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Toronto Raptors, dois brasileiros, nós e o Norte
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Oh, Canada

Oh, Canada

Em 1995, a NBA anunciou que incorporaria duas franquias canadenses ao seu campeonato. A liga ainda curtia a popularidade de um Michael Jordan, já havia se beneficiado aos montes com a empreitada do Dream Team nos Jogos de Barcelona e estava pronta para dar mais um passo importantíssimo em seu processo de internacionalização. Nasceram, então, o Toronto Raptors e o Vancouver Grizzlies.

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As duas equipes tiveram dificuldades naturais para engrenar no princípio. Eles tinham de se montar a partir do zero, a partir do Draft de Expansão, no qual os demais clubes têm o direito de proteger oito atletas de seus elencos, sobrando apenas a rebarba para os irmãos canadenses. Acontece que, sob a direção do hoje esculhambado Isiah Thomas e de Glen Grunwald, o time de Toronto garimpou melhor no mercado e no Draft, enquanto em Vancouver as coisas só pioravam.

Em seis campanhas, a equipe não conseguiu superar a marca de 28% de aproveitamento. Cinco técnicos foram contratados e demitidos. A média de público despencou de 17,1 mil na primeira temporada para 13,7 mil na sexta, com uma ajudinha de um lo(u)caute no meio do caminho, em 1998. O dólar canadense também estava desvalorizado, aumentando as dívidas da gestão. Quando o grupo Orca Bay fechou a venda da franquia para Michael Heisley, em janeiro de 2001, o bilionário de Chicago havia dito que sua intenção era mantê-la na cidade. Heisley sabia, oras, que dias antes a NBA havia vetado um negócio com Bill Laurie, que pretendia levá-la para St. Louis.  Meses depois, contudo, após uma campanha duvidosa para difamar Vancouver, já estava fazendo uma turnê pelos Estados Unidos em busca de possíveis portos para realocação. Encontrou Memphis.

A NBA toparia retornar a Vancouver?

A NBA toparia retornar a Vancouver?

Esse contexto é importante para entender o momento vivido pelo Raptors. O clube passou por mais bocados durante a década passada, saindo dos anos eufóricos de Vince Carter a uma preocupante depressão, com Rafael “Baby” Araújo, Chris Bosh, Jorge Garbajosa, Anthony Parker e outros personagens no meio do caminho. Ainda que o produto em quadra não fosse dos mais interessantes, o aspecto comercial foi bem desenvolvido, conquistando uma sólida base de torcedores e parcerias no mundo corporativo. Eles eram o time do Canadá.

Reparem, então, como, no decorrer dos anos, a cor dos uniformes, por exemplo, migrou gradativamente do roxo para o vermelho. O dinossauro do primeiro logo perdeu seu aspecto cartunesco e foi encolhendo. Hoje, o finado animal está representado por uma simples e discreta pata com três garras que, nessas coisas da semiótica, remete direta ou indiretamente, dependendo do ponto de vista, a uma folha de maple (para eles, bordo para nós), o símbolo da bandeira nacional.

raptors-canada-logo

Para culminar, na temporada passada eles lançaram com estrondoso sucesso a campanha “We, The North” (Nós, o Norte), que virou coqueluche na metrópole com camisetas, cartazes, outdoors e, dãr, #hashtag. Eles, do norte, assumindo de maneira interessante, orgulhosos, sua condição geográfica austral, o que não é tão lógico assim. Quanto mais ao Norte, mais frio. Não o frio paulistano de 12ºC, e, sim, o frio gélido bem pertinho do ártico, abaixo de zero e tal. É o tipo de clima que faz com que, nas obras anglo-saxônicas de ficção, o  “povo do Norte” seja invariavelmente associado a nobres austeros – porque seria assim a vida por lá, com as condições inóspitas exigindo mais trabalho, empenho, seriedade etc., ao contrário dos folgados de um Sul mais quente. Que nos digam os inimigos Stark e Lannister de George R.R. Martin (e da HBO).

Então aí está o marketing da franquia fazendo empréstimos desse tipo de mitologia. O slogan serviu para unir ainda mais uma das bases de torcedores já considerada das mais fervorosas e fanáticas da liga. A ponto de, na abertura dos playoffs 2014, vermos milhares e milhares de pessoas reunidas do lado de fora do Air Canada Centre, no centro de Toronto, para assistir num telão ao primeiro embate de playoff da equipe depois de seis anos, contra o Brooklyn Nets. Uma cena muuuuito rara no cotidiano da liga.

Ainda mais rara – e absurdamente engraçada, vai – foi a manifestação do chefão das operações de basquete do clube, Masai Ujiri, naquele sábado histórico, diante da multidão de torcedores fora do ginásio. Provavelmente com a adrenalina a mil, sentindo aquela vibração descomunal, o dirigente nigeriano soltou logo um entusiasmado “F***-se, Brooklyn!” no microfone, de modo chocante. A galera foi ao delírio, claro. A liga, nem tanto: o dirigente acabou multado em US$ 25 mil. Ainda que daria para fazer uma boa aposta que, secretamente, os gestores tenham rachado o bico e só tenham decidido aplicar a punição por não haver outro modo, mesmo, de lidar com o causo. Além do mais, Ujiri ganha US$ 3 milhões por ano como um supercartola e, caso fizesse uma vaquinha com os torcedores, certeza que pagaria a taxa com tranquilidade e ainda sobraria um troco para um sorvete.

Ujiri foi o homem que selecionou Bruno Caboclo, para choque geral dos especialistas. O mesmo que foi atrás de Lucas Bebê um ano depois de ter falhado em sua missão de também assegurar os direitos sobre o pivô carioca no Draft. E aí que, num estalo, a metrópole canadense se tornou a capital brasileira no basquete da América do Norte. Tipo: agora são eles e ‘nós’ do Norte. O único senão aqui: para ver a dupla em quadra, vai demorar um pouco. Ambos são vistos como projetos de médio para longo prazo. Tanto o ainda adolescente Caboclo como Bebê, que, aos 22 anos e temporadas de Liga ACB nas costas,  já deveria estar num ponto mais adiantado em sua curva de aprendizado.

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Nos primeiros jogos do Raptors, conforme o esperado, os rapazes não vêm sendo nem relacionados pelo técnico Dwane Casey, que tem optado pelos veteranos Landry Fields e Greg Stiemsma no preenchimento de seu banco. Dois caras bem mais experimentados, preparados. De modo que, por enquanto, Bruno e Lucas não terão chance de jogar nem mesmo numa surra como a deste domingo sobre o Philadelphia 76ers, o lanterninha da liga e o jogo mais provável para seu aproveitamento.

“Vai levar um tempão para caras como Bruno e Bebê (estarem prontos), então vamos ser pacientes. Ainda somos uma equipe jovem”, disse Ujiri, sobre os garotos. É o tipo de frase que o espectador brasileiro precisa ter em mente na hora de checar as fichas dos jogos do Raptors e não ver a dupla relacionada. E Ujiri tem razão nesse aspecto: o núcleo principal da equipe ainda vai crescer.

Se o plano do dirigente der certo, os promissores atletas vão se juntar a um elenco mais maduro e ainda mais forte. Futuro próximo? Dois anos? Vai saber. É uma preocupação que um scout da NBA demonstrou em entrevista para o blog, lembram? O Raptors não tem uma filial na D-League. Então toda  a evolução dos brasileiros ficará por conta do trabalho individual com os treinadores durante uma temporada corrida, na qual eles competem para já. No Leste, distante de Memphis. E pelo Canadá.

O time: na temporada passada, Casey fez um dos trabalhos mais formidáveis. O plano de Ujiri, todos sabem, era implodir seu elenco e apostar numa derrocada rumo ao Draft estelar de Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Despachou Andrea Bargnani e Rudy Gay. Deu errado: digo, de acordo com essa ideia original. Porque a equipe melhorou, e muito.

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

A bola começou a girar de um lado para o outro, Kyle Lowry, DeMar DeRozan e Terrence Ross gostaram da responsabilidade maior e cresceram. O banco de reservas foi bastante produtivo, com Patrick Patterson assessorando a entrosada dupla Jonas Valanciunas-Amir Johnson. A melhor química resultou também numa melhora do sistema defensivo, com os atletas mais conectados. Ao final da campanha, o Raptors era um dos poucos posicionados entre os dez ataques e defesas mais eficientes da liga, ao lado de gente como Spurs, Heat, Clippers e Thunder.

Para este campeonato, a base está mantida. Os reforços que chegaram são peças complementares, para deixar a segunda unidade ainda mais sólida. O ala James Johnson endireitou a cabeça, vem de bela campanha pelo Grizzlies, fez as pazes com Casey e retorna a Toronto para fortalecer a defesa no perímetro. Lou Williams pode ter perdido muitos jogos pelo Hawks devido a uma séria lesão no joelho, mas ainda é mais habilidoso e explosivo que John Salmons. Se Lowry e DeRozan mantiverem o ritmo, a estrutura ao redor deles será o suficiente para lhes posicionar bem nos mata-matas. Dependendo do progresso de Ross e Valanciunas, as metas vão crescer.

A pedida: ir longe nos playoffs e, dependendo do nível que Bulls e Cavs tiverem atingido, sonhar, talvez, com uma final?

Olho nele: Terrence Ross. Porque vale a pena observar com atenção qualquer jogador que passe da barreira dos 50 pontos numa partida, não? Foi o que o ala de 23 anos conseguiu numa derrota para o Clippers no dia 25 de janeiro, assustando a imprensa norte-americana. A quantia é emblemática, mas o mais interessante é o modo como ele a atingiu, que mostra todo o seu potencial. Veja:

Ross é um desses atletas especiais que poderia competir tanto no torneio de enterradas como no de chutes de três pontos num All-Star Weekend. Além disso, é agil e tem envergadura para dar trabalho na defesa.

Abre o jogo: “É tanto dinheiro que eu guardo logo na minha conta. Talvez algo no futuro, mas não sei”, Bruno Caboclo ao ser questionado em Toronto sobre o que faria com o seu primeiro pagamento.

Você não perguntou, mas… a grande temporada do Raptors realmente foi produto do acaso. De vários causos fortuitos, mesmo. Por exemplo: quando a franquia acertou uma troca com o Houston Rockets para receber Kyle Lowry, esse era apenas um plano B do então presidente Bryan Colangelo. A principal opção do dirigente, que acabou substituído por Ujiri, era Steve Nash – negociação que acompanhava perfeitamente a guinada canadense do time. O veterano havia se tornado um agente livre em julho de 2012 e estava disposto a conversar com a franquia de seu país natal. Quando o Lakers surgiu para atrapalhar tudo, Colangelo se viu obrigado a procurar outras alternativas. E veio Lowry, de quem o Rockets queria se livrar para limpar sua folha salarial e também por que andavam cansados da dor-de-cabeça que o armador causava, de tanto reclamar que não aceitaria ser reserva. A ironia é que, a princípio, em Toronto ele também chegaria para ficar no banco de Nash.

