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Jukebox NBA 2015-16: Cavs, LeBron e os Beatles
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Golden Slumbers/Carry That Weight/The End/Her Majesty”, por eles, The Beatles

Por quê? Antes de mais nada, o blog já se defende de possíveis críticas de que tenha roubado aqui ao escolher quatro faixas para escrever sobre o Cavs, em vez de uma. Mas, calma lá, campeão: é simplesmente ouvir o trecho final de “Abbey Road” e separar uma da outra. Este é um medley de verdade, uma jam session feita para ser ouvido de uma vez. E o título de cada faixa se encaixa quase que perfeitamente para a História do Reencontro do (Autodenominado) Rei e seus Cavaleiros. Só precisa de uma adaptação.

Primeiro lidamos com os os sonhos dourados de LeBron. “Uma vez havia um caminho de retornar para casa”, canta Paul McCartney com leveza, como se fosse um cantiga de ninar. “Os sorrisos acordam quando você se ergue”, também diz. Depois, os Beatles vêm num coro opressor: ah, é? Voltou, mesmo!? Então vai ter de “carregar aquele peso por um tempão“. É, garoto, um peso, e tanto.  Aí que estamos chegando ao fim, como o jogador sabe, como o time sabe. Macca avisa: “E no fim, o amor que você toma é igual ao amor que você faz”. Não pensem em impurezas, meninos, mas na relação de adoração de Ohio/Cleveland ao prodígio, e o que ele pode dar em troca. Para fechar, aí a gente troca o “her” por “him”, embora em português fique tudo na mesma: “Sua Majestade“, o Rei, e não a Rainha, e como cortejá-lo.

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Vai… tem tudo a ver, né? Para além da solenidade que foram as últimas gravações dos Beatles em 1969. Pois tudo o que se passa em Cleveland nesses dias gira em torno de LeBron. De maneira justa, ou não, ele tenta tomar o clube de refém, com o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin oferecendo resistência pontual aqui (David Blatt infernizado pelo astro) e ali (as negociações arrastadas e ridículas com Tristan Thompson). Agindo desta maneira, pressionando a franquia via redes sociais, e tudo, retomo o que já escrevi em relação ao campeonato passado: enquanto agir desta forma, LeBron vai ter de arcar com as consequências. Se ele quer ser o Rei, déspota, vai ter de se responsabilizar pelo que acontece no final. Se o Cavs perdeu para o Warriors, foi ele que perdeu. Pois não dá para interferir na função dos outros, em algo que não lhe compete, e, no final, com mais um vice-campeonato no currículo, culpar os Deuses ou a família Gilbert.

A pedida: vice-campeonato da Divisão Central!

(“Ha!”, expressaria o Mallandro.)

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

É título ou nada para os LeBrons, claro. Já poderia ter acontecido no campeonato passado, não fosse a derrocada física do time nos mata-matas, por lances de azar, como o golpe de Kelly Olynyk em Kevin Love e a fratura no joelho de Kyrie Irving durante as finais. A tendência é falar que eles levariam. Mas, com as duas estrelas em forma, talvez o sistema utilizado por Blatt (ou LeBron…) seria diferente. A dinâmica da série seria outra, então vai saber.

Fato é que, com a atual formação, eles têm time para acabar com a maldição de Cleveland. O elenco é balanceado e tem arremesso, bons defensores no perímetro e uma coleção de pivôs para marretar o adversário, mesmo sem Thompson, sejá lá quando a diretoria e a turma de LBJ vá resolver isso.

A negociação com o pivô canadense pode dizer muito sobre o time. Não necessariamente devido aos seus talentos, mesmo que ele seja um defensor extremamente valioso por sua capacidade para frear armadores no pick-and-roll e que também represente um pesadelo no ataque aos rebotes ofensivos. Daí a pedir US$ 94 milhões por cinco anos de contrato (ou o equivalente a essa quantia em três anos), mesmo na nova economia bombada da NBA, é se colocar para além da fronteira do absurdo.

A franquia e o jogador ficam num impasse curioso. Da parte do jogador, se mantiver a pedida, ele e sua agência (que, na prática, gente, tem LeBron como sócio) vão simplesmente ter de torcer para que as coisas no Cavs deem errado, seja pelo acúmulo de reveses ou lesões. Para constar, Mozgov está voltando de cirurgia recente no joelho, Varejão ainda precisa tirar a ferrugem vindo de uma no tendão de Aquiles e mesmo Love também está nos últimos estágios para retornar de operação no ombro. Ah, sim, e Kyrie Irving e Iman Shumpert ainda não têm data prevista para retorno.

Bem legal, não?

Get it done!!!! Straight up. #MissMyBrother @realtristan13

Uma foto publicada por LeBron James (@kingjames) em

Se essa situação se arrastar por mais algumas semanas e o time sofrer em quadra devido aos desfalques, então a diretoria poderia se sentir pressionada a arrefecer nas conversas e dar ao outro lado o que eles pedem, que é uma demanda ridícula. Ou isso, ou Thompson vai ficar o ano inteiro parado, perder alguns milhões para já e voltar ao mercado do ano que vem como agente livre… Mas novamente restrito, com sua cotação muito provavelmente avariada.

Da parte da franquia, existe sempre o risco LeBron. O craque vai continuar pressionando? Seria ele capaz de “entregar” jogos para ajudar seu amigo e cliente? Talvez seja um exagero até mesmo cogitar isso, mas, nos bastidores, o quanto de escarcéu ele poderia fazer? E o restante do time? Conseguiriam ficar alheios ao tumulto? Aqui, de primeira, vejo esse lenga-lenga como a principal – e talvez única – ameaça ao Cavs no Leste.

Em termos de apostas, imaginar o Cleveland campeão da conferência é aquela mais chega perto de uma barbada.  O Atlanta tem um grande desafio que é replicar a química da temporada passada, enquanto confere se é possível jogar desta forma com uma linha de frente mais alta e pesada. O Chicago passa por alterações muito mais drásticas em seu sistema. Para mim, dependendo desses ajustes, seriam os únicos candidatos a aprontar. De resto… o Washington não tem artilharia para aprontar nesse nível, assim como o Toronto Raptors ou os emergentes Boston Celtics e Milwaukee Bucks.

LeBron, é tudo dele

LeBron, é tudo dele

Então creio que ficamos nisso: o maior inimigo do Cavs em sua conferência pode ser seus bastidores, com a relação entre LeBron e Blatt também merecendo atenção.

A gestão: tentando se estabelecer. Aqui, as coisas vão depender muito do comportamento de LeBron e de como Dan Gilbert vai reagir a isso. David Griffin mostrou na temporada passada que, mesmo sob grande pressão, é um grande negociador, fazendo valer os elogios que recebia dos companheiros quando era assistente de Colangelo e Kerr em Phoenix. As trocas que fechou no meio da temporada, com o aval do craque, diga-se, salvaram o time e deram a Blatt mais matéria-prima com que trabalhar, para além do trio de astros e dos amiguinhos do Rei. O processo continuou este ano com a adição de Kaun (excelente finalizador próximo ao aro, forte toda a vida, bom patrulheiro de garrafão, para compor uma rotação russa de pivôs gigantes), Richard Jefferson (experiência, chutes da zona morta e versatilidade num corpo ainda mais ativo que o de James Jones) e, principalmente, Mo Williams (num papel reduzido, vindo do banco de reservas, como lhe cai bem, ao mesmo tempo que serve como uma apólice parcial de seguro para as lesões de Irving).

Inseguro ou ultrajado, Blatt se comportou de modo arrogante em alguns momentos da temporada passada, embora isso deva ser minimizado devido ao contexto ao seu redor. A contratação de LeBron jogou pressão para cima do técnico desde o início e é complicado de se estabelecer um relacionamento com um astro dessa magnitude. Por outro lado, nos playoffs, depois de ser salvo por Tyronn Lue com um pedido de tempo que poderia ser desastroso na série contra Chicago, o treinador deu seguidas provas de como pode ser uma peça valiosa para o time, até que a virada que o Cavs sofreu na final voltou a suscitar relatos preocupantes sobre como ainda estaria sendo destratado pelo seu principal jogador.

O brasileiro: Anderson Varejão só quer uma coisa: ficar saudável e poder completar uma temporada, ou pelo menos chegar à marca de 70 partidas pela primeira vez desde… 2011. São muitas lesões desde, então, o que é a pior coisa que pode acontecer para um atleta. O Cavs, em teoria, mesmo sem Thompson, estaria coberto dessa vez para inserir o pivô aos poucos em sua rotação e preservá-lo para a hora que importa – um controle de minutos, abaixo de 20 por partida, talvez fosse o mais recomendável. O duro é que, no início de campanha, com Thompson fora e a dupla titular em fase de reabilitação, pode ser que seus serviços já sejam exigidos.

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Olho nele: Kevin Love. Se formos comparar sua produção com a dos tempos de Minnesota, obviamente sua primeira temporada em Cleveland foi inferior. Mas, como terceira opção no ataque, isso era mais que esperado. De qualquer forma, Blatt, LeBron e Irving reconhecem que os diversos talentos do ala-pivô (como referência no garrafão, reboteiro ofensivo e passador a partir do poste alto) não foram aproveitados na medida da certa, com o jogo muito focado nas jogadas de pick-and-roll com os outros dois astros. Ele tem agora um contrato polpudo (U$ 110 milhões por cinco anos) e gente empenhada para que seu jogo se encaixe e deixe a equipe ainda mais perigosa. Quanto melhor ele jogar e quanto mais isso durar, pior fica a situação de Tristan Thompson como agente livre. Com o time completo, tendo Love ao lado de LeBron e Mozgov na linha de frente, simplesmente não sobram tantos minutos para o ala-pivô canadense.

Daniel Gibson, Cleveland, card, 2007Um card do passado: Larry Hughes. Da primeira vez em que LeBron chegou a uma final de NBA pelo Cavs, em 2007, o segundo jogador que mais acumulou minutos em média nos playoffs pela equipe foi o ala-armador draftado pelo Philadelphia 76ers. O cara que havia sido contratado por Danny Ferry para ser o principal comparsa do então jovem astro de 22 anos no perímetro, embora não fosse um bom arremessador de longa distância e precisasse tanto da bola como LBJ para produzir. A passagem do ala por Cleveland não deixou saudade nenhuma, com o arrependido gerente geral se desfazendo de seu contrato assim que pôde, logo na temporada seguinte.

Tudo isso para dizer que, agora veterano, se os acidentes da campanha passada não se repetirem, James tem muito mais ajuda ao seu lado para tentar conquistar o terceiro anel de campeão e dar o troféu pela primeira vez ao clube. Com todo o respeito a Zydrunas Ilgauskas, Drew Gooden, Sasha Pavlovic, Damon Jones, Eric Snow e Boobie Gibson.


Tudo por LeBron: o malabarismo do Cavs para vencer e convencer o astro
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Ontem, publiquei a lista de dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão. Hoje, as idas e vindas do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James:

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Um rei e um reino para conquistar

Façamos as contas: LeBron James está na NBA há 12 anos. São oito pelo Cleveland Cavaliers e quatro pelo Miami Heat. Em Ohio, chega a sua segunda final de NBA, enquanto, na Flórida, foram quatro. Pelo Cavs, busca o primeiro título. Pelo Heat, ganhou dois. Ok, então. Com a devida ressalva de que recebeu em 2003 um jogado ainda adolescente, em formação, não há como negar ao mesmo tempo que o clube demorou muito para capitalizar, durante a década passada, um dos maiores craques do esporte. Foram muitas falhas estruturais que propiciaram um produto aquém das expectativas em quadra e resultou na migração dos talentos de LeBron a South Beach, causando desespero geral em Cleveland, camisas queimadas, carta rancorosa de bilionário, até que os ânimos fossem apaziguados e o Rei Retornasse. Vamos lá:

– Antes de LeBron
Os deslizes aconteceram enquanto o jovem astro estampava capas de revista como colegial. Nos dois Drafts antecedentes ao de LeBron, o Cavs escolheu o pivô DeSagana Diop em 2001, na oitava colocação, e o ala-armador Dajuan Wagner, em 2002, na sexta. Nenhum deles conseguiu ajudar o craque, com status assustadoramente messiânico. Em retrospecto, se o Cavs tivesse acertado duplamente, talvez não tivesse nem mesmo condições de receber James em 2003. Ou, talvez, a produção de um calouro ainda não fosse o suficiente para elevar tanto assim o padrão de um time caótico, gerenciado (?) por Jim Paxson –  ex-jogador e irmão mais velho de John, o vice-presidente do Bulls.

