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Flamengo perde, mas mostra que não é café-com-leite
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Giancarlo Giampietro

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Os aspectos que valem mais na turnê rubro-negra pelos Estados Unidos dizem respeito realmente ao que o clube pode ganhar em outras esferas, fora de quadra. Seja do ponto de vista logístico, estratégico e até – por que não? – comercial.

Mas, para quem acabou de conquistar a Copa Intercontinental, vem de um bicampeonato no NBB e tem também o troféu de melhor da América (Latina), o jogo também até que é importante. O Flamengo não pode ser visto como café-com-leite. Foi o que o primeiro time latino-americano a competir no maior palco da modalidade mostrou nesta quarta-feira, ao fazer uma partida dura com o Phoenix Suns, embora perdendo 100 a 88.

Alguma ressalvas, claro, precisam ser colocadas logo de cara: este foi apenas o primeiro jogo do Suns em sua pré-temporada. Eles estavam treinando pesado a mais de 2 mil metros de altitude até o final de semana e em diversos momentos dava para notar seus atletas pareceram um pouco pregados em quadra – os efeitos positivos da correria em Flagstaff devem ser sentidos mais adiante, ou assim espera, ao menos, sua comissão técnica. Além disso, o ginásio nem encheu, e tal. Para eles, esta é apenas uma fase de ajustes e de desenferrujar. Não entra para os registros oficiais.

Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível

JErome Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Muito forte, atlético e determinado, pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível. Grande sacada de mercado dos rubro-negros

Posto tudo isso, ninguém vai jogar para perder – Gregg Popovich não infartou, mas também não ficou só de sorrisos em sua entrevista depois de a máquina chamada Spurs ser derrotada pelo modesto Alba Berlim, um pouco mais cedo, na capital alemã. Para o Suns, ainda contava o orgulho de jogar em casa, mesmo que vazia, contra um time 'inexpressivo' para o mercado de lá.

(Antes que os rubro-negros se enfureçam: os caras nem bem sabem o que é Barcelona ou Real Madrid no basquete – o problema é de ignorância norte-americana, e, não, de irrelevância flamenguista, tá?)

''Foi um jogo estranho… Não sabíamos muito sobre o Flamengo. Então foi um pouco difícil'', afirmou Goran Dragic, que, convenhamos, não jogou nada (6 pontos em 25 minutos, 2-9 de quadra, três turnovers e uma assistência). O astro esloveno foi dos que aparentou maior cansaço e falta de sintonia em quadra, errando até mesmo bandeja livre no contra-ataque.

Os treinadores e atletas do Suns podem ter estudado um minutinho ou outro do time brasileiro, mas certamente não conheciam em detalhe, por exemplo, os truques que um Nícolas Laprovíttola pode apresentar. O argentino pode ter forçado muitos chutes de três pontos (1-5, com péssimas escolhas) e algumas infiltrações sem destino, mas mostrou que tem talento para competir no mais alto nível, entrando no garrafão, cavando diversas faltas e tudo o mais, sem se intimidar com um pitbull como Eric Bledsoe (somou 13 pontos, sendo 10 deles em lances livres, e deu 12 assistências).

O armador não estava sozinho nesse sentido. Vários atletas flamenguistas mostraram categoria em diversos momentos da partida, quebrando alguns tabus a respeito de suas qualidades. Pesa para o elenco rubro-negro também seu entrosamento, sua química, sua continuidade são fatores que fazem diferença em qualquer esporte, mas que no basquete são ainda mais importantes. São essenciais.

Do ponto de vista individual, todavia, nada foi mais instigante do que ver o jovem Cristiano Felício causando impacto no garrafão, levando a melhor sobre um desastrado Miles Plumlee e dando um trabalho danado para os irmãos Morris. Fisicamente, no mínimo, está pronto. A técnica (sempre) pode melhorar, mas já está claro, no pouco tempo que recebe, que pode influenciar um jogo para agora – e não apenas num futuro hipotético baseado em seu potencial evidente.

Para constar: em 15 minutos, ele teve o maior saldo de pontos (o plus/minus) do Flamengo, com +13. Foram oito pontos e oito rebotes para o pivô. Ele realmente já pede um voto de confiança maior de Neto e precisa jogar, e mais. O rubro-negro só tem a ganhar com isso, e o basquete brasileiro, em geral, também agradeceria.

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada, não podemos esquecer

Enquanto isso, o americano Derrick Caracter, contratado de última hora especificamente para a Copa Intercontinental e para o giro de amistosos nos EUA – pelo que vemos, desnecessariamente –, mal conseguiu fazer cócegas em seus compatriotas (cometeu dois turnovers em 9 minutos e mais nada). Ao contrário de Jerome Meyinsse. O pivô titular também fez bela partida, com 15 pontos em 24 minutos, dominando o garrafão ofensivamente no primeiro quarto até se atrapalhar com as faltas.

Foi investindo em Meyinsse, mesmo, que o Flamengo fez um belo início de partida, chegando a abrir vantagens como 6-0, 13-8 e 30-25, até meados do segundo quarto, quando o time da casa assumiu a liderança pela primeira vez no duelo, com 34-33. Se bem observado pelos olheiros internacionais, o pivô não deve durar muito no mercado brasileiro. Assim como Laprovíttola.

A partir do momento em que o Suns passou a rodar seu elenco, bem mais volumoso, o aspecto físico foi fazendo a diferença, ainda mais numa etapa ainda preliminar da preparação física dos caras. As escapadas no placar da equipe norte-americana aconteceram justamente na segunda parcial como na quarta, com o jogo de transição com pernas mais descansadas fez estragos. Vale destacar aqui outro ponto: o fato de o jogo da NBA ser mais longo, com oito minutos a mais do que os brasileiros estão habituados a disputar (20% mais longo). Cansa.

Por outro lado, mesmo que seja só um amistoso, de pré-temporada, também dá para puxar a orelha em termos de execução ofensiva também. Se o Fla tivesse maneirado nos arremessos de três pontos – ou caprichado mais, já que optaram pelas bombas… –, numa linha ainda mais distante que a da Fiba, talvez a história pudesse ter sido diferente. Vai saber. O time da Gávea matou apenas 6-25 de fora (24%). Quando o ataque alimentou os pivôs e usou mais infiltrações, foi muito mais produtivo. Nos primeiro e terceiro períodos, quando conseguiu segurar mais o jogo, a equipe de Neto venceu por 49 a 38. Mesmo.

Está certo: não foi um desastre, muito longe disso. Para se ter em mente: até agora o Maccabi Tel Aviv, aquele mesmo que foi derrotado na Copa Intercontinental pelos rubro-negros, já disputou dois e tomou duas pauladas. Nesta terça, deu Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, contra o Cleveland Cavaliers, o placar foi de 107 a 80.

Para quem vem fazendo história em quadra, porém, ambição não pode faltar. Na próxima semana, tem mais: quarta, contra o Orlando Magic (teoricamente o jogo mais ganhável) e na sexta contra o Memphis Grizzlies. Os dirigentes, a comissão técnica e os jogadores vão descobrir mais instalações, mais atletas, mais conexões – e também podem fazer um pouco de turismo, que ninguém é de ferro. Mas, sim, pelo que apresentou em seu primeiro teste contra o Suns, dá para pensar em aprontar algo a mais que uma lista de presentes ou a lição de casa.


Corra, Flamengo, corra: o desafio do 1º jogo nos EUA
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Giancarlo Giampietro

O pequenino Isaiah Thomas é um dos que vão acelerar contra o Flamengo

O pequenino Isaiah Thomas é um dos que vão acelerar contra o Flamengo

Encarar um time de NBA já é um baita desafio do ponto de vista técnico. Quando o Flamengo entrar em quadra nesta terça, em Phoenix, é melhor que respirem fundo. Não só para controlar a ansiedade, mas guardar o fôlego, mesmo, que o Suns promete correr muito. Correr demais, mesmo, atendendo aos pedidos do técnico Jeff Hornacek.

Quem diria, né?

Para esmagadora parte da audiência brasileira, Hornacek foi apresentado como uma das peças metódicas do ultracontrolado Utah Jazz de Jerry Sloan dos anos 90. Era o principal coadjuvante da dupla Stockton-Malone, num time de abordagem bastante sistemática no ataque. No início de sua carreira na liga, porém, Hornacek era um veloz ala-armador a serviço do Suns, um clube que tem tradição no basquete de correria.

Em seu retorno ao Arizona, num dos melhores trabalhos da temporada passada, o treinador insistiu que seu time fizesse da aceleração seu modos operandi. A equipe acabou liderando a tabela de pontuação no contra-ataque, com 18,7 em média por jogo, subindo da 14ª posição que teve em 2012-13. Um progresso e tanto, mas não o bastante para satisfazer o comandante.

Hornacek, sádico, nem sua

Hornacek, sádico, nem sua. Aí é fácil, professor

De certa forma, Hornacek tem razão. O Suns pode ter apresentado um ataque em transição bastante eficiente, mas, em linhas gerais, não foi o time que mais correu na campanha passada. No cálculo de posses de bola por partida, o ritmo de jogo, seu time terminou em oitavo. Para o traning camp deste ano, então, o treinador levou a rapaziada para a altitude de mais de 2.100 m de Flagstaff, no norte do estado, forçando naturalmente a melhora do condicionamento físico de seus atletas.

