Vinte Um

Aaron Gordon perdeu em tempo real, mas vai ganhar na memória
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Giancarlo Giampietro

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Vitória moral existe no esporte? Creio que sim, embora, para os que perdem, em tempo real, não haja consolo nenhum. Mas a história dá conta disso, ainda mais com tantos meios diferentes para registro disponíveis hoje. Daí que a competição de enterradas da NBA de 2016, desconfio, vai ser lembrado para sempre como o torneio de Aaron Addison Gordon, californiano de San Jose, 20 anos e 2,06m de altura. A aberração atlética do Orlando Magic que, com toda a licença brega possível, tomou conta dos sonhos e do imaginário coletivo da NBA na noite deste sábado.

Por causa disto:


Ou disto:

E que tal esta? Que os jurados simplesmente não conseguiram entender, ver tudo em tempo real, e aí fica a dúvida se não era o caso de defender e exigir, nos dias de hoje, o auxílio do vídeo antes de se dar uma nota. Por outro lado, quem se importa com isso? Digo: Aaron Gordo – e seu irmão, Drew – obviamente acreditam que ele foi roubado e que deveria ter vencido. Mas, a julgar ao menos pela repercussão instantânea, o sentimento da maioria é de que ele havia tomado conta do evento e vencido a parada.

Zach LaVine, que fique claro, é um doente incontrolável. Também foi impressionante. Seu tempo de voo é praticamente o de uma ponte entre Cogonhas e Santos Dumont. Aliás, se na transmissão da TNT, Charles Barkley dizia que o garoto não havia saltado exatamente da linha do lance livre. Que teria queimado ao salto, por assim dizer. Só não nos esqueçamos que Michael Jordan, em sua cravada mítica, também invadiu o garrafão:

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Mas o garoto lutava não só contra o ala do Orlando e mas também contra suas próprias memórias do ano passado, quando ressuscitou o torneio com um desempenho de deixar a NBA inteira embasbacada. Em Toronto, não era mais novidade. Então, acho que tenho de admitir isto: se não tivesse visto a jovem promessa do Minnesota decolar antes, talvez estivesse hoje absolutamente chapado pela carga de adrenalina imposta por ambos os finalistas.

Além disso, o que pega é que, por ser o atual campeão e até por ter recebido as melhores notas desde o início, tinha a teórica vantagem de se apresentar por último. Só não esperava enfrentar um competidor tão criativo e assustador como Gordon. A partir do momento em que seu concorrente passou a convocar a mascotinha simpática digna do mundo de Walt Disney para participar da festa, LaVine esteve sob pressão. E, aqui num sofá castigado na Vila Guarani, ofuscado. Ou, talvez seja melhor colocar desta maneira: quando ele estava enterrando, a liga toda ainda estava pensando, assimilando e se emocionando com o que Gordon havia acabado de fazer. Não deu tempo, não teve break.

(E, por favor, sem chilique: é só uma opinião de uma só pessoa, e não a verdade absoluta. O Giampietro sênior, papai VinteUm, por exemplo, preferiu LaVine. A madrugada já havia ido longe quando recebi esta mensagem: ''O Gordon teve um salto dobrando os joelhos para transpor o mascote que foi um show. Mas gostei mais do conjunto do LaVine, que foi mais bonito e consistente, lembrando muito o Jordan. Se bobear, ganha ano que vem, novamente''. Acrescento aqui que seu gesto em reverência ao rival, quando recebeu o troféu, o foi muito bacana, de aguçada sensibilidade, entendendo que talvez fosse o caso de ambos serem nomeados campeões.)

É irônico que o melhor torneio de enterradas desde a #Vinsanity de 2000 tenha sido realizado justamente em Toronto, com Tracy McGrady de jurado e Vince Carter longe dali, talvez nas Bahamas.

Para fechar, só resgato aqui uma notinha que fiz no ano passado, sobre o ''show das enterradas''. Vamos deixar de ser chatos, né?

É uma balança difícil, uma discussão que talvez não tenha fim, a procura pelo equilíbrio entre o que é ''certo'' e ''puro'' com o que seja ''espetacular'', numa conotação que, para alguns, singifica ''espalhafatoso''. Sempre que um jogador for encarar a cesta para tentar suas acrobacias, esse debate vai ser resgatado, para tentar entender o que poderia estar dando errado, ou certo, no basquete.  Uma coisa realmente exclui a outra? São poucos os que chiam, se é que eles existem, sobre o concurso de arremessos de três pontos. Afinal, o ato do chute seria algo legítimo da modalidade, sua finalidade. A glamorização das cravadas já significaria a corrupção. Por outro lado, é claro que também há quem só saiba valorizar acrobacias na quadra e ignore tantos outros elementos ricos e decisivos do jogo como o ângulo de um corta-luz e o corte fora da bola. Mas a melhor solução não seria tentar sempre conciliar as coisas? Encontrar o meio termo nesse tipo de – sério, mesmo!? – polêmica? Hoje essa coisa de bola ao cesto já envolve muita gente, digamos, grandinha, espichados ou mais velhos. Enterrar faz hoje parte do jogo.

O que se viu na noite deste sábado foi maravilhoso. Foram dois atletas desafiando o senso comum e as regras da física em geral.

Aaron Gordon, enterrada, mascote

Aaron Gordon, impulsão, enterrada

LaVine, enterrada, 2016

Verizon Slam Dunk Contest 2016Zach LaVine, aerial


Magnano se preocupa com panorama nebuloso para os brasileiros da NBA
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Giancarlo Giampietro

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Não é hora para pânico. Ainda. Pois as Olimpíadas serão disputadas em agosto, daqui a menos de seis meses. Mas que é alarmante o contexto da seleção brasileira masculina, não há dúvida.

As semanas da opressora temporada regular da NBA avançam, e o panorama da volumosa legião brasileira por lá segue nebuloso. Nenhum deles é protagonista – mas isso não vem de agora. O problema é o tempo de quadra consideravelmente reduzido, pelas mais diversas razões. Raulzinho é o único que tem mais de 20 minutos em média por partida (20,5), mas menos da metade do tempo regulamentar da liga.

O que leva Rubén Magnano a coçar a cabeça, ao retornar de seu giro pelos Estados Unidos, para falar tête-à-tête com a trupe. Em conversa com Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, citando Marcelinho Huertas e Anderson Varejão como “os que mais preocupam”. O argentino chegou a sugerir a eles que procurassem novos clubes, para que pudessem jogar mais, pensando na forma física no momento em que forem convocados para as Olimpíadas. O prazo para trocas na NBA se encerra no dia 18 de fevereiro, próxima quinta.

“Eles sabem disso. Vamos ver como fica esta história [de troca de times, que acontece anualmente no meio da temporada]. Seria muito bom se conseguissem algo. Dei o meu parecer e a minha ideia, tivemos uma conversa muito aberta. Mas não sou eu que vou fechar o negócio”, afirmou. “Todos sabem como funcionam as coisas na NBA.”

Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas "não têm preço". Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um "sim" dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim...

VALE A VISITA? – Magnano se encontrou com Splitter mais uma vez nos Estados Unidos. Diz que as visitas ''não têm preço''. Será? Com a CBB endividada, fica a dúvida sobre a real importância dessa visita. Houve um tempo em que a seleção estava distante dos atletas. Mas o constante contato nas últimas temporadas já deveria ter bastado para se criar uma cultura. Além do mais, era realmente necessário que o treinador conversasse com eles, pessoalmente, para falar sobre a importância de se jogar uma Olimpíada? E mais: do ponto de vista prático, fevereiro ainda é muito cedo para uma temporada da NBA. Um ''sim'' dito agora pode não ter valor nenhum daqui a quatro ou oito semanas, com muitos jogos importantes pela frente. Peguem a situação de Splitter como exemplo: se a necessidade de uma cirurgia se confirmar, muda tudo em relação ao bate-papo dos dois. São muitas variáveis em jogo. Enfim…

Sim, o desejo de Magnano não conta quase nada perante o plano de cada uma das 30 franquias da liga americana, ou de Lakers e Cavaliers, no caso. Os rumores pelos bastidores indicam que o Cavs até vem sondando o quanto Varejão desperta de interesse do mercado. Mas o assunto não está pegando fogo.

De qualquer forma, na frase do técnico da seleção, acho que a ênfase deve ficar em “mais”: aqueles que mais preocupam. Não quer dizer que a situação dos demais brasileiros seja tranquila. Aliás, pelo contrário. As notícias envolvendo Tiago Splitter são ainda alarmantes. Como o Atlanta acaba de admitir, o catarinense pode passar por uma cirurgia no quadril. Nenê teve sua campanha sabotada, desta vez, por conta da panturrilha. Enquanto isso, em Toronto, Lucas Bebê voltou a sumir de quadra com o retorno de Jonas Valanciunas, enquanto Bruno Caboclo segue como um projeto de longo prazo, com a D-League servindo como laboratório. Cristiano Felício tampouco joga pelo Bulls.

E aí?

Bem, antes de julgar, é importante entender o que se passa com eles – pois já dá para ver por aí os comentários oportunistas – ou, digamos, bastante ''desapegados aos fatos'' –, prontos para desqualificar esses atletas, sem entender diferentes particularidades que os cercam. O fato de essa galera não estar jogando muito agora não significa de modo algum que não sirvam. Antes de abordar cada situação especificamente, há um ponto em comum que une Splitter, Varejão e Nenê e outro para Felício, Bebê e Caboclo.

O primeiro trio é composto por trintões, não podemos nos esquecer. Isso não quer dizer que estejam acabados. Eles têm muita lenha para queimar ainda. Só não são os mesmos jogadores de quatro ou cinco anos atrás, principalmente do ponto de vista atlético. Não há como brigar contra isso, e até um Kobe Bryant se mostra mortal.

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Já a segunda trinca está do outro lado do espectro: jovens talentos garimpados pelos scouts da liga, ainda em formação. O leitor mais crítico pode observar que, ao 23, Felício e Bebê são três anos mais velhos que calouros superprodutivos como Karl-Anthony Towns, Kristaps Porzingis e Jahil Okafor. Ou que têm a mesma idade de Kyrie Irving, Victor Oladipo, Harrison Barnes, Jordan Clarkson, Jared Sullinger, Valanciunas, entre outros. Mas é injusto comparar. Cada um caminha no seu ritmo. Bebê saiu cedo para a Europa, perdeu quase um ano entre negociações com Atlanta, problemas no joelho e o retorno ao Estudiantes. Na temporada passada, também só treinou. Felício passou pelo Oregon por um ano e, no Flamengo, mal tinha a bola para atacar. E por aí vai. São crus para o jogo em alto nível, mas ainda vistos como atletas de potencial por suas franquias.

''Temos jogadores jogando muito pouco e que são muito importantes. Pode ser que isso mude a partir de agora. Quero que os atletas cheguem com uma boa minutagem, e isso é o que mais preocupa. Não é tão fácil trocar o chip de uma hora para outra. Temos de colocar todos na mesma sintonia'', diz.

Contra o LAkers, na quarta, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Kevin Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Contra o Lakers, Varejão recebeu 19 minutos e somou oito pontos e seis rebotes, cometendo quatro faltas. Love saiu de quadra com uma contusão no ombro, e aí abriu-se espaço na rotação. Chance para os olheiros das outras equipes verem o que Anderson ainda tem para vender

Essas questões interferem na convocação do time de Magnano, ou deveriam interferir, se me permitem opinar. Lesões, falta de ritmo… Você não tem garantia de que, em 40 dias de treinos e testes, vai superar isso. Talvez o mais prudente, então, na hora de elaborar a lista, seja pensar em mais nomes, algo mais amplo. Em sua rotina extremamente exigente de treinos, o técnico tem de botar esses caras para correr, mas sem quebrá-los. Desenferrujar não é a única questão. Tem mais: você precisa de alternativas e de competição para definir os 12 olímpicos.

Do seu lado, contudo, o argentino não parece tão inclinado a isso. Não dá para esperar novidades. ''Agora não vou fechar nomes ou possibilidades. Mas claro que hoje tenho bem definido um grupo de jogadores que posso chamar pensando não apenas na seleção do Brasil neste momento, mas também o que podem representar no futuro'', analisou.

É um dilema, sem dúvida. Convocar por currículo, por nome, ignorando temporada pouco produtiva, não deveria ser a regra. Mas, a essa altura, também pode soar como loucura advogar por mudanças drásticas na relação, pensando na experiência acumulada pelo núcleo usual de Magnano. Só é preciso respeitar as condições de jogo de cada um, do ponto de vista físico, médico.

Em sua entrevista, o treinador fala que quer o Brasil jogando sempre no mesmo horário durante as Olimpíadas, que já assegurou a presença de uma comitiva de familiares nas arquibancadas e um pouco mais sobre o planejamento até o #Rio2016. Pode conferir lá. Abaixo, vamos tentar entender o que se passa com os brasileiros da NBA:

Anderson Varejão
Vai chegar ao torneio olímpico beirando os 34 anos
Na temporada:
31 jogos, 10,0 minutos, 2,6 ppj e 2,9 rpj
Projeção por 36 min: 9,3 ppj, 10,6 rpj, 2,3 apj, 1,3 roubo
O capixaba está numa das rotações interiores mais congestionadas da NBA, em tempos em que os pivôs vão perdendo espaço para jogadores mais flexíveis. Quer dizer: não só tem de brigar por espaço com Kevin Love, Tristan Thompson e Timofey Mozgov, como verá LeBron James ocupar minutos por ali, assim como o veterano Richard Jefferson. Se você for pegar os números projetados, Anderson tem entregue, em tempo limitado, mais ou menos aquilo que apresentou durante toda a sua carreira. A dúvida que fica, mais séria, é sobre sua mobilidade, que sempre foi um de seus grandes diferenciais, assim como o instinto e a inteligência. O pivô se recuperou de uma cirurgia no tendão de Aquiles no ano passado, o que é um desafio (independentemente do que Kobe Bryant e Wesley Matthews façam em Los Angeles ou Dallas). Fica difícil. Conforme já dito, o Cavs faz sondagens de mercado para se há um negócio interessante pelo brasileiro. Caso fique em Cleveland, é grande a chance de que esteja envolvido com a liga até o início de junho, época das finais. http://www.basketball-reference.com/players/v/varejan01.html#per_minute::none

Leandrinho
Fez 33 anos em novembro passado
Na temporada:
39 jogos, 14,9 minutos 6,6 ppj, 1,4 apj, 1,4 rpj, 36,5% de 3pt
Projeção por 36 min: 15,9 ppj, 3,4 apj e 3,8 rpj

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

Leandro, e seu novo visual. Mas o papel no time é o mesmo do ano passado

O ligeirinho está toda hora na TV e até os marcianos sabem que ele é uma peça complementar num dos melhores times da história do basquete, tendo a confiança dos treinadores e um respaldo imenso no vestiário. Não é o foco no ataque da segunda unidade, como em seu auge pelo Phoenix Suns, mas ainda põe fogo em quadra e se encaixa perfeitamente numa proposta intensa de jogo. A dúvida aqui é saber até quando vai se estender a jornada do Warriors. Ao que tudo indica, estarão jogando no início de junho, sendo que as Olimpíadas começam no dia 6 de agosto. A despeito da ascensão de Brandon Rush e de uma torção no ombro, ele tem hoje a mesma média de minutos da temporada passada. Seus números por 36 minutos também são muito semelhantes aos que produz desde que entrou na liga em 2003.