>> Golden State: décadas de trapalhada antes entre duas finais
>> ‘Geração Nenê’: segundo título e o reconhecimento (tardio)
>> Muitos números: a final entre Golden State e Cleveland

Diop vocês conhecem, já que deu um jeito de ficar na liga por mais de dez temporadas, se aposentando em 2013, mesmo que nunca tenha superado a média de 3 pontos por jogo. Sim, não tem erro de digitação aqui, não: foram 3,0 em 2006-07, e daí para baixo. O senegalês conseguiu a proeza de fazer mais faltas do que pontos em sua carreira (1.219 x 1.185). Nos, hã, bons tempos, Diop até protegia o aro em Dallas, revezando com Erick Dampier como segurança de Dirk Nowitzki. Mas foi muito pouco para justificar uma escolha tão alta, saindo direto do high school. Essa era a febre do momento, a captação de adolescentes antes mesmo de sua entrada no basquete universitário, e o recrutamento de 2001 foi um marco nesse sentido: Kwame Brown saiu em primeiro, Tyson Chandler, em segundo, Eddy Curry, em quarto. Kwame e Curry foram decepções, mas renderam muito mais que o africano, selecionado enquanto nomes como Joe Johnson, Zach Randolph, Richard Jefferson, Troy Murphy, Jason Collins, Brendan Haywood e Samuel Dalembert estavam disponíveis. Não vale mencionar Tony Parker aqui, pelo fato de o francês ter sido uma aposta inesperada do Spurs ao final da primeira rodada.

Quanto a Wagner, recordamos uma das histórias tristes recentes do basquete americano. Quando garoto, chegou a ser comparado a Allen Iverson. É aquele tipo de paralelo que sempre parece injusto, mas registre-se que o rapaz chegou a marcar 100 pontos numa partida de high school em New Jersey. Extremamente badalado, o cestinha preferiu jogar um ano por John Calipari na Universidade de Memphis. Sua experiência na NCAA não foi das melhores, mas a fama dos tempos de colegial ainda inflacionava sua cotação para o Draft de 2002. Nenê, Amar’e Stoudemire, Caron Butler e Chris Wilcox foram escolhidos entre os sétimo e décimo lugares.

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Tivesse esperado mais, talvez não assinasse nenhum contrato com a NBA. Wagner sofreu diversas lesões e com problemas de saúde em suas três primeiras temporadas e desfalcou o Cavs em 144 jogos. Na campanha 2004-05, então, foi afastado por conta de uma colite ulcerosa. É uma doença inflamatória intestinal rara, com incidência em 0,1% da população americana, por exemplo, e considerada crônica por muitos especialistas. No caso de Wagner, a medicação não surtia efeito. Em 2005, então, ele passou por uma cirurgia para remoção completa do cólon. Dispensado pelo Cavs, ele ainda tentou retornar a jogar em 2006, assinando com o Golden State Warriors. Novamente doente, foi cortado do elenco após uma partida e sete minutos. Estima-se que, ao menos, tenha ganhado  mais de US$ 8 milhões devido ao primeiro contrato.

– O primeiro time a gente não esquece
É preciso entender que a ideia de Jim Paxson não era ter uma boa equipe no início da década. O dirigente adotou a estratégia do quanto pior, melhor, para concorrer aos principais calouros da liga. Quando LeBron chegou em 2003, o cenário era de terra arrasada, mesmo. De qualquer forma… aquele elenco do Cavs era qualquer coisa de frankenstênico. Bad boys, veteranos improdutivos (Eric Williams, Ira Newble, Lee Nailon, Kevin Ollie, Tony Battie, Argh Argh), fiascos de Draft (já citados) e o caos geral: ao todo, 21 atletas se fardaram pela equipe no campeonato.  É tanta informação aqui, que a CPU começa a esquentar, castigando a ventoinha.

Darius Miles: presente para quem?

Darius Miles: presente para quem?

Os bad boys: Darius Miles, um promissor ala selecionado pelo Clippers em 2000, também vindo direto do high school, mas criticado constantemente por seus técnicos devido ao comportamento pouco entusiasmante em treinos e jogos; Ricky Davis, um cestinha explosivo, mas também fominha inveterado e que, num jogo contra o Utah Jazz, já arremessou contra a própria cesta para pegar o ‘rebote’ e completar um suposto triple-double. Despertou a ira de Jerry Sloan, que ordenou, em nome do basquete, que seus jogadores o quebrassem em quadra. Você por acaso gostaria de cercar seu prodígio com companheiros assim? Pobre Paul Silas, um técnico que, nos tempos de atleta, foi um grande pivô e também referência de vestiário.

Paxson ao menos entendeu o perigo dessa situação e se livrou dos dois jogadores. Primeiro, em dezembro, mandou Davis para o Boston. Em janeiro, Miles foi despachado para Portland. Quando chega a hora de desfazer de um problema, dificilmente virá em contrapartida o jogador dos sonhos. No pacote por Davis, ainda foi incluído o pivô Chris Mihm. Ambos foram trocados pelos alas Eric Williams e Kedrick Brown e o pivô Tony Battie. Aos 31 anos, já degastado, Williams acertou apenas 25,3% de seus tiros de três pelo Cavs e 36,6% dos chutes em geral. Battie teve médias de 5,4 pontos e 4,8 rebotes em 19 minutos, mas, com 2,11 m e boa capacidade atlética, convertia apenas 42,7% de seus arremessos. Dramático. Miles ao menos rendeu ao Cavs o armador Jeff McInnis, que ajudaria LeBron na condução do time, que até ensaiou uma reação e lutou por vaga nos playoffs, terminando com 35 vitórias e 47 derrotas. Aos 29 anos, porém, não era uma solução de longo prazo.

Mesmo jovem, para um jogador inteligente como LeBron, só dois parceiros deveriam se safar: Zydrunas Ilgauskas, com quem desenvolveu ótimo relacionamento, e Carlos Boozer, um acerto de Paxson no Draft de 2002, para compensar todos os problemas que teve com Wagner. Juntos, os dois pivôs contribuíram naquele ano com 30,8 pontos e 19,5 rebotes. O ala Jason Kapono não conseguia marcar nem a própria sobra, mas ao menos era um excelente chutador para tentar espaçar a quadra – o único especialista no elenco. Em 2005, ficou fora da lista de protegidos no Draft de expansão para a formação do elenco do Charlotte Bobcats e acabou recrutado.

Agora, um detalhe: nem mesmo uma boa notícia como o rendimento de Boozer duraria muito. O pivô revelado pelo Coach K passou a perna na diretoria do Cavs ao final do campeonato. Por ter sido escolhido na segunda rodada, seu contrato tinha um valor já bastante defasado. Querendo agradar o jovem pivô, então de 22 anos, o clube concordou em exercer uma opção contratual para torná-lo agente livre e aí fechar com ele um acordo muito mais lucrativo. Foi tudo acertado verbalmente (algo, em tese, proibido pela liga). Boozer foi liberado e… Assinou com o Utah Jazz. Uma punhalada que o tornou persona non grata em Cleveland. O jogador recebeu uma bolada, foi eleito duas vezes para o All-Star Game em sua nova equipe, mas virou as costas para LeBron. Valeu a pena? Bom, talvez a bagunça fosse tão grande que ele não se importasse.

– Procura-se um ala
Não dava para depender de Williams e Newble, obviamente. Paxson conhecia a necessidade de buscar um parceiro para LeBron no perímetro. O Draft de 2004 era uma boa oportunidade para tanto. Na décima posição, não daria para escolher Andre Iguodala, Luol Deng ou Josh Childress. Então foram de Luke Jackson. Jackson não era tão comentado assim quando jogava pela Universidade de Oregon, mas que impressionou os olheiros durante a fase de treinos. Já tinha 23 anos e teoricamente estava pronto para contribuir, com um perfil técnico que se encaixava: tinha capacidade atlética, bom arremesso e visão de quadra. Pelo menos era o que o gerente geral do Cavs enxergava. Só não deram tanta atenção aos exames médicos, físicos realizados pelo jogador. Assim como Wagner, Jackson mal conseguiu parar em pé. Em dois anos, disputou apenas 46 partidas pelo time, com média inferior a oito minutos e um total de 125 pontos. Aos 27,  já não estava mais na liga.

Pavlovic, não deu

Pavlovic, não deu

Já preocupado com a condição de Jackson, o cartola, então, orquestrou uma troca ao final da temporada, dando uma escolha futura de Draft ao Charlotte Bobcats, para receber Sasha Pavlovic. O sérvio já havia sido descartado pelo Utah Jazz, mas era jovem, com 21 anos e potencial a ser explorado. Só recebeu, porém, 13 minutos em média no primeiro ano em Cleveland, enquanto Ira Newble recebia 23 minutos. Foi reserva  durante boa parte de sua estadia em Cleveland. Em fevereiro de 2005, então, uma nova negociação foi feita, por mais um europeu: o tcheco Jiri Welsch, que vinha do Boston Celtics, custando ao time mais uma escolha de Draft. O tcheco era habilidoso com a bola, bom passador, versátil, mas havia mostrado pouco por Golden State ou Boston para justificar a transação. Em junho, já seria repassado ao Milwaukee Bucks.

Aqui, já começa um padrão bem maluco: o time sacrificava seu futuro para (tentar) melhorar de imediato, mesmo que sua jovem estrela estivesse apenas no segundo ano de liga. As duas escolhas gastas seriam usadas em 2007, respectivamente com  Jared Dudley e Rudy Fernández. Quando o Cavs foi eliminado pelo Celtics em 2010, Dudley era um jogador importante na rotação do Phoenix Suns, vice-campeão do Oeste. Bom defensor, sólido arremessador da zona morta, inteligente, poderia o ala poderia, quiçá, ter sido um Shane Battier antecipado na vida de LeBron.

– Troca de comando
Dan Gilbert comprou o Cleveland Cavaliers em março de 2005 e prometeu mudanças. Três semanas depois, Paul Silas foi demitido, com uma campanha de 34 vitórias e 30 derrotas. A equipe estava dentro da zona de classificação para os playoffs, mas vinha perdendo rendimento. O experiente assistente Brendan Malone foi promovido e venceu 8 de 18 partidas. O time acabou eliminado na temporada regular. Aí foi a hora de Jim Paxson procurar outro emprego também, mesmo que, antes de o campeonato começar, tivesse fechado uma excelente troca para amenizar a saída de Boozer: mandou Tony Battie para Orlando e recebeu Drew Gooden (quarta escolha em 2002) e Anderson Varejão, a primeira escolha da segunda rodada naquele ano (30º no geral). Além disso, cuidou para que o clube tivesse espaço em sua folha salarial para investir para a próxima temporada. O conjunto da obra era fraco, mesmo.

Danny Ferry foi o escolhido para o seu lugar – contratado depois de Mike Brown, aliás, o novo técnico. Ele havia defendido o Cavs na década de 90 e vinha trabalhando em San Antonio, cidade que havia conquistado dois títulos em três anos. O novo gerente geral tinha uma grande oportunidade de remontar a equipe em torno de LeBron – mas também trabalhava pressionado por Gilbert, que queria os playoffs a qualquer custo.

Dan Gilbert, Danny Ferry, Mike Brown, LeBron James: sobraram dois

Dan Gilbert, Danny Ferry, Mike Brown, LeBron James: sobraram dois

Ray Allen e Michael Redd eram os alvos iniciais, mas renovaram com Seattle e Milwaukee, respectivamente. Pois Ferry, em vez de usar da precaução e manter a flexibilidade financeira, torrou uma bela grana em opções alternativas que se provaram, em retrospecto, errôneadas: o ala-armador Larry Hughes, Donyell Marshall e Damon Jones.

O maior equívoco foi Hughes. Se, no futuro, haveria questões sobre como o jogo de Dwyane Wade e o de LeBron poderia se encaixar, com o ala-armador ex-Wizards simplesmente não rolou. Era mais um jogador que precisava da bola para entrar em ritmo no ataque, mas tinha um chute de longa distância ainda menos eficiente (30,9% de três na carreira e 34,2% com a camisa do Cavs). Lembrando que LBJ ainda tinha Para complicar ainda mais o entrosamento se lesionou no primeiro ano em Cleveland e não rendeu bem nos playoffs. Marshall e Jones seriam os gatilhos para tentar remediar essa carência, depois de terem se valorizado bastante nas duas campanhas anteriores. Mas já eram veteranos, perto do declínio físico.