Damon Stoudamire, Toronto RaptorsUm card do passado: Damon Stoudamire. Além do aspecto comercial e logístico, o Raptors também teve mais sucesso que o Grizzlies na montagem de seus primeiros elencos. Para 1995-96, sua primeira temporada, enquanto Vancouver foi de Bryant Reeves, Toronto selecionou o baixinho Stoudamire, de 1,78 m, para sua armação. Vindo da Universidade do Arizona, o talentoso armador, apelidado de Mighty Mouse (Super Mouse, aqui) foi a primeira grande esperança da franquia, tendo impressionantes médias de 19 pontos e 9,3 assistências como novato. Também foi a primeira grande esperança a deixar a equipe precocemente, forçando uma troca para o Portland Trail Blazers, de sua cidade natal. O mesmo aconteceria com Vince Carter, Tracy McGrady e Chris Bosh, numa sina daquelas (os impostos em Toronto são mais caros e ainda existe uma espécie de preconceito entre os atletas contra a ideia de viver no Canadá, acreditem). A carreira armador nunca mais teve tanto brilho. Ele ainda jogou pelo Grizzlies, mas em Memphis, teve uma curta passagem pelo Spurs e se aposentou em 2008. No mesmo ano, começou a trabalhar como treinador. Em fevereiro de 2009, retornou a Memphis para integrar a comissão técnica de Lionel Hollins, tendo sido importante no desenvolvimento de Mike Conley Jr. Hoje, é um dos assistentes de Sean Miller na sua alma mater, Arizona.


Toco ‘fantasma’, tombo e potencial: é o Caboclo no Raptors
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Giancarlo Giampietro

Caboclo (direita) com o uniforme oficial do Raptors: 15 minutos na quase-estreia

Caboclo (direita) com o uniforme oficial do Raptors: 15 minutos na quase-estreia

Vocês já devem ter notado que o blogueiro tem um certo vício em relativizar as coisas. De ir com calma em direção a um fato, ou uma notícia. No caso da trajetória de um ainda adolescente Bruno Caboclo com o Toronto Raptors, é recomendável toda a paciência e parcimônia do Canadá na hora de fazer qualquer tipo de avaliação.

Nesta terça-feira, finalzinho da noite aqui em São Paulo – graças ao ingrato fuso horário californiano –, o ala brasileiro se viu pela primeira vez com o uniforme oficial do Toronto Raptors em quadra, enfrentando o Sacramento Kings. Só tenha cuidado: não é porque ele estava com o uniforme bonitinho, que dá para dizer que se tratava de sua estreia (de verdade) na NBA.

Os jogos de pré-temporada não entram para os registros históricos da liga – vitórias, derrotas, enterradas, bolas de três… nada disso conta para uma organização que obviamente valoriza sua cultura estatística. O que podemos fazer é replicar o tom que se usa por lá: foi a primeira partida mais-ou-menos-de-NBA dele. Está bem adiante do que as ligas de verão representam, mas ainda não é algo realmente para valer.

De qualquer forma, lá foi Caboclo sentir um pouco desse gostinho, ao ser chamado pelo técnico Dwane Casey com nove minutos ainda para serem disputados no segundo período, enquanto Lucas Bebê nem foi relacionado, cuidando de dores musculares. O caçulinha do Raptors ganhou 15 minutos no total em derrota por 113 a 106 do time canadense. Seu tempo de ação foi dividido entre seis minutos e uns quebrados na segunda parcial e o restante nos 8min45s finais do quarto período.

E foi bem?

É realmente impossível de julgar isso. Desde o momento em que foi selecionado pelo Raptors no último Draft, surpreendentemente na primeira rodada, o brasileiro vem sendo anunciado, corretamente, como uma promessa para o futuro. Alguém para ser aproveitado daqui a um ano, talvez. Até chegarem lá, o time vai fazer de tudo para tocar seu desenvolvimento. E o contexto da pré-temporada, fase em que os treinadores começam a refinar as rotações, mas em que não estão sedentos pela vitória, é a melhor oportunidade para isso.

O que não quer dizer, porém, que Casey vai dar toda a liberdade para Caboclo em quadra. Na primeira vez em que acionou o garoto, fez questão de colocá-lo ao lado do armador Kyle Lowry  e do ala DeMar De Rozan, as principais referências ofensivas da equipe. Bruno acabou jogando muito tempo com quatro titulares – Amir Johnson e Jonas Valanciunas também entram nessa –, na vaga que em teoria ficará para o ala Terrence Ross durante a temporada. Ross, de quem se espera muito em Toronto, foi poupado do jogo desta terça, depois de sofrer uma contusão no joelho na estreia na pré-temporada contra o mesmo adversário. Landry Fields foi quem começou a partida em seu lugar.

Ao lado da formação inicial do Raptors, o brasileiro não tinha responsabilidade alguma no ataque. Durante todo esse período, as instruções para o atleta eram claras: abrir na zona morta, especialmente pela direita, e esperar o progresso das jogadas individuais, muito centralizadas em Lowry, que estava com a mão pegando fogo. A ideia, creio, era quebrar o gelo para o novato. Ele estava em quadra mais para conviver com a adrenalina, enquanto a tropa de choque resolvia.

Mas o basquete, claro, tem dois lados. Na defesa, Casey poderia tentar blindar seu jogador o máximo que quisesse, mas seu envolvimento, ou não, na partida, dependeria muito mais do Kings. Sua missão, então, era brecar o ala Omri Casspi, que deu uma boa encorpada durante as férias. O experiente israelense, diga-se, não se esbaldou contra seu jovem oponente. Um duelo entre eles, aliás, mostra o quanto Caboclo ainda tem de aprender em quadra – e, ao mesmo tempo, deixa claro um potencial que pode causar impacto, sim, na elite do basquete. Vejam:

Este foi o primeiro momento em que Bruno participou realmente da partida. Primeiro, notem que, na tentativa de contestar um pick-and-roll, o ala está mal posicionado, um pouco distante de Casspi, dando espaço. Ele acaba saindo atrasado na cobertura e aperta o passo para compensar. No fim, passa batido por Darren Collison. Seu movimento veloz, no entanto, foi o suficiente para atrapalhar o drible do armador, que perde por um instante o equilíbrio. Lowry retoma posição e impede qualquer tentativa de infiltração. O brasileiro sai, então, em busca do israelense, que gira de dentro para fora e recebe a bola. Bruno agora se precipita e desliza os pés para a esquerda, dando o fundo para seu oponente. Casspi gira novamente e parte para aquela que seria uma bandeja tranquila. Só não contava com a reação de seu defensor e, principalmente, com taaaaanta envergadura. Toma o toco por trás.

Notem duas coisas: o clipe acima tem apenas 15 segundos. Ainda assim, é tempo o bastante para vermos tantos detalhes, congelando a imagem frame a frame. O basquete não pára e se perde em pormenores. Todos esses detalhes pedem a atenção máxima de qualquer atleta. Para Caboclo, apenas no início de sua curva de aprendizado, essas coisas passam ainda mais rápidas – nós estamos aqui sentados no conforto de casa (ou do busão, ou do escritório), enquanto ele está lá suando no meio dos leões. Leva tempo para assimilar isso. Mas a verdade é que o rapaz tem muitas ferramentas atléticas ao seu dispor para compensar e lhe ajudar nesse tipo de situação. Imaginem quando o jogo desacelerar e ele estiver em cima de seus rivais. Na defesa, no mínimo, ele pode virar um terror.

No quarto período, o ala voltou para a quadra dessa vez escoltado pelos reservas: o armador Will Cherry, o ala Jordan Hamilton e os alas-pivôs Tyler Hansbrough e James Johnson, que depois seria substituído pelo Greg “Russão” Stiemsma. Ainda assim, seguia de certa forma alienado no ataque. Nessa sequência, o momento de maior destaque foi uma queda sofreu na busca por um rebote ofensivo aparentemente amalucado, mas que, para alguém com sua capacidade atlética, parece viável, possível. Ele tenta saltar novamente por cima de Casspi e acaba se esborrachando no tablado.

Sacudiu a poeira, porém, disse aos técnicos que estava tudo bem e voltou para o jogo. De lá é que não o tirariam, feito um Alvaro Pereira bem mais magrinho. O rapaz merecia, então, recompensado. Mas a primeira oportunidade que teve para arremessar aconteceu a 2min28s do fim, e ele converteu uma bola de três com o auxílio da tabela. Se é para pontuar, que seja em grande estilo. Menos de um minuto depois, ele mataria seu segundo chute de lona distância, terminando com seis pontos e 100% de aproveitamento. Ah, os números…

Por falar em estatísticas, Caboclo, segundo a súmula oficial, terminou a partida sem nenhum toco dado. Ignoraram seu bloqueio evidente contra Casspi. Essa é a pré-temporada. O momento para o ala brasileiro se soltar em quadra e aprender. Até que chegue a hora em que possa ser aproveitado nos jogos que valem, com mais chances para produzir e computar seu talento.


Entevista: scout da NBA avalia Bruno Caboclo e aguarda plano do Raptors
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Giancarlo Giampietro

Bruno Caboclo: a dois anos de contribuir? Giannis? Tudo em perspectiva

Bruno Caboclo: a dois anos de contribuir? Giannis? Tudo em perspectiva

Alerta! Alerta! Alerta!

Primeiro que o blog voltou. Depois, com base no assunto do post, importante ressaltar que foi apenas uma liga de verão.

Não dá para tirar conclusões, análises definitivas sobre nenhum jogador nesse contexto de competição – em que o padrão de jogo é basicamente nulo e no qual muitos atletas mandam às favas qualquer senso coletivo para tentar impressionar ao máximo os dirigentes, técnicos e scouts na plateia. Talvez inconscientes de que essa fome toda possa ser um tiro no pé.  O Raptors, por exemplo, tinha quatro armadores brigando por espaço, com Scott Machado entre eles.

Por outro lado, para um garoto como Bruno Caboclo, acaba sendo algo muito valioso. Em diversos sentidos. Do ponto de vista do garoto, foram 130 minutos de jogo contra a competição que é certamente a mais difícil de sua breve carreira. Para os olheiros, era uma grande chance de avaliá-lo em meio a profissionais já rodados, ou recém-iniciados, mas mais velhos. Algo crucial, considerando que há pouco mais de um ano estava jogando apenas contra juvenis no Brasil.

Não é o caso de dissecar os números da jovem aposta brasileira, no entanto. Há quem consiga analisá-los com base em projeções estatísticas a partir de uma base de dados ainda limitada. Mas, sinceramente, aí já acho forçar demais a barra – os cálculos têm uma natureza um tanto dúbia, de qualquer forma.

De modo que vale mais bater um papo com alguém já habituado a assistir e processar esse tipo de competição. No caso, um chapa que é scout internacional de uma franquia da NBA. O acordo é não divulgar sua identidade, nem o clube para o qual trabalha. Posso dizer apenas que se trata de alguém bastante experiente e de uma franquia indiscutivelmente aberta a jogadores estrangeiros, criativa na hora de contratar.

