Vinte Um

Arquivo : LeBron

Mo Williams e o clube improvável dos 50
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Wilt Chamberlain era uma aberração tamanha que, com a camisa do Philadelphia Warriors, marcou 100 pontos numa só partida, contra o New York Knicks, no dia 2 de março de 1962. Ninguém jamais chegou perto dessa quantia centenária – a não ser que dê para considerar o déficit de 19 pontos do recorde pessoal de Kobe Bryant, atingido contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006, como algo mínimo.

Aspirar a 100 pontos num jogo de NBA hoje, sabemos, é algo quimérico. Se for para atingir a metade disso, porém, muda o cenário, não? OK: ninguém vai falar que é fácil terminar um jogo com cinquentinha. Mas em diversas ocasiões a marca já foi batida, a ponto de ter se tornado uma “meta clássica”. Uma soma que define um clube famoso, do qual participam grandes cestinhas como Wilt, Jordan, Baylor, Kobe, Iverson, Wilkins, Malone, Carmelo, entre outros.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Mas, de acordo com a lei do randômico, do sonhar-é-possível, numa liga que filtra os melhores atletas do mundo, recursos não faltam para um ou outro penetra entrar nesse grupo. Como acabou de fazer o armador Mo Williams, ao anotar 52 pontos na tão esperada vitória do Minnesota Timberwolves sobre o Indiana Pacers, terça-feira.  Quem poderia esperar por um evento desses? Ricky Rubio certamente, não. Muito menos LeBron, que teve em Williams seu principal parceiro de ataque em sua primeira passagem por Cleveland.

Quebrando um galho no revezamento com o jovem Zach Lavine desde a lesão de Rubio, Williams tinha média de 11 pontos por partida na temporada. Hoje tem 12,4. Aos 32, ele se tornou o quarto mais velho da história a se tornar um outro tipo de cinquentão.

O mais legal: a maior fonte de pontos para o armador na partida contra o Pacers foi justamente aquela bola que é julgada como a mais ineficiente da NBA nestes tempos, o tiro de média distância. Para deixar claro, no jargão da liga, o arremesso de média é todo aquele que não sai dentro do garrafão ou além da linha de três pontos. Nesta zona intermediária expandida, ele converteu 11 de 19 arremessos. Foi o máximo que um jogador conseguiu converter durante todo o campeonato, e bem acima de sua própria média de apenas dois cestas dali por partida.

O jogador natural de Jackson, no Mississipi, viveu seu auge entre 2005 e 2009, ano no qual, escoltando LeBron, foi eleito para o All-Star Game. Nas três campanhas, teve média superior a 17 pontos por partida (naquela temporada, chegou a marcar 44 e 43 pontos em vitórias, respectivamente, sobre Phoenix e Sacramento). Desde então, porém, sua cotação só caiu, lhe restando um papel que realmente é o mais indicado para suas características: um armador fogoso vindo do banco de reserva. Função que executou tão bem pelo Blazers no campeonato passado. Em Minnesota, numa jovem equipe, parece deslocado. Ao menos sua jornada inesquecível valeu para encerrar uma sequência de 15 reveses do time de Andrew Wiggins.

No geral, Maurice converteu 19 de 33 arremessos de quadra. Quando viu que era dia, brincou com os orgulhosos defensores de Indiana de que não adiantaria marcá-lo, já que ele estava com a sensação de que a cesta tinha a largura do Oceano Pacífico. Com essa confiança toda, não só ele estabeleceu seu recorde pessoal e o recorde de pontos da temporada 2014-2015, como também garantiu ingresso no clubinho alternativo dos 50 pontos, se juntando a mais algumas figuras que jamais apareceriam como favoritos numa casa de apostas.

Vejamos:

Terrence Ross, 51 pontos, 2014: o ala do Raptors foi a referência automática para completar as notas sobre Mo Williams, já que havia sido o caso improvável mais recente, depois de ter marcado 51 pontos contra o Los Angeles Clippers na temporada passada, igualando o recorde da franquia, antes pertencente a Vince Carter. Ele era o jogador com a menor média de pontos até se tornar um cinquentão, com 9,3 pontos  – sendo que sua principal marca havia sido de 26 pontos. Muitos consideram a explosão de Ross como a mais bizarra, por isso. Abaixo, vejo casos mais estranhos, especialmente pelo fato de Ross ser tão jovem (hoje tem 23, mas eram 22 anos quando realizou a melhor partida de sua vida). Ainda não sabemos aonde vai parar a carreira do talentoso ala, desses raros caras que poderia vencer tanto um torneio de 3 pontos como de enterradas. Ah, uma coisa: seu time perdeu mesmo assim, por 126 a 118. Ao final da partida, ele ouviu de Jamal Crawford: “Bem-vindo ao clube dos 50 pontos”. O ala-armador chegou a fazer 52 contra o Miami Heat em 2007 – mas não entra nessa lista, já que é um cestinha prestigiado em toda a liga.

Andre Miller, 52 pontos, 2010: o armador é um baita jogador, não há dúvida. Mas nunca foi reconhecido como um perigoso pontuador de mão cheia, né? Sua fama é muito maior como a de organizador de jogadas (chegou a liderar a NBA em assistências em 2001-02, com 10,9), o que, aos 38, ainda lhe rende um bom emprego como reserva de John Wall em Washington. Pois com a camisa do Portland Trail Blazers, clube no qual não agradou tanto assim, aliás, aos 33 anos, ele destroçou a defesa do Dallas Mavericks, aproveitando seu tamanho, força e inteligência no jogo de pés de costas para a cesta, para liderar uma vitória bastante apertada: 114 a 112, com prorrogação. Foram 25 pontos entre o quarto final e o tempo extra, para ele ficar a dois pontos do recorde da franquia estabelecido por Damon Stoudamire. Sua média era de 12,6 pontos até então. No duelo com os texanos, Miller deu apenas duas assistências.