Cavs sonhava com Redd, se contentou e pagou muito por Hughes (d)

Cavs sonhava com Redd, se contentou e pagou muito por Hughes (d)

O Cavs melhorou consideravelmente e alcançou a marca de 50 vitórias pela primeira vez desde 1993mas , isso tinha muito mais a ver com a evolução natural de LeBron e com a fortíssima defesa orientada por Brown, do que por melhora significativa no plantel, e Ferry já estava de mãos atadas. A ponto de as próximas contratações de agentes livres terem sido mais veteranos em final de carreira David Wesley, Scott Pollard, Devin Brown e Lorezen Wright, caras para compor o banco, e olhe lá. Qualquer evolução a partir daí caberia ao craque e ao treinador, mesmo.

A campanha de 2007 foi idêntica: 50 triunfos e 32 derrotas. Nos playoffs, porém, o time deslanchou, batendo Wizards, Nets e Pistons para conquistar o Leste pela primeira vez em sua história. Na decisão regional contra Detroit, LeBron teve uma das melhores atuações de sua careira. Na verdade, dá para especificar: uma das duas melhores – ao lado do Jogo 6 da final do Leste de 2012 contra o Boston Celtics. Tive o prazer de gravar um VT desta partida de , pelo Sports+, neste ano, ao lado do chapa Marcelo do Ó. Era o Jogo 5 da série, e o craque, aos 22 anos, realmente fez de tudo pela vitória:  anotou 25 pontos consecutivos para o Cavs entre o quarto período e a prorrogação, e 29 dos últimos 30 do seu time, chegando a 48 para derrubar Billups, Hamilton, Prince e Rasheed, a base campeã em 2004. Foi um divisor de águas para a estrela: ainda havia muita gente disposta a questionar sua integridade em momentos decisivos.

Se LeBron foi heróico, é por ter precisado agir assim, fora de seu modus operandi. Na visão do craque, basquete é um jogo que se vence e perde em conjunto. Acontece que, com Eric Snow, Daniel Gibson, Jones, Hughes e Pavlovic ao seu lado, fica difícil. A rotação de pivôs era sólida, com Ilgauskas ainda em relativa boa forma, Varejão aprontando das suas, Gooden e Marshall. Mas a turma do perímetro… Sem condições. Tirando o camisa 23, não havia ninguém ali em condições de criar jogadas. As tentativas de Pavlovic, sem aliviar, chegavam a ser hilárias. Eric Snow estava mais para Stone, com sua postura petrificada. Gibson era um calouro.

Na decisão, de qualquer forma, veio o choque de realidade: foram varridos pelo San Antonio Spurs. Era outro ponto a mais para se considerar:  a conferência é fraca há tempos já. Havia o decadente Detroit Pistons, e mais nada – o revival do Boston Celtics só aconteceria no ano seguinte, o Indiana Pacers foi destroçado por Ron Artest e o Chicago Bulls de Scott Skiles era quase um fac-símile da versão Thibs: defendia horrores, com operários adoráveis, mas morria nos playoffs. Ciente de que o que tinha em mãos não era o bastante, a diretoria passou a perseguir trocas. No entanto, o velho dilema se repete: se você está interessado em se desfazer de um contrato ruim, é bem provável que vá ter de receber o entulho do outro.

– A ciranda
Ninguém vai poder dizer que Ferry não tentou. Em fevereiro de 2008, veio a primeira chacoalhada, numa negociação tripla, mandou Hughes, Marshall, Gooden, Shannon Brown e o pivô Cedric Simmons embora, dando lugar a Ben Wallace, Joe Smith, Wally Szczerbiak e Delonte West. A equipe foi eliminada pelo Boston Celtics na semi do Leste (4 a 3). Em agosto do mesmo ano, trocou Smith e Jones por Mo Williams, cujas habilidades eram um ótimo complemento para as de LBJ. O Cavs conseguiu a melhor campanha da história (66 vitórias e 16 derrotas), mas perdeu na final de conferência para o Orlando Magic, de modo surpreendente. Então que mudassem de novo, em junho de 2009 trouxe Shaquille O’Neal de Phoenix, pagando Wallace, Pavlovic, uma escolha de Draft e US$ 500 mil. Por fim, no meio da temporada 2009-10, partiu o coração de muita gente ao trocar Zydrunas Ilgauskas e mais uma escolha de Draft para ter Antawn Jamison e Sebastian Telfair. E o Cavs voltou a perder para o Celtics, por 4 a 2, pela segunda rodada.

Olhar o quê, exatamente?

Olhar o quê, exatamente?

Com exceção de West e Williams, a esmagadora maioria das aquisições foi de jogadores envelhecidos, bem distante de seu auge atlético. Foram todas contratações um tanto desesperadas, imediatistas, para tentar agradar a LeBron antes que ele se tornasse um agente livre. Não funcionou. Por mais competitivo que o time tenha sido, a frustração por tantos revezes consecutivos nos playoffs foi enorme. Será que nem mesmo um craque desse porte conseguiria livrar Cleveland de sua teimosa maldição? Numa última medida, Gilbert saiu dos bastidores e demitiu Brown, apesar da equipe ter feito a melhor campanha nas últimas duas temporadas combinadas. Ferry não aprovou a decisão, e acabou se desligando do time também “em comum acordo” (aquela de sempre). Seu assistente, Chris Grant, foi promovido. Byron Scott foi contratado. LeBron se mandou para Miami.

– A reconstrução
Não há como se recuperar de imediato com uma perda dessas. Simplesmente não dá, especialmente depois de o clube ter apostado todas as suas fichas em negócios de pouco fôlego. Byron Scott jamais vai admitir isso, mas duvido que topasse a oferta do Cavs se soubesse que sua rotação na temporada regular seria composta por Mo Williams, Ramon Sessions, Daniel Gibson, Anthony Parker, Antawn Jamison, Anderson Varejão, JJ Hickson e Ryan Hollins. Conta outra.

O que Grant conseguiu fazer foi juntar cacos peças para o futuro. Ajudou já o fato de ter fechado um sign-and-tarde com o Miami Heat, já coletando duas escolhas de primeira rodada do Draft e duas de segunda. Nenhuma delas foi aproveitada pelo time em sua rotação, é verdade. Mas foram triunfos para outras transações. Outra escolha de segunda rodada veio em um negócio tramado com o Minnesota Timberwolves (Telfair e West por Sessions e Hollins). A terceira troca foi ainda mais lucrativa: assimilou o contrato de Baron Davis, dando Williams ao Clippers, para receber uma escolha de Draft de 2011. A franquia californiana pretendia abrir espaço salarial e caçar novos atletas (CP3 chegaria nessa). Mas o pick cedido deu ao Cavs a sorte grande: Kyrie Irving. Sem saber, a franquia começava a pavimentar a via para o Retorno. Em quarto, adicionou Tristan Thompson, coincidentemente agenciado por um amigo de infância de LeBron, Rich Paul. Para completar, ainda mandaram JJ Hickson para Sacramento, por Omri Casspi e mais uma escolha.

O processo de acúmulo de ‘ativos’ continuou na campanha 2011-12, quando Ramon Sessions foi enviado ao Los Angeles Lakers em troca de Luke Walton e mais um pick de primeira rodada, além do direito de inverter a ordem de seleção com o time californiano em 2013, se julgasse necessário (aconteceu). Para não perder a conta, nessas cinco transações, foram adquiridos seis picks de primeira rodada. No Draft, chegaram Dion Waiters e Tyler Zeller. Uma sexta troca, agora com o Memphis Grizzlies, renderia nova escolha, para que pudessem acolher Wayne Ellington, Marreese Speights e Josh Selby. Nenhum deles seria uma peça integral, mas o que valia era o suculento adicional do negócio.

Na teoria, o time ia se abastecendo de jovens atletas e moedas de troca valiosas para o futuro. Na prática, verdade seja dita, o time era uma bela porcaria, vocês sabem. Foram 64 vitórias em 230 jogos. E aí que a paciência de Gilbert chegou ao limite. O proprietário enquadrou Grant, dizendo que era a hora de obter resultados mais concretos. Sobrou primeiro para Scott, que não conseguiu desenvolver seus atletas, muito menos instaurar uma aura vencedora no vestiário – ainda que uma cobrança dessas fosse uma baita hipocrisia, considerando que o evidente plano do gerente geral era perder para pensar no futuro. Assim como faz o Philadelphia 7e6rs hoje.

A escolha de Draft do Memphis que chegou a Cleveland com Wayne Ellington ajudou na troca por Timofey Mozgov

A escolha de Draft do Memphis que chegou a Cleveland com Wayne Ellington ajudou na troca por Timofey Mozgov

Antes de Lebron, então, quem voltou foi Mike Brown, com um contrato de cinco anos e US$ 25 milhões. Ele retomava seu antigo cargo com o privilégio de poder orientar dois novatos número 1 do Draft, já que Anthony Bennett se juntava a Irving. O russo Sergey Karasev era mais um jogador jovem para a base. No mercado, contratou Jarrett Jack (pagando demais), Earl Clark e Andrew Bynum (uma roubada). No meio do campeonato, pela primeira vez desde 2010, o Cavs faria uma troca na qual o jogador mais relevante estava chegando, em vez de saindo: Luol Deng. Mas o time não evoluiu da forma que Gilbert esperava.

O desempenho de Bennett era decepcionante, e Bynum armou um circo, antes de ser envolvido na transação por Deng. A sucessão de erros recentes custou a demissão de Grant. David Griffin foi promovido e ainda teve de providenciar a chegada do pivô Spencer Hawes, do Sixers, numa vã tentativa de subir na tabela. Os veteranos não influenciaram a campanha,  e o time ficou fora do playoffs. Foi a vez de Brown ser novamente chutado para escanteio, mesmo com US$ 20 milhões ainda por receber da franquia.

De todo modo, a visão geral de Grant estava correta. O time estava preparado para avançar, ainda que tenha tropeçado feio em seu último ano de gestão. O campeonato ruim colocou o time novamente na loteria do Draft, e o restante dos concorrentes entrou em choque ao saber que, pela terceira vez em quatro anos, a família Gilbert era agraciada novamente com o primeiro lugar da lista e o direito a optar entre Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Uma das escolhas de Draft acumuladas durante o processo foi enviada por Griffin para o Boston Celtics, ao lado de Tyler Zeller, para que o clube pudesse se desfazer dos contratos de Jack e Karasev. Estava aberta a trilha para a contratação de LeBron – e de Kevin Love. Outra das escolhas foi usada para aquisição de Timofey Mozgov, enquanto Dion Waiters foi peça central na troca por Iman Shumpert e JR Smith. Aí… Bem, aí que o Cavs torna a disputar o título depois de oito anos.

Desde que publicou sua celebrada carta na Sports Illustrated, LeBron pediu paciência a todos. Que as coisas levariam um tempo até a se ajustar. Quando se apresentou ao clube, porém, ficou claro que o mais ansioso pela conquista de bons resultados era o próprio craque. Vem daí a troca de Wiggins por Love. O astro também deu uma canseira em David Blatt, deixou claro seu descontentamento com o próprio Love e com Irving e Waters em diversas partidas e não parou de mandar recados, velados ou não. Seu discurso inicial não poderia ser mais vazio. LeBron queria o título, e para já. Agora tem uma segunda chance, em busca da redenção em sua terra natal.  A diretoria, mais uma vez, cedeu a todos os seus pedidos. Só esperam todos que o desfecho seja diferente. Para agora e um pouco mais à frente.


‘Geração Nenê’ consegue reconhecimento tardio com 2º título em 2 anos
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Giancarlo Giampietro

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Varejão e Leandrinho: mais um brasileiro sairá campeão de quadra

A partir do momento em que o Golden State Warriors terminou o serviço na Conferência Oeste, despachando o Houston Rockets para se classificar à final, ficou definido que mais um brasileiro se juntaria a Tiago Splitter na lista de campeões da NBA: ou vai dar Leandrinho, ou Anderson Varejão, com seu Cleveland Cavaliers. Demorou um pouco, é verdade, desde que Nenê chegou a Denver em 2002 para reabrir as portas da liga americana aos jogadores nacionais. Mas, com dois títulos em dois anos seguidos, essa geração de 1982 a 85, um tanto contestada pela falta de sucesso com a camisa da seleção, trata de confirmar seu valor.