Que fique o registro de que é um olheiro que já havia visto Bruno em ação por um bom número de jogo no período pré-Draft, ainda que não in loco, como foi o caso do gerente geral do Toronto Raptors, Masai Ujiri, e seus asseclas. Obviamente a observação a olho nu conta muito mais, especialmente em uma tarefa tão delicada, tão susceptível a diversas nuanças como a avaliação de um prospecto. Se for um rapaz de 18 anos, em competições menores no Brasil? Ainda mais difícil. Mas é isto: não estamos falando com alguém que viu o ala ex-Pinheiros pela primeira vez. Importante também mencionar que se trata de uma visão independente sobre o garoto. Ainda que o camarada represente, de alguma forma, os interesses de outro clube, tenho confiança total de que, nessa conversa, ele tentou ser o mais imparcial possível:

21: Qual tipo de coisa os scouts tentam, vão observar num ambiente de Liga de Verão? Sabemos que é um jogo completamente diferente, mas que tipo de nota é possível tomar sobre os jogadores, pensando na liga principal?
Scout: Queremos ver como o jogo deles se traduz neste contexto diferente. Afinal, é a primeira indicação que temos a respeito deles, ainda que esteja longe de ser uma indicação final. Alguns caras acabam mudando de posição na NBA, como o Cleanthony Early (calouro do New York Knicks), que jogou como PF na universidade (de Wichita State), e na NBA será um SF. Esse tipo de coisa. E aí você quer ver como os caras vão lidar com adversários de tamanho bem diferente aos daqueles que eles estão acostumados a enfrentar. Obviamente não é o indicador ideal, mas já dá para passar uma noção.

Capacidade para o arremesso de Bruno já é destacada por scout, assim como suba envergadura realmente impressionante. Vejam o tamanho dos braços. Glup

Capacidade para o arremesso de Bruno já é destacada por scout, assim como suba envergadura realmente impressionante. Vejam o tamanho dos braços. Glup

Sobre o Bruno, teve algum aspecto de seu jogo que chamou a atenção, nesse sentido?
Bem, todos os aspectos de seu jogo chamaram atenção. Especialmente pela escolha alta que ele teve, que pouquíssimos esperavam. Seu arremesso já estava se traduzindo muito bem. Obviamente que também o seu tamanho e corpo, e tudo isso. Mas aí, se formos pensar em um basquete para valer, de verdade, acho que ele teve muitas dificuldades. Algumas pessoas, porém, consideram que ele pareceu muito melhor que o esperado. Em geral, foi seu arremesso que acabou agradando bastante.

Mas, para você, em geral, o desempenho do Bruno foi bom? Claro que precisamos ter em mente sua idade e inexperiência, o nível de competição que encarou no Brasil. Pensando nisso, acha que ele estava adiantado em sua curva de aprendizado, ou basicamente como você esperava?
Ele já consegue receber a bola na zona morta e chutá-la. Isso já é uma grande vantagem na NBA de hoje (*). Ele também pode conseguir fazer algo em transição devido a seus atributos físicos. Isso já lhe renderia algo em torno de cinco a oito pontos por jogo. Mas ele ainda precisa descobrir como defender, e como jogar, em geral. Ele tem as ferramentas para isso, mas ainda está muito, muito longe de entender o jogo e como usá-las. Ainda tem um longo caminho para ele realizar seu potencial. Quanto tempo vai levar? Bem, ele já sabe arremessar. O grande ponto de interrogação para ele é o que ele vai contribuir do outro lado da quadra. Minha maior preocupação é que o Raptors não tem uma equipe na D-League (**), de modo que eles não têm aonde desenvolvê-lo. Se fosse o San Antonio, o Houston ou o Utah, por exemplo, isso já seria diferente. Além disso, o Raptors está carregado na sua posição. Será interessante ver o que vão fazer com ele e como vão desenvolvê-lo.

(*Nota: o scout faz referência ao “corner three”, o arremesso da moda no plano tático da liga: a distância ali é mais curta para o chute de três pontos, tendo maior probabilidade de acerto, de modo que os técnicos estão usando-o cada vez mais, na tentativa de espaçar ou desestabilizar a defesas.)

(**Nota: cenário da liga de desenvolvimento da NBA é bastante desfavorável ao Raptors. Dos 18 clubes menores, 17 têm vínculo exclusivo com um clube de cima. A franquia canadense, porém, não é uma delas. E isso significa que ela tenha de dividir Fort Wayne Mad Ants com outras 12 equipes, perdendo o controle ou a influência clube sobre orientações táticas, uso de jogadores etc.)

Inevitável citar aqui também a já famosa frase do Fran Fraschilla (ex-treinador e analista da ESPN, que foi pego de surpresa no momento em que Bebê foi anunciado pelo Raptors na 20ª posição), de que o ala estaria a dois anos de estar a dois anos de se aprontar para a NBA.
A maioria das pessoas comentou em Las vegas que essa dos dois anos para estar a dois anos não parece muito correta. A sensação na plateia foi a de que ele está a dois anos de contribuir, e ponto. Mas pelo menos dois anos. E aí, sim, precisamos ter em mente o quão inexperiente ele é, o nível de treinamento e jogo no Brasil, e tudo o que você citou para lhe dar o benefício da dúvida. Se ele viesse de um contexto diferente, então o que vimos seria mais preocupante.

Ele já foi comparado a Giannis Antetokounmpo em diversas ocasiões, e eu consigo entender isso do ponto de vista de sua narrativa – de alguém que veio, digamos, do nada – e a capacidade atlética absurda. Mas é justa essa comparação? Ou, em termos de habilidade em quadra, ele ainda está muito atrás, em relação ao que o grego mostrou ano passado?
Acho que ele está bem atrás, mas já arremessa de um modo que o Giannis realmente não conseguia. Em todos os demais aspectos, acho que o Giannis estava muito mais desenvolvido quando entrou na NBA. Mas eu também achava que o Giannis estava a dois anos de contribuir, e estava errado (risos). Eles têm a mesma “história”. Então existe essa chance de que possa ter alguma produtividade, mas isso depende de muitas coisas. Uma das melhores coisas que aconteceu para o Giannis foi o fato de ele ter sido draftado por aquele que foi o pior time da NBA e que não tinha quase nada em sua posição. Então não havia pressão alguma. Havia tempo de quadra disponível, e ele teve o melhor cenário para se desenvolver. O Bruno não vai ter esse luxo. O Raptors teve a melhor campanha da franquia em muito tempo, tendo inclusive vantagem de mando de quadra nos playoffs. Eles renovaram o contrato de todos os seus caras. O Jonas está um ano mais velho. A expectativa deles é de seguir vencendo, e, como disse, as alas estão carregadas. Não sei ao certo aonde o Bruno se encaixa.

E quanto ao Lucas Bebê, o que pode dizer do que viu?
O Bebê teve uma temporada bem difícil por causa dos problemas físicos. Ele não pareceu pronto durante a Liga de Verão, mas… Quem sabe? Ele precisa sair do Estudiantes, isso é certo. Se é para outra equipe na Espanha ou na Europa, ou para o Raptors, essa é uma boa pergunta. (*)

(*Nota: o site Encestando, da Espanha, já noticia neste sábado que o Toronto Raptors acertou com o Estudiantes a rescisão contratual do pivô brasileiro, que vai se juntar a Caboclo na temporada 2014-15 da NBA. São seis jogadores do país por lá agora, com o retorno de Leandrinho também sendo bem provável. Para Scott Machado e Fabrício Melo, as coisas estão mais difíceis.)

* * *

O blog está de volta à ativa com essa entrevista, então, depois de um longo recesso por motivos de Copa do Mundo – de futebol, no caso. Vocês se lembram dela, né? Temos uma seleção brasileira reunida em São Paulo, outra jogando na Venezuela. Desafio também será recuperar o que se passou com aqueles velhinhos teimosos do Spurs e a volta de LeBron James para Cleveland. O que dizer a respeito, depois de mais de 76 bíblias já publicadas e revisadas a respeito? Vamos tentar, uma hora dessas. Abraço, e até mais.


Toronto, capital norte-americana do basquete brasileiro?
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Giancarlo Giampietro

caboclo-draft-raptors-20

Primeiro foi Bruno Caboclo, como já haviam lhe prometido no Draft. Agora, chamam Lucas Bebê para a festa. Em quatro dias, Toronto se tornou a capital norte-americana do basquete brasileiro. Neste domingo de noite, também de modo sorrateiro, a franquia canadense acertou uma troca para despachar John Salmons e seu salário para o Atlanta Hawks, recebendo o armador Lou Williams e os direitos sobre o pivô brasileiro, que jogou a temporada espanhola pelo Estudiantes.

Masai, Bruno e o Brasil

Masai, Bruno e o Brasil

Mais uma cartada surpreendente do gerente geral Masai Ujiri, que vai se revelando um profundo admirador dos garotos brasileiros. Não se esqueçam, como eu já estava deixando passar até ser lembrado pelo Romengão abaixo, que Scott Machado também tem convite para defender o time na liga de verão de Las Vegas, a partir do dia 11 de juho. Vai e os caras do Norte vão se tornar populares por aqui.

O negócio por Bebê ainda não havia sido oficializado até essa postagem, dependendo da aprovação da NBA. Mas parece não haver impedimento legal nenhum, e o Hawks tem pressa: só aceitaram Salmons para dispensá-lo nesta segunda-feira e economizar (só terão de pagar US$ 1 milhão de um salário de US$ 7 milhões), limpando espaço na folha salarial para atrair algum agente livre sexy.

Ainda não temos a palavra do nigeriano Ujiri a respeito da transação, então. Não sabemos ainda se é de seu interesse aproveitar Bebê na próxima temporada. O pivô ainda tem mais um ano de contrato com o Estudiantes, mas, segundo o site Encestando, estaria interessado em procurar novos rumos, seja na NBA ou em um clube de Euroliga. Sua multa rescisória é baixa, de US$ 600 mil e, caso o Raptors tenha interesse, poderá pagá-la na íntegra. A graninha também seria bem-vinda aos espanhóis, que estão com atrasos em sua folha de pagamento.

De qualquer forma, essa troca serve para vermos mais uma vez como são fluidas as coisas na NBA. Um ano atrás, o Hawks estava encantado com o carisma e os talentos de Bebê. Hoje, simplesmente o usaram numa troca para se livrar de salário em busca de nomes mais grandiosos e badalados no mercado – sem a garantia de que vá se dar bem nessa. Isso não quer dizer que o pivô brasileiro tenha perdido valor, que seja menos intrigante do que em 2013.

O que mudou, de certo, foi o contexto do Hawks, time que acabou de selecionar no Draft outro gigante ainda cru e promissor em atividade na Espanha – o cabo-verdiano Walter Tavares, na segunda rodada, um atleta de características muito semelhantes em termos de impacto em quadra, com sua capacidade para proteger e atacar o aro. Tavares, no entanto, vai ficar na Espanha pelo menos por mais um ano. Não há pressa em aproveitá-lo, assim como não havia com Lucas. Vale o registro: pouco depois de terem sido eliminados pelo Indiana Pacers num confronto muito mais dramático que o esperado nos playoffs, o gerente geral Danny Ferry e o técnico Mike Budenholzer estiveram em Madri para acompanhar o carioca de perto. Não sabemos o que conversaram. Só sabemos agora que o Hawks optou por seguir em outra direção.

E como foi a temporada do pivô pelo Estudiantes? Um pouco acidentada, infelizmente, por conta de problemas físicos. Ele pôde disputar apenas 18 partidas, lidando com dores crônicas no joelho devido a uma tendinite. Dores que, em determinado momento, o forçaram a se afastar da equipe por meses. Depois de anotar 7 pontos e pegar três rebotes contra o Bilbao pela nona rodada em dezembro, numa derrota por 72 a 55, Bebê ficou fora de ação por 12 jornadas, de dezembro até a março. Regressou, ironicamente, contra o mesmo Bilbao. Neste vai e vém, o pivô foi aproveitado de modo irregular, óbvio. Só ficou em quadra por mais de 20 minutos em três ocasiões.

