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Arquivo : Domantas Sabonis

Guia olímpico 21: Sérvia e Lituânia, num segundo escalão
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Giancarlo Giampietro

Devido ao adiantado da hora, não dá para escrever tanto sobre cada um dos 12 participantes do torneio masculino do #Rio2016, pelo menos não da forma como foi feito com o Brasil e os Estados Unidos, comentando jogador por jogador, ou mesmo como Argentina, Espanha e França. Por que a atenção maior dada a estes times? Bem, os dois primeiros têm razões óbvias. O trio seguinte eu tento explicar assim: Espanha e França são, devido aos resultados recentes, aqueles mais cotados para subir ao pódio ao lado dos norte-americanos. A Argentina não está nesse patamar, mas tem velhos conhecidos nossos e fez parte da trajetória da seleção brasileira.

lituania-serbia-maciulis-kalinic-fiba

Lituanos levaram a melhor em dramática semifinal no ano passado

Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?

Reposta: Sim, vaaaaamos!

Então aqui estão:

1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China

Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.

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Festa essa ressalva, a ideia agora é publicar um post abordando os times restantes em cada um desses grupos, botando nigerianos, venezuelanos e chineses no mesmo balaio final. Aqui, chegou a vez de sérvios e lituanos:

SÉRVIA

Armadores: Milost Teodosic, Stefan Markovic, Stefan Jovic e Nemanja Nedovic.
Alas: Bogdan Bogdanovic, Nikola Kalinic e Marko Simonovic.
Pivôs: Nikola Jokic, Miroslav Raduljica, Milan Macvan, Vladimir Stimac e Stefan Bircevic.

– O grupo: Entre os elencos mais fortes dos Jogos do Rio, a Sérvia é a que tem menos jogadores de NBA. Apenas um, na verdade: o pivô Nikola Jokic, que, pela maturidade e fundamentos que mostra em quadra, jamais poderíamos supor que tenha apenas 21 anos. Poderiam ser três, com Nemanja Bjelica e Boban Marjanovic. Se tivesse montado esse trio, o técnico Aleksandar Djordjevic teria uma linha de frente assustadora. Mas diferentes motivos os tiraram do evento.

Boban virou um agente livre em julho e estava na categoria dos “restritos”, ainda vinculado de certa forma ao Spurs, que poderia cobrir qualquer oferta. O problema é que isso impediu que o gigantesco e carismático atleta resolvesse rapidamente sua situação. Estava fora de sua alçada. De modo que pediu dispensa, algo que desagradou, e muito, o durão Djordjevic. Passado o pré-olímpico mundial em Belgrado, Boban, já de contrato fechado com o Detroit Pistons, se colocou à disposição da seleção. Foi recusado, mesmo que seja 20 vezes mais jogador que o limitado Vladimir Stimac.

Já a baixa de Bjelica deixou o treinador sérvio bastante chateado e frustrado, e foi por conta da inflamação num nervo do pé direito. A previsão do departamento médico do Minnesota Timberwolves é a de que o ala-pivô só se recuperaria durante as Olimpíadas. Estaria sem ritmo nenhum de jogo. É uma perda enorme para a seleção balcânica, devido a toda a sua versatilidade. Bjelica é dos grandalhões mais flexíveis que você vai encontrar por aí. Na bem-sucedida campanha pela Copa do Mundo, nós o vimos colaborar com rebotes, chute, passe e até mesmo com a articulação da equipe e a partida em transição. Desconfio, inclusive, que, se fosse para escolher, Djordjevic até mesmo o priorizaria a Jokic, por mais que o jovem pivô tenha feito uma excepcional primeira temporada pelo Denver e tenha enorme potencial.

Jokic foi dominante no Pré-Olímpico de Belgrado

Jokic foi dominante no Pré-Olímpico de Belgrado

– Rodagem: é uma seleção bastante jovem, mas que com diversos atletas que estão acostumada a jogar junto há um bom tempo, desde a base; os jogadores também têm muita cancha de Euroliga, habituados a grandes partidas; no Pré-Olímpico em casa, atropelou, ajudada por um sorteio bastante camarada.