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Não, nenhum deles alcançou um status transcendental como o da dupla Manu Ginóbili e Luis Scola, ainda que Splitter já tenha sido eleito o melhor pivô da Espanha (e da Europa), que Leandro já tenha ganhado um prêmio de Sexto Homem (tal como Manu), e que, juntos, tenham ganhado, só nos Estados Unidos, mais de US$ 208 milhões em salários – sem contar os US$ 92 milhões que ainda estão por cair na conta. Se as franquias decidiram desembolsar tanta grana assim por quatro atletas, é que com algo de positivo eles podem contribuir. Creio. Mesmo que coadjuvantes.

Bons times não são compostos apenas por grandes estrelas. Se bem que… Qualquer treinador adoraria escalar cinco LeBrons… Ou, imaginem, que pesadelo seria marcar cinco atletas com a habilidade de Steph Curry no arremesso. Mas, hã, isso é impossível. Esses caras são aberrações, que você não encontra facilmente por aí. Os dirigentes têm, então, de se virar para encontrar as melhores peças complementares possíveis, enfrentando concorrência pesada e também tendo de se adequar  regras de controle das folhas salariais. É aí que entram os dois finalistas deste ano, além do campeão Splitter e de Nenê.

Eles têm algumas características em comum – especialmente os pivôs, os três muito inteligentes, com visão de quadra, excelentes no corta-luz e no passe – e outras habilidades bastante específicas que os tornam jogadores cobiçados e valiosos na confecção de um elenco. Lembrando que, numa liga de padrão elevadíssimo, mesmo os ‘operários’ tendem a ser bastante qualificados e, quando atingem um nível de excelência naquilo que são contratados para entregar, acabam muito bem pagos.

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Esse quarteto ganhou uma nota, é verdade – e acumularam também muitas vitórias, aquilo que, supomos, vale mais. É interessante notar como no currículo de Leandro, Varejão, Nenê e Splitter estão relacionadas equipes que prosperaram na maior parte do tempo. Com uma boa ajuda do Basketball Reference, dá para levantar precisamente o quanto elas venceram com a ajuda dos brasileiros. Então vamos lá: com 4o campanhas acumuladas entre os quatro, apenas em nove delas seus times tiveram aproveitamento inferior a 50% quando estavam em quadra, enquanto em 27 ocasiões foram para os playoffs.

aproveitamento-brasileiros-nbaSão quatro temporadas negativas para Varejão (no intervalo sem LeBron em Cleveland de 2011 a 2014), três para Leandrinho (a primeira em Phoenix em 2003, uma em Toronto em 2011 e outra dividida entre Toronto em Indiana em 2012) e apenas duas para Nenê (a primeira pelo Denver em 2002 e a de 2013 pelo Washington – tomando o bom senso de ignorar sua campanha 2005-06, na qual disputou apenas um jogo, sofrendo grave lesão no joelho logo na primeira partida). Splitter, no bem bom de San Antonio, tem um aproveitamento de 72,3% nas partidas que disputou (veja mais ao lado). No total, eles somam 2.329 partidas, com 1.366 vitórias, com aproveitamento de 58,6%. Para relativizar, esse número valeria a quinta colocação na Conferência Leste na atual temporada, ou o oitavo lugar no duríssimo Oeste.

O Golden State Warriors de Leandrinho, esteve bem acima dessa média, com 81,7% para entrar na decisão com mando de quadra. Nas 66 partidas em que escalou Kerr, o rendimento foi um tiquinho superior (81,8%). Quando vai para quadra, joga 11 minutos por partida durante os playoffs, rendendo Stephen Curry ou Klay Thompson. Varejão está fora de ação em Cleveland, devido a uma cirurgia no tendão de Aquiles que interrompeu sua vitória em dezembro. Quando jogou, em tempos de turbulência pré-folga de LeBron e trocas, foram 16 vitórias e 10 derrotas (61,5%, contra os 64,6% do final). Mas os poucos minutos e jogos não só não condizem com a história que os dois (e seus compatriotas) construíram nos últimos 13 anos de NBA, como também não diminuem a importância de ambos em seus grupos.

“Acho que se fôssemos fazer uma eleição no nosso time sobre quem seria o atleta mais popular, ele ganharia. É um cara divertido e que está sempre dando atenção a todos. Ele proporciona muita energia para o nosso time, energia no dia a dia para o vestiário, o que é sempre muito bom e importante”, afirmou ao VinteUm Alvin Gentry, recém-contratado pelo New Orleans Pelicans, mas ainda assistente do Warriors nas Finais da NBA que começam na próxima quinta-feira. Pergunte a LeBron James sobre o impacto que Anderson Varejão pode causar no dia a dia de um clube, também com muito carisma e empenho inesgotável. “Ele foi uma parte gigante no sucesso que tivemos no passado aqui, e, quando tomei a decisão para voltar, fiquei muito feliz que ainda fizesse parte do time”, disse durante a pré-temporada no Rio.

spurs-splitter-campeao-2014Não é apenas como ombro amigo que se ganha relevância. Varejão, obviamente, fica limitado a esse papel nas próximas semanas. Quando está em quadra, porém, sabemos que se trata de um dos melhores reboteiros e defensores entre os grandalhões da liga, além de ótimo passador. Leandrinho, por outro lado, tem sido produtivo nos minutos que lhe cabem como reserva de dois All-Stars, com 7,1 pontos em 14,9 minutos, com 47,4% nos arremessos (a melhor marca desde 2009) e 38,4% de três pontos (a melhor desde 2008). Numa projeção por 36 minutos, se mantivesse o ritmo, estaria com 17,1 pontos, 3,6 assistências, 3,3 rebotes e 1,5 roubo de bola. Em termos de eficiência, atingiu aos 32 anos o quarto melhor índice de sua carreira.

Os números caíram de modo significativo nos playoffs, mas o veterano ainda conta com a confiança de seu técnico em duelos importantes, de pressão. Por isso, já deve ficar de prontidão nas próximas 48 horas,  dependendo da avaliação médica de Klay Thompson. O ala ainda está sendo examinado de acordo com o protocolo de concussão da liga e não tem escalação garantida para o Jogo 1 em Oakland. Num cenário ideal, Kerr não vai precisar acionar o ligeirinho. Mas sabe que o ala-armador está jogando com muita velocidade e um nível de intensidade, agressividade fora do comum. Características tão ou mais importantes que as estatísticas. Menos do que uma lenda viva como Ginóbili ofereceu ao Spurs com frequência, desde 2003, quando estrearam juntos nos Estados Unidos. Normal, ué. Manu é outro que está na galeria dos diferentes, daqueles em torno do qual você pode montar um belo time. Sozinhos, contudo, eles não vão a lugar nenhum. Na escolta, pode muito bem caber um dos brasileiros.


Deu Warriors x Cavs. Notas sobre os desfecho das finais de conferência
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Giancarlo Giampietro

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

As finais de conferência já são história, definindo que o Golden State Warriors vai jogar sua primeira decisão da NBA após 40 anos e que LeBron James chega a sua quinta em cinco anos – um aproveitamento de 100% nesta década. Para o seu Cavs, vale como o retorno após a varrida sofrida em 2007 contra o Spurs.

Assunto é o que não falta. Seguem, então, algumas notinhas sobre os desdobramentos dos últimos dias e outras pílulas sobre o que vem por aí. Alguns desses tópicos provavelmente mereçam ser explorados com mais atenção até a próxima quinta-feira, quando começa o embate. Foi apenas a segunda vez em 29 anos em que as conferências consagraram seus campeões em um máximo de cinco jogos. Ambos terão uma semana de descanso, então, para regenerar James, preservar o joelho de Kyrie Irving e cuidar de uma eventual concussão de Klay Thompson.

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Os relatos de Oakland afirmam que não houve comemoração mais tímida como a do Warriors nesta quarta, no vestiário. Nada de champanhe, choro e exaltação. “Alguns jogadores tiraram selfies com o troféu da Conferência Oeste, e ficou nisso”, escreve o veterano jornalista Tim Kawakami, do San Jose Mercury News. “Já estão claramente concentrados nas próximas quatro vitórias.”

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Poxa, mas nenhuma tacinha?

Dá pra entender a sobriedade. melhor time o ano todo. Só o título vale como desfecho de uma das melhores campanhas da história. Com 79 vitórias e 19 derrotas até agora, são os favoritos. Em que pese o fator LBJ.

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Varejão e Leandrinho, mais de 10 anos na liga

Varejão e Leandrinho, mais de 10 anos na liga

Vamos ter um segundo brasileiro campeão, para se juntar a Tiago Splitter. E pelo segundo ano consecutivo. Se Leandrinho tem jogado muito bem como substituto eventual de Chef Curry ou Klay Thompson, com média de 11 minutos em 15 partidas, Anderson Varejão é praticamente um assistente do Cleveland, depois de ter sofrido uma ruptura de tendão de Aquiles em dezembro. Se a equipe desbancar o Warriors, porém, o pivô merece tão ou mais o anel de campeão do que qualquer um de seus companheiros. Afinal, é o cara que está no clube desde 2004, viu LeBron crescer e partir com os seus talentos para South Beach, sofreu com tantas derrotas nos últimos anos e se tornou um patrimônio da cidade. Quando seu corpo não lhe trai, não há quem entregue mais.suor em quadra.

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“Nós somos um time de arremesso e que não chutou bem hoje. Pelo menos fizemos uma ótima defesa.”

Foi uma das frases de Draymond Green nas entrevistas após a vitória final sobre o Rockets. Sem a eloquência costumeira, mas resumindo sua equipe. De novo: o Warriors não é especial só por causa do talento dos Splash Brothers. No Jogo 5, acertaram apenas 9 de 29 tentativas de longe, com Curry em desarranjo, mas acabaram com James Harden e souberam proteger a cesta depois de um primeiro quarto dominante e preocupante de Dwight Howard.

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Sobre Curry: o que houve? O MVP matou apenas 7 de 21 arremessos, sendo 3 em 11 de três pontos. Ainda perdeu 3 de 12 lance livres. Sem dúvida que foi um reflexo do tombo que levou em Houston. Ele sentia leve dor no lado direito de seu corpo. Decidiu até mesmo jogar com a proteção eternizada por Allen Iverson no braço. Mas a bola não caía com a frequência desejada. Tirou a braçadeira, e não deu em nada. Faço um paralelo com um carro de Fórmula 1, se me permitirem. A forma de arremesso do armador é tão especial, tão sofisticada que qualquer componente desalinhado pode fazer toda a diferença. Com uma semana de treinamento e respiro, tem tempo suficiente para restaurar a configuração original.

Agora é descansar o braço. Se a pequena Riley permitir

Agora é descansar o braço. Se a pequena Riley permitir

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É,  James Harden…  13 turnovers, recorde individual em um jogo de playoff. Só fez um pontinho a mais que isso. Se o Sr. Barba conseguiu evitar a varrida em Houston, acabou vivendo um pesadelo em Oakland. Fica a dúvida agora sobre qual desfecho seria menos indigno para a sua temporada.

Mas o Houston Rockets como um todo deve se despedir de cabeça erguida. Ser o segundo colocado numa conferência dessas não é pouco. Ainda mais com Howard perdendo exatamente a metade da campanha e Terrence Jones, Patrick Beverley e Donatas Motijeunas fora por muito tempo. E com Josh Smith, Corey Brewer e Pablo Prigioni chegando no meio do caminho.

Lembrem-se que o time texano caiu na primeira rodada dos playoffs do ano passado. Voltou, então, com uma defesa top 10, num progresso sensacional, mesmo sem Howard. O próximo desafio agora é procurar diversificar o ataque encontrar outros planos para além da correria e das investidas de Harden. O craque precisa da ajuda de outra força criativa no perímetro. Beverley, Brewer e Ariza são peças complementares excelentes, mas contribuem muito mais com defesa e energia. Não são caras que desafoguem a vida na hora de buscar a cesta.

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Para ficar no tema dos eliminados, o Hawks encerra a melhor campanha da franquia desde que se estabeleceu em Atlanta. Foi um ano maravilhoso, mas que terminou como um suplício. Começou com a fratura na perna de Thabo Sefolosha, causada pela polícia nova-iorquina. Depois foi a vez de DeMarre Carroll quase estourar o joelho. Al Horford foi expulso. Kyle Korver acabou de passar por uma cirurgia no tornozelo direito. Shelvin Mack sofreu uma ruptura no ombro e também vai ser operado. Afe. O futuro do time fica no ar agora, devido à entrada de Paul Millsap e Carroll no mercado, com a cotação elevadíssima. Danny Ferry, um dos dirigentes que melhor contratou nos últimos anos, segue afastado. E o clube tem novos proprietários. Seria um pecado que esse núcleo não tivesse mais uma chance.