O técnico Txus Vidorreta acusou sua passagem pelos Estados Unidos como um fator agravante – lembrando que Bebê passou diversas semanas sob a custódia do Hawks, jogando a liga de verão de Las Vegas e treinando em Atlanta. “Depois de três meses nos Estados Unidos, não está em boas condições. Ele não teve um período de descanso, algo que é necessário antes de enfrentar a pré-temporada. Além disso, chegou com excesso de peso. As equipes da NBA têm o interesse que jogadores como Nogueira ganhem muito peso, quando não deveria ser assim. Querem isso para quando vá para a NBA, se é que vai. No momento, tem contrato com o Estudiantes, e isso está complicando sua preparação”, disse.

Luca Bebê em ação em temporada irregular na ACB

Luca Bebê em ação em temporada irregular na ACB

As boas notícias, porém, existem: com Lucas em quadra, o Estudiantes foi um time bem mais competente, com nove vitórias e nove derrotas (50%, dãr). No geral, a equipe teve campanha de 12 vitórias e 22 derrotas (35,2%), terminando em uma frustrante antepenúltima posição. Sem o brasileiro, o rendimento foi sofrível: 3 vitórias e 13 derrotas (18,5%).

Pois, no pouco que jogou, Bebê foi muito bem. Em termos de eficiência,  deu saltos consideráveis, posicionando-se na elite da fortíssima Liga ACB. Considerando jogadores que tenham ficado em quadra por um mínimo de 250 minutos, o brasileiro foi o quarto atleta mais produtivo do campeonato, atrás apenas de Tibor Pleiss, alemão do Caja Laboral/Baskonia, Blagota Sekulic, montenegrino que estava barbarizando pelo CB Canarias até ser contratado pelo Fenerbahçe, e do sensacional croata Ante Tomic, do Barça.  Como chegou a essa condição? Mantendo alto nível nas finalizações próximas ao aro (bandejas e enterradas, enterradas e bandejas) e sendo um dos principais bloqueadores do campeonato em projeções por minuto (3,38 tocos por 36 minutos, contra 2,64 de Tavares, por exemplo). O único desconto obrigatório aqui: estamos falando de projeções, uma vez que, na temporada real, Bebê foi aproveitado por apenas 16,6 minutos por rodada.

O pivô cobre espaços na defesa, intimida os adversários que queiram infiltrar. Também passa a bola surpreendentemente bem de frente para a cesta, algo que nem sempre é explorado.

Avaliando esses altos e baixos, é complicado de imaginar qual será o próximo passo para Bebê – e qual seria o mais indicado, aliás. A tendinite foi aplacada? Há boas propostas/vagas de clubes da Euroliga (e aqui seria muito melhor em pensar em times um pouco mais fracos, em que o brasileiro fosse parte integral dos planos, em vez de reserva de luxo)? Mais vale buscar a segurança de um contrato na liga norte-americana desde já? O quanto o Raptors o admira?

Lucas Bebê e sua ótima habilidade como finalizador. De Madri para Toronto?

Segundo o jornalista Ryan Wolstat, do Toronto Sun, Masai Ujiri tinha o brasileiro como um dos seus alvos no Draft do ano passado, ao lado de Giannis Antetokounmpo. Não conseguiu fechar nenhuma troca – uma vez que sua escolha estava entregue ao Oklahoma City Thunder, resultando no intrépido Steven Adams –, e teve de fechar os olhos todas as vezes que o Raptors se deparava com o Bucks de Giannis pela frente. Agora, porém, tem a chance de contratar Bebê, num setor com carências.

O lituano Joanas Valanciunas terminou a temporada em alta, mas, em geral, não deu o salto que o clube esperava. É jovem – um mês e meio mais velho que o brasileiro apenas e já com duas campanhas de NBA na bagagem – e o titular indiscutível da posição, todavia. Amir Johnson é pau-pra-toda-obra e alguém que parece ainda nem ter alcançado seu potencial pleno ainda. Tyler Hansbrough poderia ter sido dispensado hoje – mas teve seu contrato confirmado. Patrick Patterson, que jogou tão bem desde que chegou na troca por Rudy Gay, pode ser um agente livre restrito cobiçado, devido ao seu arremesso de três pontos. Chuck Hayes joga muito – para alguém de seu tamanho. E só. Pode ter espaço aí, ou não.

Além do mais, é de se imaginar que a presença do cabeleira no elenco do Raptors ajudaria na transição de Caboclo ao dia a dia na metrópole canadense, como um companheiro para trocar ideias e dividir experiências, ainda que também não fale inglês fluente. Mas isso vai depender dos próprios planos do clube em relação aos seus agentes livres, como o armador Kyle Lowry. A intenção é mantê-lo mas seu preço pode ser inflacionado, especialmente o de Lowry, que foi um dos melhores em sua posição no último campeonato e desperta o interesse de LeBron James do Miami Heat e, dizem, do Los Angeles Lakers. Com cerca de US$ 40 a 41 milhões comprometidos em holerites, já contando o vínculo futuro de Bruno, eles têm muito provavelmente a flexibilidade para assinar com quem queiram e ainda contratar Bebê para já. Vamos aguardar.

Até porque não haveria necessariamente uma urgência para que Lucas produzisse logo de cara. Seria uma peça complementar em um elenco que evoluiu muito sob o comando de Dwane Casey durante o campeonato, especialmente após a saída de Gay. Essa melhora, inclusive, forçou que Ujiri mudasse sua direção. Inicialmente, quando o nigeriano acertou seu retorno ao clube por uma bolada, esperava-se que fosse implodir o elenco. Algo que começou fazendo ao despachar Andrea Bargnani para Nova York. Acontece que o Raptors, em vez de perder, começou a vencer, a ponto de chegar aos playoffs pela primeira vez desde 2008. Daí que agora o cartola pensa em manter essa base competitiva e se virar para desenvolver jovens atletas fora da rotação. É nessa estratégia que entra a surpreendente escolha de Bruno Caboclo. Pode ser aí que se encaixe Lucas Bebê.

*  *  *

Sobre a seleção de Bruno, em tempo: sim, há mais de um mês sabia do forte interesse do Toronto Raptors pelo seu talento. Indiana Pacers, Utah Jazz (seu diretor internacional de scouting, que acabou de se desligar do clube, é um dos responsáveis pela montagem do elenco do Nike Hoop Summitt…) e o Phoenix Suns (Leandrinho?) também estavam na trilha.

Quando o ala declarou seu nome, muitos clubes saíram a sua procura, como relatei aqui. Nesses contatos, chegou a informação, de três fontes diferentes da liga, de que ele teria a promessa que seria escolhido, e que ttudo apontava que fosse realmente o Toronto. Mas ninguém esperava que ele saísse com a 20ª escolha! Isso é fato. Acho que nem mesmo Masai Ujiri acreditava nisso (risos). Minhas fontes, na verdade, acreditavam que ele sairia apenas na 59ª escolha – visto que se tratava de um nome pouco discutido. Em público, no caso.

O venerável Marc Stein, do ESPN.com, contudo, reportou que a promessa do Raptors estava endereçada para o pick 37. Então foi um meio acerto aqui no blog. Que o Toronto tenha conseguido manter isso em segredo diante da mídia norte-americana, é notório, aliás. Nenhum dos sites especializados cogitava a escolha de Caboclo. Nem mesmo na segunda rodada.

Caboclo treina em Toronto. Crédito da foto é de João Fernando Rossi, dirigente do Pinheiros que acompanha o rapaz por lá

Caboclo treina em Toronto. Crédito da foto é de João Fernando Rossi, dirigente do Pinheiros que acompanha o rapaz por lá

Com a proximidade do Draft, porém, os nervos ficam mais tensos. A primeira opção da franquia, o armador local Tyler Ennis, foi escolhida pelo Suns. Na dúvida, Ujiri foi de Bruno logo em 20º, mesmo, relatando depois que o tinha como o segundo calouro em sua lista (claro, daqueles que julgava possível obter) e que temia que ele não estivesse disponível mais de uma hora depois. Vai saber. Ele não quis arriscar.

O agente responsável pelo ala – que era o mais jovem do Draft – ajudou a segurar as pontas para a franquia canadense também. Foi bastante seco em seus contatos com as franquias que o procuravam. Nos últimos dias antes do processo de seleção, havia um companheiro, envolvido na cobertura, que até mesmo especulava se a estratégia realmente não era de que Bruno passasse batido pelo Draft para ter plena possibilidade de escolha no futuro, sem ficar preso a um só clube. O agente brasileiro, agora escoltando o garoto nos Estados Unidos, ajudando-o também como intérprete, havia me dito que não tinha nada de promessa. Como postei na noite: compreensível, havia um plano em curso, e, na guerra fira que é a preparação para o Draft, cada um defende os seus interesses. A lição que fica aqui é a de sempre: declaração oficial nem sempre – ou quase nunca – não é o suficiente.

Minutos depois da escolha de Caboclo, também ouvi de uma fonte de que Caboclo já tinha a garantia de que seria aproveitado de imediato pelo Raptors. Calhou que não era achismo. Durante a apresentação do menino, Ujiri confirmou – depois, inclusive, de admitir que tenha visto o ala, ao vivo, em três ocasiões. O garoto vai trabalhar bastante com a comissão técnica de Casey e deve, aqui e ali, ser aproveitado na D-League. Mas esperem que ele fique muito mais tempo em Toronto, mesmo, já que o time não possui um afiliado particular na liga de desenvolvimento. Hoje, eles dividem esse vínculo com o Fort Wayne Mad Ants com outros 12 clubes (!!!) – uma situação agora bizarra, uma vez que todas as outras equipes  têm parcerias individuais.

*  *  *

O que penso a respeito?

Em primeiro lugar, nunca se pode ignorar o que representa financeiramente a transição para a NBA. É hipocrisia ignorar esse aspecto, ainda que, se tudo ocorresse conforme o esperado (pelo basquete brasileiro), Bruno não teria problemas em tocar uma vida confortável. Mas agora estamos falando de milhões de dólares, e para já.

Tirando isso, que importa, tem o jogo. Sem ele, não há a bufunfa, claro.

Faz mais de meses, especialmente depois da fase final da última LDB, que o burburinho nacional em torno de Bruno estava demais. E com razão. Não é todo dia que se vê um garoto com seus atributos físicos entrar em cena. Agora não é só de envergadura, agilidade e talentos naturais que tais que vive um prospecto. Precisa de tino, força de vontade e um trabalho por trás. E aí ficam os méritos para o Barueri, clube que o teve até 2013, e o Pinheiros, que o contratou no ano passado para acelerar seu desenvolvimento, por meio de trabalhos específicos diários e o simples convívio com o time adulto, que já faz uma baita diferença.