Marcelinho Huertas
Completará 33 anos em maio
Na temporada: 29 js, 11,4 mpj, 2,7 ppj, 2,4 apj, 1,1 turnover, 29,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 8,5 ppj, 7,7 apj, 1,4 roubo, 3,6 turnovers
O Lakers tem um elenco fraco. Está na cara isso. Mas as posições perimetrais contam com um certo sr. Bryant e dois garotos que são as grandes apostas para logo mais. E ainda tem o Lou Williams, fominha que só, mas um cestinha oportuno. O brasileiro foi contratado, em tese, para ajudar Russell e Clarkson e, eventualmente, colaborar com a organização da segunda unidade. Durante a pré-temporada, Byron Scott se empolgou com sua capacidade de liderança em quadra. Essa empolgação não durou muito… Mesmo com o time totalmente desfragmentado, o brasileiro vem sendo utilizado de maneira esporádica. (E, por favor, essa história de toco, roubo de bola, drible… Torcida pode gostar disso, mas, em discussões mais sérias, não cabe.)

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê é relevante para o Wizards. Mas está limitado pelo corpo

Nenê
Completará 34 anos em setembro
Na temporada: 28 js, 18,8 mpj, 8,8 ppj, 4,4 rpj, 1,4 apj, 53,6% nos arremessos
Projeção por 36 minutos: 16 ppj, 8,3 rpj, 2,7 apj, 1,8 roubo e 1,0 toco
Como podemos ver, o são-carlense ainda segue muito eficiente, fazendo um pouco de tudo em quadra. Suas estatísticas, por 36 minutos, são praticamente idênticas ao que produziu na carreira. O grande problema é que o técnico Randy Wittman simplesmente não sabe quando pode contar com os seus serviços, e aqui acho que nem vale citar uma ou outra lesão específica – a panturrilha é o que mais incomoda neste campeonato. Nenê já enfrentou tantos problemas físicos nos últimos anos, que o baque pode ter um foco ou outro numa semana, mas o baque é geral. Por isso, tem seus minutos controlados e é poupado em ocasiões de duas partidas em duas noites. Não obstante, a ideia para o time neste ano era adotar uma formação mais baixa, com três alas ao redor de Marcin Gortat. Outro ponto: Nenê vai ser agente livre ao final do campeonato. A questão de seguro ficará ainda mais cara e complicada.

Raulzinho
Vai fazer 24 anos em maio
Na temporada: 51 js, 20,5 mpj, 6,2 ppj, 2,5 apj, 1,5 rpj, 39,6% de 3 pts
Projeção por 36 minutos: 10,9 ppj, 4,3 apj, 2,7 rpj, 1,5 roubo.
Vamos deixar Magnano falar um pouco a respeito? “Com certeza em seis anos que estou na seleção você nunca me escutou falar de titulares. Tem jogadores que abrem o jogo, outros que terminam. Eu não tenho nenhuma preocupação quanto a isso. A minha única preocupação é que o cara renda na hora do jogar. Tenho exemplos muito claros disso e um deles é o próprio Raulzinho, que contra a Argentina, na Copa do Mundo, entrou e teve ótima atuação”, afirmou o argentino, a Aleixo, quando questionado sobre um quinteto inicial.

Tudo isso para dizer que, sim, é surpreendente e bacana que Raul tenha conseguido o posto de titular em sua campanha de calouro, com um papel bem definido na rotação, fazendo a bola girar, abrindo para o chute. Mas o brasileiro, que vem se soltando nas últimas rodadas, também está ciente de que a criação de jogadas do Utah cabe, na verdade, a Gordon Hayward, Rodney Hood, Alec Burks (quando retornar) e até mesmo a Trey Burke, seu suplente, que foi para o banco para ganhar mais liberdade na segunda unidade. Mesmo tendo disputado duas partidas a menos, Burke recebeu mais de 100 minutos de jogo na temporada. E não podemos nos esquecer da lesão de Dante Exum.

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Raul, o único titular. Mas por circunstâncias

Tiago Splitter
Fez 31 anos há pouco, em janeiro
Na temporada: 36 js, 16,1 mpj, 5,6 ppj, 3,3 rpj
Projeção por 36 minutos: 12,5 ppj, 7,5 rpj, 2,2 apj, 1,1 roubo e 1,1 toco
O início mais tímido de Splitter em Atlanta, com poucos minutos, poderia sugerir as dificuldades normais de adaptação a um novo time e elenco, mesmo que houvesse uma lacuna clara no garrafão. Em tese, o encaixe com Horford e Millsap era perfeito. Mas não era só isso. Ele perdeu sete jogos entre novembro e dezembro. Mais quatro entre dezembro e janeiro. Agora, em fevereiro, aí que a coisa ficou mais séria, com mais seis jogos fora. Finalmente, o clube revelou o que se passava com o catarinense, e a notícia não é boa: as dores no quadril são tão fortes que podem pedir até uma cirurgia. Ao final deste período prolongado de descanso e tratamento, será reavaliado. Mike Budenholzer e Magnano, claro, esperam que não seja necessário. Pois, limitado nos movimentos, o pivô ainda foi útil ao Hawks, causando ótimo impacto defensivo.

Caboclo, Bebê e Felício
Os mais inexperientes até agora não somaram nem 160 minutos de jogo. Desta cota passageira, Bebê é responsável por 85,3%, e, nas poucas chances que teve, foi bem. Desde a virada do ano, porém, só foi acionado sete vezes por Dwane Casey. Só contra Denver, em 1º de fevereiro, que ganhou 14 minutos, quando seus companheiros foram destroçados por Nikola Jokic no primeiro tempo, e o treinador se viu obrigado a buscar novas opções.

Para Caboclo, isso já representaria um recorde, ainda assim. A maior rodagem que o ala ganhou até agora foi, conforme o esperado, na D-League. Entre idas e vindas entre o Raptors A e o B, acumula 797 minutos em 24 partidas,com 32,5 por rodada. Médias de 13,6 pontos, 5,8 rebotes, 1,5 assistência e 1,8 toco, matando 34,4% de três pontos e apenas 38% dos arremessos no geral. É preciso cuidado na hora de avaliar esses números, já que as estatísticas da liga são infladas pela natureza peladeira de 95% de seus jogos. Além disso, no caso do ala brasileiro, é difícil encontrar o equilíbrio entre prepará-lo para um eventual papel reduzido que possa ter na NBA o quanto antes e, ao mesmo tempo, lhe dar liberdade para expandir seus talentos ofensivos, aprendendo com erros e acertos em quadra. Lucas, por seu lado, teve mais 179 minutos com a equipe de baixo em sete partidas.

Em Chicago, Felício entrou em um vestiário lotado de ótimos pivôs. Por isso, mais treinava do que qualquer outra coisa. Sem uma franquia na D-League, o Bulls demorou um pouco para enviá-lo. Quando a chance chegou, a revelação do Minas Tênis se esbaldou, mostrando que os treinos ao menos foram proveitosos. A lesão sofrida por Joakim Noah e a cirurgia complicada por que passou Nikola Mirotic deixam o time enfraquecido e a perigo. Será que, em um momento complicado, o brasileiro vai para quadra? Não é tão simples assim. Cameron Bairstow e Bobby Portis ainda estão na fila.


Duas lesões põem duas apostas certas de playoff a perigo pela NBA
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Giancarlo Giampietro

Chicago e Memphis sofrem duro baque com lesões

Chicago e Memphis sofrem duro baque com lesões

Os playoffs da NBA em 2016 podem ficar sem Chicago Bulls, de um lado, e Memphis Grizzlies, do outro.

Se fosse para escrever esta frase em outubro do ano passado, poderiam acusar o autor do blog de maluco depravado. Depois do infeliz anúncio das lesões de Jimmy Butler e Marc Gasol, porém, esse virou um cenário possível, para derrubar duas apostas antes certeiras. Os dois clubes estão verdadeiramente a perigo.

Butler deve ficar fora de ação de três a quatro semanas, com uma distensão no joelho esquerdo. Sobre Marc Gasol, o que se sabe apenas é que ele sofreu uma fratura no pé direito. O clube ainda não definiu um prazo, mas é algo muito grave para qualquer jogador de basquete, mas principalmente alguém de seu tamanho – e peso – e pode afastá-lo do restante da temporada. Até Sergio Scariolo, técnico da seleção espanhola, já está preocupado.

Qual pode ser o impacto desses desfalques para cada time?

Butler & Bulls

Agora Chicago sofre com o joelho de Butler

Agora Chicago sofre com o joelho de Butler

Se as estimativas médicas mais otimistas se ralizarem, Butler deve retornar ao time no início de março. Vamos supor que seja no dia 5 desse mês, contra o Houston Rockets, em casa. Até lá, serão nove partidas, com cinco em casa e quatro fora. Nesta sequência, eles vão ter algumas pedreiras: dois jogos contra Atlanta e duelos com Cleveland, Toronto e Miami, mais Washington, Portland e Orlando. A única baba seria o Lakers.

Seria. Pois, sem Butler e Joakim Noah, com Nikola Mirotic ainda sem data para retornar depois de uma cirurgia mais complicada do que se esperava para resolver uma apendicite, Chicago se vê com uma rotação enxuta e poder de fogo reduzido.

Pois Buttler é o cestinha do time, com 22,0 pontos, e  lidera o time em minutos (37,9!) e roubos de bola. É o segundo em assistências e o quinto reboteiro. Com o ala jogando o melhor basquete de sua carreira, Chicago já estava capengando e caindo pela tabela, perdendo sete dos últimos dez jogos. No geral, em 51 partidas, sua defesa sofreu mais pontos do que o ataque converteu, gerando um saldo de -0,3 na temporada. Agora como fica?

Pau Gasol é um porto seguro no ataque – supõe-se que qualquer possibilidade de troca envolvendo o craque espanhol esteja enterrada. Mas Mike Dunleavy Jr. já terá entrado em forma? Derrick Rose vai suportar uma carga maior? E como E'Twaun Moore, Doug McDermott e Bobby Portis vão se sair diante de maior atenção das defesas? Pior: como vai ficar a defesa, que ainda é o ponto mais forte do time? Fred Hoiberg vai encarar realmente muitas questões. Cada jogo será um desafio, e a única nota de consolo aqui fica por conta do intervalo em torno do All-Star, que impede um estrago maior.

Dupla que faz falta em diversos sentidos

Dupla que faz falta em diversos sentidos

A situação de Noah e Mirotic também limita a diretoria em tentativas de trocas. Se estiverem desesperados por reforços, a dupla John Paxson e Gar Forman tem um trunfo valiosíssimo em mãos: uma escolha de Draft devida pelo Sacramento Kings, que será entregue a Chicago se o clube californiano não estiver entre os dez piores nas próximas duas temporadas. É o tipo de escolha que pode render um jogador relevante, para uma franquia que esteja interessada em se desfazer de algumas peças.

Em anos passados, talvez todas essas incertezas não importassem tanto. Mas, na campanha 2015-16, o pelotão intermediário da Conferência Leste apresenta maior competitividade, e não é que o Bulls tenha muita margem de manobra. Com três vitórias a mais do que derrotas, a equipe vê o Charlotte Hornets, de 50%, bem próximo, disposto a voltar aos playoffs. Um Hornets muito bem dirigido por Steve Clifford e que já, ao que parece, enfrentou o pior em termos de lesões. No perímetro, Michael Kidd-Gilchrist voltou para reforçar a defesa e Nicolas Batum está recuperando o ritmo, se o dedão assim permitir. Já Al Jefferson está pronto para jogar depois do All-Star.  A cavalaria chegou.

Em termos de tabela até o final da temporada, há um fator que joga a favor do Hornets: a equipe tem três jogos a menos que o Bulls contra times de aproveitamento superior a 50% (17 a 14). Por outro lado, o time hexacampeão da NBA joga duas vezes a menos como visitante (17 a 15), e, longe de seus domínios, as abelinhas têm ido muito mal, com 17 reveses em 24 partidas.

Entre Charlotte e Chicago está posicionado o Detroit Pistons, que tem Brandon Jennings e alguns veteranos como moedas de troca para os próximos dias para consolidar sua rotação. A gestão de Stan Van Gundy já mostrou que não tem problemas em fechar os negócios, e há uma pressão para se matar a saudade dos mata-matas. Difícil imaginar uma queda de produção aqui. Pelo contrário.

Um pouco mais abaixo, Washington (46%) e Orlando (45,1%) ainda não jogaram a toalha, mas precisam primeiro curar sua inconsistência para, depois, esperar por uma derrocada dos concorrentes.