''Queremos estar entre os três primeiros. A ideia é realmente repor a bola e partir com ela. Colocar pressão nas outras equipes. Temos um elenco grande, então sentimos que é possível. Então é isto: estamos forçando esses caras a alcançar o nível de forma física necessário para que possam correr'', afirmou. ''Quando pegamos a bola depois de uma cesta, somos um pouco lentos ao sair para oa taque.

O Suns treinou por dois períodos ao dia em Flagstaff até a realização de um coletivo aberto para os torcedores no sábado. Deram uma palhinha do que podem fazer, embora Hornacek espere mais. ''Não acho que eles foram tão rápidos como eu queria. Mas, para um training camp, foi  muito bom.''

Para o primeiro teste do time de Phoenix na pré-temporada, a ideia do treinador é usar diferentes escalações a cada cinco ou seis minutos, para manter o ritmo desejado. Preservar as pernas de Goran Dragic, Eric Bledsoe e do reforço Isaiah Thomas, todos muito velozes com a bola.

Ele espera usar todos os 17 atletas que estão disponíveis, incluindo os jogadores convidados para a fase de treinamento, como o pivô Earl Barron (já de boa rodagem na NBA) e os calouros Joe Jackson, Casey Prather e Jamil Wils. A conferir. O pivô Alex Len, com mais uma fratura na mão, e o ala-pivô Anthony Tolliver, também com a mão lesionada, são desfalques.

Os flamenguistas estão, então, avisados. O amistoso promete ser intenso em muitos sentidos.

*   *   *

Para contextualizar: desde que foi derrotado pelo Fla no Rio de Janeiro, perdendo a Copa Intercontinental, o Maccabi Tel Aviv já disputou dois amistosos contra adversários da NBA. Perdeu ambos. Nesta terça-feira, enquanto Bruno Caboclo fazia das duas pelo Toronto Raptors, o clube israelense perdia para o Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, mais uma surra: 107 a 80 contra o Cleveland Cavaliers de seu ex-treinador, David Blatt.

Em ambos os jogos, o armador Jeremy Pargo, grande destaque individual dos embates no Rio, mostrou que a defesa rubro-negra não precisa se avexar pela dificuldade que passou. Contra o Cavs, o americano somou 18 pontos, 5 assistências e 4 rebotes. Contra o Nets, brilhou com 27 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. A Euroliga promete para o jogador.

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Três flamenguistas têm experiência de NBA no currículo: Marquinhos, Walter Herrmann e Derrick Caracter. O pivô americano, que só tem mais três jogos previstos pela equipe carioca, foi o último a jogar na grande liga, em 2011, pelo Los Angeles Lakers. Juntos, eles somam 2.326 minutos de experiência (o equivalente a 48 partidas na íntegra). Herrmann foi responsável por 1.939 desses minutos. No elenco do Phoenix Suns, o trio não vai encontrar nenhum de seus ex-companheiros.

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Leandrinho é ponto comum entre Flamengo e Phoenix. Durante o lo(u)caute da NBA, o ala-armador disputou seis partidas do NBB vestido de vermelho e preto. No Arizona, vocês sabem, ele se tornou um atleta bastante popular. Em oito temporadas pelo clube do Arizona, o ligeirinho acumulou 486 minutos, 12.072 minutos (média de 24,8) e 6.024 pontos (12,4).


Toco ‘fantasma’, tombo e potencial: é o Caboclo no Raptors
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Giancarlo Giampietro

Caboclo (direita) com o uniforme oficial do Raptors: 15 minutos na quase-estreia

Caboclo (direita) com o uniforme oficial do Raptors: 15 minutos na quase-estreia

Vocês já devem ter notado que o blogueiro tem um certo vício em relativizar as coisas. De ir com calma em direção a um fato, ou uma notícia. No caso da trajetória de um ainda adolescente Bruno Caboclo com o Toronto Raptors, é recomendável toda a paciência e parcimônia do Canadá na hora de fazer qualquer tipo de avaliação.

Nesta terça-feira, finalzinho da noite aqui em São Paulo – graças ao ingrato fuso horário californiano –, o ala brasileiro se viu pela primeira vez com o uniforme oficial do Toronto Raptors em quadra, enfrentando o Sacramento Kings. Só tenha cuidado: não é porque ele estava com o uniforme bonitinho, que dá para dizer que se tratava de sua estreia (de verdade) na NBA.

Os jogos de pré-temporada não entram para os registros históricos da liga – vitórias, derrotas, enterradas, bolas de três… nada disso conta para uma organização que obviamente valoriza sua cultura estatística. O que podemos fazer é replicar o tom que se usa por lá: foi a primeira partida mais-ou-menos-de-NBA dele. Está bem adiante do que as ligas de verão representam, mas ainda não é algo realmente para valer.

De qualquer forma, lá foi Caboclo sentir um pouco desse gostinho, ao ser chamado pelo técnico Dwane Casey com nove minutos ainda para serem disputados no segundo período, enquanto Lucas Bebê nem foi relacionado, cuidando de dores musculares. O caçulinha do Raptors ganhou 15 minutos no total em derrota por 113 a 106 do time canadense. Seu tempo de ação foi dividido entre seis minutos e uns quebrados na segunda parcial e o restante nos 8min45s finais do quarto período.

E foi bem?

É realmente impossível de julgar isso. Desde o momento em que foi selecionado pelo Raptors no último Draft, surpreendentemente na primeira rodada, o brasileiro vem sendo anunciado, corretamente, como uma promessa para o futuro. Alguém para ser aproveitado daqui a um ano, talvez. Até chegarem lá, o time vai fazer de tudo para tocar seu desenvolvimento. E o contexto da pré-temporada, fase em que os treinadores começam a refinar as rotações, mas em que não estão sedentos pela vitória, é a melhor oportunidade para isso.

O que não quer dizer, porém, que Casey vai dar toda a liberdade para Caboclo em quadra. Na primeira vez em que acionou o garoto, fez questão de colocá-lo ao lado do armador Kyle Lowry  e do ala DeMar De Rozan, as principais referências ofensivas da equipe. Bruno acabou jogando muito tempo com quatro titulares – Amir Johnson e Jonas Valanciunas também entram nessa –, na vaga que em teoria ficará para o ala Terrence Ross durante a temporada. Ross, de quem se espera muito em Toronto, foi poupado do jogo desta terça, depois de sofrer uma contusão no joelho na estreia na pré-temporada contra o mesmo adversário. Landry Fields foi quem começou a partida em seu lugar.

Ao lado da formação inicial do Raptors, o brasileiro não tinha responsabilidade alguma no ataque. Durante todo esse período, as instruções para o atleta eram claras: abrir na zona morta, especialmente pela direita, e esperar o progresso das jogadas individuais, muito centralizadas em Lowry, que estava com a mão pegando fogo. A ideia, creio, era quebrar o gelo para o novato. Ele estava em quadra mais para conviver com a adrenalina, enquanto a tropa de choque resolvia.

Mas o basquete, claro, tem dois lados. Na defesa, Casey poderia tentar blindar seu jogador o máximo que quisesse, mas seu envolvimento, ou não, na partida, dependeria muito mais do Kings. Sua missão, então, era brecar o ala Omri Casspi, que deu uma boa encorpada durante as férias. O experiente israelense, diga-se, não se esbaldou contra seu jovem oponente. Um duelo entre eles, aliás, mostra o quanto Caboclo ainda tem de aprender em quadra – e, ao mesmo tempo, deixa claro um potencial que pode causar impacto, sim, na elite do basquete. Vejam:

Este foi o primeiro momento em que Bruno participou realmente da partida. Primeiro, notem que, na tentativa de contestar um pick-and-roll, o ala está mal posicionado, um pouco distante de Casspi, dando espaço. Ele acaba saindo atrasado na cobertura e aperta o passo para compensar. No fim, passa batido por Darren Collison. Seu movimento veloz, no entanto, foi o suficiente para atrapalhar o drible do armador, que perde por um instante o equilíbrio. Lowry retoma posição e impede qualquer tentativa de infiltração. O brasileiro sai, então, em busca do israelense, que gira de dentro para fora e recebe a bola. Bruno agora se precipita e desliza os pés para a esquerda, dando o fundo para seu oponente. Casspi gira novamente e parte para aquela que seria uma bandeja tranquila. Só não contava com a reação de seu defensor e, principalmente, com taaaaanta envergadura. Toma o toco por trás.

Notem duas coisas: o clipe acima tem apenas 15 segundos. Ainda assim, é tempo o bastante para vermos tantos detalhes, congelando a imagem frame a frame. O basquete não pára e se perde em pormenores. Todos esses detalhes pedem a atenção máxima de qualquer atleta. Para Caboclo, apenas no início de sua curva de aprendizado, essas coisas passam ainda mais rápidas – nós estamos aqui sentados no conforto de casa (ou do busão, ou do escritório), enquanto ele está lá suando no meio dos leões. Leva tempo para assimilar isso. Mas a verdade é que o rapaz tem muitas ferramentas atléticas ao seu dispor para compensar e lhe ajudar nesse tipo de situação. Imaginem quando o jogo desacelerar e ele estiver em cima de seus rivais. Na defesa, no mínimo, ele pode virar um terror.

