Vinte Um

Arquivo : setembro 2014

Copa Intercontinental e suas incógnitas: chance para o Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Copa Intercontinental 2014, Fiba, Flamengo, Maccabi

É difícil dizer qual é o Maccabi Tel Aviv que enfrenta o Flamengo neste final de semana pela Copa Intercontinental, no Rio de Janeiro. Porque já era muito complicado definir qual era a equipe que havia conquistado a Euroliga da temporada passada, com sua formação camaleônica, irregular, que acabou surpreendendo ao ser campeão continental. Você soma aí o fato de que eles trocaram de técnico, perdendo o genial David Blatt, e mudaram mais da metade de seu elenco, e os jogos desta sexta-feira e domingo ganham um aura de incógnita.

É um clima bem diferente da decisão do torneio de 2013, no qual o Olympiakos aparecia como amplo favorito. Isso tinha muito a ver com a consistência do clube grego, que havia conquistado dois títulos europeus seguidos e também contava com Vassilis Spanoulis, um cara que obviamente estava um degrau acima dos demais atletas em quadra.

Em termos de acúmulo de resultados positivos, dessa vez é o Flamengo que chega embalado, vindo de dois NBBs e sua primeira Liga das Américas – me desculpem, mas não dá para incluir aqui os recordes recentes do estadual, a despeito da tradição do torneio. O difícil é traduzir o jogo de cá com o de lá: o quanto um Fla dominante no Brasil e, por um ano, nas Américas é poderoso para enfrentar um campeão europeu meio acidentado. Um campeão justo, é verdade, porque levou a melhor em quadra – mas que definitivamente não foi o melhor time europeu de 2013-2014

Você jamais pode subestimá-lo – e certamente o Flamengo não vai correr esse risco. Eles têm camisa, história, com seis títulos continentais, uma base de torcedores das mais entusiasmadas do mundo todo. Então é claro que o time de José Neto vai respeitar seu adversário, e bastante. Só, acredito, não precisa se colocar em situação de inferioridade. Estivessem o Real Madrid ou o Barcelona do outro lado, aí a coisa mudaria de figura – estes, sim, os times com melhor campanha na Euroliga, até o Final Four.

Para comparar, durante a temporada regular (primeira fase e Top 16 somadas aqui), a agremiação israelense teve 16 vitórias e 8 derrotas, contra 21 e 3 do Real e 19 e 5 do Barça – sendo que o time de Huertas bateu de frente com Fenerbahçe e  CSKA pela etapa inicial e, depois, ainda precisou lidar com Fener, Olympiakos, Panathinaikos, Olimpia Milano por um grupo duríssimo. Além do mais, o próprio Blatt admitiu que, num confronto de playoff, sua equipe dificilmente teria derrubado o Real, ou até mesmo o CSKA. Em um jogos únicos, porém, foi uma tarefa plausível, graças em muito ao seu domínio do tabuleiro.

Para considerar também: os dois adversários chegam ao confronto em fase inicial de preparação. É apenas a pré-temporada. Os rubro-negros, nesse sentido, levam a vantagem de terem uma base muito mais bem entrosada. Um craque como Walter Herrmann, já mais velho, mas ainda de uma categoria acima da média, foi adicionado, e deve ser peça fundamental da equipe. Derrick Caracter é outra história, aqui discutida. De resto, a rotação está intacta. Já o seu adversário realmente passou por uma reformulação drástica em seu plantel, algo que sempre pode acontecer, mas não estava nos planos.

O Maccabi é bem mais vulnerável do que o título de campeão europeu pode sugerir. Não quer dizer que seja fraco, ok? Longe disso. Mas a expectativa é de um confronto muito interessante, desde que os flamenguistas estejam fazendo a lição de casa direitinho.


Flamengo acerta contratação pontual. Vale a pena?
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Giancarlo Giampietro

Caracter chegou nesta quarta. Fla espera que com bagagem de soluções

Caracter chegou nesta quarta. Fla espera que com bagagem de soluções

Em 1997, o Cruzeiro se preparava para um dos maiores desafios de sua história: jogar a Copa Intercontinental/Mundial de clubes contra o Borussia Dortmund, depois de fazer bela campanha na Copa Libertadores. O time tinha uma forte base, que não era necessariamente brilhante, mas possuía figuras talentosas como o meia Palhinha, o centroavante Marcelo Ramos e o goleiro Dida.

Antes de mais nada, peço um pouco de paciência, antes do ataque: “Até aqui você vai ficar falando de futebol?! Santa monocultura!”

É que a gente pode ligar esse jogo de 17 anos atrás com outra Copa Intercontinental, a de basquete, que será disputada entre Flamengo e Maccabi Tel Aviv a partir desta sexta-feira, com o primeiro jogo no Rio. A segunda e decisiva partida será no domingo, na capital fluminense. E qual seria o link entre coisas tão absurdamente distintas?

Bebeto foi um dos que chegaram ao Cruzeiro de última hora em 1997. Um causo alarmante

Bebeto foi um dos que chegaram ao Cruzeiro de última hora em 1997. Um causo alarmante

Antes de encarar o Dortmund, o clube mineiro fez quatro contratações exclusivamente para aquela decisão, algo que aprendemos a chamar de contratações “pontuais”: o lateral Alberto, o zagueiro Gonçalves e os atacantes Bebeto e Donizete Pantera. O Fla apelou nesta semana ao mesmo expediente: acertou com o pivô Derrick Caracter para reforçar seu garrafão para desafiar o Maccabi – e também para os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA.

Antes de falar de Caracter e do Fla, é preciso lembrar o que se passou com a Raposa depois de sua cartada, com o perdão do amigo cruzeirense, que não precisava de revisitar essa história num momento em que seu time está voando no Brasileirão. Naquela ocasião, o tiro saiu pela culatra, numa derrota por 2 a 0 em que os alemães foram bem superiores. Diante daquela situação inusitada, sobrou, claro, para os caras que chegaram de última hora.

“A culpa não era deles. Se você é chamado para o Mundial, não vai? É claro que vai. Mas a vaidade no futebol é muito grande. Os jogadores vinham falar comigo, chateados. Tive que conversar muito. Não vou dizer nomes, mas começamos a discutir premiação para o título, algo que sempre é feito antes da partida, e um dos contratados falou que deveríamos deixar para depois. O cara pegou o dinheiro (da contratação) na mão e não queria discutir premiação? Era um dinheiro importante para caramba para as famílias. Mais tarde, depois daquela final, conversei com o presidente, com quem fiz amizade, e ele disse que voltaria atrás se pudesse”, afirmou o meio-campista Cleisson ao GloboEsporte.com.

“Não participar do Mundial foi a maior tristeza que eu tive na minha carreira. Foi uma decisão que achei injusta. Na época, fui conversar com o presidente Zezé Perrella a respeito dessa situação, não só comigo, mas também com outros jogadores. O Zezé (Perrella) apenas disse que a decisão era do treinador e não poderia fazer nada”, relembra Gottardo, ao SuperEsportes.com.br, acrescentando que inclusive pediu ao presidente para ser negociado.

“Era uma situação complicada, sabíamos da qualidade deles. Havia uma cobrança dos jogadores que ficaram fora e da imprensa em cima do presidente, mas isso faz parte”, completa o lateral Vitor, ao FoxSports.com.br.

Deu para entender, né? Com a turbulência que as mudanças geraram – o capitão da Libertadores, Wilson Gottardo, por exemplo, foi cortado da delegação que viajou ao Japão –, o Cruzeiro já meio que havia perdido a final antes mesmo de disputá-la.

Então tá: ponto.

O flamenguista mais doente já pode estar salivando, achando que o blog está jogando praga para cima do elenco rubro-negro. Não é bem assim. Só foi o primeiro caso que bateu na telha ao lembrar de contratações pontuais como a de Caracter. Se alguém tiver algo mais emblemático e positivo que esse, favor compartilhar. Além do mais, podemos alegar que uma coisa é contratar quatro jogadores num pacote e outra, trazer um só atleta para reforçar uma posição considerada carente. Mas não há como fugir desse questionamento.

Caracater, cestinha talentoso, com algumas questões comportamentais no meio do caminho. Jogou 41 partidas, com média de 5 minutos

Caracater, cestinha talentoso, com algumas questões comportamentais no meio do caminho. Jogou 41 partidas, com média de 5 minutos

Não dá para saber como o elenco de José Neto vai reagir a uma situação dessas – e nem como o pivô vai se comportar. Ênfase em “comportar”, porque cabe outra ressalva: uma boa alma vai dizer que você não deve julgar ninguém pelos erros do passado, que se deve dar uma segunda chance, mas há uma razão triste para explicar como alguém que já foi considerado um dos maiores talentos de sua geração nos Estados Unidos estava disponível no mercado, para um acerto pouco usual destes. Como os americanos gostam de dizer, o jogador tem “bagagem”.

Na universidade, deu um trabalhão danado para os técnicos de Louisville, sendo obrigado a pedir transferência para Texas El-Paso. Ainda assim, foi selecionado pelo Lakers na segunda rodada do Draft de 2010, na 58ª/antepenúltima posição. Já como profissional, foi preso por ter agredido uma garçonete – um raro caso de problema com a polícia, diga-se; antes, sua ficha de advertências estavam limitadas a problemas de notas e de disciplina “esportiva”. Desde então, foi dispensado pelo time californiano, perambulou por aí, entre Europa e D-League, tendo jogado a última temporada pelo Idaho Stampede (veja suas estatísticas).