Talvez o ideal fosse seguir nesse ritmo por ora? Era o que o agente Eduardo Resende dizia, há coisa de duas ou três semanas. Que ele ficaria pelo menos mais um ano nessa rotina, antes de pensar em dar algum salto. Jogaria mais com a equipe principal e tal. Acontece que o interesse do Raptors não queria esperar. A franquia canadense confia que possa fazer o jogo do garoto crescer, mesmo que ele não jogue muito em seus primeiros meses – ou até mesmo durante o campeonato inteiro.

Há quem duvide. Um scout da liga disse ao New York Daily News que Bruno não valia nem mesmo uma escolha de segunda rodada. Segundo o que viu do atleta. Pensem que esse tipo de comentário pode sair da boca de alguém que neste exato momento é pressionado por seus superiores sobre um eventual desconhecimento do atleta.

Dos olheiros que ouvi, a frase de consenso foi a seguinte: “Potencial absurdo, mas ainda não sabe muito bem o que está fazendo em quadra. Vai precisar de tempo, mas vale a aposta. Por que não? Muitos calouros americanos mais americanos não dão em nada. E no caso de Caboclo há evidentes qualidades a serem exploradas”. Realmente só não esperavam que fosse sair tão cedo no Draft. As coisas mudam pouco de figura, até mesmo quanto a cobranças de torcedores e mídia, além de adversários mais antenados. Cada ala que tenha saído depois do brasileiro vai tê-lo como alvo.

No ano passado, Giannis Antetokounmpo foi contratado pelo Milwaukee Bucks com planos semelhantes. Acabou que entrou na rotação da equipe rapidamente e terminou a temporada como o novato talvez mais promissor de sua geração. Bruno pode seguir a mesma linha, quiçá, ao menos em termos de ganhar tempo de quadra inesperado? Perguntei aos scouts, e eles só concordavam em uma coisa: que ambos só eram similares em termos de narrativa, história. “Garoto que é uma aberração física e que veio do nada para a NBA”. Mas que o grego já estaria muito mais desenvolvido em alguns aspectos como “feeling” de jogo e sua habilidade com a bola quando foi draftado. São olheiros em que confio, que trabalham para equipes com bom faro para e aproveitamento de jogadores estrangeiros, isso posso garantir.

Aguardemos os relatos de seus treinos e rachas com DeMar DeRozan e Terrence Ross agora mesmo em Los Angeles para ver quais serão as primeiras impressões. Em julho, tem liga de verão. Outra atividade programada será a participação no camp de Tim Grgurich, renomado  treinador que investe muito no aprimoramento de fundamentos e já trabalhou por muito tempo com George Karl, inclusive com Nenê em Denver. Resta confiar agora que os técnicos de Toronto ajudem no progresso do ala para encarar essas diferentes e maiores expectativas. De tudo o que ouço sobre Bruno, da sua parte não vai faltar empenho.

PS: Durante esta Copa, como havia avisado, a atualização do blog fica atrapalhada. Ainda falta escrever sobre Splitter, Spurs, LeBron (de novo!?!) e tal. Ah, seleção também, claro. Está acabando, e logo acessaremos isso. 


Bruno Caboclo mantém nome no Draft da NBA. Com promessa de clube?
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Giancarlo Giampietro

Bruno Caboclo ficou no Draft, com fortes indícios de promessa

Bruno Caboclo ficou no Draft, com fortes indícios de promessa

Vamos com a notícia direta e reta: o jovem Bruno Caboclo, ala do Pinheiros que nem 19 aos completou ainda, manteve seu nome na lista de jogadores inscritos no Draft da NBA, assim como o pivô Lucas Mariano, do Franca e 21 anos. Os atletas estrangeiros tinham até esta segunda-feira para decidir se permaneciam no processo de recrutamento de novatos da liga norte-americana. Discretamente, os promissores atletas, por enquanto pouco mencionados pelos jornalistas especializados na cobertura do evento, seguiram essa linha.

Poderíamos escrever aqui que é uma surpresa. Quer dizer, não deixa de ser uma surpresa, especialmente no caso de Caboclo – poucos olheiros e dirigentes da NBA tinham contato com o rapaz. Se Mariano se apresentou em Treviso por dois anos seguidos, Caboclo não deu as caras, e nem Mundiais de base disputou. A familiaridade que têm com seu jogo é, em geral, mínima. A despeito disso, a decisão de manter o nome na lista de candidatos vai de encontro rumor que o blog ouviu há mais de um mês. O de que ele já teria a promessa de uma franquia de que seria draftado. De um time que disputou os playoffs da Conferência Leste. Fiquem de olho especificamente em Indiana Pacers (#57) e Toronto Raptors (#59).

Veja bem: não li nenhum documento que comprove isso. Na verdade, as coisas nem funcionam assim. Mas ouvi de fontes diferentes da liga, no início de maio, a suspeita de que o o ala do Pinheiros já havia recebido a garantia de que seria escolhido na segunda rodada – sobre Mariano, não tenho informações a respeito. Na época, entrei em contato com o agente brasileiro de Bruno, Eduardo Resende, da EW Sports, que trabalha em parceria com a Octagon, gigante do marketing esportivo dos Estados Unidos. Resende me disse que o ala havia sido inscrito apenas para chamar a atenção dos  clubes de lá. Ganhar exposição. De que não havia a menor intenção de mandar o atleta para os Estados Unidos para já. Que ele ficaria no mínimo mais um ano no Pinheiros, para ganhar cancha, rodagem e trabalhar fundamentos. Que seria bobagem pensar nisso.

Acontece que, no caso de um jogador ser draftado, não há obrigação nenhuma que ele se apresente de imediato ao time que o escolher. Tiago Splitter e Serge Ibaka estão aí para comprovar isso, mesmo tendo sido selecionados na primeira rodada, com maiores expectativas. Na segunda ronda, então, os times tendem a agir com ainda mais liberdade – ou flexibilidade, o termo que preferem. Podem apostar num menino ultratalentoso, pouco burilado, de olho no futuro. Em dois ou três anos, pode não dar em nada. Ou, quiçá, pode vir por aí um novo Manu Ginóbili ou Luis Scola, dois craques que não saíram nem mesmo entre os 50 primeiros de seus respectivos Drafts, e hoje são o que são. Nunca se sabe exatamente, mas pode-se projetar e apostar.

Então temos a seguinte questão: se, desde que o companheiro aqui de UOL Esporte, Fabio Balassiano, deu o furo sobre sua inscrição, havia chances reduzidíssimas – “quase 0%” era a impressão passada – de que  ele continuaria no Draft, o que mudou desde então para que pudesse permanecer ? Ou: será, mesmo, que mudou alguma coisa?

Uma coisa é certa: a partir do momento que o nome de “Bruno Correa Fernandes” apareceu entre os inscritos no recrutamento, a NBA ficou ouriçada. Os profissionais de lá não gostam de se deparar com o desconhecido. Não por medo, mas simplesmente porque, num ambiente extremamente competitivo, com 30 clubes procurando qualquer trunfo possível sobre os concorrentes, a busca por informação é grande. Não saber = fraqueza, posição de desvantagem. Então quem diabos seria esse menino Bruno Caboclo?

Pode parecer estranho, não? Afinal, no ano passado mesmo o ala do Pinheiros foi eleito o melhor jogador do “Baketball without Borders”, camp oficial da liga realizado na Argentina. Foi um sinal de fumaça, e a partir daí alguns clubes começaram a sondar o Pinheiros e jogador – pelo menos cinco franquias o fizeram por meio dos canais oficiais durante a temporada. Mas não foi o suficiente para colocá-lo oficialmente no radar de dirigentes. Daí que os clubes inicialmente fora da alçada tiveram de sair em busca de qualquer informação, qualquer novidadena respeito do jogador. Queriam vídeos, queriam saber sobre o comportamento do jogador e tudo o mais. No caso de um adolescente brasileiro, que nem bem jogou no campeonato principal de seu país? Estamos falando de termos como “obscuro” e, ao mesmo tempo, “intrigante”.

O que os clubes estão vendo nas gravações de jogos a que têm acesso é um garoto ainda muito cru tecnicamente, mas com potencial absurdo. Destacam sua envergadura, altura e atributos físicos incomuns. “A história mostra que prospectos da segunda rodada não vingam. Então por que não apostar em um garoto  assustadoramente atlético?”, pergunta retoricamente um scout, que pede para não ser identificado, em contato com o blog.

Nesse processo, descobre-se que o agente responsável pelas negociações de Bruno em solo norte-americano é Alex Saratsis, o mesmo que representou o grego Giannis Antetkounmpo no Draft do ano passado e que já trabalhou com Jonathan Tavernari, do Pinheiros. Ao entrarem em contato com Saratsis, porém, os clubes tiveram uma ingrata surpresa. O agente não cooperou muito em termos de divulgação de informações de seu cliente. Só souberam que Bruno não faria treinos privados com os clubes no Estados Unidos. Bruno também não participaria do Nike Hoop Summit, em Portland (na época estava contundido), nem do adidas Euro Camp, no qual competiram Cristiano Felício, Lucas Mariano e Rafael Luz. (E aqui cabe um esclarecimento: por terem nascido em 1992, Felício e Luz participam do Draft automaticamente. Eles não entram, nem saem do Draft. Os times podem escolhê-los se bem entenderem. O caso de Mariano é diferente: nascido em 1993, ele teria a opção de retirar o nome nesta segunda, sendo que 2015 seria o limite para ser recrutado.)

A pergunta que muitos clubes fizeram: se Bruno quer ganhar exposição, por que sumiria do mapa desta forma? Por que seguir treinando em dois períodos no Pinheiros, com os meninos de sua idade, mantendo a rotina, em vez de ao menos exibir seus talentos mais perto dos olheiros e aguçar de vez o interesse deles? Sniff, sniff, alguma coisa não batia nessa.

Ainda mais porque Saratsis havia apresentado uma conduta completamente diferente no ano passado, na condução da candidatura de Antetokounmpo – hoje uma sensação do Milwaukee Bucks. “Giannis pelo menos convidou todos os times para irem vê-lo na Grécia e inclusive fez treinos para eles. Agora eles simplesmente evitam? Não falam nada nem sobre contrato etc.”, afirmou um scout. É nesse contexto que as suspeitas sobre uma eventual promessa a Bruno ganham força.

O outro cenário possível na estratégia da Octagon seria o seguinte: a recusa em passar informações sobre Bruno teria simplesmente o intuito de realmente criar o burburinho em torno de seu nome e aí, sim, colocá-lo na lista de alvos para o Draft de 2015, de modo a forçar que todo santo time da liga a viajasse ao Brasil para assisti-lo. Inclusive, a expectativa interna no Pinheiros, aliás, é (era?) a de dar não só a ele, mas também ao ala Lucas Dias e ao armador Humberto mais tempo de quadra, inseri-los para valer na rotação.

Seria um caminha realmente plausível. Os mesmos times da NBA que passariam a acompanhar Bruno com atenção, na verdade, já buscaram informações de imediato sobre ligas para jovens aqui no Brasil. Calendário, o nível de competição. E se até mesmo haveria a chance de assisti-lo in loco ainda neste mês de maio que passou. Com o Pinheiros eliminado do NBB e alguns jogos do Paulista sub-19 largados, ficava mais difícil. Ainda existe a especulação de que alguns clubes tenham vindo para São Paulo para vê-lo de perto mesmo assim, em treinos. Algo que não consegui confirmar.