Brandon Jennings, 55 pontos, 2009: o armador já havia causado sensação nos Estados Unidos ao abrir mão do basquete universitário para jogar uma temporada na Itália, antes de entrar na NBA. Quando chegou ao Milwaukee Bucks, empolgado e tentando mostrar serviço (já era muito questionado pelos scouts naquela época…), causou estragos imediatos, marcando um mínimo de 24 pontos em sete de seus primeiros 11 jogos. O melhor deles foi contra o Golden State Warriors em 14 de novembro de 2009, na mesma temporada de Miller. Foram 21 cestas de quadra em 34 tentativas, incluindo 7-8 nas bolas de longa distância. Ele também deu cinco assistências. Em sua carreira, porém, ele nunca passou da média de 40% nos arremessos de quadra numa temporada e converte 35,1% nos tiros de três. Agora é Stan Van Gundy quem tenta canalizar o potencial do irregular armador em sua arrancada em busca dos playoffs com o Detroit Pistons.

Tony Delk, 53 pontos, 2001: num Phoenix Suns dirigido por Scott Skiles, com Jason Kidd e Penny Hardaway no elenco, foi Tony Delk, de 27 anos e campeão universitário por Kentucky nos anos 90, quem arrebentou com a boca no balão contra o emergente Sacramento Kings no dia 2 de janeiro, começando o ano novo com tudo. Dos 27 arremessos que tentou, errou apenas sete  (74% de aproveitamento) – e nenhum deles foi de longa distância. Matou também 13 de 15 lances livres, para compensar. Ainda assim, o Suns foi derrotado na capital californiana, na prorrogação, com ótima atuação da dupla sérvia Stojakovic e Divac, que somaram 77 pontos. Um ano depois, ainda com a fama de cestinha vindo do banco, Delk seria trocado para um impaciente Boston Celtics, que mandou um jovem ala chamado Joe Johnson para o Arizona… O veterano deixaria a histórica franquia em 2003, tendo ao menos ajudado o time de Paul Pierce e Antoine Walker a alcançar dois playoffs – em 2002, perderam a final do Leste para o Nets. Aos 32, ele viu sua carreira se encerrar, pelo Detroit Pistons, anotando 182 pontos, no total, na campanha 2005-06.

Clifford Robinson, 50, 2000: Robinson comandou o Phoenix Suns num triunfo sobre o Denver Nuggets, por 113 a 100, convertendo 17 de 26 arremessos em 43 minutos. Isto é, sozinho, anotou metade dos pontos do time adversário, que contava com Antonio McDyess em seu auge atlético, mais Raef LaFrentz, Popey Jones e Keon Clark na sua rotação de grandalhões. Robinson fez uma grande campanha em 1999-2000, passando da casa de 20 pontos em 28 ocasiões. Não foi uma jornada isolada: numa carreira que durou 17 anos, ele teve médias de 14,2 pontos por jogo e foi eleito para o All-Star e ganhou o prêmio de 6º homem da liga em 1993, com a camisa do Blazers, clube pelo qual foi vice-campeão da NBA em duas ocasiões. Nessa época, teve média superior a 20 pontos por quatro temporadas. E o que está fazendo aqui, então? É que, pelo Suns, o ala-pivô já estava bem longe de seu auge e se tornou o segundo jogador mais velho na história a marcar 50 pontos num jogo, aos 33 anos e 31 dias, atrás apenas de Andre Miller. Quando se aposentou em 2007, tinha 1.380 partidas de temporada regular em seu currículo, a nona maior rodagem da liga.

Tracy Murray, 50, 1998: com um nome comum desses, é bem capaz de Murray ter passado despercebido para o fã casual de NBA na década de 90. Até se esbaldar contra a fraquíssima defesa do Golden State Warriors em fevereiro de 1998, o arremessador talvez fosse mais famoso por ter sido incluído numa troca entre Blazers e Rockets que o mandou, em fevereiro de 1995, para Houston ao lado de Clyde Drexler, para ser campeão pela franquia texana. Reservão na turma de Tomjanovich, se tornou na temporada seguinte um membro fundador do Toronto Raptors. Num time fraco, conseguiu a maior média de sua carreira, com 16,2 pontos por partida. Com moral, assinou com o Washington Bullets em 1997, como agente livre. Aproveitando-se da ausência de Chris Webber e Juwan Howard, chamou a responsabilidade no ataque do técnico Bernie Bickerstaff e, em 43 minutos, converteu 18 de 29 arremessos contra um Warriors – que, vejam só, tinha Tony Delk no time titular. Murray jogou sua última partida de NBA em 2003, de volta ao Blazers, aos 32 anos, se despedindo com aproveitamento de 38,8% nas bolas de três e 9,0 pontos.

Dana Barros, 50 pontos, 1995: num decadente Philadelphia 76ers, o baixinho de 1,80 m (oficialmente, claro), viveu, de longe, seu melhor campeonato em 1994-95, sendo eleito de modo surpreendente até mesmo para um All-Star Game, com médias de 20,6 pontos e 7,5 assistências. Era seu segundo ano na Filadélfia, depois de ter passado quatro anos como reserva de Gary Payton e Nate McMillan no Seattle SuperSonics. Sua grande atuação aconteceu contra o Houston Rockets, justamente o campeão, torturando Kenny Smith e Sam Cassell –  e de nada adiantou, já que seu time foi surrado por 136 a 107. Outro que se valorizou bastante com a marca clássica em seu currículo, integrante da comunidade de ascendência cabo-verdiana de forte presença em Massachusetts, assinou, então, um belo contrato com o Boston Celtics, clube no qual ficou até 2000, sem, no entanto, repetir o sucesso. Depois de duas temporada pelo Pistons, voltou ao Celtics em 2003 para se aposentar da liga americana aos 36, com um único jogo.