Três anos depois de sua prisão em Nova Orleans, Caracter desembarcou no Rio apenas nesta quarta-feira, praticamente junto dos caras do Maccabi, mal tendo tempo de treinar com seus novos companheiros.  Caracter supostamente chega para deixar o Flamengo mais competitivo. Está dentro das regras, sim, mas o quão válido, legítimo é o processo? Qual caminho você prefere: jogar todas as cartas possíveis e tentar de tudo numa grande vitrine dessas, jogando por um título que seria mais que formidável para o clube e o basquete brasileiro, ou ir para a quadra com o que você tem (de verdade), que, aliás, já é um grande time de basquete?

A segunda alternativa, parece, seria a ideal. Mas dá para entender também quem abrace sem pestanejar – pensando de modo pragmático e na importância que têm a Copa Intercontinental e os jogos nos Estados Unidos. Agora só resta saber o quanto Caracter pode contribuir de fato para uma equipe que mal conhece. Aliás, não está nem muito claro o quanto o técnico José Neto e os demais atletas sabem sobre o pivô também. Justamente quando o entrosamento seria um dos grandes trunfos para os rubro-negros em relação ao seu concorrente.

O UOL Esporte acabou de publicar um texto que nos conta os bastidores da contratação. O Flamengo sondou mais de dez nomes no mercado internacional, numa procura meio desesperada até, com dificuldade para fechar: os atletas consultados queriam contrato por uma temporada, obviamente. No fim, o agente Marcelo Maffia, que trabalha com Tiago Splitter, Rafael Hettsheimeir, Rafael Luz, entre outros muitos talentos brasileiros, ajudou a intermediar o negócio.

“Foi uma correria louca para viabilizar a vinda dele. Faz 24 anos que trabalho com basquete e nunca vivi uma situação destas. As conversas começaram no meio da semana passada. Aí tivemos de arrumar o visto rapidamente, o que conseguimos no consulado lá em Miami, tanto que ele chegou apenas na quarta-feira. Ele praticamente não treinará com a equipe. É um grande incógnita o que ele poderá fazer”, afirmou o empresário. “Só o conheço pelas estatísticas e por vídeos. Não sei se é a melhor ou pior opção para o Flamengo. Era a que tinha no momento. Claro que é um grande risco, mas talvez possa fazer o que se espere dele.”

E o que o técnico Neto espera do americano? “Trouxemos para ter uma opção a mais no nosso jogo interior. Ele chega para somar e trazer muita força ao nosso garrafão. O time do Maccabi é forte, usa bem os pivôs e precisamos conter isso. Precisávamos de mais força na marcação e no rebote. A ideia é que ele cumpra bem esse papel. Além disso, contamos com ele para pontuar no ataque também”, afirmou.

(Só uma observação, de quem acompanhou a temporada da Euroliga inteira no ano passado: o time israelense tem jogo interior, sim, mas ele decorre muito mais das infiltrações de seus armadores do que em bolinhas pingadas no garrafão. Ainda mais com Sofoklis Schortsanitis fora de combate, devido a um glaucoma. Vários destaques da campanha europeia saíram, eles trocaram de técnico, mas, a julgar pelo perfil de seus substitutos, essa proposta não se alterou tanto assim. Mais sobre isso nesta sexta-feira…)

(A segunda observação: Caracter sempre foi conhecido como um pivô muito forte e habilidoso, mas especialmente para questões ofensivas, com jogo de pés criativo, que funciona de costas para a cesta. É pesado, mas surpreendentemente ágil. Ambas as munhecas são bastante eficazes para a conclusão próxima ao aro. Sua capacidade como defensor, porém, não era das mais elogiadas. Pode ter melhorado com o passar dos anos, a conferir. É, de toda maneira, alguém muito vigoroso, mesmo, que vai ocupar espaço e trombar.)

Caracter, então, precisa dar uma força para Jerome Meyinsse, Olivinha e Walter Herrmann no combate com os pivôs do Maccabi.

Mas e o Felício?

Aparentemente, se Caracter corresponder às expectativas, o garotão vai dançar nessa.

Felício, 22 anos, promissor e quinto homem na rotação flamenguista em grandes jogos?

Felício, 22 anos, promissor e quinto homem na rotação flamenguista em grandes jogos?

Felício ainda é jovem, tem muito o que aprimorar em termos de técnica, mas fisicamente você não vai achar tantos jogadores mais imponentes. Além do mais, é jovem, mas já não é mais um adolescente – chega uma hora em que vai ter de produzir e competir com os marmanjos, o tempo começa a correr. Com a saída de um veterano como Shilton, figura importantíssima na conquista do último NBB, esperava-se mais Cristiano em ação, depois de o pivô ter jogado apenas 13 minutos em média na temporada passada. Nos playoffs, quando a coisa aperta, o tempo de quadra ainda foi reduzido para 8 minutos por partida. Na Liga das Américas, 99 minutos em oito partidas. Aparentemente, ainda não será desta vez.

Isso também nos leva a alguns pontos preocupantes. Estamos falando  de uma das maiores promessas brasileiras, um pivô de enorme potencial, reconhecido por Rubén Magnano, pelos olheiros da NBA (ainda que não tenha sido escolhido no último Draft, causou ótima impressão durante o Eurocamp de Treviso) e tudo o mais.  Nas palavras de Neto, o americano chega para contribuir especialmente com rebote e defesa. O pivô brasileiro ainda não estaria preparado para isso? Não seria saudável dar um voto de confiança? Qualquer minuto disputado contra o Maccabi e a turma da NBA seria muito mais importante para o desenvolvimento do atleta do que usá-lo, a essa altura da carreira, na LDB para ele somar 22 pontos e 20 rebotes numa partida.

Por outro lado, entra na mesma questão: o Flamengo não vai disputar um troféu qualquer. O time quer ser campeão mundial, então talvez não seja o momento de falar em lapidação de um atleta.  Como time de ponta nacional, ainda se reestruturando como clube, o Fla hoje difere muito de um Pinheiros, por exemplo: suas metas estão basicamente voltadas para o adulto. Ainda não há um fluxo de continuidade em seu departamento de basquete. Sem ironias: talvez não faça muito sentido, mesmo, pensar no aprimoramento de um talento como o de Felício. Eles jogam para agora, e não custa lembrar: o pivô não é nem mesmo uma cria da base rubro-negra, não foi alguém trabalhado por anos e anos na Gávea. Saiu do Minas para os Estados Unidos e voltou contratado.

Da mesma forma que o clube acertou com Caracter agora.

Que fique claro: essa é uma crítica pontual a uma contratação pontual, que se explica, mas, ao meu ver, é exagerada. Sobre o time rubro-negro em si, não há muito o que contestar depois de entupir sua sala de troféus  nos últimos anos. A essa altura, todavia, pode ser que 85% dos basqueteiros flamenguistas que tenham aberto acidentalmente esse artigo já tenham parado na metade, talvez pês da vida. Eles querem mais é que o Caracter e o Flamengo contrariem tudo isso e façam valer a aposta.

E que, de repente, a gente fique apenas falando de futebol, mesmo.


Negócios da NBA: jogador é trocado 4 vezes em 2 meses
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Giancarlo Giampietro

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

O mundo da NBA se faz com grandes partidas e muito talento, reunindo os melhores atletas do mundo. Isso não se discute. Mas, fora das quadras, a liga norte-americana também é sustentada por muitos pormenores burocráticos, que os cartolas dos clubes vão descobrindo e explorando ao máximo em busca de algum trunfo que lhe ajudem na montagem de seus elencos, na tentativa de superar a concorrência.  A história do ala Scotty Hopson casa bem esses dois lados.

Desde que a temporada 2013-2014 acabou, o jogador de 25 anos foi trocado não uma, não duas, mas quatro vezes! De Cleveland para Charlotte, de Charlotte para New Orleans, de New Orleans para Houston e, por fim, de Houston para Sacramento, pelo qual foi dispensado nesta segunda-feira. Tudo isso em três meses. E como diabos uma ciranda dessas acontece?

Primeiro é preciso entender o tipo de contrato que Hopson fechou com o Cavs, na reta final da temporada passada.

O gerente geral David Griffin havia acabado de assumir a gestão do clube, arregaçando as manguinhas. Seu plano não só era deixar a equipe mais competitiva em busca de uma tão sonhada cobrada vaga nos playoffs pelo proprietário Dan Gilbert, como arrumar a casa para o mercado de agentes livres e trocas de há pouco. Esse mesmo, em que fecharam negócios com LeBron James e Kevin Love.

Hopson se encaixava nesse quebra-cabeça pensando mais na segunda parte do plano. Tanto que só foi acionado pelo técnico Mike Brown em duas partidas de 2014, mesmo que tenha ganhado a bolada de US$ 1,4 milhão para assinar por 17 dias de campeonato. Sim, isso, mesmo. Por apenas 17 dias e seis minutos jogados, ele faturou quase o dobro do que o calouro australiano Matthew Dellavedova vai ganhar  por todo o próximo campeonato.

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Esse valor, no entanto, fazia parte de um truque mais amplo de Griffin. O vínculo assinado foi de cerca de US$ 2,8 milhões por aquele restinho de temporada e uma segunda adicional. Com um detalhe: o segundo ano não tinha nem mesmo um tostão furado garantido. É o que podemos chamar de um contrato “oco”– está ali, é real, mas sem substância alguma, uma vez que poderia ser anulado a qualquer momento, bastando exercer uma cláusula.