São conjecturas, temos de admitir. Mas o simples fato de Bruno seguir inscrito dá outra cara para esse relato. Das duas, uma: ou os agentes do garoto se sentem realmente confortáveis de que ele será escolhido por um time, ou estão fazendo uma aposta imensa. Até porque este Draft promete ter uma presença maciça de estrangeiros. Uma breve consulta ao DraftExpress mostra isso: em sua confiável projeção, constam nesta segunda 13 atletas de fora dos Estados Unidos (sem contar canadenses e outros que venham da NCAA ou NBDL). Desses 13, nove sairiam na segunda rodada, justamente a área que imaginamos para Caboclo. A expectativa entre as franquias é de que Bruno seja escolhido realmente entre as posições 50 e 60. Qual poderia ser o time interessado no ala do Pinheiros? Podem anotar: Indiana Pacers e Toronto Raptors são candidatos seríssimos.

Outra opção natural seria o Philadelphia 76ers – mas não por qualquer informação que eu tenha recebido, neste caso, e, sim, por uma questão de lógica. O clube simplesmente tem CINCO escolhas de segunda rodada no recrutamento deste ano – sem contar mais duas no top 10 –, depois de tantas trocas que fez nos últimos anos. Em processo de renovação, a equipe pode juntar todos esses picks e fechar mais transações. Ou simplesmente poderia sair colhendo a torto e a direito jogadores internacionais, sem compromisso ou necessidade de aproveitá-los a curto prazo.  Mais: o San Antonio Spurs, bastante famoso por seus projetos no exterior, também tem duas escolhas no final da segunda rodada. Com um elenco formado e pouco espaço para apostar em calouros para já, poderiam muito bem investir em um adolescente como Bruno, tal como aconteceu como já fizeram com o ala-armador francês Nando de Colo, o ala letão Davis Bertans, entre outros.

E outra: os picks hoje têm dono, mas durante uma noite de NBA, o que não faltam são negociações. Lucas Bebê e Raulzinho, por exemplo, foram draftados no ano passado, usaram o boné de Boston Celtics e Atlanta Hawks e foram dormir como apostas de Hawks e Utah Jazz, respectivamente. É uma área movediça pacas – “como se fosse uma nova loteria”, nas palavras de outro scout.

Resta saber apenas se Caboclo estará disponível para eles ali no final da segunda rodada.

E, de novo: se (quando?) o ala for draftado, isso não quer dizer que vá ser aproveitado de imediato. Ele pode muito bem seguir carreira no Pinheiros. Pode ir para a Europa. Tudo depende da contingência da franquia: espaço no plantel, negociações com agentes livres e, tão ou mais importante, perfil da comissão técnica. Além, claro, do seu progresso.


NBA: 10 caras que abrem o ano novo de bem com a vida
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Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.


NBA 2013-2014: razões para seguir ou lamentar os times da Divisão Atlântico
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Giancarlo Giampietro

Cada equipe tem suas particularidades. Um estilo mais ofensivo, uma defesa mais brutal, um elenco de marmanjos cascudos, outro com a meninada babando para entrar em quadra. Depois da Divisão Sudeste, amos dar uma passada, agora, pela Divisão Atlântico, mirando o que pode ser legal de acompanhar e algumas coisas que provavelmente há de se lamentar. São observações nada científicas, estritamente pessoais, sujeitas, então, aos caprichos e predileções de uma só cabeça (quase) pensante:

BOSTON CELTICS
Para curtir:
– Os americanos se divertindo com o suposto apelido de Vitor Faverani de “El Hombre Indestructible” em suas crônicas, admirados como o jogo durão do brasileiro.

Avery Bradley oprimindo, com sua movimentação lateral implacável, postura perfeita e muita garra, quem quer que tente driblar em sua direção, ou em qualquer direção, na verdade.

– O eventual segundo quarto em que Jeff Green vai parecer um All-Star, atacando a cesta com tudo e convertendo chutes da zona morta.

Jared Sullinger coletando rebotes ofensivos, mesmo que não consiga pular um par de chinelos – e tomando impulso na corrida.

Kelly Olynyk mostrando que força não pode ser tudo no basquete, mesmo quando se tem mais de 2,10 m de altura.

Para chiar:
– Os jogos em que Brandon Bass e Kris Humphries vão apanhar toda a vida o garrafão, mas nada de Faverani na quadra.

Avery Bradley amassando o aro, do outro lado da quadra.

– Os outros três quartos em que Jeff Green fica vagando na quadra, sem muito propósito.

Jordan Crawford algemando a bola em um garbage time no Boston Garden, com o Celtics perdendo por 20 pontos.

– As caretas de MarShon Brooks no banco de reservas.

– Cada cheque gordo mensal depositado na conta de Keith Bogans e Humphries.

BROOKLYN NETS
Para curtir:
– Para delirar, na real, imaginando o quão forte pode ficar a defesa do time nos minutos em que Garnett e Kirilenko estiverem juntos em quadra. Vai ser um terror para qualquer coordenador ofensivo.

Pierce e Garnett, aos poucos, dominando o vestiário e tentando dar um jeito na prima donna que se tornou Deron Williams.

– Kirilenko, Pierce e Garnett podendo um dar descanso ao outro, para que cheguem bem aos playoffs.

Brookly reforçado

Brookly reforçado

Brook Lopez dominando embaixo da cesta, mas também matando seus chutes de média distância e aprendendo uma coisa ou outra com Garnett na cobertura e imposição defensiva.

– As partidas de 15 ou mais rebotes de Reggie Evans, mesmo que ele nem passe dos 20 minutos de ação.

Para chiar:
– A deterioração no jogo de Joe Johnson e sua passividade em quadra.

– Se Deron tiver problema em dividir os holofotes com os veteranos que chegaram.

– Qualquer limitação física que abale a equipe rumo aos mata-matas.

Jason Terry, afoito para fazer suas cestinhas, abortando alguns ataques.

Jason Kidd atendendo ao celular durante jogos. Difícil que ele repita o que fez na liga de verão. Em todo o caso…

NEW YORK KNICKS
Para curtir:
– Quando Carmelo Anthony incendeia o Madison Square Garden; aqueles momentos em que ele fecha dos olhos, atira para cima e cai tudo, mas tudo mesmo, como um robozinho preparado para fazer cestas.

– As acrobacias de JR Smith que fazem o queixo cair.

– Toda a calma e inteligência de Pablo Prigioni, fazendo os passes corretos, na hora certa, além de sua esperteza para bater a carteira de rivais muito mais rápidos e jovens.

Tyson Chandler brincando de vôlei perto da tabela e, com aquele tamanho todo, sendo capaz de defender alas no mano a mano (desde que as costas estejam 100%, claro).

– Os ataques do jornalista Frank Isola, do New York Daily News, ao conglomerado de James Dolan, via Twitter. Imperdível.

– O fantástico mundo de Ron Artest.

Para chiar:
– Quando Carmelo Anthony  e JR Smith simplesmente não vão passar a bola para ninguém.

– Os diversos momentos em que, por desatenção ou preguiça, Carmelo concede cestas fáceis aos adversários. Para depois reclamar de seus companheiros.

– A triste derrocada de Amar’e Stoudemire, que mal consegue parar em pé há duas  temporadas e já vem estourado desde a pré-temporada.

– Contratar Chris Smith só pelo fato de ele ser o caçulinha de JR.

– Os quilinhos a mais de Raymond Felton.

Andrea Bargnani e um potencial nunca realizado.

– O bilionário mundo de James Dolan.

PHILADLEPHIA 76ERS
Para curtir:
Thaddeus Young e seu jogo silencioso, mas muito eficiente e vistoso, sim, senhor, com suas passadas largas rumo ao aro.

– A liberdade plena de criação para Brett Brown, mais um discípulo de Gregg Popovich a tentar a vida fora de San Antonio.

– Prospectos até hoje escondidos, mas com muito talento e uma grande oportunidade para mostrar serviço: James Anderson, Daniel Orton e Tony Wroten.

– Hã… Bem… Difícil ir além disso. Que Nerlens Noel possa se juntar a Michael Carter-Williams em quadra o mais rápido possível em um dos elencos mais limitados dos últimos anos.

Para chiar:
– As claras intenções de se sabotar toda uma temporada em busca de uma boa posição no Draft; do ponto de vista coletivo, de credibilidade da liga, lamentável, ainda que a estratégia faça sentido para a franquia.

Evan Turner batendo cabeça com Carter-Williams.

Cada salário depositado na conta de Kwame Brown.

TORONTO RAPTORS
Para curtir:
– As maquinações de Masai Ujiri nos bastidores, em busca da próxima troca em que vá rapelar o outro negociador.

– A adoração dos torcedores do Raptors por Jonas Valanciunas, e desenvolvimento deste promissor gigantão lituano.

– A leveza e capacidade atlética de Rudy Gay, DeMarr DeRozan e Terrence Ross.

Amir Johnson, pau-pra-toda-obra.

– O arremesso de Steve Novak.

Tyler Hansbrough trombando com todo mundo que não atenda pelo nome de #mettaworldpeace.

Para chiar:
– As tijoladas intempestivas, pouco inteligentes de Rudy Gay.

– Toda a falta de mobilidade de Aron Gray, provavelmente o jogador mais pesado da NBA (oficialmente com 122 kg).

– As lesões e os chiliques de Kyle Lowry.

Landry Fields e toda a sua saudade dos tempos de Linsanidade.

– A perda total de confiança por parte do diminuto DJ Augustin.


Bargnani x Novak? Knicks confia em reforço italiano para sonhar com título
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Giancarlo Giampietro

Andrea Bargnani x mídia de NYC

Andrea Bargnani e Steve Novak entraram juntos na NBA, no Draft de 2006.

Badalado na Itália, o italiano, “Il Mago”, foi o primeiro da lista de recrutamento de novatos, algo inédito para um europeu. Após sete temporadas, ganhou mais de US$ 48 milhões e ainda tem mais, no mínimo, US$ 11,8 milhões encomendados – ou US$ 23 mi, dependendo do que o New York Knicks optar. Até 10 de julho de 2013, conhecia apenas um só time da liga norte-americana, o Toronto Raptors.

O americano já ficou para lá de contente em ser o número 32 daquela relação, algo de certo modo surpreendente para o ex-companheiro de Dwyane Wade em Marquette. De lá para cá, embolsou US$ 8 milhões em sete anos, três milhões a menos que “Bargs” faturou na última temporada. De qualquer forma, tem mais de US$ 10 milhões garantidos para os próximos três anos. O ala foi selecionado pelo Rockets e trocado para o Clippers em 2008. Assinou como agente livre com o Dallas Mavericks em setembro de 2010. Acabou dispensado em janeiro de 2011. Em fevereiro do mesmo ano, completou a trinca texana ao fechar com o San Antonio Spurs. Foi chutado mais uma vez em dezembro. Dois dias depois, acertou com o New York Knicks. Foi aí que aconteceu a “Linsanidade”, na qual surfou com toda a empolgação possível, mandando bala do perímetro a partir das infiltrações do armador.

