentar o número de competições, tendo em vista que os Campeonatos de Base são realizados por meio do projeto incentivado do Ministério do Esporte. Muitos dos atletas que hoje defendem as seleções nacionais passaram pelos Brasileiros. Isso prova que é uma competição onde também surgem novos talentos.

>> Mais um comentário que comprova o pensamento equivocado do dirigente. Percebam que ele mira sempre em resultados, não em desenvolvimento. A realização de campeonatos de base, não se enganem, é realmente importantíssima, fundamental. Tem de botar a molecada na quadra, mesmo. Mas, em nenhum momento sequer de sua explanação, Carlos Nunes fala de massificação do esporte, ou, no mínimo, de aprimoramento técnico em quadra. Digo: não basta apenas se programar uma competição e achar que seu papel está feito. Se forem campeonato seguindo os últimos modelos, o resultado, tão alardeado aqui, não será muito produtivo.

O presidente da CBB gasta, então, mais saliva falando de Copa Brasil e Supercopa, basquete 3 x 3, até chegar, então, a comentar o amistoso marcado entre Chicago Bulls e Washington para o dia 12 de outubro, no Rio de Janeiro, marcando a chegada oficial da NBA ao país. Lá pelas, tantas, ele me sai com esta: “Em parceria com a NBA, vamos dar um apoio logístico, além da chancela, caso contrário não poderia ser realizado”.

Realmente, né? O que seria do basquete brasileiro sem essa gloriosa chancela?

Carlos Nunes, chancelando

Carlos Nunes e a sua chancela


Com reeleição de Nunes, basquete brasileiro confirma repulsa a novas ideias
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O basquete brasileiro, ao menos na figura representativa de seus 27 presidentes de federações, está de parabéns.

Numa eleição que contrapôs o atual gestor Carlos Nunes, a criatura, com aquele que administrou a confederação por 12 anos, o presente-de-grego Gerasime Bozikis, o criador, não havia como sair um vencedor, mesmo.

(Ok, oficialmente, Nunes, aquele que destronou de modo shakesperiano o Grego, venceu a fatura por 21 votos a 2, com três abstenções, depois de sua turma anular dramaticamente uma liminar judicial por volta de 15h no horário de Brasília.)

Grego e Nunes, eternamente juntos

Grego e Nunes, eternamente juntos

Mas o ponto mais importante é o seguinte: mesmo com alguns pontos positivos levantados nos últimos anos, seja pelo crescimento do NBB ou pelo avanço da seleção brasileira masculina, a modalidade, devido a sua politicagem, ainda está longe de convencer qualquer pessoa mentalmente saudável a investir tempo de vida, força de vontade e alguns cabelos prestes-a-esbranquiçar para tomar conta da casa.

Por que alguém bem intencionado se disporia a isso?

Nos últimos meses, tenho acompanhado um debate revelador sobre a, agora, passada eleição da CBB, com a disputa infantil entre o reeleito “Carlinhos” – se vocês não sabem, é assim que os íntimos o tratam – e Grego, aquele que comandou a entidade por 12 anos e tinha em Nunes um de seus principais articuladores, se não o principal. Cada um recrutou capangas no mercado para defender-e-atacar o outro. As acusações eram risíveis, quando consideramos que é impossível separar um do outro.

Vamos nos ater as defesas, porque atacar é muito fácil (clique aqui para ler sobre um, e aqui para ler sobre o outro, num esforço hercúleo de reportagem do R7, lembrem-se).

A começar, a oposição: clamaram não sei quantas vezes para que ignorássemos o passado. Mesmo. Foi esse um dos principais argumentos utilizados: que não adianta admirar o leite derramado, que o novo velho candidato apareceu regenerado, pronto para outra, orientado por assessores profissionais, visionários. Tudo o que aconteceu antes deveria ser esquecido. Não importando o simples fato de que a gestão do senhor Bozikis tenha se encerrado logo ali em 2009. Isso: 2009, neste século, não em 1926 ou 1948. Estavam falando de um passado tão distante como 2009. Mesmo nos tempos de reação imediata para tudo, ao vivo e pra agora, gente, quem vai realmente dizer que “quatro anos atrás” significa algo?

(Ok, se você tiver de 20 a 22 anos, tudo é muito compreensível, ninguém se lembra mais de nada, e estamos conversados.)

Da situação, do pouco que disseram (no ar, com gravador ligado), era basicamente algo como “convênio com Ministério do Esporte + quadras novas + classificação e quinto lugar olímpicos = nota 10, reeleição”. E ponto final, porque nunca houve espaço para debate.

Em confissão pública: nunca busquei uma entrevista com Carlos Nunes e descartei a possibilidade de falar com Grego. Francamente? Não valeria de nada, uma vez que, para o colégio eleitoral, “é-assim-que-as-coisas-funcionam”. Grego durou 12 anos no cargo a despeito de toda sua incompetência, oras.

Os eleitos

“O presidente Carlos Nunes e o vice-presidente Reginaldo Senna no momento que foram reeleitos”. Ô alegria

A eleição da CBB está restrita a 27 presidentes de confederações. O bolo fica maior a cada temporada, com aporte público, e apenas 27 cidadãos podem decidir o que será feito das fatias. Já não é o sistema ideal, está longe disso, mas é o que temos. E, nesse ambiente que, desde 1997, elege Grego ou Nunes, quem vai topar entrar para concorrer? Quem tem estômago para conversar com os 27 presidentes de federações que choram (ou não, ou não, ou não) o ano todo pelas amarguras des suas regiões, mas que, na hora do voto, se contentam (divertem? corroboram? sofrem mesmo?) com a pasmaceira?

Entre Grego e Nunes, não há como apontar o “menos pior”.

A coisa já tava preta mesmo. E os senhores supracitados não fazem, nem topariam fazer nada para mudar isso. É o que temos, o que somos.

Um sistema precário de eleição que inibe qualquer tentativa de sopro.

*  *  *

Houve um certo suspense na eleição desta terça-feira, uma vez que a confederação maranhense  conseguiu uma liminar na Justiça do Rio para inviabilizar o pleito, alegando, coerentemente, que não haveri tempo hábil para avaliar a quantas andava a gestão da CBB. Porque, vocês sabem, Carlos Nunes havia armado todo tipo de armadilha para blindar seus, supostamente, brilhantes resultados. Uma atitude que deu para entender como: se você quisesse avaliar as contas, o balanço, teria de marcar horário; isto é: “Se você quer aprontar uma, que identifique-se como opositor, meu irmão camarada, e arque com as consequências”. Então não deixa de ser irônico que a eleição fosse adiada por algumas horinhas por intervenção  o tapetão: afinal, o processo como um todo já havia começado com censura, com restrições mais do que pontuais. Jornalistas só poderiam ter acesso ao capítulo final, a contagem de votos, e olhe lá. Se ao menos ganharam um copo d’água e biscoitos de maizena, não tenho como confirmar.