Gasol y los Osos Pardos

Marc Gasol saindo de quadra: não é tão normal assim

Marc Gasol saindo de quadra: não é tão normal assim

Nas cinco temporadas anteriores, o Grizzlies jogou sem Big Marc por apenas 27 jogos, sendo que 23 destes aconteceram em uma só temporada, 2013-14. Isto é: fica difícil de deduzir qual o impacto de um período extenso de tabela sem o pivô espanhol, que liderava a NBA em minutos entre jogadores de sua posição, com 34,4 por rodada. Nestas mesmas cinco temporadas, ele foi o grandalhão com o maior número de minutos também, com quase 500 a mais do que a aberração DeAndre Jordan, para termos uma ideia, segundo levantamento do colunista Chris Herrington, do Memphis Commercial Appeal. Isso sem contar as campanhas nos playoffs.

Quanto tempo vai levar para Gasol sair da enfermaria? Vale a pena apressar o pivô e correr riscos? Aliás, o departamento médico do clube e seus diretores agora estão sob pressão, uma vez que o gigantão acusava dores no pé e, ainda assim, foi escalado contra Portland na segunda-feira e suportou apenas 11 minutos. O pé já estava fraturado? Ou a fratura aconteceu em quadra? Era uma questão de tempo? Acho que o diagnóstico independe. Foi irresponsabilidade usá-lo nessas condições.  Nessa discussão, não dá para ignorar também a personalidade de Gasol, que é daqueles que não permite que qualquer contusão o tire de quadra – e que, segundo diversos relatos internos, se apresentou fora de forma para este campeonato. Por mais valente e teimoso que seja o  jogador, os interesses do time a longo prazo devem prevalecer. Que ele volte só quando estiver 100%.

Há três anos, Mike Conley, Tony Allen, Courtney Lee e Zach Randolph estavam no núcleo central da rotação, mas o restante mudou muito, com a saída de Kosta Koufos, Ed Davis, Quincy Pondexter, Mike Miller, James Johnson e Nick Calathes. Koufos, aliás, é o grande diferencial aqui, como um pivô mais do que competente para suprir a a ausência do craque do time por algumas semanas. Para não falar da capacidade atlética de Davis.

Wright jogou apenas sete partidas na temporada. Perfil bem diferente em relação a Gasol, também

Wright jogou apenas sete partidas na temporada. Perfil bem diferente em relação a Gasol, também

Hoje, Dave Joerger olha para o banco e vê… Ryan Hollins. Ai. Brandan Wright está se ajeitando para voltar, mas é um pivô de características muito diferentes (é só colocar um pivô do lado do outro para fazer o jogo dos sete erros). Em tese, se nenhuma troca acontecer para o técnico pode rever seu plano de jogo e confiar numa formação mais baixa, dando mais minutos a Jeff Green, Matt Barnes, Vince Carter e, quiçá, JaMychal Green. Hoje, o Grizzlies tem o quarto ritmo mais lento da liga, trotando mais que Utah, Miami e Cleveland.

Nesta temporada, o quinteto que mais minutos recebeu sem Gasol teve Mario Chalmers, Carter, Barnes, Jeff Green e Hollins, com apenas 31min57s (apenas o 13º no geral). Essa formação teve saldo negativo de -11,6 pontos por 100 posses de bola. Em geral, sem Gasol, o Memphis tende a apanhar. A única formação que se deu bem desfalcada do pivô foi a de Chalmers, Lee, Barnes, Green e Randolph, com +35,4 em 31min18s. Mas estamos falando de pouquíssimos minutos aqui.

O perfil de Wright, como vimos em Dallas, favorece um jogo mais aberto, usando a ameaça que seus mergulhos no garrafão representam. Mas aí precisa ter tiro de três pontos ao seu redor. E tem artilharia para isso? Lee converte 37,5% de suas tentativas. Conley, 35% e Barnes, 34,1%, acima da média do time. O restante? Chalmers vai de 33,6%, Jeff Green, 30,2% e Carter, 26%. Não anima tanto, né? Não por nada, o time é o quarto que menos usa os tiros de longa distância, com 21,6% de todos seus arremessos, e o  o terceiro que menos pontua com esses disparos, com 18,3% do total. Sem o hi-lo de Gasol e Randolph, isso deve mudar.

E a defesa? Aí, rapaz, é o maior enigma. A queda de rendimento do Grizzlies nesta temporada passa justamente pelo modo como o time despencou em sua eficiência defensiva, apenas a 15ª no geral. Em percentual de rebotes coletados, o time caiu 12º para 23º. Isso com o Big Marc escalado. Vai ficar como agora? A verdade é que, nesta campanha especificamente, o espanhol não exerceu a influência costumeira, despencando no ranking de Real Plus-Minus, por exemplo, até por não ter chegado tão preparado como em 2014, quando teve seu melhor ano na liga. Mas seria uma surpresa que as coisas melhorassem daqui para a frente.

Fato é que o Memphis não tem muitos incentivos para entregar os pontos, uma vez que sua escolha de Draft seria transferida para Denver no caso de o time ficar fora dos playoffs (e não der a sorte de saltar para o grupo dos três primeiros do recrutamento). Nos últimos anos, a diretoria se mexeu prontamente para compensar lesões, como no caso de Shane Battier e Marreese Speights. Agora, contudo, há poucas alternativas para negociar. As escolhas de Draft estão comprometidas e os jovens Jordan Adams e Jarrell Martin mostraram muito pouco.

Lillard foi ignorado mais uma vez e está fulo da vida

Lillard foi ignorado mais uma vez e está fulo da vida

Em termos de classificação, qual a maior ameaça? O sobreviente ''grit and grind'' de Memphis tem hoje quatro vitórias a mais e cinco derrotas a menos do que o renovado Portland, o nono. Com um trabalho magnífico de Terry Stotts e Damian Lillard ainda mais enfezado, o Blazers venceu oito de seus últimos dez jogos. No geral, a garotada já apresenta um saldo de pontos superior ao de Grizzlies, Mavericks e Rockets. Ou seja: o panorama atual aponta um time em ascensão e outro que sofreu um duro golpe. Nessa disputa, os dois maiores trunfos de Memphis são a vantagem atual na tabela e o fato de o Blazers encarar 19 oponentes de aproveitamento igual ou superior a 50% até o final da temporada, contra 15 do Grizzlies.

Dallas, Utah e Houston estão no meio do caminho. Desse trio, tudo indica que o Utah possa alcançar a quinta colocação. Se o time soma 26 triunfos e 25 reveses, vem de sete vitórias consecutivas, enfim reunindo Derrick Favors e Rudy Gobert no garrafão, com Rodney Hood crescendo semanalmente para ajudar Gordon Hayward na criação. Desde a virada do ano, o jovem time de Quin Snyder já tem a quinta defesa mais eficiente, reencontrando a receita que deu tanto certo na reta final da temporada passada. Mais: desde que Favors retornou ao time em 25 de janeiro, é a terceira melhor defesa neste período.

Quanto aos texanos Mavericks e Rockets, é difícil fazer qualquer previsão. São dois times que sobrevivem por seus ataques poderosos, mas com problemas defensivos gravíssimos, independentemente da química, no caso: o vestiário de Dallas é dos mais tranquilos da liga, enquanto em Houston o caldeirão borbulha – é a equipe mais frustrante da liga, e de longe. Não seria de se espantar que o Grizzlies ainda os supere na tabela, mesmo sem Gasol. Mas será uma disputa bem interessante. E, imprevisível.


Jukebox NBA 2015-16: Phoenix Suns, Superchunk e alta velocidade
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Giancarlo Giampietro

jukebox-suns-superchunk

Vamos lá: a temporada da NBA já está quase na metade, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: ''The Question Is How Fast'', por Superchunk. (Nem clipe tem)

Superquem?

O Superchunk, banda indie dos anos 90 que nunca foi um hit em paradas de sucesso, mas teve seu culto de seguidores a partir de Chapel Hill, que já foi casa de Michael Jordan, James Worthy, Rasheed Wallace, Vince Carter e, claro, Tyler Hansbrough, justamente por acolher a prestigiada UNC (Universidade da Carolina do Norte). Mas é preciso dizer que os caras da banda não estavam nem aí para os estimados Tar Heels. Envolvidos com música, ativismo social e mais música, fundaram a Merge Records, que lançaria anos depois o Arcade Fire e divulgaria também bandas como Teenage Fanclub, Spoon, entre outras atrações mais alternativas.

Mas, como eles próprios diriam com naturalidade, que se dane a vocação da banda, no caso. O que vale é que o título dessa canção e sua pegada contam muito sobre o estado de desarranjo em que se encontra o Phoenix Suns a poucos dias do intervalo do All-Star. O quão rápido eles queriam voltar aos playoffs? O quão rápido o trem saiu dos trilhos? O quão rápido acabou o respeito por Jeff Hornacek? O quão rápido Earl Watson foi promovido? O quão rápido o time queria jogar, mesmo quando não tinha bons armadores em quadra para conduzir os negócios? O quão rápido Markieff Morris vai conseguir virar a chave e tentar mostrar serviço nas próximas semanas para se mandar do time? O quão rápido o gerente geral Ryan McDonough vai conseguir limpar essa bagunça toda? Essas são algumas das questões pendentes.

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O próprio McDonough admite: a equipe e seu trabalho viraram reféns do próprio sucesso inesperado da primeira campanha, em 2013-14, quando conseguiram 48 vitórias e, numa das conferências mais fortes da história, ficou fora dos playoffs. Em julho de 2014, a franquia estava se sentindo tão bem, que até mesmo tentou se intrometer na disputa por LeBron James, se aproveitando do fato de Eric Bledsoe ter o mesmo agente do superastro. Sonhar não custava nada. Mesmo com o óbvio não, sem problemas, eles tinham um futuro auspicioso pela frente. Ou talvez estivessem empolgados demais, se distanciando um pouco da realidade que os cercava.

Goran Dragic havia sido eleito para o grupo dos 15 melhores da liga. Eric Bledsoe brilhou ao seu lado, assumindo mais responsabilidades no ataque do que nos tempos de Clippers, mas sem ser exigido demais (até que o esloveno se lesionou). Markieff Morris progredia, enquanto Channing Frye bombardeava. Gerald Green jogou o melhor basquete de sua carreira. Todos felizes que só, empolgados com o ritmo de jogo alucinante de Jeff Hornacek, o segundo técnico mais votado naquela temporada, atrás de Pop.

Com Dragic, o Suns corria com velocidade e um propósito. Miragem?

Com Dragic, o Suns corria com velocidade e um propósito. Miragem?

Passou tudo como uma miragem no deserto do Arizona. Quando chegaram a fevereiro do ano passado, Dragic já havia pedido para ser trocado. Pressionado, o gerente geral se envolveu em uma sequência alucinante de negociações que pode muito bem ter custado o seu cargo, mandando embora três armadores de uma só vez, para ter o direito de pagar US$ 70 milhões a Brandon Knight, abrindo mão de escolhas de Draft preciosas, recebendo outras mais longínquas. Foram tantos telefonemas, trocas de mensagem, boatos, confirmados ou não, que demorou uns dois ou três dias para jogadores, técnicos e torcedores entenderem qual era o elenco que o Suns levaria até o final do campeonato.

De lá para cá, só desarranjo, descendo a ladeira.

Bledsoe, e uma nova cirurgia no joelho: a terceira no menisco

Bledsoe, e uma nova cirurgia no joelho: a terceira no menisco

O flerte com LaMarcus Aldridge acabou sendo o melhor momento do clube. Tudo para ver o San Antonio Spurs (mais uma vez!) estragar a festa. Até o final de novembro, a equipe se segurou com oito vitórias e nove derrotas (desde então, são 6 triunfos e 27 reveses, com 18,1%, pior até que o Lakers). Mas o vestiário já estava fraturado, prontinho para virar as costas para Hornacek, sem controle algum sob a situação. Antes disso, o técnico não havia conseguido trabalhar variações ofensivas para um time que dependida tanto da criatividade de Dragic na transição, para abrir a quadra para os chutadores e cortes dos pivôs em meia quadra. O plano ainda era correr o mais rápido possível: o Suns ainda é o quarto que mais corre no campeonato,  mesmo sem as peças necessárias, com Eric Bledsoe precisando de mais uma cirurgia no joelho e Knight se atrapalhando com a bola antes de ser afastado por lesão.

Faltou flexibilidade a Hornacek, mas também faltou jogador, por azar ou não. Para variar, sobrou para o técnico. Agora cabe a Earl Watson assumir essa, instruído a cobrar mais dos atletas, procurar algum sentido de união no clube e, ao mesmo tempo, desenvolver os mais jovens – excluindo desde já o ala TJ Warren, fora da temporada devido a maaais uma lesão grave no elenco. Boa sorte. ''A primeira ordem para nós é construir confiança e um programa, e, não, apenas uma organização. Construir uma família. Temos de amar, temos de estimular, nutrir e ensinar'', disse. O quão rápido suas mensagens serão processadas?

A pedida? Eram os playoffs… Agora, bem, virou Ben Simmons (ou Brandon Ingram). Quando listei as músicas de pré-temporada, ao Suns estava endereçada uma pérola do U2 – ''Stay (Far Away, So Close!)'' –, para tratar justamente da pressão em cima de um time que parecia muito perto da briga pelos playoffs, mas sem garantia alguma, morrendo na praia nos últimos anos. Agora, quase três anos depois de McDonough assumir o clube, o Suns enfim se encaminha para ter uma escolha alta no Draft. Se, em 2014, a ideia era se aproximar de Andrew Wiggins, Jabari Parker ou Joel Embiid, agora os alvos são os alas Ben Simmons, Brandon Ingram e Dragan Bender, de preferência. Se, há dois anos, a bem-sucedida-e-frustrada campanha de 48 vitórias impossibilitou uma aposta mais promissora do que TJ Warren, agora o clube caminha em direção ao topo da lista de recrutamento. De acordo com projeção do ''Basketball Power Index'', do ESPN.com, o Suns teria 34,5% de chances de ficar entre os três primeiros. Uma probabilidade menor que a de Sixers, Lakers, Nets e Timberwolves.

Ben Simmons: o prospecto da vez, dinâmico, mas sem chute

Ben Simmons: o prospecto da vez, dinâmico, mas sem chute

A gestão: McDonough chegou ao Arizona com a reputação de ser dos melhores scouts, avaliadores de talentos da liga, alguém da confiança de Danny Ainge, protagonistas em diversas boas escolhas do Celtics nos últimos anos. Ao Phoenix, levou Alex Len (quinta escolha em 2013), Archie Goodwin ( Warren (14º em 2014), Tyler Ennis (18º em 2014), Bogdan Bogdanovic (27º em 2014) e Devin Booker (13º em 2015).