– Willie Burton, 53 pontos, 1994:  o ala foi mais um a se aproveitar do elenco fraquíssimo do Sixers naquela temporada, ganhando um volume ofensivo impensável. Quando foi selecionado pelo Miami Heat na nona colocação do Draft de 1990, vindo da Universidade de Minnesota, prometia mais, mas acabou jogando por apenas oito temporadas na NBA, com média de 10,3 pontos e 42,4% de aproveitamento nos arremessos, em 21,1 minutos. Como segundo cestinha da equipe de Philly, terminou o campeonato 1994-95 com 15,3 pontos por jogo, sendo o auge os 53 que anotou justamente numa vitória contra sua ex-equipe, com 12 de 19 nos arremessos (5 de 8 em três pontos) e absurdos 24 de 28 nos lances livres, em 43 minutos, dando um banho em Glen Rice. O curioso é que, enquanto Barros conseguiu um megacontrato do Boston, Burton não recebeu nem mesmo uma proposta do 76ers. O máximo que o time lhe propôs foi um contrato sem garantias. O ala decidiu, então, jogar na Itália. Retornou em 1996 aos EUA, via Atlanta Hawks, mas com pouco prestígio. No dia 8 de março de 1999, foi dispensado pelo Charlotte Hornets, sendo obrigado a deixar o país novamente para estender sua carreira. Passou por Grécia, Rússia, em ligas menores americanas e se aposentou em 2004 no Líbano.


Tensão racial nos EUA e a dificuldade de se respirar
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, contundência para se aplaudir

Derrick Rose, contundência para se aplaudir

A semana começou novamente com tensão social, racial elevada em muitas esquinas e comunidades dos Estados Unidos, e os astros da NBA levaram essa revolta para a quadra.

Depois de toda a revolta que colocou a cidade de Ferguson no mapa, agora é a vez de o triste caso da morte de Eric Garner retomar os noticiários depois que um júri nova-iorquino inocentar o policial envolvido no incidente, nesta segunda-feira. De noite, incentivados por um ato solitário de Derrick Rose durante o fim de semana, os atletas de Brooklyn Nets e Cleveland Cavaliers fizeram uma manifestação simples, mas contundente a respeito.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Na hora de se aquecer para a partida contra o Golden State Warriors, Rose entrou em quadra com uma camiseta preta, com texto em branco exclamando: “I can’t breathe” (“Não consigo respirar”). Essa é foi a sôfrega frase que se pôde escutar num vídeo chocante divulgado por um nova-iorquino em julho, testemunhando uma ação policial violenta que resultou na morte de Eric Garner, de 43 anos.

Para os que não acompanharam o caso: Garner foi morto em 17 de julho ao ser estrangulado pelo oficial Daniel Pantaleo, com a ajuda de outros agentes, em uma rua da região de Staten Island, em pleno dia, para qualquer pedestre testemunhar. Ele foi acusado pelos policiais de estar vendendo cigarros contrabandeados. A ação foi registrada por Ramsey Orta, amigo da vítima. Orta, obviamente, vem sofrendo ameaças desde então.

A Grand Central station em Nova York foi tomada por manifestantes

A Grand Central station em Nova York foi tomada por manifestantes

A indignação só aumentou na quarta-feira passada, depois que um júri decidiu não indiciar Pantaleo, que está livre e só será submetido a uma sindicância interna de sua corporação, mesmo depois de atacar um ‘suspeito’ desarmado, com uma técnica de estrangulamento proibida pela polícia nova-iorquina. Nove dias antes, um júri na cidade de Ferguson havia seguido a mesma trilha em relação a um policial que matou o adolescente Michael Brown, de 18 anos, a tiros. É para se refletir a respeito do sistema judiciário. Ao mesmo tempo, se torna inevitável e imprescindível a participação de figuras públicas para incentivar o debate.

LeBron amplifica os protestos

LeBron amplifica os protestos

Entra Derrick Rose em cena. O enigmático armador do Chicago Bulls foi o primeiro astro da NBA a se manifestar a respeito ao quebrar o código de vestimenta (e conduta, digamos) da liga com sua camiseta. Nesta segunda-feira, em Brooklyn, jogadores do anfitrião Nets e do visitante Cavs usaram réplicas também durante o aquecimento, num jogo que contou com a presença do príncipe britânico William e sua esposa, além do comissário Adam Silver.

Entre os protestantes estavam LeBron James, Kyrie Irving, Deron Williams e Kevin Garnett. As camisetas foram distribuídas antes do jogo pelo armador Jarret Jack. “Esta á cidade em que a morte aconteceu, então fiz esse convite, caso eles quisessem participar da causa ou se manifestarem, sem ter de necessariamente fazer discursos”, disse o reserva do Nets.

Ao final da partida, LeBron se pronunciou, todavia: “É apenas para que nós possamos nos manifestar sobre o momento pelo qual passamos como sociedade. Obviamente, como sociedade precisamos melhorar. Ser melhores uns com os outros, e não importa qual a sua raça. Mas as camisetas foram acima de tudo um aceno aos familiares. São eles que devem receber mais energia e entrega”.

É o tipo de atitude que se tem de aplaudir. O envolvimento de atletas em questões político-sociais nunca vai ser demais, sendo eles figuras de extrema repercussão, alcance. Quando o tópico é a desgraçada questão racial, um dilema que definitivamente não se restringe aos Estados Unidos, a participação dos atletas da NBA se torna praticamente obrigatória, por motivos óbvios. A resposta da classe contra Donald Sterling, ex-proprietário do Clippers, já havia sido exemplar nesse sentido.

Em Washington, o presidente Barack Obama afirmou que os protestos crescentes são “necessários”, com palavras comedidas, mas importantíssimas em meio a uma polêmica dessas. “Desde que sejam pacíficos, acho que são necessários”, afirmou. “O poder não vai conceder nada sem uma boa luta, é verdade. Mas também é verdade que a consciência de um país precisa ser ativada por alguma inconveniência. O valor de protestos pacíficos e ativismo… É que isso relembra a sociedade que isso não acabou ainda.”