No quarto período, o ala voltou para a quadra dessa vez escoltado pelos reservas: o armador Will Cherry, o ala Jordan Hamilton e os alas-pivôs Tyler Hansbrough e James Johnson, que depois seria substituído pelo Greg ''Russão'' Stiemsma. Ainda assim, seguia de certa forma alienado no ataque. Nessa sequência, o momento de maior destaque foi uma queda sofreu na busca por um rebote ofensivo aparentemente amalucado, mas que, para alguém com sua capacidade atlética, parece viável, possível. Ele tenta saltar novamente por cima de Casspi e acaba se esborrachando no tablado.

Sacudiu a poeira, porém, disse aos técnicos que estava tudo bem e voltou para o jogo. De lá é que não o tirariam, feito um Alvaro Pereira bem mais magrinho. O rapaz merecia, então, recompensado. Mas a primeira oportunidade que teve para arremessar aconteceu a 2min28s do fim, e ele converteu uma bola de três com o auxílio da tabela. Se é para pontuar, que seja em grande estilo. Menos de um minuto depois, ele mataria seu segundo chute de lona distância, terminando com seis pontos e 100% de aproveitamento. Ah, os números…

Por falar em estatísticas, Caboclo, segundo a súmula oficial, terminou a partida sem nenhum toco dado. Ignoraram seu bloqueio evidente contra Casspi. Essa é a pré-temporada. O momento para o ala brasileiro se soltar em quadra e aprender. Até que chegue a hora em que possa ser aproveitado nos jogos que valem, com mais chances para produzir e computar seu talento.


Dupla Augusto-Raulzinho começa arrebentando na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Vamos aguardar ansiosamente as cenas dos próximos capítulos. Porque o primeiro já foi de arrebentar: neste domingo, na abertura da Liga ACB espanhola 2014-15, a dupla Augusto Lima e Raulzinho começou arrebentando a boca do balão – e também um dos times mais fortes da competição, o Valencia, causando a grande surpresa da jornada, numa vitória por 85 a 76.

Em tempo: salvo uma grande zebra, Real Madrid ou Barcelona serão campeões, com elencos estelares que estão entre os três, quatro melhores de toda a Europa na certa, e precisam ser acompanhados por qualquer basqueteiro que queira ver um produto extremamente qualificado além da NBA. Para o basqueteiro brasileiro, porém, o time a ser visto é o modesto, mas decente clube localizado ao sudeste do país, com duas das nossas maiores revelações reunidas por uma temporada toda. Augusto já estava lá, e a ele se juntou o armador, vindo do Gipuzkoa Basket, de San Sebastián.

Segundo diversos relatos – como o do site oficial da equipe –, o pivô e o armador, titulares, já apresentaram uma boa química em quadra neste domingo, e a coisa só vai melhorar com a sequência de treinos e partidas. São dois atletas de primeiro nível para os padrões europeus, explosivos e agressivos, que podem machucar, e muito, qualquer defesa no jogo de pick-and-roll.

Já um dos destaques da temporada passada na Espanha, misteriosamente ignorado por Rubén Magnano na seleção principal, além de subutilizado por José Neto no time do Sul-Americano, Augusto sinaliza estar empenhado para subir mais um degrau.  ''Foi uma grande partida do Augusto. Ele demonstrou o compromisso que tem com o clube'', disse o técnico Diego Ocampo, que inicia seu trabalho pelo Murcia. Prestes a completar 38 anos, ele assume um clube adulto pela primeira vez desde 2007, tendo assistido Aito García, pelo Sevilla, nas últimas duas temporadas. Antes, havia sido auxiliar de Joan Plaza. Ótimos professores, registre-se.

''Grande partida'' talvez seja até eufemismo, minha gente. Confiram a impressionante linha estatística do brasileiro: 22 pontos, 7 rebotes (3 ofensivos), 4 roubos de bola e 2 tocos em apenas 27 minutos. Mais que isso, acertou 10 de seus 11 arremessos, sem tomar conhecimento do croata Kresimir Loncar, ou do ucraniano Serhiy Lishchuk, dois pivôs experientes e com maior cartaz na Europa. Ainda foi seis vezes para a linha de lance livre, mas aí falhou, convertendo apenas três. No saldo de todos os seus números, atingiu a elevada marca de 31 pontos de valoração, a melhor da rodada até o fechamento deste texto (restavam mais três jogos).

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano...

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano…

Em sua estreia, Raulzinho marcou 13 pontos em 26 minutos, matando 5 em 9 tentativas de chute, convertendo seu único disparo de três pontos. Cometeu três turnovers, mas recuperou a bola em duas ocasiões e liderou o time em assistências (6). Com 16 pontos de valoração, teve o terceiro maior índice da sua equipe, atrás também do ala-pivô José Ángel Antelo (20).

Antelo, aliás, é o principal companheiro de Augusto no garrafão. Revelado pela base do Real Madrid, já foi uma grande aposta da Espanha, estreando na primeira divisão com 16 para 17 anos. Sua transição para o profissional, porém, não foi das mais fáceis. Constantemente cedido por empréstimo pelo Real, rodou o país até se firmar em Murcia, ao qual chegou em 2012. Na primeira rodada, o sérvio Nemanja Radovic foi quem complementou a rotação de ''grandalhões'' – que nem são tão grandes assim, numa combinação de pivôs bastante ágeis, leves. Com 23 anos, ele deixou o Mega Vizura, da Sérvia, em fevereiro e se juntou ao clube espanhol.

Quer dizer: o Murcia vai para a temporada tendo o pivô brasileiro como sua principal referência no jogo interior, mesmo. Uma situação promissora. Hora de ficar (mais) de olho em seu progresso como um protagonista em um clube de Liga ACB. Clube, é verdade, que não vai brigar pelo título, está longe dos maiores orçamentos do país, mas ao menos se mantém na elite do país desde 2011. O clube de futebol da cidade está na Segundona.

Na rotação exterior, Raulzinho teve a companhia no quinteto titular do veteranaço Carlos Cabezas, compondo uma dupla armação. Cabezas deu cinco assistências. Juntos, então, deram 11 passes para cesta, superando toda a equipe adversária, que somou 10. Aqui vale o reforço: do outro lado da quadra estava um Valencia que foi semifinalista no ano passado e vai disputar a Euroliga deste ano.

O Murcia perdeu o primeiro quarto por nove pontos de diferença, permitindo que seu adversário marcasse 27 em 10 minutos. Muito. Reagiu, contudo, nas duas parciais seguintes, levando apenas 31 em 20 minutos, para abrir 11 pontos no placar. ''Passamos por um mal momento, mas conseguimos solucionar isso com uma boa defesa. Jogamos como guerreiros. Nos momentos ruins, a torcida continuou com a equipe. Espero que sigamos transmitindo energia'', afirmou o técnico Ocampo.Energia, a gente sabe, é o que não falta no basquete de Augusto e Raulzinho. Agora é ver que tipo de estrago os dois podem aprontar, juntos, em uma longa e instigante temporada pela frente.

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Huertas contra sua ex-equipe

Huertas contra sua ex-equipe

O Barcelona de Marcelinho Huertas, atual campeão, já conseguiu um belo resultado na primeira rodada ao vencer o Baskonia (''Laboral Kutxa'') por 87 a 65, em casa. Foi um confronto de dois clubes de Euroliga. A diferença entre os elencos, porém, é bastante grande, ainda com o agravante de a equipe basca, que já teve o próprio Huertas e Tiago Splitter em seu plantel, ter um novo técnico e diversos jogadores para adaptar.  O Barça fez algumas trocas importantes, mas ainda mantém um núcleo consolidado, do qual faz parte o armador brasileiro, que jogou por quase 30 minutos e contribuiu com 13 pontos, 4 assistências, 3 roubos de bola (mais seis turnovers, registre-se).

Depois de anos de parceria e concorrência com Victor Sada, Huertas agora vai dividir a armação do time catalão com o tcheco Tomas Satoranksy, de 23 anos e anormais 2,01 m de altura para a posição. Satoransky está na Espanha há cinco temporadas já, sendo desenvolvido como prospecto pelo Sevilla. Os bravos torcedores do Washington Wizards já o conhecem, uma vez que o jovem atleta foi draftado pela franquia em 2012. No jogo de abertura, porém, ele não foi para a quadra. Ao contrário de Justin Doellman e Tibor Pleiss, principais reforços de Xavier Pascual.

Grande figura do Valencia na última campanha, sendo eleito inclusive o MVP do campeonato, Doellman subtitui Erazem Lorbek no quinteto inicial do Barcelona, ao lado de Ante Tomic. Desses americanos que passa despercebido pela NBA e se torna uma estrela na Europa, o ala-pivô somou 9 pontos, 7 rebotes e 3 assistências em 25 minutos. Já Pleiss, que veio do Baskonia, anotou 12 pontos e pegou 7 rebotes em apenas 12 minutos de jogo – uma apelação do clube catalão, tendo um pivô talentosos desse como um mero reserva para Tomic.

