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Seria Jonas Valanciunas a próxima superestrela europeia?
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Na NBA existe essa regra não-oficial amplamente divulgada de que, para ganhar o título, você precisa de uma superestrela. E o histórico de campeões da liga certamente corrobora a tese. O Detroit Pistons de 2004 acaba sendo a exceção que confirma a regra, embora tivesse um conjunto de excelentes jogadores, sendo que um deles tinha tudo para estar no grupo dos transcendentais (Cut that check!), não fossem os problemas de concentração. De resto, por mais que romantizemos sobre o sistema belíssimo que Gregg Popovich construiu em San Antonio, o técnico é sempre o primeiro a dizer que, sem Duncan, ele muito provavelmente seria considerado apenas mais uma besta quadrada. Isso para não falar de alguns atos heroicos de Ginóbili ou Parker.

Ok. Grandes jogadores podem até vencer partidas por conta própria, e por isso contam muito num ambiente extremamente competitivo. Mas, sozinhos, esses caras não vão conquistar um campeonato, e LeBron James e Stephen Curry podem falar algumas coisas a respeito com base no que vimos na última final da NBA. De todo modo, é isto: você precisa de talento e de um time bem preparado para chegar lá. E esse conceito ultrapassa as fronteiras da liga, como pudemos ver Copa América (hola, Luis Scola!), ainda que a Venezuela tenha sido exatamente o oposto disso. De todo modo, o time de Nestor Garcia também lembra o Pistons de Larry Brown nesse sentido, como um caso excepcional, uma vez que o torneio tinha o México de Ayón e o estrelado Canadá completando as semifinais. A tese se estende também ao EuroBasket, como o esplendoroso Pau Gasol nos mostrou.

A outra vaga olímpica ficou com a Lituânia, que prontamente apontaria para Jonas Valanciunas como um desses talentos que fazem a diferença em quadra, carregando sua seleção até a final, eleito para o quinteto ideal da competição. Seria a confirmação de uma expectativa de longa data de que o pivô seria um dos próximos grandes craques do continente. Não estou tão certo assim — pelo menos não de que vá atingir essa condição transcendental.

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Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não há dúvidas de que Valanciunas já é muito produtivo no mais alto nível europeu: terminou o EuroBasket com 16,0 pontos, 8,4 rebotes, 1,4 toco, 59,1% nos arremessos e 85,7% nos lances livres. Em Toronto, em sua terceira temporada de NBA, também fez sua melhor campanha, atingindo seu maior índice de eficiência, somando com 12,0 pontos, 8.7 rebotes e 1,2 toco, mais 57,2% nos chutes de quadra e 78,6% na linha. Estamos falando de um jogador de apenas 23 anos. Embora já bastante rodado, o lituano é ainda  jovem, da mesma geração de Lucas Bebê, mas num estágio de desenvolvimento que nem se pode comparar. A pouca idade sugeriria que ainda há muito mais por vir. Será?

A questão é saber há muito o que desenvolver em seu jogo atual. Quer dizer: há, sim. Só não está claro se vai acontecer. Talvez o pivô possa melhorar no reconhecimento das dobras defensivas, para devolver a bola, com mais rapidez e precisão, aos companheiros de perímetro que tendem a ficar livres. Para alguém que consegue atrair marcação dupla, é alarmante que tenha apenas 143 assistências em 223 partidas pelo Raptors. No campeonato passado, apenas 3,1% das cestas de seus companheiros aconteceram depois de passes dele. Esse foi o mesmo padrão do campeonato europeu de seleções, competição em que sua presença no garrafão chama ainda mais atenção dos marcadores.

No momento, Valanciunas é estritamente um finalizador. Um ótimo finalizador, é verdade, tanto dentro do garrafão como no chute de média distância, mas que não cria tantos problemas assim para um sistema defensivo bem armado, devido a suas limitações atléticas e técnicas. Desde a ida para a NBA, parece ter seguido a trilha ‘errada’, ou ao menos a trilha menos comum do basquete de hoje. Em Toronto, passou de garotão lânguido e ágil para este massa-bruta-pancadão.

Quando enfrenta adversários peso pena ou molengas, domina. Que o diga Andrea Bargnani, contra quem se esbaldou nas quartas de final, com 26 pontos e 15 rebotes, acertando 11 de 13 arremessos. Quando a oposição é mais qualificada, seja pela força física e/ou capacidade atlética, seu jogo fica muito mais complicado. Abaixo, veja um clipe com algumas de suas jogadas contra a Itália e perceba com os números dificilmente contam toda a história. A defesa interior azzurra foi uma verdadeira piada, e o mérito de Valanciunas foi saber aproveitar tantos buracos:

Ainda assim, não salta aos olhos o quanto ele precisa batalhar para pontuar em situações de mano a mano? Bandejas livres debaixo do aro não contam. Não sei bem se “dificuldade”, na verdade, é o melhor termo, levando em conta seu aproveitamento de quadra. Mas é que parece tudo muito custoso, mesmo, para alguém que hoje tem movimentos muito robóticos, com um jogo de pés bem fundamentado, mas muito lento. É o tipo de ação que podem muito bem ser contestadas por gente de maior envergadura ou coração. Se você deixá-lo trabalhar próximo da cesta, contra um pivô lento ou mais baixo, vai ter problemas, porque ele consegue se impor fisicamente, de costas para a cesta.Se abrir um corredor para ele no pick-and-roll, dãr, é óbvio que ele vai pontuar.

Agora, se a defesa mandar dobras velozes vindas do lado da bola, para forçar que se livre dela. Se, na cobertura da jogada em dupla, você puxar um defensor do lado contrário e desviá-lo de sua rota, ele, hoje, fica em xeque, por dois fatores: a visão de quadra pouco privilegiada e a mobilidade reduzida, com deslocamentos laterais praticamente inexistentes. Um corpo qualquer em seu caminho é um tremendo obstáculo. Para os lituanos mais críticos que o acompanham há mais tempo, o sentimento é de potencial desperdiçado, ou subaproveitado.

“Gostava mais de Jonas quando o dirigia em Rytas. Ele era mais flexível, mais magro, mais rápido e mais ágil. Simplesmente me lembrava de um jovem Sabonis em sua idade. Agora na NBA ganhou massa e ficou mais forte. Pediram um jogo mais físico e de um contra um para ele”, afirmou Rimas Kurtinaitis, seu ex-treinador no Lietuvos Rytas e um dos grandes jogadores lituanos que esteve a serviço da União Soviética no começo de carreira, mas teve tempo de defender seu país novamente independente por dois ciclos olímpicos, subindo ao pódio em 1992 e 1996. Era tão talentoso como jogador que se tornou o único atleta de fora da NBA a participar do torneio de três pontos do All-Star, em 1989. Também virou um ótimo treinador. É uma opinião que pede respeito.

Ainda mais quando ele traz um nome sagrado como “Sabonis” para a discussão. Talvez seja exagero. Mas o ex-ala ao menos fala na condição de quem realmente viu o jovem Arvydas em ação. Se pegarmos os seus lances da época de Lietuvos Rytas, vamos ver um atleta de verdade, com outro biótipo (e não o de um magrelo, gente), leve, atacando a cesta de fora do garrafão, ganhando na corrida de ponta a ponta da quadra etc.

Agora, posto tudo isso, não vamos nos esquecer que um jogo se joga dois lados da quadra, né? Na defesa, a despeito de um toco aqui e ali, Valanciunas realmente deixa a desejar, se tornando uma peça muito vulnerável justamente devido à lentidão e também à confusão sobre onde está a bola e onde está o jogador que tem de frear. Não é um protetor de cesta como se esperaria de alguém de seu porte físico, pois não costuma se posicionar bem. Mas é longe da cesta, quando envolvido em jogadas de pick-and-roll ou pick-and-pop, que as coisas ficam graves. Contra a mesma Itália, abrindo para o chute, o próprio Bargnani marcou 21 pontos, e o estrago poderia ter sido muito maior se o pivô do Nets estivesse com a pontaria mais precisa, tendo errado um de sete arremessos de longa distância. Podem ter certeza: as falhas nos disparos não aconteceram por contestação do oponente.

De novo: a despeito de suas limitações, que lhe foram impostas, Valanciunas ainda é jovem e pode se desvencilhar, ou aprender a lidar com elas. Registrá-las aqui não se trata de uma sentença. Nesse ponto, vale lembrar que duas apostas brasileiras (Bruno Caboclo e Lucas Bebê) estão sendo bombadas por Toronto neste exato momento, ainda que sob gestão de Masai Ujiri, enquanto o lituano trabalhou no primeiro ano ainda com Bryan Colangelo como mandachuva. O desenvolvimento físico dos dois era necessário, mas é bom que também não se passe do ponto. Para o futuro da seleção brasileira, são dois talentos hoje estratégicos, como fazedores de diferença ou não. Afinal, a formação de talentos por estas bandas anda cada vez mais desacelerada.

O curioso é que na Lituânia existem queixas semelhantes. Mas que têm seu próprio contexto: eles estão acostumados com outros padrões de produção de jogadores qualificados, mesmo que sejam um país com população de menos de 3 milhões de habitantes. Basta ver a seleção que passou pela Itália e, surpreendentemente, pela Sérvia para assegurar mais uma participação olímpica.

Seibutis, Maciulis, Jankunas, Kuzminskas, Javtokas, Milaknis e afins podem não ter o apelo dos prospectos sérvios, mas são, ao seu modo, jogadores muito bem burilados, preparados e intensos, além de experientes e entrosados (seis jogadores da seleção jogaram pelo Zalgiris Kaunas na última temporada). Essa mesma base já havia chegado às semifinais da Copa do Mundo no ano passado. Formam um elenco de apoio e um conjunto muito forte em torno de Valanciunas, confiando que o jovem pivô vá levá-los longe. Ou pelo menos até onde seus músculos consigam carregá-los.


Notas sobre o EuroBasket: a era espanhola e outras seleções
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Giancarlo Giampietro

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Depois de duas grandes semifinais, a disputa pelo título teve um pouco de anticlímax, né? A Lituânia perdeu o jogo já nos primeiros minutos.Mas claro que os espanhóis não estão nem aí para isso. Em seu período (quase) hegemônico no continente, a seleção talvez nunca tenha sido tão contestada como aconteceu neste torneio. Os caras penaram na primeira fase e poderiam muito bem ter sido eliminados pela Alemanha. Mas passaram e foram ganhando corpo. A defesa cresceu, os Sergios se soltaram e Pau Gasol foi enorme.

O título deste ano teve o prazer da reação em questão de dias e da revanche contra os franceses, na casa do adversário, com público enorme presente. Em termos de relevância de símbolo, contudo, nada supera o torneio que fez o seu MVP, com um dos melhores torneios individuais de que se tem nota no mundo Fiba: 23,0 pontos, 8,8 rebotes, 2,9 assistências, 2,3 tocos e aproveitamento inspiradíssimo nos arremessos (57,5% no geral, 66,7% de três e 80,5% dos lances livres), em 30 minutos, com apenas 1,2 turnover. Como bem constatou a conta da Synergy no Twitter, ele teve volume de jogo de LaMarcus Aldridge com a eficiência de um Kyle Korver. Só acrescentaria que, além disso, teve ainda de proteger o garrafão e a cesta de seu time como se fosse um Roy Hibbert.

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Da frustração por sua primeira derrota numa final de EuroBasket em 2003, contra os próprios lituanos, à dominância 12 anos depois, Gasol encaminha com naturalidade sua segura candidatura ao Hall da Fama. Dentro desse seleto grupo, também há filtros. Não vou aqui me meter a besta e comparar quem foi o maior jogador europeu de todos os tempos, uma discussão que ganhou força nos últimos dias, muito por conta da exibição histórica do pivô espanhol, aos 35 anos. É uma discussão divertida para muitos, irritante para outros e que tende a ser interminável. Há quem se apegue demais ao passado, há quem desconheça o que foi feito até mesmo antes de Pequim 2008. Prefiro me abster dessa,  mas uma coisa dá para cravar: o craque está no pacote. Levantamento feito pelo HoopsHype nos mostra que ele tem mais prêmios de MVP (3) e foi mais vezes eleito a uma seleção de um torneio Fiba (8) do qualquer atleta.

O MVP histórico

O MVP histórico

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Em termos de equipe, a seleção espanhola também já tem seu lugar assegurado na história, obviamente. De 2009 para cá, ganharam três de quatro EuroBaskets. Só falharam, mesmo, em 2013, na Eslovênia, quando foram superados pela França. Do título na Polônia, o primeiro do país, cinco chegaram ao tri em Lille: Gasol, Rudy Fernández, Sergio Llull, Felipe Reyes, Victor Claver, além do técnico Sergio Scariolo. É um núcleo que tem consistentemente chegado ao pódio em cada competição que disputa, também contando com Sergio Rodríguez e alguns desfalques deste ano como Calderón, Navarro, Marc Gasol e Ricky Rubio. Se formos mais generosos, podemos falar que, desde 1999, a Espanha só não esteve no pódio em 2005, quando Grécia, Alemanha e França foram premiadas. Em um intervalo de 16 anos, só mesmo superpotências como a União Soviética e a Iugoslávia podem superar isso, mas essa não seria uma comparação justa, devido à união de diversos países sob uma bandeira.

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Que ano o dos madridistas Llull, Rodríguez, Reyes e Fernández, hein? Campeões da Supercopa, da Copa do Rei, da Liga ACB, da Euroliga e, agora, o do EuroBasket. Se suas residências já não tinham um espaço só para troféus, chegou a hora de rever a planta de casa. Agora, depois de um torneio desgastante, resta saber qual será o envolvimento do quarteto na Copa Intercontinental de logo mais contra o Bauru.

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

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A França conseguiu um prêmio de consolação com o bronze em Lille. Para quem jogava em casa e com um timaço, pode parecer pouco. Do ponto de vista histórico, porém, é muito valioso. É o que Tony Parker disse: o país não ganhou tantas medalhas assim em grandes eventos. Em 37 aparições no EuroBasket, a seleção tem agora seis bronzes. Quatro deles, porém, foram conquistados antes dos anos 60. Então tem isso. O maior consolo, porém, é saber que Gasol não vai mais tão longe assim em sua carreira. A Espanha seguirá competitiva, mas não será a mesma sem ele. Do seu lado, ainda que Parker e Diaw não tenham jogado nada, os franceses contam hoje com a produção mais profícua de talentos na Europa. De Colo tem 28 anos. Batum, 26. Lauvergne, 24. Gobert e Fournier, 23. Todos com longa estrada pela frente. A eles vão se juntar muitos garotos que estão fazendo a transição do juvenil para o profissional e são considerados prospectos de NBA. O DrafExpress, por exemplo, já lista mais quatro atletas que podem se candidatar com sucesso no ano que vem.