Os dois são conhecidos como jogadores altos com ótimo arremesso de três pontos, mas têm status bem distintos, como fica evidente nessa comparação. Até que seus caminhos voltaram a se cruzar há alguns meses, quando Knicks e Raptors fecharam uma transação. A equipe nova-iorquina teve de ceder Novak, Marcus Camby, Quentin Richardson, uma escolha de primeiro round e mais duas de segundo para fechar o negócio.

Por esse preço, julga-se o prestígio de Bargnani como o de uma estrela, não? Foi um superpacote, digno de um antigo número um do Draft. Que muita gente tenha feito troça dos Bockers e louvado mais uma limpa de mão cheia promovida por Masai Ujiri, o novo manda-chuva do time canadense é o problema.

Para o mercado da NBA, o italiano já era visto como um fiasco total, um símbolo de jogador com um salário muito acima do merecido, considerado como o grande motivo para a queda de Bryan Colangelo, antecessor de Ujiri. Colangelo havia fechado uma renovação contratual de mais de US$ 50 milhões por cinco temporadas com seu atleta em 2009, ainda que o jogador de 2,13 m de altura ainda não tivesse apanhado mais de 6 rebotes em média em três campanhas na liga.

Mas Bargnani ainda era novo, apenas com 23 anos. Dá para entender a dificuldade se desvencilhar de uma aposta pessoal dessas, ainda mais pela faceta intrigante de seu basquete. Ele foi um dos muitos possíveis futuros “Dirk Nowitzkis”, daqueles grandalhões com munheca para converter os arremessos de longa distância e a coordenação para driblar arrancando em direção ao aro. Uma versatilidade que encanta, mas que nem sempre se traduz em quadra. O astro alemão é um workaholic. Sua habilidade e dedicação contumaz são únicas, difíceis de se equiparar.

Já Novak não tem nada de potencial para se explorar nesse sentido. Tem uma e só qualidade que lhe sustenta na liga: o tiro de longa distância, na qual é um sniper, com média de 43,3% na carreira e quatro temporadas com um mínimo de 41,6%. O italiano, por sua vez, chegou a converter 40,9% em 2009, mas só vem caindo desde, então, terminando os últimos dois anos com uma pontaria abaixo de medíocre – 29,6% e 30,9%. O tipo de arremesso que sobra para um é diferente do que resta para outro, diga-se.

Seria a pressão por encabeçar um Draft? A falta de fome? As constantes lesões? Ter começado num time com Chris Bosh, um jogador de certa forma semelhante e que pode ter tolhido seu desenvolvimento na entrada na liga? A falta de estrutura na comissão técnica ou clube? Ou simplesmente ele não era bom o bastante? Não há uma só resposta definitiva para entender o que deu errado na jornada do italiano acima do lago Michigan. Fato é que as médias de 15,2 pontos, paupérrimos 4,8 rebotes, 0,9 tocos e 43,7% nos arremessos valeram como uma enorme decepção.

E o que fazer com uma peça rara dessas em Nova York? Justamente na cidade com a mídia mais implacável, com tabloides diversos prontinhos para estorvar? Para ponderar: o Brooklyn Nets conseguiu Kevin Garnett, Paul Pierce e Andrei Kirilenko. O Knicks, se corroendo de inveja, tem um “Bargs” para apresentar – além do #mettaworldpeace, claro, que é uma oooooutra história.

Vai encarar?

De um jeito outro, o italiano é obrigado a. E o técnico Mike Woodson acredita que pode ajudá-lo neste sentido, confiante depois do trabalho que fez com JR Smith e Raymond Felton no ano passado. “Não acho que você pode desperdiçar a oportunidade de contar com uma peça como Bargnani”, disse. “Ele é um desses jogadores talentosos que acho que posso influenciar. Já o assisti muitas vezes de longe, treinando contra ele em Toronto. Acho que ele pode fazer uma série de coisas. Só tenho de deixá-lo aclimatado ao que estamos fazendo, se sentindo bem, porque ele realmente pode ajudar este clube.”

Já Carmelo Anthony fala de um jeito mais desbocado. “Não tem pressão para cima dele”, afirmou. “Você tem de vir aqui e jogar bola. Toda a pressão está em mim. Deve ser uma transição fácil para ele, se ajustar a isso. Apenas faça as coisas certas, e o resto deveria ser fácil.”

Melo até que tem razão. Se as coisas não derem certo para o Knicks, pode ter certeza de que ele, Amar’e, Chandler e Smith, além de Woodson, da diretoria e do proprietário James Dolan, vão aparecer na frente na lista dos críticos. Com o volume de cobertura, porém, de que o time desfruta, sempre dá para sobrar uma farpa para um ragazzo.

Tendo que se preocupar não apenas com o Nets, mas também com Pacers, Bulls e, claro, Heat, para cumprir as expectativas (irreais?) de um tão cobrado título, o Knicks vai precisar de tudo o que Bargnani puder entregar. Nem que seja – pelo menos e quem diria? – simular o rendimento de um Novak na linha de três pontos. Nessa hora, não é mais o prestígio que conta. Mas, sim, a produção.


O show de Haddadi: cult na NBA, pivô iraniano é uma estrela dominante no mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Hamed Haddadi, versão supervô

Haddadi domina, Haddadi destrói: um superpivô no campeonato asiático

Ok, ok. Admito. Tem uma queda pelo termo cult  que pode deixar o Vinte Um algo repetitivo. É uma palavra importada que já apareceu certamente em posts passados e, pode cravar, vai voltar a ser publicada. Mas não tem jeito também, né? O basquete está cheio desses caras O que a gente poderia até fazer era buscar sinônimos, tipo “figuraça”, mas, para falar de Hamed Haddadi, o gigante iraniano, ficamos com a primeira opção, mesmo.

É apropriado, afinal. Dessa forma que o pivô era tratado nos seus tempos de Memphis. E pudera! O primeiro iraniano da NBA, perdido lá no meio do Tennessee, assimilando a cultura americana ao lado de cavalheiros como Zach Randolph, Tony Allen e tal. Imagine a confusão na cabeça do cara: da criação envolta pelo Islã a uma cidade batalhadora, tomada por caipiras trabalhadores no interior dos Estados Unidos, mas acompanhado da influência hip-hop do vestário da maioria dos clubes da liga. Você aprende primeiro a dizer “yo!”, depois bom dia. Dá uma salada daquelas.

Daí que não tardou muito para Haddadi ser adotado pelos jogadores e torcedores como um xodó do Grizzlies, aclamado sempre que saía do banco – em caso de extrema urgência ou de uma sacolada de seu time, diga-se, para render Marc Gasol. Mas tudo bem: não é todo dia que você se depara por aí com alguém de 2,18 m de altura, vindo do Irã e com uma predileção para palavrões, pose marrenta e que vai com tudo para cima dos rebotes, que é o que ele faz de melhor, qualidade demonstrada nos Mundiais e Jogos Olímpicos da vida.

Antes de apresentar seu cartão de visitas nesses torneios de primeira, quem haveria de conhecer Haddadi? Ele não jogou na Europa, não foi draftado por nenhum clube americano, nem chegou perto disso, na verdade. Num basquete extremamente globalizado, em que JaVale McGee se torna um ícone nas Filipinas, a relação dos países islâmicos com os principais centros do mundo ainda está pobrinha. Claro que há americanos por lá, treinadores estrangeiros com as seleções ou clubes, mas na contramão não tem muita coisa. Temos o tunisiano Salah Mejri, que já fez testes pelo New York Knicks e que acabou de ser contratado pelo Real Madrid, Haddadi e pouco mais (alguém aí sugere outro exemplo, façavor?).

Então, Haddadi neles.

E aonde queremos chegar?

Tudo isso começou com uma breve checagem no site da Fiba, e a mensagem de que o pivô estava fazendo estragos na Copa Ásia (“Copa da Ásia”, “Torneio Asiático de Seleções”, “AsiaBasket”, escolha a nomenclatura que lhe mais fizer a cabeça, por favor) deste ano. Enquanto o Brasil ainda se prepara para sua Copa América, lá do outro lado do hemisfério as forças do basquete já estão se escalpelando há tempos.

No momento, estamos nas quartas de final, e o Irã de Haddadi segue firme e forte rumo a mais uma classificação. Lá, Haddadi é quem manda, galera.

O pivô vem com médias de 17,4 pontos, 8,6 rebotes, 65,3% nos arremessos e 1,8 bloqueio, tendo jogado apenas 101 minutos em cinco partidas. Tá tudo dominado! Considerando ara dar mais emoção até, o cara ainda resolveu atirar uma bola de três pontos – algo que levaria Lionel Hollins à loucura em Memphis – e, a-ham, a converteu.

Sob a liderança do seu grandalhão, o Irã vai descendo marretadas na cabeça dos nanicos que tem enfrentado. Malásia, Coreia do Sul, Índia, Bahrein, é até sacanagem. De qualquer foram, não despreze o Haddadi, tá? No Mundial de 2010, na Turquia, por exemplo, ele teve médias de 20 pontos e 8,6 rebotes, aí contra gente de alto nível.

Mas o que acontece para ele ser um estouro no mundo Fiba e, na NBA, ser conhecido mais feito mascote do que jogador? É que na liga norte-americana suas, digamos, deficiências atléticas ficam muito expostas. Marcar um pivô como Nenê já seria muito difícil para o sujeito. Pensem, então, na hora em que, enfrentando o Wizards, ele precisasse conter um John Wall avançando no mano-a-mano, verticalmente, depois de um corta-luz? Na verdade, impensável.

Não valeria a pena então pensar numa carreira fora dos Estados Unidos? Lembrando: Haddadi no momento está sem contrato na NBA, depois de ter sido trocado na temporada passada de Memphis para Toronto e, depois, para Phoenix, e, dali, para a rua – embora ninguém possa se comover tanto com o iraniano, que desde 2008 já embolsou US$ 7,4 milhões em salários na liga americana.

Em uma liga europeia, aos 27, Haddadi teria tudo para ser uma estrela. Nos Estados Unidos, vai de cult mesmo.


Modelo sustentável de contratações é um dos segredos para a longevidade do Spurs
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Giancarlo Giampietro

Gary Neal, ele mesmo

Gary Neal não deixou muita saudade em Barcelona, mas se encaixou no Spurs

Ter um Tim Duncan ajuda. Um treinador com a versatilidade, inteligência e o cartaz de Gregg Popovich também. Quando você combina esses dois fatores, já tem grandes chances de encaminhar uma longa jornada de sucesso como no caso do San Antonio Spurs. Mas isso não serve como a única explicação sobre o quão vitoriosa – e por um período tão duradouro – a franquia texana vem sendo nos últimos 17 anos, desde que o pivô foi selecionado no Draft de 1997.

Um dos segredos para essa prosperidade está no modelo sustentável de contratações orquestrado justamente pelo Coach Pop e seu fiel companheiro RC Buford, gerente geral do Spurs, um clube que nunca ficou fora dos playoffs após a contratação de Duncan e, acreditem, só perdeu duas vezes na primeira rodada dos mata-matas durante essa sequência.