*  *  *

Sim, toda a gestão de Carlos Nunes se baseou em um só fato: resultados no esporte de alto padrão. Contratou Magnano, levou o time principal masculino aos Jogos depois de 16 anos, e que se danasse todo o 99% de que se espera de uma plataforma, mesmo a derrocada da seleção feminina. Então, se resultado é ralmente o que vale, os coordenadores André Alves, Vanderlei e Hortência estão, desde já, que se preparem: estão na mira. Mas, mais importante, quando chegarmos aos arredores de 2016 (na verdade, estamos quase lá já, não?), que não se perca de vista outra questão: uma gestão de confederação brasileira deve ser avaliada apenas por aspirações olímpicas imediatas? Ou conta mais um progresso, no termo da moda, sustentável?

 *  *  *

No mesmo dia em que Carlos Nunes foi reeleito, José Carlos Brunoro, chefe da equipe que coordena o marketing da CBB, estava envolvido até as tripas com a crise por que passa o futebol do Palmeiras, depois do episódio de agressão de integrantes de uma facção organizada a jogadores, em Buenos Aires. Nesse ponto, não está certo. Mas como fica a CBB? Sua empresa tem a competência necessária para conduzir, com funcionários e delegados, uma nobre (pelo esporte, claro, e não por quem governa) confederação num ciclo olímpico de Jogos no Brasil?


Presidente da CBB questiona metas do governo, mas se perde ao falar da seleção feminina
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

 Ontem foi dia de rebater o candidato da oposição à presidência da CBB, o presente de grego que tivemos, durante anos e anos e que agora quer voltar. Foram tantos pontos de questionamento que parece que pior que aquilo não dava para ficar. Mas dá, sim. Dá quando sabemos que a confederação ou ficará com Bozikis, ou com o candidato da situação, que também tropeçar nas próprias palavras em entrevista ao R7. Carlos Nunes, Carlos Nunes… Ele quer a reeleição. Ai.

Carlos Nunes, presidente da CBB

Carlos Nunes, ex-aliado do presente de grego, agora tropeça por conta própria

A pergunta é direta e vital para aquele que já preside a entidade. A resposta vem murchinha e com um cinismo que impressiona: “Mais resultados, trabalhar mais com a base, mais ajuda do governo, saber o que ele quer realmente no esporte…”.

Sempre o governo. A grana do governo.  O mesmo governo que já cedeu a Eletrobrás como patrocinadora? Ah, tá. A mesma desculpa de sempre.

Em termos gerais, claro, quanto mais sólidos os investimentos em educação, escola pública, parques, centros olímpicos etc., maior a chance de termos um craque. Mas em qualquer modalidade, né? Não especificamente o basquete. Tirando a Lituânia, que governo trabalharia especificamente para o basquete?

E, se não falha a memória, a presidenta não acabou de assinar um cheque trilhardário há alguns dias para todo o esporte? Mas, antes de o governo saber o que espera do esporte, será que e a CBB sabe o que quer do basquete?

Quer mais ajuda, mesmo! Porque tá precisando.

Ainda mais porque os R$ 22 milhões orçamentários não servem pra tocar uma confederação de ponta, explicando então os empréstimos, o saldo negativo, o balanço que flerta com a falência da entidade nos últimos anos. Se quiserem discutir que o valor é pouco para sustentar as operações, que mandou assinar e topar esse tipo de valor? Num quadriênio rumo a uma Olimpíada em casa, não dava para barganhar mais?

Aí, quem sabe, com mais dinheiro, talvez ele consiga coordenar dois departamentos de uma vez. Porque sua gestão foi totalmente incompetente no que diz respeito ao feminino. “Para a feminina foi mais difícil, pelas dificuldades que tivemos e que todo mundo sabe”, afirmou.

Clarissa x Seimone Augustus

Fatou citar também a surra que as meninas levaram dos EUA em jornada dupla em Washington

Se todo mundo sabe, então é de se supor que ele, Hortência e asseclas sabiam também em 2009, não? Das duas uma: ou não sabiam, ou falharam em se preparar. Não tem desculpa. “A preparação é diferente da masculina. Foi difícil conseguir adversárias para ter uma preparação mais adequada. E ainda temos o cancelamento dos Sul-Americanos… Não tivemos países para jogar. A feminina, só teve o Chile para amistoso.”

Quer dizer, então, que o Brasil se deu mal nas Olimpíadas porque simplesmente não conseguiu jogar contra times de ponta. Como se elas não tivessem ido para a Austrália, né? Ou que não tivessem enfrentado a França, naquele fim de semana inesquecível do corte de Iziane. Por que o presidente, então, diria que só enfrentamos o Chile? E, realmente, um ou dois amistosos preparatórios fariam tanta diferença assim no resultado final? Ese foi o ponto mais importante? Ou será que mais relevante não era ter mantido uma linha técnico-tática durante todo o ciclo? Em vez de trocar a cada temporada?

Deve ser bobagem isso. Já que tínhamos um projeto bem claro: chegar a Londres para um torneio ritualístico, de passagem, de experiência para as meninas rumo ao Rio, com as jovens Karla, Chuca, Adrianinha e Silvia todas escaladas na rotação de Tarallo. Tássia, Nádia e Franciele, das mais experientes, ficaram entre as que menos jogaram. Damiris, grande aposta, foi limitada a menos de 20 minutos por partida. Isso tem tenome: planejamento. “A masculina tem mais condições que a feminina, já tem base pronta. A feminina vai passar por renovação”, disse Nunes. Ué, mas o ciclo anterior, nas palavras de Hortência, não era justamente para isso?

A julgar por essa entrevista, com tantas imprecisões, choradeira e palavras vagas, não dá para se animar muito para uma reviravolta no cenário feminino. “Queremos ganhar o Sul-Americano, nos classificar para a Copa América, para o Mundial, e no Mundial ficarmos entre as quatro, pelo menos. Queremos ser semifinalistas no Mundial da Turquia 2014”, assegurou.