– Para acreditar: o conjunto de armadores sérvios é muito forte. Só perde para o espanhol neste torneio, com o genial (e genioso) Milos Teodosic sendo a referência. A presença de Stefan Markovic e Stefan Jovic lhes dão mais liberdade em quadra para olhar para a cesta, enquanto ambos também teriam a incumbência de marcar o jogador de perímetro mais agressivo do outro lado; Jokic é um jovem craque; Bogdan Bogdanovic é uma das estrelas da jovem geração europeia, sem medo nenhum de tentar o arremesso da vitória, evoluindo bastante sob a orientação do mítico Obradovic pelo Fenerbahçe – até recusou o Phoenix Suns neste ano para seguir nessa trilha; Miroslav Raduljica, um verdadeiro bisnagão, não deixará o time seguir tanta falta de Boban, ocupando já muito espaço dentro do garrafão na defesa, enquanto, no ataque, precisa converter seus semiganchos e atacar a tábua.

Questões: na Copa do Mundo, surpreendeu e conquistou a prata (digo “surpreender” pelo fato de ser uma base jovem e de o país ter vindo de resultados muito fracos nas competições). Um ano depois, já como favoritos, quando valia a vaga, sentiram a pressão na semifinal contra a Lituânia. Além disso, não há ninguém no elenco capaz de dar conta nem de 50% das tarefas que cabiam a Bjelica. Milan Macvan herdou sua vaga. Ele é um tremendo reboteiro, mas é pesadão e só acha que pode chutar de longa distância. Se o time estiver desesperado por arremesso de fora, Stefan Bircevic será chamado, a despeito de sua fragilidade física e irregularidade. Dependendo do adversário, contra equipes mais baixas, Nikola Kalinic até pode assumir suas funções.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
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>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
>> Argentina tem novidades, mas ainda crê nos veteranos

LITUÂNIA

Valanciunas, Valanciunas e mais Valanciunas pelos bálticos

Valanciunas, Valanciunas e mais Valanciunas pelos bálticos

Armadores: Mantas Kalnietis, Adas Juskevicius e Renaldas Seibutis.
Alas: Jonas Maciulis, Mindaugas Kuzminskas, Marius Grigonis e Edgaras Ulanovas.
Pivôs: Jonas Valanciunas, Paulius Jankunas, Domantas Sabonis, Robertas Javtokas e Antanas Kavaliauskas.

O grupo: um ano atrás, entre a elite europeia, a Lituânia poderia ser considerada aquela seleção com menos, hã, grife. Só o trator Valanciunas estava na NBA. Boa parte de seu elenco jogava em clubes locais, do país em que o basquete é uma religião. Conseguiram, ainda assim, a prata no EuroBasket e a classificação direta, evitando qualquer possível armadilha nos pré-olímpicos mundiais. Agora, eles chegam com uma trinca de profissionais da liga americana, com Sabonis, draftado por OKC, e Kuzminskas, contratdo pelo Knicks, fazendo companhia ao pivozão. E sabe do que mais? Não muda nada isso. Com ou sem este selo, a Lituânia seria o mesmo time a ser respeitado.

O técnico Jonas Kazlauskas tem um elenco muito limitado atleticamente. Um torneio de enterradas interno seria tão emocionante quanto uma partida de xadrez. Mas sua experiente base sabe muito bem dessas limitações e dá um duro danado em quadra para compensá-las com muita força física, garra, senso de posicionamento e inteligência em geral. Eles vão ralar na defesa e esperar que Valanciunas resolva as coisas no ataque.

Enquanto isso, Kazlauskas vai formando um novo núcleo em torno de Valanciunas, contando com cinco jogadores estreantes em Jogos Olímpicos, adicionando alas voluntariosos como Ulanovas e Grigonis, que não terão prioridade em termos de rotação, mas já vão viver uma grande experiência.