Desta forma, o Cavs forjou quase que instantaneamente o famoso “expiring contract”, aquele que serve para facilitar a execução de trocas – e haja troca! –, uma vez que o clube do outro lado poderia pegar o calhamaço, picotá-lo e jogá-lo no lixo mais próximo, poupando alguns milhares de dólares no caminho. Houve quem criticasse a medida. Não por ser anti-ética, nem nada disso. Mas por seu preço salgado: a franquia estava pagando US$ 1,4 milhão para Hopson para gerar um trunfo que eventualmente lhe serviria em uma negociação.

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

Segundo Mark Deeks, jornalista inglês que pilota o ShamSports.com, especialista nas minúcias do teto salarial da NBA, o dirigente poderia ter trabalhado em artimanha semelhante por apenas (coff! coff!) US$ 131 mil. Bastaria assinar com qualquer veterano que tivesse mais de dez anos de experiência na liga para o mesmo período e dar a ele o mesmo contrato sem garantias na sequência.  Acontece que, como nota o Akron Beacon Journal, Griffin não descartava manter Hopson em seu elenco, se nenhum negócio interessante se manifestasse. Mas foi barbada.

O Hornets, ex-Bobcats, foi o primeiro a receber o ala e seu contrato maroto, mandando o pivô Brendan Haywood e o ala-pivô calouro canadense Dwight Powell para Cleveland. A ideia de Cleveland era conseguir um jogador de contrato mais caro e também por expirar (são US$ 10,5 milhões nada garantidos para 2015-16). Para quê? Acho que muito mais pelo fato de que Haywood pode ser envolvido em alguma supertroca daqui para a frente (usando seus US$ 10,5 milhões “ocos”) do que para ajudar Anderson Varejão a proteger a cesta. Ao mesmo tempo, adicionaram um atleta de potencial para ser desenvolvido.

Um dia depois de adquirido pelo Charlotte, Hopson foi repassado para o New Orleans Pelicans, naquela negociação que só vai confundir o torcedor mais aearado. Era Hornets, ex-Bobcats, tratando com o Pelicans, ex-Hornets. Ah, e uma coisa: em todas as trocas de Hopson, o lateral Alonzo Gee foi junto. Quem precisava do contrato dessa vez era o time de Nova Orleans, para incluí-lo no parágrafo abaixo. Para o clube de Michael Jordan, valeu a pena: em vez de simplesmente cortar o salário do atleta, MJ ainda descolou alguns milhares de dólares para pagar uma rodada de golfe para seus amigos e ainda pode ter sobrado um troco para uma caixa de charutos cubanos.

A terceira troca, bastante complexa, envolveu, então, o Houston Rockets e o Washington Wizards, no rolo que mandou Omer Asik para ser o segurança de Anthony Davis em N’awlins e trouxe Trevor Ariza de volta ao Texas. O Pelicans precisava do contrato de US$ 1,4 milhão de Hopson para fechar as contas de acordo com as regras da liga. O Rockets ainda ganhou uma escolha de primeira rodada do Pelicans e pagou US$ 1,5 milhão como compensação.

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Por fim, na semana passada, o Rockets encaminhou o pacote para Sacramento e recebeu veteraníssimo Jason Terry e algumas escolhas de segunda rodada, que pode ajudar aqui e ali o Sr. Barba e o James Harden na busca por (mais) respeitabilidade na duríssima Conferência Oeste. O Kings simplesmente queria se livrar do salário de Terry, concordando em dispensar Hopson de cara. O americano já tinha um trato encaminhado com o Brindisi, da Lega Basket italiana.

E o que isso tudo quer dizer a respeito de Hopson, o jogador? Que ele não tem valor para nada?

Não é bem assim: ninguém marca 15,0 pontos por jogo em seu primeiro ano de Euroliga de graça, como ele havia feito pelo Anadolu Efes. Acontece que o atleta chegou a um Cleveland Cavaliers em meio a esse processo esquizofrênico de reformulação, no meio da temporada, em que apostaram várias escolhas de Draft para ter Luol Deng e Spencer Hawes, mas nem assim conseguiram brigar pela oitava colocação numa Conferência Leste anêmica. Queriam ganhar, mas só perdiam, e, no meio dessa confusão toda, aparece esse ala vindo do basquete europeu, sem fanfarra.

Pouco badalado, é verdade, mas só se formos falar de um Scotty Hopson profissional. Sete, oito anos atrás, sua versão adolescente era considerada uma das grandes promessas do High School americano. Aquele tipo de exposição que atinge a garotada por lá desde cedo e que, se não bem explicada, pode mexer com a cabeça do jogador. Algo que aconteceu com nosso rapaz de tantas trocas. Hopson foi recrutado pela universidade do Tennessee e falhou em deixar sua marca por lá. Mas não foi algo que lhe ocorreu quando decidiu se candidatar ao Draft da NBA de 2011. Um processo delicado no qual aquilo que você mostra fora das quadras também pode valer muito. “Aquele cara não é do mesmo planeta que o resto de nós”, disse ao DraftExpress um gerente geral, assustado com o lunatismo do jovem.

Em quadra, o que os scouts viam era claro: um atleta de primeiro nível, capaz de maravilhar atleticamente (veja o vídeo abaixo), mas que ainda pedia muito refinamento e amadurecimento. “Enquanto ele possui ferramentas físicas excepcionais para um ala de NBA e mostra flashes de habilidade da mesma forma, Hopson ainda parece sentir falta de polimento e de uma abordagem mental consistente, além de uma compreensão geral  do jogo para que possa contribuir de modo eficiente jogo após jogo”, escreveu o DX, na época.

Ignorado no Draft, sem ofertas, o ala teve de escolher entre a D-League ou o dinheiro de ligas menores da Europa. Partiu para outro mundo. Jogou na Grécia, pelo Kolossos Rodou, em Israel, pelo Hapoel Eilat, e, aos poucos, numa história bacana, foi progredindo em quadra e elevando sua cotação, até chegar a um time de Euroliga, o Anadolu. No torneio continental, fez uma primeira fase excepcional até chamar a atenção devida da NBA – e de David Griffin especificamente. Mal pôde acreditar quando recebeu a proposta do Cavs.

Não só pelo dinheirão quer recebeu, muito mais do que ele ganhou em qualquer temporada na Europa, segundo o Akron Beacon Journal. Mas também por essa coisa de sonho realizado. Todo jogador americano quer a grande liga, né?  “Apenas continuei persistente, tendo fé de que, cedo ou tarde, chegaria aqui. Mesmo que não chegasse, a principal coisa que queria fazer na minha carreira era maximizar meu potencial. O sonho era sempre entrar na NBA, e isso finalmente aconteceu para mim. Estou curtindo o momento”, afirmou, durante sua breve passagem por Cleveland.

Desde então, Hopson só pôde curtir ver seu nome em negociações atrás de negociações, até se dar conta de que seu momento de NBA durou por apenas seis minutos, mesmo, mas valendo US$ 1,4 milhões. Como ele mesmo aprendeu. Existe o jogo, sim. Mas, no seu caso, esta aventura teve muito a ver com os negócios:

 


O Fantástico Mundo de Ron Artest: Pandinha amigo no pé
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers. E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo diário absurdo de informações, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

A saga de LeBron James na volta a Cleveland, os quilos de especulações em torno de Kevin Love e o racismo de Don Sterling foram certamente as líderes em manchetes nos últimos meses desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo. Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

* * *

artest-panda-friend

Poxa vida, gente, já se passou mais de um ano desde a última atualização desta série. Período no qual centenas de ursos panda hibernaram e já saíram de seus esconderijos, irradiantes que só, importunando o Pequeno Pônei do Galhardo até não poder mais… Isso, claro, se os pandas hibernassem. Afinal, nem urso eles são. Ou são? A polêmica é grande na comunidade científica, e a classificação desses bichinhos mimosos já foi mais reescrita do que plano de governo em época de patrulha online 60/60/24/7. Melhor a gente nem mexer nesse vespeiro. Informalmente, devido ao apego dos anos, aqui eles serão tratados como urso-sim-pronto-acabou-e-para-sempre.

Vocês sabem, a essa altura não é novidade nenhuma que nosso anti-herói estava afim de mudar seu nome outra vez, assumindo o codinome de Amigo dos Pandas, uma vez que iria jogar na China – terra de Yao Ming, Zizão, Stephon Marbury e – agora também de – Andray Blatche. E de pandas, claro. Muitos pandas, que ganharão a proteção especial de um ala que já foi muito encrenqueiro, mas que ultimamente é todo paz e amor. Notem que ele passou um ano inteiro em Nova York, sua terra natal, sem cair em polêmica alguma.

Ainda assim, sua produção em quadra aparentemente já não sustentaria um contrato de NBA, nem mesmo com o Mestre Zen de volta ao Knicks. Toca, então, faturar um dindim na China, assinando contrato com o Sichuan Blue Whales valendo US$ 1,4 milhão. As baleias azuis e os ursos pandas: aparentemente Ron-Ron não está nem aí para essa coisa de conflitos de interesses.

Não está claro se ele dessa vez decidiu literalmente mudar seu nome, com tapetão e tudo – como nos tempos de #mettaworldpeace, ou se ele simplesmente adotou “A Pandas Friend” espiritualmente. Ou comercialmente, que ninguém é de ferro. Já devidamente posicionado em Sichuan, província ao Sul do vasto território chinês, Ron Metta Pandas Artest World Peace Friend apresentou os modelos ursonalizados de tênis que vai usar durante a temporada:

Pandas Friend, Artest, Metta, tênis, China

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Uma graça, né?