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O Real Madrid também venceu bem: 70 a 57 contra o Gran Canaria. Depois de uma campanha exuberante, mas de final frustrante na temporada passada, a equipe da capital ao menos já aliviou a barra do técnico Pablo Laso ao conquistar a Supercopa, derrotando o Barça no final de semana passado. Sem a versatilidade e habilidade de Nikola Mirotic, mas com a consistência e eficiência de Gustavo Ayón (10 pontos e 13 rebotes em 27 minutos), o Real vem com um plantel talvez ainda mais poderoso. Andrés Nocioni e Facundo Campazzo, por exemplo, são reservas e tiveram, respectivamente, 13 e 15 minutos, de tempo de quadra. Estreante no basquete europeu neste ano, porém, o enjoado Campazzo já começa a deixar sua marca.


O basquete feminino e o que não se pode ignorar
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Giancarlo Giampietro

Damiris e Clarissa: dois talentos numa campanha fraca

Damiris e Clarissa: dois talentos numa campanha fraca

Os heróis que acompanham o blog e os abnegados do basquete feminino sabem que o jogo disputado pelas mulheres não ganha a devida atenção durante a temporada. Dava para fazer aqui um depoimento todo lacrimoso a respeito, mas vamos dizer simplesmente que a agenda andava bastante apertada, por conta de outros compromissos profissionais e que, no tempo que sobrava, acabava me dedicando àquilo que me é mais familiar e que, sinceramente, me diverte mais. A NBA, no caso. Isso definitivamente não é a coisa mais correta de se dizer, admitir – pode soar até mesmo como um atestado de incompetência –, mas vai fazer o quê? Os arquivos do blog não deixam mentir. Só posso garantir que não é questão de preconceito besta (''esporte feminino blablabla''). Existe um conjunto de circunstâncias que levam a isso, algumas das quais vão ser exploradas logo mais. Ponto.

Daí que chega a Copa do Mundo feminina, e faz como? Você ignora, a título de se manter a coerência? Acho que ainda seria até pior. Então que se tente fazer o melhor possível, pelo menos se concentrando na seleção brasileira, se atendo ao que se passa em quadra e estudando o que está se passando ao redor dela, tentando ser o mais honesto e observador possível. Mas, sem, também, pagar uma de especialista, né? Não vai chegar um intrometido que mal viu a Patty jogar em sua ainda breve carreira e julgá-la – para o bem ou para o mal –, depois de 20 e poucos minutos. Há quem se sinta confortável em fazê-lo, sem nem mesmo ter visto um jogo sequer do objeto de 'estudo'. Você coleta uma ou outra informação, constrói um texto com frases de efeito e já acredita ter feito sua parte, riscando o assunto em um checklist básico.

Mas, bem, esse post não tem o propósito de se inscrever no observatório de imprensa, muito menos de ativar o egocentrismo. A pauta é a queda da seleção já nas oitavas de final do Mundial. O lance é que, antes de avaliar a participação da equipe nacional, esses fatores precisam ser considerados e expostos ao leitor, seja ele de primeira ou de algumas outras viagens. Levando isso em conta, levantamos aqui alguns pitacos, com a ajuda (involuntária) do Painel do Basquete Feminino, o @PBF, referência obrigatória no assunto, tentando reconstruir a derrota para a França, tentando entender o que mais uma campanha frustrada em um torneio relevante significa:

Temos, acima, algumas personalidades que dispensam apresentação. Outros jornalistas – ex-colegas de profissão, outros não –, um técnico brasileiro trabalhando nos Estados Unidos e, antes de tudo, dos poucos apaixonados e interessados que restam por aí dispostos assimilar mais um duro golpe. Não é só a derrota para a França, mas o saldo negativo geral do torneio, mesmo. O Brasil disputou quatro jogos e perdeu três, tendo vencido apenas o Japão. Os três reveses foram por 13, 27 e 13 pontos, jogos nos quais o adversário europeu sempre esteve no controle. O ataque foi uma calamidade. Excluindo a partida contra as nipônicas, a equipe não conseguiu passar dos 60 pontos em nenhuma ocasião, terminando com meros 48 contra as franceses, sua pior pontuação no basquete moderno.

Diante desses números, primeiro se registra a decepção. Ninguém gosta de perder, ainda mais tão cedo assim num torneio e numa modalidade em que, não muito tempo atrás, o país era uma potência. Só não dá para desconsiderar, no entanto, o quão incomum também foi aquela geração dourada, na qual uma atleta do calibre de Janeth era apenas a terceira principal figura da seleção. Absurdo. Era como se fosse um Scottie Pippen num hipotético time que escalasse Magic Johnson e Larry Bird ao seu lado. Acho que dá para dizer que isso não vai acontecer sempre.

Outros tempos. Impossível de repetir

Outros tempos. Impossível de repetir

Por outro lado, mesmo depois da aposentadoria de duas seminais jogadoras como Paula e Hortência, com Janeth assumindo mais responsabilidades e um elenco ainda bastante forte, a equipe seguiu competitiva. Ainda beliscou um bronze em Sydney 2000 e alcançou as semifinais do Mundial 2006 – em casa, é verdade –, nas quais acabou tomando uma dolorida virada da Austrália e ainda teve o azar de ver os Estados Unidos perderem para a Rússia na outra semi, para complicar, e muito, suas aspirações por mais um terceiro lugar. Foram 15 anos brigando pelo topo.

Ficamos mal-acostumados. E a CBB, acomodada. Escorado pelos presidentes de federações estaduais, o poder central tratou/trata o esporte como se os deuses estivessem sempre sorrindo para os trópicos. Como se a exuberância atlética brasileira fosse o suficiente para formar equipes competitivas, ano após ano, sem que uma estrutura minimamente decente fosse necessária. Os clubes foram fechando portas e portas. O mais recente a desistir da liga nacional foi o time de Brasília, enquanto o Paulista tem apenas quatro clubes em disputa. O volume de atletas 'profissionais' diminuiu, e a coisa degringolou de forma geral.

O interesse de público é cada vez mais reduzido, assim como o das grandes corporações de mídia em sua cobertura – e, sim, isso pesa também: sem grana, meus amigos, o esporte e o jornalismo ficam para trás, a despeito de qualquer vocação cívica, patriótica, ou bisbilhoteira. Não adianta apelar ao romantismo de escrivaninha e ignorar isso. Vira um ciclo vicioso muito mais grave, difícil de se quebrar. Temos escrito, comentado e ouvido há uns bons seis, sete anos já sobre como é ''triste'' o produto dos campeonatos locais e, consequentemente, o que se apresenta em competições internacionais.  Esse contexto obviamente pede parcimônia na hora de encarar a seleção brasileira que entrou em quadra na Turquia.

Só é preciso, me parece, tomar cuidado para não se vitimizar tudo e todos. E aí a opinião das irmãs Paula e Branca, uma bem independente da outra, chama a atenção. Estamos falando de duas protagonistas daqueles tempos vitoriosos. Que poderiam estar sendo ''duronas'' demais com a atual geração. Mas sabemos que estão longe de representarem a figura de carrascas, que ignorem o que está ao redor delas e deleitem com isso. Paula é uma gestora exemplar. Branca, treinadora. As duas sabem, claro, o que se passa. Ambas apenas esperavam – e torciam por – mais.

Em entrevista ao Lance!, Paula explicou seus tweets. ''Ficamos nesse discurso eterno de renovação. Então, vamos renovar de vez. Nossa geração também teve participações ruins, com 11º, 12º lugares, mas brigávamos, reclamávamos, por treinador, treinamentos, convocação, lutávamos por mudanças. Não podemos ficar nessa passividade de achar que não vai dar certo por algum motivo ou outro.  Se é para reclamar, vamos tentar fazer alguma coisa. Principalmente quem faz parte disso. Não pode ser porque Deus quis, tem que ser pela diferença. Mas não fazemos nada para essa mudança. Ficamos numa situação confortável, dizendo: 'não esperem nada de nós, pois estamos renovando'. Coloca uma Seleção permanente para jogar a liga, tragam alguém de fora para evoluir o basquete, não sei, vamos fazer alguma coisa'', afirmou.

Clarissa é uma das jogadoras que parece evoluir a cada torneio, a despeito das dificuldades

Clarissa e toda a sua energia: a pivô é uma das jogadoras brasileiras que se apresenta melhor a cada torneio, evoluindo em seu canto, a despeito de todas as dificuldades estruturais sabidas do basquete brasileiro, especialmente o feminino

Você percebe o tom alarmante da ex-armadora, que é mais que compreensível. Até porque ela mesmo diz: considerando o que vimos no Mundial, era possível para o Brasil sonhar com mais, independentemente de uma liga nacional fraca e da renovação liderada por Zanon. Algo, aliás, que também pede um devido contexto: a) com a presença de veteranas como Adrianinha (agora oficialmente aposentada) e Érika, a média brasileira foi de 25 anos de idade (contra 26 da Espanha, 27 da França, por exemplo); b) no elenco da França, constavam apenas quatro vice-campeãs olímpicas, contra três brasileiras dos Jogos de 2012.