Entre os mais jovens, de todo modo, fica a expectativa para ver como vai se comportar o jovem Saboninhos, que soube aproveitar bem a passagem pelo basquete universitário americano para expandir seu jogo – deixando o Unicaja Málaga, clube de forte base, mas que nem sempre aproveita bem sua revelações. Ele tem tudo para formar uma grande dupla com Valanciunas por anos e anos e já deve ser produtivo no Rio.

– Rodagem: veja abaixo.

– Para acreditar: talvez não haja grupo mais entrosado que o lituano. Kalnietis, Seibutis, Maciulis, Kuzminkas, Jankunas, Valanciunas e Javtokas jogam juntos há muito tempo e estiveram presentes praticamente em todos os torneios deste ciclo olímpico. Isso lhes dá uma vantagem imensa. Se for pensar em consistência, esse é o seu time também: o jogo dos caras não empolga, como nos bons tempos, mas eles não largam o osso. A prata no último EuroBasket foi uma repetição de seu resultado em 2013. Entre um torneio continental e o outro, ficaram em quarto no Mundial. O núcleo central da equipe tem muita experiência. Mais: é difícil demais remover Valanciunas dos arredores do garrafão e da tabela, e, uma vez posicionado ali, o pivô, muito forte e técnico, vai castigar a maioria de seus adversários.

 – Questões: a Lituânia depende demais de Valanciunas. O pivô é referência para tudo. Quando o assunto é Lituânia, parece até heresia perguntar, mas lá vai: eles vão acertar o suficiente nos tiros de três pontos para seu grandalhão ter espaço no garrafão e ativar seus movimentos um tanto mecânicos?

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EuroBasket vai começar: sete apostas, a legião da NBA e os desfalques
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Giancarlo Giampietro

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

Existem pré-olímpicos e existe o EuroBasket.

Realizado a cada dois anos, o torneio europeu, para muitos de seus integrantes, vale talvez até mais que um Mundial, por questões de orgulho nacional e rivalidades regionais. É só ver a festa que a França fez na última edição, na Eslovênia, ao enfim derrotar a poderosa Espanha pela semifinal, num jogo daqueles mais dramáticos que se vai encontrar por aí. Para eles, foi a glória maior, ratificada, então, numa decisão bem mais tranquila contra a Lituânia.

Tem de comemorar, mesmo. Pois não é fácil chegar lá. Essa é disparada a competição continental mais dura no circuito Fiba, em que pese as loucuras que temos visto na Copa América. Ainda assim, ao avaliar o que tem acontecido nos últimos anos, é possível detectar algum padrão.

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A Espanha impressiona por sua consistência, graças a uma geração fenomenal liderada por Pau Gasol. Os ibéricos fizeram parte dos últimos quatro pódios. Ficaram entre os três primeiros em cinco de seis torneios desde 2001. Só em 2005 dançaram. Nomes importantes como Jorge Garbajosa, Carlos Jiménez, Raul López e Fran Vázquez já ficaram pelo meio do caminho. Juan Carlos Navarro e José Calderón estão no fim da linha também. Mas segue uma potência a ser temida.

Desempenho os amistosos

Desempenho os amistosos

Ainda assim, a França é a seleção do momento, o time a ser batido, com um elenco vasto, experiente, atlético, e tendo ainda a vantagem de ser a anfitriã dos mata-matas, para o qual deve passar como a primeira colocada do Grupo A. Confira aqui todas as chaves, com uma ressalva: respire fundo antes de espiar o que acontece no Grupo B.

Como disse em texto dedicado à Itália (que mais parece o Brasil), é o anúncio de uma carnificina. Pense em Walking Dead, Jogos Mortais, Game of Thrones, Kill Bill Vol 1. Um sorteio que põe Espanha, Sérvia, Itália, Turquia e Alemanha no mesmo grupo é qualquer coisa de sádico. (Só foi possível graças aos deslizes de italianos, turcos e alemães em tempos recentes – o ranking Fiba não reconhece que a Azzurra tenha hoje Gallinari & Cia, ou que a Alemanha conta com Dirk e Schröder dessa vez). Coitada da valente Islândia, que não tem nada a ver com essa história, enfrentando cinco times que chegam a Berlim com pretensões reais de vaga olímpica. E o que vai sair disso? Bem, um deles já será eliminado de cara. Outro vai passar em quarto e terá de se virar com a França logo de cara. Quem cair nas oitavas também não terá mais como vir ao Rio de Janeiro.