A NBA não se pronunciou oficialmente sobre a manifestação de suas estrelas, mas, ao jornalista Jeremy Schaap, da ESPN, uma fonte anônima afirmou que eles não serão multados. É que ao entrar com a camiseta de protesto em quadra eles feriram o código de vestimenta da liga, que obriga o uso de uniformes oficiais.

O comissário Adam Silver foi ao Barclays Center assistir a Nets x Cavs, assim como o príncipe britânico William e sua esposa. “Respeito Derrick Rose e todos nossos jogadores por dar voz aos seus pontos de vista pessoais em questões importantes, mas minha preferência era para que os jogadores seguissem nossas regras de vestimenta”, afirmou.

Em quadra, o Cleveland deu sequência a sua boa fase, vencendo um desfalcado Brooklyn por 110 a 88. Dion Waiters despertou e fez sua melhor partida na temporada com 26 pontos.


As assistências de LeBron, e os sacrifícios do Cavs
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

De LeBron para Kyrie, com carinho

De LeBron para Kyrie, com carinho

Na leitura diária do HoopsHype, você pesca lá uma frase que talvez nem chamasse tanta atenção assim de primeira, mas que diz muito sobre o processo de amadurecimento pelo qual o Cleveland Cavaliers ainda vai ter de passar para ficar perto de realizar seus sonhos mais ambiciosos já nesta temporada.

Temos Kyrie Irving comentando a fase de garçom de LeBron James, que coincide com o melhor basquete praticado pela equipe neste princípio de temporada. Diga lá, Kyrie: “Ele está apenas tentando fazer jogadas em quadra. Quantos jogos em sequência ele vem com dois dígitos nas assistências? E não é que sejam 10, mas, sim, 12, 13. Ele vem fazendo isso de modo fantástico. Acaba tirando algumas das minhas, mas eu pessoalmente gosto disso”.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Bem, o comentário do armador não tem nada de negativo. A princípio, na verdade, soa bem legal que ele não se incomode em ceder o posto de organizador nominal do time ao seu companheiro. Então o que é pega?

O simples fato de Irving ainda se preocupar, gastar alguns cucos para pensar sobre quem está centralizando determinada estatística. De novo: ok, ele fala a respeito elogiando LeBron. Por outro lado, isso mostra o quanto a mentalidade do jovem astro ainda pode se perder com quesitos insignificantes diante  de questões muito maiores em torno do time.

Desde que acertou seu retorno ao Cavs, James vem batendo na mesma tecla, repetindo o discurso dos tempos de Miami, por que não tem como, mesmo: a de que sacrifícios são necessários de todas as partes – e que obviamente esse sacrifício tem a ver com menos tempo com a bola e, por consequência, um impacto no volume de suas estatísticas individuais. Não existem pontos, assistências, rebotes ou tocos de um ou outro. Mas, sim, do time inteiro.

Para constar, LeBron está com média de 10 assistências por jogo nas últimas cinco rodadas. Nas últimas duas partidas, foram 25 passes para a cesta. Na temporada, tem 7,9, sendo o quinto do campeonato, atrás de Rajon Rondo, Ty Lawson, John Wall e Chris Paul. Kyrie Irving tem 4,8, na 31ª posição, logo acima de Kobe Bryant. Nas últimas duas atuações, o armador deu 8 assistências e anotou 52 pontos.

De todas as assistências de LeBron, esta aqui é realmente sensacional. Ironicamente, para Irving, que recebe o passe depois de o craque armar toda uma cena, olhando para Shawn Marion na zona morta. Vocês já viram, né?


O Miami Heat de Spoelstra tenta se reinventar
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015

LeBron? Que LeBron?

LeBron? Que LeBron?

É o que dá escrever um texto que era para ser prévia, mas não deu tempo de publicá-lo antes e acaba invadindo a temporada. De todo modo, a minha defesa: mesmo se fosse prévia, a ideia era de que essa ficha se sustentasse como material de apoio para a equipe durante todo o campeonato, e tal. Sim, tamanha era a pretensão.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Basicamente, o que iria escrever é o seguinte: ainda vamos ver na TV uma equipe muito boa, boa o suficiente para fazer estragos na Conferência Leste, mas que, como candidata ao título, só mesmo se inserida com um tremendo de um azarão. E aí o que acontece? Eles vencem três partidas seguidas na semana de abertura, integrando Luol Deng ao sistema, usando os calouros Shabazz Napier e James Ennis e explorando um Chris Bosh simplesmente sensacional. Era a hora de cair no hype e abraçar a causa? Talvez!?

Aí, pumba, passa o Houston Rockets pela cidade, com Dwight Howard e James Harden demolidores, e acaba com a festa. Ajuda a por as coisas sob perspectiva. O time da Flórida havia vencido basicamente um Washington Wizards desfalcado de Nenê, cumprido tabela com o Philadelphia 76ers e derrotado um competente Toronto Raptors, que, no caso, é um de seus maiores fregueses. Então tá. Serviu para zerar qualquer ruído que o campeonato já em andamento pudesse causar, para que eu resgatasse o ponto original.

Bosh começou o ano de modo muito mais agressivo, como se estivesse em Toronto

Bosh começou o ano de modo muito mais agressivo, como se estivesse em Toronto

O Miami manteve Chris Bosh, Dwyane Wade, Norris Cole, Mario Chalmers, Chris Andersen e Udonis Haslem de sua rotação do bicampeonato. Seis caras, vale por um bom conjunto. Mas, da turma que saiu, bem, como dizer isso? Tinha o tal do LeBron James, né? Acho que vocês ouviram a respeito. Ray Allen faz falta, assim como Mike Miller para os playoffs… Mas seriam substituíveis. Quando você tenta reencontrar seu rumo sem LeBron, aí o desafio é muito maior. Até porque todo o sistema de jogo de Erik Spoelstra estava baseado nas vastas habilidades que o camisa 6 lhe entregava. A defesa pressionada. O ataque veloz e espalhado. Enfim. Todo e qualquer detalhe era pensado em torno do craque.