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Steve Kerr, Cleveland Cavaliers, player, cardE este card? Ainda iniciando sua carreira na liga, depois de uma temporada com o Phoenix Suns, o chutador Steve Kerr jogou pelo Cavs de setembro de 1989 a dezembro de 1992, quando foi trocado para o Orlando Magic por uma escolha de segunda rodada do Draft de 1996, que resultaria em… Reggie Geary (quem?). Depois, acertaria com o Chicago Bulls. O resto da história vocês conhecem. Cinco títulos como atleta, comentarista brilhante, dirigente competente e agora um técnico de sucesso. Não apostem contra ele.

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Ao assumir o Golden State, um dos primeiros nomes contatados pelo treinador para compor sua comissão técnica foi… David Blatt. E pensar que o comandante do Cavs ficou muito perto de aceitar a proposta. Meio que já tinham um acordo informal, até que o Cavs (antes do Retorno) entrou na parada. Kerr nem tinha muito do que reclamar, pois havia feito a mesma coisa com Phil Jackson e o New York Knicks. Se o Mestre Zen tivesse feito a proposta dias antes, talvez tivesse assinado um contrato com o ex-pupilo. Pequenos desvios no rumo da história que nos colocam aqui, diante da final Warriors x Cavs. Agora Kerr e Blatt se enfrentam: é o primeiro par de treinadores (coff! coff!) novatos. Tecnicamente, é a segunda vez, mas isso porque houve uma primeira temporada, com dois treinadores que, dãr, estreavam em seus postos. Em 1947,  Eddie Gottlieb, do Philadelphia Warriors, levou a melhor sobre Harold Olsen, do Chicago Stags, por 4 a 1.


Cavs dá últimas cartadas para avançar no Leste
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Giancarlo Giampietro

Acesso restrito para a dupla agora em NYC

Acesso restrito para a dupla agora em NYC

No domingo, pouco antes de o Cleveland Cavaliers iniciar aquela que seria uma sequência duríssima de jogos, sem poder contar com LeBron James, o gerente geral David Griffin fez questão de chamar uma entrevista coletiva. Na pauta, o respaldo incisivo ao técnico David Blatt, cuja segurança no cargo já era ameaçada (ao menos por especulações na mídia). Bateu a mão na mesa e disse que não tinha nada disso. Que era ridículo até mesmo pensar isso.

Além do apoio dado ao treinador, o dirigente falou sobre como estava realmente buscando reforços para o time, principalmente depois da lessão que custou mais uma temporada a Anderson Varejão. Mas alertou que as coisas andavam difíceis no mercado. “Estamos ativamente no telefone e fazendo tudo que podemos para melhorar a equipe. Ao mesmo tempo, infelizmente, nosso timing não bate sempre com o dos outros. Até o deadline para se fazer trocas, as pessoas não têm tipicamente muitas razões para fazer uma negociação. Então, estamos fazendo o que podemos e trabalhando todo e qualquer cenário. A lesão alterou o nível de urgência. O que não posso fazer é alterar o nível de disponibilidade no mercado. Então, até que chegue o momento em que possamos encaminhar um negócio que atenda a necessidade de ambos os lados, vamos continuar a nos mexer”, afirmou.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Três dias depois, fechou duas trocas. Que coisa, né?

Esta é a NBA, onde o adiantado da hora acontece.

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

Depois de receber JR Smith e Iman Shumpert numa entrega expressa de Phil Jackson, o Cleveland agora anuncia um acordo com o Denver Nuggets para, depois de meses e meses de flerte, enfim ter o pivô Timofey Mozgov em seu elenco. A contratação do gigante russo é a mais importante, para suprir uma carência clamorosa no garrafão. Foi por isso, também, a transação mais custosa, com o time do Colorado recebendo duas escolhas de primeira rodada de Draft.

Ainda que seja realmente muito cedo – e, sim, ridículo – para falar em demissão de Blatt, Griffin, por outro lado, teve tempo o suficiente para perceber que o elenco montado para a abertura da temporada não daria conta do recado. Por mais que bata na tecla de que o processo de montagem do renovado Cavs é de médio para longo prazo, desde o momento em que LeBron James assinou um contrato curto e forçou a barra para a troca de Kevin Love, as metas para a franquia se tornaram automaticamente imediatistas.

No mesmo domingo da coletiva enfática do gerente geral, fiz no Sports+ o jogo de seu desfalcado Cavs contra o Dallas Mavericks. Sem LeBron James, com um Kyrie Irving limitado por dores nas costas, a equipe levou uma surra em casa, como já esperava. Não dava para falar muita coisa sobre tática com base naqueles 48 minutos. Mas o que ficou claro foi a fragilidade do elenco que ia além dos seis, sete principais homens da rotação.

Mesmo com força máxima, a verdade é que o produto entregue em quadra se mostrava bastante vulnerável. O time teve bons momentos, venceu todas as equipes que estavam acima na classificação da Conerência Leste, mas a química obviamente não era das melhores, com a defesa sofrendo mais, como o de costume nessas ocasiões de química duvidosa. LeBron tem muito o que falar a respeito, aliás. Mas esse assunto fica para daqui a pouco. Griffin, de todo modo, percebeu que algo precisava ser feito.

Lou Amundson: leão de treino, corre e briga por rebotes. Mas não dá para jogar

Lou Amundson: leão de treino, corre e briga por rebotes. Mas não dá para jogar

Mogzgov chega para, em teoria, fortalecer a defesa interior. O porte físico do pivô, de 2,16m, já é imponente. Mas ele pede ainda mais respeito quando vemos o quanto salta e como corre pela quadra. O curioso, porém, é que o Denver Nuggets defende com menos eficiência quando ele está em quadra, embora isso possa ter a ver com quem está ao seu redor. Segundo a medição avançada de Real Plus-Minus, do ESPN.com, que procura fazer exatamente a distinção de quem está em quadra na hora de avaliar o impacto de cada jogador, ele seria 25º pivô com mais impacto defensivo para seu time. Blatt certamente confia no atleta, com quem já trabalhou com sucesso na seleção russa – foram, juntos, medalhistas de bronze nas Olimpíadas de Londres 2012.

A contratação já diminui a carga sobre Tristan Thompson, de todo modo, e arruma um guarda-costas para Kevin Love, que sempre precisou de um. E aí está uma questão mais relevante do que simplesmente dissecar os números do russo: o Cavs precisa defender melhor de modo geral, e tudo começa pelo comprometimento de suas estrelas, incluindo o ala-pivô ex-Wolves e LBJ.  Se eles não fizerem sua parte, não há pivô que vá consertar, por conta própria, uma defesa esburacada. Iman Shumpert, se conseguir ficar em forma, já pode dar uma boa força para isso, com muita agilidade e envergadura para efetuar desarmes e ameaçar as linhas de passe.

(Sobre JR Smith? Bem… Já está registrado que é um dos jogadores mais lunáticos de sua geração. Cuja seleção de arremessos sempre foi irritante. Nas últimas quatro temporadas, ele não passou da marca de 43% de quadra. Seu chute de longa distância, todavia, é bem superior ao de Dion Waiters. E, ego por ego, não dá para dizer que o povo de Cleveland vai sentir muito a falta do ala-armador endereçado para OKC. Se ele não aprontar muito, vai representar um avanço em relação a Mike Miller e James Jones, os chapas do Rei, que são atiradores muito mais apurados, mas que não contribuem com mais nenhuma habilidade em quadra. Ao menos essa versão de Miller que temos visto: o ala, nos bons tempos, era melhor reboteiro e distribuidor.)

Para Blatt, a dificuldade é que ele agora tem três novos jogadores a integrar em seus planos e rotações, enquanto seu relacionamento com LeBron e Love ainda está, digamos, em manutenção – ao menos os reforços chegaram mais de um mês antes da data final para trocas, dando mais tempo para buscar o entrosamento ideal. Pode ser que não dê tempo de buscar mando de quadra nos mata-matas. O fundamental seria apenas chegar aos mata-matas com um conjunto sólido, azeitado. No Leste, o fato é que ao menos eles não estão ameaçados.

O treinador, de qualquer modo, sabe que a cobrança é dura. Mas deve se sentir mais animado: bem melhor trabalhar com jogadores realmente produtivos, em vez de um projeto como Alex Kirk ou veteranos inofensivos como AJ Price, Lou Amundson e Brendan Haywood. Eram quatro peças nas quais ele não tinha confiança nenhuma. Jones só começou a jogar por causa de lesões e, agora, devido a trocas. Fora isso, Shawn Marion hoje está muito mais para “Cocoon” do que “Matrix“. E aqui já estamos falando de mais de 1/3 do antigo plantel comprometido.

Um plantel cuja construção certamente teve mais influência de LeBron e Griffin, o dirigente que, agora, espera não ter de convocar tão cedo uma nova coletiva. Em termos de negociações, não sobrou muito com o que mexer. Seu trabalho está praticamente feito. Se ele se sentir obrigado a se apresentar aos jornalistas num futuro breve, aí, sim, Blatt pode ficar verdadeiramente preocupado.

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dion-waiters-okc

Sam Presti, gerente geral do Thunder, sabe que as chances de Reggie Jackson se mandar ao final do campeonato beiram os 98,9%. O armador quer ser titular de algum time e já montou um bom DVD de melhores momentos para justificar um contrato na casa, talvez, de oito dígitos anuais. Então Waiters se encaixaria, num preço baixo, como o cestinha do banco para ajudar Durant e Westbrook. Supostamente, claro. O número quatro do Draft de 2013 tem um bom drible e finaliza bem quando próximo da cesta. Segundo medição do NBA.com, porém, ele acertou nesta temporada apenas 27% dos arremessos em situação de catch-and-shoot. Quer dizer, o cara precisa da bola para produzir – e fica ansioso, para não dizer desesperado quando não a tem em mãos. Se em Cleveland, ela ficava dividida entre LeBron e Irving, em OKC… Sacaram, né Waiters precisa aceitar suas limitações de momento e entender que a história de “novo, possível Dwyane Wade”, como seu peixe foi vendido no período pré-Draft, parece uma tremenda balela. Se topar e se enquadrar, pode ser bastante útil. Se não rolar, ao menos o preço pago não foi dos mais caros.

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Lance Galloway, o futuro (imediato) para o Knicks

Lance Galloway, o futuro (imediato) para o Knicks – não o do Westchester

Para o Knicks, é curioso ver em ação o executivo Phil Jackson, com outra mentalidade. Como treinador, ele gostaria de melhorar sua equipe para já, inclusive limitando o tempo de quadra dos calouros. Distante da quadra, não há por que se precipitar. Os Bockers caminham para ser um dos três piores times da temporada, garantindo uma ótima escolha de Draft. Hardway Jr. vai ter mais arremessos, enquanto Cleanthony Early, mais minutos. Jogadores jovens e baratos observados na D-League serão testados – entre eles o armador Langston Galloway, de 23 anos, que jogou a liga de verão pela franquia e estava em sua filial de Westchester. Além disso, sem Smith, ele ganha mais US$ 7 milhões de teto salarial para investir em agentes livres.

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A adição de Mozgov, Shumpert e Sith custarão US$ 7,3 milhões em multas por excesso salarial ao final do campeonato. Dan Gilbert, o mesmo que vai pagar US$ 16 milhões a Mike Brown nos próximos quatro anos, não tem problema em usar o talão de cheques.

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O Cavs mantém suas próprias escolhas de Draft para o futuro. Na troca pelo pivô russo, eles enviaram picks que pertenciam ao Memphis Grizzlies e ao Oklahoma City Thunder. O do Memphis é o mais valioso, já que pode ser de loteria (protegido entre os postos 1 e 5 nos próximos quatro anos). Em 2019, não restará mais nenhuma restrição.

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Em Denver, todos os olhos se voltam agora para o calouro Jusuf Nurkic. O pivô bósnio vem jogando bem em 2015, com médias de 11,7 pontos, 8,7 rebotes e 4 tocos nos últimos três jogos, em 22 minutos. Já deixou JaVale McGee comendo poeira. Esperem um grande saldão no Colorado, com diversos contratos de médio porte para atletas experimentados, que podem contribuir para times com aspirações aos playoffs.