Percebem a incoerência? Primeiro diz que a preparação do time feminino é mais difícil. Que vem renovação, blablabla. Depois, diz que espera uma semifinal de Mundial daqui a dois anos! Depois-depois, volta a se desdizer ao falar sobre Olimpíadas: ” Queremos o ouro, no masculino. No feminino, claro que também queremos o ouro, mas se ficarmos entre as quatro…  (estaria bom)”. Então é assim: no Mundial, que é daqui a dois anos, ele quer “pelo menos” ficar entre as quatro – isto é, brigar por medalha. No Rio de Janeiro, daqui a quatro anos, jogando em casa, a casa de Érika e Clarissa, por exemplo, a demanda seria menor. Faz todo sentido do mundo.

Então fica a pergunta reforçada: o que a CBB realmente espera do basquete brasileiro?

 


Discurso do candidato Grego distorce campanhas das seleções brasileiras
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Não faz tanto tempo assim, gente. São quatro anos só que separaram Gerasime Bozikis, nosso presente de Grego, da presidência da CBB. De modo que quem acompanhou para valer sua gestão não se esqueceu de nada. Então pega mal pacas quando você lê a entrevista do candidato ao R7 e dá de cara com aberrações com esta aqui: “Por falta de uma melhor comunicação e de um fluxo contínuo de informações para a mídia e a comunidade do basquete, acabaram ganhando corpo várias críticas que na realidade não procediam. Creio que o saldo é extremamente positivo”.

Presente de Grego

CBB vai receber seu presente de Grego mais uma vez?

(Como se falta de comunicação, numa confederação nacional, já não fosse um defeito gravíssimo, mas bora lá.)

O saldo positivo de que fala Bozikis seria no lado competitivo da CBB e suas seleções durante sua administração. Que foram tantos títulos e façanhas que não tínhamos do que reclamar. Fala sério, difícil saber até por onde começar.

Melhor, então, rebater ponto a ponto:

Levamos a seleção feminina a todas as Olimpíadas e conquistamos uma medalha de bronze  em Sydney 2000, porém, não tivemos a mesma performance com a seleção masculina, fato que felizmente aconteceu em Londres 2012.
>> Em 2000, jogadoras como Janeth, Alessandra, Helen ainda estavam no auge – ou muito perto disso. Ser medalhista com essa turma é uma coisa. Ser medalhista com o que levamos a Londres é outra. O fato de a seleção feminina ter chegado esfacelada aos últimos Jogos é produto da incompetência da gestão de Hortência no departamento, mas também diz muito sobre o trabalho de base feito na gestão anterior, não? Afinal, eles jogaram com as veteranas até elas não poderem mais, enquanto nenhuma transição era feita. Sobraram Iziane, Adrianinha e não muito mais que isso para ciclo olímpico 2009-2012.

Mas, se prestarmos atenção, nas equipes brasileiras masculinas que disputaram os Pré Olímpicos de 2003/P.Rico e 2007/Las Vegas, onde enfrentamos os EUA (o que não aconteceu ano passado) e fomos eliminados, nove dos atletas que disputaram as Olimpíadas estavam lá, inclusive o Nenê.
>> Tá… Mas e daí? O que isso tem a ver com alguma coisa? O quê? Não vai o Grego querer dizer que sua CBB foi a responsável pela cultivação de Leandrinho, Nenê, Huertas, Splitter e toda essa galera, né? E, pior: se nove dos atletas que jogaram em Londres estavam em seu time, o que aconteceu de errado para eles não se classificarem? Oi? Cadê o mérito a ser destacado na declaração do ex-presidente? De novo: oi??? E vale esmiuçar este trecho aqui:

Nájera, do México

Pega leve, Nájera: mexicanos na frente

Onde enfrentamos os EUA (o que não aconteceu ano passado) e fomos eliminados.”
>> Isso é verdade. O presente de Grego teve o azar de a USA Basketball desandar justamente durante seu reinado na confederação brasileira. De todo modo, não custa lembrar que em 2003, não foi apenas atrás dos EUA que o Brasil ficou no Pré-Olímpico. Na verdade, a seleção terminou em SETIMO naquele torneio, atrás também de Argentina, Porto Rico, Canadá, Venezuela e, não obstante, o México. Ai, caramba! Em 2007, ao menos livramos nossa honra e superamos canadenses, venezuelanos e mexicanos para terminar em QUARTO. Ou seja: matematicamente, não foi só a presença dos EUA nos torneios que tirou os rapazes das Olimpíadas. Agora, calma, que tem muito mais…

Vencemos vários PAN-AMERICANOS, COPAS AMÉRICAS, Sul-americanos nas diversas categorias Feminino e Masculino, 2° no Mundial Sub 21 Fem e 4° no Mundial Sub 19 Masc.”
>> Vixemaria. Respirando fundo, tomando um baita fôlego, vamos lá: o Brasil ganhou Pans e Copas Américas! Explêndido, né? Torneios que muitas vezes os mesmos EUA supracitados nem disputavam! Ou disputavam com a molecada da universidade! Torneios dos quais Ginóbili, Nocioni, Oberto e outros craques argentinos passavam longe! E o Brasil escalando quase tudo o que tinha de melhor, com a exceção de Nenê. Vejam, por exemplo, o elenco brasileiro campeão da Copa América de 2005. Agora confiram a Argentina num raro momento em que eles não contaram nem mesmo com Scola e Prigioni. Porto Rico não tinha Arroyo, Barea e Santiago. Etc. Etc. Etc. Sobre o vice-campeonato mundial sub-21 feminino, basta dizer que esta é uma das histórias mais tristes que temos: boa parte daquela equipe já está FORA do esporte.

Também organizamos 2 mundiais FIBA no Brasil (S.Paulo e Natal) e criamos o Campeonato Feminino, a Escola Nacional de Treinadores, o Basquete do Futuro Eletrobrás.”
>> Ah, verdade: o Mundial feminino de 2006! Aquele que não tinha público durante a semana, sofria com as goteiras do Ginásio do Ibirapuera, deixando o secretário da Fiba pê da vida. Esse mesmo. Foi uma bela tacada trazê-lo para cá, não há dúvida, mas sua precária realização foi inesquecível. A Escola Nacional de Treinadores, convenhamos, não tem influência positiva alguma sobre nada do que acontece no Brasil – mas sejamos justos: isso também não é culpa do candidato. Do Basquete do Futuro… Nem sei o que dizer. Porque é outro programa que  tem pompa, soa bonito, mas sem resultados práticos divulgados.