É assim: os dois finalistas asseguram classificação automática, enquanto as equipes que ficarem entre terceiro e sétimo ganham uma segunda chance no Pré-Olímpico mundial. Então você tem de dar um jeito de chegar às quartas, entre os oito primeiros. Mesmo os derrotados nessa fase ainda terão de encarar um torneio de consolação mais valioso que o habitual, tendo inclusive uma “final” pelo sétimo lugar.

Ignorando qualquer noção de prudência, devido ao desequilíbrio entre grupos, segue, então, meus palpites de vagas – tanto as para valer, como as alternativas:

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

1 – França
Os atuais campeões, e com um time que chega muito perto de sua força máxima, com o retorno de Tony Parker para fazer um trio estelar com Boris Diaw e Nicolas Batum, os dois que lideraram o time rumo ao Bronze na Copa do Mundo. Se há uma seleção que pode compensar ausências como as de um Joakim Noah e um Alexis Ajinça, é a francesa, contando com o emergente Rudy Gobert para afugentar os atacantes adversários do garrafão. Noah, a essa altura, já não parece uma peça com a qual se possa contar. Ajinça seria um reserva de luxo para Gobert.

É um elenco vasto, de capacidade atlética incrível e muita versatilidade, que pode ser medido por sua nota de corte: dois jogadores da NBA vão assistir de fora (Kevin Seraphin e Ian Mahinmi), assim como jogadores cobiçados no mercado europeu como o ala Edwin Jackson, ex-Barça, hoje no Unicaja, e o ala-pivô Adrien Moerman, do Banvit, e o armador Thomas Heurtel, tirado do Baskonia a peso de ouro pelo Anadolu Efes. Nem mesmo depois de Antoine Diot se lesionar na reta final de preparação, Heurtel conseguiu a vaga. O reserva de Tony Parker será o espichado Leo Westermann, cujos direitos pertencem ao Barcelona, que ainda não o aproveitou. Joga pelo Limoges, em casa.

Selo NBA: Tony Parker, Boris Diaw, Nicolas Batum, Rudy Gobert, Evan Fournier e Joffrey Lauvergne.
Desfalques: Joakim Noah, Alexis Ajinça, Antoine Diot e Fabien Causeur (que teria dificuldade para entrar no grupo final, de qualquer forma). 
Reforço estrangeiro? Para quê!? 

2 – Sérvia
Talento não falta aqui, obviamente. Nunca faltou. Ainda assim, nas últimas cinco edições, o país conseguiu apenas uma medalha: a prata em 2009, levando uma surra da Espanha na final. O problema é a inconstância de seus jogadores, que muitas vezes se permitem levar por intrigas extraquadra e uma ciumeira que só. O vice-campeonato na última Copa do Mundo, porém, sinalizou uma geração mais unida, guiada com firmeza e carisma pelo ex-armador Aleksandar Djordjevic.

Se essa organização for mantida, a aposta é que a combinação da categoria e jogo cerebral de Milos Teodosic, o arrojo de Bogdan-Bogdan e Nikola Kalinic e o pacote completo de Bjelica possa fazer a diferença, ainda mais escoltados por pivôs muito físicos. Não é fácil trombar com Raduljica e Nikola Milutinov, o jovem recém-contratado pelo Olympiakos e draftado pelo Spurs. Não bastassem os pesadões, Djordjevic ainda tem um Zoran Erceg com grande confiança nos disparos de longa distância e Ognjen Kuzmic, ex-Warriors, já mais atlético.