Então o Miami tinha uma base entrosada mantida, mas também precisaria se reinventar. E aí chegou a hora de Spoelstra realmente mandar um recado para os críticos que só acreditavam no sucesso de sua equipe pela qualidade das estrela que tinha em mãos. Que, com um elenco normalzinho, o treinador não faria nada de mais.

Obviamente não é o caso. Não só o Heat não tem um elenco medíocre hoje – e Chris Bosh vai lembrando a todos o quão mortal é o seu arsenal, com ou sem LBJ –, como Spoelstra é muito mais que um cone do lado da quadra. O treinador vai mexer suas peças com criatividade, sem grilhões, experimentando até encontrar a melhor rotação e quintetos que funcionem para determinadas situações.

Spoelstra vai dar um jeito. Algum jeito pelo menos

Spoelstra vai dar um jeito. Algum jeito pelo menos

A dúvida que realmente fica aqui diz respeito a saúde. Sobre o que aconteceria no caso de Bosh ou, principalmente, Wade se lesionarem. Aí o frágil banco ficaria consideravelmente exposto. A não ser que vocês ainda estejam esperando 20 pontos por jogo de Danny Granger. A temporada nem começou, e ele já está novamente lesionado. Essa estaria na prévia na certa

O time: quando você perde LeBron James, multifundamentado e uma aberração atlética da natureza, você está perdendo um caminhão de possibilidades. Mas acho que o ponto principal a ser coberto é o dinamismo de sua equipe. Em termos de habilidades físicas, todo mundo sabe que são poucos os que podem rivalizar com o craque. Então nem adiantava procurar por isso. Em termos de flexibilidade na quadra, porém, a tática pode resolver. E Spoelstra vem fazendo sua parte.

Quem aí já se acostumou com a imagem de um Luol Deng do Miami Heat?

Quem aí já se acostumou com a imagem de um Luol Deng do Miami Heat?

Reparem que Chalmers, Cole e Shabazz Napier têm ficado em quadra por muito mais tempo. O técnico usa o expediente da dupla armação para manter um time veloz e solidário, com a vantagem de que os dois veteranos da posição são bons marcadores e conseguem manter uma certa pressão no adversário – ainda que uma pressão diferente, e, não, a blitz dos últimos anos. Ainda há o fator Josh McRoberts para ser integrado nessa brincadeira, depois de o ex-Bobcat ter perdido toda a pré-temporada depois de uma cirurgia no dedão do pé.

Além disso, na ala, Luol Deng adiciona inteligência em seu giro pela quadra sem a bola, se esgueirando pelos espaços abertos por um ataque ainda com cinco homens abertos. O calouro James Ennis também vai seguir essa linha e dar mais vitalidade quando for para a quadra. O ataque não vai ser problema. A retaguarda e a proteção ao aro, já frágeis com LeBron por lá, é que inspira mais preocupações, como o Rockets expôs na quarta rodada.

A pedida: uma quinta participação seguida nas finais da NBA?! Só o Boston Celtics de Bill Russell conseguiu algo assim. Mas realmente está cedo para se empolgar.

Olho nele: Josh McRoberts. Escrever sobre Napier já ficou batido, né? Obviamente que o armador é talentoso, que merece mais tempo de jogo e que a solução encontrada por Spoelstra para colocá-lo na rotação parece ótima. Então vamos falar um pouco mais aqui sobre McBob, um cara sobre o qual já escrevi aqui, declarando toda a minha simpatia. O ala-pivô vai amplificar a movimentação de bola da equipe com sua visão de jogo praticamente incomparável para alguém da sua altura, mobilidade e habilidade. Nos momentos em que estiver em quadra com Bosh, o ataque do Heat vai ficar muito, mas muito interessante. E ele nem precisa rasgar camisas para chamar a atenção:

Abre o jogo: “Ele não precisa tentar ser o jogador que foi em 2008. Isso pode não ser necessariamente importante para nosso time”, Erik Spoelstra, sobre Wade. O bom para o treinador é que Chris Bosh, sim, parece pronto para jogar como era em 2009, em seu último ano como um Raptor, antes da Decisão e todas as suas consequências.

Mr. Shabazz para fazer o ataque se mexer

Mr. Shabazz para fazer o ataque se mexer

Você não perguntou, mas… o novato Napier deixou de seguir LeBron James no Twitter e deletou todas as mensagens que havia mandado para o astro do Heat Cavaliers, desde que o Rei optou por retornar a Cleveland. É engraçado: durante os mata-matas do basquete universitário, LeBron não se cansava de elogiar as atuações do armador por UConn, rumo ao seu segundo título. “Meu jogador favorito no draft, não tem como alguém selecionar algum armador antes dele e blablabla”, foram as coisas que ele andou falando. Imagine, então, a decepção de Shabazz quando o ala o abandonou. Tadinho. Em sua defesa, o rapaz afirmou que não era ele que controlava sua conta e que não estava sabendo nada disso.

Dwyane Wade, card, Miami Heat rookieUm card do passado: Dwyane Wade. Há 11 anos, o ala-armador entrava na NBA sem tanta badalação – pelo menos considerando o jogador que ele iria virar em Miami. Agora Wade abre uma nova campanha em que há incertezas ao seu redor: depois de tantos problemas físicos, como ele vai reagir novamente com mais responsabilidades ao seu lado? Ao menos seu elenco de 2014-15 é superior ao de 2003, que tinha Caron Butler e Lamar Odom, ainda jovens, e veteranos no fim da carreira como Brian Grant e Eddie Jones. Além deles, Wang Zhizhi, Samaki Walker, Bimbo Coles, Rasual Butler e… Udonis Haslem, claro. O único remanescente ao lado de Wade.


