Ligas esperam que Jogo das Estrelas seja um prenúncio de nova fase
Giancarlo Giampietro
Não dá para se perder em otimismo. Afinal, é na mesma Franca que recebeu o Jogo das Estrelas da LNB e da LBF neste final de semana que o clube local, um patrimônio do basquete brasileiro, não tem conseguido pagar na íntegra o salário prometido a todos os seus atletas, devido a um deslize de gestão. Do tipo com o qual já nos acostumamos e sobre o qual a companheira de UOL Esporte, Karla Torralba, conta mais aqui.
Diante de uma situação dessas, é normal que o raciocínio siga nesta direção: caceta, se isso acontece em Franca, imagine em outras cidades? Então tem de ter muita calma, mesmo, para não se deixar levar (totalmente) pela bela festa como a que ambas as ligas promoveram entre quinta-feira e sábado.
Vamos lá:
– O ginásio Pedrocão ficou cheio nos dois dias oficiais de evento, e com público pagante. Neste sábado, quase não cabia ninguém mais.
– Jogadoras e jogadores reunidos, de modo único, raro, mas que bem que poderia virar o padrão daqui para a frente.
– A quadra e a arquibancada todas envelopadas com as cores de um patrocinador master forte, mas que entrou de cabeça num negócio repentino – tudo foi acertado em coisa de um mês. Outras três marcas foram adicionadas
– Ídolos do passado homenageados.
– Encontro dos treinadores para uma incipiente associação (agora vai?).
– Dois jogos surpreendentemente competitivos, ou quase.
– Os primeiros passos dados com a consultoria da NBA, com impacto n desenho da quadra, bem bonito, telão, placas de LED e outras atrações paralelas em meio aos eventos de quadra.
– E, claro, o Jay Jay aprontando. Dá-lhe, Jay Jay.
São todos ingredientes aparentemente básicos, mas que, em conjunto, num caldeirão que só, ficam muito mais saborosos. Ainda mais se formos lembrar que, se formos nos lembrar, nove anos atrás, na mesma Franca, um hexagonal do campeonato nacional vigente foi terminar apenas no tapetão. Foi quando a modalidade chegou ao fundo do poço, com relações institucionais diversas rachadas.
“Às vezes a gente precisa passar por uma situação adversa, para que as pessoas envolvidas no processo ajam decisivamente. Foi o que os clubes fizeram. Estávamos numa situação delicadíssima, com campeonatos que não terminavam e campeonatos paralelos, e precisamos tomar a consciência de que todos queríamos a mesma coisa, mas cada um caminhando por um lado. Buscamos depois essa unidade, criando uma liga, e o que queríamos era isso: ter o direito de organizar um campeonato com a nossa cabeça”, disse Cássio Roque, presidente da LNB, ao VinteUm
Testemunhar um evento tão bem organizado como este Jogo das Estrelas 2015 poderia parecer, em 2006, coisa de outro mundo. Quer dizer: de outro país. Essa disparidade sublinha o trabalho de alguns dirigentes realmente entusiastas do basquete, que içaram a modalidade, mesmo que o apoio financeiro de entidades privadas – ou de qualquer entidade – não tenha sido dos mais vultuosos durante essa caminhada.
Agora, na sétima edição do NBB, a liga masculina consegue olhar para a frente de modo otimista, entendendo que estão apenas no começo. “Sem dúvida, acho que isso foi apenas uma pequena amostra do que pode ser feito. A parceria com a NBA foi assinada apenas recentemente. Com o know-how que eles têm para criar entretenimento, espetáculo, acho que temos muito a ganhar. Não só na questão de crescimento técnico, melhoria das equipes, mas para transformar o basquete no produto. Vimos aqui em França a aceitação que esse produto tem. Mas precisamos expandir isso para o Brasil todo”, afirmou Cássio Roque.
Esse ambiente permite que um jogador como Alex, que estava em quadra naquele famigerado hexagonal, encare os percalços enfrentados por Franca neste ano como um “fato isolado”. “Vemos Franca nessa situação, com o pessoal correndo atrás de investidor, mas também vemos Bauru com um grande crescimento, com um patrocinador que entrou no ano passado, gostou, injetou financeiramente e viu que pode ter resultado. A maioria dos clubes está se reforçando. A cada ano que passa, o campeonato está sendo melhor, com jogadores importantes vindo para o Brasil, engrandecendo nosso basquete”, diz o ala Alex, envolvido naqueles jogos do famigerado hexagonal que não terminou.
Da parte da liga feminina, a realização do evento em conjunto lhe rende mais exposição e mais um empurrão na direção certa. “Nunca imaginava (que poderia acontecer essa parceria”, disse a armadora Adrianinha. “Quando ouvi rumores sobre isso, fiquei torcendo muito para que desse certo. O masculino acaba recebendo mais atenção do que a gente, e quem sabe essa exposição não sirva para que se reconheça nosso valor.”
“A gente está num momento em que tudo que for mais é melhor. É um momento de somar, mesmo. Tivemos muita divulgação, um bom patrocinador, um evento maravilhoso”, afirmou a pivô Clarissa, que espera apenas que essa dobradinha vire um padrão no basquete brasileiro. “Sim, creio nisso. É uma organização comprometida com isso. São reuniões, conversas de gente comprometida em levar o basquete para a frente. Temos de trabalhar juntos para isso.”Sim, é preciso de muito trabalho, mesmo, e para a LBF, não há como negar, se pede ainda mais. De qualquer forma, os tempos sombrios foram há tão pouco tempo, que não dá para ninguém se acomodar. Que se siga esse curso para que episódios como o de Franca se tornem, de fato, algo isolado – e um jogo festivo como esse mais corriqueiro.