Selo NBA: Nemanja Bjelica (bem-vindo!).
Desfalques: Nenad Krstic e Boban Marjanovic.
Reforço estrangeiro: coff! coff! Foi até engraçado que, antes do Final Four da Euroliga, Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic foram questionados sobre a possibilidade de o país, vice-campeão mundial, naturalizar algum norte-americano para brigar pelo ouro olímpico. Responderam que, se acontecesse, não jogariam mais pela seleção. 

3 – Espanha

A dupla do Bulls - e da Espanha

A dupla do Bulls – e da Espanha

O palpite mais conservador colocaria os espanhóis entre os dois primeiros, fato. Estivesse Marc Gasol no páreo, seria difícil seguir outro rumo. Mas o pivô quis férias, para descansar a cabeça e cuidar tranquilamente da renovação com o Memphis. Desta forma, aumenta a carga sobre Pau Gasol. O já legendário pivô fez grande temporada pelo Chicago Bulls, mas vai correr um risco ao encarar a pressão do EuroBasket sendo tanto a principal referência ofensiva da seleção como sua maior esperança para se ter uma defesa consistente. Faz como? Serge Ibaka faz falta nesse sentido, mas as desavenças do passado afastaram o congolês. Suas habilidades, em tese, seriam mais relevantes que as de Nikola Mirotic nessa equipe em específico.

No papel, ainda estamos falando de um timaço. Os torcedores do Bauru vão ficar ligadaços no núcleo madridista de Sergio Rodríguez, Sergio Llull, Rudy Fernández e Felipe Reyes. Estão entrosados e revigorados pelo título da Euroliga. Mas, mesmo dentro da Espanha, a sensação é de que a transição da geração Gasol para a próxima ainda se pauta pela incerteza, a despeito do retorno de Sergio Scariolo. São muitas peças valiosas, mas que talvez não se encaixem perfeitamente.

Selo NBA: Pau Gasol, Nikola Mirotic. 
Desfalques: Marc Gasol, Juan Carlos Navarro, José Calderón, Ricky Rubio e Alejandro Abrines. 
Reforço estrangeiro? Nikola Mirotic, que assumiu a vaga de Serge Ibaka.

4 – Lituânia
Em termos de continuidade, o trabalho de Jonas Kazlauskas está à frente do que os gregos têm para oferecer, e isso pode fazer a diferença. Caras como Jankunas, Javtokas, Kalnietis, Maciulis e Seibutis estão na estrada há um tempo e sabem o que precisa ser feito. É curioso até: em termos de grife ou badalação, ninguém dá muita bola para eles. Mas estão sempre chegando. Mesmo que não tenham a armação mais segura ou elucidativa.

Se a troca de guarda ainda está demorando para acontecer, a boa notícia para esse país devoto ao basquete é que seu principal jogador hoje é justamente um dos mais jovens: Jonas Valanciunas. Pela seleção, o companheiro de Caboclo e Bebê é uma figura muito mais influente e difícil de ser barrada. Em termos de sangue novo, também vale ficar de olho em Domantas Sabonis, que tem sangue real, vem numa curva de desenvolvimento acelerada desde que se inscreveu na universidade de Gonzaga e foi o último a se estranhar com Matthew Dellavedova:

Selo NBA: Jonas Valanciunas.
Desfalques: Donas Motiejunas. (Se alguém estiver se perguntando sobre Linas Kleiza, é que o veterano foi muito mal na última temporada pelo Olimpia Milano e, depois de inúmeras lesões no joelho, não é sombra daquele jogador que já aterrorizou o mundo Fiba).
Reforço estrangeiro? Ainda não cometeram esse sacrilégio — embora as primeiras seleções lituanas da história fossem compostas quase na íntegra por norte-americanos descendentes. 

5 – Grécia
Assim como Parker retorna à França, a seleção helênica acolhe calorosamente Vassilis Spanoulis entre os 12 do EuroBasket. Em torno do craque grego também geram as mesmas questões, no entanto: qual a sua forma física? Ele terá estabilidade e pique para poder ficar em quadra nos momentos decisivos (que não o amedrontam de modo algum)? Se a resposta for positiva, a Grécia ganha um trunfo enorme para tentar retornar ao pódio pela primeira vez desde 2009.