Agora, antes de vocês aí, desprovidos de coração, se perguntarem como diabos ele pretende jogar com um calçado desse, saiba que ele vai só vai entrar em quadra com o pisante dessa maneira. Antes do tapinha inicial, as coisas mudam. “Antes de cada jogo, vou estar calçando o tênis branco ou o preto. A parte de cima tem uma cabeça de panda, que é removível. Vou tirá-lo e jogá-lo para um amigo na torcida. A pessoa que o pegar será o Amigo dos Pandas do dia”, explica o jogador ao Courtside Access.

Sinceramente, nada a acrescentar além disto: se este foi o último capítulo da série, não poderia ter encerrado da melhor forma.


Em movimento intrigante, Brasília contrata ala ex-NBA
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Giancarlo Giampietro

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

É difícil redigir manchetes, sabia? Ou títulos. Elas são a mesma coisa, basicamente, mas “manchete” carrega muito mais peso do que “título”, como o pai dos burros – o  atencioso pai de todos nós– conta. “Manchete é o título principal numa edição de jornal” e pode vir “em caracteres grandes, como título de uma notícia sensacional”, na descrição do Michaelis.

Esse aqui de cima vale como título, no qual para muita gente deve se destacar o “ex-NBA”. Que é um tanto sacana, admito, uma vez que o ala americano Darington Hobson, contratado no final de semana pelo Brasília, disputou apenas cinco jogos pela grande liga. Cinco jogos? Ex-NBA? Sensacionalismo na certa. Pois é. Mas convido o amigo e corajoso leitor a embarcar comigo se concentrar mais na primeira parte da frase, no tal do “movimento integrante”. Mais genérico, mas que nos ajuda a contar melhor essa história.

São dois pontos a nos intrigar, na verdade.

Primeiro que Hobson é um jogador muito talentoso, que vai completar 27 anos daqui a uma semana, e que tem tudo para causar um grande impacto em quadras brasileiras por um time de ponta;

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Segundo que, mesmo que tenha ficado muito tempo em quadra  pela NBA, isso ninguém vai lhe tirar de seu currículo, e ainda é muito difícil encontrar alguém com essa grife jogando por essas bandas. De qualquer forma, não é necessariamente o carimbo que importa mais nessa transação. O que pesa mais é o simples fato de os clubes do mercado brasileiro parecerem um pouco mais antenados do que o habitual. Em vez de ficar apenas com a rebarba da rebarba, temos visto algumas contratações um pouco mais relevantes em cenário internacional, que exigiram a atenção de veículos especializados lá fora.

A repatriação de Rafael Hettsheimeir pelo Bauru pode não ser a melhor notícia para os fãs do pivô brasileiro, que talvez esperassem um pouco mais dele, mas é excelente para Bauru e a liga nacional. Mais relevante ainda é a chegada de um craque como Walter Herrmann ao Flamengo – outro ex-NBA, mas que definitivamente tem muito mais em seu histórico profissional a apresentar do que a passagem de três anos pelos Estados Unidos. Campeão olímpico, MVP na Espanha, um baita jogador, ainda que em fase final de carreira. O mesmo Fla que parece ter acertado também no fim de semana a contratação de Derrick Caracter, pivô ex-Lakers (sobre a qual falaremos mais nesta semana, esperando a oficialização, já com a ressalva de que Caracter só disputaria a Copa Intercontinental contra o Maccabi e os amistosos nos Estados Unidos).

Enfim, são quatro contratações que têm muito mais representatividade no mercado da bola (ao cesto). Entre elas, falemos agora um pouco mais sobre a de Hobson, que chega para reforçar consideravelmente a rotação perimetral do Brasília. É preciso ver com qual mentalidade o americano chega ao cerrado. Se chega com perspectiva de dominar (esfomear, leia-se), se está animado, ou o quê. Nunca se sabe. Se for o mesmo Darington de sempre, deve contribuir com algumas características muito interessantes.

Vindo do modesto nível do Junior Colleges, Hobson entrou no radar da NBA durante sua temporada de junior, pela Universidade de New Mexico, em 2009-10. Os Lobos, como são conhecidos, se tornaram O Time da conferência Mountain West nos últimos anos, deixando San Diego State (de Kawhi Leonard) e BYU (Jimmer, Baby, Luiz Lemes e Tavernari) para trás. Têm presença constante nos mata-matas da NCAA, mas com pouco sucesso nacional.

Hobson enterra: não sei bem o quanto de "show" o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília

Hobson enterra: não sei bem o quanto de “show” o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília, para tornar a equipe mais coesa

Em sua campanha com a equipe, o ala se tornou o primeiro jogador da história a liderá-la em pontos (15,9), rebotes (9,3) e assistências (4,6). O que já nos conta muito sobre a versatilidade deste atleta canhoto de 2,01 m de altura e corpo lânguido. Ganhou o prêmio de destaque da MWC, um estrondo, ainda mais se considerarmos que foi sua primeira temporada em um campeonato decente, por um time de ponta.

Hobson pode pontuar de diversas maneiras – chute de fora, partindo para a cesta, ainda que de forma errática. Mas, creio, seu diferencial esteja realmente em sua visão de quadra e em seu potencial como “homem de ligação” num quinteto, fazendo de tudo um pouco para tornar um time uma unidade mais coesa. Mantendo esse perfil, é alguém que poderá assessorar, e muito, o armador Fúlvio na organização ofensiva – os chutadores Arthur e Giovannoni devem gostar. Segue aqui, em inglês, um scout de seus tempos de universitário, cortesia do DraftExpress.

Em 2010, Hobson foi escolhido na posição 37 do Draft, pelo Milwaukee Bucks, aos 22. Sua cotação chegou a ser mais alta, mas uma insistente lesão na virilha o atrapalhou bastante no processo de recrutamento. as mesmas dores que o impediram de disputar a liga de verão de Las Vegas pelo clube. Depois de fazer um exame detalhado, os médicos do Bucks descobriram que o jogador, na real, tinha um desalinhamento nos quadris. Acabou passando por duas cirurgias e ficou fora de toda a temporada, tendo seu contrato rescindido. Esse é um fator decisivo para entendermos sua condição de “ex-NBA”.

A franquia do Winsconsin ainda foi leal ao jovem em que apostou. Uma vez recuperado das operações, preparou em 2011 um novo contrato, de dois anos, por US$ 1,4 milhões, mas parcialmente garantido. O ala, porém, só ficou no time até fevereiro de 2012, sem conseguir mostrar muito – foi nesse período que aconteceram suas cinco partidas pela liga, com resultados pouco satisfatórios em uma situação obviamente pouco favorável. Para constar, seus concorrentes por tempo de quadra eram Stephen Jackson, Carlos Delfino, Shaun Livingston e Tobias Harris.

Dispensado, foi batalhar na D-League. Naquela temporada, jogou pelo Fort Wayne Mad Ants – sério concorrente do Rio Grande Valley Vipers como nome mais absurdo de franquia norte-americana. Depois, em 2012-2013, foi companheiro de Scott Machado no Santa Cruz Warriors, pelo qual teve médias de 9,2 pontos, 5,7 rebotes e 4,3 assistências – de novo a versatilidade dando as caras. No ano passado, em busca de melhor pagamento, o americano topou jogar fora do país pela primeira vez, defendendo o Hapoel Migdal Haemek, da segunda divisão israelense, com médias de 15,4 pontos, 10,5 rebotes e 3,3 assistências em 12 jogos. Antes de mais nada, não riam: “segunda divisão israelense” não parece tão ruim quanto parece. Estamos falando de um país pequeno, mas de forte estrutura e competitividade interna bas-que-te-bo-lís-ti-ca.

Agora, aparece Brasília na vida do americano, que, em seu contrato, tem cláusulas que o liberariam para a NBA ou para a Europa, caso apareça alguma proposta que considere mais valiosa. Se no início de carreira como profissional, seus problemas físicos foram sérios o suficiente para abalar suas pretensões, no NBB, agora em forma, Hobson tem o necessário para se destacar, com um estilo que está longe de ser explosivo, mas bastante fluído. É daqueles jogadores que faz o basquete parecer fácil – como no caso de Marquinhos, por exemplo. Alguém que pode ajudar o Brasília a lutar novamente pelo títulos. Títulos que, aí, sim, renderiam manchetes.

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Curiosidade sobre o Draft de 2010 da NBA, que só reforça o quão brutal é a concorrência para ter essa sigla em seu currículo. Dos 30 atletas selecionados na segunda rodada daquele ano, apenas dois estão na liga no momento com contratos garantidos. Dois! Os felizardos são o inigualável Lance Stephenson, agora do Charlotte Hornets, e o já moribundo Landry Fields, que cumpre seu último ano de vínculo com o Toronto Raptors, quase fora do baralho, mas um cara decente, que pode dar uma força a Bruno Caboclo nos treinos.De resto, temos o pivô Jarvis Varnado no Philadelphia 76ers, sempre  à mercê dos planos mirabolantes do gerente geral Sam Hinkie.

Outros dois jogadores estariam nos Estados Unidos se quisessem e seus clubes europeus permitissem: o pivô alemão Tibor Pleiss, hoje do Barcelona, cujos direitos pertencem ao Oklahoma City Thunder, e o ala-pivô sérvio Nemanja Bjelica, do Fenerbahçe, destaque pela Copa do Mundo, vinculado ao Minnesota Timberwolves. São dois caras bem pagos na Europa, mas que logo, logo devem cruzar o Atlântico. Da mesma safra de estrangeiros selecionados? Paulão Prestes, também pelo Wolves.

