Tim Duncan destoa de velhinhos e pode igualar marca histórica de Abdul-Jabbar nas finais
Giancarlo Giampietro
Muitos velhinhos começaram a temporada da NBA beirando ou ultrapassando a casa de 40 anos. Poucos deles chegaram aos playoffs inteiros e com relevância em suas equipes. Enquanto isso, Tim Duncan, de alguma forma, segue arrebentando pelo San Antonio Spurs, desafiando qualquer lógica, ou, pelo menos, o padrão apresentado por seus contemporâneos.
O torcedor do New York Knicks sabe muito bem do que estamos falando, né? Durante o ano, Jason Kidd, Rasheed Wallace, Kurt Thomas e Pablo Prigioni deram sua contribuição para a primeira campanha decente da equipe desde a saída de Jeff Van Gundy no início da década passada. Chegaram os playoffs, e Sheed e Thomas estavam fora de ação, assim como Marcus Camby, que mal foi para quadra no campeonato. Jason Kidd terminou os mata-matas com dez jogos seguidos sem fazer nenhuma cesta, tendo marcado apenas 11 pontos no total em duas séries – não à toa resolveu encerrar sua carreira no fim de semana passado. Prigioni, vai saber, talvez só tenha aguentado o tranco por ter sido guardado por um bom tempo à sombra do recém-aposentado. Melancólico.
Ainda assim, o Knicks passou na primeira rodada pelo Boston Celtics de Paul Pierce e Kevin Garnett, que alternaram bons e maus momentos no confronto, sendo muito mais relevantes que os adversários anciões, mas não tiveram forças para abrir mais uma longa campanha na fase decisiva. Assim como seu arquirrival Los Angeles Lakers, que mal pôde usar um Steve Nash todo arrebentado e teve de assimilar uma varrida pelo Spurs, sendo que Kobe Bryant acompanhava tudo de casa.
No Miami Heat, Ray Allen, que era aparentemente incansável, viu seu aproveitamento de três pontos despencar desde o confronto com o Chicago Bulls, acertando apenas 30,8% contra o Indiana Pacers, uma heresia considerando seu currículo. Rashard Lewis só sai do banco quando o jogo está decidido. Juwan Howard é mais um assistente técnico do que um pivô da equipe.
Enfim, tudo isso poderia servir como bom argumento para um artigo que discutiria o quanto vale, hoje, investir seriamente nesses quarentões ou quase na NBA superatlética de hoje, com um calendário ainda muito desgastante, não importando muito os voos fretados e mimos oferecidos pelos clubes. São jogadores que te ajudam no começo, mas, se forem muito exigidos durante a campanha, te deixam na mão na hora do vamos ver. Há uma tese a ser defendida aí, não?
Pois é.
Não fosse Duncan e seu San Antonio Spurs.
“Estou muito focado em mais uma oportunidade de conquistar outro campeonato, tentando vencer”, afirma o nativo das Ilhas Virgens. “Não estou preocupado sobre o quão velho eu sou ou qualquer coisa perto disso.”
E por que Duncan deveria estar preocupado com seus 37 anos?
Quando você olha para o pivô em quadra, é claro que tem diferença para aquele que entrou na liga em 1997 já destinado a entrar no Hall da Fama. Embora Duncan nunca tenha sido celebrado como uma aberração física como Kevin Garnett (mais veloz e explosivo), sempre foi um jogador com uma coordenação absurda para alguém de seu tamanho, o que já é uma capacidade atlética em si. Esse controle motor ainda está lá, mas com algumas limitações em seus movimentos. Tudo sai de modo um pouco mais custoso perto da cesta. Na verdade, hoje ele opera muito mais de média distância, na cabeça do garrafão, do que no auge, quando dominava com facilidade os adversários de costas para a cesta, ainda que pudesse atacar frontalmente sem problema algum.
Sua vantagem, no entanto, é que seu basquete sempre pendeu mais para seus recursos técnicos e seu domínio tático do jogo. O cara não ganha o apelido de Big Fundamental por qualquer bobagem. Arremessos de média distância buscando o quadradinho em ângulos improváveis. Os ganchos de esquerda e direita, o jogo de pés criativo e eficiente, girando para todos os lados. O tempo perfeito para tocos e rebotes, a capacidade de recolher a bola fora de seu espaço – e sua loooonga envergadura não faz mal nenhum aqui. A capacidade tanto para executar como para receber os passes picados, de costas ou os passes mais simples e ainda mais importantes, devido a suas mãos gigantes e maleáveis. Enfim, o pacote completo, de modo que até poderia parecer injusto.
Mas essas coisas você não conquista apenas por talento natural. Tem de trabalhar bastante para atingir um determinado nível e flertar com ou, no seu caso, atingir a excelência. E Duncan segue dando duro, sem se importar com todas as suas condecorações: melhor jogador universitário em 1997, novato do ano da NBA em 1998, 14 vezes no All-Star Game, MVP das finais da NBA em 1999, 2003 e 2005, MVP da NBA em 2002 e 2003. Tetracampeão. “Ele é o maior ala-pivô de todos os tempos”, diz Chauncey Billups. “Seu retrospecto só mostra como o basquete de verdade prevalece. O basquete de fundamentos, eficiente, cerebral ainda é o jeito certo para se jogar.”
Para se manter relevante, Duncan afirma ter perdido cerca de 12 kg durante as férias, para ganhar agilidade. “Eu meio que mudei minha dieta no verão mais do que tudo. Nos últimos anos, meu jogo caiu um pouco e mudou. Mas eu não estava pronto para permitir isso, para deixar rolar. Pensei que se eu me tornasse mais leve, poderia diminuir a dor no meu corpo e ter uma temporada melhor”, afirmou.
Parece que deu certo. Eleito para o primeiro quinteto da temporada, com um desempenho incrível, o veterano tem agora médias de 17,8 pontos e 9,2 rebotes 2,1 assistências, 1,7 toco. “Ele está jogando de modo incrível. Não sei se muitas pessoas na sua idade já fizeram isso na história da NBA”, disse Tony Parker. É difícil encontrar algo parecido, mesmo. Fazendo uma breve pesquisa, chegamos a um certo Kareem Abdul-Jabbar, que, aos 37, teve médias de 21,9 pontos, 8,1 rebotes, 4 assistências e 1,9 toco. Afe. Mas olha o nível sobre o qual estamos falando, né?
Abdul-Jabbar, aliás, evoca uma façanha que Duncan pode repetir neste ano. Ainda que LeBron esteja do outro lado, que Parker seja hoje a principal arma do Spurs, seu companheiro tem chances de ser o MVP das finais novamente, não? O mítico pivô do Bucks e Lakers conseguiu ser eleito melhor jogador de duas decisões separadas por 14 anos (1971 e 1985). Duncan ganhou esse troféu em 1999. De lá para cá, são precisamente 14 anos de intervalo.
Não que ele se importe com qualquer coisa nessa linha. “Estou muito concentrado em outra oportunidade de conquistar outro campeonato. Já fomos descartados por muitos anos, e hoje parece que não jogamos as finais há uma eternidade”, afirma o jogador.
Na verdade, são apenas seis anos desde que eles disputaram e ganharam o título de 2007, quando seu time superou o Cavs de um jovem LeBron James. De eterno, mesmo, para Duncan, apenas o seu jogo.