O conjunto de Calathes, Zisis, Sloukas e Mantzaris ao menos está lá para preservar o camisa 7. Em termos de quantidade, ninguém tem uma relação de armadores que se equipare a essa, aliás. O desafio do técnico Fotis Katsikaris, que vai dirigir Augusto e Benite no Murcia, será distribuir minutos entre tantos atletas de ponta. Ou afagar aquele que eventualmente fique fora da rotação. Embora o garotão Giannis Antetokounmpo seja um Vine ambulante, este não é o time mais atlético. A expectativa aqui é de que os fundamentos, a experiência e o espírito vencedor de muitos de seus jogadores compensem isso. Para chegar à disputa por medalhas, porém, terão de derrubar muito provavelmente ou a Espanha ou a Sérvia nas quartas. Ai.

Selo NBA: Giannis Antetokounmpo, Kosta Koufos, Kostas Papanikolau (por ora).
Desfalques: Dimitris Diamantidis (ele já se aposentou da seleção, mas está em forma, caminhando para a última temporada como profissional). Sofoklis Schortsanitis não foi convocado e, creio, não deve mais jogar pela equipe. 
Reforço estrangeiro? Bem… Nick Calathes e Kosta Koufus nasceram, respectivamente, na Flórida e em Ohio. Os sobrenomes entregam a ascendência, de todo modo. 

6 – Croácia
Sim, sim… Talvez eles estejam numa posição muito baixa. Podem muito bem ser os campeões. Mas a mera possibilidade de pensar essa fornada croata como a sexta força continental só mostra o quão difícil pode ser um EuroBasket. O que sabemos é que os caras chegam muito otimistas à competição, por conta de dois fatores mais relevantes que o fato de terem vencido todos os seus amistosos preparatórios.

Saric e Hezonja, só o começo

Saric e Hezonja, só o começo

O primeiro é o progresso dos garotos, rodeados por jogadores muito rodados. Dario Saric e Mario Hezonja têm mais três ciclos olímpicos pela frente e já estão prontos para render em alto nível, sem precisar assumir obrigatoriamente o protagonismo. A prioridade em quadra ainda merece ficar com dois veteranos que estão no auge e encantam pela perfeição de seus movimentos, sem distinção entre eles: o gigante Ante Tomic, que não deve jogar na NBA, mesmo, e o classudo Bojan Bogdanovic, que se soltou um pouco ao final de sua primeira temporada pelo Brooklyn Nets e que, no mundo Fiba, é um cestinha letal. O segundo fator que os empolga é a presença de Velimir Perasovic no banco. O croata de 50 anos vem de grandes campanhas pelo Valencia e chega à seleção com estofo e moral para comandar um elenco ardiloso.

Selo NBA: Bojan Bogdanovic, Mario Hezonja e Damjan Rudez. 
Desfalque: Oliver Lafayette.
Reforço estrangeiro? Na falta de um armador norte-americano, apela-se a outro: Dontaye Draper. A Croácia cometeu a heresia que a Sérvia até o momento evita.

7 – Itália
Simone Pianigiani tem ao seu dispor a seleção que talvez tenha o maior poderio ofensivo, ao menos em termos de arremesso. Gallinari, Bargnani, Gentile, Datome, Belinelli… É artilharia pesada, que pode torturar qualquer defesa. Ainda assim, isso não é garantia de nada. Até porque são belos atacantes, mas que, do outro lado da quadra, não inspiram tanta confiança assim. Além do mais, já estamos cansados de ver seleções com muitos nomes naufragarem devido à tormenta de egos. Vamos ver se eles terão coesão e consciência para encarar um grande desafio, precisando render em alto nível logo de cara, nesse grupo dificílimo.

Selo NBA: Danilo Gallinari, Andrea Bargnani, Marco Belinelli. 
Desfalques: Luca Vitali. 
Reforço estrangeiro? Daniel Hackett nasceu na Itália, filho de ex-jogador norte-americano, e se formou como jogador na Califórnia. Mas é italiano e joga por clubes do país desde 2009. Não conta. 