Nacional masculino de basquete 2006

Nezinho faz a bandeja por Ribeirão no campeonato que não teve um campeão: profissionalismo

Olha, a gente podia continuar com este exercício até amanhã. Todas essas réplicas aqui foram a apenas uma resposta de Bozikis.

Ele ainda se orgulha de ter profissionalizado o Nacional masculino de basquete, por exemplo. Aí você consulta ao Google só pra testar a memória e dá de cara com a seguinte frase no verbete da edição de 2006 na Wikipedia: “O 17º Campeonato Nacional Adulto Masculino de Basketball não teve campeão”. Mais direto impossível, né? 🙂

Ele ainda se orgulha de ter criado o “comitê de clubes”, num gesto tão democrático que emociona. “Passamos a direção para a LIGA NACIONAL de BASQUETE (LNB) no momento certo e de forma correta”. Atente para “momento certo e de forma correta”, frase que também pode ser lida como “demorei horrores para largar o osso”. Era para o NBB já ter sete, oito anos de disputa.

E por aí vamos até saber que  o candidato tem três palavrinhas mágicas para sua chapa: “la disciplina, la unión, lo trabajo, lo profissionalismo…” Ops, brincadeirinha. Sao estas aqui: reflexão, modernização e transparência.

Em termos de reflexão, realmente temos muito que fazer a respeito.

*  *  *

Em tempo, um ponto importante que não pode passar em branco. Para vender sua campanha, o presente de grego enfatiza, entre outros tópcos, os seguintes: “Desenvolver um novo projeto de gestão empresarial para a CBB com a participação dos Presidentes das Federações” e “Aoiar as Federações economicamente na sua estruturação e dar o suporte necessário”. São os preidentes das federações que elegem o próximo mandatário da CBB.

Ah, tá. Faz sentido.

*  *  *

Em tempo: não venham vocês acharem que o blogueiro tem uma quedinha pelo atual presidente da CBB, Carlos Nunes, que busca a reeleição. Cliquem aqui, por favor.


Presidente da CBB expõe Hortência e fala em contratar australiano para a seleção feminina
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tom Maher, coach

Tom Maher dirigiu a Grã-Bretanha e, para Nunes, deveria assumir a seleção

Nada como uma organização bem azeitada, em que sua cúpula fale a mesma língua. Ou que, pelo menos, não se exponha tanto publicamente, que guarde os debates para seus QGs, né?

Só tirem a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) dessa.

Em passagem – desastrada, para variar – por João Pessoa, em campanha por sua reeleição na presidência da entidade, Carlos Nunes falou novamente mais do que deveria. Geralmente funciona assim mesmo: o presidente mal aparece em público. Quando fala aos microfones, só sai rojão. Dessa vez ele expôs uma de suas profissionais de confiança, Hortência, diretora do departamento feminino.

“Como opção minha, e esta é uma responsabilidade que trago para mim, eu entendi que era Hortência quem tinha as condições necessárias para levar o time a uma posição melhor nas Olimpíadas. No fim, acabou acontecendo o que aconteceu. Cabe-nos agora avaliar o que deu errado”, afirmou o cartola em entrevista ao GloboEsporte.com.

Tipo… “Deu no que deu”. É até engraçado. Mesmo.

Mas, calma lá: Nunes afirma que, “a princípio”, sua diretora continua no cargo, mas que “novos nomes devem se juntar ao grupo”.

Se Hortência continuar mesmo na administração, vai ter de batalhar para manter sua escolha da vez de técnico, Luís Claudio Tarallo, no cargo. Segundo o presidente da CBB, ela defende a continuidade no comando da seleção adulta, depois de uma campanha pífia em Londres-2012.

Não seria agora, afinal, que ela trocaria um treinador, né?

Oooops.

Bem, voltando: se Hortência continuar e se optar por seguir com Tarallo, pode ter sua opinião contrariada pela hierarquia e ter de engoliar a seco. Enamorado pela proteção que Rubén Magnano lhe dá em seu cargo, Carlos Nunes defende a contratação de um treinador estrangeiro também para dirigir as meninas. O nome seria o australiano Tom Maher, que dirigiu a Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos e já fez grandes campanhas nos últimos 20 anos.”Sou muito simpático à ideia de trazer o treinador australiano”, afirmou.

Entre nós, é um grande técnico.

Também aqui entre nós todos: precisava jogar as coisas no ventilador assim mesmo?


Jogos patrióticos: a praga da naturalização no basquete
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Se eles fazem, nós fazemos também. Se você tem, eu quero também.

E por aí a gente segue, com Larry Taylor armando a seleção brasileira e comandando uma virada – de final frustrado – contra a Rússia. E vamos com Serge Ibaka enterrando todas e bloqueando adversários que não estão habituados a enfrentar um pivô tão atlético assim.

Esses são os dois casos mais óbvios para se discutir. Mas o problema vai muito além: hoje até o Azerbaijão –  o Azerbaijão!!! – recruta quatro jogadores americanos para defender sua seleção nas eliminatórias para o Eurobasket. Virou uma praga.

A cidade de Laramie, no Wyoming, não chega a ser um pólo turístico atraente, não deve ser referência para muita coisa, mas uma coisa dá para cravar: está a mundos de distância, cultural e geograficamente, de Baku, a capital azerbaijana. A identificação entre o Wyoming e o Azerbaijão deve ser a mesma entre um são-paulino e um corintiano. Nenhuma. Então como explicar que um de seus rebentos, o ala Jaycee Carroll, um cestinha de mão cheia pelo Real Madrid, tenha o passaporte do longínquo país situado na Eurásia? Ele nunca jogou por um clube de lá – sua carreira europeia passa por Itália e, agora, Espanha.

É a mesmíssima situação de Bo McCalebb, que ajudou a eliminar algumas potências tradicionais do esporte no último campeonato europeu, jogando pela Macedônia que ele visitou pela primeira vez justamente apenas para tirar o seu passaporte.

Não há como justificar uma coisa dessas.

Serge Ibaka, do Congo

Serge Ibaka, do Congo ou da Espanha?