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O que dizer da Lituânia? Bem… Não dá para criticar um time que conseguiu uma dificílima vaga olímpica na Europa. É algo com o que Alemanha, Croácia, França, Grécia, Itália e Sérvia sonhavam para valer. Mas também não dá para deixar de registrar que, se pelo segundo torneio seguido eles deram um jeito de chegar à decisão, pela segunda vez tomaram uma surra na disputa pelo ouro. Há um relaxamento, claro, depois de assegurar o primeiro objetivo que era a vaga direta para o Rio 2016. Agora, contra os espanhóis, creio que o que pesou, mesmo, foi o desnível técnico de um time para o outro. A equipe lituana possui uma série de sólidos jogadores e um talento acima da média em Jonas Valanciunas, mas tende a avançar nas competições com a força de seu conjunto, com caras que jogam juntos há muito tempo. Jonas Kazlauskas, um cara de certa forma subestimado, também merece muitos elogios, ajudando a fazer desse todo algo maior que a soma de suas partes.

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A Sérvia chegou com expectativa de título. Acabou saindo sem medalhas. Talvez tenham sido derrotas importantes para o amadurecimento do time vice-campeão mundial. Aleksandar Djordjevic tem falado todas as coisas certas e exerce forte influência sobre seus atletas para usar a decepção deste ano para o bem. É muito mais time que a Lituânia, apesar da derrota na semi e creio que teria feito uma grande final contra Espanha ou França. Mas acontece. Eles foram os primeiros a admitir que sentiram o peso do favoritismo, contra um adversário muito bem preparado, pouco badalado e de ombros leves. Kazlauskas dobrou sempre que pôde para cima de Teodosic depois de corta-luzes e tirou a bola das mãos do genial armador. Além disso, com Valanciunas, Javtokas e Kavaliauskas, não precisou fazer dobras em cima de Raduljica, podendo manter a turma do perímetro grudada nos chutadores sérvios. Outra boa sacada foi colocar Mindaugas Kuzminskas para marcar Nemanja Bjelica, eliminando o mismatch tático que o ala-pivô geralmente representa.

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Como bem escreveu Austin Green, do blog Los Crossovers, a Itália que vimos no EuroBasket é afeita ao anarquismo — ideologia, aliás, que teve fôlego mais longo do que o habitual no país. Era, desde sempre, o grande desafio de Simone Pianigiani. Pegar um monte de cestinhas e conseguir alguma coesão entre eles. Não aconteceu. Ainda assim, o time conquistou a vaga, terminando com a sexta posição, de tanto talento ofensivo que tinha. Gallinari fez uma grande competição e é aquele que tem o senso coletivo mais apurado. A bola, porém, ficava a maior parte do tempo nas mãos de Marco Belinelli, alguém que foi promovido a principal play-maker, mas que, embora mate bolas de fora, não é tão criativo assim. Andrea Bargnani, para variar, jogou estourado, foi um fiasco nos rebotes. Chega a ser até cômico o quão fominha é o ex-número um do Draft. O dia em que Bargs receber um passe na cabeça do garrafão e não arremessar já estará  em sua aposentadoria. Alessandro Gentile é mais jovem que todos eles, mas talvez seja o de personalidade mais forte, de modo que foi aquele com a maior média de arremessos por partida, batendo Belinelli por pouco. Em suma: um bando de free-lancers que ainda precisam crescer muito como equipe para lutar por medalhas na Europa.

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Devido à dupla Vesely-Satoransky e à vitória sobre a Croácia, a República Tcheca foi o azarão que fez mais barulho no torneio. Em sétimo, a seleção se garantiu ao menos no Pré-Olímpico mundial. Para o futuro, porém, quem merece mais atenção é a Letônia, que terminou em oitavo com seus veteranos e tem uma fornada bem quente vindo por aí, liderada por Kristaps Porzingis e Davis Bertans, mas que também aposta em Timma, os irmãos Kurucs, Pasecniks, Kohs, Smits, Gromovs e Silins.


O jogo verdadeiramente histórico de Gasol (e a questão Tony Parker)
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Giancarlo Giampietro

Ele contra os azuis

Ele contra os azuis

Muito provavelmente já fiz essa reclamação antes. Certo que na minha cabeça ela já foi repetida diversas vezes. Se for o caso, desculpem a repetição de uma autocrítica à classe dos cronistas esportivos. Seja por falta de criatividade ou cultura ou por simples preguiça, nunca escrevemos tanto palavras como “épico”, “mítico” e afins. Mesmo que tenha sido um hat-trick na Série B brasileira ou um golaço de sem-pulo no Maracanã. Num meio em que tantas e tantas vozes se dissiparam pela grande rede, parece haver um certo afã de se sentir parte dos registros históricos, nem que como testemunha.

Aí quando morre um Djalma Santos e ou um Moses Malone, na hora de se atribuir um devido valor a esses caras, os adjetivos mais indicados parecem ter perdido seu valor, banalizados. Mais do mesmo. Pois é. Essa sensação de impotência me ocorre quando vejo uma partida como a de Pau Gasol nesta quinta-feira, para derrubar a França por 80 a 75, em uma vingança particular pela semifinal do EuroBasket e classificar a Espanha para o Rio 2016. Foi um desempenho incrível e, dentro daquele contexto específico, me pareceu uma das melhores exibições individuais da… história.

Senão, vejamos: trata-se da maior rivalidade do basquete de seleções hoje; valia a vaga olímpica; foi com o drama de uma prorrogação; jogou diante da torcida do mesmo adversário que, um ano antes, havia estragado a sua festa na casa dele; Gasol, inclusive, não jogou conforme o esperado naquela ocasião, oprimido pela capacidade atlética de um oponente que, depois de tanto insistir, se inseriu no primeiro escalão; está com 35 anos, o relógio está batendo, e, para alguém tão envolvido com sua seleção, isso tem um peso enorme. O que ele fez? O… mítico pivô espanhol marcou 40 pontos em 36 minutos e acertou 12 de 21 arremessos, incluindo 63% nos arremessos de dois pontos, além de ter matado 16 de 18 lances livres e capturado 11 rebotes. Vale o slow:

Na verdade, essa coisa de aproveitar o momento vale muito mais para nós do que para o craque. Andrei Kirilenko já se foi, Dirk Nowitzki está nas últimas, Spanoulis diz que não vai mais jogar pela Grécia… Esses caras estão todos indo embora, então que o basquete como um todo possa curtir o vasto talento do camisa 4 espanhol. Excluindo os franceses desse grupo, claro.

Rudy Gobert, Nicolas Batum e o técnico Vincent Collet reclamaram uma barbaridade. “Pau é um grande jogador, mas ele não pode arremessar 18 lances livres, enquanto a França como um todo não chutou nem mesmo um no primeiro tempo. Houve diferentes modos de se apitar. Ele é um jogador gigante, vem num torneio fantástico, mas não pode ser favorecido desse jeito enquanto os outros atletas não ganham nada. A Fiba deveria fazer algo a respeito”, afirmou o treinador. “Não podia mesmo tocar nele. É difícil marcar assim. Quando você não pode usar suas mãos, ele é praticamente imarcável”, disse Gobert. “Não gosto de falar sobre arbitragem, mas Pau Gasol é protegido um pouco demais. Isso é o esporte, não tem jeito. Nunca vamos ganhar o respeito devido, e eles sempre serão os reis do mundo”, completou Batum.

Dureza em francês escreve como?

Dureza em francês escreve como?

Gasol realmente cobrou mais lances livres que toda a seleção francesa: 18 a 17. No geral, porém, a diferença não foi tão gritante assim: os demais jogadores espanhóis somaram apenas oito lances livres. Então temos 26 x 17. A NBA já viu coisa muito pior que isso. Por mais que o craque tenha sido protegido, não pega nada bem para os falastrões franceses chiarem dessa maneira depois de uma partida daquelas.

Será que ocorreu para os magoadíssimos franceses que o pivô do Chicago Bulls tenha simplesmente se imposto, e não por paparicação? Que a arbitragem só deu tantas faltas nele pelo fato de ser, disparado, o jogador mais agressivo e lúcido em quadra? Gasol foi ao ataque do início ao fim. Em excelente forma, apostou corrida com os franceses mais jovens e mais atléticos e venceu.

Se Phil Jackson se deu ao trabalho de interromper a meditação em Montana para assistir ao jogo, deve ter ficado com inveja, matutando por que nem sempre tinha um pivô tão agressivo assim em quadra. Mike D’Antoni, então, depois de tantos maus-tratos ao espanhol em sua conturbada passagem pelo Lakers, deve ter desligado a TV, entediado ou arrependido que só. O técnico tem uma mente especial para desenhar o ataque, mas se perde em seu brilhantismo ao tentar dobrar todo e qualquer jogador de acordo com seu sistema. Desperdiçou muito do que o espanhol tem de melhor.

Gasol dançou a noite toda com Gobert, Lauvergne, Diaw e Pietrus. Giro daqui, giro para lá, gancho, o chute de média distância mortal, o drible absurdo para alguém de 2,13m , a visão de quadra. São vastos os seus talentos. Quando joga com a determinação que vem apresentando neste EuroBasket, não há quem segure em lugar algum. Nem mesmo um gigante como Gobert, que ainda é jovem e talvez tenha se empolgado demais com o que havia feito na Copa do Mundo do ano passado, quando levou a melhor sobre o craque.

Por mais compridos que sejam seus braços e pernas, não é sempre que vai acontecer, mon ami. E também serão raríssimas as vezes em que terá como missão parar uma… lenda viva dessas.

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Fala-se  muito em desfalques da Espanha. Mesmo durante a comemoração, o técnico Sergio Scariolo e sua grande estrela mencionaram as baixas para colocar sua seleção em condição de inferioridade e tentar entender a súplica que foi avançar no torneio. Sem tanto drama, meus chapas. Marc Gasol obviamente faz falta a qualquer equipe, mas é de se pensar se, hoje, sua presença em quadra não limita o jogo de seu irmão. Explico: por mais que possa jogar na cabeça do garrafão ou até na linha de três, numa quadra mais apertada como a da Fiba, acaba obstruindo um espaço precioso para o craque operar. Mesmo que não tenha chutado bem no EuroBasket, Nikola Mirotic desperta temor dos adversários, que ficam grudados nele. Além do mais, do outro lado, com dois Gasols em quadra, as coisas podem ficar ainda mais difíceis no jogo de hoje, pois um dos pirulões será obrigado a marcar um ala-pivô mais baixo e mais leve. Sobre Mirotic: de acordo com as regras da federação internacional, um país só pode usar um naturalizado por uma vez. Então era ele ou Ibaka, de modo que o congolês não pode ser considerado baixa. No perímetro, Juan Carlos Navarro teve sua temporada menos produtiva da década. Alejandro Abrines está crescendo, mas ainda não é uma certeza. Ricky Rubio e José Calderón? Também fariam parte do grupo. Mas os dois Sergios do Real Madrid são hoje atletas muito superiores. Mas muito, mesmo. Calderón é o melhor diretor e arremessador, mas, no momento em que entra em quadra, se torna um alvo do ataque adversário. Rubio não conseguiu jogar basquete na última temporada.

Agora, claro: quando você soma tantos nomes assim, dá meio time. A rotação ficaria mais encorpada. Mas, contra França e Grécia, no quarto final, o que a Espanha basicamente tem de melhor estava em quadra. Além do mais, assim como valeu para a França e para os Estados Unidos no ano passado, vale para eles agora: são tantos os jogadores de ponta disponíveis para uma convocação, que é obrigação de qualquer técnico montar um time não só competitivo, mas que entra para brigar por medalha e título.

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Sergio Llull, Espanha

Sergio Llull mostrou nesta semifinal por que o Houston Rockets não se cansa de tentar sua contratação. Acontece que é difícil tirar o rapaz do Real Madrid, onde é tratado como rei. Quando está mais concentrado na defesa, deixando o xará Rodríguez e Rudy Fernández com maiores encargos ofensivos, é que rende melhor em alto nível. Ele movimenta os pés com muita rapidez. Está, por isso, invariavelmente bem posicionado. Sua defesa para cima de Tony Parker não pode passar despercebida num jogão desses. No ataque, ele também não pára de acelerar. Às vezes força nas infiltrações, mas, por atacar sempre, joga pressão sobre a defesa. Já de Rodríguez não há muito mais o que escrever aqui. Dos armadores europeus hoje, é o que tem o jogo mais apropriado para fazer sucesso na NBA, como suas constantes infiltrações contra uma defesa fortíssima como a da França podem comprovar (15 pontos, 5-8 quando foi lá dentro, 3 assistências e só um turnover).

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Sobre Tony Parker: pode ser demasiado cedo para ser alarmista, mas, LaMarcus Aldridge à parte, pode ser que Gregg Popovich tenha um problemaço para a próxima temporada. Llull fez um grande trabalho contra o astro francês, mas não foi o único a incomodá-lo bastante neste torneio. Se um viajante do tempo chegasse desavisado a Lille, não daria a mínima para o capitão francês, que chega à disputa pelo bronze com médias de 11,9 pontos, 4,3 assistências, mas 2,3 turnovers e sofríveis 35,4% os arremessos de quadra (sendo 37,1% de dois pontos — quer dizer, não é que ele tenha se acomodado no perímetro com seu arremesso de três suspeito). Aqui, valem as mesmas ressalvas feitas para Nowitzki: são veteranos que talvez não estejam nem mesmo em ritmo de pré-temporada, enfrentando defensores ferozes e vorazes. Pode ser que Parker ainda esteja, mesmo, avariado por tantas lesões que teve de tratar durante a última temporada e que vá demorar para recuperar a melhor forma. Você dá o benefício da dúvida a um jogador destes, claro. Fica quase na torcida para que seja isso, e não limitações que tenham chegado para ficar. Pois ele dificilmente conseguiu quebrar a primeira linha defensiva nos últimos dias. Também não conseguia criar a separação necessária para fazer seu chute de média distância funcionar. Sem velocidade, seu jogo evapora. Aos 33 anos, é uma situação para se monitorar com muita atenção.

Na semifinal, por mais que não funcionasse sua abordagem ofensiva, ele não arredava pé, e era bico atrás de bico. Foram apenas 10 pontos em 37 minutos, com 13 arremessos desperdiçados em 17 tentativas (23,5%) e um aro que precisará ser trocado para a sequência do torneio. É nessas horas que ter uma figura de tanta relevância em quadra pode até fazer mal a uma equipe, dependendo de suas condições. Por mais arrojado que seja Nando De Colo, não há como ele não deferir para seu capitão. E qual o nível de coragem que Collet precisaria ter para deixá-lo no banco? De qualquer forma, analisando friamente o desempenho do armador, imagino que o treinador esteja muito arrependido pelo corte de Thomas Heurtel, tendo priorizado a envergadura de Leo Westermann, com propósitos defensivos para cobrir Parker. No fim o ataque que precisava de ajuda.