O Indiana Pacers da depressão
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos chatiados

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos #chatiados

Apesar de este ser um blog e de o seu… blogueiro ter uma carreira toda (coff! coff!) construída na internet, venho por meio deste confessar minha ignorância digital. As coisas podem estar bombando na internet há um bom tempo, todo mundo já se matando de rir com a piada da semana, e o cara aqui, boiando geral nas redes sociais, sem entender nada do que está acontecendo. Como nos casos dos constantes “memês” – já foi um desafio entender o conceito. Dentre essas ondas, existe a expressão “da depressão”, né?

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Comunidade Ninja da depressão, pequeno polegar da depressão, ciclone da depressão etc. Esses, pelo menos, já se explicavam pelo nome, ao menos. De qualquer forma, nem sabia a origem do, hã, fenômeno. Coisa que o site da Vejinha SP, num serviço de (in)utilidade pública, nos conta.

Pensava que, a partir do momento que a bola subiu para a temporada 2014-2015, esse tema deveria ser limitado a um só time: o Indiana Pacers. Mas aí a gente vê a tempestade de lesões que abala o Oklahoma City Thunder e o pior início de campanha da história do Lakers, e o clube acabou aumentando por um tempinho. De qualquer forma, o simples fato de dois times surgirem para roubar até mesmo as manchetes negativas do Pacers só aumenta a fossa deles, não?

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Estamos tratando de um clube  que foi sério candidato ao título da NBA nos últimos dois anos. Que, ao final da era LeBron em South Beach, poderia muito bem acreditar que era chegada a hora. Mas aí Paul George se arrebentou num jogo-treino besta da USA Basketball, Lance Stephenson se mandou para Charlotte, e toda a base promissora montada por Larry Bird e Donnie Walsh se ruiu. Sabemos bem que o Pacers tinha dificuldades para pontuar mesmo com os dois jovens alas no time. Sem as suas duas principais forças criativas, sobrou para George Hill, CJ Miles, Chris Copeland e Rodney Stuckey a coordenação e produção ofensiva? Argh.

Com Roy Hibbert ao centro do garrafão apoiado por David West,  George Hill pressionando qualquer armador que passe à sua frente, Solomon Hill batalhando por um futuro na liga nas alas e um sistema já bem engendrado, o Pacers poderia muito bem segurar as pontas pela defesa. Em seus primeiros quatro pontos, nem isso vem acontecendo, porém – não de acordo com o padrão que vimos desde que Frank Vogel foi empossado técnico.

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Mais aí tem mais aaaargh: West torceu feio o tornozelo na pré-temporada,  G-Hill tem problemas no joelho e CJ Watson, no pé. É um trio que está fora de ação por tempo indeterminado, deixando a equipe num estado de calamidade.

Do ponto de vista de Vogel, demorou, mas ele ao menos teve seu esforço premiado com uma renovação contratual. Entre as boas notícias também consta o ressurgimento obrigatório de Copeland.

De qualquer modo, fazendo as contas aqui de baixas e reforços, o saldo é gravíssimo. Nem mesmo na pálida Conferência Leste dá para sonhar em competir por algo relevante. Muito provavelmente nem pelos playoffs. Então perdoem as lágrimas que escorrem desde Indianápolis. É deprê geral.

O time: mas que time?

A pedida: eles querem ainda uma vaguinha nos mata-matas, mas deveriam se concentrar, mesmo, na loteria do Draft.

(Bom, ok, ok, só para não deixar passar batido: Si Pacers vai tentar defender bem ainda, e para isso vai precisar de um Roy Hibbert muito mais motivado do que esteve no campeonato passado, com a cabeça em ordem. West e Hill precisariam voltar rapidamente, e bem. Copeland tem de de sustentar sua produção de início, acertando os chutes de longa distância ao lado de Miles e do croata Damjan Rudez. Stuckey precisa render vindo do banco. Enfim, são muitos “ses” para serem conferidos, gente.)

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Olho nele: Chris Copeland. Enquanto muitos apostavam em Stuckey como o cestinha do time, suprindo a ausência de George e Stephenson, quem vem despontando como a principal arma ofensiva é o ala ex-New York Knicks, que tem qualidades interessantes, mesmo: o chute de longa distância bastante elevado combinado com um corpo esguio e veloz. O veterano havia sido posto de castigo por Vogel na temporada passada, meio que inexplicavelmente, para um time que precisava de mais arremessadores – ele poderia não ter a mesma consistência defensiva do resto da trupe, mas aí cabe ao comandante encontrar um equilíbrio entre os dois lados da quadra, não? Essa foi uma das falhas do técnico, que não conseguiu desenvolver uma segunda unidade consistente e produtiva, dependendo demais de seus titulares. Ver Copeland render neste ano é uma boa, mas ao mesmo tempo não deixa de ser mais um ponto deprimente para o clube, uma vez que o torcedor mais amargurado pode muito bem perguntar por que diabos eles tiveram de abraçar Rasual Butler nos playoffs.

Abre o jogo: “Vamos ser uma das surpresas da NBA. Esta equipe é capaz de fazer seu trabalho. Temos talento o suficiente para cumprir nossas metas e competir com os melhores. Não vamos complicar mais as coisas. Um banco de qualidade será uma grande parte de nosso sucesso este ano”, Frank Vogel, bastante otimista. Mas é preciso dizer: a declaração foi antes das lesões de West, Hill e Watson. A ideia do treinador é a de usar uma rotação mais extensa, com dez atletas, e ele vem fazendo isso, apesar dos desfalques.