Mas, vá lá: se você descontar as duas mais experientes, a média cairia drasticamente, mesmo, e a juventude não se mede apenas em tempo de vida, mas, muito, mais por tempo de quadra. São atletas que nem são protagonistas em seus clubes. Se mal jogam em quadras nacionais, o que dizer de sua rodagem internacional? Inexistente, especialmente na hora de lidar contra as equipes europeias, muito mais fortes que a freguesia sul-americana. O nervosismo foi evidente durante diversos trechos da Copa do Mundo. Ainda assim, a impressão geral foi de que dava para fazer mais.

Zanon, como técnico da equipe, tem suas responsabilidades. De modo geral, pôs uma equipe que era no mínimo combativa em quadra, brigando sem desistir. Ok, esse é um lado. Mas não pode, de modo algum, ser o todo. A ineficiência do ataque da seleção assustou. A média final de 59,5 pontos supera apenas a da Turquia (57,8) entre os classificados para os mata-matas – energizadas, as anfitriãs, porém, estão nas semifinais. A seleção foi a terceira pior da competição no aproveitamento de seus arremessos, acertando apenas 35,4% de suas tentativas, acima dos representantes africanos somente: Moçambique e Angola. Em assistências, superaram só nossas irmãs angolanas.

Tudo isso para um time que conta com pivôs claramente talentosas (Damiris, diga-se, sofrendo com problemas particulares), mas que raramente eram colocadas em posição favoráveis para fazer valer suas qualidades. É angustiante o modo como em muitas ocasiões uma jogadora como Érika pode se ver alienada. Contra a França, no momento em que o Brasil passou a marcar com pressão, o jogo mudou de forma instigante, mas já era tarde. E se tivessem adotado esse expediente um pouco antes? Por aí vamos. Fato é que a equipe não jogou tudo o que podia, não jogou no limite – e não estamos falando em comprometimento, amor ao país etc. Decorre também disso a sensação de incômodo de muitos – e não só de uma fonte indiscutível como Paula. Até porque o nível da competição não vem sendo dos mais altos, não.

Érika: o destaque brasileiro, mas que se atrapalhou com faltas precoces contra as francesas; em geral, porém, foi a equipe brasileira que a deixou na mão durante toda a Copa, sem saber aproveitar uma das pivôs mais dominantes do mundo Fiba

Érika: o destaque brasileiro, mas que se atrapalhou com faltas precoces contra as francesas; em geral, porém, foi a equipe brasileira que a deixou na mão durante toda a Copa, sem saber aproveitar uma das pivôs mais dominantes do mundo Fiba

Agora, se formos nos conformar em dizer que o basquete praticado no Mundial era o máximo que a seleção tinha, que todo o potencial disponível foi explorado… Olha, melhor esquecer essa coisa de Rio 2016 e tal. Porque aí seria muito, mas muito trabalho pela frente, e obviamente que um só treinador, independentemente de quem seja, não daria conta. Seria tarefa mais para milagreiro. Não parece razoável pensar que, com uma comissão técnica bem mais reduzida que a do masculino, Zanon ou qualquer outro profissional vá refinar uma dúzia de atletas em poucas semanas e compensar a defasagem de toda uma temporada.

Nesse sentido, a diretoria liderada por Vanderlei Mazzuchini não foi nada camarada. Se você tem em mãos um time com limitação técnica e pouca experiência, então o que fazer? Não precisa ser biduzão para responder que essa combinação pede treino e amistosos, treinos e amistosos, treinos e amistosos. Que mais? Treinos e amistosos, ué. São coisas práticas. Ou melhor: coisas de prática.

E aí vem o espanto: conforme Fábio Balassiano, companheiro aqui de UOL Esporte, destacou, a seleção ficou cerca de um mês paradinha da silva, sem treinar, sem jogar, sem nada. Justamente o time ''cru'', aquele grupo jovem conscientemente formado pensando lá na frente. Mas pensando exatamente no quê? Se você abre mão de semanas de treinamento, a troco de nada, o que isso quer dizer? É algo que ultrapassa qualquer limite do aceitável e que não tem nada a ver com os problemas mais amplos que a modalidade enfrenta. Isso não pode ser considerado planejamento – é puro descaso, e de gente muito mais relevante para o esporte do que qualquer blog relapso. Isso, sim, é algo que não pode ser ignorado.


Nádia: a dificuldade para se reconhecer e trabalhar um talento
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Giancarlo Giampietro

Nádia Colhado e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão

Nádia e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão. Crédito: Divulgação/Inovafoto/Wagner Carmo

Você navega pelo Painel do Basquete Feminino e outros fóruns, e vê uma penca de comentaristas prontos para destilar qualquer veneno que esteja disponível naquela hora, naquele dia. No conforto do anonimato, estão dispostos a atacar qualquer coisa. Quando a pivô Nádia Colhado foi convidada para participar de um training camp pelo Atlanta Dream, da WNBA, essa turma ficou ouriçada.

Como pode? Não sabe jogar. Etc.

Porque o que essa turma mais sabe fazer é atacar, mesmo, embora não tenham 1,93 m de altura e agilidade fora do comum para alguém desse porte. Qualidades naturalmente raras, e o que o técnico Michael Cooper enxergou de cara, mas que a galerinha do contra jamais poderia ver ou perceber. A oferta do Atlanta Dream e a provação a que se submeteu, vencendo uma série de cortes para oficializar sua passagem pela liga norte-americana só servem para confirmar o potencial ainda a ser explorado.

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Aí ficou difícil para os mais raivosos, que parecem não entender que esta é uma história recorrente no basquete brasileiro, ainda mais no feminino, em que os clubes minguam, a gama de talentos e treinadores vai se reduzindo, compondo um cenário não muito favorável ao desenvolvimento de seus prospectos. Tal qual Nádia, que, aos 25 anos, neste cenário, ainda deve se assumir ''muito jovem''. Ela sabe que ainda não está plenamente formada. Aliás, quem está? Os grandes não nos cansam de dar exemplos sobre como há sempre algo a ser melhorado. Kobe Bryant que o diga.

De modo que, na temporada regular de 2014, a pivô da seleção participou apenas de 16 jogos de 34 possíveis, com média de 7,9 minutos por jogo. Neste tempo limitado de ação, o próprio Atlanta Dream reconhece sua produtividade ao apontar que, numa projeção por 30 minutos, suas médias seriam de 10,4 pontos e 6,9 rebotes. Para comparar, a estrela Érika terminou o ano com 13,9 e 8,7, respectivamente, em 29,6 minutos.

Na Copa do Mundo, ela ainda vai seguindo em frente em sua curva de aprendizado, novamente como reserva de Érika, num garrafão que merece respeito e poderia ser mais bem aproveitado, com jogadoras que se complementam bastante, com Clarissa e Damiris fechando a rotação. Um grupo de atletas que complementam muito bem uma a outra: a defesa interior e o chute de média distância de Nádia, por exemplo, além dos recursos de Damiris de frente para a cesta, da vitalidade e energia da Clarissa e da força da natureza que atende pelo nome de Érika.

Crédito: Divulgação/Inovafoto

Crédito: Wagner Carmo/Divulgação/Inovafoto

O blog enviou algumas perguntas para a pivô para que ela contasse mais sobre a experiência nos Estados Unidos, trabalhando sob a orientação do técnico Michael Cooper (um marcador implacável nos tempos de jogador e um dos companheiros prediletos de Magic Johnson no mítico Los Angeles Lakers dos anos 80), a expectativa de se manter no elenco do Atlanta Dream e as perspectivas de uma seleção ainda mais jovem que ela no geral. A entrevista foi feita antes do Mundial e viabilizada pelo Bradesco, patrocinador da CBB e das seleções brasileiras:

21: Qual foi o saldo de sua primeira temporada na WNBA? Você participou de 16 jogos de 34 possíveis na temporada regular, com tempo de quadra limitado. Mas imagino que o fato de estar rodeada pelas melhores do mundo, de treinar contra atletas de ponta já faça diferença. Existe a perspectiva de retornar para o próximo campeonato?
Nádia: Eles fizeram uma reunião após o final da temporada e se mostraram interessados, já que haviam gostado bastante do meu trabalho. Realmente tive pouco tempo de quadra, mas cheguei a atuar mais do que 20 min em alguns. Independentemente disso, qualquer minuto de quadra foi proveitoso. Tive um aprendizado muito grande em tão pouco tempo.  Treinei com a Érika, Sancho (Lyttle, pivô espanhola, estrela europeia) e Aneika (Henry, pivô americana) e aproveitei muito esse tempo que estive ao lado delas. Espero ter a oportunidade de voltar e aprender ainda mais.

Como é a rotina de treinos durante uma temporada da WNBA? Há tempo para fazer um trabalho individualizado com os técnicos? Seria mais com as assistentes Teresa Edwards e Karleen Thompson, ou também com o treinador Michael Cooper? Você acha que voltou à Seleção como uma jogadora melhor?
A rotina foi pesada. Os três sempre me puxavam para o treinamento especifico da posição, mas quem mais ficava ao meu lado era a Teresa. Os três são ótimos. Durante o camp, treinei oito horas por dia, e a maioria dos exercícios era especifica para pivô. Fiz um progresso muito grande em todos os fundamentos específicos, mas sou muito jovem e com certeza ainda tenho muita coisa a melhorar.