E aí entra a parte em que aceita-se as ressalvas: mas o Larry joga em Bauru há anos e só precisa aprender “impávido colosso” para completar nosso hino; o Ibaka foi jovem para a Espanha… Sim, não chega a ser algo tão cínico, deslavado, sem vergonha como os casos dos pontuadores McCalebb e Carroll. Há um vínculo, pequeno que seja, em seus casos. “Nunca vou esquecer de que lugar eu vim, mas estou orgulhoso de vestir o uniforme da Espanha e representar este país”, afirma Ibaka. Mas dá para ir mais a fundo nessa.

Serge Jonas Ibaka Ngobila chegou ao país ibérico em 2006, com 16 anos, estritamente para jogar basquete. Ele já havia disputado competições de clubes avalizadas pela Fiba em seu Congo natal, pelo Interclub de Brazzaville, sua cidade natal. Defendeu primeiro o time de base do CB L’Hospitalet e depois fez sua estreia na LEB Oro, fortíssima segunda divisão. De 2008 a 2009, passou a jogar pelo Ricoh Manresa. De lá partiu para Oklahoma City. Façam as contas: foram três anos. Certamente serviram para burilar uma joia rara, que avançou tecnicamente. Mas é o suficiente para ele se tornar espanhol? E mais: quando foi convocado por Sergio Scariolo, ele ainda não tinha a papelada, embora a federação do país tivesse garantias de que o processo seria acelerado e concluído para que ele prontamente jogasse no Eurobasket do ano passado.

É a mesmíssima situação de Larry, que foi convocado em 2011 e não pôde disputar o Pré-Olímpico porque a burocracia não permitiu. De todo modo, o breve contato com Magnano convenceu o argentino de que valeria, sim, brigar para ter o americano em Londres, e a CBB promoveu intenso esforço para contar com o estrangeiro. Esse é o ponto importante no causo: nunca partiu dele o pedido de cidadania e de uma convocação.

Os dois assumiram novas nacionalidades estritamente por razões profissionais, esportivas. Pela forma que os processos foram tocados, não dá para negar: foram dois jogadores contratados por suas seleções, não importando o quão identificados estivessem com a nova terra. Ainda que mais amenos que os reforços do Azerbaijão, são casos diferentes e mais graves, por exemplo, que o de Luol Deng.

Larry Taylor, de Bauru

Larry Taylor, de Chicago e Bauru

O ala do Chicago Bulls, líder da seleção britânica, que nasceu em Wau, no Sudão (agora território do Sudão do Sul). Mas calmalá: enquanto o pai, um parlamentar, ficava para trás, sua família deixou a cidade foragida durante guerra civil e chegou ao Egito, em Alexandria. A mãe e oito filhos, Luol com três anos. Eles foram reencontrar o Deng sênior apenas cinco anos depois, em Londres, com o devido asilo político arranjado.

O garoto aprendeu tudo muito rápido, a começar pela nova língua. Começou a jogar basquete para valer e, aos 14, já tinha um convite para atuar por um colegial dos Estados Unidos, onde estudou e jogou até chegar ao time de Duke e, posteriormente, ao Bulls.

As constantes migrações deixam sua história um pouco mais cinzenta. Talvez o ala deva mais aos EUA por sua carreira de atleta. Mas qual passagem foi mais importante para que ele e seus irmãos prosperassem? Pelo que podemos ler neste artigo aqui do Guardian, dá para chutar que foi na Inglaterra em que sua família encontrou paz e estabilidade. Foi um claro recomeço.

Nas Olimpíadas, vimos que a Grã-Bretanha tinha bons pivôs, mas dependia quase que exclusivamente do talento do ala para sobreviver em meio a rivais de muito mais tradição. Não que isso importe muito em termos de regulamento, preto-no-branco. Mas, eticamente, não custa perguntar: como se virariam sem Larry e Ibaka o Brasil, com a turma da NBA toda reunida, e a Espanha, vice-campeã olímpica em 2008 sem nenhum reforço extracomunitário? Pode ser que caíssem um pouco de rendimento, mas seria algo tão drástico? Eles realmente precisavam apelar para esta via?

A resposta, como sempre, cai para o cinismo. “É assim que as coisas funcionam”.

Então tá, né? Esperem só até ver, então, a seleção olímpica do Turcomenistão em 2032.

*  *  *

Dia desses, o chapa Jonathan Givony – diretor do serviço de scouting Draft Express, cara mais do que viajado no basquete – saiu em uma cruzada contra alguns de seus seguidores no Twitter que não toleravam suas observações irônicas sobre os procedimentos adotados pela FEB.

Começou assim:  “E isso sem o benefício de ‘recrutar’ qualquer mercenário do Congo e de Montenegro”, em referência ao ouro dos Estados Unidos em Londres. Aí pegou fogo. Foi torpedeado.

Luol Deng, Grã-Bretanha

Luol Deng, um contexto mais cinzento

Muitos defenderam que Ibaka e o ala Nikola Mirotic, montenegrino também importado e que já defendeu o país até mesmo em categorias de base, podem ser espanhóis, sim, senhor, por terem chegado como adolescentes. O problema é que eles vão exatamente para serem jogadores de basquete e ficarem a serviço de um novo país.

 “Linas Kleiza e muitos outros jogaram no basquete colegial e universitário nos EUA. Deveríamos também recurtá-los para jogar na nossa seleção? E por que motivo?”, perguntou. “Desculpem, mas Mirotic deveria estar jogando por Montenegro contra Sérvia e Israel. Ele só não está porque não fazia sentido financeiramente.”

Com o passaporte espanhol, naturalizado, Mirotic tem muito mais facilidade para descolar bons contratos na liga espanhola, e o Real Madrid também agradece. “É a definição de um mercenário. E haverá muitos mais como ele nos próximos anos. E está errado.”

*  *  *

Em entrevista ao Daniel Neves, aqui do UOL Esporte, a diretoria do departamento feminino da CBB, Hortência, afirma sobre a possibilidade de importar uma armadora: “Se aparecer uma jogadora que se encaixa ao nosso estilo, não vejo porque não naturalizar. Mas não vamos naturalizar qualquer uma. Estamos acompanhando tudo o que está acontecendo e vamos avaliar a capacidade das jogadoras, que não precisam necessariamente jogar na LBF. Aí decidiremos se vamos trazer uma estrangeira ou não.”


Presidente da CBB reaparece em editorial com pérolas em tom de campanha
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tudo é uma questão de recuperar o orgulho tupiniquim

Os bastidores do basquete brasileiro já estavam agitadíssimos há muito tempo, mas, passadas as Olimpíadas, como o Bala já publicou, agora é hora de a campanha presidencial da CBB vir à tona, escancarada, e ai de quem ficar na frente.