Batendo à porta
Pode parecer um tremendo desrespeito a Dirk Nowitzki… Mas, aos 37 anos, o legendário cestinha precisaria fazer um de seus melhores torneios para levar a Alemanha adiante, mesmo estando acompanhado pelo sensacional Dennis Schröder e por mais uma opção ofensiva de elevada qualidade como Tibor Pleiss. Acontece que o excelente treinador Chris Flemming, americano que fez carreira no basquete alemão e agora será assistente no Denver, perdeu muitos jogadores em seu elenco de apoio, especialmente na linha de frente. Entre Maik Zirbes, Maximilian Kleber, Elias Harris e Tim Ohlbrecht, teria opções de sobra (e muito vigor físico) para dosar os minutos de Dirk.

A saideira de Nowitzki?

A saideira de Nowitzki?

É ainda mais difícil deixar a Turquia fora do grupo acima. Mas algum país terá de ser a vítima no Grupo B. É a minha escolha. Na Copa do Mundo, a seleção chegou às quartas de final. Jogando em Berlim, ao menos vai ter a vantagem de praticamente jogar em casa. É certo que o ginásio vai bombar devida à imensa colônia que está na capital alemã. Ainda assim, Omer Asik faz muita falta na proteção defensiva, com todo o respeito a Semih Erden e Oguz Savas. Olho, de todo modo, nos jovens Cedi Osman e Furkan Korkmaz. Para Tóquio 2020, devem ser dois atletas temidos em cenário internacional.

Sem chances?
A Eslovênia está sem Goran Dragic, o que equivale a 80% de sua força criativa. O país parece encarar o torneio como a chance de dar bagagem à garotada, listando  cinco atletas nascidos na década de 90. Zoran Dragic terá a oportunidade de tirar a ferrugem, de tanta piscina e praia que tenha pegado em Phoenix e Miami. Jaka Blazic, do Estrela Vermelha, é um atleta que sempre dá gosto de ver. Canhoto agressivo, inventivo rumo à cesta que me passa a impressão de ainda ter potencial ainda a ser explorado.

A Bósnia-Herzegovina poderia apresentar uma linha de frente para lá de enjoada, caso contasse com Mirza Teletovic, e Jusuf Nurkic. Teletovic costuma ser uma figura constante em torneios europeus, mas pediu folga, para cuidar de sua preparação para a NBA, entrando num ano importante pelo Phoenix Suns em busca de um contrato longo e polpudo na próxima temporada. Para o promissor pivô do Nuggets, o motivo é a recuperação de lesão e cirurgia no joelho. O tresloucado Dusko Ivanovic, todavia, vai fazer com que o time se mate em quadra a cada rodada.

A Geórgia tem um elenco interessante: Zaza Pachulia, um bom reserva para ele em Giorgi Shermadini e dois matadores de bola em Jacob Pullen e Manuchar Markoishvili, além do energético Tornike Shengelia, orientados por Igor Kokoskov. É um time com bom potencial ofensivo e que, jogando num grupo mais fraco, deve ir aos mata-matas. Mas dificilmente passarão das oitavas.

Potencial de zebra
A Finlândia não deve ser a Finlândia da vez, se é que vocês me entendem. Entre os scouts europeus, a Bélgica é apontada como uma seleção que pode surpreender, com três jogadores de ponta no continente (o armador Sam van Rossom, o ala Matt Lojeski e o ala-pivô Alex Hervelle) e um grupo que dosa juventude e experiência ao redor deles.

Velhos conhecidos da NBA
Só para constar, vai: a Polônia terá Marcin Gortat, Israel vai de Omri Casspi e Gal Mekel, a República Tcheca aposta muito em Jan Vesely (Vine sempre atentos também, por favor!).

Mais caras que fazem falta
Alexey Shved, Timofey Mozgov e Sasha Kaun (Rússia), Eugene Jeter, Serhiy Gladyr, Alex Len e Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia), Maciej Lampe (Polônia), Pero Antic (Macedônia), Kristaps Porzingis e Davis Bertans (Letônia).