Foi uma surpresa o convite para participar do training camp ou algo já discutido com a Érika durante a liga nacional? E a satisfação de passar por tantos cortes e ter a WNBA no currículo? Era uma coisa mais de ''aproveitar a experiência o máximo que pudesse'', ou estava confiante, determinada mesmo a entrar no time? 
Fiquei muito feliz. Lembro que quando acabou o jogo contra o Maranhão, o Michael Cooper (que estava no Brasil para observar Érika, sua atleta, e outros possíveis prospectos) me chamou para conversar. E foi aí que surgiu o convite para o camp. A Érika já havia me falado que ele estava vindo ao Brasil e da possibilidade de um convite. Mas, quando cheguei lá, me deparei com muitas jogadoras que também estavam participando desse camp, e todos os dias acreditava que  seria meu último dia lá. Mas o tempo foi passando, muitas, saindo, e eu ia ficando. Isso me deu muita força para dar ainda mais de mim e conquistar minha vaga ao lado de mais duas apenas. Uma delas foi a Shoni (Schimmel, armadora de 22 anos), que já havia sido draftada, então era uma vaga certa.

Para o Mundial, o Brasil levou um conjunto de pivôs muito sólido e versátil. Vocês são atletas cujas características combinam muito bem. É um ponto forte a ser explorado insistentemente?  Com um jogo de dentro para fora, mesmo?
Acho que principal ponto forte do Brasil é o jogo coletivo. As alas e armadoras são muito novas e muito rápidas. Claro que o setor das pivôs está muito bem estruturado e com certeza o treinador (Zanon) vai explorar isso muito bem. Algumas jogadas do Brasil são especificas com o trabalho de pivôs.

O Zanon vem conduzindo uma renovação no grupo. Até onde essa jovem seleção pode chegar? É mais realista pensar em um resultado expressivo no Rio 2016?
Estamos nesse momento focadas no Mundial e é aqui vamos buscar um resultado positivo hoje, claro que não será um trabalho fácil, mas é o que queremos. Em 2016, esse grupo deverá estar bem acima do nível atual e é uma situação natural de evolução e crescimento de um grupo que vem sendo muito bem preparado desde que esse processo de renovação iniciou. Vamos dar o máximo para chegarmos o mais longe possível.


Patrícia atinge maior pontuação da seleção após 2010
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Giancarlo Giampietro

Patrícia se soltou contra o Japão

Patrícia se soltou contra o Japão

A ala-armadora Patrícia Teixeira atingiu nesta terça-feira não só a melhor pontuação, de longe, na Copa do Mundo feminina de basquete. A jogadora também conseguiu a maior contagem de toda a sua temporada 2014 ao marcar 27 pontos e liderar o ataque brasileiro numa bela vitória contra o Japão, em Ankara, Turquia, que valeu para classificar a equipe para os mata-matas do torneio.

Nas duas primeiras rodadas do Mundial, a jogadora do São José, de 24 anos, havia anotado apenas três pontos. Todos eles contra a Espanha, depois de ter zerado na estreia contra a República Tcheca. Detalhe: os três pontos aconteceram na linha de lance livre. São números que ficavam bem aquém para uma titular de seleção brasileira, mas a verdade é que a jogadora, nada confortável em quadra, havia tentado apenas seis arremessos em 30 minutos no geral, errando todos eles. Até que triplicou sua média.

Os 27 pontos de Patty valem como a maior marca da seleção nesta Copa do Mundo, assim como a maior contagem desde os 32 que Érika anotou curiosamente também contra o Japão, pelo Mundial 2010. Ela igualou a quantia que Iziane somou contra a República Tcheca naquele esmo torneio, contra a República Tcheca, uma rodada depois da jornada excepcional da superpivô.

Contra as nipônicas, um time bastante ágil, mas física e atleticamente inferior, a brasileira se soltou, deslanchando especialmente no segundo tempo. Buscou a cesta em 17 ocasiões, com 11 acertos, para um aproveitamento mais que formidável de 64,7%, atacando tanto em infiltrações, com chutes em flutuação, jumpers ou bandejas (8-11, 72,7%), como convertendo 50% de seus disparos de fora (3-6), em 33 minutos. Sua pontuação se equivale a quase metade do que as asiáticas marcaram (48,2%). É uma das maiores atuações de sua jovem carreira, se não a mais importante.

Enfrentar a República Tcheca definitivamente não é a mesma coisa que uma defesa da LBF

Enfrentar a República Tcheca definitivamente não é a mesma coisa que uma defesa da LBF

Até, então, neste ano, sua melhor marca havia sido de 20 pontos que anotou pelo Ourinhos em vitória sobre o Brasília, no dia 8 de fevereiro, em casa. Embora tenha atingido esta soma ema penas 24 minutos e ela tenha valido por 48,7% da soma das suas adversárias, não há como traçar qualquer paralelo entre uma realidade a outra. Aqui, estamos falando de uma Copa do Mundo, a primeira vez em que a atleta atua em jogos oficiais pela seleção adulta fora das Américas. Sete meses atrás, estava em casa, no Monstrinho, enfrentando o time mais fraco da LBF, a liga nacional.

Em quadras brasileiras, Patrícia, que está de volta ao São José, clube que defendeu entre 2011 e 2013, vem tentando se inserir entre as principais atacantes. Em sua única temporada por Ourinhos – tradicional clube que, alegando falta de grana, congelou suas atividades na modalidade –, sua média foi de 11,06 pontos, em 29 minutos, sendo a 14ª da tabela geral do torneio. Sua segunda melhor marca individual foram os 19 pontos contra Americana, no returno, logo na rodada seguinte aos 20 contra as candangas.

(Aqui, um parêntese: foi uma aventura descobrir sua média e checar seus recordes pessoais, uma vez que o site oficial da LBF não oferece ao público fichas individuais de cada atleta, nem da temporada 2013-14, muito menos de edições passadas. Aí você consulta a lista de de cestinhas do torneio, e encontra duas Patrícias, ambas de Ourinhos, com médias de 11,06 e 10,94 pontos. Acontece que uma delas é a veterana Chuca. A outra, a Patty. E aí? Faz como? Bem, você primeiro consulta o Google para checar se a Patrícia número 7 é mesmo, a mais jovem. Confere. Aí, acessa jogo por jogo do clube no campeonato para tirar a limpo essa história. Em 16 partidas, a camisa 7 anotou 177 pontos. Divide na calculadora e chega aos 11,06. Eureka. Para constar: na temporada regular, em 14 confrontos, ela somou 159, com 11,38.)

Jogando no Vale do Paraíba, vinda do São Caetano, ela teve médias de 12,8 em 2012-13 (10ª), em 27 minutos, e 14,1 pontos em 2011-12 (11ª), em 31 minutos. Foi em 2013 que ela conseguiu seus recordes pessoais pela LBF. No dia 5 de março, foram 31 pontos em 35 minutos contra Araçatuba, numa vitória por 77 a 62, com 3-5 nos três pontos, 7-12 de dois pontos e 8-11 nos lances livres. No dia 18 de fevereiro, em derrota por 64 a 61 no Maranhão, igualou os 27 pontos que fez contra  japonesas, com 4-8 de três, 5-10 de dois e 5-6 nos lances livres. Os adversários eram os dois piores da temporada. Em 2012, ela também anotou 27 pontos contra São Caetano, no dia 28 de janeiro, em vitória por 71  a 55, com 2-4 de três pontos, 7-15 de dois pontos e 7-7 nos lances livres, em 31 minutos.

Patrícia tenta de longa distância, com mecânica estranha

Patrícia tenta de longa distância, com mecânica estranha

De novo: não dá para comparar esses picos em sua trajetória com o ela fez pelo encerramento da primeira fase da Copa do Mundo. Ainda assim, em declaração divulgada pela CBB, Patty não demonstrou tanta empolgação assim, dividindo o brilho da atuação com suas companheiras. “A vitória foi construída com nosso jogo coletivo e todas as jogadoras se ajudaram do início ao fim. Cada detalhe foi importante para conseguirmos esse resultado positivo. Entrei para ajudar o grupo, a defesa encaixou bem e com isso o ataque fluiu normalmente'', afirmou. ''Fico feliz por ter contribuído com 27 pontos, mas divido esse momento com toda a equipe. Estamos confiantes e muito concentradas para as próximas partidas, decisivas.''

De fato, a ala-armadora desequilibrou o jogo em seu momento mais crítico, quando as japonesas reduziram uma diferença de 20 pontos para apenas seis na metade do terceiro período, mas o Brasil ganhou o jogo graças ao seu empenho defensivo, mesmo. Para tanto, além de plano de jogo e execução, contou claramente com seu maior vigor físico para oprimir o adversário. A própria Patty era, em geral, de 1,78m, era mais alta e rápida que as atletas com as quais duelou em quadra. Em sua primeira competição desse porte, vai se testando, assim como muitas de suas companheiras. Nas oitavas de final, contra as francesas, vice-líderes do Gruop B, é pedir demais que ela repita uma atuação dessas. Por outro lado, ela agora sabe que pode fazer muito mais do que havia apresentado nas duas primeiras partidas.