Ex-pivô da NBA é preso com um arsenal em casa
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Giancarlo Giampietro

Swift foi companheiro de Durant e Westbrook em OKC. Por pouco tempo

Swift foi companheiro de Durant e Westbrook em OKC. Por pouco tempo

Toda vez que for defender a ideia de que um limite de idade é necessário um limite de idade para a inscrição no Draft, pode ter certeza de que a direção da NBA vai usar o nome de Robert Swift como um exemplo fundamental em sua apresentação de defesa, enquanto o outro lado tem um LeBron ou um Kobe como contrapeso. Todos atletas que saíram do colegial direto para a grande liga e tiveram caminhos distintos, claro. Justo? Claro que não. Afinal, há diferenciação também entre formandos, segundanistas, estrangeiros etc. Toda categoria tem seus sucessos e fracassos.

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Mas é que, no caso do magricela, branquelo e ruivo, a história é realmente forte e alarmante. Daquele tipo de trunfo que, nos filmes de tribunal, vai aparecer na última hora para salvar toda uma tese. O ex-pivô tornou a ocupar os noticiários policiais nesta sexta-feira, como personagem de causo realmente escabroso.

A imprensa norte-americana teve acesso a um inquérito em que Swift aparece como suspeito de envolvimento com tráfico de drogas. Uma investigação na pequena cidade de Kirkland, interior do estado de Washington, levou os oficiais a invadirem uma residência em que o gigante de 2,13 m e 28 anos dividia com Trygve Bjorkstam, 54. Os dois foram presos.

O arsenal assustador de Swift

O arsenal assustador de Swift

Na casa, além de drogas e utensílios para uso, foram encontradas armas. Muitas armas, como pistolas, espingardas, espadas katana e até mesmo um lançador de granadas. Em depoimento, Swift se assumiu como dono desse verdadeiro arsenal. Ele atuava como uma espécie de segurança de Bjorkstam, que lhe fornecia heroína diariamente. Ajudava na cobrança de dívidas e na proteção do estoque de entorpecentes.

O ex-jogador do Seattle Supersonics/Oklahoma City Thunder e o traficante dividem domicílio desde abril. No ano passado, ele foi despejado de uma mansão de mais de US$ 1 milhão por dívidas. Depois de muito relutar, deixou a residência, que se encontrava em estado precário, com fezes de cachorro, latas de cerveja vazia, caixas de pizza e buracos de bala. Tudo lamentável. Mas talvez o item que mais chamasse a atenção fosse uma caixa fechada com cartas com ofertas de diversas universidade, na tentativa de seu recrutamento.

Isso foi em 2004, quando Swift era um promissor pivô de 18 anos saído do high school em Bakersfield, na Califórnia. Ele chegou a acertar verbalmente com a Universidade de Southern California, mas optou pela rota profissional depois de impressionar os olheiros da NBA. Acabou escolhido pelo Sonics na 12ª posição da quele ano.

Obviamente o clubeSeattle sabia que estava lidando com um projeto de longo prazo. Na primeira temporada, ele participou de apenas 16 partidas, com 4,5 minutos em média. Em 2005-2006, os números subiram para 47 partidas e 21 minutos, acompanhados também de um salto qualitativo. Ao iniciar o terceiro ano, veio o baque: sofreu uma ruptura de ligamento cruzado anterior logo na estreia na pré-temporada. Perdeu todo o campeonato. Quando retornou, mal havia esquentado e sofreu outra lesão, dessa vez no menisco. Em dezembro de 2009, já com a franquia deslocada para Oklahoma City, acabou dispensado, aos 23 anos.

Robert Swift, antes e depois: transformação no visual ainda em tempos de NBA

Robert Swift, antes e depois: transformação no visual ainda em tempos de NBA

Swift ainda procurou a D-League, mas não tinha forma física, nem condições emocionais de retomar a carreira de imediato, já enfrentando problemas legais, tendo sido preso por dirigir embriagado, com condução de risco. Na temporada 2010-2011, chegou a encarar uma aventura no Japão, sob o comando de seu ex-treinador em Seattle, o veterano Bob Hill. Estava jogando bem, quando seu clube, o Tóquio Apache, encerrou suas atividades depois do tsunami que abalou o país em 2011. O pivô ainda fez um teste pelo Portland Trail Blazers e não foi aprovado.

Entrando em reclusão, o pivô só reapareceu quando veio a pública o fato de sua casa ter sido hipotecada em 2013. Agora reaparece preso prisão por posse ilegal de armas, pouco mais de dez anos depois de ter sido selecionado pelo Sonics. Uma sucessão de fatos deprimentes para um garoto, que parecia com a vida encaminhada após tempos difíceis durante a infância, encarando dias em que não havia garantia de uma refeição adequada. Em cinco anos de NBA, ganhou mais de US$ 11 milhões em salário.

Olhando em retrospecto, seria fácil dizer que Swift cometeu um erro ao pular diretamente para a NBA. Do ponto de vista psicológico, principalmente, a julgar pela descarrilada que teve a partir das lesões que o afastaram da quadra. Tecnicamente, após um ano de adaptação, estava começando a deslanchar. Qualquer julgamento, porém, é no mínimo precipitado.

Swift, na fase japonesa

Swift, na fase japonesa

É só recuperar o Draft beeem peculiar em que foi recrutado, especialmente para pivôs. Em primeiro, por exemplo, saiu Dwight Howard, outro colegial, logo acima de Emeka Okafor, um junior. O próximo grandalhão a entrar na lista foi ninguém menos que  Rafael “Baby” Araújo, um senior, em oitavo. Andris Biedrins foi chamado em 11º. Em 15º, lá estava Al Jefferson, também adolescente. Josh Smith, em 17º. O gigante russo Pavel Podkolzin saiu em 21º. Anderson Varejão caiu para 31º, dois postos antes de Peter John Ramos, o gigante porto-riquenho. Que gangorra, hein? Uma loteria.

E sabem do que mais? Não é segredo algum que, naquele ano, Danny Ainge fez das tripas coração para selecionar Swift para o Boston Celtics. Era seu alvo primordial. Acima de Al Jefferson. Ele, na verdade, tinha certeza de que contrataria o pivô, até o Seattle frustrar seus planos. Tivessem as coisas acontecido de outra maneira, como estariam os dois? Seria Jefferson um companheiro de Kevin Durant até hoje? Vai saber. Nessa realidade paralela, porém, é certo que todos esperassem um final bem diferente para o outro pivô.


Retorno de LeBron desafia maldição esportiva de Cleveland
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Ele voltou

Ele voltou

Em Cleveland, o burburinho começou em maio, quando o Browns selecionou o badalado – e controverso – quarterback Johnny Manziel no Draft da NFL. Aí que, no dia 11 de julho, três meses depois, chegou a carta de LeBron James, via Sports Illustrated, anunciando O Retorno do Rei. Aí quem iria segurar?

Os torcedores mais fanáticos foram para a rua. As aglomerações não chegaram a atingir o status de passeata, mas foi quase. A causa? Eles estavam confiantes, muito confiantes que estaria chegando perto do fim. Mas o quê?

A mal-di-ção que paira sobre a cidade.

De que seus times não seriam campeões nunca mais na vida.

“Ah, vá. Que história de maldição é essa? Que bobagem!”, pode ser sua recepção. Mas não brinque com, ou duvide dos sentimentos dos outros, cara.  A sensação a respeito é tão grave em Cleveland, que tem seu próprio verbete na Wikipedia, gente. Veja só como o texto começa: “A maldição sobre os esportes de Cleveland é uma superstição envolvendo a cidade de Cleveland, e  todos seus times esportivos”. Todos!

Um artigo que detalha a maldição

Um artigo que detalha a maldição

Desde que o Cleveland Browns ganhou o título do futebol americano em 1964, a cidade, também representada na NBA e no beisebol com o Indians, jamais ganhou um troféu. Se for juntar tudo, dá mais de 150 temporadas de jejum. E eles não aguentam mais conviver com esse fardo. Daí que, quando um LeBron volta parasua  casa – que, veja bem, não é exatamente Cleveland, mas Akron –, eles explodiram em euforia. Era chegada a hora.

Do ponto de vista nacional, a pressão sobre o Cavs vai ser natural. Afinal, é o que ronda toda a carreira do ala, ainda mais depois da chegada de Kevin Love. Estamos diante do novo supertime da NBA. Na cidade, porém, você pode imaginar o nível de tensão quando a equipe se aproximar dos playoffs.

“O campeonato é a nossa meta nesta temporada”, afirma Anderson Varejão, que já vive há 10 anos por lá, e então sabe que tem de tomar cuidado ao abordar o tema, de modo que ele complementa a frase: “Mas há alguns times muito bons lá fora. Espero que dê certo para nós logo de cara, e que vençamos todo mundo, mas as coisas não funcionam desta forma. Vai levar tempo”.

O time: antes de contratar James e Love, o Cavs já havia garantido um grande trunfo para elevar o produto que entrega em quadra: Blatt. O americano-israelense estava merecendo uma chance na NBA. Hoje, existem outros 28 técnicos que trocariam de lugar com ele num piscar de olhos – vamos deixar Pop fora dessa. Mas talvez não haja melhor nome para cumprir essa missão, independentemente de sua condição de estreante na grande liga. A começar pela defesa. Uma das características mais elogiosas de Blatt é sua capacidade camaleônica, de se adaptar ao que tem ao seu redor. E, como ele mesmo conta, no elenco formado pelo gerente geral David Griffin, com uma ajudinha de LBJ, há atletas que vieram de times que praticavam os mais diversos estilos de defesa no ano passado. Isso não é problema.

“Vamos ser versáteis. O fato de ter caras vindo de diversos sistemas só vai nos ajudar”, garante. Versatilidade não falta, realmente, para o treinador usar. Ele pode formar quintetos grandes e, ao mesmo tempo, velozes. Ou times baixos, mesmo, que vão correr ainda mais – ter o melhor jogador do mundo ao seu lado ajuda bastante para isso. Tudo vai depender da química em quadra e do adversário, do jeito que seu treinador gosta. O Cavs também tem um potencial imenso para dominar os rebotes jogo a jogo, com o trio Varejão-Love-Thompson sendo escoltado por Marion e James. Se você assegura os rebotes defensivos, estará bem posicionado para sair no contragolpe. Irving, Waiters e James vão adorar receber os touchdowns de Love, por exemplo. Em situações de meia quadra, arremessadores não faltam para esgarçar a defesa. Enfim, é um time bastante intrigante.

A pedida: o elenco ainda é majoritariamente jovem, considerando as peças principais, LeBron, Blatt e dirigentes vão falar que tudo tem tempo nessa vida, mas é óbvio que a equipe joga pelo título para já.

Linha de frente de Cleveland promete dominância nos rebotes

Linha de frente de Cleveland promete dominância nos rebotes

Olho nele: Tristan Thompson. Quando você observa o pivô canadense e ignora as minúcias do jogo, deve se sentir predisposto a amar o sujeito. É um cara muito rápido e ágil, que sai do chão com facilidade para enterrar ou capturar rebotes. Para ele, essa coisa de capacidade atlética é natural. Os pais eram esportistas, o irmão caçula, também. E o primo. Leia mais. Aqui, Thompson ganha relevância não só por ser aquele que vai revezar com Varejão no garrafão, mas também por causa do futuro. Um futuro bem próximo. O canadense chega a seu quarto ano de NBA, estando sujeito a renovar seu contrato. E vale quanto?

A despeito de suas habilidades como reboteiro, de cobrir espaços defensivamente, em termos de produção ofensiva, o pivô está estacionado, se for para checar sua produção por minuto, ou até mesmo regrediu, em termos qualitativos. No ataque, ele pode ter mudado de mão para arremessar – trocou a canhota pela direita –, mas isso não surtiu pouco efeito em seu aproveitamento de média distância, e com volume reduzido de tentativas. Passar também não consta em seu repertório. Estamos falando um jogador com sérias limitações. Mas que tem o mesmo agente de LeBron: Rich Paul. E a diretoria do Cleveland por acaso gostaria de desagradar o sujeito? A aposta seria que, instruído por Blatt, um professor muito mais gabaritado que Mike Brown e Byron Scott, Thompson progredisse de modo significativo para justificar o salário de mais de US$ 10 milhões que certamente vai pedir.