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Se não estou deixando passar alguém, o NBB 7 vai começar no dia 31 de outubro com quatro jogadores que com experiência na NBA, em partidas oficiais. Alex, Marquinhos e Herrmann fazem companhia a Hobson. Fica pendente uma quinta vaga para Rafael “Baby” Araújo, caso feche mais um contrato.

Outros atletas que já passaram por lá e cá, com uma bela ajuda da turma no Twitter: Leandrinho, o armador Jamison Brewer, ex-Pinheiros e Pacers, o pirado Rashad McCants, aposta ex-Timberwolves totalmente furada do Uberlândia, o ala-armador Jeff Trepagnier, ex-Liga Sorocabana e Nuggets, e os alas Eddie Basden, que até que se deu bem em Franca, Bernard Robinson, ex-Minas e Basquete Cearense, e Chris Jefferies, ex-Raptors e Minas.

Destes, McCants era o mais talentoso e gabaritado, sem dúvida, mas a dor-de-cabeça que ele causa fora e dentro de quadra o tornam proibitivo. Comparando com seus antecessores, Hobson seria, então, o mais promissor dos americanos importados.

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De jogadores draftados, mas que não chegaram a disputar partidas oficiais pela NBA, que tenham dado as caras por aqui, temos Paulão e o pivô DeVon Hardin, ex-Basquete Cearense.

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O caminho inverso, saindo do NBB para a NBA, apenas dois fizeram: Leandrinho, saindo do Flamengo e do Pinheiros, em curtos pit-stops, e Caboclo, esse, sim, a grande história.


Leandrinho x Jordan Crawford: as trilhas se divergem
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho x Jordan Crawford: favor não confundir

Leandrinho x Jordan Crawford: favor não confundir

Eles já foram trocados um pelo outro. Estavam na lista de alvos do Miami Heat neste ano. Agora, uma semana depois de Leandrinho ser anunciado como jogador do Golden State Warriors, o ala-armador Jordan Crawford desembarcou na cidade de Urumqi, capital da região de Xinjiang, que empresta seu nome ao Flying Tigers. Um time da rica, mas ainda varzeana (técnica e taticamente falando) liga chinesa.

Se aceitarmos o mapa mundi em sua visão mais popular, com a Europa convenientemente localizada ao centro, os dois cestinhas estariam cada um em uma extremidade. Se for para ficar com o globo giratório, ‘só’ um Oceano Pacífico os separa. E aí estão Leandro e Crawford, bem distantes, depois de suas trajetórias se cruzarem algumas vezes na central de transferências sempre agitada da NBA.

É uma história curiosa, que ajuda a valorizar o que o ligeirinho brasileiro conquistou nos Estados Unidos. Aos 30, o veterano – um notório boa praça, festejado em todos os vestiários por onde passou – ainda tem cotação para se manter na grande liga, ainda que com preço mais barato e peregrinando de clube em clube. De 2011 para cá, já são cinco times. E aqui só cabe uma observação: assim como aconteceu no campeonato passado, Leandro assina um contrato não-garantido com o Warriors, sobre o qual falaremos mais abaixo. O americano, cinco anos mais jovem, mas com uma trajetória um tanto problemática, se vê obrigado partir para a Ásia.

Leandrinho não teve contrato renovado pelo Suns, mas segue na NBA, dando um jeito

Leandrinho não teve contrato renovado pelo Suns, mas segue na NBA, dando um jeito

Os dois jogadores ocupam basicamente o mesmo nicho de mercado: os chamados combo guards, reconhecidos pelo tino para colocar a bola na cesta, embora nem sempre eficientemente, mas que saem do banco para botar fogo no ataque. Obviamente esse é uma definição bem generalizada. Há muito que se distinguir na abordagem de cada um.

O habilidoso americano é muito mais afeito ao drible, sacudindo o marcador, enquanto seu concorrente depende mais de investidas direta, objetivas, dependendo de sua explosão física. A maneira como jogam é diferente, mas o objetivo final acaba coincidindo.

Um ano e meio atrás, por exemplo, eles foram envolvidos no mesmo negócio, mais precisamente no dia 21 de fevereiro de 2013. Justamente quando estava se fixando na segunda unidade do Boston Celtics, esquentando o motor, Leandrinho sofreu uma grave lesão, com ruptura de ligamento no joelho e tudo, que encerrou sua temporada. Danny Ainge ainda acreditava em algum sucesso nos playoffs naquela que acabou sendo a última campanha de Pierce e Garnett pela franquia e acertou uma negociação por Crawford.

O então jovem ala-armador estava desacreditado na capital norte-americana, visto como um dos personagens principais de todo o caos e o consequente fiasco do Wizards. Ainda assim, tinha esse “fogo” de que o Celtics tanto precisava. Alguém que poderia esquentar a mão em um grande jogo. Ainge confiava que a estrutura comandada por Doc Rivers e a fiscalização de seus veteranos o colocariam na linha. No fim, o time perdeu para o New York Knicks, numa despedida decepcionante para aquele grupo.

Ironicamente, vestido de verde e branco, Crawford praticaria seu melhor basquete, mas só na temporada seguinte, sob o comando de Brad Stevens. Jogando como o dono da bola – os astros haviam se mudado para Brooklyn e Rondo ainda estava lesionado. Restava, logo, ao treinador novato apostar no temperamental ex-reserva, que correspondeu. “Eu me senti em casa por um minuto. Foi a primeira vez que fiquei mais tempo em quadra, tendo a chance de enfrentar os altos e baixo e aprender como se ajustar a isso. Sabe, quando você está jogando mal e pode se recuperar. Foi muito positivo”, afirmou.

Crawford: breve passagem pelo Warriors, agora abrindo vaga para Leandrinho. Ciranda-cirandiha

Crawford: breve passagem pelo Warriors, agora abrindo vaga para Leandrinho. Vamos logo cirandar

Em reconstrução, o Celtics repassou Crawford 363 dias depois numa troca tipla que enviou o cestinha para o Warriors, outro clube que buscava reforços para sua segunda unidade, na esperança de reduzir a carga de Curry e Thompson. Seu impacto, contudo, não foi tão grande assim. Com o seu contrato vencido, foi liberado pelo time californiano para negociar com outros times. Seu nome foi especulado por uma série de franquias – entre elas o Miami Heat, ao lado de Leandrinho, que não renovou com o Suns.

O brasileiro, porém, seguiu outra direção e fechou com o Warriors, justamente para assumir, em teoria, o papel do americano na segunda linha, na rotação com Curry, Thompson e Shaun Livingston, cujas características ele pode complementar tão bem. O espichado armador tem boa visão de jogo, é uma ameaça no ataque de costas para a cesta devido a sua estatura, mas não tem chute (algo que seu novo companheiro oferece). Juntos, os dois também dão muita envergadura para a defesa de Steve Kerr, outro fator que pesa a favor de Barbosa, com quem tem bastante familiaridade, já que foi seu dirigente por muito tempo em Phoenix.

Precisa ver apenas se o paulistano realmente se enquadra nos planos do time a longo prazo. Segundo o jornalista Eric Pinus, do Los Angeles Times e do site Basketball Insider,  apenas US$ 150 mil dos US$ 915 mil de salário de Leandrinho seriam garantidos. A data para que o contrato seja validado em sua totalidade ainda não foi divulgada, mas geralmente não passa de 10 de janeiro. Até esse prazo, o Warriors poderia dispensá-lo, se assim preferir.

Estão no mesmo barco o armador Aaron Craft, um defensor implacável revelado por Ohio State, mas uma negação para arremessar, e os alas Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue, do Pelicans) e James Michael McAdoo (calouro de North Carolina, que já foi uma grande promessa, com seleção de base e tudo, mas despencou). Depois de um ano na Hungria, Holiday jogou bem pelo time de verão da franquia, já sob o comando de Kerr. Seria o maior concorrente – mas talvez seja exagero até empregar esse termo.

Na verdade, o Warriors já tem no momento 13 contratos garantidos, o mínimo necessário para carregar numa temporada. Entre esses contratos está o jovem sérvio Nemanja Nedovic, armador que vem falhando em deixar sua marca nos Estados Unidos. Para piorar, ainda sofreu uma lesão durante os treinamentos com sua seleção e foi cortado da Copa do Mundo. Ainda que Nedovic não passe segurança alguma nesse momento, o  gerente geral Bob Myers não precisa efetivar o contrato de nenhum dos atletas do parágrafo acima, diga-se.

Kerr reencontra Leandrinho em Oakland: ótima notícia para o brasileiro

Kerr reencontra Leandrinho em Oakland: ótima notícia para o brasileiro

Mas é extremamente improvável que tenham acertado com um jogador da experiência de Leandrinho apenas para avaliá-lo de perto, e pronto. Presume-se que o aspecto provisório de seu vínculo tem mais a ver com os recentes problemas físicos e lesões do atleta do que por qualquer desconfiança técnica. Durante a Copa, o paulistano comprovou que ainda tem valiosos recursos para oferecer e que está em ótima forma. O ligeirinho se enquadrou no sistema um tanto pétreo desenhado por Magnano e não precisou tentar ser o herói de torneios passados. Num time com Curry e Thompson, certamente não se espera nada nessa linha.