É uma sólida coleção de jovens jogadores, embora uma ou outra escolha pode ser questionada – como é o caso da grande maioria das escolhas, na verdade. Nerlens Noel, CJ McCollum, Kentavious Caldwell-Pope, Giannis Antetokounmpo, Dennis Schröder e Rudy Gobert, todos hoje mais produtivos, estavam disponíveis para o lugar Len. Mas é inegável que o pivô ucraniano ainda tem muito potencial para se explorar. Ennis foi selecionado com o intuito de se encurralar o Toronto Raptors e acabou sendo uma furada – embora seja muito jovem ainda para se considerar um fiasco em Milwaukee. A ideia por trás de Bogdan-Bogdan era assegurar os direitos sobre um jovem europeu que não fosse ocupar espaço no elenco e teto salarial do clube por um tempo. Olhando em retrospectiva, sob as mesmas condições, o extraordinário pivô Nikola Jokic, seu compatriota, estava disponível. Até aí, outros 39 atletas foram selecionados antes do sérvio. E Bogdan-Bogdan segue progredindo sob a orientação de Zeljko Obradovic na Turquia. Sobre Devin Booker, ainda está muito cedo, mas os primeiros sinais mostram um talento imenso para aquele que é o jogador mais jovem em atividade na liga. Ironicamente, era venerado por Hornacek, com quem obviamente poderia aprender muito.

McDonough tem Watson como salvação?

McDonough tem Watson como salvação?

Agora… nos anos 60 e 70, talvez os gerentes gerais da liga só se preocupassem, mesmo, com o que se passava em quadra. A NBA de hoje é muito mais complexa que isso. Entre tantas outras nuanças, o jovem dirigente também se sai bem ao administrar a folha salarial do time, para a aquisição de novas peças, se permitindo a chance de flertar com grandes contratações como a de LaMarcus Aldridge (que passou perto…). Mais um ponto para ele.

Ao lidar com jovens e velhos astros, porém, as complicações vão além. Tem mais, muito mais. E aí David Blatt pode falar uma coisa ou outra a respeito. Pesa muito o modo como você se relaciona com o elenco, a comissão técnica e todos os adendos dessa turma. E esse ponto não parece ser um dos mais fortes de McDonough Entre tantos atletas negociados por ele, há um consenso: eles desembarcam no aeroporto soltando cobras e lagartos sobre a organização e a diretoria. Dizem que não são sinceros. Que quase não há comunicação e ninguém sabe ao certo o que se pensa sobre eles. Mais: as diversas trocas executadas nos últimos dois campeonatos quase sempre ignoraram a química do vestiário. Muitas peças se duplicaram e criaram confusão.

Em tese, por exemplo, fazia todo o sentido contratar Isaiah Thomas como terceiro armador numa rotação que usaria dois desta posição o tempo todo. Seriam 32 minutos para cada? Razoável, não? Claro que sim. Mas ''claro que não'', ao mesmo tempo. Goran Dragic estava prestes a se tornar agente livre. Eric Bledsoe queria muito mais, depois de tanto tempo como reserva de Chris Paul. O mesmo vale para Thomas, que queria mais atenção vindo de Sacramento. Isso para não falar no rolo todo dos irmãos Morris: assinar um pacote em conjunto para os gêmeos foi algo inédito e que pareceu bonitinho na época e que se tornou uma armadilha. Os dois, segundo consta, aprontaram uma barbaridade na temporada 2014-15, no dia a dia do clube – isso para não falar na possibilidade de ambos serem presos. Markieff diz que o gerente geral o traiu ao mandar Marcus para Detroit. Agora, se defender a parceria era algo tão importante assim, talvez eles pudessem ter sido mais profissionais, não? Mais tranquilos? O ala-pivô não quis saber. Virou um encosto para o time, sem dar ouvidos a Chandler. Todos esses são sentimentos difíceis de se administrar.

Em meio a tanta incerteza, insegurança, sobrou para Hornacek. O curioso é que, mesmo no processo de sucessão do treinador, mais um processo bizarro foi conduzido. Em vez de nomear Watson prontamente – que era o movimento esperado por nove a cada dez observadores da franquia –, decidiram fazer entrevistas com os demais assistentes, fazendo dos únicos técnicos remanescentes concorrentes entre si. Se buscavam união, não parecia.

Porém, em sua coletiva para explicar a troca de técnico, o gerente geral também se mostrou fragilizado. Ele sabe que, se houver uma próxima queda, muito provavelmente sua gaveta será esvaziada. O que não seria de todo justo, aliás. Jogar toda a culpa em seu escritório seria tolice.

Cedo ou tarde, Robert Sarver, o proprietário do clube odiado pela torcida, daqueles que mete a mão na massa e interfere demais, vai ter de responder publicamente por tantos tropeços.

Olho nele: Devin Booker.

No período pré-Draft, o jovem ala era visto como o melhor arremessador em potencial daquela turma toda, mas não mais do que isso. Sim, o tiro de longa distância é uma habilidade altamente requisitada no mercado da NBA hoje e já explicaria uma escolha alta. Muitos o questionavam como um talento de ponta. Com apenas meia temporada como profissional, o garoto mostra que tem muito para onde crescer. A cada jogo, parece colocar em prática uma surpresinha, especialmente na criação de jogadas, aprendendo rapidamente como guiar um pick-and-roll, batendo para a cesta, indicando que pode se tornar uma arma completa. Em janeiro, com tempo de quadra generoso (33,6 minutos), respondeu com 17,3 pontos, 3,2 rebotes e 2,6 assistências, convertendo 35,2% nos chutes de fora. Aproveitamento fraco para um especialista, certo? Só leve em conta de que ele está trabalhando sem nenhum armador ao seu lado e também ficando mais visado – com o time completo, passava dos 50%. Booker é a única nota positiva do time em um campeonato caótico.

earl-watson-card-sonics-rookieUm card do passado: Earl Watson. Um dado um tanto assustador: Watson começou sua carreira já neste século, em 2001-2002, draftado pelo Seattle SuperSonics, via UCLA, para ser reserva de um veterano Gary Payton. Aquela seria a sétima temporada de Kevin Garnett e a sexta de Kobe Bryant. Paul Pierce, Jason Terry, Vince Carter, Dirk Nowitzki, Tim Duncan também tinham boa rodagem. E aqui estamos: 15 anos depois, aos 36 (dois mais velho que Tyronn Lue), o ex-armador se torna o técnico mais jovem da liga. Muito cedo?

Desde os últimos jogos pelo Utah Jazz e o Portland Trail Blazers, entre 2013 e 2014, havia a expectativa em torno de Watson de que não demoraria muito para ele virar um treinador. Quando decidiu se aposentar aos 35, certamente ainda seria capaz de conseguir um contrato de salário mínimo para ajudar um time mais jovem ou compor um elenco de veteranos, atuando praticamente como um mediador entre os técnicos e os atletas. Basicamente, será esta a sua missão agora em Phoenix, mas com mais responsabilidades e o distanciamento inevitável e necessário que seu novo cargo pede. Fora o lado de relações institucionais, restam dúvidas sobre sua bagagem tática para guiar um time de NBA.

Para constar, Watson tem ascendência mexicana por parte de mãe, uma característica que, no Arizona, pode fazer dele alguém de apelo popular. Ele terá meia temporada, contudo, para mostrar do que é capaz.


Durant no Golden State? Vamos com calma
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Giancarlo Giampietro

MVP e MVP juntos?

MVP e MVP juntos?

A mais nova #WojBomb não é bem uma bomba assim, mas, sim, um texto requentado de uma especulação que já circulava por aí desde antes do início da temporada. Acontece que o superfurão está com um site novinho em folha, o Vertical, que vale a visita, e precisa de um pouquinho mais de promoção. Para justificar o texto, Wojnarowski escreve que, se for para sair de OKC, o Warriors seria uma ''séria ameaça'' e ''o favorito de modo significante'' para assinar com ele, segundo fontes anônimas. E só. O resto é conjectura, sempre acompanhado pelos costumeiros condicionais.

O primeiro deles já foi escrito logo acima: Durant vai querer deixar o Thunder, mesmo? Ninguém sabe, nem ele, segundo o próprio artigo.

Da parte da franquia californiana, o fato de estarem interessados no cestinha é algo que… Não surpreende ninguém. Assim: quem não toparia caçar um agente livre desses? Perguntem aos diretores de Pinheiros, Bauru e Caxias: qualquer um o aceitaria de bom grado. Na NBA, todo clube de ponta que não esteja preparado para cortejá-lo não está fazendo a devida lição de casa.

Agora, posto isso, tendo Curry, Klay Thompson, Draymond Green, Andrew Bogut e Andre Iguodala ganhando acima de US$ 11 milhões por ano, seria possível?

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Sim, seria.

Está aqui uma das estratégias possíveis para a contratação, elaborada por Bobby Marks, ex-assistente de gerente geral do Brooklyn Nets, especialista nos meandros do teto salarial da liga. Nas contas de Marks, o clube poderia oferecer um contrato de salário máximo a Durant e ainda renovar com Festus Ezeli e segurar Shaun Livingston para o banco, de sexto homem, além do calouro Kevon Looney, que custa pouco. Em termos de baixas, teria de dizer adeus a guodala, Harrison Barnes e Bogut, além de outros reservas como Leandrinho, Brandon Rush, Marreese Speights e mais. Eles poderiam voltar, porém, em contratos mínimos.

Pensando no elenco atual, despedir-se de Iguodala seria difícil. Estamos falando do MVP das finais de 2015, alguém capaz de incomodar LeBron (e Durant!) aqui e ali. O veterano precisaria ser trocado por nenhum salário imediato, e certamente não faltariam candidatos para absorver os US$ 11 milhões que restam em seu acordo. Barnes, como escolha de Draft do clube, também exigiria coração frio por parte dos cartolas e técnicos: sairia de graça, como agente livre. Por fim, Bogut exigiria uma segunda troca. Se não houver ninguém na fila para assimilar seu contrato, seria dispensado, com a opção de se pagar em prestações o restante de seu contrato. E, aí, pumba: espaço aberto para fechar o negócio.

Para uma gestão que já tirou Iguodala na marra de Denver, enfrentando volumosa concorrência e que se meteu no páreo por Dwight Howard, nos dias em que o pivô ainda despertava suspiros de todos, as manobras acima poderiam ser facilmente executadas, mesmo com as demais franquias morrendo de inveja do futuro clube de São Francisco.

Valeria a pena?

Francamente: claro que valeria, independentemente de um bicampeonato neste ano. Correria-se o risco de mexer com a química do elenco de maneira drástica. Mas… Iguodala tem 32 anos e depende de sua capacidade atlética para se impor em quadra. Bogut está com 31, mas se movimenta como alguém que beira os 40, com um histórico hospitalar que preocupa até benzedeira. Cedo ou tarde, não serão mais as figuras influentes de hoje. A missão de Bob Myers é cuidar do presente, mas sem se esquecer do futuro, e são diversos os casos de clubes que chegaram ao auge e despencaram logo depois. Quanto a Barnes… estamos falando de um dos três melhores jogadores do mundo do outro lado. Desculpe, Harrison, mas tchau, tchau: atacar com Curry, Klay, Draymond e KD seria uma coisa de maluco.

Do ponto de vista pessoal, Durant precisaria sacrificar números e teria de se preparar para ouvir um monte: de que estava arregando, afinando, sendo mercenário etc. etc. etc.

Mas imaginem um cenário em que Warriors e Thunder se enfrentem na final da Conferência Oeste. Plenamente possível, não? E que os atuais campeões apliquem uma surra ou vençam uma série duríssima, por 4 a 3. O craque teria realmente coragem de pular o muro?

É claro que a possibilidade é assustadora para Spurs, Clippers, Rockets e qualquer outro clube com ambições de título para os próximos anos. Mas tem muito por acontecer ainda. Inclusive, no próximo final de semana, o Carnaval, com bomba e bombas pelas ruas.


Os melhores da (metade) da temporada: Conferência Oeste
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Giancarlo Giampietro

Escrever uma artigo sobre prêmios de uma temporada qualquer da NBA pode ser um exercício de futilidade, certo? Por outro lado, dá ao blog, inativo por tanto tempo, a chance de recuperar o tempo perdido e abordar um ou outro protagonista da temporada. Então vamos roubar um pouco e dividir essa avaliação toda em duas listas, para cada conferência. A do Leste está aqui. Desta forma, ganhamos espaço para falar mais. E, claro, deixa a vida mais fácil na hora de fazer as escolhas:

Melhor jogador: Stephen Curry
Jura!? Afe. (Assim como Anthony Davis fez na primeira metade da temporada passada, Chef Curry no momento vai sustentando por ora o maior índice de eficiência da história da NBA, com PER de 32,94, contra os 31,82 do mítico Wilt Chamberlain em 1962-63. Será que ele vai manter o ritmo? O interessante dessa medição é que ela independe da quantidade de minutos jogados. Então não importa se o Warriors vai acabar com todas as partidas daqui para a frente em apenas três quartos. Não tem muito mais o que ser dito sobre alguém que arremessa mais de 10 bolas de três pontos por partida e converte 45,5% delas, ajudando na construção de uma média de 29,9 pontos em apenas 33,8 minutos. Aqui, porém, sou obrigado a concordar com Mark Jackson, algo raro levando em conta o discurso excessivamente religioso de seu ex-treinador: Curry é tão bom que, de certa forma, pode fazer mal ao basquete, se for visto como exemplo de jogador a ser seguido, imitado. Não é nada normal o que ele faz. Não é algo que se ensina da noite para o dia. Para alcançar este nível, requer-se talento natural, mas também muito treino. Muuuuuuuuuuito treino. E não seria bacana que a molecada de base saísse tentando imitar o ídolo máximo do momento sem ter isso em mente. Curry faz parecer fácil e correto, mas sua seleção de arremessos inclui bolas em um um nível de dificuldade absurdo de conversão. Não quer dizer que eventualmente um garoto de 12 anos hoje não possa superá-lo no futuro. Mas as chances são reduzidas.)Outros candidatos? Vindo de longe, e não por culpa deles, estão Russell Westbrook, Kawhi Leonard e Kevin Durant. Num degrau mais abaixo, mas com anos maravilhosos ainda, vêm Chris Paul, Draymond Green e o Boogie Cousins de janeiro.

