Magnano ignora cansaço de Splitter e se diz “surpreso” por ausência do pivô
Giancarlo Giampietro
Dá para ler as declarações de Rubén Magnano à Folha de S.Paulo e julgar que houve uma falha de comunicação entre Tiago Splitter e o argentino. No mundo (des)encantado da CBB, não seria novidade alguma. Considerando os dois personagens envolvidos, contudo, poderíamos seguir o treinador da seleção e nos dizermos “surpresos”: que um assunto que já deveria estar resolvido há semanas tenha agora virado discussão pública.
Primeiro, para quem não clicou no link acima, tem de saber, então, que Magnano afirmou ter sido pego desprevenido com o pedido de dispensa do pivô, principalmente depois da notícia de que ele já ter chegado a um acordo para renovar seu contrato com o Spurs. Se o vínculo for oficializado no dia 10 de julho, haveria tempo de sobra para que se apresentasse para a disputa da Copa América, dia 18, sem burocracia que lhe impedisse.
Ao menos essa era a sensação que o técnico tinha quando voltou dos Estados Unidos, em sua turnê anual atrás dos selecionáveis: uma vez que o papel estivesse assinado, a camisa número 15 da seleção já teria dono garantido. Os dois se encontraram em abril. “Pensava que o único problema do Tiago era somente contratual. Depois, o estafe dele me ligou falando que ele não ia se apresentar. Eu não sabia disso (de cansaço)”, afirmou o treinador. “Pela importância que ele tem na estrutura da seleção, com certeza vai atrapalhar. Agora, eu tenho que fortalecer muito os jogadores que vão jogar o Mundial.”
Na cabeça do argentino, ao menos publicamente, foi uma virada muito drástica. Veja o que ele havia dito, segundo release da CBB, há três meses, depois de se encontrar com o catarinense em San Antonio: “Foi uma conversa muito proveitosa e como sempre Tiago se mostrou pronto para defender a Seleção Brasileira”.
Tiago havia comentado o seguinte: ” Esse tipo de conversa é sempre positiva e a presença dele (Magnano) mostra a seriedade do planejamento da CBB. Depois dos Jogos de Londres, aumenta a nossa responsabilidade e vamos fazer de tudo para classificar o Brasil para o Mundial da Espanha”. Agora, em coletiva durante a semana, o discurso foi bem diferente: “É um ano que permite você ter um descanso. Obviamente se fosse uma Olimpíada ou um Mundial é outra coisa, você faz um esforço. Não quero tirar a importância da Copa América, é importante, mas é um ano de contrato, estou desgastado física e mentalmente. Tantos anos seguidos de seleção, minha esposa está querendo me matar. Um pouquinho de tudo me fez tomar essa decisão”.
Bem… Contrapondo assim as declarações seria um prato cheio para detonar o jogador, não?
Acontece que, entre esse release e a convocação, o pivô disputou mais 25 partidas, sendo 19 delas pelos playoffs. Encarando uma batalha depois da outra – contra gigantes como os irmãos Gasol, Dwight Howard, Andrew Bogut e Zach Randolph no meio do caminho. Dói, gente, dói – foi disparada a temporada mais desgastante de sua carreira, com tempo de quadra regular estendido até o sétimo sétimo jogo da final, lembrando sempre que ele já havia disputado as Olimpíadas em agosto e que a pré-temporada começa em outubro. Sobrou só o mês de setembro livre.
Então, é natural que, ao conseguir parar para respirar um pouco, nesse regresso ao Brasil, Splitter provavelmente via seu corpo em frangalhos. Para a ESPN Brasil, por exemplo, em entrevista que será veiculada na terça-feira, voltou a apontar dores crônicas no ombro, um problema que o acompanha há anos. Então, ok. Talvez o catarinense pudesse ter feito a ressalva em abril de que o plano de Gregg Popovich era fazer uma loooonga campanha nos mata-matas de olho no título. E que isso poderia ter um preço custoso.
Por outro lado, Magnano está habituado a lidar com esse tipo de questão há anos – do desgaste e das questões que uma temporada de NBA pode proporcionar. É difícil de imaginar que a recusa do pivô tenha sido uma “surpresa” dessas, mesmo que todos nós tenhamos ficado muito acomodados com os seguidos anos de apresentação à seleção.
Convenhamos, era um problema que estava anunciado há meses e meses, por mais que a breve reunião em San Antonio pudesse indicar o contrário. Acontece com a Argentina há tempos, e eles sempre deram um jeito de garantir sua vaguinha. Agora chegou a hora de o Brasil testar seus recursos sem aquele que sempre foi uma constante – mas que agora merece, enfim, um pouco de descanso. Só esperar que, a despeito de sua conduta rigorosa, um dos alicerces para uma carreira vitoriosa, Magnano possa tirar o pé um pouco em suas declarações. Não me parece justo e, mesmo que politicamente, não faz nada bem questionar um de seus principais jogadores desta forma.