Genialidade de Teodosic encanta no EuroBasket. Comportado, mas indomável
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Giancarlo Giampietro

Que impulsão, hein!? Teodosic não precisa sair do chão para dominar

Que impulsão, hein!? Teodosic não precisa sair do chão para dominar

Para quem pôde ver, na hora do almoço, ou um pouco mais tarde que isso, dependendo do seu relógio biológico, foi uma clínica de armação. Passes quicados em movimento com apenas uma mão para deixar o ala-pivô na cara da cesta. Passes para dentro e para fora. Inversões para encontrar o chutador livre do outro lado. Ou passes que encontravam o alvo mesmo que a bola tivesse de fugir do contato de outros três ou quatro pares de mão gigantescas pelo caminho. Enfim, todo o tipo de assistência, com uma visão de jogo, serenidade e habilidade impressionantes. Milos Teodosic esteve inspiradíssimo na (mais dura do que o placar sugere) vitória da Sérvia sobre a República Tcheca, por 89 a 75. Com todo o favoritismo, a equipe balcânica agora vai enfrentar a Lituânia pela semifinal do EuroBasket, valendo uma vaga olímpica direta para o Rio 2016.

Agora, vejamos se alguma de suas assistências entrou no clipe das cinco jogadas da quarta-feira:

Nada, né? Só ponte aérea e cravadas. Nada contra, aliás. As arrancadas de Andrea Bargnani, Alessandro Gentile e a de Tomas Satoransky foram realmente muito bonitas. O lance do armador tcheco em especial agitou que só a galera. O curioso é que, em que pese sua explosão e a socada com raiva, sua infiltração teve muito menos contestação que a dos italianos. A defesa sérvia teve um raro lapso nessa jogada, lhe estendendo o tapete vermelho. Ainda assim, viralizou, com uma ajudinha de outros dois fatores fora o seu vigor físico: 1) este EuroBasket já vale como um marco para o jogador do Barcelona, sendo o torneio que o confirma como uma estrela em ascensão no basquete internacional; 2) o atleta já foi Draftado pelo Washington Wizards, então estava na mira do público americano. O ótimo torneio que vem fazendo deixou a situação mais combustível.

De qualquer forma, essa obsessão pelas enterradas num campeonato europeu de seleções não deixa de ser irônica, ainda quando comparada à finesse e à inteligência de quatro ou cinco passes de Teodosic. Afinal, ainda há muitas vozes no continente que ainda pregam a ladainha de que só lá se pratica e conserva o basquete puro, clássico, resistindo à abjeta corrupção moral promovida pelo capitalismo do Tio Sam — ou David, se preferirem. Mas, claro.

E quanto ao apego às estatísticas? Ainda mais degradante, não? É o que dizem. Pois a Fiba Europa, em sua seção de “performances fantásticas”, também ignora o duplo-duplo altruísta do armador sérvio. Nesta quarta, preferiu destacar os 26 pontos e 15 rebotes de Jonas Valanciunas na vitória lituana sobre a Itália. Antes de prosseguir e clicar no clipe abaixo, só não deixem de reparar na ironia salpicada nos dois parágrafos acima, por favor. Os tempos irados de hoje fazem, infelizmente, obrigatória essa ressalva. Vamos lá:

Não entendam mal: foi uma atuação de fato dominante do pivô do Toronto Raptors, que também é um jovem astro cuja promoção faz bem ao mercado. Mas precisa ver o contexto também. Valanciunas jogou contra ninguém, e que Andrea Bargnani nos desculpe, a despeito de seu raro ato de valentia, jogando no sacrifício.

Agora, com todo o respeito às belas jogadas selecionadas pela Fiba, àquela aberração grega, ao barbudo espanhol e à rapaziada toda: mas, ao menos no gosto de um reles blogueiro brasileiro, os lampejos mais bonitos do EuroBasket são os de Teodosic. Assim como a sua atuação contra os tchecos foi mais aprazível e impressionante. Número por número, ele também chegou ao duplo-duplo de 12 pontos e 14 assistências, vencendo o  jogo para a Sérvia mesmo que seu arremesso não tenha funcionado (3/11 de quadra, 0/6 na linha de três pontos, mantendo um baixo aproveitamento em todo o torneio, é verdade). Para compensar, não parou de descolar faltas (6/7 nos lances livres) e cometeu apenas três turnovers.

Estamos falando de um jogador que não é nem um pouco veloz, mas que chega aonde quer, por meio da arte do jogo de pés. Pelas quartas de final, ele encurtava e esticava a passada por vezes na mesma infiltração, deixando os defensores descadeirados. Também nunca ninguém vai confundir o sérvio com um exímio saltador. Ainda assim, há momentos em que ele passa a impressão de que para no ar, decidindo entre o arremesso, o passe ou a malandragem típica para buscar o contato involuntário de seu marcador. Tudo se resume a recursos cerebrais para ele, para por de um jeito diferente. Por três quartos, quando o jogo esteve duríssimo, era o único que conseguia desarmar a forte defesa adversária, muito bem postada, combativa e com boa envergadura para proporcionar obstruir as linhas de passe. Foi uma coisa de gênio, traduzindo. Nos melhores momentos editados pela Fiba, é possível ver alguns desses passes de que falo:

Teodosic já torturou e tirou o sono de muitos de seus técnicos. Não é das figuras mais bem queridas nos vestiários por onde passa. Também não tem o costume de se esforçar na defesa e, quando está de mau humor em quadra, se desinteressa pelo ataque e começa a fugir da bola, estacionado em algum canto da quadra — e, se a bola chega a ele nessas situações, apela à displicência, arremessando de muito longe ou passando a bola para a arquibancada. Por mais que isso enriqueça o personagem do ponto de vista do perfil jornalístico, para a equipe não pega bem. Ainda mais para a alguém que tinha a fama de amarelar em grandes jogos, sem deixar que os insucessos em quadra abalassem sua marra. Junte aí a notória boemia, e você tem, na verdade, um gênio intratável.

Ou tinha, até entrar em contato com Aleksandar Djordjevic, antes brilhante armador iugoslavo, hoje uma grata surpresa como técnico sérvio. Surpreende porque, quando começou na profissão, na Itália, dirigindo grandes clubes como Olimpia Milano e Benetton Treviso, não impressionou ninguém. Agora, dirigindo a seleção, faz um trabalho fora de série. Ele obviamente tem uma geração muito talentosa para explorar. Mas mão-de-obra nunca foi um problema para o país. O duro era administrar os egos e fazê-los jogar com um mínimo de interesse e coesão. Djordjevic conseguiu o máximo nesse sentido. Juntou as peças direitinho, apostando também em muitos jovens e, com o pulso firme e a áurea de ídolo nacional, montou um esquadrão.

Teodosic em versão stopper

Teodosic em versão stopper

Bogdan-Bogdan é um tremendo de um carudo e matador. Nikola Kalinic corre tão determinado que parece que vai cravar o pé em quadra. Nemanja Bjelica é uma maravilha de fundamentos e versatilidade. O bisnagão Raduljica varre quem estiver à sua frente no garrafão.  Zoran Erceg, que encontrou um rumo na vida, oferece ainda mais chute. Stefan Markovic faz tudo direitinho, mesmo que seu arremesso seja feio de doer. Nemanja Nedovic é muito mais explosivo que a média europeia (mas não a da NBA). Ognjen Kuzmic tem 2,13m e amarra, sozinho, um par de tênis sem precisar da ajuda de ninguém, com agilidade até. É um grande elenco. Mas tudo passa por seu armador. É ele quem amplifica as qualidades desses caras e que faz da Sérvia a melhor seleção europeia da atualidade: numa comparação com a Lituânia, por exemplo, é mais alta, mais forte e mais rápida. Mais talentosa também.

Pode ser mera coincidência e que Teodosic tenha, se aproximando dos 30 anos, amadurecido para valer. Porém, é inegável que, desde a Copa do Mundo do ano passado, quando iniciou esse contato mais próximo com Djordjevic, seu jogo mudou. Ou melhor, se intensificou. Em quadra, o armador não perdeu o brilho, não deixou de arriscar, segue indomável. Mas com uma figura mais serena e aguerrida em quadra.

As viajadas ficaram raras, precisando mesmo de uma arbitragem calamitosa para tirá-lo do sério. Na defesa, tem contestado arremessos de fora e partindo para a dobra em algum adversário que queira mais atenção. Até mesmo quando seus companheiros fazem uma cesta, ele está comemorando! Afinal, foi nomeado capitão do time. (Favor imaginar aqui um emoticon cara de espanto, olhos arregalados. Você sabe qual.)

Nesses moldes, Teodosic virou um jogador que faz regularmente a diferença, perturbando agora apenas os adversários  e encantando quem vê de fora. Esses passes aqui não teve como ignorar:




Na (possível?) despedida de Dirk, o brilho e o choro também de Schröder
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Giancarlo Giampietro

Dirk Nowitzki, Germany, NT, National Team, EuroBasket, Berlin

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Dirk Nowitzki, despedida, Alemanha

São fotos que nem precisam de legenda, né?

Então escute:

Aparentemente, Dirk Nowitzki acredita que nunca mais vai jogar pela Alemanha, tendo se despedido em uma derrota para a Espanha de se castigar os nervos, pela última rodada do surreal Grupo B do EuroBasket. Foi 77 a 76, depois que o armador Dennis Schröder errou um lance livre a poucos segundos do fim, perdendo a chance de forçar o tempo extra.

Com a derrota, o time caiu logo na primeira fase, a despeito de ter feito jogos equilibradíssimos também contra Sérvia (bola de Bjelica no último segundo…) e Itália (prorrogação) e perdido ambos. O torneio só classifica diretamente para as Olimpíadas do Rio 2016 seus dois primeiros colocados, enquanto os times posicionados entre terceiro e sétimo serão endereçados a um Pré-Olímpico mundial.

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Dizemos “aparentemente” porque nem mesmo o craque germânico sabe direito. Com essas coisas, melhor sempre deixar o tempo correr, ainda que esteja claro que não restam muitos anos de quadra para a estrela do Dallas Mavericks. “Eu achava que seria o adeus. Mas agora ouvi que é uma chance para a Alemanha conseguir um convite para sedir o torneio Pré-Olímpico. Então temos de esperar e ver, ou nos reunirmos no ano que vem e conversar a respeito. Mas, para mim, na minha cabeça era o fim. Por isso me emocionei. Estava exausto. Deixei tudo o que tinha em quadra, e não conseguimos passar, o que foi muito decepcionante, afirmou. “Se existir uma pequena chance de jogar no próximo ano, se houver um Pré-Olímpico aqui na Alemanha, então com certeza esta seria minha última vez jogando pela seleção.”

Perceba, especialmente por sua segunda frase, que ele não quer cravar nada e que ela é um tanto confusa. Só esclarecendo um ponto: mesmo que não consigam mais se meter entre os sete primeiros, os alemães ainda poderiam entrar num torneio classificatório para o Rio se conseguirem convencer a Fiba, que não se cansa de extorquir suas confederações, a lhe conceder vender uma vaga de país-sede. Vai custar uma nota.

Está meio que implícito que ele tem o desejo de jogar pelo seu país uma última vez. Mas ninguém sabe se vai acontecer: a federação local não tem o costume de se dobrar diante da Fiba — no ano passado, quando desistiram do leilão por um ingresso da Copa do Mundo, disseram que “o processo não era nada viável” para eles. E outra: após sua 18a. temporada, beirando os 38 anos, Nowitzki vai estar inteiro e apto para se apresentar? Sem ele, valeria o esforço e a gastança?

Fossem os alemães um povo conhecido pela emoção excessiva, teríamos uma resposta positiva. Meio que para dar mais uma chance a uma seleção que lutou de modo valente, mas acabou sucumbindo num grupo muito difícil. Em qualquer outra das três chaves do EuroBasket, eles teriam avançado. Isso é certo. Além do mais, se o próprio Dirk está deixando a porta entreaberta, porque não escancará-la de vez? Mas, bem, entre uma ação sentimentaloide e a mais pragmática e racional, o país de Kant, Marx, Nietzsche, Schopenhauer, Arendt, Adorno e Habermas tende a pender para o outro lado. Né?

Até porque, em termos de emoção, talvez o basqueteiro alemão já tenha esgotado a cota de todo um ciclo olímpico nesta quinta-feira.  Primeiro por causa do choro desconsolado de Schröder, que jogou tanto e perdeu seu único lance livre na hora mais dolorida (mais a respeito, logo mais). E aí teve a reverência a um dos maiores jogadores de todos os tempos. O curioso é que, antes de ficar sozinho no centro do ginásio e ser ovacionado, Dirk primeiro cuidou de abraçar seu jovem armador. Depois, ainda deu uma entrevista para a TV local na lateral da quadra. Afinal, tudo tem seu tempo. “Zeeee germanzzzz”, é o que murmuraria o cigano Brad Bitt em algum trecho de Snatch.

“Só fiquei agradecido pela torcida.  Mas o reconhecimento e respeito que eles mostraram por mim, cantando meu nome… Isso significou muito para mim, e me emocionei. Foi um momento fantástico para minha carreira e vou me lembrar para sempre”, disse o astro. Oras, qualquer outro comportamento diferente por parte dos torcedores teria sido ainda mais absurdo do que o grupo em que a seleção alemã caiu. Antes deste EuroBasket, Nowitzki teve médias de 20,3 potnos e 7,2 rebotes em torneios Fiba. Com ele, o país conseguiu os melhores resultados de sua história: o vice-campeonato europeu há 10 anos, perdendo para um esquadrão grego, e uma mais que honrosa medalha de bronze no Mundial de 2002, ficando atrás apenas de Iugoslávia e da geração dourada da Argentina, pela qual foi derrotado na semifinal tomando uma virada de 27 a 18 no último período.

Foi de arrepiar. Para mim, admito, qualquer ovação faz isso. Talvez até mesmo em um torneio escolar. Mas aquela cena berlinense, com 13.600 torcedores agitando, foi mais tocante pelo que havia acabado de assistir em quadra. Se o seu compadre Steve Nash já se foi, as habilidades de Nowitzki estão perto de.  Sua linha estatística na provável saideira entrega: 10 pontos, 7 rebotes e apenas 3-6 nos arremessos em 29 minutos de ação. O craque foi muito bem marcado por Nikola Mirotic, um ala-pivô que é 13 anos mais jovem e ágil, mas a verdade é que isso jamais seria possível em 2011, quando ele guiou o Mavs rumo a uma conquista tão bonita — e emocionante.

O arremesso ainda precisa ser respeitado, claro

O arremesso ainda precisa ser respeitado, claro

Isso foi a apenas quatro temporadas, quando Dirk já não pegava mais a bola em seu garrafão e cruzava a quadra galopando em quatro ou cinco segundos, como uma força revolucionária, um ala-pivô de 2,13m de altura mais habilidoso, fundamentado e coordenado do que 95% dos atletas 10 ou 15 centímetros mais baixo. Rumo ao título, todavia, ele ainda tinha o arranque para sair da linha de três até o garrafão. A mobilidade para cortar os adversários a partir do chute. O camisa 14 do jogo contra a Espanha estava com os quadris travados. Estático em quadra,e  vêm daí seus cinco turnovers. Ele não conseguia colocar a bola no chão. Virou um chutador, e só. Mesmo seus fadeaways e step-backs estavam saindo com dificuldade imensa. Imagine, então, seu deslocamento defensivo.