Você não perguntou, mas… Roy Hibbert se reuniu com Kareem Abdul-Jabbar durante as férias por motivos de tutelagem, aconselhamento, ombro amigo e… filmes de ninja! Sim, sim. O legendário pivô, o maior cestinha da história da liga e hoje uma espécie de guru espiritual visitou Hibbert em sua casa, e os dois deram um tempo no divã para se divertir com pancadaria. Hibbert infelizmente não revelou os títulos assistidos. A história, todavia, nos remete a…

Jalen Rose, Indiana Pacers, card, 2000Um card do passado: Jalen Rose. Uma curiosidade a respeito do Pacers? Na história da franquia, quatro de seus atletas já foram eleitos aqueles que mais evoluíram numa temporada – o já prêmio de Most Improved Player. Esse quarteto foi apontado desde o ano 2000, com o ala-armador Rose puxando a fila. Na sequência, viriam Jermaine O’Neal (2002), Danny Granger (2009) e Paul George (2013). Hoje um popular comentarista da ESPN, Rose credita sua melhora em quadra exclusivamente ao seu trabalho com Larry Bird, então técnico da equipe que foi derrotada pelo Lakers na decisão (4-2). Para ter qualquer perspectiva de sucesso nesta temporada e justificar o otimismo de Vogel, o Pacers bem que poderia usar mais um salto de qualidade desses para qualquer um de seus atletas.


Retorno de LeBron desafia maldição esportiva de Cleveland
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Ele voltou

Ele voltou

Em Cleveland, o burburinho começou em maio, quando o Browns selecionou o badalado – e controverso – quarterback Johnny Manziel no Draft da NFL. Aí que, no dia 11 de julho, três meses depois, chegou a carta de LeBron James, via Sports Illustrated, anunciando O Retorno do Rei. Aí quem iria segurar?

Os torcedores mais fanáticos foram para a rua. As aglomerações não chegaram a atingir o status de passeata, mas foi quase. A causa? Eles estavam confiantes, muito confiantes que estaria chegando perto do fim. Mas o quê?

A mal-di-ção que paira sobre a cidade.

De que seus times não seriam campeões nunca mais na vida.

“Ah, vá. Que história de maldição é essa? Que bobagem!”, pode ser sua recepção. Mas não brinque com, ou duvide dos sentimentos dos outros, cara.  A sensação a respeito é tão grave em Cleveland, que tem seu próprio verbete na Wikipedia, gente. Veja só como o texto começa: “A maldição sobre os esportes de Cleveland é uma superstição envolvendo a cidade de Cleveland, e  todos seus times esportivos”. Todos!

Um artigo que detalha a maldição

Um artigo que detalha a maldição

Desde que o Cleveland Browns ganhou o título do futebol americano em 1964, a cidade, também representada na NBA e no beisebol com o Indians, jamais ganhou um troféu. Se for juntar tudo, dá mais de 150 temporadas de jejum. E eles não aguentam mais conviver com esse fardo. Daí que, quando um LeBron volta parasua  casa – que, veja bem, não é exatamente Cleveland, mas Akron –, eles explodiram em euforia. Era chegada a hora.

Do ponto de vista nacional, a pressão sobre o Cavs vai ser natural. Afinal, é o que ronda toda a carreira do ala, ainda mais depois da chegada de Kevin Love. Estamos diante do novo supertime da NBA. Na cidade, porém, você pode imaginar o nível de tensão quando a equipe se aproximar dos playoffs.

“O campeonato é a nossa meta nesta temporada”, afirma Anderson Varejão, que já vive há 10 anos por lá, e então sabe que tem de tomar cuidado ao abordar o tema, de modo que ele complementa a frase: “Mas há alguns times muito bons lá fora. Espero que dê certo para nós logo de cara, e que vençamos todo mundo, mas as coisas não funcionam desta forma. Vai levar tempo”.

O time: antes de contratar James e Love, o Cavs já havia garantido um grande trunfo para elevar o produto que entrega em quadra: Blatt. O americano-israelense estava merecendo uma chance na NBA. Hoje, existem outros 28 técnicos que trocariam de lugar com ele num piscar de olhos – vamos deixar Pop fora dessa. Mas talvez não haja melhor nome para cumprir essa missão, independentemente de sua condição de estreante na grande liga. A começar pela defesa. Uma das características mais elogiosas de Blatt é sua capacidade camaleônica, de se adaptar ao que tem ao seu redor. E, como ele mesmo conta, no elenco formado pelo gerente geral David Griffin, com uma ajudinha de LBJ, há atletas que vieram de times que praticavam os mais diversos estilos de defesa no ano passado. Isso não é problema.

“Vamos ser versáteis. O fato de ter caras vindo de diversos sistemas só vai nos ajudar”, garante. Versatilidade não falta, realmente, para o treinador usar. Ele pode formar quintetos grandes e, ao mesmo tempo, velozes. Ou times baixos, mesmo, que vão correr ainda mais – ter o melhor jogador do mundo ao seu lado ajuda bastante para isso. Tudo vai depender da química em quadra e do adversário, do jeito que seu treinador gosta. O Cavs também tem um potencial imenso para dominar os rebotes jogo a jogo, com o trio Varejão-Love-Thompson sendo escoltado por Marion e James. Se você assegura os rebotes defensivos, estará bem posicionado para sair no contragolpe. Irving, Waiters e James vão adorar receber os touchdowns de Love, por exemplo. Em situações de meia quadra, arremessadores não faltam para esgarçar a defesa. Enfim, é um time bastante intrigante.

A pedida: o elenco ainda é majoritariamente jovem, considerando as peças principais, LeBron, Blatt e dirigentes vão falar que tudo tem tempo nessa vida, mas é óbvio que a equipe joga pelo título para já.