RC Buford, gerente geral

Buford tem sua parte significante no interminável sucesso do Spurs

Não que eles não gastem –  até porque, para manter seu renomado trio, custa dinheiro, por mais bonzinhos e fiéis que sejam. Sua folha de pagamento, porém, é apenas a 12ª maior da liga, tendo valido US$ 69,838 milhões nesta temporada. Foi um pouco menos do que desembolsou o Golden State Warriors, justamente a equipe que tanto lhe deu trabalho nas semifinais do Oeste, com US$ 70,1 milhões. Já uma comparação com a folha do Los Angeles Lakers, a mais custosa deste ano, é de envergonhar a família Buss, que torrou US$ 100,131 milhões numa equipe que foi varrida pelos rivais na primeira rodada dos mata-matas.

Os confrontos com o Lakers, aliás, deixaram evidentes as diferentes concepções de montagem de um elenco. As estrelas estavam em ambos os lados. Na hora de recorrer ao banco de reservas, contudo, Mike D’Antoni tinha um número bem reduzido de alternativas, ficando com a vida ainda mais complicada com a ocorrência incessante de lesões. Do outro lado, Popovich obviamente tinha Parker, Ginóbili e Duncan em forma, mas suas opções para complemento de rotação eram bem mais animadoras, caso necessárias. Tanto que o clube não teve receio em dispensar um cestinha comprovado como Stephen Jackson a apenas alguns dias dos playoffs, por “motivos-de-Stephen-Jackson”.

E como o Spurs montou seu elenco? Quem são esses jogadores baratos que se enquadram no modelo sustentável de gestão? Como eles buscaram essas peças complementares? Vamos lá:

Cory Joseph: o armador canadense tem apenas 21 anos e ainda está em desenvolvimento – e esse é um dos pontos positivos da equipe, que trabalha muito bem com seus atletas mais jovens. Joga pouco, mas bem, com 11 minutos sólidos por partida nos mata-matas, aproveitando suas chances para pontuar e sem cometer turnovers, para dar um descanso a Parker. Quando ingressou na Universidade do Texas, era badalado vindo do colegial – fazia parte das seleções de base de seu país. Os Longhorns não chegaram a empolgar tanto, com o armador sendo considerado muito cru e nada preparado para jogar na NBA. Mesmo assim, se inscreveu no Draft e foi premiado com a 29ª escolha pelo Spurs. Por causa da escala salarial imposta aos novatos, seu salário custa pouco mais de US$ 1 milhão.

Patty Mills: o terceiro armador na rotação de Popovich é o titular da seleção australiana e, quando Andrew Bogut não se apresenta, se torna o principal jogador de um time que sempre dá trabalho – e é dirigido, vejam só, por um assistente técnico de Popovich, Brett Brown. Então temos esse cenário: um atleta que não saiu muito valorizado da universidade de Saint Mary’s, mas que já tinha prestígio internacional. Mills foi selecionado apenas na posição 55 do Draft de 2009, dois anos antes de Joseph. Durante a temporada do lo(u)caute, assinou com o Melbourne Tigers, em seu país. Depois, foi para a China, para defender o Xinjiang Flying Tigers. Uma vez que não tinha mais contrato com o Blazers, quando a temporada chinesa se encerrou e voltou a ficar disponível para a NBA, assinou com o Spurs. Da espécie de formiguinha atômicas da liga, daquelas que pode botar fogo na quadra com sua habilidade ofensiva, custando também pouco mais de US$ 1 milhão.

Gary Neal: ala-armador que não teve a carreira universitária mais expressiva e começou a preencher seu currículo na Europa, a começar pela Turquia. Em 2008, teve uma passagem bastante discreta pelo Barcelona ao lado de um envelhecido Pepe Sánchez. Foi no Benetton Treviso em que se encontrou, jogando por um dos clubes mais tradicionais do continente. Em 2010, defendeu o Málaga novamente na Espanha. Até que, do nada – do ponto de vista de quem nunca havia ouvido falar do jogador –, fechou um contrato de três anos com o Spurs no dia 22 de julho daquele ano, que se tornou uma tremenda de uma barganha: salário de US$ 854 mil, aproveitamento de 39,8% nos tiros de três pontos e a capacidade de sempre poder oferecer um pouco mais em quadra quando Parker e/ou Ginóbili estão fora. Vira agente livre ao final do campeonato.

Nando De Colo: ala-armador francês de 25 anos, 1,95 m de altura e um talento natural impressionante, de movimentos fluidos, boa visão de jogo e arremesso em evolução. Ganhou quase 13 minutos de média durante o campeonato, mas, com Ginóbili novamente em forma, não sai mais do banco durante os playoffs. De qualquer forma, devido ao que mostrou em seu primeiro ano de liga, o Spurs já sabe que poderá contar com ele no futuro. Draftado na posição 53 em 2009, ficou na Europa por mais três anos, progredindo naturalmente, jogando na Liga ACB, a liga nacional mais difícil da Europa. Salário de US$ 1,4 milhão neste ano e no próximo.

Danny Green, versão Euroliga

Danny Green, em dias eslovenos

Danny Green: ala de 25 anos formado na tradicional Universidade de North Carolina, pela qual foi campeão em 2009 como titular. O único jogador da história dos Tar Heels a somar mais de 1.000 pontos, 500 rebotes, 200 assistências, 100 tocos e 100 roubos de bola. E é isso mesmo: fazia um pouco de tudo pela equipe, mas nada excepcionalmente bem, a ponto de ser questionado: será que poderia se transformar em um jogador de NBA? Os analistas com viés estatístico juravam que sim. Foi selecionado pelo Cleveland Cavaliers de LeBron James em 2009, na 46ª posição – percebam que estamos falando de mais um caso de jogador escolhido na segunda rodada do Draft. Não foi aproveitado pela franquia, porém, sendo dispensado em outubro de 2010. O Spurs o contratou em novembro e o dispensou duas semanas depois. Jogou na D-League até retornar a San Antonio para o final da temporada. Durante o lo(u)caute, assinou com o Union Olimpija, da Eslovênia, clube de Euroliga, e vinha em uma grande campanha até que exerceu uma cláusula de liberação quando a NBA garantiu sua temporada 2011-2012. Assinou por três anos e US$ 12 milhões.

Kawhi Leonard: o ala de apenas 21 anos já era bem cotado quando se candidatou ao Draft de 2011, mas o interessante foi como o Spurs conseguiu selecioná-lo. Leonard passou batido, de alguma forma, por 14 equipes até ser escolhido pelo Indiana Pacers a pedido do clube texano, em troca do armador George Hill, alguém que era natural de Indiana e se encaixava no plano de reconstrução de Larry Bird. Hill foi mais um que o Spurs selecionou em uma posição nada vantajosa (26ª em 2008) e que estava pronto para receber um aumento salarial que não se enquadraria no elenco de Popovich, mesmo sendo um dos favoritos do técnico. Antes de perdê-lo por nada, então, descolaram essa troca mágica. Hoje, Popovich jura de pés juntos que Leonard está destinado a virar um All-Star.

Boris Diaw: figura estabelecida na liga, mas, completamente desmotivado em Charlotte, foi dispensado pelo Bobcats em março de 2012, com problemas de peso (coloquemos assim, de modo educado). Foi recolhido pelo Spurs no ato, para jogar ao lado de seu melhor amigo, Tony Parker, e virar titular num time que esteve muito perto de se garantir na final no ano passado até levar uma virada incrível do Oklahoma City Thunder. Renovou por dois anos e US$ 9,2 milhões. Mais um contrato abaixo do valor de mercado e, melhor, de curta duração.

Splitter, bons tempos

Splitter, MVP na Espanha

Tiago Splitter: o catarinense foi a 28ª escolha do Draft de 2007. Era uma estrela na Europa, o que deixava sua contratação complicada: ganhava bem pelo Baskonia e a escala salarial de novatos da liga não permitiria que os valores fossem equiparados – sem contar a multa rescisória exorbitante. Mas tudo bem: tempo a franquia, sempre brigando nos playoffs, tinha de sobra. Esperaram três anos e conseguiram mais uma barganha, pagando US$ 11 milhões por três anos de vínculo com aquele que era o melhor jogador da liga espanhola. Depois de duas temporadas de pouco tempo de jogo, despontou este ano como titular e peça fundamental para o fortalecimento da defesa do Spurs. Agente livre ao final da temporada, aos 28 anos.

DeJuan Blair: cotado como um talento top 10 no Draft de 2009, teve suas aspirações abaladas pelo exame médico oficial da liga, que constatou problemas estruturais em seu joelho. A ponto de ser escolhido pelo Spurs apenas em 38º. Titular nos dois primeiros anos, perdeu espaço este ano com a ascensão de Splitter. Último ano de contrato, valendo US$ 1 milhão.

Matt Bonner: escolhido como o 45º do Draft de 2003 pelo Chicago Bulls, começou jogando na Itália até retornar ao clube e ser trocado para o Toronto Raptors. Progrediu bem no Canadá e virou alvo de Gregg Popovich. Está na liga por uma só razão, e isso não tem a ver com seu cabelo ruivo: tem aproveitamento de 41,7% na carreira em arremessos de longa distância. Habilidade que encaixou com o plano de jogo de Popovich perfeitamente nos últimos anos, espaçando a quadra para seus astros brilharem. Salário de US$ 3,6 milhões, inferior ao que Steve Novak, ex-Spurs, ganha em Nova York.

Aron Baynes: mais um australiano observado em primeira mão por Brett Brown, o gigante de 2,08 m e 118 kg assinou com o Spurs no meio da temporada, depois de arrebentar pelo mesmo Union Olimpija na Euroliga, com médias de 13,8 pontos e 9.8 rebotes (liderava o torneio neste fundamento até seu time ser eliminado). Recebeu apenas US$ 239 mil este ano – pela metade do campeonato – e tem salário de US$ 788 mil para a próxima temporada.

Sobre Tracy McGrady, desnecessário elaborar. Uma contratação pontual para os playoffs, com uma medida de segurança que Popovich espera não ter de usar.

Fazendo um balanço de tudo isso: são seis jogadores de fora dos Estados Unidos (sem contar Parker e Ginóbili) e mais dois americanos que vieram do basquete europeu; apenas um desses operários foi escolhido entre os 20 primeiros do Draft (Leonard); cinco saíram apenas na segunda rodada do recrutamento de calouros, sendo que Baynes e Neal nem selecionados foram; três deles (Mills, Green e Bonner) foram dispensados rapidamente por seus primeiros times. Todos eles estão abaixo ou na conta em relação ao valor de mercado da NBA (considerando idade x produção).

Com um departamento de olheiros atentos, que não tem limites na sua caça a talentos, uma direção que não dá tiro no pé, assinando contratos curtos e de valores palatáveis para uma cidade como San Antonio, uma das menores da liga, a franquia estabeleceu um método de trabalho que virou exemplar para toda a concorrência. Hoje são vários os dirigentes formados dentro do clube texano que gerenciam outras franquias – Sam Presti, do Oklahoma City Thunder, o principal exemplo entre esses.

Moral da história? Não basta ter sorte para vencer – como ganhar a primeira escolha num Draft com Tim Duncan disponível, justamente depois de um ano em que o Spurs, já competitivo no Oeste, sofreu com diversas e diversas baixas, David Robinson entre elas, e ficou fora inesperadamente dos playoffs. Quando isso acontece, faz um brinde, sorriso bem aberto, e segue em frente. E, se puder coletar Tony Parker e Emanuel Ginóbili, respectivamente, nas 28ª e 57ª escolhas do recrutamento de novatos, melhor ainda.