Pode ser uma avaliação injusta. Afinal, era só uma partida. E ele, veterano, ainda não está nem mesmo em seu ritmo de pré-temporada. Mas não é que seu EuroBasket tenha sido tão diferente assim. Terminou com 13,8 pontos, 7.8 rebotes, 1,6 assistência e apenas 36,4% nos arremessos (33,3% de longa distância). O que ele ainda conseguiu fazer ao menos foi deslocar lances livres, cobrando 28 em cinco partidas. “Tenho certeza de que não fiz um ótimo torneio como todos esperavam, ou como eu mesmo esperava”, resume. Vou dizer: foi triste e doloroso de ver. Esses caras estão indo todos.

Nowitzki, Alemanha, Germany, adeus

*    *    *

Outro grandes pecado que se tira do extremamente tenso e emocional jogo contra a Espanha: o fato de que, em sua trajetória alemã, Nowitzki não tenha visto nem mesmo os resquícios de seu auge técnico se encontrado com Schrödinho, cujos melhores anos ainda estão por vir, por outro lado. A NBA e as demais seleções europeias que se preparem para tanto. Nem deve demorar tanto.

Enquanto seus tempos de dominância não chegam, o jovem armador alemão vai ter de conviver por um tempo com o lance livre que desperdiçou contra a Espanha. Chorou pacas em quadra, e não foi por causa de Dirk. Mas essas são as “dores de se crescer”, pegando emprestada uma expressão inglesa tão bacana. Vejam aqui:

O armador do Atlanta Hawks vinha de 26 pontos, 7 assistências e 6 rebotes, aterrorizando armadores do quilate de Sergio Rodríguez e Sergio Llull. Os dois Sergios do Real Madrid e o sagaz Pau Ribas, recém-contratado pelo Barcelona, tentaram, mas não conseguiram brecar o alemãozinho, que é muito explosivo matreiro com a bola, dias antes de completar 22 anos.

Vem daí o fato de, não sei se repararam, a arbitragem dar uma espécie de “lei da vantagem” em sua arrancada rumo aos fatídicos lances livres. Antes de ser empurrado por Ribas no ato do chute, no meio da quadra, ele já havia sofrido uma falta quando cruzava a quadra. Além do fator casa e da própria adrenalina do momento, sabe o que acho que passou pela cabeça dos árbitros? Algo como: “Esse garoto é tão rápido, mas tão rápido que esses barbudos espanhóis só conseguem pará-lo com falta. E, com a vantagem no placar, eles vão fazer falta, mesmo. Acontece que, nesse contexto, essas faltas são intencionais, mas, no nosso manual, ainda se configuram como ‘de jogo’. Então vamos dar uma chance para esse pestinha passar pela primeira falta e ver o que acontece. É injusta essa vida, especialmente a nossa de árbitro”.

Schroedinho rumo à cesta contra a Sérvia

Schroedinho rumo à cesta contra a Sérvia

Qualquer alemão racional que se preze que ler esse parágrafo com a ajuda do Google Translator obviamente não vai entender nada. Afinal, se a regra é clara, por que quebrá-la? Mas não tenha dúvida de que acontece, gente. É o inverso do raciocínio que levou Shaq a protestar tanto em quadra durante seus anos de Laker. Ele era tamanha aberração que os árbitros simplesmente desconsideravam — ou não conseguiam ver, mesmo — o tanto de pancada que ele tomava. Afinal, por maior o número de hematomas que exibisse no vestiário, O’Neal conseguia finalizar e enterrar tudo o que via pela frente. Claro que ele tinha lances livres a favor. Sabemos muito bem disso. Mas a verdade é que ele poderia ter batido ainda muito mais que os 11.252 que somou em sua carreira.

Nesse duelo com a Espanha, as habilidades de Schrödinho o favoreceram. Se não acredita, se acha que foi mera amarelada da arbitragem num momento capital, é porque não viram a posse de bola anterior da Alemanha, na qual aconteceu a mesma coisa, com uma falta de Llull ignorada ainda no campo de ataque. Na ocasião, o armador conseguiu, então, descer a quadra para, então ser parado de vez.

Os espanhóis decidiram apelar depois que, na antepenúltima posse alemã, o prodígio deu uns 79 giros em sequência, a 100 km/h, deixou todo o ginásio tontinho da silva e ainda teve equilíbrio para passar a bola para trás e encontrar o compatriota Maodo Lo, que superou a vertigem para encaçapar uma de três. (Aliás, olho nesse outro jovem armador alemão, que joga pela prestigiada, academicamente falando, Universidade de Columbia. Atrevido com a bola e belo chutador. Já é mais velho que o titular, porém, caminhando para os 23 anos em dezembro.)

100% carisma

100% carisma

A velocidade e a habilidade de Schröder já são conhecidas desde o seu tempo de Braunschweig. Em Atlanta, o que ele vem treinando bastante é no seu arremesso, e os resultado estão aparecendo. Num jogo tão importante como esse, o rapaz chutou com muita confiança e consistência. Colocou um arco bonito na bola. Durante o torneio, o aproveitamento foi de 31,6%, mas nos lances livres ele matou 83,3%, mostrando que tem potencial para o fundamento.

Por falar em confiança, esse é um aspecto que chama muito a atenção. Há vezes em que o armador parece excessivamente colhudo em quadra, para alguém que ainda não ganhou nada na carreira. Mas é o tipo de comportamento que, acredito, vá levá-lo adiante. Há quem veja nos seu gestos traços de arrogância. Ou talvez ele seja apenas um jovem jogador ciente de sua enorme capacidade e de que há poucos defensores que vão conseguir, nos próximos anos, se manter à sua frente. Num momento em que ainda se precipita constantemente com a bola para chutar ou forçar um passe, ele já soma 21,0 pontos e 6,0 assistências (com 4,2 turnovers, claro) um EuroBasket. O seu primeiro torneio com a seleção adulta, registre-se. Imagine quando estiver no terceiro e com a leitura de jogo afiada.

Se a seleção crescer junto — e tudo indica que vá acontecer, com a liga nacional crescendo a passos largos, à medida que jovens coadjuvantes como o polivalente ala Paul Zipser, o ala-pivô Maximilian Kleber e o pivô Maik Zirbes também despontam –, Schrödinho vai ter muitas oportunidades ainda para compensar o lance livre desperdiçado. Pena que Nowitzki não estará por perto. A não ser que, no ano que vem, os dirigentes alemães confederação nacional se deixem contagiar pelo sentimentalismo.


Os Mercenários 4: a luta pelo EuroBasket
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Giancarlo Giampietro

Os Mercenários, The Expendables

Uma das séries mais cara-de-pau que você vai encontrar nos cinemas, “The Expendables” — ou “Os Mercenários”, por aqui — já tem seu quarto episódio anunciado e, talvez, em fase de produção, com um ator no mínimo curioso escalado para o papel de vilão: o ex-007 Pierce Brosnan, que definitivamente não tem moral na quebrada, como o esnobado Idris Elba. Não se sabe ainda muito qual será o enredo, mas você não precisa ser muito bidu para deduzir, né? O filme serve apenas para Sylvester Stalonne fazer mais um troco, enquanto enumera piadas com antigos e novos heróis dos filmes de ação, que tanto bombaram nas locadoras dos anos 80.

O VinteUm só vem aqui pedir uma coisa: não dê atenção aos rumores de que a nova trama de Sly possa envolver o EuroBasket a que estamos assistindo agora, mesmo, a despeito dos diversos jogadores de aluguel que as seleções nacionais estão empregando. Vale tudo em busca do título, da vaga olímpica e de uma eventual festa com multidão nas ruas no retorno para casa. Acredite, na Europa isso é possível até mesmo para o basquete. No caso de alguns atletas, porém, a gente só não sabe exatamente para qual casa ele estará voltando.

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O competição europeia está em outro nível, ainda mais quando comparada com a pobrinha Copa América. (Conselho: só não usem esses termos na hora de bater um papo com a turma da CBB, tá? Você vai ferir sentimentos). A França já penou para ganhar da Finlândia, na prorrogação, e quase viu a Polônia também forçar o tempo extra. A Lituânia nem sabe o que dizer depois de perder para a Bélgica neste domingo. Tem sido assim, gente, há um tempo já.

Renfroe nunca jogou na Bósnia. Mas é bósnio

Renfroe nunca jogou na Bósnia. Mas é bósnio

A coisa de não ter mais bobo foi levada ao extremo por lá. E o que acontece quando se vive um campeonato tão competitivo assim? Tal como acontece na NBA — a não ser que estejamos falando do Philadelphia 76ers, claro –, os times vão se desdobrar para tentar levar vantagem em algum detalhe, uma sacada que seja, tentando se distanciar de um largo grupo de concorrentes. É nesse contexto que entram os mercenários, aqueles jogadores contratados naturalizados, que já são a norma no mundo Fiba hoje, em vez da exceção.

Os norte-americanos estão por todos os lados. Tem hora que você pode até mesmo se confundir se não está vendo a própria Copa América, ainda mais quando a Finlândia pode por em seu quinteto titular os seguintes nomes: Erick Murphy, Jamar Wilson e Gerald Lee. Ainda assim, calma. Porque esses três atletas em específico até nos contam histórias que justificam sua presença no selecionado dos #Susijengi. Lee, na verdade, é finlandês. Murphy tem mãe finlandesa. Wilson já jogou por lá. Existem outros atletas que simplesmente acompanham movimentos migratórios que claramente independem do esporte. Há, porém, casos descarados, como o do armador Jerome Randle na Ucrânia, do ala Alex Renfroe na Bósnia-Herzegovina, em que o único vínculo existente é o passaporte expedido, ou comprado, como queiram.

Na Finlândia, tem festa antes mesmo da viagem

Na Finlândia, tem festa antes mesmo da viagem

A Fiba, do seu lado, é extremamente conivente com algumas situações que são vergonhosas e podem causar desequilíbrio e/ou bagunça em suas competições. Basta dar uma olhada na grande piada que é o texto de seus regulamentos a respeito. Chega a ser difícil de entender, já que cada regra aparentemente firme vem quase que obrigatoriamente acompanhada por um “mas” ou “com exceção de”.  Este parágrafo acaba dando o recado geral: “No entanto, em circunstâncias excepcionais, o Secretário Geral pode autorizar que determinado atleta jogue por uma seleção para a qual esteja inelegível se, de acordo com o artigo 3.23 e se essa decisão zela pelo desenvolvimento do basquete nesse país”. Traduzindo: pode tudo. E o mais engraçado é o complemento: “Uma taxa administrativa decida pelo Secretário Geral pode ser paga à Fiba”. A federação, claro, ainda arruma um meio de faturar uma grana. Tudo em prol do progresso da modalidade, claro.

No ritmo do bumba-meu-boi, seguem, então, os mercenários do EuroBasket, devidamente catalogados. De 24 seleções nacionais, apenas Eslovênia, Estônia, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Rússia e Sérvia (sem contar os jogadores nascidos em territórios balcânicos fronteiriços…) não estão fazendo uso de reforços estrangeiros:

Anton Gavel, versão eslovaca

Anton Gavel, versão eslovaca

Alemanha: Anton Gavel, armador.
País de origem: Eslováquia
Categoria: homem de duas pátrias.
Jogou por outra seleção? Sim.
Vínculo: ele mora em território alemão desde 2000. Ganhou o passaporte em janeiro de 2013. Embora tenha defendido a seleção eslovaca em 2005, 2007, 2009, 2011 (sempre pela Segunda Divisão do EuroBasket) e até mesmo dois anos atrás, na qualificação para o torneio, pediu à Fiba para que pudesse mudar de nacionalidade em competições internacionais. “Já joguei por meu país nativo no passado, mas gostaria de jogar pela Alemanha, o país que virou minha segunda casa”, afirmou o atleta do Bayern de Munique. Em agosto, recebeu o sinal verde da federação.

Com a modalidade em franca expansão em seu território, é de se imaginar que a confederação germânica não vá apelar a esse tipo de expediente num futuro próximo, mesmo que Dirk Nowitzki esteja nas últimas. Chris Kaman já foi um desses reforços meio mambembes no passado, depois que descobriram que um de seus avós era alemão. Bom defensor, Gavel tem média de 25,5 minutos pela seleção alemã em duas partidas até o fechamento deste texto. Acertou apenas quatro de 12 arremessos de quadra e 1 de 8 de longa distância. A ironia é que, soubesse o técnico norte-americano Chris Flemming que teria tantos desfalques em sua linha de frente, talvez o país fosse procurar algum pivô para naturalizar.

Bélgica: Matt Lojeski, ala
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: antes de se transferir para o poderoso Olympiakos, Lojeski jogou no basquete belga por seis temporadas, período no qual obteve cidadania. Foi pelo Oostende que ele arrebentou:  Nesse período, levando em conta seu sobrenome, é de se deduzir que algum país do Leste europeu deu bobeira. conquistando duas copas e dois campeonatos belgas, sendo eleito MVP de ambas as competições em 2013.

Americano pouco badalado nos tempos de universitário, Lojeski se tornou um cestinha de primeira linha na Europa e é importantíssimo para a seleção belga. Na verdade, é seu melhor jogador, com média de 16,3 pontos, 4,0 rebotes e 3,3 assistências em três rodadas e aproveitamento de 59,4% nos arremessos de quadra, incluindo 50% dos três. No domingo, protagonizou um dos grandes momentos da competição até o momento, fazendo a cesta da incrível vitória sobre a Lituânia, que deixou o Grupo D bastante embolado.

E o que mais? A Bélgica ainda conta com três jogadores nascidos no Congo: o armador Jonathan Tabu, o ala Wen Mukubu e o pivô Kevin Tumba. Tabu foi revelado pelo Charleroi e Tumba, pelo Mons-Hainaut. Já Mukubu cresceu nos Estados Unidos, jogando high school e no basquete universitário. Aos 33 anos, já rodou o mundo e só em 2011 chegou à Bélgica.

Bósnia-Herzegovina: Alex Renfroe, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: hã… Nenhum, gente. Hoje atleta do Bayern de Munique, aos 29 anos, Renfroe construiu seu currículo aos poucos na Europa, à qual chegou em 2009, via Letônia. Passou por Croácia, Itália, Espanha, Alemanha, Rússia, voltou à Espanha e, na temporada passada, regressou à Alemanha, onde fez bela temporada pelo Alba Berlin. Nunca defendeu um clube de seu novo país e, ainda assim, recebeu o passaporte bósnio neste ano para poder jogar o EuroBasket, desbancando o compatriota Zach Wright, que havia disputado o torneio em 2013.

Num time sem Mirza Teletovic e Jusuf Nurkic, não havia muito o que fazer, mesmo. De todo modo, para justificar seu passaporte, Renfroe topou se matar por Dusko Ivkovic nos treinos. Titular na armação, tem médias de 9,3 pontos, 5,3 assistências e 5,0 rebotes, matando 71,4% dos arremessos de fora. É um armador que não estrela jogadas espalhafatosas, mas dá estabilidade ao ataque.