Melhor treinador: Luke Walton
Santa mãe, muito difícil essa. Então vou apelar para a mais bonitinha das opções – e não em termos estéticos, que fique claro. 🙂

Mas é que não deixa de ser notável que Steve Kerr tenha ficado semiafastado de metade da temporada e que, quando retornou, tenha encontrado um time com campanha de 39 vitórias e 4 derrotas. Repetindo: 39 triunfos em 43 partidas, aproveitamento de 90,6%. Sendo o interino. O Golden State vem jogando tanta bola há muito tempo que corre-se o risco de subestimar a grandeza destes números todos que os caras apresentam, combinando novamente o melhor ataque com uma das melhores defesas da liga (a terceira mais eficiente, e, se há alguma crítica a ser feita a Walton, é a de que ele deixou a peteca flutuar um pouco para baixo nesse quesito… E blablabla). Mas a NBA nem reconhece a campanha do cara? Problema dela. Isso é só uma formalidade. Pois, se nos registros oficiais, o ex-ala do Lakers não tem currículo como treinador, a expectativa é que, pelo trabalho realizado, vá receber diversas propostas ao final do campeonato. Fora isso, vale a discussão sobre o quanto um técnico é importante para um time que tem um elenco formidável. É tentador dizer que esse conjunto joga sozinho. Até você perceber o que se passou em Cleveland nas últimas semanas e ver que não é bem assim. A gestão de egos na liga sempre exige muito.

Quem?! Eu?!

Quem?! Eu?!

Outros candidatos: que tal uma confissão, então? Optar por Walton era o caminho mais fácil, claro. Afinal, seria complicado de separar Gregg Popovich (de novo ele) e Rick Carlisle (idem!). Há um padrão aqui, que vocês vão reparar: na dúvida, ponto pro Warriors e sua temporada histórica. Merecem. E, se fosse para apontar o pior, era bem mais tranquilo: Byron Scott na cabeça!

Mas falemos sobre os veteranos professores. Enquanto a vasta maioria da liga quer jogar com mais velocidade, Pop, gradativamente, vai desacelerando o Spurs, saindo do 12º ritmo mais rápido em 2013-14 para o 9º mais lento neste ano. Creio que por duas razões: por respeitar o envelhecimento de seu eterno trio de ouro, mas também por entender que, correndo, ele jamais vai ganhar do Golden State. E aí entram em ação LaMarcus Aldridge, David West e o inigualável Boban Marjanovic. Quando o sérvio foi contratado, pensei se era realmente o melhor time para ele. Não haveria espaço algum. Vendo o Spurs jogar, porém, faz muito sentido. A equipe quer ganhar o jogo interior de qualquer jeito e estocou pivôs para isso. Boban é a apólice de seguro mais carismática e luxuosa da liga hoje. Mesmo que o gigantão sérvio pouco fique em jogo em seu ano de adaptação, esperando pelas deixas aqui e ali de Tim Duncan, a equipe é a segunda em percentual de rebotes, coletando 53,3% do que está disponível em quadra, atrás dos 53,9% da envergadura de OKC. Em rebotes ofensivos, estão na ponta. Na defesa, seu time é que o melhor contesta os arremessos nos arredores da cesta. E por aí vamos. Ao mesmo tempo, individualmente, cada jovem jogador adicionado ao sistema apresenta evolução constante. Seu desafio agora é recuperar a confiança e pontaria de Danny Green para os playoffs, enquanto regular os minutos de seus veteranos religiosamente.

Já Carlisle é aquele que mais tira leite de pedra no basquete americano – em, Boston, Brad Stevens desponta como seu sucessor nessa categoria. Quando um de seus alas está voltando de uma cirurgia de microfratura no joelho e o outro, pior, de uma no tendão de Aquiles, quando seu armador tinha, até outro dia, um dos cinco piores contratos da liga, quando é recomendável que seu principal jogador não passe dos 30 minutos por partida, quando seu pivô cabeçudo foi cedido de graça, quando o orgulhoso proprietário da equipe é humilhado por alguém que comemora quando fica em 50% nos lances livres… Bem, quando tudo isso acontece, você não espera que seu time 1) flerte com o top 10 de eficiência ofensiva, 2) tenha uma campanha vitoriosa e 3) esteja bem na luta por uma vaga nos playoffs, mesmo que sua tabela esteja entre as 12 mais duras. Se estivéssemos conversando em dezembro, Carlisle seria a escolha indiscutível, ao meu ver. Aos poucos, porém, com os adversários mais atentos e estudados, o feitiço perde um pouco de seu poder. A segunda metade da temporada promete ser desafiadora, mesmo que Chandler Parsons pareça em plena forma nesses últimos dias.

Para fechar, menção honrosa a Terry Stotts, ex-assistente de Carlisle.

Melhor defensor: Draymond Green
O melhor defensor do Oeste é o melhor defensor de toda a liga, não há dúvida, devendo ficar entre  Draymond, Kawhi Leonard e Rudy Gobert. A campanha do francês foi atrapalhada por sua lesão no joelho, que o tirou de quadra por mais de um mês.

Até Griffin sofre contra Draymond

Até Griffin sofre contra Draymond

Daí que, na minha cabeça, fica quase como se pudéssemos escolher os outros dois finalistas na moedinha. A tentação imensa é de apontar Kawhi, e tudo bem, sem se importar que ele já tenha vencido o prêmio oficial na temporada passada. Afinal, ele seria o símbolo de uma defesas mais sufocantes da história da liga. Todavia, talvez pensando por outro lado, o fato de a defesa do Spurs ser tão boa com ou sem ele, diga-se, possa enfraquecer, um tiquinho que seja, sua candidatura? Se você investiga os números do time de Pop, percebe que a máquina está realmente ajeitada de um modo em que as coisas funcionam independentemente da periculosidade do ala, ou de seus companheiros de quinteto titular. Os reservas entram e mantêm mais ou menos o mesmo padrão. Mas… coff, coff!… Claro que o sujeito é simplesmente um terror ao redor da bola, com mãos e pés muito ágeis, somando 2,1 roubos e 1,0 toco por 36 minutos, sendo uma ameaça constante ao oponente.  No ranking de Real Plus Minus do ESPN.com, ele aparece em sexto entre os marcadores, sendo o único jogador que não é escalado como pivô ou ala-pivô entre os 20 primeiros colocados. Kawhi impõe tanto medo que, em todo o mês de dezembro, ele só foi testado em 14 posses de bola por atacantes em jogadas de mano a mano, em 16 partidas. Menos de uma por jogo, e e ele sofreu a cesta em apenas três dessas tentativas. Ninguém quer encarar a fera.

Ainda assim… Hã… Vou de Draymond, devido seu papel fundamental no sempre subestimado sistema defensivo de Golden State – um sistema que dá sustentabilidade para o time atacar daquela forma avassaladora. O ala-pivô está no centro dessas atividades. Sem ele, a verdade é que provavelmente Steve Kerr teria de adotar outra abordagem (com todo o respeito a Andre Iguodala, Klay Thompson e Harrison Barnes, todos caras hoje combativos e capazes de fazer a troca e, em níveis diferentes de eficiência, incomodar o adversário com quem sobrarem, independentemente de quem).

Mas é Green aquele que dá maior versatilidade a esse tipo de cobertura, podendo fazer sombra tanto a um lateral mais explosivo como, ao mesmo tempo, exercer o papel verdadeiro xerife na proteção do aro. Consulte a seção de arremessos dos oponentes no NBA.com/Stats, filtre a turma toda por pelo menos 20 minutos jogados em média e cinco arremessos tentados por partida, e se surpreenda: o ala-pivô vai aparecer em terceiro na lista, permitindo apenas 42,4%% de aproveitamento a seus adversários quando debaixo da cesta. Acima dele estão apenas Gobert (bingo, com 39,8%) e Serge Ibaka (42,2%). Com a diferença de que Green é listado generosamente com 2,01m de altura. Que tal? Esse é o tipo de fator imensurável para uma equipe. Para se ter uma ideia, quando o ala-pivô vai para o banco, o Warriors leva em média 11,4 pontos a mais por 100 posses de bola. Uma diferença absurda. Vai de 98,8, que valeria como a segunda mais eficiente da liga, com ele em quadra para 110,2 sem, o que seria a pior de todas, pior até mesmo, creiam, que a do Lakers. Ao contrário do que acontece em San Antonio, em que as perdas e ganhos praticamente se sustentam com quer em que esteja em quadra, para o Warriors, só um jogador acompanha Green em termos de impacto defensivo: curiosamente, Stephen Curry. Lembrando que, das quatro derrotas sofridas pela equipe até o momento, Curry não jogou em uma e Green, em outra.

De qualquer forma, perguntem amanhã, e a moeda pode cair do outro lado. Dureza.
Outros candidatos: aqueles aqui já citados e Tim Duncan, invalidado por minutos limitados.

Melhor novato: Karl-Anthony Towns
Ele é tão bom, mas tão bom que, mesmo se tivesse sido draftado pelo Lakers, nem mesmo Scott ou Kobe poderiam atrapalhá-lo. Towns vai ser um All-Star por anos e anos e torna um talento raro como Andrew Wiggins como uma peça secundária até. Só precisa que o Timberwolves acerte na formação do elenco ao seu redor.

Para alguém que não ficava tanto tempo com a bola em mãos no supertime que Calipari montou em Kentucky no ano passado, o jovem pivô se mostra confortável demais em quadra. Com um arsenal daqueles, todavia, fica fácil de entender. Ele tem o chute de média para longa distância. Finaliza com força e categoria perto da cesta. Se os números de 16,1 pontos, 9,8 rebotes e 1,8 toco já impressionam, esperem só até Sam Mitchell permitir que jogue por mais que 29,4 minutos (em de poupar o veterano para os playoffs, né?!?!). Em 36 minutos, subiria para 19,7, 12,0 e 2,2, respectivamente. O quesito em que o garoto tem de ser trabalhado ainda é a hora de saber se livrar da bola. Se não tiver a chance de ir para a cesta, não é o fim do mundo: que tal olhar para os companheiros? Por enquanto, comete mais turnovers do que dá passes para cesta. Mas ele tem apenas 20 anos, com tempo para trabalhar isso nas próximas férias.
Outros candidatos: Nikola Jokic foi um tremendo de um achado dos olheiros internacionais do Denver, via segundo round. Também foi contratado no momento certo, esperando mais um ano na Sérvia para crescer. . Devin Booker vai terminar o ano em alta, com elogios de todas as partes. Demorou um pouco para George Karl lhe dar o devido espaço, mas Willie Cauley-Stein vai ajudar Sacramento na briga pela oitava posição do Oeste. Aqui, porém, é o mesmo caso da disputa pelo prêmio de MVP. Só incluímos essa moçada  por educação.

Melhor reserva: Will Barton
Aliás, fui me dar conta só agora de que faltou este no Leste. O post atualizado vai ser atualizado com… Lance Thomas, acho. Ou Jeremy Lin. Aqui, no Oeste, vamos com o surpreendente ala do Denver Nuggets, que veio de Portland na troca por Arron Afflalo – uma negociação que se mostra ultraproveitosa para o time do Colorado. Barton é o equivalente a Ty Lawson no Denver de tempos atrás, saindo do banco para botar fogo em quadra, correndo feito um presidiário em fuga no alto das Montanhas Rochosas, para marcar 15,1 pontos por jogo, a segunda melhor média entre atletas que tenham saído do banco pelo menos por 20 partidas, empatado com Jrue Holiday. Em pontos por jogo em transição, ele é o 11º da liga. No geral, na verdade, está entre os mais qualificados em qualquer medição ofensiva de contra-ataque. Em meia quadra, se transformou no chutador mais confiável do time em longa distância, sem comprometer na defesa. A combinação de perímetro com Gary Harris é muito promissora.


Outros candidatos: Enes Kanter é, disparado, o reserva com o melhor índice de eficiência da NBA, se intrometendo num grupo de caras como Kyle Lowry, Blake Griffin e Chris Bosh. Agora, como bem escreveu o mestre Marc Stein, do ESPN.com, um dia desses, existe um motivo para que um atleta tão produtivo como esse fique limitado ao banco e a 20 minutos por jogo: com salário de US$ 16 milhões, ele só joga de um lado da quadra. Por mais que a turma em OKC se esforce para dizer que o turco já não é mais um desastre defensivo, os números ainda não jogam a seu favor. Na lista do Real Plus Minus, ela aparece em penúltimo entre todos os pivôs da liga. Injusto? Nem tanto. Com ele em quadra, o Thunder leva 7,9 pontos a mais a cada 100 posses de bola. E não é que ele só jogue com reservas. Das dez escalações em que é mais utilizado, em quatro delas Kanter tem pelo menos a companhia de dois entre Westbrook, Durant e Ibaka. Sobre a questão ataque x defesa, o mesmo raciocínio vale para o unabomber Ryan Anderson, que atira muito e com precisão (39,4% dos três) de um lado e é metralhado do outro. Por coincidência, ou não, Anderson também é o penúltimo aqui. Com mais de 30 minutos em média, além do mais, é como se fosse um titular.

O que mais evoluiu: esse faz mais sentido esperarmos até o final da temporada, né? Steph Curry (glup!), Barton, CJ McCollum e Dwight Powell são algumas das possibilidades.

Melhor executivo: a mesma coisa. Melhor avaliar o conjunto da obra ao final. O combo Gregg Popovich/RC Buford, o gerente geral do Warriors, Bob Myers, do Warriors, e Neil Olshey, do Blazers, parecem os candidatos.