Nessas horas, vale usar até mesmo o site da confederação, né? Bah, que mal tem?

Toca lançar, então, um editorial nesta quinta-feira no mais alto tom de candidato, rompendo um silêncio que durava desde o desastrado anúncio das convocações de Nenê e Leandrinho em antecipação a Rubén Magnano.

Veja o que assina Carlos Nunes: “Basquetebol, orgulho nacional mais uma vez”.

Por acaso estamos falando da mesma modalidade que saiu como quinto lugar no masculino e venceu apenas uma partida no feminino?

Porque aqui é preciso todo o cuidado do mundo – ou, pelo menos, do Brasil – para que não se misture as coisas. Que um time tenha jogado bem, batido de frente com as potências do torneio e tal, e isso seja entendido como o resgate do orgulho nacional (hein?!) me parece um senhor exagero, desde já. Mas, vá lá. Tem gente que considera mesmo essa avaliação factível. Esses precisam entender que o desempenho de duas seleções nacionais não reflete, de modo algum, uma bonança do esporte no país.

Por mais que o presidente da CBB discorde: “No esporte como praticamos, a derrota não é uma escolha. Medalha no peito ou não, nosso orgulho está em alta. Jogamos para vencer. Sempre”. E desde quando é virtude que um time jogue um torneio para vencer? Não é o óbvio? Se essa é uma indireta para os espanhóis, a derrapada de um não deve transformar a mera obrigação competitiva do outro em ato heróico… Quanta falácia, quanta pachequice.

Presente de Grego e Carlinhos, amigos?

Em seu memorando, Nunes gasta dois longos parágrafos enaltecendo a suposta superestrutura da entidade e paparicando a equipe dos marmanjos. No meio do terceiro parágrafo é que vieram seus tão aguardados comentários sobre a seleção das meninas. Vejamos:  “O feminino jogou de igual para igual contra potências mundiais, num grupo dificílimo. Das quatro semifinalistas, três jogaram contra o Brasil”, começa. Ok, este é numericamente um fato: por outro lado, para quem viu os jogos com o mínimo de senso crítico – será que ele assistiu? será que ele sabe o que é isso? –, ficou bem claro que Austrália e Rússia já não eram as mesmas poténcias de outrém.

E o que mais? “Desempenhos como os de Érika e Clarissa são sementes que plantamos, num trabalho sério e profissional de nossa diretora Hortência, do qual colheremos frutos. As derrotas servem para apresentar lições e fortalecer para o futuro. É isso que faremos”, sentencia. Peraí. Se bem entendemos esse trecho, o cartola quis dizer que Érika, uma pivô que já era uma força da Natureza no Mundial de 2006 e chegou a Londres com 30 anos, foi um produto de sua administração? Ou, quando ele diz “nós plantamos”, talvez esteja se referindo a si e a Gerasime Bozikis, nénão? Seu ex-comparsa, da gestão anterior, da qual tomou parte. Aí faz sentido. Claro!

Se bem que… Hã… Talvez, não.

Afinal, Carlinhos e o nosso presente de grego são concorrentes hoje.

Desculpem a confusão, ok? Mas, como suas trajetórias se confundem e a incompetência é a mesma, fica difícil separar em miúdos.

Voltemos ao editorial, então, sem esquecer a conveniente omissão do caso Iziane – essa semente ninguém plantou, então? – e sem deixar de destacar o prestígio direcionado a Hortência, que, deduzimos, s parece garantida até a reeleição, pelo menos.

Para arrematar, um Grand Finale: “Como disse Rubén Magnano, depois do jogo contra a Argentina, o bambu não cresce do dia para a noite. Além dos já consagrados, novos talentos vão surgir em nossas divisões de base, através de estímulos às federações, aos Nacionais e à Escola Nacional de Treinadores. Em 2016, uma grande festa no Rio de Janeiro vai consagrar de vez o basquete como orgulho nacional”.

É realmente uma pérola: “Bambu não cresce do dia para a noite”. Como se a apropriação dessa metáfora realmente nos forçasse goela abaixo a ideia de que 24 horas representariam os três anos de um trabalho. Conta outra, por favor.

Mas o mais revelador, mesmo, é o verbo “surgir”. Pois não é assim que funciona o basquete brasileiro? Quem explica talentos como Nenê e Damiris? Realmente muito bem empregado, já que “surgir” passa muito mais a noção de casualidade do que de planejamento, não?

Na mosca, presidente.


Ao menos uma vitória para fechar a campanha melancólica das meninas. E agora?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Érika tentou de tudo no torneio, mas ataque não funcionou

Bem, o placar de 78 a 66 sobre a Grã-Bretanha valeu realmente como uma vitória de honra. Ao menos uma vitoriazinha que seja para evitar o vexame de cinco derrotas em cinco rodadas em Londres. A seleção brasileira feminina deixou para fazer sua melhor partida no torneio, quando era muito tarde para qualquer coisa.

E agora?

Bem, vamos tentar juntar alguns cacos:

– Nunca vi uma seleção brasileira com um ataque tão pobre, mas tão mal arquitetado numa Olimpíada, mesmo com a presença de Érika no elenco, uma das forças ofensivas mais irresistíveis do basquete internacional (16,2 pontos na primeira fase, 56% nos arremessos e 75% nos lances livres). Com um dínamo desses ao seu lado, que pediu marcação dupla e muita ajuda durante toda a campanha, a equipe terminou com uma média de 38% de acerto nos chutes, ganhando apenas de Rússia (37%!?), Grã-Bretanha e  Angola nesse quesito. Indesculpável, ainda acrescentando na conta os 16,6 erros por jogo, quinta pior marca da competição.  Isto é: não conseguimos nem cuidar bem da bola, para retardar o ritmo da partida, nem atacar a cesta com eficiência e rapidez. Faltou movimentação, criatividade, inteligência e controle emocional. Direção, em suma.

– A defesa brasileira se comportou bem muitas vezes no torneio, mas em geral seu desempenho oscilou demais, ainda mais quando Érika se complicava com o excesso de faltas. Terminou com média contrária de 70,8 pontos (sendo que no ataque converteram apenas 65,8). Foi a quinta pior retaguarda do torneio, acima de Angola, China, Croácia e Grã-Bretanha. Vale uma ressalva, no entanto: chinesas e croatas tiveram de encarar os Estados Unidos na primeira fase. Descontando as sacoladas que tomaram neste confronto, suas médias seriam bem inferiores.

