Pura energia: Cavs responde na série final das lavadas
Giancarlo Giampietro
(Atualizado às 8h10)
O Cleveland Cavaliers deu a resposta de que precisava. Depois de sair de Oakland com 48 pontos negativos na conta, o time do Leste venceu o Jogo 3 das finais doa NBA contra o Golden State Warriors por 120 a 90. Agora faltam só 18 pontos para tirar e empatar a série.
Mentira, claro. Basta um triunfo por um pontinho na quarta partida, sexta-feira, que tudo estará zerado no retorno a Oakland. Vocês me desculpem a confusão matemática, mas é que os placares de um jogo para o outro foram tão esdrúxulos até agora, que fica muito complicado de estabelecer uma lógica. Entre os 33 pontos de vantagem do Warriors no domingo e os 30 do Cavs de agora, a liga americana viu a maior reviravolta da história.
Levar de volta a Oakland, na verdade, é a primeira vitória dos caras. Algo que, nesta quarta de manhã, não poderia ser garantido nem mesmo por LeBron James. Não do jeito como o confronto havia iniciado. Mas vejam como todos somos geniais. Depois de um intervalo de 72 horas, ou coisa assim, o Cavs já parecia o melhor time do mundo, enquanto o Warriors fazia as vezes de reles equipe que havia simplesmente passado por uma conferência extremamente frágil. Né? Uma completa inversão de papéis. Aqueles que não marcavam nada limitaram o melhor ataque da liga a 90 pontos, sua menor quantia nestes playoffs.
>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
Vamos lá: o Cavs fez os primeiros nove pontos do jogo. Nas minhas marcações aleatórias de início da partida, a vantagem chegou a 19 a 4. Depois, 33 a 10. Tudo no primeiro quarto, que terminaria por 33 a 16. No segundo quarto, os visitantes tentaram reagir, conseguiu baixar uma vantagem de mais de 20 pontos para nove, com boa participação novamente de Shaun Livingston, Leandrinho e Andre Iguodala, ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green. Foram para o intervalo perdendo por oito pontos. Como se fosse uma reprise do Jogo 2, em que a equipe derrotada parecia ter sorte estar atrás por tão pouco.
Pois é: foi reprise, mesmo. O time da casa atropelou o adversário na volta do intervalo e matou o jogo em 36 minutos. E aí que a parcial final foi mais um extenso “garbage time”, de maneira bizarra para uma decisão de NBA. Bizarro pela quantidade de espancamentos, e, não, pela superioridade dos LeBrons por uma noite. A série decisiva mais parecida que tivemos, historicamente, nesses termos, foi a de 1985, num dos clássicos Lakers x Celtics. Naquela ocasião, o time de Boston venceu o primeiro jogo por 34 pontos e perdeu o terceiro por 25. (Sim, esse tipo de disparidade acontecia mesmo num confronto legendário como esse. Mas nenhuma dessas lavadas vai constar numa transmissão clássica da NBA. A memória é seletiva por diversos motivos.)
Você vai dizer o quê? Foi pura energia.
Nessa bagunça toda, Kyrie Irving, que havia marcado apenas 10 pontos no domingo, converteu 16 apenas no primeiro período – terminou com 30, um a mais que os Splash Brothers combinados. O aproveitamento de 12-25 nos arremessos, que é um tremendo avanço para quem havia acertado apenas 33,3% em Oakland. Ele foi para o ataque mais cedo, usando dos artifícios de sempre, e deu resultado. “Não quero dizer que fui um jogador completamente diferente, mas foi apenas voltar sem ficar pensando em nada a não ser jogar de modo agressivo”, disse.
Ao seu lado, JR Smith havia feito apenas oito pontos nos dois primeiros jogos e agora fez 20, matando cinco bolas de longa distância, como se ainda estivesse jogando na primeira rodada dos playoffs. Tristan Thompson seguiu esse embalo e mandou nas duas tábuas, com 16 pontos (5-6 de quadra, 4-5 nos lances livres) e 13 rebotes, incluindo 7 ofensivos, se aproveitando de quem quer que sobrasse com ele no garrafão. Em 40 minutos, LeBron James teve sustância em seus números. Novamente, cometeu muitos turnovers (cinco), mas conseguiu se impor no momento em que conseguiu ir para a cesta (14-26), para fechar com 32 pontos, 11 rebotes, 6 assistências e 2 tocos.