Croácia: Dontaye Draper, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Draper foi outro que viajou bastante antes de conhecer a Croácia de perto. Jogou pelo Cedevita Zagreb de 2010 a 2012 e durante esse período ganhou a cidadania. Pelo clube croata, fez sucesso e foi MVP da Eurocup 2011. Sua cotação subiu tanto que, de lá, saiu para o Real Madrid. Hoje ganha uma bolada pelo Lokomotiv Kuban, da Rússia. Jogou os últimos dois EuroBaskets.

Draper, um dos dois armadores americanos para a seleção croata

Draper, um dos dois armadores americanos para a seleção croata

Aqui, talvez a maior heresia. A seleção croata importando um armador dos Estados Unidos. E só piora: na verdade, Draper dessa vez foi chamado de última hora. Sua vaga seria ocupada por Oliver Lafayette, que se lesionou durante a fase de preparação e defendeu o país na última Copa do Mundo. Ao contrário do compatriota, Lafayette jamais jogou por um clube croata. O mais perto que chegou do país foi pelo Partizan Belgrado. Ai. Ainda assim, teve sua nacionalização bancada pelo comitê olímpico croata, com base em “interesses esportivos”. Então tá. Curiosamente, Draper teve média de apenas 13 minutos por partidas nas duas primeiras rodadas. Precisava?

Espanha: Nikola Mirotic, ala-pivô
País de origem: Montenegro.
Categoria: homem de duas pátrias.
Vínculo: olha, é difícil descrever em detalhes a novela espanhola da qual faz parte Mirotic, que se mudou para Madri, para jogar pela base do real em 2005, aos 14 anos. Somente em 2010, porém, que foi naturalizado. Quando os dirigentes já sabiam que estavam lidando com um craque, diga-se, sendo obrigado a renunciar a seu passaporte montenegrino. Naquele ano, foi destaque do EuroBasket Sub-20, levando a medalha de bronze. Voltaria a jogar pelo torneio em 2011, sendo dominante.  Desde, então, porém, chegou a bater boca publicamente com os dirigentes espanhóis, afirmou que voltaria a Montenegro e tudo o mais, enciumado pela preferência dada a Serge Ibaka em verões passados. Não deixa de ser vergonhoso que um país que se orgulhe tanto de sua produção de talentos desde as Olimpíadas de 1992 apele desta maneira.

Mirotic, MVP do EuroBasket sub-20 em 2011. Sem barba

Mirotic, MVP do EuroBasket sub-20 em 2011. Sem barba

Com Ibaka afastado por divergências esportivas, digamos, Mirotic enfim foi convocado para uma competição internacional. Está a serviço de uma grande seleção, porém, com minutos controlados numa rotação que inclui seu companheiro de Chicago, Pau Gasol, e seu ex-parceiro de Real, Felipe Reyes. Demora um pouco para ele se soltar, mas é de se esperar que um talento desse nível eventualmente vá causar grande impacto pela seleção espanhola. Para um futuro sem Gasols, deve se tornar a referência do time.

Finlândia: Erik Murphy, ala-pivô, e Jamar Wilson, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categorias: descendente e pagou pedágio.
Vínculo: a história de Murphy, ex-jogador do Chicago Bulls e hoje no Beskitas, é simples: sua mãe, Päivi, é finlandesa. Por isso, no futuro, dependendo de seu conturbado desenvolvimento na NCAA, pode ser que o irmão caçula, Alex Murphy, também entre para essa alcateia. Erik já disputou no ano passado a Copa do Mundo. Natural do Bronx, Wilson se formou por Albany em 2007 e partiu para a Europa. Jogou na Bélgica de 2007 a 2010, quando migrou para a Finlândia. Ficou uma só temporada na liga escandinava, jogando pelo Honka Espoo Playboys. : ) Talvez traumatizado com o frio, arrumou as malas e se mandou para a Austrália, onde jogou até este ano. Agora, assinou com o Rouen, da França.

Murphy já virou O Cara. Como se escreve isso em finlandês?

Murphy já virou O Cara. Como se escreve isso em finlandês?

Depois de um ano de adaptação, Murphy já se tornou o cestinha finlandês, com 16,7 pontos, e também o principal reboteiro, com 9,0, em 32 minutos. Wilson joga exatamente a metade, mas ajuda Petteri Loponen na armação, com 9,7 pontos e 2,0 assistências.

Geórgia: Jacob Pullen, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: fora o passaporte, nenhum. Não fosse a lesão sofrida por Ricky Hickman pelo Fenerbahçe, talvez nem estivesse aqui, embora já tenha disputado a edição de 2013. Estrela de Kansas State de 2007 a 2011, Pullen foi bem examinado pelos scouts americanos, mas não teve propostas da NBA. Está vagando pela Europa há um tempo, então, tendo descolado inclusive um contrato do Barcelona. Ficou pouco tempo, porém, na Catalunha e, após o EuroBasket, vai defender o Cedevita Zagreb.

Pullen é um belo arremessador, mas não acertou quase nada nas duas primeiras partidas. Foram apenas duas cestas de quadra em 12 tentativas. Zaza Pachulia e a Geórgia obviamente esperam que ele renda mais para que tentem se recuperar no torneio e alcançar a fase de mata-matas.

Grécia: Nick Calathes, armador, e Kosta Koufos, pivô
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: descendentes.
Vínculo: os bisavós de Calathes emigraram da Grécia para os Estados Unidos. Seu avô nasceu já nasceu em Nova York em 1926. Já um jogador de destaque pela Universidade da Flórida, o armador se aproveitou da facilidade de se obter a cidadania grega e se mandou para a Europa em 2007, assinando com um clube do porte do Panathinaikos. Com altos e baixos na NBA, sempre numa luta ferrenha por tempo de quadra, decidiu voltar ao clube para a próxima temporada, num contrato que vai lhe pagar, líquido, US$ 7 milhões. Presença constante na seleção helênica. Já Koufos tem pais gregos e talvez represente minha trívia predileta. Ele nasceu em Ohio e e fez o circuito básico de um prospecto americano. Nunca jogou por um clube europeu, tendo recusado uma proposta do Olympiakos de 5 milhões de euros por três anos. O pivô não defendia a seleção desde 2011, mas também participou de torneios de base pelo país.

A presença de Calathes e de Koufos faz da Grécia um dos elencos mais completos e vastos do EuroBasket. O excesso de jogadores ajuda que tenham minutos controlados. O armador ficou 41 minutos em quadra nas duas primeiras rodadas, enquanto Koufos jogou 37. O pivô, em especial, é um grande reforço, sendo um defensor muito mais atento e eficiente que Bourousis. Além disso, tem arremesso de média distância.

Holanda: Nicolas de Jong e Robin Smeulders, pivôs
Origem: França e Alemanha.
Categorias: descendentes e o mais puro samba do crioulo doido.
Vínculo: ah, a Europa, e suas múltiplas fronteiras e curtas distâncias. Temos aqui um time cheio de “estrangeiros”, mas que, na verdade, têm escalação mais coerente do que a da maioria dos atletas aqui listados. Vamos lá: Nicolas de Jong nasceu na França, com pai holandês, e fez carreira por lá. Já Smeulders tem mãe austríaca e pai holandês, mas nasceu em Muenster, na Alemanha. Por isso, tem tripla nacionalidade. Para complicar, passou a infância entre terras germânicas e holandesas, fez colegial no Havaí e se formou pela Universidade de Portland em 2010. Como profissional, jogou sempre na Alemanha e hoje defende o Oldenburg. Para completar, o ala Worthy de Jong e o armador Charlon Kloof vieram do Suriname, então nem contam, enquanto  Mohamed Kherrazi nasceu no Marrocos, mas emigrou cedo. E eu, inicialmente, achando que o armador Leon Williams era o gringo aqui. Apesar do nome, nasceu na Holanda, mesmo.

Smeulders tinha três países para escolher em sua carreira Fiba

Smeulders tinha três países para escolher em sua carreira Fiba

Numa equipe surpreendentemente competitiva, esses caras jogam todos. Kloof foi o cestinha nas duas primeiras rodadas, com 31 pontos em 28 arremessos. Um baita de um fominha, pelo jeito. De resto, os números e os minutos são bem divididos entre dez homens de rotação.

Israel: D’Or Fischer, pivô
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: o pivô revelado pela tradicional Universidade de West Virginia em 2005 tem contrato assinado com o Hapoel Jerusalem para a próxima temporada. Mas esta não será sua primeira passagem pela liga israelense. Por dois anos, entre 2008 e 2010, ele jogou pelo Maccabi Tel Aviv. Seu passaporte, porém, só saiu no ano passado, garantindo participação no torneio de classificação para o EuroBasket.

Num país sem muita mão-de-obra qualificada, Fischer aparece como peça de apoio valiosa ao trio Casspi, Mekel e Eliyahu, especialmente num setor muito carente como o garrafão. Sua contribuição é na proteção de aro, jogando na cobertura de alas talentosos ofensivamente, mas que nunca tiveram a defesa como ponto forte. No ataque, depende da criação dos outros e costuma produzir com eficiência, mas sem muito volume. Não é algo que faça falta nessa seleção.

Macedônia: Richard Hendrix, pivô
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: ao sair do high school, o pivô natural do Alabama era considerado umas das principais apostas de sua geração. Embora tenha sido muito produtivo na universidade, viu sua cotação com os scouts profissionais se esvair aos poucos. Draftado em 2008, foi mandado para diretamente para a D-League. Em 2009, cruzou o Atlântico em busca de salários mais compatíveis com o seu talento. Mas, não: assim como o armador Bo McCalebb, que pediu folga este ano, nunca jogou por um clube da Macedônia.

Sem McCalebb e sem Pero Antic, o técnico Marijan Srbinovski optou pela nacionalização de um pivô. Hendrix pode fazer de tudo um pouco pela seleção, embora seja no rebote em que ele se destaca mais. De todo modo, seu rendimento no EuroBasket vem sendo bastante tímida, longe de justificar sua contratação.

Polônia: AJ Slaughter, ala
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: É… Mais um que, se pisou na Polônia antes de receber o passaporte, foi para jogar como visitante, já que defendeu clubes da Itália, da França e, por último, o Panathinaikos em uma carreira europeia que se iniciou em 2010. Agora vai jogar pelo Banvit, emergente turco. Ocupa a vaga que já foi do veterano David Logan.

Slaughter fez seu nome no mercado europeu como um cestinha atlético e agressivo, de primeiro passo explosivo rumo ao aro. Pelo Panathinaikos, porém, em sua estreia pela Euroleague, não teve das campanhas mais produtivas. Em uma seleção que já conta com cestinhas fogosos e jovens como Adam Waczynski e Mateusz Ponitka, parece ter sido um reforço um tanto redundante.

República Tcheca: Blake Schilb
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Schilb ao menos usou o basquete tcheco para se inserir no mercado europeu, quando deixou quando deixou a Universidade de Loyola (Illinois) para jogar pelo CEZ Nymburk, principal equipe do país. Foi bicampeão tanto da liga como da copa em 2008 e 2009. Saiu, então, para a França, onde jogou por seis anos. Acabou de assinar com o Galatasaray.

Schilb está na seleção tcheca para arremessar

Schilb está na seleção tcheca para arremessar

Schilb é uma das contratações que mais deu certo nesta primeira fase. Dá poder de fogo e aparece como uma terceira força muito bem-vinda à seleção que, hoje, conta com basicamente dois atletas na elite europeia: Jan Vesely e Tomas Satoransky. David Jelinek não vingou como o esperado e Jiri Welsch e Lubos Barton já estão bem próximos da aposentadoria.

Turquia: Bobby Dixon, armador
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Você pode chama-lo de Robert Lee Dixon, Bobby ou, agora, de Ali Muhammed, desde que retirou seu passaporte turco há questão de semanas. O baixinho e veterano de 32 anos já está na Europa desde 2006, tendo alternado basicamente passagens por França e Itália. Foi na Turquia, todavia, em que se encontrou como estrela, vestindo a camisa do Pınar Karşıyaka, mais uma equipe que vem fazendo sucesso por aquelas bandas, se classificando para a Euroliga. Vindo de ótimas campanhas, foi contratado pelo Fenerbahçe.

Dixon, mas também pode chamar de Muhammed

Dixon, mas também pode chamar de Muhammed

Entre todos esses reforços, é sem dúvida aquele que está causando maior impacto, assumindo as rédeas de uma seleção cheia de alas e pivôs talentosos e experimentados, mas que tinha armação no mínimo suspeita. Vem pecando nas finalizações, mas consegue acelerar o ataque de Ergin Ataman com bom controle de bola, colocando Ilyasova, o jovem Cedi Osman e o irregular Semih Erden para jogar.

Ucrânia: Jerome Randle, armador
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: depois de ser dispensado pelo Dallas Mavericks em 2011, Randle circulou por aí. A Turquia foi seu destino mais frequente, mas a Ucrânia não esteve entre suas escalas.  Em entrevista ao Deadspin, o baixinho deixa bem claro o que está em jogo para ele no EuroBasket: sem contrato, quer ganhar projeção internacional e um salário generoso na próxima temporada. Quem sabe na NBA, sua obsessão?

Sem Jeter, Alex Len, Gladyr, Mykhailiuk, Pecherov e Kravtsov, a seleção ucraniana não entrou em quadra com as melhores perspectivas. Com tantos desfalques, incluindo Eugene “Pooh” Jeter – que foi, inclusive, um dos responsáveis por sua contratação –, Randle sabe que vai ter minutos e espaço suficiente num grande palco para tentar impressionar os scouts. No ataque, a prioridade é toda de Randle, que vem liderando o time em pontos, arremessos, assistências – e turnovers. É o suficiente para impressionar alguém?

Por isso, topou jogar de graça por um país abalado pela guerra interna. “Não há dinheiro investido na seleção nacional este ano porque eles têm muito mais com o que se preocupar. As coisas que ouvi dos jogadores… É algo muito ruim. Quando falam a respeito, você percebe a tristeza. Então, para mim, levo isso como um desafio pessoal. Quero tentar animá-los de alguma forma”, afirmou. Ao menos isso, né?


EuroBasket vai começar: sete apostas, a legião da NBA e os desfalques
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Giancarlo Giampietro

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

Existem pré-olímpicos e existe o EuroBasket.

Realizado a cada dois anos, o torneio europeu, para muitos de seus integrantes, vale talvez até mais que um Mundial, por questões de orgulho nacional e rivalidades regionais. É só ver a festa que a França fez na última edição, na Eslovênia, ao enfim derrotar a poderosa Espanha pela semifinal, num jogo daqueles mais dramáticos que se vai encontrar por aí. Para eles, foi a glória maior, ratificada, então, numa decisão bem mais tranquila contra a Lituânia.

Tem de comemorar, mesmo. Pois não é fácil chegar lá. Essa é disparada a competição continental mais dura no circuito Fiba, em que pese as loucuras que temos visto na Copa América. Ainda assim, ao avaliar o que tem acontecido nos últimos anos, é possível detectar algum padrão.