– As rotações foram muito confusas: o Brasil não sabia se queria jogar com uma equipe mais alto ou um quinteto mais baixo. Rendeu bem melhor quando apostava em velocidade em vez de tamanho, uma vez que os talentos de Damiris foram desperdiçados: a jovem ala-pivô ficou extremamente deslocada no perímetro exterior. Seu chute pode cair dali, mas essa é apenas uma faceta de seu basquete, que acabou estrangulado.

– Apostar em Joice como a substituta de Adrianinha não foi a melhor cartada. Por outro lado, quando as duas jogaram juntas, o time rendeu bem melhor, ganhando em velocidade e pegada. Essa combinação, no entanto, foi pouco  repetida durante a competição. Começar com Karla e Chuca nas alas teoricamente daria ao time um chute mais confiável, para abrir a quadra para Érika, mas não deu certo: acertaram muito mais aro do que redinha, não tinham poderio de rebote e cobriam pouco terreno na defesa.

– Para um país que ficou bem-acostumado por anos e anos de Paula, Janeth, Hortência, Alessandra, Leila, Branca e outras, normal considerar que esta seleção londrina estivesse muito aquém em termos de talento. De 1 a 11, a média não era alta realmente, mas ainda havia possibilidades a serem exploradas. Tinha talento ali, sim. De Érika é melhor nem comentar mais nada. Clarissa complementou bem sua parceira de garrafão, não se intimidando contra as diversas adversárias mais altas que encarou. Terminou com 12,6 pontos e 9,0 rebotes (mais até que a grandalhona). Jogadora de muito vigor físico, energética, tino para os rebotes que ainda toma algumas decisões equivocadas no ataque, pode ficar exposta na defesa em determinados duelos, mas, no geral, oferece muito mais do que tira. Damiris não é uma escolha de Draft da WNBA de graça. Franciele pareceu sem confiança alguma, mas ainda é uma atleta de primeiro nível. Quando não tinha a obrigação de conduzir a equipe, Joice jogou muito mais solta e causou impacto com sua velocidade e explosão.

– Não era nossa melhor fornada, ok, mas o que dizer do restante da concorrência? Austrália e Rússia não detonaram ninguém na competição. A França veio forte, mas também não pode ser considerado um rival realmente dominante. Apenas os Estados Unidos jogaram como superpotência. Então não me venham falar de grupo forte, que deu azar, que sei lá o quê.

– Por fim, a última desculpa, aquela básica: a de que formamos um time pensando  longe, no Rio-2016. Pelamor. A presença de Karla e Chuca, ambas de 33 anos, na lista final nos remete a esta pergunta: vamos tentar realmente emplacar o discurso de que este ciclo olímpico era apenas uma fase de experiência? Quatro anos de preparação exatamente para quê?

As duas alas tiveram, respectivamente, médias de 23min39s e 20min07s de quadra, posicionadas entre as cinco que mais jogaram pela Seleção, ao lado de Érika, Clarissa e Adrianinha, que se despediu da equipe, enquanto Tássia (3 jogos com 3min58s), Nádia (4 jogos com 8min24s), Franciele (4 jogos com 5min10s) e Damiris (5 jogos com 19min32s, a única efetiva na rotação), as mais jovens, ficaram entre as cinco que mais ficaram no banco, junto de Silvia. Desse grupo londrino, apenas essas quatro e Clarissa chegarão ao Rio abaixo dos 30 anos. Érika vai ter de 33 para 34. Que renovação foi essa?

 


Seleção feminina agora perde para o Canadá e já não joga mais por nada em Londres
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Canadá elimina o Brasil

A seleção sofre a quarta derrota em quatro jogos, está fora e ainda pede tapa na cara (?)

Realmente não faz muito tempo: no dia 25 de setembro de 2011, em Neiva, na Colômbia, as  meninas deram um sacode no Canadá: 56 a 39, em jogo pela segunda rodada da Copa América, valendo a classificação para Londres-2012. A seleção brasileira, então com o técnico Ênio Vecchi, iria vencer o torneio sem dificuldade alguma. As canadenses tiveram de se virar contra Cuba na disputa pelo bronze e ao menos uma vaga no Pré-Olímpico Mundial deste ano.

Hoje, menos de um ano depois, as canadenses vencem esse mesmo confronto, mas dessa vez no comando do placar por quase toda a partida, até vencer por 79 a 73, garantindo seu lugar nos mata-matas e eliminado o velho adversário, que acumula quatro reveses em quatro rodadas.

Em setembro de 2011, tomamos 39 pontos no jogo todo. Em agosto de 2012, foram 39 já no primeiro tempo. O que mudou de lá para cá?

Bem, no Canadá não foi muita coisa. A simpaticíssima treinadora Allison McNeill segue orientando sua equipe, mesmo como rendimento fraco no torneio continental. Aliás, ela faz isso desde 2002. Em nota no site da federação canadense, é considerada um “ícone nacional, um tesouro e um recurso valioso” para o esporte.

Qual seria o paralelo hoje para Allison McNeill no mundo da CBB?

Érika domina, mas em vão

Érika: 22 pontos, 12 rebotes, 2 assistências, 2 roubos de bola, 2 tocos… E o Brasil nada

Alguém arrisca algum palpite?

De primeira assim não dá para apontar ninguém, convenhamos.

Continuidade é um príncipo de pouco prestígio por cá nos trópicos. Quando estamos falando de basquete feminino, então, vixe… Precisaríamos do auxílio de um historiador bem competente e que o sistema de busca online estivesse funcionando direitinho para recuperarmos as datas certinhas de tantas demissões executadas nos últimos anos.

Ajuda a explicar – um pouco ou muito? – por que motivo o Canadá, sem nenhum grande reforço, com a base de sempre, mas muito mais organizada, conseguiu se livrar de um antigo vantasma e, enfim, bater o Brasil. O quarto revés em quatro jogos das meninas. A segunda vitória em quatro rodadas para as canadenses.

*  *  *

Essa campanha lamentável, sim, explica bastante o descontrole das jogadoras ao final do confronto, reagindo mal a provocações (com espírito de porco, ou não) dos torcedores, e desferindo frases como “Dá um tapa na minha cara” aos jornalistas presentes. Foi o que disse a ala-armador Joice, por exemplo, na zona mista na qual estava presente Bruno Freitas, um dos enviados do UOL a Londres, e velho companheiro. No mínimo bizarro.