Crawford, por outro lado, é um cara que se sente muito mais confortável para produzir com a bola em mãos. Se a sua criatividade e o seu talento no jogo de um contra um não se discutem, nem sempre se encontra uma boa vaga para acomodá-lo. Não sabemos se ele recebeu alguma oferta concreta na NBA. Aparentemente, o único cheque com um número extenso o bastante para satisfazê-lo veio dos Tigres Voadores de Xinjiang. Fala-se em US$ 2 milhões, mais que o dobro do que vai ganhar o brasileiro. Na China, também vai ter a chance de produzir aquelas estatísticas só vistas em videogame. Obviamente, não seria a primeira escolha dele. Também não dá para dizer se aceitaria um contrato nos moldes do que Leandrinho assinou. Os dois estão realmente em pontos bem diferentes de suas carreiras, e não só geograficamente falando. Que não sejam confundidos, mesmo.


Atualização: destinos de Ayón e Raduljica definidos
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Giancarlo Giampietro

Só para não deixar batido, tá? Falamos esta semana sobre alguns destaques da Copa do Mundo que ainda estavam desempregados. Depois de Joe Ingles acertar com o Los Angeles Clippers, outros dois definiram seus clubes para a próxima temporada entre esta quinta e a sexta-feira: Miroslav Raduljica e Gustavo Ayón.

O gigante-imenso-mesmo-e-barbudo vice-campeão mundial pela Sérvia anunciou nesta sexta que vai, mesmo, para a China. Na ausência de alguma boa oferta da NBA ou de um clube de ponta europeu, optou pela via mais fácil e rentável: receber US$ 2 milhões para defender o Shandong Lions, antigo Flaming Bulls (daí a confusão na Internet citando os dois apelidos para um mesmo time). E vamos lembrar: Raduljica é ex-Milwaukee Bucks, mas não está deixando o Bucks. Está deixando o Los Angeles Clippers, que teve seu contrato por uns cinco minutos talvez, antes de Doc Rivers assinar a papelada para dispensá-lo. A temporada chinesa termina antes que a da liga americana, então tem isso: se algum time estiver precisando de um troglodita na reta final, vai estar disponível, embora seu encaixe nos Estados Unidos seja mais difícil. Não são mais tempos para pesos pesados deste porte.

Já o grande herói mexicano dos tempos modernos, maior até que o goleiro Guillermo Ochoa e Chicharito Hernández, vai defender uma agremiação muito mais nobre: o Real Madrid. Ayón pagou do seu bolso, mesmo, a multa rescisória de 290 mil euros para o Barcelona, que tinha seus direitos na Europa, e fechou um vínculo de três temporadas com a equipe merengue, valendo 1,8 milhão de euros (bruto). Bela contratação do Real, que agora tem para seu garrafão esse jogador que a NBA subestimou, ao lado de Ioannis Bourosis, Andrés Nocioni, Felipe Reyes, Marcus Slaughter e Salah Mejri. Rotação versátil e de impacto. Alguém muito bom não vai nem ver a luz da quadra. Realmente esperava que ele pudesse assinar com o Spurs. Seria um excelente encaixe, mas sorte de Pablo Laso e do Real.

 


Febre filipina: Robin Lopez se candidata para vaga de Blatche
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Giancarlo Giampietro

Lopez tenta bloquear Blatche e uma história bonita de redescoberta

Lopez tenta bloquear Blatche e uma história bonita de redescoberta

Na madrugada californiana, enfrentando o fuso horário ingrato que separa Madri de Fresno, o pivô Robin Lopez deixou a emoção das histórias e quadrinhos e animes de lado para se entregar a outro tipo de aventura: acompanhar a seleção filipina de basquete durante a Copa do Mundo disputada na Espanha. O time mais fora da linha mais desajustado da competição, no bom sentido, valia a perda do sono.

Agora, o cabeleira do Portland Trail Blazers, irmão gêmeo do Brook tem mais um problema para encarar o travesseiro: está sonhando acordado em participar do programa dos chamados Smart Gilas. Na maior cara-de-pau, já pensa em desbancar Andray Blatche como a estrela de NBA da equipe asiática, que foi eliminada na primeira fase do Mundial, mas não antes de deixar sua marca. Argentina e Croácia que o digam.

Durante uma visita promocional em solo filipino, Lopez abriu seu coração para a mídia local. “Se essa coisa toda de Andray Blatche não funcionar, estou aqui, livre para os Gilas”, afirmou o espigão, guarda-costas de LaMarcus Aldridge, depois de um training camp em conjunto com a NBA Filipinas. Sim, não estranhem: a devoção dos filipinos pelo basquete é tão grande que pede a instalação de um escritório da liga norte-americana também por lá. É uma nação de Manny Pacquiao e de bola ao cesto.

E pensar que Balkman já foi contratado para jogar na liga filipina e aprontou um barraco por lá. Blatche? Conduta exemplar

E pensar que Balkman já foi contratado para jogar na liga filipina e aprontou um barraco por lá. Blatche? Conduta exemplar

Antes de causar qualquer incidente diplomático, o bem-humorado e excelente defensor Lopez se aprontou em dizer que seus mais íntimos desejos não significam uma apunhalada nas costas de Blatche, que jogou com seu irmão em Brooklyn nos últimos dois anos. “Não desejo mal nenhum para Dray, porque obviamente ele deu seu coração para aquele time, além de se encaixar bem na equipe”, reparou.

Mas não tem jeito, galera: uma vez em contato com a febre filipina, isso toma conta de você. Mesmo que diga agir em boa fé em relação a Blatche, o pivô do Blazers simplesmente não conseguiu se controlar durante a entrevista. “Mas eu adoraria jogar (pelo país). Agora sei da paixão que essas pessoas têm pelo basquete. Adoro a cultura daqui”, disse.

E não é só isso: de maneira sorrateira, num ardil de supervilão,  Lopez também fez questão de indicar aos Gilas que seria ainda mais filipino que Blatche. Vamos lembrar: o pivô que encantou a todos na Copa do Mundo dizia, com a boca semicerrada, que seu pai teria uma autêntica ascendência. Ninguém acreditou. Agora, surge esse atleta do Blazers revelando  vínculos mais modestos, mas que podem realmente fazer a cabeça das pessoas. Ok, ok, ele não tem sangue de lá. Mas avisou que um de seus melhores amigos, Ryan Reypon, de quem foi companheiro de time no high school…  já até jogou na D-League filipina! Vixe. Imaginem a reação de Blatche quando seus espiões asiáticos lhe passarem essa nota. Uma bomba atômica em seus planos de adoração pública em Manila.

É ou não é de se ficar aturdido?

Antes de mais nada, e até para ajudar a digerir esse parágrafo todo, vale o reforço: sim, as Filipinas também têm sua D-League oficial, com 12 times inscritos. Posto isso, gostaria de saber o que o técnico Chot Reyes pensa a respeito disso. A resposta veio na lata: “chegou tarde”, ele afirmou. E de que forma aqueles tampinhas corajosos e chutadores malucos da seleção filipina que quase fez história na Espanha vão receber esses despachos no retorno triunfal para casa? Pois a verdade é que Blatche virou parte da família nacional filipina, superando qualquer desconfiança que seu turbulento passado nas quadras pudesse despertar, um passado que força vaias dos tristes e rancorosos torcedores de Washington a cada vez que ele enfrenta o Wizards.

 “O tipo de relacionamento que ele construiu com os caras da equipe, em um mês e meio, e o empenho deles nos jogos e treinos realmente disseram muito sobre o Andray. Ele estava comprometido desde o Dia 1”, afirmou o capitão da equipe, Jim Alapag, o maior terror de Julio Lamas, ao HoopsHype. “Nós todos sabíamos (de seus problemas), mas isso foi há um tempão, e não queríamos julgá-lo pelo que aconteceu, mas apenas por seu desempenho e sua atitude hoje, seu comprometimento. Fiquei muito feliz com o modo como se comportou, chegando o time assim tão de repente, realmente lutando por todos nós”, completou.

Blatche e Alapag, unidos para sempre

Blatche e Alapag, unidos para sempre

Coisa linda. Vocês percebem que foi uma história de amizade e descobertas, em que o pivô contratado naturalizado entendeu todos os erros que já cometeu, os deixou para trás e participou do sonho de um verão filipino. Se ele ganhou mais de US$ 1 milhão para defender a seleção na Copa, mais que Leandrinho pode ganhar em uma temporada inteira pelo Warriors, está bem claro, pelas palavras de Alapag, que isso não importa. A camaradagem vem em primeiro lugar.

Blatche foi proibido pela sucursal olímpica da Ásia de disputar os Jogos continentais deste ano, já que nunca morou nas Filipinas nem por 24 horas – ao passo que o comitê exige que um atleta naturalizado tenha passado um mínimo de três anos em seu país adotivo. A Fiba, entidade sem fins lucrativos, muito mais apegada ao aspecto humano do esporte, disse que era bobagem isso, que deixassem o pivô seguir sua jornada. Mas não teve jeito.

De modo que Blatche teve de embarcar solitário de volta a Miami, onde tem residência, com uma bagagem cheia de lembranças e de adrenalina a mil. Ainda está sem contrato na NBA, mesmo que tenha realizado em Brooklyn as duas melhores temporadas de sua carreira – saindo do banco para produzir de maneira extremamente eficiente. Ainda assim, o gerente geral do Nets não quer nem saber de ouvir falar dele. Existe a pequena possibilidade de ele jogar pelo Heat, mesmo, de quem recebeu uma sondagem, mas pode ser que fique mais um tempo inativo, desempregado, entregue aos caprichos da noite, digamos. Seus problemas de insônia têm outra natureza.

E agora vem essa: Robin Lopez, com seu salário de US$ 6 milhões garantido para a próxima temporada, como peça integral de um time competitivo como o Blazers, feito um Lex Luthor, disposto a usurpá-lo da condição de o mais filipinos de todos os pivôs em atividade. Entende-se o apelo, mas o posto já está ocupado. Boa noite, e durma bem.