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A Espanha impressiona por sua consistência, graças a uma geração fenomenal liderada por Pau Gasol. Os ibéricos fizeram parte dos últimos quatro pódios. Ficaram entre os três primeiros em cinco de seis torneios desde 2001. Só em 2005 dançaram. Nomes importantes como Jorge Garbajosa, Carlos Jiménez, Raul López e Fran Vázquez já ficaram pelo meio do caminho. Juan Carlos Navarro e José Calderón estão no fim da linha também. Mas segue uma potência a ser temida.

Desempenho os amistosos

Desempenho os amistosos

Ainda assim, a França é a seleção do momento, o time a ser batido, com um elenco vasto, experiente, atlético, e tendo ainda a vantagem de ser a anfitriã dos mata-matas, para o qual deve passar como a primeira colocada do Grupo A. Confira aqui todas as chaves, com uma ressalva: respire fundo antes de espiar o que acontece no Grupo B.

Como disse em texto dedicado à Itália (que mais parece o Brasil), é o anúncio de uma carnificina. Pense em Walking Dead, Jogos Mortais, Game of Thrones, Kill Bill Vol 1. Um sorteio que põe Espanha, Sérvia, Itália, Turquia e Alemanha no mesmo grupo é qualquer coisa de sádico. (Só foi possível graças aos deslizes de italianos, turcos e alemães em tempos recentes – o ranking Fiba não reconhece que a Azzurra tenha hoje Gallinari & Cia, ou que a Alemanha conta com Dirk e Schröder dessa vez). Coitada da valente Islândia, que não tem nada a ver com essa história, enfrentando cinco times que chegam a Berlim com pretensões reais de vaga olímpica. E o que vai sair disso? Bem, um deles já será eliminado de cara. Outro vai passar em quarto e terá de se virar com a França logo de cara. Quem cair nas oitavas também não terá mais como vir ao Rio de Janeiro.

É assim: os dois finalistas asseguram classificação automática, enquanto as equipes que ficarem entre terceiro e sétimo ganham uma segunda chance no Pré-Olímpico mundial. Então você tem de dar um jeito de chegar às quartas, entre os oito primeiros. Mesmo os derrotados nessa fase ainda terão de encarar um torneio de consolação mais valioso que o habitual, tendo inclusive uma “final” pelo sétimo lugar.

Ignorando qualquer noção de prudência, devido ao desequilíbrio entre grupos, segue, então, meus palpites de vagas – tanto as para valer, como as alternativas:

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

1 – França
Os atuais campeões, e com um time que chega muito perto de sua força máxima, com o retorno de Tony Parker para fazer um trio estelar com Boris Diaw e Nicolas Batum, os dois que lideraram o time rumo ao Bronze na Copa do Mundo. Se há uma seleção que pode compensar ausências como as de um Joakim Noah e um Alexis Ajinça, é a francesa, contando com o emergente Rudy Gobert para afugentar os atacantes adversários do garrafão. Noah, a essa altura, já não parece uma peça com a qual se possa contar. Ajinça seria um reserva de luxo para Gobert.

É um elenco vasto, de capacidade atlética incrível e muita versatilidade, que pode ser medido por sua nota de corte: dois jogadores da NBA vão assistir de fora (Kevin Seraphin e Ian Mahinmi), assim como jogadores cobiçados no mercado europeu como o ala Edwin Jackson, ex-Barça, hoje no Unicaja, e o ala-pivô Adrien Moerman, do Banvit, e o armador Thomas Heurtel, tirado do Baskonia a peso de ouro pelo Anadolu Efes. Nem mesmo depois de Antoine Diot se lesionar na reta final de preparação, Heurtel conseguiu a vaga. O reserva de Tony Parker será o espichado Leo Westermann, cujos direitos pertencem ao Barcelona, que ainda não o aproveitou. Joga pelo Limoges, em casa.

Selo NBA: Tony Parker, Boris Diaw, Nicolas Batum, Rudy Gobert, Evan Fournier e Joffrey Lauvergne.
Desfalques: Joakim Noah, Alexis Ajinça, Antoine Diot e Fabien Causeur (que teria dificuldade para entrar no grupo final, de qualquer forma). 
Reforço estrangeiro? Para quê!? 

2 – Sérvia
Talento não falta aqui, obviamente. Nunca faltou. Ainda assim, nas últimas cinco edições, o país conseguiu apenas uma medalha: a prata em 2009, levando uma surra da Espanha na final. O problema é a inconstância de seus jogadores, que muitas vezes se permitem levar por intrigas extraquadra e uma ciumeira que só. O vice-campeonato na última Copa do Mundo, porém, sinalizou uma geração mais unida, guiada com firmeza e carisma pelo ex-armador Aleksandar Djordjevic.

Se essa organização for mantida, a aposta é que a combinação da categoria e jogo cerebral de Milos Teodosic, o arrojo de Bogdan-Bogdan e Nikola Kalinic e o pacote completo de Bjelica possa fazer a diferença, ainda mais escoltados por pivôs muito físicos. Não é fácil trombar com Raduljica e Nikola Milutinov, o jovem recém-contratado pelo Olympiakos e draftado pelo Spurs. Não bastassem os pesadões, Djordjevic ainda tem um Zoran Erceg com grande confiança nos disparos de longa distância e Ognjen Kuzmic, ex-Warriors, já mais atlético.

Selo NBA: Nemanja Bjelica (bem-vindo!).
Desfalques: Nenad Krstic e Boban Marjanovic.
Reforço estrangeiro: coff! coff! Foi até engraçado que, antes do Final Four da Euroliga, Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic foram questionados sobre a possibilidade de o país, vice-campeão mundial, naturalizar algum norte-americano para brigar pelo ouro olímpico. Responderam que, se acontecesse, não jogariam mais pela seleção. 

3 – Espanha

A dupla do Bulls - e da Espanha

A dupla do Bulls – e da Espanha

O palpite mais conservador colocaria os espanhóis entre os dois primeiros, fato. Estivesse Marc Gasol no páreo, seria difícil seguir outro rumo. Mas o pivô quis férias, para descansar a cabeça e cuidar tranquilamente da renovação com o Memphis. Desta forma, aumenta a carga sobre Pau Gasol. O já legendário pivô fez grande temporada pelo Chicago Bulls, mas vai correr um risco ao encarar a pressão do EuroBasket sendo tanto a principal referência ofensiva da seleção como sua maior esperança para se ter uma defesa consistente. Faz como? Serge Ibaka faz falta nesse sentido, mas as desavenças do passado afastaram o congolês. Suas habilidades, em tese, seriam mais relevantes que as de Nikola Mirotic nessa equipe em específico.

No papel, ainda estamos falando de um timaço. Os torcedores do Bauru vão ficar ligadaços no núcleo madridista de Sergio Rodríguez, Sergio Llull, Rudy Fernández e Felipe Reyes. Estão entrosados e revigorados pelo título da Euroliga. Mas, mesmo dentro da Espanha, a sensação é de que a transição da geração Gasol para a próxima ainda se pauta pela incerteza, a despeito do retorno de Sergio Scariolo. São muitas peças valiosas, mas que talvez não se encaixem perfeitamente.

Selo NBA: Pau Gasol, Nikola Mirotic. 
Desfalques: Marc Gasol, Juan Carlos Navarro, José Calderón, Ricky Rubio e Alejandro Abrines. 
Reforço estrangeiro? Nikola Mirotic, que assumiu a vaga de Serge Ibaka.

4 – Lituânia
Em termos de continuidade, o trabalho de Jonas Kazlauskas está à frente do que os gregos têm para oferecer, e isso pode fazer a diferença. Caras como Jankunas, Javtokas, Kalnietis, Maciulis e Seibutis estão na estrada há um tempo e sabem o que precisa ser feito. É curioso até: em termos de grife ou badalação, ninguém dá muita bola para eles. Mas estão sempre chegando. Mesmo que não tenham a armação mais segura ou elucidativa.

Se a troca de guarda ainda está demorando para acontecer, a boa notícia para esse país devoto ao basquete é que seu principal jogador hoje é justamente um dos mais jovens: Jonas Valanciunas. Pela seleção, o companheiro de Caboclo e Bebê é uma figura muito mais influente e difícil de ser barrada. Em termos de sangue novo, também vale ficar de olho em Domantas Sabonis, que tem sangue real, vem numa curva de desenvolvimento acelerada desde que se inscreveu na universidade de Gonzaga e foi o último a se estranhar com Matthew Dellavedova:

Selo NBA: Jonas Valanciunas.
Desfalques: Donas Motiejunas. (Se alguém estiver se perguntando sobre Linas Kleiza, é que o veterano foi muito mal na última temporada pelo Olimpia Milano e, depois de inúmeras lesões no joelho, não é sombra daquele jogador que já aterrorizou o mundo Fiba).
Reforço estrangeiro? Ainda não cometeram esse sacrilégio — embora as primeiras seleções lituanas da história fossem compostas quase na íntegra por norte-americanos descendentes. 

5 – Grécia
Assim como Parker retorna à França, a seleção helênica acolhe calorosamente Vassilis Spanoulis entre os 12 do EuroBasket. Em torno do craque grego também geram as mesmas questões, no entanto: qual a sua forma física? Ele terá estabilidade e pique para poder ficar em quadra nos momentos decisivos (que não o amedrontam de modo algum)? Se a resposta for positiva, a Grécia ganha um trunfo enorme para tentar retornar ao pódio pela primeira vez desde 2009.

O conjunto de Calathes, Zisis, Sloukas e Mantzaris ao menos está lá para preservar o camisa 7. Em termos de quantidade, ninguém tem uma relação de armadores que se equipare a essa, aliás. O desafio do técnico Fotis Katsikaris, que vai dirigir Augusto e Benite no Murcia, será distribuir minutos entre tantos atletas de ponta. Ou afagar aquele que eventualmente fique fora da rotação. Embora o garotão Giannis Antetokounmpo seja um Vine ambulante, este não é o time mais atlético. A expectativa aqui é de que os fundamentos, a experiência e o espírito vencedor de muitos de seus jogadores compensem isso. Para chegar à disputa por medalhas, porém, terão de derrubar muito provavelmente ou a Espanha ou a Sérvia nas quartas. Ai.

Selo NBA: Giannis Antetokounmpo, Kosta Koufos, Kostas Papanikolau (por ora).
Desfalques: Dimitris Diamantidis (ele já se aposentou da seleção, mas está em forma, caminhando para a última temporada como profissional). Sofoklis Schortsanitis não foi convocado e, creio, não deve mais jogar pela equipe. 
Reforço estrangeiro? Bem… Nick Calathes e Kosta Koufus nasceram, respectivamente, na Flórida e em Ohio. Os sobrenomes entregam a ascendência, de todo modo. 

6 – Croácia
Sim, sim… Talvez eles estejam numa posição muito baixa. Podem muito bem ser os campeões. Mas a mera possibilidade de pensar essa fornada croata como a sexta força continental só mostra o quão difícil pode ser um EuroBasket. O que sabemos é que os caras chegam muito otimistas à competição, por conta de dois fatores mais relevantes que o fato de terem vencido todos os seus amistosos preparatórios.

Saric e Hezonja, só o começo

Saric e Hezonja, só o começo

O primeiro é o progresso dos garotos, rodeados por jogadores muito rodados. Dario Saric e Mario Hezonja têm mais três ciclos olímpicos pela frente e já estão prontos para render em alto nível, sem precisar assumir obrigatoriamente o protagonismo. A prioridade em quadra ainda merece ficar com dois veteranos que estão no auge e encantam pela perfeição de seus movimentos, sem distinção entre eles: o gigante Ante Tomic, que não deve jogar na NBA, mesmo, e o classudo Bojan Bogdanovic, que se soltou um pouco ao final de sua primeira temporada pelo Brooklyn Nets e que, no mundo Fiba, é um cestinha letal. O segundo fator que os empolga é a presença de Velimir Perasovic no banco. O croata de 50 anos vem de grandes campanhas pelo Valencia e chega à seleção com estofo e moral para comandar um elenco ardiloso.

Selo NBA: Bojan Bogdanovic, Mario Hezonja e Damjan Rudez. 
Desfalque: Oliver Lafayette.
Reforço estrangeiro? Na falta de um armador norte-americano, apela-se a outro: Dontaye Draper. A Croácia cometeu a heresia que a Sérvia até o momento evita.

7 – Itália
Simone Pianigiani tem ao seu dispor a seleção que talvez tenha o maior poderio ofensivo, ao menos em termos de arremesso. Gallinari, Bargnani, Gentile, Datome, Belinelli… É artilharia pesada, que pode torturar qualquer defesa. Ainda assim, isso não é garantia de nada. Até porque são belos atacantes, mas que, do outro lado da quadra, não inspiram tanta confiança assim. Além do mais, já estamos cansados de ver seleções com muitos nomes naufragarem devido à tormenta de egos. Vamos ver se eles terão coesão e consciência para encarar um grande desafio, precisando render em alto nível logo de cara, nesse grupo dificílimo.

Selo NBA: Danilo Gallinari, Andrea Bargnani, Marco Belinelli. 
Desfalques: Luca Vitali. 
Reforço estrangeiro? Daniel Hackett nasceu na Itália, filho de ex-jogador norte-americano, e se formou como jogador na Califórnia. Mas é italiano e joga por clubes do país desde 2009. Não conta. 

Batendo à porta
Pode parecer um tremendo desrespeito a Dirk Nowitzki… Mas, aos 37 anos, o legendário cestinha precisaria fazer um de seus melhores torneios para levar a Alemanha adiante, mesmo estando acompanhado pelo sensacional Dennis Schröder e por mais uma opção ofensiva de elevada qualidade como Tibor Pleiss. Acontece que o excelente treinador Chris Flemming, americano que fez carreira no basquete alemão e agora será assistente no Denver, perdeu muitos jogadores em seu elenco de apoio, especialmente na linha de frente. Entre Maik Zirbes, Maximilian Kleber, Elias Harris e Tim Ohlbrecht, teria opções de sobra (e muito vigor físico) para dosar os minutos de Dirk.

A saideira de Nowitzki?

A saideira de Nowitzki?

É ainda mais difícil deixar a Turquia fora do grupo acima. Mas algum país terá de ser a vítima no Grupo B. É a minha escolha. Na Copa do Mundo, a seleção chegou às quartas de final. Jogando em Berlim, ao menos vai ter a vantagem de praticamente jogar em casa. É certo que o ginásio vai bombar devida à imensa colônia que está na capital alemã. Ainda assim, Omer Asik faz muita falta na proteção defensiva, com todo o respeito a Semih Erden e Oguz Savas. Olho, de todo modo, nos jovens Cedi Osman e Furkan Korkmaz. Para Tóquio 2020, devem ser dois atletas temidos em cenário internacional.

