LeBron espera por mais ajuda de Wade e Bosh para bater Spurs sem heroísmo nas finais
Giancarlo Giampietro
Quinto jogo da série entre Miami Heat e Indiana Pacers, na Flórida. O time da casa joga pressionado para defender seu mando de quadra, depois de os visitantes já terem vencido uma vez lá, no Jogo 2, e, para tanto, conta com o esforço supremo de LeBron James. Até que, durante a transmissão da TNT, o comentarista Reggie Miller não se aguenta diante do que vê e dispara de longa distância: “Esse time do Miami vai parecendo mais e mais o Cleveland do LeBron James”.
Depois, no Jogo 6, soltou logo que estavam assistindo ao “Miami Cavaliers”:
Pow!
Acho que Dwyane Wade já não teria gostado muito dessa, né? Mas a coisa piorou significativamente quando o próprio LeBron, na entrevista que sucedeu uma preocupante derrota, falou por conta própria algo na mesma linha: “Eu meio que voltei aos meus dias de Cleveland e apenas pensei: ‘Ei, hora de tentar fazer mais jogadas, de ser uma ameaça maior no ataque também’; era para ver apenas se os caras iriam me seguir, só para eu liderá-los da melhor maneira que poderia”.
Sok!
O que vimos nesses dois embates foi isso, mesmo, especialmente na quinta partida. Com o Miami mais uma vez atrás do Indiana no placar ao final do primeiro tempo, o melhor jogador da liga se viu obrigado a carregar sua equipe a qualquer custo. A valente tropa comandada por Frank Vogel pagou o preço: ele anotou 16 pontos no terceiro período, e a parcial foi vencida por 30 a 13. Game over.
A defesa da equipe também voltou muito mais forte – mais sobre isso no tópico abaixo – e Udonis Haslem voltou a matar seus chutes de média distância. Mas o triunfo que começou suado e terminou tranquilo para o Heat aconteceu pela força da natureza chamada LeBron James. Ele deixou a quadra com 30 pontos, oito rebotes, seis assistências, essas linhas fantásticas que para o ala não passam de corriqueiras.
Só desta maneira para eles vencerem? Bem, no sétimo jogo, vimos que não necessariamente. Mas, em meio a esta briga de foice que se mostrou a série contra o Pacers, foi preciso. Porque, de uma hora para outra, o fanfarreado, famigerado e invejado Big 3 – que, para mim, sempre foi Big 2 + Bosh, aliás – havia se reduzido ao esquema de LeBron contra a rapa, com uma ou outra ajudinha de operários.
Há quem jure que, quando o desertor de Cleveland falou sobre os “maus e velhos” dias na cidade, não tinha a intenção de lançar uma indireta para seus companheiros. Que teria apenas achado graça da dinâmica do jogo e tal. Vai saber. Mas que foi merecido, não se discute.
Entre Wade e Bosh, o (?) pivô foi o pior.
Naquele Jogo 5, somou sete pontos e cinco rebotes em 33 minutos. No geral, ele falhou em superar a marca de dez pontos nas últimas quatro partidas da série, vivendo noites miseráveis no ataque, com um aproveitamento de apenas 37,7% nos arremessos em sete jogos (contra 53,5% na temporada). De qualquer forma, talvez estivesse apenas em má fase? Ou talvez fosse muito difícil mesmo pontuar contra a defesa entrosada e combativa do Pacers? Talvez seu próprio time o estivesse ignorando, ou simplesmente não conseguiam encontrá-lo. De qualquer modo, para um sujeito de 2,11 m e ágil, haveria outras maneiras de contribuir se o jump shot não estava caindo, e não há desculpa para sua pífia média de rebotes: apenas 4,3 por partida. Inacreditável e inaceitável, embora não tão chocante, uma vez que apanhou apenas 6,8 no ano. Roy Hibbert meteu tanto medo assim?