Blatche e toda uma nação por trás

Blatche e toda uma nação por trás


Ingles no Clippers? Zoran no Suns? Copa influencia o mercado
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo de basquete acabou no domingo, mas parece que foi há meses, né?

Ok… Não chega a tanto. Foram só dois dias, mesmo.

Ainda assim, galera, já vale atualizar o que se passa na vida de alguns dos personagens do torneio envolvidos com o mercado da bola (ao cesto).

Na NBA as coisas estavam aparentemente todas acertadas. Como se precisássemos apenas de uma resolução para o impasse entre Phoenix Suns e Eric Bledsoe – o melhor jogador americano sem contrato no momento –, além de uma definição de Ray Allen: o veterano ala vai, ou não, recorrer ao INSS como aposentado? Acontece que a Copa, este torneio que parte da liga americana tenta rotular na marca como algo desinteressante, gerou mais algum movimento nas franquias que ainda têm vagas em seus elencos. Da mesma forma que acontece na Europa e na China. A prioridade da maioria dos agentes livres, claro, é jogar em solo ianque. Mas esses acordos não são tão simples assim.

Vejamos:

Joe Ingles (Austrália)

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Essa foi a nota quentinha da terça-feira, cortesia de Marc Stein, um bastião do ESPN.com. O ala canhoto acertou com o Los Angeles Clippers, que abriu uma vaguinha em seu perímetro ao se livrar do contrato de Jared Dudley, despachado para ser um mentor de Jabari Parker e Giannis Antetokounmpo em Milwaukee. Ainda não está claro se o seu contrato é garantido, ou não. Antes do tweet de Stein, o Courier Mail, de Brisbane, havia entrevistado este boomer, que não quis revelar os clubes interessados, mas disse que as chances de jogar nos Estados Unidos eram de 99%. Mas com um detalhe: provavelmente com um contrato sem garantias. Daqueles em que se estipula um prazo para a franquia decidir se ficará, mesmo, com o atleta por toda a temporada. Curioso que Ingles, campeão da Euroliga pelo Maccabi, vindo de médias de 11,4 pontos, 3,4 assistências e 3,2 rebotes no Mundial, encare um desafio desses. Em vias de completar 27 anos, deve estar considerando aquela coisa de agora-ou-nunca. “Vou tentar entrar no time, mas isso por si só vale como motivação para mim. Estou empolgado. A situação para a qual vou é a de um time que tem me acompanhado”, afirmou. Em L.A., Doc Rivers tem, no momento, as seguintes opções para o perímetro, lembremos: JJ Redick, Jamal Crawford, Matt Barnes, Reggie Bullock e o calouro CJ Wilcox (excepcional arremessador vindo da universidade de Washington).

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic (Eslovênia)
O irmão do Goran virou febre entre os scouts da liga americana. Incrível. Vi alguns jogos do ala-armador esloveno na última Euroliga, e ele tem seus lampejos aqui e ali, mas está longe de ser um atleta consistente, embora já não seja tão novinho assim (25 anos). É um jogador atlético, raçudo, que ataca a cesta com fome, mas que converteu apenas 25% de seus arremessos de três na temporada passada pelo tornei continental e 28,8% pela Liga ACB. Sim, acreditem: não é todo europeu que chuta bem de longa distância, mesmo com um sobrenome desses. Em um bate-papo recente, o analista Kevin Pelton, do ESPN.com, um desses magos das estatísticas, fez a seguinte observação: “Se fosse irmão de um encanador, não sei se teria alguma chance de jogar na NBA”. Ouch. Ele fala isso com base na tradução de seus números da Europa para os Estados Unidos. Vai saber.

Fato é que o esloveno tem uma penca de times no seu calcanhar. Segundo o mesmo Marc Stein, o Phoenix Suns é quem estaria mais adiantado em negociações para tirar o atleta do Unicaja Málaga, superando Pacers e Kings. O gerente geral Ryan McDonough, que foi para Madri acompanhar os mata-matas da Copa, está fazendo de tudo para agradar ao irmão mais velho de Zoran, que vai deve se tornar um agente livre em 2015. Arizona Central confirma o interesse do time e afirma que sua multa rescisória com o clube espanhol é de US$ 1,1 milhão. Já o RealGM lista Spurs, Magic, Heat e Mavericks como times envolvidos na perseguição e dá outro detalhe: o jogador tem até o dia 5 de outubro para se liberar de seu contrato. Caso contrário, é obrigado a jogar a temporada pelo Málaga. Quem dá mais?! “Obviamente que estou interessado em jogar na NBA, mas não tem nada definido no momento”, afirma o Dragicinho. “Tudo é possível, mas por enquanto ainda sou um membro do Unicaja Málaga.”

Gustavo Ayón (México)
Já teve gente declarando amor ao pivô mexicano durante a Copa. Outra vez. Não sei quem. Agora, se você acha que o rolo de Dragic é meio complicado, a trama em torno de Ayón é digna de um quebra-cabeça para a turma de Charlie Kaufman resolver. Assim: o herói de Zapotán jogou uma temporada só pelo Atlanta Hawks e voltou para o mercado. Estava esperando mais uma oferta da NBA, que não chegou – o Spurs é que poderia se apresentar, segundo… Marc Stein! De concreto, todavia, o mexicano disse, durante o Mundial, que só havia chegado uma proposta chinesa, do Shandong. Mas aí o Real Madrid também entrou na parada, e eles estavam bem perto de acertar um vínculo de três anos. Além do mais, ele só jogaria na Euroliga, com cláusulas camaradas para migrar para os Estados Unidos, se fosse o caso. O problema é que, na Espanha, os direitos do mexicano são do Barcelona. Para ele fechar com o Real, teria de pagar 290 mil euros ao Barça. Então, no momento, o jogador estaria inclinado a ir para a China, mesmo.

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Miroslav Raduljica (Sérvia)
O quê!? O Raduljica!? Mas ele não era do Bucks?! Não, gente, não mais. Anunciado insistentemente durante toda a Copa do Mundo desta maneira, o pivô titular e um dos destaques dos sérvios no torneio, o grandalhão havia sido trocado pelo Milwaukee para o Clippers (no mesmo negócio que envolveu Dudley). Doc Rivers não tinha intenção em contar com suas trombadas e o dispensou de imediato. Então ele está no olho da rua, mesmo. Mas não vai durar pouco. Na real, o troglodita vice-campeão mundial parece estar envolvido em um sexteto amoroso com Ayón, Spurs, Real e Shandong. Sim, as coisas ficam ainda mais complicadas de desenrolar aqui, hehe. Os mesmos clubes relacionados ao mexicano aparecem também na onda de rumores em torno do pivô. Com a prata no peito, em alta no mercado como nunca antes em sua história, Raduljica ao menos diz com orgulho: “Perdemos a final, mas minha barba ainda é melhor que a do James Harden”.

Hamed Haddadi (Irã)
Por falar em Real Madrid e China… pode botar o iraniano nesta história. Aparentemente, a diretoria do clube espanhol não perdeu tempo ao ver uma série de estrelas internacionais em seu país durante a Copa. O gigante foi mais um jogador cogitado para reforçar seu garrafão, embora sua prioridade também fosse retornar para os Estados Unidos. Uma pena que Memphis não o reconheça pelos serviços prestados… A essa altura da vida, já não dá mais para acreditar num mundo justo. De modo que Haddadi está em vias de assinar com a liga chinesa, mesmo, para defender o Qingdao Double Star.

Eugene Jeter (o ursinho Puff da Ucrânia)
O armador americano, que defendeu a seleção ucraniana com 15,4 pontos e 5 assistências por partida na Copa, sempre reclamou de que nunca havia recebido uma chance real para jogar na NBA. Foi reserva do Sacramento Kings por um ano, mas foi na Europa que desenvolveu sua carreira profissional. Agora, recebeu um convite do Los Angeles Lakers para passar por um período de duas semanas de treinamento. Um sonho de criança. “Nasci em Los Angeles e cresci como um torcedor do Lakers, então é uma honra receber esse convite”, afirmou. Tudo pronto para um final feliz? Nem tanto: mesmo que o gerente geral Mitch Kupchak quisesse adicioná-lo a uma rotação que hoje tem Jeremy Lin, Steve Lin e Jordan Clarkson, Pooh Jeter não poderia – já tem contrato na China e vai honrá-lo, disse ao Beijing Times.


Cresce nos EUA movimento para limitar NBA em torneios Fiba
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Giancarlo Giampietro

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Em um texto nada celebratório sobre a conquista do bicampeonato mundial pelos Estados Unidos neste domingo, o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, praticamente decretou o fim da farra que a USA Basketball vem fazendo nos últimos anos. Farra no bom sentido: ganhando ouro após ouro para restaurar a hegemonia na modalidade. Para ele, o mundo Fiba está prestes a passar por um processo drástico de reformulação, cujo ponto principal será o êxodo dos grandes talentos da NBA. Conforme escrito aqui ontem: a maior ameaça à soberania dos Estados Unidos em cenário global hoje é interna.

Para quem não está familiarizado com o escbriba, Wojnarowski é o repórter mais quente entre as centenas (milhares?) que acompanham o dia-a-dia da NBA nos Estados Unidos. No dia do Draft, por exemplo, está habituado a cantar pedra por pedra, escolha por escolha a noite toda, minutos antes de as seleções acontecerem. Em tempos de agente livre, virou praticamente canal obrigatório de veiculação de acordos – e ameaças – de agentes e/ou dirigentes. É um cara evidentemente bem conectado que, por conta do acúmulo de furos, ganhou uma credibilidade imensa. É como se tudo o que ele escreve seja fato, ou esteja em vias de se concretizar como tal.