*    *   *

Além de Érika e Iziane, confira as outras atletas brasileiras que chegaram aos 20 pontos seja na edição passada da Copa do Mundo ou nos Jogos Olímpicos de 2012: Clarissa marcou 21 pontos contra o Canadá em Londres;  a ala Karla fez 22 contra a Austrália em Londres; a armadora Helen chegou a 20 contra Mali em 2010; por fim, a pivô Alessandra marcou 21 pontos num segundo confronto com o Japão naquele Mundial. A jovem Damiris tem os 22 pontos contra o Chile como sua partida mais produtiva, mas pelo Sul-Americano.

*   *   *

Em dados fornecidos pela CBB, confira os números de Patrícia na base:

Mundial Sub-19 Eslováquia 2007: 71pts/8 jogos (8,8).

Copa América Sub-18 Argentina 2008: 73pts/5 jogos (14,6)

Sul-Americano Sub-17 Equador 2007: 66pts/5 jogos (13,2)

Sul-Americano Sub-15 Equador – 2006: 99pts/6 jogos (16,4)


Brasileiras se impõem fisicamente contra Japão e avançam
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Giancarlo Giampietro

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

O Brasil primeiro se impôs fisicamente nesta terça-feira contra o Japão, com uma defesa bastante combativa e eficiente. Quando a coisa apertou a partir dos ajustes de seu adversário, a ala Patrícia explodiu no ataque, para chegar a incríveis 27 pontos e liderar uma vitória por 79 a 56 pela Copa do Mundo feminina de basquete, em Ankara, na Turquia. Foi o primeiro triunfo no torneio, pelo Grupo A, valendo às garotas a classificação para a fase de mata-matas.

Desde o início, a equipe de Zanon oprimiu o ataque nipônico, com jogadoras que são tão velozes como suas adversárias e muito mais vigorosas e atléticas. Claro que nada disso adiantaria se essas atletas não estivessem dispostas e atentas na defesa, para contestar os perigosos arremessos de fora e forçar uma avalanche de turnovers. As asiáticas cometeram 22 desperdícios de posse de bola, sendo que quase a metade deles aconteceu antes mesmo do final do primeiro tempo. ''Hoje foi um jogo de muita concentração e esse foi um dos fatores que nos levou a vitória. Nós não vamos desistir'', afirmou a pivô Clarissa.

Muitos desses erros aconteceram devido ao reflexo e à antecipação das brasileiras, para cortar linhas de passe pressionadas ou em simples desarmes em situações de mano-a-mano que as adversárias atacavam a partir do drible – foram 16 recuperações, contra apenas quatro –, com destaque para a veterana e ainda extremamente ágil Adrianinha (4) e as pivôs titulares Clarissa e Érika (3) cada, sem contar as 3 recuperações da jovem Isabela Ramona em apenas nove minutos de ação. Nos rebotes, as pivôs brasileiras sobraram, com 13 na tábua ofensiva e 41 no total (contra 28), dando ainda mais volume de jogo ao ataque quando necessário.

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Desta maneira, a seleção chegou a abrir 20 pontos ainda no primeiro tempo, num estalo de dedos, se aproveitando de uma decisão no mínimo curiosa, para não dizer misteriosa, de o Japão partir para a marcação individual logo de cara, demorando para acionar um sistema por zona que lhe ajudaria a atenuar sua defasagem física.

As nipônicas só alternaram sua defesa na metade do segundo período, já bem atrás no marcador. Ainda assim, tiveram sucesso, vendo o ataque brasileiro se perder em arremessos de três pontos tortos, que pouco assustavam. De pouco em pouco, conseguindo produzir mais em situações de transição, o time asiático foi diminuindo a diferença. Na metade do terceiro período, chegou a abaixá-la para meros seis pontos. Mas não passou mais disso.

O ataque brasileiro precisou de uns bons dez minutos, ou mais, para que se reencontrasse no jogo, e aí, sim, com participação sensacional da ala-armadora Patrícia. A jogadora de 24 anos havia marcado apenas três pontos nas duas primeiras rodadas, tendo zerado contra a República Tcheca na estreia. Hoje, multiplicou essa quantia por nove, elevando sua média para 10 pontos por jogo na fase inicial. Engraçado como as estatísticas nunca vão dizer tudo, né?

Patrícia soube dosar o ímpeto pelos disparos de fora com a busca de arremessos mais seguros de dois pontos e acabou com o sistema defensivo japonês. Ela guardou as bolas de longa distância com eficiência até então inédita para o Brasil no torneio (3-6), mas foi causar estrago mesmo em bolas de flutuação e bandejas, usando um primeiro passo bem ágil.

Foi uma contribuição inesperada, é verdade, que ajudou a completar o jogo interior que enfim prevaleceu. Juntas, Érika e Clarissa acumularam 25 pontos e 19 rebotes, além de 12 cestas de quadra em 23 tentativas. Na defasa, Érika ainda deu quatro tocos em 31 minutos. Damiris também conseguiu se soltar um pouco, chegando a seis pontos e seis rebotes em 23 minutos.

O próximo adversário da seleção será a França, que derrotou o Canadá em jogo apertado nesta terça, por 63 a 59, pela terceira rodada do Grupo B. Ambos os times tinham uma vitória e uma derrota (perderam da Turquia e ganharam de Moçambique). As francesas  ficaram, então, com a segunda posição do grupo e serão páreo duríssimo para o time de Zanon nas oitavas de final.

Fica a expectativa também de que a convincente vitória eleve a confiança de um elenco que vinha de derrotas desanimadoras. Resta saber, no entanto, se isso será o suficiente para que o time eleve seu padrão de jogo técnico ou tático como um todo para duelar com um adversário contra o qual definitivamente não vai ser tão superior física ou atleticamente.


Plantão Fashion Week: os verdadeiros shorts estão de volta
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Giancarlo Giampietro

Vocês dão licença, por favor, para uma edição extraordinária do Plantão 21 na Fashion Week do basquete, tá?

Stockton, um ícone fashionista!?

Stockton, um ícone fashionista!?

É que o Chris Douglas-Roberts, um cestinha competente que acabou de assinar com Los Angeles Clippers, mas de personalidade muito maior que o seu jogo, está determinado a por fim ditadura do bermudão nas quadras, resgatando calções um pouco mais curtos, que foram banidos do convívio social e atlético em meados dos anos 90. Os bons, velhos e legítimos shorts. Ou talvez nem curtos assim, mas vamos lá.

CDR, como gosta de ser chamado, já havia anunciado sua medida estilística preferida no início do mês, mas muita gente achou que era ele fazendo graça novamente. ''Disse para o Clippers que vou vestir o número 14 neste ano e que preciso de shorts médios. Eles perguntaram se era isso, mesmo. Aí eu disse que, sim, tipo o (John) Stockton. Vai ser um ano divertido'', afirmou.

Vocês viram, né? Roberts quer chamar a atenção e dar uma zoada geral, mas ficou no meio termo. Citou John Stockton feito uma blasfêmia, uma vez que pediu calção médio, em vez de um modelo legitimamente curto. Quando questionado a respeito de sua decisão, ele simplesmente disse que ''nunca curtiu muito os shorts compridos''. ''Shorts curtos são o que há, cara. Apenas os tontos jogam com shorts compridos, parecendo unsBone Collectors'', disse o ex-jogador do Charlotte Bobcats-hoje-Hornets e New Jersey Nets, por onde teve passagem turbulenta.

Veja abaixo como ficou, durante a gravação de alguns clipes antes do Media Day e da abertura do training camp em Los Angeles. A temporada está chegando…

Sim, são shorts médios

Sim, são shorts médios

Não sabemos exatamente se CDR, ex-companheiro de Derrick Rose na universidade de Memphis sob o comando de John Calipari, iniciou uma revolução fashionista basqueteira, mas o fato é que, na semana passada, o Zalgiris Kaunas levou as coisas além. Ou melhor, recuou as coisas ainda mais em uma sessão de fotos:

Ao centro, Robertas Javtokas, um pivô velha escola devidamente trajado

Ao centro, Robertas Javtokas, um pivô velha escola devidamente trajado

Ainda não temos certeza se eles vão ser capazes de entrar em uma partida de Euroliga vestidos desta maneira, também com o meião esticado, mas já fica desde já a torcida. E se a moda espalha? No Brasil, acredito que o Helinho deveria ser obrigado a adotar um calção desse, não acham? Está aí a ideia para os francanos. : )

Então ficamos por aqui nesse boletim extraordinário. Muito obrigado, e voltem sempre.


Flamengo coroa ciclo vitorioso com a Copa Intercontinental
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Giancarlo Giampietro

A galera fora de controle, e tudo bem

A galera fora de controle, e tudo bem

Os rubro-negros só têm o que comemorar: neste domingo, o Flamengo venceu o Maccabi Tel Aviv por 90 a 77 no Rio de Janeiro e conquistou uma Copa Intercontinental histórica, coroando um ciclo vitorioso impressionante, como há muito não se via no basquete brasileiro. O Fla se junta ao Sírio como o único campeão do mundo (Fiba) do país.