Sabonis caçulinha estreia pelo Málaga na vaga de Augusto e empolga lituanos
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Giancarlo Giampietro

Nestes tempos de vacas magras, começa quase sempre desta forma: o blogueiro sai clicando em tudo o que vê pela frente, gasta o scroll, abre uma nova janela, detona o mouse, rói a quina da mesa, coça a barbicha, está prestes a desistir até se safar com uma crônica de amistoso de pré-temporada europeia. Boa!

Domantas Sabonis, caçula de Arvydas

Domantas começa bem sua carreira com um sobrenome legendário

Fazia tempo que uma vitória como a do Unicaja Málaga sobre o Cibona Zagreb, por 89 a 57, não era tão comemorada abaixo da linha do Equador. Que massacre!

Bem, troquemos um termo antes de tudo: sai comemorar, entra “saltar aos olhos”. Pois o pivô Augusto Lima não participou do jogo devido a uma tendinite no ombro direito. Mais um problema físico para o jovem brasileiro, que vem tendo muita dificuldade para conseguir uma boa sequência em quadra.

Agora, se o Augusto não jogou, o que tem de bom aí nessa peleja para se destacar, ué?

Anotem aí, então: Domantas Sabonis.

Sabonis.

Nuff said!, exclamaria o Stan Lee, aquele senhorzinho simpático que fez ponta em tudo que é blockbuster da Marvel e é um dos padrinhos da cultura pop moderna – como se houvesse cultura pop medieval, claro.

É o filho do homem, de um dos maiores jogadores da história, gente. De apenas 16 anos, 2,05m de altura segundo a Fiba, magrelinho que nem o nosso Lucas Dias, e um dos destaques do Europeu sub-16 desta temporada, dividido entre Lituânia e Letônia. Teve 14,1 pontos e 14,4 rebotes de média e foi top 20 numa sacolada de estatísticas. Contra a Polônia, pela primeira fase, apanhou assustadores 27 rebotes – recorde nos torneios de seleções de base europeias, igualando o britânico Daniel Clark, que jogou contra o Brasil agora em Londres-2012. Mas o esforço do pivô não evitou a derrota por 77 a 69 e uma campanha horrível do país, que terminou em penúltimo.

Pois, assim como acontece com o prodígio do Pinheiros, o caçulinha Sabonis já começa a ser testado entre os marmanjos, e a imprensa lituana não se aguenta. Experimente dar um Google por “Sabonis Unicaja” para sentir a euforia. É “Šešiolikmetis D.Sabonis debiutavo „Unicaja“ gretose” para cá e  “D.Sabonis išbėgo į aikštę draugiškose “Unicaja” rungtynėse” para lá.

O garoto entrou em quadra justamente na vaga de Augusto.

*  *  *

Domantas não é o único filho de Sabonis a tentar uma carreira no basquete, e nem é o primeiro a defender o Málaga. Seu irmão mais velho, Tautvydas, de 20 anos está no elenco de juniores do clube. Ele é um ala-pivô de 2,02m de estatura e coadjuvante de Jonas Valanciunas, aposta do Raptors, em sua categoria.

*  *  *

Navegando pela pré-temporada dos clubes espanhóis, descobrimos também o ala Igor Ibaka no elenco do Cáceres, que disputa a fortíssima LEB Oro (segunda divisão) do país. Aos 20 anos, o irmão mais novo de Serge, porém, é apenas um convidado do time – não custa fazer gentilezas com o astro – e dificilmente será contratado. Segundo relatos da imprensa local, duvidam que ele consiga ir muito longe no esporte. “O Cáceres descarta por completo que o jovem Ibaka pode ficar e disputar a liga. Ele não está pronto para jogar na LEB Oro, e ainda falta ver se ele tem faculdades suficientes para ser um profissional de basquete”, publica o site Hoy.es. Mais cândido impossível. Aparentemente, neste caso as autoridades espanholas não precisam se preocupar em acelerar sua naturalização.


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