Sem chances?
A Eslovênia está sem Goran Dragic, o que equivale a 80% de sua força criativa. O país parece encarar o torneio como a chance de dar bagagem à garotada, listando  cinco atletas nascidos na década de 90. Zoran Dragic terá a oportunidade de tirar a ferrugem, de tanta piscina e praia que tenha pegado em Phoenix e Miami. Jaka Blazic, do Estrela Vermelha, é um atleta que sempre dá gosto de ver. Canhoto agressivo, inventivo rumo à cesta que me passa a impressão de ainda ter potencial ainda a ser explorado.

A Bósnia-Herzegovina poderia apresentar uma linha de frente para lá de enjoada, caso contasse com Mirza Teletovic, e Jusuf Nurkic. Teletovic costuma ser uma figura constante em torneios europeus, mas pediu folga, para cuidar de sua preparação para a NBA, entrando num ano importante pelo Phoenix Suns em busca de um contrato longo e polpudo na próxima temporada. Para o promissor pivô do Nuggets, o motivo é a recuperação de lesão e cirurgia no joelho. O tresloucado Dusko Ivanovic, todavia, vai fazer com que o time se mate em quadra a cada rodada.

A Geórgia tem um elenco interessante: Zaza Pachulia, um bom reserva para ele em Giorgi Shermadini e dois matadores de bola em Jacob Pullen e Manuchar Markoishvili, além do energético Tornike Shengelia, orientados por Igor Kokoskov. É um time com bom potencial ofensivo e que, jogando num grupo mais fraco, deve ir aos mata-matas. Mas dificilmente passarão das oitavas.

Potencial de zebra
A Finlândia não deve ser a Finlândia da vez, se é que vocês me entendem. Entre os scouts europeus, a Bélgica é apontada como uma seleção que pode surpreender, com três jogadores de ponta no continente (o armador Sam van Rossom, o ala Matt Lojeski e o ala-pivô Alex Hervelle) e um grupo que dosa juventude e experiência ao redor deles.

Velhos conhecidos da NBA
Só para constar, vai: a Polônia terá Marcin Gortat, Israel vai de Omri Casspi e Gal Mekel, a República Tcheca aposta muito em Jan Vesely (Vine sempre atentos também, por favor!).

Mais caras que fazem falta
Alexey Shved, Timofey Mozgov e Sasha Kaun (Rússia), Eugene Jeter, Serhiy Gladyr, Alex Len e Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia), Maciej Lampe (Polônia), Pero Antic (Macedônia), Kristaps Porzingis e Davis Bertans (Letônia).


Entrevista: Gallinari e o sonho italiano (e os paralelos com Brasil)
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Giancarlo Giampietro

Gallinari, Bellinelli e Bargnani, de volta à Itália após quatro anos

Gallinari, Bellinelli e Bargnani, de volta à Itália após quatro anos. Foto de 2011

“Acho que temos um time muito bom, especialmente se conseguimos finalmente reunir todo mundo, jogar todos juntos, algo que nunca fizemos, com os caras da NBA e nossos melhores da Europa. Temos uma grande oportunidade neste ano. Todos nós sabemos disso, ainda mais no ponto da carreira em que estamos.”

Pode me interromper se você, por um acaso, já ouviu discurso similar antes?

Esse é o Danilo Gallinari, falando ao VinteUm. Na mesma conversa, ele soltou esta: “No momento o basquete italiano não está num grande momento, podemos dizer. Não há muitas equipes que conseguem competir em alto nível pela Euroliga. O único é o Olimpia Milano, que, infelizmente, não foram capazes de fazer um bom campeonato neste ano. Tomara que nós, com a seleção nacional, possamos trazer alguma felicidade para nossos torcedores de um modo geral e causar um impacto positivo para o futuro”.

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Sim ele está falando sobre a outra Squadra Azzurra e sobre os problemas que uma antiga potência do basquete, de vasta tradição, vem enfrentado. Mas, se a gente trocasse o nome do país e, vá lá, um certo ex-atleta do Denver Nuggets, de quem Gallo foi companheiro, dá para dizer que há um paralelo muito curioso entre o momento atual vivido pela Itália e seus principais jogadores com aquela situação de há pouco que afligia tanto a CBB como a legião brasileira da NBA.

Gallinari, Italia, Italy team

Gallinari deverá ter Preldzic e a Turquia pela frente no EuroBasket em grupo duríssimo

Na temporada passada da liga norte-americana, houve um recorde de quatro atletas italianos inscritos: Gallinari, pelo Nuggets, Marco Bellinelli, então do Spurs, hoje no Kings, Andrea Bargnani, ex-Knicks, hoje Nets, e Luigi Datome, trocado do Pistons para o Celtics e agora no Fenerbahçce, da Turquia. O mesmo barulho que se faz com os nossos representantes por aqui é reproduzido lá, na Bota, com suas estrelas. São os caras que em geral dominam as (poucas) manchetes para além do futebol.

Como aconteceu no dia 14 de fevereiro deste ano, quando a federação do país informou que Gallinari, Bargnani e Datome haviam jantado em Nova York com o presidente Gianni Petrucci e o treinador Simone Pianigiani. Bellinelli tinha outros compromissos pelo All-Star Weekend da NBA e não pôde ir, mas já havia passado seu recado. Tanto ele como os três demais estavam comprometidos em representar o time nacional no próximo EuroBasket, a partir de 5 de setembro.

Bellinelli deve ter perdido um bom vinho e uma excelente massa, suponho. (Nada que ele não possa compensar com o salário de US$ 19 milhões, por três anos, que acabou de acertar com Vlade Divac em Sacramento). No jantar, por parte dos atletas e comitiva era de puro otimismo. O encontro havia acontecido na véspera, no qual os três se comprometeram que estariam juntos com o time nacional na disputa do EuroBasket, a partir de 5 de setembro. Coincidentemente, foi no mesmo dia em que Gallinari atendeu alguns poucos jornalistas na edição global do Basketball without Borders, o camp organizado pela liga americana em parceria com a Fiba. Entre eles, vocês já sabem.

Nos tempos de Milão, como grande aposta europeia

Nos tempos de Milão, como grande aposta europeia

Quando questionado por esta besta antiética e amoral do VinteUm se essa seleção italiana prometia ser a mais forte desde a equipe que ganhou a prata nas Olimpíadas de Atenas 2004 (derrotada na final pela Argentina de Magnano, vejam só), o ala afirmou prontamente que “sim”. Mas não sem complementar: “Quer dizer, espero que sim, que possamos ser. No papel, não há dúvida. a minha cabeça, consigo visualizar isso, acredito nisso, e posso dizer que é o que está na cabeça de todos nós. Mas sabemos que temos de mostrar isso em quadra, que temos de nos provar jogando. Não adianta falar e não fazer. Será um momento especial, e mal podemos esperar para que comece”.

A expectativa para juntar tantas peças, depois de tantos desencontros, desfalques e tropeços é mais que compreensível. Bem sabemos. Desde aquele time com Basile, Bulleri, Pozzecco, Marconato, a Itália exportou atletas para a NBA como nunca, mas ficou fora dos Jogos Olímpicos de 2008 e 2012 e dos Mundiais de 2010 e 2014. Consequência direta das dificuldades enfrentadas no EuroBasket, no qual terminou em oitavo na última edição em 2013, depois de dois vexames: sequer participou da competição em 2009 e terminou em vigésimo em 2011 (com Bargnani, Gallinari e Bellinelli, aliás, mas sem um elenco de apoio tão bom como o de agora). Em termos de clubes, as coisas pioram. “Hoje só o Olimpia Milano consegue competir em alto nível, e ele infelizmente não foi muito bem nesta temporada”, lembra Gallo, citando o ex-time que até chegou às quartas de final da Euroliga em 2014, mas foi uma grande decepção na campanha passada. Sem contar a quebradeira financeira geral que derrubou até mesmo o Mens Sana Basket, ex-Montepaschi Siena, que foi nada menos que heptacampeão entre 2007 e 2013. O clube, no entanto, faliu e caiu para a quarta divisão. Uma draga que só. “O que aconteceu com eles foi algo ruim para todos, e, não, só para Siena.”

A campanha da seleção de 2013, na Eslovênia, porém, já apresentou sinais positivos. Sem a turma dos Estados Unidos, o time de Pianigiani foi muito bem a primeira fase, vencendo todos seus cinco jogos, contra Grécia, Turquia, Rússia, Finlândia e Suécia. Na segunda, os rapazes ainda bateram a Espanha na prorrogação, mas perderam para Croácia e Eslovênia. Depois de eliminados pela Lituânia nas oitavas de final, as coisas desandaram com um revés contra a Ucrânia pelo chamado torneio de consolação, que ao menos valia vagas diretas para a Copa do Mundo. A última chance de classificação foi na disputa pelo sétimo lugar. Para azar, bateram de frente com a Sérvia, que, um ano depois, seria a vice-campeã mundial, vencendo o Brasil pelo caminho.

Hackett e Gentile dão mais corpo ao time italiano

Hackett e Gentile dão mais corpo ao time italiano

Lembrando essa campanha, Gallinari e seus companheiros de NBA fazem questão de dizer que a seleção italiana vai muito além deles, e é verdade. “Temos o Alessandro Gentile (ala de apenas 22 anos, selecionado em 2014 pelo houston Rockets), por exemplo, que poderia jogar na NBA na próxima temporada tranquilamente , mas vai continuar no Olimpia Milano. É muito talentoso. Acima dessa transição para o Houston, o que mais importa para mim é que ele esteja bem ao final da temporada, pois vamos precisar dele. Ele é uma peça fundamental, e, curiosamente, seria a primeira chance para jogarmos juntos”, afirmou.

Gentile é um cestinha de muito fundamento e coragem. Petro Aradori já é mais arrojado com a bola e oferece mais uma arma no arremesso de longa distância. Daniel Hackett é um armador de 1,98m, forte toda a vida, bom defensor e com capacidade para ganhar o garrafão. Andrea Cinciarini vai revezar com o ítalo-americano na condução, com um jogo mais seguro. Todos eles dão um bom corpo ao time. “Precisamos de todos eles. Em geral, em qualquer esporte coletivo, você não vai conseguir ter sucesso sem o apoio de seus companheiros. É o ponto básico aqui”, afirma Gallo.

A questão em quadra para essa fornada italiana fica voltada, por enquanto, à defesa e à capacidade de sacrifício de seus jogadores. O time tem um arsenal ofensivo impressionante. Um conjunto de chutadores talvez inigualável nesse torneio, em todas as posição. Mas há só uma bola para ser compartilhada, não é verdade? Como o ala do Nuggets registra, para ele será a primeira temporada ao lado de muitos dos selecionáveis. Pianigiani vai ter de fazer uma bela preparação para colocá-los na mesma página, entrosados. A seu favor pesa essa mentalidade de que “chegou a hora” por parte dos astros. Algo parecido com o que Magnano encontrou por aqui. Resta saber se isso vai pesar mais que a pressão e que, juntos, poderão compensar eventuais carências individuais na marcação.

Ah, e claro: além desse desafio de dar coesão a um time, que jamais pode ser menosprezado, há um outro probleminha: os adversários. Devido aos recentes deslizes em competições internacionais, na hora do sorteio do EuroBasket, a Itália foi colocada apenas no quinto pote, ao lado de Bélgica, Macedônia e Polônia — enquanto, no terceiro, estavam Finlândia e Ucrânia. No final, caíram num grupo insano, com Espanha, Sérvia, Turquia e a anfitriã Alemanha, que terá Dirk e Schröder. Além da Islândia, coitada. Dá para dizer desde já que essa chave é a Divisão Sudoeste do Eurobasket, com sangue escorrendo por todos os cantos, enquanto as outras são todas Divisões do Atlântico, numa moleza que só. Protejam-se, islandeses, vocês não têm nada com isso.

Os quatro primeiros de cada grupo passam aos mata-matas, mas avançar em quarto nessa chave italiana representaria muito provavelmente um confronto com os franceses, atuais campeões europeus e medalhista de bronze no Mundial, nas oitavas de final. Aí cumprica. Quem cair nesta fase não só estará fora da briga pelo título (dãr!), como também não terá chance de disputar uma vaga no Rio 2016. Via EuroBasket, apenas os dois finalistas terão classificação direta. Os times posicionados entre terceiro e sétimo serão redirecionados, então, para o novo formato de Pré-Olímpico mundial estabelecido pela Fiba, com 18 países divididos em três torneios.

“Não tivemos sorte no sorteio, e não vai haver margem de erro”, diz Gallinari. “Sabemos que não há favoritismo nenhum da nossa parte. Vamos ter de fazer por merecer e ganhar o respeito em quadra e ganhar o respeito em quadra”, completa. É aqui que se encerram os paralelos entre Itália e Brasil. Não é nada fácil a vida de uma equipe europeia nesses tempos… Mas ao menos o time estará completo, podendo, enfim, dar ao basqueteiro italiano ao menos o gostinho de vê-los juntos, para verificar seu verdadeiro potencial.


Em quem ficar de olho no F4 da Euroliga: Hickman e sua jornada
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Giancarlo Giampietro

Ricky Hickman, Maccabi Tel Aviv, Euroliga

Para quem ainda não está farto de tanta emoção, com o que se vem passando nos playoffs completamente alucinantes da NBA e com tantas surpresas no NBB, então é hora de abrir os braços para uma carga extra de drama – e basquete refinado – neste fim de semana. Mais especificamente na sexta-feira e domingo, com o Final Four da Euroliga.

A gente pode falar de Barcelona e Real Madrid, que fazem mais um clássico de matar, ou das constantes potências CSKA e Maccabi, que história não falta. Na verdade, vamos tratar desses clubes, sim, entre hoje e amanhã. Mas, antes, prefiro gastar um tempo com os protagonistas em quadra.

Sim, os melhores jogadores do mundo, inclusive os europeus, estão do outro lado do Atlântico. Parker, Nowitzki, irmãos Gasol, Pekovic, Gortat e tantos mais. Mas não quer dizer que o segundo maior torneio de clubes do mundo fique só com as sobras. Há diversos atletas que assinariam contratos na NBA sem a menor dificuldade, sendo peças relevantes, mas que, por circunstâncias diversas – entre as quais se destaca invariavelmente a adoração de fanáticas torcidas e alguns milhões de euros na conta –, seguem jogando perto de casa.

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Peguem, por exemplo, Juan Carlos Navarro. Desnecessário falar sobre o currículo, a reputação e o talento de La Bomba. Em sua única temporada nos Estados Unidos, ele não chegou a ser maltratado como Vassilis Sponoulis foi por Jeff Van Gundy em Houston, mas sofreu demais em um ano perdido do Memphis (60 derrotas!), no hiato entre os times de Hubbie Brown e Lionel Hollins. Ainda viu seu grande amigo Pau Gasol ser trocado. Um ano depois, correu de volta para Barcelona, aonde é rei, talvez chocado com a barbárie.

Este é um caso emblemático. Mas há diversos nessa linha: Erazem Lorbek, cortejado pelo Spurs ano após ano, mas que segue no Barça; Dimitris Diamantidis, o mito alviverde do Panathinaikos; Nikola Mirotic, o segundo grande sonho de qualquer torcedor do Bulls que se preze (o primeiro, claro, sendo um Derrick Rose 100%); sem contar os diversos americanos ignorados pelos Drafts da vida, mas que construíram e lapidaram toda uma carreira no velho mundo (Keith Langford, Daniel Hackett, Joey Dorsey, Ricky Hickman, Tremmell Darden, Aaron Jackson, Bryant Dunston etc. Etc. Etc).