De normal, mesmo, só a baixa produção ofensiva dos reservas, zerados em três quartos. De Kyrie Irving, é disso que se espera. A questão agora é saber se JR Smith continuará produtivo no restante da série, se Thompson vai ser esse reboteiro voraz. E se Richard Jefferson ainda tem gás para render tão bem assim. O ala assumiu a vaga de Kevin Love no time titular e novamente contribuiu com muita energia, algo chocante para a torcida do Warriors, que se lembra de outra versão do ala, mesmo quando ele era mais jovem.
Love foi realmente afastado da partida por conta dos reflexos de uma concussão, e, ainda assim, os titulares de Cleveland mandaram na partida. Especialmente quando Andrew Bogut estava em quadra. Presença amedrontadora na partida anterior, o australiano dessa vez mal viu a bola. Anotou quatro pontos nas raras ocasiões em que a defesa adversária abriu um corredor, pegou dois rebotes, e só, em 12 minutos, divididos precisamente entre os primeiro e terceiro quartos. Depois de os suplentes remarem bastante no segundo período, foi surpreendente que o técnico Steve Kerr tenha iniciado o segundo tempo novamente com o gigante no garrafão – lembrando, mais uma vez, que do outro lado o Cavs tinha um time muito mais flexível devido ao desfalque de Love. No geral, em 25 minutos na série, a escalação titular do Warriors está com saldo negativo de 22 pontos. Muita coisa.
Em sua coletiva, Kerr defendeu a decisão e disse que se sente confortável com “Bogues” em quadra. Ele foi bastante questionado a respeito. Esse já é um grande dilema para o Jogo 4, de fato, conforme Jeff Van Gundy já disse em transmissão. O quanto você vai se desesperar após um resultado desses e rever rotações e táticas de um time que venceu 73 partidas no ano e ainda está a duas vitórias mais do título. Foi uma aberração? Foi sorte de um, azar do outro? Love vai retornar na próxima partida? Será como titular?
De qualquer forma, o treinador quase sempre espirituoso resumiu bem o que sua equipe (não) fez nesta quarta-feira: “Sempre digo aos caras. Nós somos bem pagos para isso, para enfrentar as críticas, e não apenas para arremessar algumas bolas. Nós todos merecemos as críticas dessa vez. Todos, eu e os jogadores”. Acreditem: Harrison Barnes foi o melhor atleta do Warriors dessa vez. Com 18 pontos, igualou sua quantia das duas primeiras partidas. Ainda apanhou 8 rebotes e acertou 7 de 11 chutes. Foi o único do time capaz de competir física e atleticamente. Seu agente deve ter gostado bastante. É o tipo de jogo que cai bem no DVD que será distribuído por aí em julho, em busca de um salário de US$ 20 milhões anuais.
De resto? Não há muito o que se destacar. Pelo menos não com um viés positivo. Muito menos os 19 pontos de Stephen Curry, totalmente inócuos, em 31 minutos e 13 arremessos. Ele só entrou no jogo quando esse já estava decidido, na segunda metade do terceiro período. Em seus primeiros 16 minutos de ação, antes de ser substituído com três faltas – de novo cometendo infrações tolas –, tinha apenas 2 pontos em cinco arremessos. Saiu de quadra ainda com mais turnovers (seis) do que assistências (três), caindo facilmente em armadilhas na quadra, passando sem realmente ver quem vinha pela frente, além de ter viajado na marcação. Foi realmente um jogo horrível por parte do MVP unânime, do melhor jogador da liga dos últimos dois anos. “A culpa foi minha. Eles estavam fazendo uma defesa agressiva e entraram em quadra com muita força. Não fiz nada a respeito, nem joguei meu jogo, e para eu poder ajudar minha equipe, tenho de jogar 100 vezes melhor que isso, especialmente no primeiro quarto, para meio que controlar a partida”, disse.