Abre o jogo: “LeBron vindo para cá não era o suficiente. Fechei o negócio só quando soube do Kevin Love. Isso me convenceu, deixou mais realista a ideia de que teríamos uma chance de vencer o campeonato neste ano”, dele, Shawn Marion, o cara.  Campeão em 2011 pelo Mavs, sendo um dos responsáveis pela marcação em LBJ, “Matrix” foi um dos reforços cortejados pelo craque para complementar o elenco da equipe. Resta saber se o ala seria contratado caso tivesse soltado essa antes de firmar contrato.

Você não perguntou, mas… segundo o repórter Dave McMenamin, do ESPN.com, quando Cavs e Lakers discutiram uma possível troca envolvendo Pau Gasol na temporada passada, a diretoria de Los Angeles não arredava o pé e pedia Anderson Varejão no pacote. Não foram atendidos, para sorte do pivô brasileiro. E, sim, chegamos ao dia em que ficar em Cleveland, em vez de vestir a camisa do Lakers, é algo que nem se pensa a respeito.

Brad Daugherty, pick 1, topsUm card do passado: Brad Daugherty. O Cavs ganhou a loteria do Draft pela primeira vez em 1986, 17 anos antes de ser brindado com LeBron James. Naquela ocasião, a franquia viveu talvez o seu grande momento – pelo menos até o dia em que o prodígio decidiu voltar para casa. Além do pivô revelado pela Universidade da Carolina do Norte, a diretoria caprichou nas escolhas de Ron Harper (em 8º) e Mark Price (em 25º), para construir o núcleo de um time que tentaria desafiar do Bulls de Jordan, Pippen e Jackson no início dos anos 90. Que draft! Como tudo que é bom tende a passar rápido para os times de Celveland, contudo, Harper foi trocado para o Clippers e Daugherty teve sua carreira abreviada devido a problemas crônicos nas costas. Ele jogou apenas nove anos na liga, dos 21 aos 28, se aposentando precocemente com médias de 19 pontos e 9,5 rebotes, sendo eleito cinco vezes para o All-Star Game no meio do caminho. A curiosidade é que, aos 30 anos, ele tentou voltar ao esporte. Mas oooooutro esporte: o automobilismo, como dono de uma equipe da série NASCAR de pickups, a mesma que já contou com Nelsinho Piquet em sua linha de largada. No atual elenco do Cavs, são duas escolhas número um de draft: LeBron e Kyrie Irving. Caso não tivessem fechado a troca por Love, teriam mais duas: Andrew Wiggins e Anthony Bennett. Haja sorte. É o carma para compensar a maldição.


LeBron? Intrigas? Nada. No Cavs x Heat, deu festa para Varejão
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Giancarlo Giampietro

Varejão brilha pelo empenho. Mas teve seus minutos de cestinha no Rio (Foto: Marcelo Regua/Inovafoto)

Varejão brilha pelo empenho. Mas teve seus minutos de cestinha no Rio (Fotos: Marcelo Regua/Inovafoto)

Em Cleveland, ele é uma sumidade. Neste sábado, foi a vez de ser reverenciado, com muita justiça, por seus compatriotas. Num comportamento bem diferente do que apresentou no ano passado em relação a Nenê, os torcedores brasileiros ovacionaram Anderson Varejão quando o pivô foi apresentado no Rio de Janeiro, antes do amistoso de pré-temporada da NBA contra o Miami Heat.

O reconhecimento, claro, tem muito mais a ver com o carisma do pivô do Cavaliers, muito por conta de sua cabeleira esvoaçante, marca registrada, que deixa todas as suas ações um tanto mais dramáticas – um fenômeno parecido com o que se passa com David Luiz e Carles Puyol nos gramados.

Qualquer aplauso direcionado a um jogador como Varejão é merecido. Num país em que se celebra o ataque no esporte como um aspecto até mesmo cultural, no basquete essa devoção acaba se canalizando para a figura do cestinha. E, de cestinha, o capixaba não tem nada. Ou melhor: apaga isso. Pelo menos por alguns minutos, num time que tem LeBron James e Kevin Love, o brasileiro foi promovido, de modo surpreendente e cordial, a referência ofensiva – e mais do que deu conta do recado.

Desde os tempos de adolescente surgindo no time principal de Franca, o grandalhão se destacou por seu tino até mesmo extrassensorial para os rebotes, a inteligência e empenho na defesa, turbinados por sua agilidade incomum. O cara do serviço sujo. Qualidades que fizeram dele um sucesso popular em Cleveland. E que, felizmente, não passaram despercebidas pelo pelo público nacional.

Varejão fiscalizando Bosh. Prioridades defensivas

Varejão fiscalizando Bosh. Prioridades defensivas

De qualquer maneira, o Varejão que jogou pelo Cavs foi outro. A partir do momento em que anotou os dois primeiros pontos do confronto, num tiro de média distância, o pivô não se cansou de balançar a redinha. Foi um gesto bem legal do técnico David Blatt, que desenhou jogadas que colocavam o cabeleira em posição favorável para pontuar lá dentro, assessorado por LeBron. Desse jeito, o treinador vai se tornar um personagem popular com seus atletas rapidamente. A seriedade de Blatt só não foi abalada quando, no período final, a galera passou a gritar o nome do pivô, pedindo seu retorno. Não ia rolar – há planos mais sérios, de longo prazo, que precisam ser respeitados.

O brasileiro deu provas de que tem munheca e que pode ser explorado. Teve até gancho de média distância caindo, tiros em flutuação, com muita confiança. Ele anotou 8 dos primeiros 16 pontos do time, ralando, vejam só, com Dwyane Wade. No primeiro tempo, foram 12 pontos no total, acertando seis de oito tentativas de cesta. Que fase! Sua participação se encerrou no terceiro quarto, com 14 pontos em 20 minutos.

No terceiro período, porém, Kevin Love foi mais um a se beneficiar da companhia de um LeBron que estava distribuindo mais, atacando menos, desembestou e estragou tudo, disparando em sua contagem pessoal (terminou com 25 pontos pontos em 26 minutos). Chris Bosh queria morrer de tanta inveja. O impetuoso Dion Waiters também aprontou uma ou outra coisa, deixando claro que talento, para ele, não é o problema. A questão é controlar a cabeça – mesmo num amistoso lá estava o jovem ala-armador fazendo caras, bocas e poses após suas infiltrações. Não precisa.

LeBron crava: uma das duas cestas de quadra do astro em pré-temporada

LeBron crava: uma das duas cestas de quadra do astro em pré-temporada

Em termos ofensivos, o potencial do Cavs é imenso. David Blatt tem ao seu dispor alguns craques, mas não é só isso. As características de LeBron e Love já permitem uma série de quintetos diferentes. A presença de caras como Dion Waiters, Shawn Marion, Mike Miller, Joe Harris e Tristan Thompson no elenco de apoio, porém, sugere caminhos intermináveis para serem explorados. São muitos atletas versáteis, intercambiáveis e alguns excelentes arremessadores de três pontos (a escolha de Harris na segunda rodada do Draft deste ano foi providencial, aliás). Para um jogo de pré-temporada, a fluidez das movimentações ofensivas já impressionam. A mente brilhante do técnico vai se esbaldar.

Com esse ataque superprodutivo, sua equipe foi dominante, liderando o placar de ponta a ponta.  No geral, foi um jogo de nível muito superior ao Bulls x Wizards do ano passado. O fator LeBron-contra-ex-time definitivamente contribuiu para isso, ainda que o astro estivesse bem mais complacente que o normal em quadra, ainda em modo pré-temporada. Com as pernas pesadas ainda, só tentou oito arremessos no total, convertendo dois. Nos lances livres, como reflexo desse condicionamento físico ainda aquém do esperado, errou quatro de sete chutes. Fechou sua participação na metade do terceiro período com sete pontos e oito assistências.

Entre seus antigos comparsas, Dwyane Wade começou bem, mas foi perdendo eficácia no decorrer dos quartos. Chris Bosh foi mais consistente e produtivo. A temporada promete para o pivô. Enquanto, para Udonis Haslem, as coisas estão bem claras: não tem essa de jogo de pré-temporada. O veterano pivô brigou, correu, trombou, reclamou e agitou bastante. Vale ficar bem atento ao ala James Ennis também. Calouro, ele foi escolhido por Pat Riley no Draft de 2013, mas jogou a temporada na Austrália, para ganhar cancha. Está afiado. De resto, muuuita discrição. No mau sentido.

Isso é curioso: por mais que tenha perdido apenas uma peça de seu time finalista de NBA, o Miami ainda busca de uma nova identidade, de atleta que ainda procuram entender exatamente qual é o seu papel. Afinal, foi a peça que saiu, né? O cara em torno de qual todo o sistema ofensivo e defensivo girava.

Do outro lado, bastante solto em quadra, o Cavs dá primeiros sinais bastante promissores. Só não esperem que, nesta jornada, Varejão vá receber tantos passes e marcar tantos pontos como fez no primeiro tempo. E ele, claro, nem importa. Desde que em junho possa fazer mais festa. Mas dessa vez em Cleveland.

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O momento de pastelão do jogo coube a… LeBron! Claro. Vejam a cena:

Ao subir na defesa acompanhando Luol Deng, o craque do Cavs teve um lapso mental, viajou no tempo e se comportou como um atleta do Miami Heat ao fazer um corta-luz em Matthew Dellavedova, para liberar Norris Cole. Afinal, LBJ já ficou ao lado do armador-cabelo-de-bigorna por muito mais tempo do que do australiano. Acontece com as melhores cabeças.

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O final da partida, pegando fogo, foi divertido, com Shabazz Napier lembrando os tempos de Connecticut e a turma do fundão do banco suando para valer, mostrando serviço – muitos deles serão dispensados nas próximas semanas. Não bastasse o reencontro de LeBron com a ex-equipe, a contratação de Kevin Love e tudo o mais… O Brasil ganhou até mesmo um jogo com prorrogação. A galera pirou, e haja sorte para os organizadores. Deu tudo certo, com um placar bastante elevado: 122 a 119 para o time de Varejão.


Brasil supera traumas, anula e Scola e mete 20 pontos na Argentina
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Giancarlo Giampietro

Nenê e seus comparsas dessa vez dominaram Scola, abrindo caminho para sacolada

Nenê e seus comparsas dessa vez dominaram Scola, abrindo caminho para sacolada

O começo de jogo não poderia ser mais preocupante. Luis Scola terminou o primeiro quarto com apenas dois pontos, e a Argentina estava na frente por 21 a 13, bombardeando da linha de três pontos. Então ficava aquela impressão: você tira o cabeleira do jogo e abre o perímetro. Se for brecar os tiros de fora, vai deixar o cara jogar? Como se as coisas fossem excludentes.

Hoje, Scola joga muito mais flutuando do que próximo da cesta. Segurar o velho carrasco na cabeça do garrafão e fiscalizar os arremessos eram tarefas que poderiam ser enquadradas no mesmo plano, e, quando isso passou a acontecer, o Brasil deslanchou em quadra, caminhando para uma vitória há muito tempo aguardada sobre os rivais sul-americanos em um mata-mata de respeito: 85 a 65, e a vaga nas quartas de final conquistada. A Sérvia é o próximo obstáculo, na quarta-feira.

"Wild Thing". Um dos melhores apelidos do basquete atual, fazendo justiça a um Anderson Varejão dominante nos rebotes: 5 ofensivos _ 8 pontos e 4 assistências numa grande atuação

“Wild Thing”. Um dos melhores apelidos do basquete atual, fazendo justiça a um Anderson Varejão dominante nos rebotes: 5 ofensivos _ 8 pontos e 4 assistências numa grande atuação

Na defesa e nos pormenores do jogo interno, os pivôs foram totalmente dominantes na zona pintada e seguraram o craque argentino com uma linha estatística irreconhecível: 7 pontos, 7 rebotes e 2/10 nos arremessos, mais os frustrados 3/8 nos lances livres. Além disso, Raulzinho veio do banco totalmente confiante, ignorando por completo a idade que seu RG mostra, 22 anos, caçula da equipe, marcando 17 pontos em 22 minutos, acertando 8 de 9 arremessos.

Uma revelação em quadra o armador, ajudando o Brasil a conquistar sua terceira vitória contra a Argentina em jogos em que Scola estivesse em quadra, depois de sete derrotas em nove confrontos. Os argentinos sentiram a falta de Manu Ginóbili durante todo o torneio – mas já haviam batido os brasileiros sem o genial ala-armador do Spurs antes. Dessa vez, porém, com um elenco cheio de improvisos, mesmo com o fator emocional e o retrospecto ao seu lado, não tiveram forças para lidar com a seleção brasileira.