All-Stars: Curry, Westbrook, Kawhi, Durant e Draymond. Mais: Chris Paul, James Harden (a despeito de suas patéticas partidas iniciais), Klay Thompson, Gordon Hayward (sem Gobert, sem Favors, mantendo o time na luta), Dirk Nowitzki (sua regularidade pesa para assumir a vaga do lesionado Blake Griffin), Anthony Davis (não deu mais um salto, é cobrado pelo próprio técnico, mas ainda faz a diferença) e DeMarcus Cousins, o insano.
(Aos fãs de Damian Lillard, JJ Redick, DeAndre Jordan, Danilo Gallinari, Tim Duncan e LaMarcus Aldridge, desculpe.)


Warriors detona mais um favorito. Os números da vitória sobre o Spurs
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Giancarlo Giampietro

O duas vezes MVP Curry. Ponto

O duas vezes MVP Curry. Ponto

LeBron James e David Blatt foram dormir nesta segunda-feira com a cabeça um pouco mais leve. Afinal, o Cleveland Cavaliers agora tem a companhia do San Antonio Spurs na lista de times que são evidentemente candidatos ao título, mas que tomaram uma surra do Golden State Warriors que dá a impressão inevitável que, dentro desta lista, o time californiano está em um grupo só seu.

Foi um atropelo desde o tapinha inicial, culminando numa vitória por 30 pontos de diferença, 120 a 90. De qualquer forma, assim como valeu para o Cavs, o discurso é o mesmo para o Spurs: na maratona que é a temporada regular, este foi apenas um jogo, mesmo-que-fosse-um-jogo-altamente-chamativo-com-todo-mundo-olhando.

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Também não dá para comparar exatamente o que se passou com os texanos com a surra tomada por Cleveland, quando um time jogou fora de casa e estava sem um de seus principais jogadores. Pois é: Kawhi Leonard é sem dúvida nenhuma hoje o principal atleta do Spurs, mas Tim Duncan ainda faz muita diferença, especialmente para a sua defesa, não importando que não seja ele aquele a tentar parar Stephen Curry na linha central da quadra. O cara iria comer poeira em uma outra posse de bola, mas também iria fechar espaços ao lado de LaMarcus, inibindo infiltrações, enquanto, no ataque, seria um ponto de estabilidade, dando mais uma referência interna e, principalmente, ajudando a distribuir a bola a partir da cabeça do garrafão, algo que fez falta num jogo de 25 turnovers para seu time.

O resultado poderia ser diferente? Talvez. Mas, dada a disparidade que vimos nesta segunda, pode ser que a diferença aqui signifique apenas uns 10 ou 12 pontos a menos no placar, se tanto, já que os titulares do Warriors nem foram para a quadra no quarto final.

O San Antonio da depressão. Raro de se ver

O San Antonio da depressão. Raro de se ver

Enfim, depois de uma paulada destas, nem mesmo a tão alardeada coleta de informações e impressões de Gregg Popovich faz muito sentido. Vai anotar o quê? Que o oponente é 30% melhor que o time dele? Que o Spurs não teve chance nenhuma? ''Foi como se fosse homens contra garotos. Eles nos derrrotaram em todos os aspectos do jogo'', disse Pop. E mais: está muito cedo na temporada para tirar conclusões sobre seu time ou o adversário. Mas a frase mais Popovichiana da noite teve um ataque corrosivo em direção ao Cleveland e David Griffin na verdade: ''Só estou feliz que meu gerente geral não estivesse no vestiário. Eu poderia ser demitido'', disse, numa referência clara ao discurso de Griffin na coletiva para justificar a chocante expurgação de David Blatt.

Decorre que, independentemente da intensidade da surra, o efeito não será o mesmo para o Spurs, se comparado com os LeBrons. A questão é a experiência e estabilidade geral da franquia e de seu elenco. O ambiente e o contexto são outros. Dãr, claro que o cargo de Popovich não está ameaçado – e Pop, além de poupar Duncan, pouco lançou Kawhi em direção ao Chef Curry, algo que, num eventual duelo de playoff, quando a corta apertar, vai acontecer sem dúvida. No grande tabuleiro, San Antonio sabe que tem de correr atrás de seu oponente, mas também entende muito bem que não foi o fim do mundo, que eles ainda têm o melhor saldo de pontos da história da liga a essa altura do campeonato, com a melhor defesa da temporada, com folgas. Eles têm bons argumentos para sonhar com um sexto título na era Duncan, mesmo que este saldo e a mesma defesa tenham sido destroçados em sua última derrota.

O quão feia foi a derrota? A ver:

120 – Foi a maior quantia de pontos que o Spurs sofreu nesta temporada, depois dos 112 que tomaram de OKC em sua primeira partida na temporada, perdendo por seis pontos de diferença, também fora de casa. Só dois dos três melhores times do Oeste para chegar a este patamar, mesmo. No geral, a poderosa defesa texana só levou mais de 100 pontos em 7 das suas 45 partidas até aqui. Em termos de eficiência, essa defesa leva apenas 94,0 pontos por 100 posses de bola, 4,6 a menos do que o Boston Celtics. Se for para comparar, os mesmos 4,6 pontos separam o Celtics do Dallas Mavericks, que é o 13º no ranking.

88 – Desde o início da temporada passada, em sua jornada rumo ao título, o Golden State não perdeu nenhuma das 88 partidas em que abriu uma vantagem de 15 pontos no placar. Para eles, não tem essa de altos e baixos num jogo.

37 – Foi o quanto Steph Curry fez contra uma defesa historicamente forte, em apenas 20 arremessos e 28 minutos de ação, redefinindo o significado de eficiência e espetáculo ofensivo. Foi o máximo de pontos que um jogador marcou contra o Spurs nesta temporada. Russell Westbrook havia anotado 33 pontos na noite de estreia. Ryan Anderson chegou aos 30 pontos.

15 – Curry tem agora 15 partidas com mais de 35 pontos na atual campanha, o recorde da liga. James Harden tem 'apenas' nove, enquanto Boogie Cousins tem oito, contando os 56 que marcou contra o Charlotte Hornets no verdadeiro grande jogo da véspera, a derrota dolorida para o Charlotte Hornets em dupla prorrogação, em casa. 🙂

39 – Vindo da campanha passada, o Warriors agora soma 39 triunfos consecutivos como anfitrião.

33 – As primeiras seis derrotas que o Spurs havia sofrido na temporada haviam totalizado um déficit de 33 pontos.

30 – Esta foi apenas a sétima vez desde 1997, quando draftou Timothy Theodore Duncan, em que San Antonio perdeu por uma diferença dessas. Nesta temporada, a maior derrota que San Antonio havia sofrido até agora havia acontecido no dia 20 de novembro, em Nova Orleans, por 104 a 90. Menos que o dobro da desvantagem desta segunda-feira.

26,75 – O Golden State venceu seus últimos jogos por 107 pontos de vantagem, ou 26,75 por partida. Se o Indiana Pacers perdeu só por 12, Cavs, Bulls e Spurs foram humilhados. Em oito dias, os atuais campeões impuseram a essas equipes suas piores derrotas na temporada.

Leonard não causou tanto impacto. Mas pouco ficou com Curry

Leonard não causou tanto impacto. Mas pouco ficou com Curry

15 – Quando um dos Splash Brothers marca 15 pontos (ou mais) no primeiro quarto, os caras vencem. Já foram 12 triunfos neste campeonato nessas condições. Curry chegou ao seu 15º ponto a três segundos do fim da parcial, recebendo passe de Andre Iguodala. Parece um dado besta? Mas pense na confiança que o time não ganha quando as coisas começam desta maneira. Não só isso: do ponto de vista da tática, também fica mais fácil para o time como um todo, já que o adversário tem de se preocupar mais com um jogador em específico.

13,5 – O Spurs ainda sustenta, de qualquer forma, o melhor saldo de pontos da liga, contra 12,5 do Warriors. Nunca um time da NBA chegou a esta fase da temporada com uma conta dessas, e as estatísticas mostram que este é um dos tipos de números mais associados a equipes que almejam o título.

13 – Lembremos que o Spurs vinha de 13 triunfos consecutivos até desembarcar em Oakland.

3 – Foi a terceira vez nesta temporada em que Curry marcou 30 pontos em menos de 30 minutos. Ale acerto 12 de 20 arremessos, 6 em 9 de fora, além de todos os seus sete lances livres. Além disso, conseguiu cinco roubos de bola, vários deles no primeiro quarto, num abafa defensivo que desestabilizou o ataque dos visitantes. MVP x 2.

1 – Os jogadores do Warriors erraram apenas um arremesso em dez tentativas quando Kawhi Leonard era o defensor direto. Foi aproveitamento de 90%, impressionante. Por outro lado, foram apenas dez arremessos contra Leonard durante os 25 minutos em que temível ala esteve em quadra. Isso tem a ver com a péssima noite de Harrison Barnes, com quem ele iniciou a partida, mas também com o respeito que o melhor defensor da temporada passada pede.

PS: Número extraoficial, mas estima-se que 200 milhões de vines tenham sido produzidos desde a noite de segunda-feira:



Os melhores da (metade) da temporada: Conferência Leste
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Giancarlo Giampietro

Escrever uma artigo sobre prêmios de uma temporada qualquer da NBA pode ser um exercício de futilidade, certo? Por outro lado, dá ao blog, inativo por tanto tempo, a chance de recuperar o tempo perdido e abordar um ou outro protagonista da temporada. Então vamos roubar um pouco e dividir essa avaliação toda em duas listas, para cada conferência. Desta forma, ganhamos espaço para falar mais. E, claro, deixa a vida mais fácil na hora de fazer as escolhas:

Melhor jogador: LeBron James

LeBron não está jogando tudo o que pode. Mas ainda reina no Leste

LeBron não está jogando tudo o que pode. Mas ainda reina no Leste

Os acontecimentos recentes de Cleveland quase sugerem que essa escolha aqui deveria ser invalidada. Mas, em termos de bola, por mais que ele tenha relaxado em diversos jogos, desencanando da defesa, em termos de produtividade, ainda não há ninguém no Leste que possa com o dono do Cavaliers, mesmo que ele não esteja sendo tão efetivo como nos tempos de Miami Heat, claramente o auge de sua carreira. Também não importa ainda que ele tenha amassado o aro em suas tentativas de longa distância em novembro e dezembro – em janeiro, o aproveitamento já subiu para 37,3%, que é o mínimo que ele precisa fazer para pressionar as defesas. Com ele em quadra, o Cavs vence seus adversários por 11,3 pontos a cada 100 posses de bola. Sem ele, a equipe tem saldo negativo de 7,7 pontos. Dá um saldo de 19,0 a seu favor, o que é uma diferença absurda para uma equipe que conta com a folha salarial mais cara, e de longe, da liga.
Outros candidatos? Hã… ninguém. Talvez fosse legal falar aqui sobre Paul Millsap, subestimado a carreira toda até receber uma proposta generosa do Orlando Magic durante as férias e que segue hiperprodutivo, fazendo de tudo um pouco para elevar o Atlanta. Paul George começou a temporada numa arrancada sensacional, mas perdeu rendimento despencar de dezembro para cá, chutando abaixo dos 40% e, hoje, se fosse para votar, ficaria atrás também de Kyle Lowry, para mim.

Melhor técnico: Frank Vogel

Vogel tem Paul George e não muito mais que isso

Vogel tem Paul George e não muito mais que isso

O Leste oferece várias opções. David Blatt vai dirigir a seleção do Leste no All-Star e vem fazendo um bom trabalho, mas com o melhor elenco da conferência, de longe. Acho que chegou a hora de Vogel ser aclamado. Que ele tenha perdido Roy Hibbert e David West e mantido o time entre as defesas mais eficientes da liga, é um feito, e tanto. Estão atrás apenas de San Antonio e  praticamente num empate técnico com o Golden State e Boston em segundo, com a ajuda de Ian Mahinmi e Lavoy Allen, que ainda compõem uma dupla de pivôs contra adversários de garrafão mais pesado, pedindo licença ao conceito de small ball que Larry Bird queria por em prática.

O sistema ofensivo, porém, ainda está, de certo modo, emperrado, sendo o 19º mais eficiente da liga – o que, ainda assim, já é um avanço em relação aos últimos dois campeonatos, em que falhou em ficar até mesmo entre os 20 primeiros. Ajudaria se Monta Ellis pudesse jogar um pouquinho mais. Sua contratação foi um fiasco até o momento. Com médias de 43,1% nos arremessos e 27,1% de três, 2,7 turnovers e apenas 2,5 lances livres por jogo, ele faz sua pior temporada desde o ano de novato. O Pacers precisa de uma evolução nesse sentido para se distanciar da concorrência na briga por uma vaga nos playoffs, com a chance de ter mando de quadra – seu saldo de 3,1 pontos por jogo, o terceiro melhor da conferência, abaixo de Cavs e Raptors, já é promissor.

Basicamente, então: Vogel viu muitas trocas no elenco, está mudando o modo como time joga, passando de 19º para o 5º time que mais corre na NBA (!!!) e não perdeu muito em pegada defensiva. Tem um elenco limitado e está tirando muito dele.

Outros candidatos? Stan Van Gundy (repetindo a fórmula de sucesso em Orlando), Dwane Casey (o Raptors deu mais um salto neste ano, mesmo que DeMarre Carroll ainda não tenha contribuído tanto), Scott Skiles (mais aqui) e Steve Clifford (sabotado pela lesão de três titulares).

Melhor defensor: Hassan Whiteside

Assusta

Assusta

Olha… Para quem não estiver tão por dentro assim do que prega a intelligentsia do NBA Twitter, há uma campanha expansiva contra o pivô-surpresa do Miami Heat, alegando basicamente que ele é uma fraude. Campanha que foi reforçada, de maneira nada sutil, pelo ala Evan Fournier, do Orlando Magic. (Segue um resumo: dia desses, Rudy Gobert basicamente manifestou sua frustração sobre a ideia de que os números dizem tudo sobre um jogador de basquete, que não é bem assim e de que há jogadores que caçam estatísticas em quadra. Aí o Nikola Vucevic o interpelou e pediu para que ele citasse nomes, ué. E aí Fournier, amigo de Gobert desde as competições de base e parceiro de Vucevic na Flórida, se intrometeu e achou que estava sendo sutil ao escrever: ''Blancoté? Risos'', que, em francês, se tratava de um diretaço em relação ao pivô do Heat. É o tipo de zum-zum-zum que faz da NBA esse universo incrível.)