Klay Thompson também foi mal, com 10 pontos nos mesmos 31 minutos e 13 chutes, mas ganha um desconto por ter tomado uma paulistinha (ou tostão, ou… dependendo da região, ok) de Timofey Mozgov no primeiro tempo. De novo: uma joelhada de Mozgov na coxa. Deve doer – nas entrevistas, reclamou de deslealdade do russo. Seu irmão de “splash” não tomou nenhuma dessas.
FINAIS DA NBA
>> Jogo 1: Livingston! Os reservas! São as finais da NBA
Mais: Leandrinho voltou a ser um vulto. Na melhor hora
>> Jogo 2: Não é só o Warriors 2 a 0. Mas como aconteceu
Mais: São sete derrotas seguidas, e LeBron está cercado
Fico imaginando quão insuportável seria a gritaria se LeBron ou Kobe Bryant estivessem em seu lugar dessa vez. Curry ainda não estreou de fato nas finais. Não da forma como o torcedor do Warriors esperava. Foi bem marcado no Jogo 1, mas serviu como álibi para seus companheiros brilharem. No Jogo 2, teve problema com faltas e, para ser justo, quando retornou, a parada já estava bem encaminhada. De todo modo, suas faltas foram um fator crítico independente do bom desempenho do restante do time. Agora, teve realmente uma atuação patética para alguém de sua estatura. Kerr simplesmente admitiu que seu craque não jogou da forma como estava acostumado, mas que “acontece”, que foi uma dessas noites em que nada dava certo. Bem, não foi uma noite fraca apenas nestas finais. Longe dos microfones, mas ainda flagrados pelas câmeras da ABC, o treinador perguntava ao armador, no banco, ainda no primeiro tempo, se estava tudo bem. Depois da surra em quadra, o astro mostrava aquele ar de desolação. Uma diferença enorme para a festinha do Jogo 2.
Juntos, Curry e Thompson somam apenas 84 pontos nesses três primeiros confrontos – e aí fica o mérito para a defesa do Cavs. Mesmo que os caras ainda possam explodir no decorrer da série, já foram 144 minutos de contenção. A diferença é que dessa vez seus atletas se deslocaram com rapidez e lucidez, enfrentaram os corta-luzes e fizeram menos trocas para impedir que os demais “warriors” invadissem o garrafão para pontuar, permitindo 32 pontos na zona pintada, contra 54 que fizeram do outro lado.
LeBron, sozinho, tem 74 pontos na série, apenas 10 a menos que os Splash Brothers, mesmo muito bem vigiado por Andre Iguodala, cometendo uma serie de desperdícios de bola e tendo dificuldade com seu arremesso de média para longa distância. Dessa vez, esse tipo de chute caiu. Quer dizer, pelo menos pareceu que caiu, devido a uma boa sequência pelo terceiro período, justamente quando o Cavs demoliu seu adversário. No geral, porém, este foi seu desempenho:
Dessa vez, porém, LeBron não jogou sozinho. Ele e Irving chegaram aos 30 pontos. A última vez que dois parceiros haviam conseguido isso em um jogo válido pelas finais da NBA? Em 2013, pelo Miami Heat. Um jogador era o mesmo. O outro era Dwyane Wade. Claro. Tal como o “Rei James” vislumbrava ao trocar South Beach por Ohio, certo? Com um companheiro mais jovem que pudesse brilhar ao seu lado, contra uma defesa forte e inteligente, e tal.
O Cavs segue invicto em seus domínios nestes playoffs, com oito triunfos, enquanto interrompe uma sequência de derrotas para os atuais campeões, que parou em sete. Nesses oito triunfos como mandantes, o saldo é de 176 pontos positivos, para uma média de 22 por jogo. Isto quer dizer que o Warriors precisa, então, abrir pelo menos 23 pontos de vantagem na próxima partida para compensar isso, certo?
Mentira também. Basta que os bicampeões do Oeste cheguem a um ponto de vantagem, mesmo, ao final do jogo para ficar a uma só vitória do título. Nessa série do boi que passa para abrir caminho para a boiada, só está difícil de imaginar um confronto decidido desta maneira.
***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 96572-1480 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87