“Não vou tentar dar nenhuma desculpa.Não me apresentei para meus companheiros hoje, e não vou deixar isso acontecer novamente. Estou realmente decepcionado comigo”, disse CB, que estaria incomodado por uma torção no tornozelo e não conseguiu evitar a derrapada.
Já Wade fechou o confronto com 15,4 pontos, 5,1 rebotes, 4,3 assistências, 1,1 toco e 1,3 roubo de bola. Não são números nada desprezíveis. O problema foi a inconstância durante o confronto – especialmente no intervalo entre os Jogos 4 6, em que matou apenas 11 de 34 tentativas de quadra, cometeu oito turnovers para apenas 11 assistências, com média de 12 pontos. Era um jogador que vinha vagando pela quadra nas últimas partidas e não parecia em nada com um dos melhores da história na sua posição. Obviamente incomodado por um joelho estourado, perdeu muito de sua explosão e acabou mostrando como seu jogo depende ofensivo muito mais do físico do que técnica – já que lhe falta o fundamento mais básico do esporte, o arremesso. O Indiana ficava mais do que contente quando o veterano parava a sete, dez passos da cesta e soltava uma pedrada – foi facilmente contido por Lance Stephenson e/ou Paul George, facilitando a vida da defesa adversária como um todo, uma vez que a pressão só vem de LeBron. Nos Jogos 4 e 5, Mario Chalmers agrediu muito mais.
Ok, na hora de a onça beber água, a dupla reagiu, de certa maneira. Bosh teve nove pontos e oito rebotes (números medíocres), mas, epalelê!, somou três tocos, mostrando ao menos alguma garra defensiva, depois de conseguir apenas quatro bloqueios nas seis partidas anteriores. Já Wade teve um jogo muito mais enérgico, com 21 pontos e 9 rebotes (superando o “pivô”, reparem), seis deles na tábua ofensiva.
O esforço do ala-armador em especial foi valorizado, mas ainda não estava de acordo com suas capacidades. Ainda assim, tentou reforçar em quadra o apelo ao amigo de número 23. “Temos caras que individualmente querem jogar melhor. Mas nós temos de tentar ajudar um ao outro neste vestiário, sem deixar que o indivíduo se imponha por vontade própria”, disse. Nenhum nome foi citado, mas não precisa de dica nenhuma para entender quem seria o “indivíduo”, né? Especialmente depois de o supercraque ter feito suas controversas observações a respeito de como, de repente, tudo parecia com Cleveland.
Wade continuou com seu clamor (que também pode ser lido como “mi-mi-mi”, ficando a seu critério): “Nós temos de fazer um trabalho melhor para garantir que eu e Chris tenhamos nossas oportunidades para ter sucesso no decorrer dos jogos. É algo que temos de olhar como um time”.
Não há razão alguma para esse choro todo. Spoelstra cantou jogadas de pick-and-roll entre Wade e Bosh para o início das partidas contra o Pacers. Desde os tempos de Cavaliers, LeBron sempre foi conhecido como uma figura altruísta em quadra. Quem se lembra do lance em que ele foi avacalhado por ter passado uma bola decisiva nas mãos do ala Donyell Marshall num duelo com o Pistons nos playoffs? Aqui, a 1min25s:
É claro que ele está disposto a acionar seus companheiros de hoje, sempre esteve e vai continuar fazendo. Só precisa que cumpram sua parte no trato. A defesa do Spurs não é tão física, opressora como a do Pacers, mas funciona muito bem taticamente e foi a terceira melhora da temporada regular, com o brasileiro Tiago Splitter sendo fundamental aqui, inteligente que é na ocupação de espaços. Para derrubar os campeões do Oeste, também será uma batalha, e o Miami vai precisar da dupla que anda em baixa.
É isso, ou, apesar de todo o orgulho, que abram espaço para os atos de heroísmo de LeBron James. Talvez seja o bastante pelo bicampeonato. Talvez não.