Então, meus amigos, anotem aí algumas de suas frases do artigo:

– A distância (entre o Team USA) e o resto do mundo aumentou novamente, e o romance de Times dos Sonhos está lentamente, mas seguramente morrendo. Competições Sub-22 são o caminho, com os melhores jogadores jovens da NBA e uma ou outra superestrela universitária sendo introduzidos para o mercado global.

– O começo do fim para a USA Basketball aconteceu naquela noite de agosto, quando Paulo George tombou na quadra, e um osso explodiu de sua carne. Foi um momento cruel e de autoanálise, e os jogadores dos EUA ainda estavam falando sobre isso no domingo em Madri. Aquela imagem foi chocante, e vai ficar na cabeça das pessoas por um looongo tempo. Será um dos catalisadores para tirar as estrelas da NBA do basquete Fiba.

– George será o ímpeto para acabar com a participação das estrelas da NBA, mas longe de ser a única razão. Depois das Olimpíadas de 2016 no Rio, a Copa do Mundo de Basquete e os Jogos Olímpicos estão destinados a se tornar um torneio sub-22, de desenvolvimento.

– “Temos de tirar nossos veteranos de lá e colocar nossos jogadores mais jovens. Já existe apoio para esta mudança, e está ficando mais forte”, afirmou um gerente geral da liga ao repórter.

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Bem, antes de mais nada, essas declarações não chegam a ser bombásticas para quem vem acompanhando gente como Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, chiando barbaridade a cada convocação das seleções internacionais nos últimos anos. A fratura exposta sofrida por George no jogo-treino interno da seleção ianque, televisionada para o mundo todo, apenas intensificou esse sentimento, por tudo o que a mídia americana tem publicado. Cada vez mais se discute e se especula sobre um limite de idade, da mesma forma que acontece com o futebol olímpico.

Em sua argumentação/exposição sobre a submergente relação entre os interesses da NBA com os da Fiba, Wojnarowski parte para um ataque frontal contra o celebrado Coach K, dizendo que seu envolvimento com a federação e a equipe nacional se deve muito mais pelos benefícios que tira disso para seu trabalho do dia-a-dia, em Duke, do que por qualquer noção patriótica. Estar envolvido com a nata do basquete norte-americano só vai lhe ajudar na hora de recrutar os melhores adolescentes do país. Mas é um tanto óbvio, não? Além do mais, fica a pergunta: um técnico que já está presente na TV o tempo todo, independentemente de uma medalha de ouro num Mundial, precisa disso? Dá vantagens, mas o quanto isso difere do que John Calipari vem fazendo em Kentucky, estocando talentos top 10, 20 do colegial, formando supertimes com talentos que vão dominar o Draft do ano seguinte? Exposição por exposição, influência por influência… O jogo de poder e marketing da NCAA é pesado e um tanto sujo há tempos.

Agora, se o treinador de Duke e da seleção americana tem seus próprios objetivos no trabalho com a seleção, quais são as intenções, então, das fontes anônimas por trás desse específico texto? Estão claras, né? Há muita gente querendo desvincular a NBA do mundo Fiba. Resta saber se Wojnarowski escreve em nome de uma maioria, ou se o artigo serve justamente como instrumento de… recrutamento para a “causa”.

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

A lógica por trás do argumento de limitar a idade dos atletas nos torneios é um tanto arrogante – parte do pressuposto que só a NBA importa no tabuleiro do basquete. “Tirando a seleção americana, há mais talento e interesse dos torcedores de basquete em jogos das ligas de verão do que neste evento”, disse um gerente geral, sem se identificar.

Ligas de verão são os torneios que acontecem logo após o Draft da NBA, em julho, para que os recém-escolhidos comecem seu processo de adaptação, enquanto dúzias e dúzias de atletas, jovens ou não, que estão fora da liga, tentam uma vez mais impressionar cartolas e treinadores em busca de um tão sonhado contrato.  A maioria deles, porém, terá de se contentar com a D-League ou com uma viagem para a Europa. Não são competições oficiais: os clubes nem jogam com seus uniformes principais, deixando bem claro que uma coisa é uma coisa, e a outra, bem diferente.

A parte sobre o talento? Pode até ser. O único paralelo possível para os basqueteiros americanos, em termos de quantidade, são os boleiros brasileiros. E isso nem precisa ser discutido, até porque, num Mundial de basquete, há muito mais paixão envolvida do que nas peladas de Las Vegas ou Orlando. Sabe essa coisa de se importar com algo? Acreditem: ainda existe no esporte.

Dentro dos Estados Unidos, o público em geral só parece valorizar o torneio olímpico. Por outro lado, a reação dos jogadores é bem diferente. Kevin Durant estava eufórico ao conquistar o título em 2010, assim como James Harden neste ano. Só não vale falar em empolgação do Kenneth Faried, contra o qual chinês algum gostaria de jogar nem mesmo uma partida de tênis de mesa. Periga ele devorar a tábua toda. (Outra discussão seria o que a dominância desses caras significa para o mundo Fiba. Tira a graça? Força naturalmente o crescimento dos rivais? Mas essa fica para outra ocasião.)

Mesmo que toda a empolgação dos rapazes de Colangelo fossem fake, daí a falar sobre a falta de apelo global é ir muito além da linha do razoável. Pau Gasol e a Espanha não me pareceram indiferentes depois da eliminação contra a França. Boris Diaw pode ter cara e jeito de indiferente, mas estava bem animado com seus companheiros na hora de receber a medalha de bronze no sábado. Os sérvios vararam madrugada adentro após a vitória sobre os franceses na semifinal.  Claro que a NBA é a maior força financeira e técnica da modalidade, e de longe. Mas há vida aqui fora. Além do mais, se as competições fossem tão irrelevantes assim, por que Cuban clamaria publicamente para que seus comparsas dessem um golpe em Fiba/COI e assumissem eles a organização – e o faturamento – do torneio? Aí não teria problema, imaginem.

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

O que pega, mesmo, não é discussão sobre popularidade, e, sim, os interesses estratégicos de cada franquia e da liga como um todo. Para elas, dãr, o que conta é a temporada que vai de outubro a junho – para muitos.  Além de dinheiro o, que os dirigentes uerem é que seus jogadores (leia-ses “investimentos”) sejam preservados, que não se avariem – ou melhor, eles até podem se lesionar numa tabela massacrante de 82 jogos, mas aí não tem problema, já que estão a serviço de quem assina cheque.

O Spurs simplesmente fez uso de uma cláusula acordada com a Fiba para vetar a participação de Manu Ginóbili na Copa: se o atleta não estiver 100%, se houver o risco de ele agravar uma condição médica nas competições internacionais, as franquias podem proibi-los de jogar. Se o narigudo e genial argentino não foi liberado, Gregg Popovich ao mesmo tempo deve ter ficado satisfeito com o Mundial de Diaw, que sempre pode usar uma competição ou outra para controlar o peso (foram 25,4 minutos para ele em média em nove partidas). O Phoenix Suns não iria contrariar Goran Dragic a uma temporada de o astro esloveno virar um agente livre: se Dragic quer jogar o Mundial, que vá. Num time em que era a principal referência, ele ficou em quadra por apenas 26,1 minutos, de 40 possíveis. O que poucos divulgaram: houve acordo entre a franquia do Arizona e a federação, para estabelecer esse limite.

No Brasil, Leandrinho foi quem mais jogou: 24 minutos, seguido por Anderson Varejão, com 23,6. Os irmãos Gasol não passaram de 27. E por aí vamos. Os jogos são intensos, sim. Há toda uma fase de preparação, de treinos duros e amistosos. Mas quem aí acredita que todos esses atletas ficariam o mês de agosto e setembro de pernas para o ar? Caso o fizessem, o departamento médico e físico de cada time da NBA teria sérios problemas na última semana do mês, quando os elencos se reúnem para a realização (já!!!) dos campos de treinamento. Aí, meus amigos, Diaw não seria mais a exceção.

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

Quando vão para quadra, os atletas estão sujeitos, mesmo, a contusões e lesões. Algo como o que aconteceu com Paul George, porém, é um baita acidente. Uma tristeza, mas um acidente. Assim como o que ocorreu com Monta Ellis em 2008, quando o armador se arrebentou todo… andando de mobilete. Nas férias, depois de ter assinado um contrato milionário. Ainda assim,

“Não há dúvida sobre o impacto (da lesão) em nosso time”, afirmou em comunicado  o legendário Larry Bird, presidente do Pacers. “Mas mantemos nosso apoio à USA Basketball e acreditamos nas metas da NBA de dar uma exposição ao nosso jogo e nossos jogadores no mundo todo. Essa foi uma lesão extremamente infeliz que ocorreu num palco de grande visibilidade, mas que poderia ter acontecido em qualquer momento, em qualquer lugar.”

Na mesma noite de agosto, o comissário Adam Silver foi bem mais sucinto em seu pronunciamento. “Foi difícil assistir à lesão que Paul George sofreu nesta noite, enquanto representava seu país. Os pensamentos e as orações de todos nós da NBA estão com Paul e sua família”, disse. Resta saber e acompanhar se os pensamentos de Silver e de outros proprietários das franquias de lá também acompanham o das fontes de Wojnarowski nesse tópico e se eles vão realmente seguir em frente com essa ofensiva.