O principal argumento dessa turma toda é o de que, por mais tocos e rebotes que Whiteside compute, o Miami seria um time pior com ele em quadra. Será? Friamente, existe um número que mostra que o Miami, com ele em quadra, sofre 3,5 pontos a menos por 100 posses de bola quando o pirulão está no banco.  Agora, o que essa conta não indica é que Whiteside está quase sempre em quadra acompanhado por um certo Dwyane Wade (seu companheiro em oito dos dez quintetos que ele já compôs no ano). O astro ainda carrega o piano ofensivamente – mesmo que alienando Goran Dragic no processo –, mas que está hoje entre os marcadores mais ineficazes da liga. Não estou dizendo que Wade afunda o Miami por conta própria. Só não parece justo que tratem Whiteside, líder em tocos na temporada e com uma bagagem de infantilidade, exatamente desta forma.

O índice de ''Real Plus-Minus'' do ESPN.com,  o coloca como o jogador de número 375, com saldo de -2,05.  O que diabos é o RPM? É uma ferramenta analítica, desenvolvida por Jeremias Engelmann e Steve Ilardi, que faz uma estimativa sobre o impacto de um jogador no desempenho da equipe e é medido em saldo de pontos por 100 posses, levando em conta quem está em quadra tanto ao seu lado como do outro. Não são números exatos, mas servem como um bom indício. Nomes como Tim Duncan, Draymond Green, Andrew Bogut, Kawhi Leonard e Kevin Garnett aparecem entre os dez primeiros colocados nesta temporada, para constar.

Nesta mesma medição, Whiteside está em em 10º, e creio que seus 4,8 tocos por 36 minutos ajudem para tanto – intimidam e o colocam entre os melhores da liga de quase todas as medições de proteção de aro. Em sua conferência, Ian Mahinmi (5º), Andre Drummond (8º) e Pau Gasol (9º) estão acima. Mahinmi é uma grata surpresa pelo Indiana, mas fica ainda menos minutos em quadra (23,8). Em Miami, Whiteside joga por 28,9. O que, para mim, é um mistério. Estaria Spoelstra, com um cochicho de Riley, procurando controlar a produção do pivô que vai virar agente livre? Talvez seja muita conspiração aqui. Talvez ele seja muito indisciplinado, mesmo, e, ao contrário do que acontece com Stan Van Gundy e Drummond em Detroit, Spoelstra acredita ter alternativas para tornar seu time mais produtivo sem um pivô de números . Só é difícil entender, já que Amar'e Stoudemire, Chris Andersen e Udonis Haslem não são mais solução para nada e Josh McRoberts está quebrado. Com Justise Winslow e Gerald Green, as formações de smallball são bem-vindas. Ao redor de um pivô tão atlético, têm potencial para render ainda mais.
Outros candidatos? O próprio Winslow, Nerlens Noel e Bismack Biyombo, que está jogando muito em Toronto.

Melhor novato: Kristaps Porzingis

Nasce uma estrela

Nasce uma estrela

O letão mais popular em Nova York. O letão mais popular no mundo, na verdade, com todo o respeito a Ernests Gulbis. A quarta camisa mais vendida da NBA. Um rapaz carismático e que não fica só nisso. Proporciona os highlights e também substância ao Knicks, dando um refresco para Carmelo Anthony e oferecendo esperança de verdade a sua torcida. O que mais impressiona no pivô é sua agilidade, coordenação e talento em geral para alguém tão comprido, que contribui dos dois lados da quadra. Por outro lado, é de se admirar a maturidade e graça com as quais vem lidando com tanto burburinho e atenção que vem recebendo. Que história. Qualquer scout que tenha cravado para seu gerente geral que Porzingis seria uma estrela na liga deve estar se sentindo muito bem agora.

O garotinho aqui chorou muito quando ouviu o nome de Porzingis pela primeira vez:

Mas agora esse mesmo pirralho deve saber até este rap de cor:


Outros candidatos? Jahlil Okafor, um jogador de fundamentos ofensivos de fato impressionantes para alguém de sua idade e que, enfim, vem conseguindo evitar as páginas do TMZ, e Winslow, que é a antítese de seu companheiro de Duke: faz muito na defesa, mas ainda tem um longo caminho pela frente para se tornar alguém respeitado no ataque. Não dá tempo de Myles Turner entrar nesse papo.

Jogador que mais evoluiu: esse faz mais sentido esperarmos até o final da temporada, né? Mahinmi (ele de novo!), Kemba Walker, os bockers Derrick Williams e Lance Thomas e Kent Bazemore despontam como candidatos.

Melhor executivo: a mesma coisa. Masai Ujiri, Stan Van Gundy e Phil Jackson poderiam levantar a mão por ora.

All-Star: Kyle Lowry, Jimmy Butler, Paul George, LeBron James e Chris Bosh. Mais… John Wall, Kemba Walker, DeMar DeRozan, Jae Crowder, Carmelo Anthony, Pau Gasol e Andre Drummond.
(Aos fãs de Isaiah Thomas, Brook Lopez, Al Horford, Kevin Love: desculpe)


Polêmica demissão de Blatt só aumenta a pressão em cima de LeBron e Cavs
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Giancarlo Giampietro

lebron-cavs-blatt

Silas, Malone, Brown e, agora, Blatt: todos caíram no Cavs de LeBron

A temporada era 1981-83, e o Los Angeles Lakers havia vencido sete de seus 11 primeiros jogos, elevando seu recorde pessoal para 111 triunfos contra 50 derrotas, com direito a um título. Em quadra e no vestiário, porém, não havia alegria nenhuma. O elenco liderado por Kareem Abdul-Jabbar estava se arrastando num ritmo modorrento, entediado e frustrado com o pulso rígido do técnico Paul Westhead. Nada de showtime.

Em sua terceira campanha pela liga, já considerado uma estrela, Earvin ''Magic'' Johnson veio, então, a público num belo dia para dizer que não aguentava mais o professor, e que para ele já havia dado: queria que o clube californiano o trocasse. (E imaginem se tivesse sido atendido?)

Coincidentemente, no mesmo dia, o proprietário Jerry Buss anunciou que a era Westhead havia chegado ao fim. Difícil não associar a decisão ao ultimato do armador, por mais que o célebre e falecido proprietário negasse. ''A ironia é que eu já havia decidido demiti-lo, e o Magic acabou dando azar de ter falado aquilo. Mas não acho que ninguém vai acreditar nisso'', afirmou.

E quem assumiria o cargo? Seu principal assistente, um certo Pat Riley.

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Tudo isso para dizer que LeBron James não foi o primeiro craque a fritar seu treinador, nem será o último. Isso é rotineiro na NBA. Mas, que suas ações levaram à queda do treinador, acho que não há o que se discutir, por mais que ele e o gerente geral David Griffin digam o contrário, e que alguns veículos de mídia americanos façam coro a eles, tentando amenizar o impacto causado pela demissão de um cara que venceu a Conferência Leste no ano passado, a despeito de tantas lesões relevantes e da chegada de novas peças durante a jornada. O mesmo cara que novamente superou alguns desfalques na primeira metade desta temporada, liderando a terceira melhor campanha da liga, com o time aparecendo na lista dos sete ataques e defesas mais eficientes. O tipo de currículo que torna a decisão da franquia um tanto chocante, por mais que, em Cleveland, muitos já estivessem preparados para tal desfecho.

Apurar se LeBron foi, ou não, informado sobre a demissão desta sexta-feira, aliás, é perda de tempo das mais tolas. Não havia razão para Griffin consultar o astro – ele já sabia qual seria a resposta. A má vontade de LeBron para com Blatt está foi muito bem documentada, de modo que esse tremendo esforço de última hora limpar sua barra soa inútil.

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Aliás, segundo relatos dessa mesma campanha de blindagem, LeBron desde o princípio se mostrou muito pouco receptivo ao treinador, sem o acolher ou ajudar em sua adaptação ao clube e uma nova liga. Pelo contrário. Frases como ''Blatt nunca teve chance'' também foram escritas a esmo nessas últimas 24 horas. Adrian Wojnarowski publica que o jogador e seu agente/sócio, Rich Paul, queriam a contratação de Mark Jackson. A diretoria disse que seria impossível. E aí que Tyronn Lue virou a solução para dupla. Tudo, menos Blatt.

O que tem sido dito, porém, é que o descontentamento com Blatt não se limitava ao camisa 23.  Tudo leva a crer que, sim, o técnico estava com o filme queimado – com quantos e quem, exatamente, é o que não vamos saber. Agora, só não dá para negar que a postura de LeBron obviamente exerceu forte influência para tanto. Se um cara de sua estatura não é receptivo, fica muito mais fácil para os demais peitarem o técnico. Natural até.

Não que o treinador tenha sido mera vítima e que não tenha contribuído para o motim com algumas atitudes um pouco tolas. Como, na ocasião de sua primeira vitória pelo Cavs, quando mal comemorou com os atletas, estragando a festa deles, dizendo que, caras, tipo, já tinha centenas de triunfos em seu currículo. Ok, ele é realmente um dos profissionais mais vencedores da modalidade, mas, para todos efeitos, para o mundo da NBA, ainda era um calouro. A intenção dos jogadores não era de provocá-lo ou ofendê-lo, nesse caso. Quanta simpatia, né?

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Anderson Varejão foi um dos que teve de lidar com a insensibilidade do técnico, segundo o ''ESPN.com''. Recuperando-se de uma lesão no tendão de Aquiles, o brasileiro estava disposto a retornar ao time para a série final contra o Golden State Warriors. A diretoria achou que não era o caso. A decisão estava tomada. Quando questionado em uma coletiva, todavia, Blatt não disse que sim, nem  que não, mexendo com os ânimos de todos.

Outro ponto que causava bastante incômodo seria a condescendência de Blatt com LeBron, Kyrie Irving ou Kevin Love, protegendo as celebridades em coletivos e sessões de análise de vídeo. Os mimos aos astros não pegavam bem com o restante do elenco: seria traços de covardia e injustiça por parte do treinador. O agora promovido Tyronn Lue, dizem, se via obrigado a interferir e cobrar as estrelas, na tentativa de apaziguar os ânimos. Mas a relação já estava estremecida demais, algo que Griffin, em seu duro discurso nesta sexta-feira, deixou claro.

''Eu vi os jogadores interagindo entre eles por um longo tempo, em diversas circunstâncias. Sei quando uma coisa não está certa, e acho que tomei a decisão correta. Vou ao vestiário muitas vezes. Falta espírito ali. Nossa campanha de 30-11 foi com uma tabela relativamente fácil. Faltava conectividade do técnico com o time. Falta identidade ao time, que deu dois passos para a frente e um para trás. Quando temos clareza no que queremos como franquia, essas decisões acabam sendo tomadas por conta própria. Não vou deixar um time que tem uma folha salarial sem precedentes  à deriva'', afirmou.

Precisa de ajuda? "Não".

Precisa de ajuda? ''Não''.

A inexperiência de Blatt em particularidades da liga também teria chamado a atenção de alguns veteranos, como quando pediu tempo no finalzinho do quarto jogo da série contra o Bulls nos playoffs do ano passado e, por sorte, foi ignorado pela arbitragem. O Cavs já havia esgotado sua cota e, caso percebida, a ação do treinador teria resultado em uma falta técnica. A chance era grande, então, que Chicago abrisse uma vantagem de 3 a 1. Esse tipo de falha teria acontecido seguidas vezes, gerando mais desconfiança no elenco.

O que não dá para acreditar, porém, é que David Blatt fosse um tremendo de um incompetente e que todo o sucesso do time se explicasse pelo talento de LeBron. Nessa campanha de difamação de um e proteção do outro, chegou-se ao cúmulo de fontes anônimas dizerem que o técnico simplesmente não sabia desenhar jogadas na prancheta durante pedidos de tempo. Em entrevista à rádio ''Sirius XM'', o pivô Brendan Haywood, reservão do time no campeonato passado e agora aposentado, se sentindo livre para falar o que bem entender, confirmou esse problema. Disse também que o comandante não entendia os padrões de substituição da liga e que cometia ''erros óbvios''. Hã… Sinceramente, dá para acreditar nessa? Estamos realmente falando do mesmo técnico cujo Maccabi Tel Aviv ganhou, em 2015, de CSKA Moscou e Real Madrid com um elenco absolutamente inferior? O mesmo que levou a Rússia o bronze olímpico em Londres 2012, derrotando a fraquinha e inexperiente Argentina na disputa pelo terceiro lugar? Enfim…

Até mesmo quando tentam defender Blatt,  seus críticos o tratam com desrespeito. Dizem que Blatt não foi contratado, a princípio, para conduzir um elenco pesado como este, que o título não estava em pauta, antes de saberem que LeBron queria, mesmo, voltar. É um fato, mas esse pensamento já manifesta uma condescendência que beira o ridículo. Algo como: ''Coitadinho, não era para ele''. Falando isso de um técnico que ficou a duas vitórias do título em sua primeira campanha pela liga. Ele teve muitos acertos como estrategista. Por mais exuberante que tenha sido LeBron, ele realmente fez tudo sozinho? E o que dizer da boa campanha atual, a despeito da ausência de Irving e Iman Shumpert no início? Seu único tropeço mais custoso foi não ter integrado Love de um modo mais orgânico ao sistema ofensivo – agora, o quanto se pode julgá-lo por isso é uma questão: afinal, se era LeBron quem estava no comando… Não seria tarefa dele? Não dá para dizer que tudo de positivo do plano tático e técnico passa pelo jogador, enquanto a Blatt sobrariam apenas as críticas.

David Griffin chamou a responsabilidade

David Griffin chamou a responsabilidade

Em sua coletiva, Griffin não questionou de modo algum o conhecimento de jogo do demitido. Não há como – a sacolada que a equipe tomou do Warriors na segunda-feira não foi, diz, decisiva para sua decisão. E nem deveria ser: em confrontos anteriores com Golden State e San Antonio, as derrotas foram, respectivamente, por seis e quatro pontos. Não foi a bola que derrubou Blatt. No entanto, a política no vestiário é parte integral da profissão, tão ou mais importante que o riscado, ainda mais numa liga como a NBA, cujos atletas são paparicados desde sempre. Faltou mais jogo de cintura, tato e carisma para Blatt. Características que, ao que parece, sobram para Tyronn Lue.