Eles só se deram bem, mesmo, por dez minutos. No primeiro quarto, os brasileiros permitiram que os hermanos acertassem cinco bolas de fora, 15 pontos, equivalendo a 71% do escore deles. Pablo Prigioni, de uma hora para a outra, havia se transformado num Stephen Curry, acertando todos os seus chutes – terminou o primeiro tempo com 100% de quadra e 15 pontos na sua conta.  Sabemos que o veterano argentino não é tão produtivo ou arrojado assim com a bola em mãos. Nunca foi. Suas oportunidades surgiam com base na movimentação de bola de um ataque muito espalhado.

Sem referências internas, o adversário jogava com até cinco atletas flutuando. Por dez minutos e um pouco mais, a defesa brasileira simplesmente permitiu muitos chutes livres. A partir do momento em que acertou suas rotações – novamente com participação decisiva e muito mais atenta de Alex, Larry e Raulzinho – sim, o armador foi primeiro importante na defesa, para depois arrebentar no ataque, matando seus arremessos de todos os cantos. Ajudou, claro, o acúmulo de faltas de Scola também, que teve de descansar por quase todo o segundo período. Quando ele voltou, porém, sua presença não foi o suficiente para desequilibrar novamente a defesa no perímetro.

Garrafão: território brasileiro
As faltas anotadas contra Scola e sua ineficácia geral na partida foram consequências diretas do impacto dos pivôs brasileiros (mais tamanho, mais força física, mais agilidade e disposição para prevalecer no jogo sujo e nas pequenas tarefas). Splitter, Nenê e Varejão marcaram 21 pontos somados. Aí numa análise mais rasa, pode-se até pensar que foram mal, que espera-se muito mais deles, e tal cousa, e lousa, e maripousa, como diria o Alberto Helena. Mas realmente não dá para cobrar muito mais dos grandalhões, como outros números igualmente importantes atestam. Por exemplo: eles deram 11 das 16 assistências brasileiras.

O fato é que os três foram agressivos durante toda a partida e, aos poucos, com persistência e inteligência,  controlaram o garrafão – especialmente depois do intervalo. No terceiro período, a equipe nacional apanhou o dobro de rebotes ofensivos que havia obtido em toda o primeiro tempo, chegando a nove. Varejão foi o destaque aqui, atacando a tábua de ataque sem parar, atropelando um guerreiro como Andrés Nocioni no meio do caminho. O capixaba terminou cinco rebotes do lado argentino da quadra. Splitter apanhou mais três. O trio somou 21 rebotes. Para comparar, no total, a Argentina teve 26 (contra 39 do adversário). Ressalte-se aqui também os oito rebotes de Marquinhos, um fundamento que nunca foi o seu forte. O ala estava energizado.

Com mais posses de bola, oprimindo e desmoralizando a defesa argentina no jogo interno, o Brasil passou a afinar seu ataque, elevando atee mesmo sua produção nos tiros de fora, saindo de 2/11 no primeiro tempo (18,8%) para 8/18 na segunda etapa (44,4%). Outro mundo. A mínima troca de passes envolvendo os pivôs representava um desafio para os adversários, que formaram uma seleção sem envergadura e capacidade atlética. Tiveram muita dificuldade para contestar.

Depois de tomar 5 em 9 disparos até a metade do segundo quarto (55,5%), a seleção limitou seus oponentes a apenas 4 dos próximos 17 (23,5%) até que Salem Safar procurou sacudir as coisas no quarto final. Quando a vantagem brasileira já era superior a 10 pontos. Não seria o ala reserva argentino que alteraria o panorama do jogo. A essa altura, a Argentina estava basicamente rendida, sem ter a quem recorrer para fazer frente a um time muito mais atlético, sem nenhum vestígio de temor do seu lado. Dessa vez, não houve retrospecto, não Scola, nem nada que impedisse a seleção brasileira de avançar.


Brasil é o 3º pior nos lances livres na Copa. O que acontece?
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Giancarlo Giampietro

Splitter matou 71,8% de seus lances livres nos últimos playoffs

Splitter matou 71,8% de seus lances livres nos últimos playoffs. Fotos de Gaspar Nóbrega/Inovafoto/Divulgação

Ao atualizar o retrospecto do clássico Brasil x Argentina de 2002 para cá, os confrontos que envolvem personagens da atual geração, foi preciso relembrar o que se passou em quadra no último embate – e triunfo dos nossos vizinhos ao Sul: o jogo válido pelas quartas de final das Olimpíadas de Londres 2012. Fuçando em relatos do jogo, o que aparece de familiar?

Trechos como este: “A seleção penava para alcançar a marca da mediocridade: 50%, nos lances livres. Foram 12 desperdiçados em 24 batidos. Se pelo menos seis amais tivessem caído…”.

Os números do embate estão aqui, mas vale nos concentrarmos neste fundamento. Naquele duelo decisivo, os brasileiros acertaram apenas 12 em 24 tentativas. Não é que os argentinos tenham cumprido uma jornada exemplar: erraram nove de 28 arremessos da linha (68% de rendimento). Mas 68%, convenhamos, é algo bem melhor do que 50%, numa conta que lhes valeu sete pontos preciosos numa vitória por 82 a 77.

Não sejamos simplistas, porém: numa conta óbvia, se o Brasil tivesse convertido seis chutes a mais, teria vencido, claro. Mas o mesmo poderia ser dito para duas bolas de três pontos, três de dois ou, quem sabe, dois turnovers ou três faltas a menos. Lance livre perde e ganha jogo. Assim como um rebote ofensivo cedido ou caputrado, um passe a mais no ataque etc. O basquete é um jogo de detalhes – mas são muitos os detalhes para se observar.

Ao final da fase de grupos da Copa do Mundo, fui dar uma espiada nas estatísticas gerais das equipes. Até me dar conta de uma coisa. Fazer qualquer comparação generalizada sobre as seleções caba sendo um exercício um tanto fútil. Como julgar quem tem o melhor o ataque, ou a melhor defesa, se os adversários não foram os mesmos?

O Brasil, por exemplo, enfrentou três pedreiras em seu caminho (Espanha, França e Sérvia), passou por um adversário inexpressivo (Irã) e atropelou o time mais fracote da competição (Egito). No Grupo C, a Turquia lidou com os Estados Unidos e não tiveram nenhum sparring (baaaaaaaba de verdade) para esbofetear. E aí? O que é mais difícil? O que influencia mais os dados computados? A única avaliação justa a ser feita seria entre os concorrentes de uma mesma chave, que tiveram a mesma tabela.

Posto isso, há um dado, sim, que pode ser avaliado de maneira universal, pois independe de quem está do outro lado a quadra, pois a ação do jogo está parada. Já sabe qual? Claro que sabe: o lance livre, justo aquele em que o Brasil surge com sua pior cotação. Com sofrível 61,1% de acerto, dentre os 24 times da primeira fase, a equipe de Rubén Magnano superou apenas duas: República Dominicana e Egito. Quer dizer: dos oito times eliminados, apenas os egípcios – que tomaram nesta quinta-feira a maior lavada brasileira na história dos Mundiais – ficaram abaixo.

“Tivemos um denominador comum no torneio: O baixo aproveitamento de tiros livres. Precisamos treinar, mas não em 45 dias de concentração, em 365 dias do ano”, afirma Magnano. Mas sabe quando ele soltou essa declaração? No dia 8 de agosto de 2012, após a derrota para seus compatriotas. Esse é o problema: as aflições de dois anos atrás ainda estão aqui vivinhas da silva.

Naquele jogo – mais uma vez – fatídico, Tiago Splitter errou seis de seus oito arremessos. De todas as qualidades excepcionais que o pivô oferece num jogo de basquete, certamente o lance livre não era uma delas. O que não quer dizer que não tivesse salvação. Trabalhando com Chip Engelland em San Antonio, o catarinense conseguiu elevar seu rendimento de 54,3% em sua primeira temporada (2010-11) de NBA para 69,9% no último campeonato, tendo chegado a 73% em 2012-13. Não é o ideal ainda, mas representa um progresso notável. Como explicar, então, que, no Mundial, ele esteja convertendo apenas 44%?

Varejão: 68,1% pelo Cavs neste ano e 53,8% pela seleção no Mundial

Varejão: 68,1% pelo Cavs neste ano e 53,8% pela seleção no Mundial

Não pára por aí. Ocorre que Anderson Varejão (53,8%) e Nenê (60%) também estão abaixo do que costumam produzir.

O capixaba acertou 62,7% em sua carreira de NBA, nunca ficando abaixo dos 51,3% de seu segundo ano em Cleveland. Desde então, só evoluiu, a ponto de converter 70,4% nos últimos três campeonatos. De novo: dá para melhorar, mas já é algo bem decente comparando com a maioria de seus pares. Já o paulista acertou 67,4% desde que entrou na liga americana em 2002. Em seu pior ano, foram 57,8%, também a sua primeira campanha por lá (excluindo 2007-08, em que disputou apenas 16 jogos, de modo atípico).

Então, de novo, qué pasa?

É a bola diferente? Menos carga de treinamento? Pressão?

Pode acontecer, claro, mas também não é que os pivôs não estejam habituados a situação de maior tensão.

Entre os três, apenas Nenê cai de modo significativo neste fundamento se formos comparar seus números de temporada regular com os playoffs da NBA (de 67,4% para 59,9%). Mas é preciso dizer que esse dado foi bastante abalado por sua última campanha nos mata-matas, a primeira com a camisa do Washington Wizards, neste ano, no qual ficou ficou abaixo da linha da calamidade: 34,6%, acertando apenas 9 em 26. Por outro lado, pelo Denver Nuggets, numa amostra bem maior (sete anos!), o rendimento foi de 63% – 3% a mais do que neste Mundial. De qualquer forma, temos no mínimo um “empate técnico”.

Splitter também despencaria de 68% para 62% nos mata-matas, mas ficar limitado a esta queda seria sacanagem. O que torpedeia seus números foram os horripilantes 37,2% de 2012, ano em que foi até mesmo atacado propositalmente em confronto com o Oklahoma City Thunder (o “hack-a-Splitter”).  Nos anos posteriores,  saltou drasticamente para 78,8% e 71,8% – com o San Antonio Spurs alcançando as finais em ambas ocasiões. Varejão, por sua vez, repete nos playoffs a mesma média dos jogos “que não valem nada”: 62,9%. De novo: todos superiores ao que temos visto nos últimos dias.E aí?

Ginásio cheio, jogos importantes: brasileiros estão habituados

Ginásio cheio, jogos importantes: brasileiros estão habituados

Bem, em jogos internacionais, levando em conta a falta de resultados, e a suposta “maior responsabilidade” de servir à pátria (argh), alguém poderia levantar a tese de que esse seria um bom motivo para entender o intervalo que existe entre o que produzem por seus clubes e pela seleção. Mas isso seria realmente mera especulação. Apenas aqueles que estão mais próximos dos atletas podem avançar neste campo com mais propriedade.

Outro ponto importante que não pode ser relevado: se estamos falando aqui apenas dos pivôs, é porque os lances livres batidos pela seleção se concentram nesta trinca. Algo recorrente num jogo de basquete, claro, já que os grandalhões estão trombando muito mais sujeitos a trombadas e tudo o mais.  Dos 95 cobrados em cinco jogos, 51 foram deles (53%). Os alas Marquinhos, Alex e Leandrinho chutaram 27 (28%). Huertas, 11, Raulzinho, apenas um e Larry, nenhum (12%). Um jogo mais agressivo dessa turma em direção ao aro também poderia balancear as coisas e elevar o percentual geral do time. Quando se fala em jogo interior, perto da cesta, isso não quer dizer ações exclusivas com os pivôs. Agora, independentemente de seus tropeços, os três talentosos atletas não podem deixar de ser abastecidos e explorados.

De qualquer forma, temos aqui um mistério que comissão técnica brasileira ainda não resolveu e que se arrasta de modo preocupante para enfrentar um adversário que tem mais essa vantagem no aspecto emocional: terminaram a primeira fase com a terceira melhor média do torneio (76%), abaixo de Espanha e Filipinas. Mantida essa média, temos aí um detalhe que já estaria no papo para a Argentina. Restaria, então, aos brasileiros vencerem as outras pequenas e igualmente importantes batalhas de um jogo de basquete.