Não dá para cravar que todos eles seriam bem-sucedidos num ambiente muito mais exigente do ponto de vista atlético, em que suas façanhas europeias talvez sejam ignoradas, tendo eles que batalhar novamente a partir do zero por respeito e o decorrente tempo de quadra. Dependeria muito da franquia, da diretoria e, claro, do técnico – sem contar a adaptação muitas vezes complicada, como Tiago Splitter e Mirza Teletovic podem testemunhar.

Há que prefira, então, evitar o risco, ficando numa zona de conforto, já bem remunerado. Mas também há aqueles que são simplesmente subestimados, mesmo, não vendo a hora de receber uma boa proposta, mas sem necessariamente estarem dispostos a assinar pelo salário mínimo da NBA, como fez Pablo Prigioni em seu primeiro ano de Knicks, já na reta final da carreira.

Pensando apenas nos quatro semifinalistas, vamos listar abaixo alguns craques que merecem ser observados com atenção, mas sem a menor preocupação se dariam certo ou não na NBA. Bons o suficiente para serem apreciados pelos que já fazem agora. Essa é uma lista que já deveria ter sido escrita antes, para relembrar o belíssimo campeonato que fez Andrés Nocioni, a versatilidade da dupla Emir Preldzic e Nemanja Bjelica, do Fenerbahce, o próprio Dunston, vigoroso pivô do Olympiakos, eleito o melhor defensor da temporada, o jovem italiano Alessandro Gentile, revelação do Olimpia Milano e candidato ao Draft deste ano, e muito mais.

Antes de chegar aos caras, um lembrete para contextualizar: para os que estão (bem) mais acostumados com a NBA, lembrem que o basquete Fiba é jogado em 40 minutos, e não 48. Logo, o tempo de quadra de uma partida da liga norte-americana é 20% maior, de modo que as estatísticas em geral são mais infladas por lá, fazendo alguns dos números abaixo parecerem tímidos. Além disso, a abordagem ofensiva das equipes de ponta da Europa tende a ser diferente, com mais jogadores assumindo responsabilidades, dividindo a bola, mesmo as que têm grandes cestinhas, que poderiam muito bem carregar um time nas costas.

E, ok, aqui entra o momento da propaganda: o evento será transmitido com exclusividade pelo Sports+, canal 28/128 da SKY, com este blogueiro lelé na equipe de equipe, ao lado do ultrafanático e informado Ricardo Bulgarelli e os narradores Maurício Bonato, Rafael Spinelli e Marcelo do Ó, que, cada um ao seu modo, ajudam a dar emoção ao jogo.

Vamos lá, enfim, a alguns destaques do F4, sem necessariamente ser os melhores do campeonato, mas apenas uma lista que dá na telha. Free style, mano, com pílulas publicadas nos próximos dias:

Ricky Hickman, armador do Maccabi Tel Aviv. 
28 anos, 12,8 ppj, 2,8 apg, 52,1% de 2 pts

Em Tel Aviv, é verdade: qualquer jogador que vista a camisa do Maccabi já pode ser considerado um astro. Nem que o apelo seja apenas local. Para Ricky Hickman, não importa nenhum asterisco, nem nada disso. A partir do momento em que assinou com a superpotência israelense em 2012, relevando algumas propostas financeiras mais atraentes, as coisas enfim passaram a fazer sentido, depois do tanto que remou. Agora, dois anos depois, no Final Four da Euroliga, é hora de curtir o basquete em alto nível.

Ok, para ser mais justo, vale dizer que o armador já havia disputado, na temporada anterior, o All-Star Game da Lega Basket, a liga italiana de pallanacestro. Um campeonato que já foi mais vistoso, mas que ainda merece o respeito. Mas chegar, enfim, a um clube de Euroliga, ainda mais um com essa tradição, era enfim a ratificação do sucesso em sua carreira. Depois de muita espera.

Vejam este currículo: PVSK Pecs na Hungria em 2007; em novembro do mesmo ano, transferência para o CS Otopeni Bucareste. Terminada a campanha, rumbora para  a Alemanha, nem que seja para defender time B do BG 74 Göttingen, numa liga regional. Em dezembro de 2008, assina-se, então, o Giessen 46ers, que hoje está na segunda divisão do país.

(Aqui vale um parêntese para falar sobre o Giessen: os caras já foram de elite e ganharam cinco títulos nacionais, o último nos anos 70, porém. Em seu perfil de Wikipedia, no entanto, o orgulho fica pelo fato de o clube ter contado com o pivô americano Kevin Nash em seu elenco.

Kevin quem? Nash, hoje um astro da luta livre “profissional”, mas que foi pivô lá atrás. Jogou pela universidade do Tennessee, onde se formou em psicologia e da qual foi expulso em 1980 por ter, claro, saído na mão com o técnico Don DeVoe. Largou, então, a NCAA e foi jogar por dinheiro, até se aposentar em 81, defendendo o 46ers, devido a uma lesão no joelho. Aproveitou a estadia na cidade de Giessen e se alistou em uma base americana, servindo por dois anos com tropas da OTAN. Como se não bastasse, também trabalhou numa linha de produção da Ford e foi gerente de um clube de strip. Até entrar para o fantástico mundo da luta livre. Fim de um longo parêntese completamente absurdo, voltamos ao currículo, diabos.)

Ricky Hickman, versão Finlândia

Ricky Hickman, versão Finlândia

Se as coisas não ficam tão bem em tablado germânico, que se mude então para a Finlândia, para defender o Namika Lahti (prazer em conhecê-lo. Aí, em 2010-11, torna descer a Europa novamente, agora para a Itália, na Segundona de novo, pelo Junior Casale. Em 2011-12, enfim, hora de brilhar em um campeonato decente, pelo Scavolini Pesaro, na elite italiana. Foi essa a trajetória de Hickman até aqui. Imagine quantos já não teriam largado as coisas na hora de jogar uma liga amadora alemã…

Pelo Pesaro, Hickman foi para o jogo das estrelas, mas foi seu compatriota e companheiro de time, o acrobático e um tanto errático James White, quem foi agraciado com o grande salto, assinando com o New York Knicks.  Sua recompensa, contudo, veio logo em sequência.

No Maccabi, o americano tem um papel um pouco parecido com o de Vasilis Spanoulis no Olympiakos, ou Juan Carlos Navarro no Barcelona, embora com estilo diferente. Ele é uma válvula de desafogo para o ataque, produzindo muito bem no mano a mano, com habilidade no drible e um primeiro passo avantajado. Só não peçam, contudo, que mate o jogo de três. Seu aproveitamento em dois anos de Euroliga é de apenas 33,8%. Não chega a ser péssimo, ainda mais que muitos chutes são contestados ou em situações de pressão, contra o cronômetro.

Mas é que esse jogador – que também consta da lista de estrangeiros com passaportes fantasiosos, tendo defendido a Geórgia no último Eurobasket, sem, contudo, se chamar Hickmanoshivili –. rende muito mais quando bate para a cesta, quebrando a primeira linha defensiva e bagunçando o sistema adversário.

A partir de suas infiltrações, ele chama a ajuda dos defensores e abre a quadra para os diversos chutadores que David Blatt gosta de escalar. É isso que o brilhante treinador espera de seu armador, especialmente quando Sofoklis Schortsanitis estiver respirando – ou transpirando – no banco de reservas. Agressividade e responsabilidade. Para quem já passou por tanta coisa na carreira, não há o menor problema.


#Susijengi – Gangue dos lobos finlandeses no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

#Susijengi.

Era a hashtag mais cultuada do basquete europeu nesta manhã (segundo horário de Brasília).

Não tava entendendo nada. Que raios? Algum mantra chinês?

Nada, quando veio a confirmação oficial da Fiba dos quatro convidados para a Copa do Mundo de basquete, aí as peças foram se juntando. Na verdade, era um texto em finlandês. Porque, sim, a Finlândia vai jogar a próxima edição do Mundial.

Toca pesquisar, passado o susto, a surpresa. É detestável acordar assim, mas o estrago já estava feito.

Não precisou nem dar Google, acreditem. Aos poucos, o Twitter começou a ser inundado pelas mensagens dos jogadores da seleção finlandesa. Todos uivando feito malucos. Auuuuuu! A-uuuuuu! Por todos os lados, eles já haviam nos cercado.

Vejam o Hanno Möttöllä:

Descontrolado.

(Vocês se lembram do cara? Fizemos a mesma pergunta no ano passado, mas tudo bem. É a idade. Möttöllä, de qualquer forma, defendeu o Atlanta Hawks por um tempinho e retornou da aposentadoria em 2008. Vai disputar o Mundial com 38 anos).

Entende-se, então, que susijengi quer dizer gangue dos lobos. A gente podia usar o termo formal, alcateia, mas pra quê, né? Gangue dos lobos é tão mais legal, e tem influência direta aí do linguajar dos “bros” americanos, essa coisa de lobo da rua, ou qualquer coisa nessa linha. Não por acaso, é o nome de um álbum dos rappers do Kapasiteettiyksikkö.  A federação finlandesa também faz questão de nos informar que este é o “nome oficial” de sua seleção.

Susijengi e nóis na fita

Susijengi e nóis na fita

Agora, aguenta.

Ou melhor: agora é apreciar. Não tenham dúvida de que, mesmo com meia dúzia de lobos pingados na arquibancada, eles terão uma das torcidas mais animadas na Espanha. Não pensem que eles não vão dar um duro danado na quadra. Pode espernear até cansar, que a Finlândia está na Copa do Mundo de basquete, e ninguém tasca. E não há nada de absurdo nisso.

A partir do momento em que ficou claro que a Fiba filtraria seus quatro convidados pelo quesito financeiro – e quem duvidava disso? –, não há o que contestar a respeito de nenhum dos convidados.  Poderíamos ter Grécia, Turquia, Rússia e Itália, que seria ridículo igual. Botsuana, Quirguistão, Bolívia e Costa Rica? Na mesma.

O Luiz Gomes, provavelmente atordoado também, fez uma citação daquelas que me deixou fulo de inveja: “Isso não tem nada a ver com merecimento”.

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

Para quem não sabe, é um trecho do célebre discurso catártico do William “Clint Eastwood” Munny, do Missouri, ao final de “Os Imperdoáveis”. Para quem não viu, um dos melhores filmes da história. Para quem ainda busca redenção divina, corra até a (?) locadora mais próxima.

(E, sim, para os iniciados, todos sabemos que é obrigatória a referência “do Missouri” sempre que falarmos de William Munny. Ele é o William Munny, do Missouri. Fica o esclarecimento para a posterioridade.)

Agora voltando.

Se a grana ditou o jogo, então para que serve esculhambar com a – nem tão– pobre Finlândia? Numa escala de 0 a 10 de quem faz mal para a sociedade, a gente pode dar um belo -7 para eles.

O escândalo não é a Finlândia – ou o Brasil, no caso. O escândalo são os convites.  (Pela lógica: se o inferno são os outros, o escândalo são os convites.)

Mas, se a gente for falar de resultado, e de resultado imediato – por que de que me importa se o Brasil foi bicampeão mundial com Wlamir, se hoje só o temos como comentarista na ESPN?

Nesse quesito, acharia completamente factível que se pegasse apenas o resultado imediato para discutir quem… hã… merecia estar lá. O que aconteceu na campanha rumo ao Mundial.  Que tal recuperarmos a campanha deles no último Eurobasket – 2013 não foi há tanto tempo assim. Acho.

Na Eslovênia, os caras foram a grande sensação da primeira fase do torneio, com quatro vitórias e um revés. Derrotaram, inclusive, dois outros convidados do torneio: Grécia e Turquia. Além disso, venceram Rússia e Suécia (antes de mais nada, com dois jogadores de NBA no quinteto inicial) para avançår.  Na segunda etapa, bateram também os donos da casa, do clã Dragic.

Não tem mais bobo no basquete? (Ou tem de monte?)

Lembrando, sempre com muita úlcera, que o Brasil terminou sua inesquecível campanha na Copa América do ano passado com quatro derrotas em quatro rodadas. Inclusive para Jamaica e Uruguai.

Jamaica > Finlândia?

Finlândia > Uruguai?

Eslovênia > Jamaica?

Fico meio confuso. Mas o fato é que os Homens do Norte aprontaram horrores no torneio europeu e por pouco não foram para as quartas de final. Eles terminaram o Grupo F com a mesma campanha da Espanha. Só caíram no desempate pelo confronto direto. No geral, tiveram cinco vitórias e três derrotas – a França terminou com 8-3, para se ter uma ideia. Para quem eles perderam? Croácia, Espanha e Itália.

Croácia > Jamaica?

Uruguai > Espanha?

Mais confusão para a cabeça.

O jeito é uivar mesmo.

A-UUUUUU!

É nóis na fita e #susigenjiNaCopa.

PS: especificamente sobre a cara-de-pau brasileira nessa coisa toda de convite, foi preciso outro texto.

*  *  *

Angry Birds

Nunca fui muito de videogame. Ok, quando mais novo, perdia o sono com Alex Kid e Black Belt. Depois de um tempo, porém, só ficava com as fitas (sim, ainda eram as fitas) de esporte. SuperMonaco, Lakers x Celtics, os FIFAs… Até chegar agora ao NBA2k. Parei no 12.

De qualquer fora, para mim, videogame sempre foi a coisa do console. Nunca joguei em PC. Na minha cabeça problemática, os dois não combinam.

Logo, jogar no celular parece algo ainda mais descabido.

E o que isso tudo tem a ver com gangues de lobos finlandeses e os absurdos dos convites da Fiba para a Copa de basquete?

É que a empresa Rovio, a responsável pela epidemia mundial que são os Angry Birds, é quem está dando todo o apoio financeiro para o sonho  do país. A própria federação dos caras divulgou release para alardear isso. Não vou eu tentar explicar o que são esses passarinhos estressados para você, né? Só sei que a gente os vê por aí em qualquer banca de camelô ou shopping. São sucessores da abelinha do Charlotte Hornets e do Bob Esponja como estampa de tudo o que se possa imaginar.

São milhões e milhões de pessoas se divertindo com qualquer conteúdo virtual que a Rovio prepare com sua, para seguir na revoada, galinha dos ovos de ouro. No pacote, na proposta que a Finlândia encaminhou para a Fiba, estava a promessa que a empresa fará propaganda gratuita da Copa do Mundo em suas diversas plataformas. Se você não tem cão, caça com passarinho. Ou melhor, não tem audiência de TV, que tal oferecer então visibilidade mundial para um público diversificado?

E aí fica a pergunta. O que é melhor/pior: ser financiado por um jogo online (ou, se preferir, “corporação multimídia que vale bilhões de dólares“) ou pelo bom e velho tesouro público?