*  *  *

Sobre o jogo em si vamos tentar resumir de maneira breve: um primeiro tempo horroroso da seleção, apanhando feio, mesmo. Sem conseguir explorar Érika no garrafão, comendo poeira na defesa, um banho de bola das norte-americanas. No terceiro quarto, com Adrianinha e Joice bem adiantadas em uma defesa sobre pressão muito eificente, a seleção tirou toda a diferença, desestabilizou as canadenses e voltou para o jogo. Quando não conseguia bandejas no contra-ataque, tinha paciência para usar a força de Clarissa (um partidaço) e Érika (mais do mesmo, no sentido de dominante).

No quarto período, no entanto, tinha de maneirar, porque não há quem aguente também jogar pressåo tempo todo. Ok. Mas veio uma sucessão de erros: rotações difíceis de entender – em 30 segundos, mudávamos de uma formação baixíssima para uma gigante, instruída a seguir com a marcação adiantada, mesmo que fossem mais lentas que as adversárias no caso –, Adrianinha (justamente em sua melhor partida) esquecida no banco, a superpivô novamente ignorada, alguns chutes do meio da rua de Karla, e a crise do Canadá estava contornada.

E aí vemos o discurso de sempre: “O time lutou o tempo todo, mas caiu em uma chave difícil. Pegamos uma sequência muito complicada, com três grandes times nas três primeiras rodadas. E o time chegou desgastado física e emocionalmente hoje”, afirmou Tarallo.

Vai ver que a culpa é da sorte, mesmo.


Após a 3ª derrota seguida em Londres, já sabemos qual o maior adversário da seleção feminina
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Seleção feminina de basquete perde a terceira em Londres

É um post bem frustrado, tá?

Ver a Austrália em ação nesta quarta só reforçou a sensação de uma grande oportunidade desperdiçada pela seleção brasileira feminina nestas Olimpíadas.

O temido oponente se provou completamente vulnerável em quadra, com duas ótimas pivôs dando um trabalho danado para Érika, uma armadora de 38 anos carregando o piano e pouco, ou nada, além disso. Colocamos nessa conta uma Rússia sem a referência de Maria Stepanova, e havia uma possibilidade clara de ir longe no torneio.

Porém, a bagunça da CBB e seu departamento de basquete feminino está posta como um adversário insuperável. Juntem aí os cacos: as falácias e intempéries da direção nos últimos anos, a interminável novela Iziane, as trocas de comando e, por último, o inócuo período de dois meses de treinamento nesta temporada, e as meninas tinham muito mais o que enfrentar além de França, Rússia e Austrália.

*  *  *

Em quadra, mais do mesmo: altos e baixos incríveis. Ninguém vai exigir que um time jogue 40 minutos impecáveis. Ocorrem as oscilações, normal, até por haver do outro lado da quadra um rival empenhado em minar o seu jogo também. Mas esta seleção olímpica do Brasil apresenta baixos que são terríveis.

Como no primeiro tempo contra as australianas, em que fizemos apenas 18 pontos, menos de um por minuto de jogo e mais uma apresentação sofrível no ataque, com apenas seis cestas de quadra. Seis. Em dois quartos.

Lauren Jackson x Damiris

Lauren Jackson não é o maior problema brasileiro

E, ainda assim, dava jogo, porque a equipe da Oceania não se cansava de cometer violações e também carimbava o aro de todos os modos. A partida, na real, fez a festa das pivôs, que turbinaram seus números de rebote: a Austrália apanhou 50, contra 40 do Brasil.

Essa diferença se explica pela presença massiva de Liz Cambage – é realmente impressionante seu tamanho –,   e uma craque como Lauren Jackson no garrafão, tendo a dupla ainda o reforço da batmoça (juro que é o apelido dela) Suzy Batkovic.

Nessa batalha, mesmo com a ajuda aguerrida e incansável de Clarissa, Érika se meteu em uma enrascada, com excesso de faltas durante toda o jogo – acabou limitada a apenas 19 minutos. No primeiro tempo, isso causou um impacto irreparável na seleção, que apanhou nas duas tábuas e perdeu por 13 pontos.

Na segunda etapa, uma defesa por zona 2-3 deu trabalho para as adversárias, que ficaram três minutos sem pontuar. E, enquanto a superpivô brasileira se segurava com três faltas, o time foi baixando a diferença executando, enfim, um ataque aceitável.

Aproveitando a evolução de Érika no passe, as brasileiras rodaram a bola e conseguiram chutes mais equilibrados de três pontos com uma inspirada Karla. Não tem muito segredo: a busca pelo jogo interior com um atleta que desequilibre tanto, a tendência é que os disparos de fora sejam facilitados. A diferença chegou a ser reduzida para cinco pontos, até que veio o ajuste australiano.

Passaram a acelerar sua transição e estabelecendo seus jogos de pivôs antes que a defesa brasileira se postasse de modo apropriado. Cambage e Batkovic pontuaram bastante, cientes de que Érika não podia ser muito combativa, e descolaram a quarta falta da pivô a dois minutos do fim do quarto. Com cinco pontos sem resposta, foram para o período final com 11 pontos de folga.

Érika acabou excluída com a quinta falta restando 6min22s de jogo, e o placar com 67 a 55 para a Austrália, e jogo encerrado? Deve ter sido o que a treinadora Carrie Graf matutou.

Ignorando a defesa pressionada do Brasil, na qual Adrianinha foi muito bem (foi uma rara contribuição positiva da veterana no torneio…), Graf deixou Samantha Richards se atrapalhar toda com a bola por uns bons três minutos e, aos poucos, de contra-ataque em contra-ataque, a diferença foi caindo. Com 16 segundos para o fim, chegou a ficar em apenas quatro pontos. Mas era tarde, e Lauren Jackson, sem se abalar com nada, matou o confronto com dois lances livres.

*  *  *

Dá para imaginar, então, o discurso da diretoria: que a seleção perdeu nos detalhes, que jogou de igual para igual com a elite, que foi por pouco, e todo aquele blablabla para tentar apagar as trapalhadas de todo um ciclo olímpico.

Podem tentar, mas não cola.

Do outro lado da chave, os Estados Unidos devem estar observando tudo isso um tanto perplexos e com muita confiança de que só um desastre lhe custará o ouro.