Com intensidade defensiva impressionante, empurrada por uma torcida extremamente barulhenta e entusiasmada, e um ataque muito mais eficiente e controlado, atacando o garrafão do campeão europeu com propriedade, o time rubro-negro fez uma grande partida, ganhando o título mais importante de sua galeria, que, nos últimos anos, já havia sido abastecida com dois troféus do NBB e um da Liga das Américas.

Depois das declarações do ala Marquinhos ao final da primeira partida, numa derrota por 69 a 66, criticando a atuação dos reforços internacionais da equipe, o time brasileiro não deu qualquer indício de turbulência em quadra, com grandes atuações de outros dois estrangeiros, mas que já estavam em seu núcleo na temporada passada: Nícolas Laprovíttola (24 pontos e 5 assistências) e Jerome Meyinsse (22 pontos e 6 rebotes).

O armador argentino foi instrumental neste confronto. Ele atacou a defesa israelense lá dentro, algo que realmente fez falta no primeiro confronto.  O adversário pode povoar sua zona pintada, mas isso que não quer dizer que você precisa aceitar essa defesa e buscar uma só alternativa (que seria o chute de fora). Laprovíttola envolveu com inteligência os pivôs adversários em jogadas básicas de pick-and-roll e teve muito sucesso a partir daí.

A principal vítima foi Alex Tyus. Embora o americano seja muito mais ágil e atlético que Aleks Maric, ele demonstrou uma dificuldade surpreendente para ler o que se passava ao seu redor quando envolvido diretamente na ação ofensiva. Não sabia se marcava o baixinho ou o grandalhão quando a troca era forçada. Essa hesitação proporcionou muitos espaços para o argentino criar e agredir.

Quebrada a primeira linha defensiva, o pivô Meyinsse pôde entrar no jogo, sendo reintegrado ao ataque flamenguista com suas enterradas vigorosas e um jogo de pés paciente e bonito de se ver: 8-10 nos arremessos de quadra, dominante. As infiltrações de Laprovíttola também proporcionou melhor movimentação de bola e tiros de longa distância equilibrados no primeiro tempo. Nos 20 minutos iniciais, o aproveitamento no perímetro foi bastante inflacionado (com seis conversões em 12 tentativas), bem superior ao da etapa inicial na noite de sexta-feira (pífio 1-14), levando o técnico Guy Goodes à loucura.

Meyinsse foi soberano na batalha interior, assessorado por Laprovíttola

Meyinsse foi soberano na batalha interior, assessorado por Laprovíttola

(E aqui é o momento para fazer mais alguns considerações a respeito do fundamento: não, não é proibido arremessar de três pontos. Sim, por vezes você precisa recorrer a esse chute na tentativa de abrir a defesa. Posto isso, no primeiro jogo, o Fla se perdeu nestes chutes de maneira precipitada principalmente no primeiro tempo, quando conseguiu jogar em transição e não tinha nada de bloqueio, trincheira ou muralha maccabista no garrafão – esse panorama decantado aconteceu muito mais depois do intervalo. Tivessem atacado com mais consciência naquela ocasião, teriam se colocado em posição muito mais favorável. Não é questão de exigir um jogo perfeito por parte de uma equipe. Você está sujeito a erros de fundamento aqui e ali e a oscilações, uma vez que não joga contra o vento: existe um oponente preparado para te complicar.  Mas há coisas que você pode evitar, ainda mais no caso de um time experiente desses. E, aqui, é alarmante que tenhamos de falar de Marcelinho Machado, que voltou a forçar bolas absurdas em flutuação na linha de três.)

Mas o mais importante, mesmo, foi o empenho defensivo flamenguista, protegendo o garrafão de maneira impressionante, com muita atenção e rapidez na cobertura. O time de José Neto já havia marcado muito bem no Jogo 1, com uma contestação exterior exemplar. Neste domingo, apanharam um pouco, é verdade, dos armadores americanos do Maccabi, com MarQuez Haynes fazendo companhia muito mais efetiva ao lado do sensacional Jeremy Pargo.

Em termos de habilidade com a bola, explosão física e poder de decisão, o mais próximo de Pargo que as defesas dos clubes do NBB estão acostumadas a enfrentar seria o veterano Larry Taylor. Mas num nível bem abaixo, né? Individualmente, Laprovíttola, Gegê ou Benite não teriam chance contra ele. O trabalho precisaria ser coletivo, mesmo. E o Fla teve sucesso nisso.

Teria Marquinhos feito sua última partida pelo Fla? Críticas não geraram turbulência

Teria Marquinhos feito sua última partida pelo Fla? Críticas não geraram turbulência

Aí você confere a linha estatística e vê 28 pontos, 7 assistências e 6 rebotes para o americano. Então que sucesso foi esse?

Acontece que 18 dos 28 pontos do armador saíram em bolas de três pontos, ao passo que suas infiltrações foram  bem controladas. O baixinho estava endiabrado nos arremessos de fora Teve liberdade em alguns chutes na volta do intervalo, com seu marcador recuando a partir do corta-luz. Mas em alguns chutes o americano simplesmente ''apelou'', todo cheio de confiança, sem se importar com a pressão dos torcedores rubro-negros. No terceiro período, ele anotou sozinho 16 pontos dos 25 de seu time. Em nenhum momento da temporada passada, pelo CSKA, o jogador se mostrou tão à vontade assim.

Três tópicos relevantes ajudam a entender esse momento, para além da capacidade e bom humor de Pargo: a) o Fla quase se deixou levar pelo ímpeto de querer duelar com o americano nos arremessos de três, se perdendo em quatro ou cinco minutos em quadra; b) Haynes assessorou muito bem seu compatriota nessa missão, aliviando um pouco suas responsabilidades, como condutor de bola; c) Marcelinho Machado estava em quadra sem conseguir marcar nenhum deles – com a entrada Gegê e Benite, a defesa melhorou muito, ganhando em agilidade.

Vitor, muito aguerrido e bem mais concentrado do que o normal, foi fundamental no quarto período para frear e desgastar Pargo. Grudou no camisa 4 e deixou as coisas bem mais difíceis para a estrela do Maccabi. Com Pargo praticamente descartado, o time europeu se perdeu ofensivamente. Foi a vez de os israelenses queimarem ataques com arremessos de três equivocados, repetindo as 31 tentativas do Flamengo do primeiro jogo, convertendo 10. Agora se formos descontar os números de seu cestinha, eles ficaram em 4-20, 20%.

O elenco do Maccabi tem bons valores, mas já fica muito clara a dependência em torno do jogo de PArgo. É um time bastante enfraquecido se comparado com o de quatro meses atrás (o desfalque de Sofoklis Schortsanitis pesa muito, com o perdão do trocadilho). A saída de David Blatt também é brutal para suas pretensões na Euroliga, com o técnico Guy Goodes se perdendo em suas rotações e no manejo do placar, tendo três pontos de lambuja ao seu favor.

Mas o Flamengo não tem nada com isso. Fez sua parte em quadra, soube usar a energia da arquibancada de modo positivo – algo que nem sempre é fácil num jogo tensod esses – e conquistou o seu maior troféu. Valeu a festa toda no final, com a galera invadindo a quadra, mas em incidentes. O tipo de descontrole que não faz mal a ninguém.

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Sobre o regulamento da Copa Intercontinental: para futuras edições, ou a organização descola uma brecha de calendário que permita três jogos, ou que fique numa partida única só. Essa coisa de saldo de pontos em dois confrontos é inclassificável. Por exemplo: com 3min08s no cronômetro, o Flamengo vencia por 81 a 70 após dois lances livres de Laprovíttola. Mas, na verdade, não eram 11 pontos de vantagem, já que o Maccabi precisava tirar a diferença pelo menos para 3 para forçar a prorrogação. Isso não pertence ao basquete, como diria o outro.

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Depois de um double-double no primeiro jogo, Derrick Caracter, a contratação pontual e polêmica do time, teve participação muito mais contida neste domingo, com apenas dez minutos de ação. Somou quatro pontos e 2 rebotes. O pivô americano tem agora mais três partidas em sua carreira rubro-negra, com o giro de amistosos em seu país.

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Atualização: E será que Marquinhos fez seu último jogo pelo Fla? Segundo os companheiros Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, o ala tem negociações avançadas com o Washington Wizards, que vai abrir seu training camp já nesta terça-feira. Se for para fechar o negócio mesmo com o time da capital, deve acontecer rapidamente. Em entrevista após a final neste domingo, o brasileiro disse que sua oferta é do New Orleans Pelicans, clube que defendeu em sua primeira passagem pela NBA. Mas uma fonte próxima ao clube assegura que só foi feita uma sondagem a respeito do atleta, e uma sondagem preliminar.

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Muito bacana a reação de Walter Herrmann, subindo em um dos aros da Arena HSBC para aplaudir, de pé, seus torcedores e companheiros. Taí um cara que merece qualquer confete. O argentino já está longe do auge, mas é um atleta de muito caráter e fundamentos ainda muito sólidos, que vai contribuir bastante para o Fla em sua luta pelo tricampeonato nacional.