O baixotinho que levou um baile de Allen Iverson nas finais de 2001, mas que teria longa carreira, agora é, aos 38 anos, o técnico mais jovem da liga. Respeitado no vestiário, constantemente elogiado até mesmo por Blatt, que teria dado a ele o crédito pela fortíssima defesa que o time apresentou nos playoffs de 2015. Uma generosidade que, neste sábado, não foi correspondida por seu antigo subordinado. Repórteres lhe perguntaram o que ele faria de diferente agora que está no comando. Respondeu que diferente não era o termo que ele usaria, mas, sim, que faria ''melhor''. Muito elegante o sujeito que, para constar, na reportagem de Wojnarowski, foi retratado como um fiel assistente, que teria feito de tudo para defender Blatt diante do assédio de LeBron e Paul.

Lue pode ser jovem, mas, em termos de NBA, é muito mais calejado que o antecessor. Sabe muito bem o que está em jogo. Que, para o Cavs, é título, ou nada. Título, ou fiasco, e a pressão só aumenta com a demissão de um treinador com aproveitamento de 67,5% (83 vitórias e 40 derrotas) no total e que contava, aparentemente, com apoio da torcida do Cavs. Sabe provavelmente também que será o quinto treinador do time em nove temporadas com LeBron. É um clube de gestão instável, no mínimo – não dá para deixar o proprietário Dan Gilbert distante dessa confusão toda. O chefão, por sinal, era o principal defensor de Blatt e teve de ser convencido por Griffin que a demissão era a melhor solução na tentativa de desbancar o Warriors (ou, claro, o Spurs). Existe ainda a noção de que, removendo Blatt, ele também estaria eliminando uma eventual desculpa para os jogadores em caso de derrota nos mata-matas.

Agora é com ele

Agora é com ele

Daí que não deixa de ser uma ironia que, na mesma noite em que Steve Kerr fez sua estreia na temporada, Blatt acabou demitido. E é uma coincidência que diz muito – os líderes de cada conferência não poderiam ser mais diferentes hoje. Caos x harmonia. Intrigas, traições, imposições x diálogo franco, aberto e constante. Nuvens carregadas x céu aberto. Griffin afirma que demitiu seu treinador em busca dessa sensação de unidade. Mas isso não é algo que se constrói com uma só ação. Não depende apenas de Blatt, e não vai depender só de Lue, embora todo técnico seja uma figura primordial na hora de buscar essa química.

Em 1982, quando Westhead caiu, começou a carreira de um dos maiores treinadores que a NBA já viu. Riley, aquele que, como presidente do Miami Heat, cerceava toda a ambição de LeBron, colocou o Lakers para correr, tal como Magic queria, e deu certo. O resto é história. O time alcançou a final e foi campeão, batendo o Philadelphia 76ers de Julius Erving. Até o ano passado, ele era o único técnico a ser campeão logo em seu ano de estreia. Kerr repetiu a façanha, e David Blatt chegou perto. Numa aposta de risco, o Cavs espera que Tyronn Lue aumente a lista.


A surra contra o Warriors dói. Mas, no plano geral do Cavs, foi um só jogo
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Giancarlo Giampietro

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Numa temporada regular de 82 jogos, a primeira lição para qualquer time da NBA é a de que você não deve reagir com desespero a nenhum resultado isolado.

Mas, quando um Cleveland Cavaliers toma uma sacolada de 34 pontos da equipe pela qual havia sido derrotada na final do campeonato anterior, aí é difícil de segurar. E este será o principal desafio dos LeBrons e Dan Gilbert daqui para a frente: por mais dolorida e chocante que tenha sido a derrota de segunda-feira, em rede nacional, não é que o time esteja totalmente sem rumo,  chão ou teto. Eles precisam se apegar a uma tese que circulou nesta terça: o Cavs por ora só tem de se conformar com o fato de estar um degrau abaixo de Golden State Warriors e San Antonio Spurs. Em 20 de janeiro de 2016, isso não significa o inferno na terra, de modo algum.

Que há problemas para serem resolvidos? Claro que sim. Vamos falar mais deles adiante, sendo que, na ressaca já encarada no vestiário depois do espanco sofrido, uma velha questão ressurgiu. Antes de buscar um diagnóstico sobre o que teria dado de errado em sua tentativa de revanche, não dá para esquecer o que já está dando certo para o time, na metade da temporada.

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De acordo com o NBA.com, o Cavs é um dos cinco times que estão posicionados entre os dez mais eficientes tanto na hora de defender como na de atacar – os outros são Warriors (toin!), Spurs (pumba!), OKC Thunder (Durant + Wess = sucesso) e o digníssimo Atlanta Hawks (em ascensão discreta, tipicamente).

Sim, mesmo depois de levar 132 pontos de seu mais recente algoz, o conjunto está em sétimo quando tenta proteger sua cesta, não muito distante de Miami Heat e Chicago Bulls. Seu sistema ofensivo aparece em quinto, atrás de Warriors, Thunder, Spurs e Clippers, mesmo que Kyrie Irving tenha jogado em apenas 13 partidas e ainda esteja recuperando o ritmo. Desta forma, a cada 100 posses de bola, o conjunto de David Blatt tem o quarto melhor saldo, de 5,4, abaixo só da trinca do Oeste acima citada.

É aqui que entra a tese de que, em qualquer campeonato mais normalzinho, o Cavs estaria ali no topo das estatísticas, com plenas chances de título. Acontece que, vocês já devem ter percebido, não estamos em uma temporada comum, pois Warriors (apenas quatro derrotas em 42 jogos e saldo de 13,3 pontos a cada 100 posses) e Spurs (seis derrotas em 42 jogos) e saldo de 14,9, que é o melhor da história) elevaram a barra a um patamar raríssimo de se alcançar.

Kevin Love que se cuide: o Warriors pode deixá-lo exposto

Kevin Love que se cuide: o Warriors pode deixá-lo exposto

Então, sim: se for para pensar no tipo de jogo daqueles que hoje são os dois grandes favoritos da NBA, o grito de alerta de LeBron deve ser levado a sério por qualquer jogador no vestiário do time. ''Esta noite foi um exemplo de quão longe estamos do nível de se lutar pelo título'', afirmou, visivelmente abatido, na Quicken Loans Arena. Registre-se, de todo modo, que o craque vem batendo nessa tecla desde os primeiros dias do calendário.

Isso que parece, à distância, o mais preocupante. LeBron pode simplesmente estar pressionando seus companheiros para lhes tirar de uma traiçoeira zona de conforto que o Leste proporciona a um timaço. Por mais que o nível da conferência tenha subido nestes dias, ainda não há um rival que possa, com convicção, erguer a mão em meio à multidão e desafiar os cavaleiros de Cleveland. Mas uma coisa é bater o Raptors em seis jogos. Outra é se preparar para uma decisão que, descontando qualquer lance de sorte, será uma batalha tão ou mais ferrenha que a de 2015. O nível de exigência é altíssimo. Estamos falando de excelência. Então precisa cobra diariamente, mesmo, a dedicação extrema, a atenção e o comprometimento com os pequenos detalhes etc.

Todavia, a outra versão para essa história, que teima em não ir embora, pode ser maior. Pode ser que os constantes recados dados por Sua Alteza tenham como origem uma preocupação ainda maior com o que se passa no vestiário e no dia-a-dia do clube em geral. Mas o que poderia ser isso? Bem… Acho que, dentre algumas possibilidades, o torcedor do Cavs já desconfia da resposta: a relação com David Blatt (sobre a qual já escrevemos muito aqui) ou Kevin Love.

No pós-jogo deprimente de segunda, LeBron não soltou nenhuma indireta sequer que pudesse atingir seu treinador. Em relação aos companheiros de time, porém, havia uma observação a ser feita. ''Temos alguns caras inexperientes que ainda não disputaram jogos de basquete que valham alguma coisa e sirvam como lição. Quando as coisas ficam um pouco difíceis em quadra, não é que eles tenham experiência prévia para consultar e que possa ajudá-los a enfrentar o que está acontecendo'', afirmou em coletiva.

O comentário é praticamente uma contestação. Não tem muitos adjetivos, nem nada pesado. O elenco do Cavs tem realmente pouca bagagem de vitórias expressivas e grandes duelos. Anderson Varejão, Mo Williams e Richard Jefferson, na verdade, são os únicos ali com vasta experiência de playoff, e eles nem têm muito espaço assim na congestionada rotação de Blatt.

Depois, em conversa quase informal com os setoristas de Cleveland, LeBron levou a conversa adiante e, aí, mesmo sem citar seus nomes, matutou especificamente sobre Love e Irving ao dizer que alguns de seus colegas , devido a lesões, não haviam ganhado essa experiência valiosíssima de se lutar com os companheiros nos momentos mais duros do campeonato. E era a estreia deles nos mata-matas. De novo: não é um ataque. Já vimos o astro ser muito mais ácido.

Acontece que, do outro lado, Kevin Love não parecia o sujeito mais contente em assumir a bronca toda por sua inexperiência em grandes jogos. ''Temos de melhorar em um monte de coisas. Isso vai fazer com que vários caras se olhem no espelho, e tudo começa com o nosso líder ali e vai para baixo'', afirmou, apontando precisamente para o camisa 23.

Antes que o torcedor brazuca do Cavs se inflame e acuse A Diabólica Mídia (Ah, Essa Mídia) de procurar semear a discórdia em sua equipe,  como já vi acontecer antes, é preciso ter em mente que todos os relatos que li sobre esse pós-jogo, incluindo o de jornalistas locais, dão a entender que Love fazia cara de poucos amigos ao dar sua declaração, meio que dizendo: não sou apenas eu o problema.

O ala-pivô provavelmente ainda não sabia que o vine abaixo, do Basketball Breakdown, já havia viralizado:

Contra um time que roda a bola em alta velocidade e movimenta seus jogadores no mesmo ritmo, com até cinco arremessadores ao mesmo tempo em quadra, Love não pode estar nem meio passo atrasado em suas  coberturas. Quando está até dois ou três passos para trás, cumprica. Que ele não tenha se dado conta de que um cara como Draymond Green pode flutuar para o perímetro depois de um corta-luz, é porque alguma coisa está muito errada. Aí vira piada, mesmo, e não tem como olhar para David Blatt, que procurou chamar a culpa para si, dizendo que assumia toda a responsabilidade pelo aparente despreparo tático e emocional de seu time para um confronto tão chamativo. Se esse for o padrão de atenção defensiva que o jogador de US$ 110 milhões vai levar aos playoffs, será o caso de seu treinador repensar seu tempo de quadra. Contra o Warriors, é impensável ter um defensor caçando borboletas desta forma.

Mas, não, a derrota impactante não se explica apenas pela defesa displicente de um ala-pivô. O próprio LeBron, talvez desanimado com o que via em quadra, ficou devendo e deu sua contribuição para o maior déficit de pontos que já viu seu time sofrer em todos os 1.127 jogos de sua carreira, quando o Warriors abriu 43 pontos de vantagem, segundo a ''ESPN Stats & Info''. Numa partida especial dessas, o ideal é que o time não peça de LeBron uma atuação de super-herói, tal como aconteceu nas finais, devido a circunstâncias infelizes. Mas você espera mais do que 16 pontos, 5 rebotes e 5 assistências e 43,8% nos arremessos, sem nenhum tiro de fora, em 33 minutos.  Ele não precisa carregar o time, mas, diante de grandes desafios, as responsabilidades são maiores. (E talvez seja essa a sua mensagem para os parceiros mais jovens, tirando o pé para ver no que dá. Para constar, sua atuação e linha estatística de quatro noites antes, em San Antonio – para seus padrões, que fique claro – também não estavam entre as superlativas: 22 pontos, 7 rebotes e 5 assistências, com 52,9%.)

Dureza

Dureza

Em Cleveland, ciente de que provavelmente seus oponentes viriam com tudo em sua direção após a declaração sobre o cheiro da champanhe, Stephen Curry estraçalhou a defesa do Cavs desde o início do jogo, chegando aos mesmos 16 pontos antes mesmo do intervalo. Terminou com 35 pontos e alguns de seus arremessos impossíveis (12-18 de quadra, 7-12 de três pontos, em 28 minutos). Juntos, para relativizar, LeBron, Love e Kyrie Irving fizeram 27 pontos.

Os donos da casa ficaram devendo como um todo, como time, especialmente na defesa. Não precisa nem colocar aqui um clipe de cesta em contra-ataque do Warriors, pois foram várias as situações em que desciam dois ou até mesmo três contra um no primeiro tempo, para abrir uma vantagem de 26 pontos em 24 minutos de jogo. No geral, foram 17 pontos em contra-ataque na súmula oficial, mas muitos outros gerados pelo desequilíbrio e lerdeza da transição defensiva do adversário.

Foi um horror, é verdade, e isso joga pressão para cima do time como um todo.

Mas não foi de acordo com o padrão apresentado pelo Cavs no campeonato. Então é preciso paciência por parte de LeBron e, especialmente, Dan Gilbert, um bilionário que já perdeu muitas vezes as estribeiras quando o assunto é seu clube de basquete. LeBron vai apertar o passo nos mata-matas. Até lá, tem tempo para Irving refinar seu drible e arremesso e resgatar a agressividade da segunda metade da temporada passada. Nesse meio tempo, Love pode repensar algumas coisas, enquanto Blatt deve fazer o mesmo em relação ao ala-pivô, se ele não apresentar melhoras.

Voltamos à regrinha de que, ok, era um senhor jogo, com todo mundo assistindo e aquele desejo de se firmar como resistência e dar o troco. Mas, ainda assim, só um jogo. ''Vamos ter um monte de tropeços no caminho, e isso é normal. Vamos aprender e melhorar com isso. O melhor professor na vida é a experiência, e é bom passar por isso'', disse o craque.

Vale o recado geral, olhando no espelho, ou não.