Linha de frente de Cleveland promete dominância nos rebotes

Linha de frente de Cleveland promete dominância nos rebotes

Olho nele: Tristan Thompson. Quando você observa o pivô canadense e ignora as minúcias do jogo, deve se sentir predisposto a amar o sujeito. É um cara muito rápido e ágil, que sai do chão com facilidade para enterrar ou capturar rebotes. Para ele, essa coisa de capacidade atlética é natural. Os pais eram esportistas, o irmão caçula, também. E o primo. Leia mais. Aqui, Thompson ganha relevância não só por ser aquele que vai revezar com Varejão no garrafão, mas também por causa do futuro. Um futuro bem próximo. O canadense chega a seu quarto ano de NBA, estando sujeito a renovar seu contrato. E vale quanto?

A despeito de suas habilidades como reboteiro, de cobrir espaços defensivamente, em termos de produção ofensiva, o pivô está estacionado, se for para checar sua produção por minuto, ou até mesmo regrediu, em termos qualitativos. No ataque, ele pode ter mudado de mão para arremessar – trocou a canhota pela direita –, mas isso não surtiu pouco efeito em seu aproveitamento de média distância, e com volume reduzido de tentativas. Passar também não consta em seu repertório. Estamos falando um jogador com sérias limitações. Mas que tem o mesmo agente de LeBron: Rich Paul. E a diretoria do Cleveland por acaso gostaria de desagradar o sujeito? A aposta seria que, instruído por Blatt, um professor muito mais gabaritado que Mike Brown e Byron Scott, Thompson progredisse de modo significativo para justificar o salário de mais de US$ 10 milhões que certamente vai pedir.

Abre o jogo: “LeBron vindo para cá não era o suficiente. Fechei o negócio só quando soube do Kevin Love. Isso me convenceu, deixou mais realista a ideia de que teríamos uma chance de vencer o campeonato neste ano”, dele, Shawn Marion, o cara.  Campeão em 2011 pelo Mavs, sendo um dos responsáveis pela marcação em LBJ, “Matrix” foi um dos reforços cortejados pelo craque para complementar o elenco da equipe. Resta saber se o ala seria contratado caso tivesse soltado essa antes de firmar contrato.

Você não perguntou, mas… segundo o repórter Dave McMenamin, do ESPN.com, quando Cavs e Lakers discutiram uma possível troca envolvendo Pau Gasol na temporada passada, a diretoria de Los Angeles não arredava o pé e pedia Anderson Varejão no pacote. Não foram atendidos, para sorte do pivô brasileiro. E, sim, chegamos ao dia em que ficar em Cleveland, em vez de vestir a camisa do Lakers, é algo que nem se pensa a respeito.

Brad Daugherty, pick 1, topsUm card do passado: Brad Daugherty. O Cavs ganhou a loteria do Draft pela primeira vez em 1986, 17 anos antes de ser brindado com LeBron James. Naquela ocasião, a franquia viveu talvez o seu grande momento – pelo menos até o dia em que o prodígio decidiu voltar para casa. Além do pivô revelado pela Universidade da Carolina do Norte, a diretoria caprichou nas escolhas de Ron Harper (em 8º) e Mark Price (em 25º), para construir o núcleo de um time que tentaria desafiar do Bulls de Jordan, Pippen e Jackson no início dos anos 90. Que draft! Como tudo que é bom tende a passar rápido para os times de Celveland, contudo, Harper foi trocado para o Clippers e Daugherty teve sua carreira abreviada devido a problemas crônicos nas costas. Ele jogou apenas nove anos na liga, dos 21 aos 28, se aposentando precocemente com médias de 19 pontos e 9,5 rebotes, sendo eleito cinco vezes para o All-Star Game no meio do caminho. A curiosidade é que, aos 30 anos, ele tentou voltar ao esporte. Mas oooooutro esporte: o automobilismo, como dono de uma equipe da série NASCAR de pickups, a mesma que já contou com Nelsinho Piquet em sua linha de largada. No atual elenco do Cavs, são duas escolhas número um de draft: LeBron e Kyrie Irving. Caso não tivessem fechado a troca por Love, teriam mais duas: Andrew Wiggins e Anthony Bennett. Haja sorte. É o carma para compensar a maldição.


LeBron? Intrigas? Nada. No Cavs x Heat, deu festa para Varejão
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Varejão brilha pelo empenho. Mas teve seus minutos de cestinha no Rio (Foto: Marcelo Regua/Inovafoto)

Varejão brilha pelo empenho. Mas teve seus minutos de cestinha no Rio (Fotos: Marcelo Regua/Inovafoto)

Em Cleveland, ele é uma sumidade. Neste sábado, foi a vez de ser reverenciado, com muita justiça, por seus compatriotas. Num comportamento bem diferente do que apresentou no ano passado em relação a Nenê, os torcedores brasileiros ovacionaram Anderson Varejão quando o pivô foi apresentado no Rio de Janeiro, antes do amistoso de pré-temporada da NBA contra o Miami Heat.

O reconhecimento, claro, tem muito mais a ver com o carisma do pivô do Cavaliers, muito por conta de sua cabeleira esvoaçante, marca registrada, que deixa todas as suas ações um tanto mais dramáticas – um fenômeno parecido com o que se passa com David Luiz e Carles Puyol nos gramados.

Qualquer aplauso direcionado a um jogador como Varejão é merecido. Num país em que se celebra o ataque no esporte como um aspecto até mesmo cultural, no basquete essa devoção acaba se canalizando para a figura do cestinha. E, de cestinha, o capixaba não tem nada. Ou melhor: apaga isso. Pelo menos por alguns minutos, num time que tem LeBron James e Kevin Love, o brasileiro foi promovido, de modo surpreendente e cordial, a referência ofensiva – e mais do que deu conta do recado.

Desde os tempos de adolescente surgindo no time principal de Franca, o grandalhão se destacou por seu tino até mesmo extrassensorial para os rebotes, a inteligência e empenho na defesa, turbinados por sua agilidade incomum. O cara do serviço sujo. Qualidades que fizeram dele um sucesso popular em Cleveland. E que, felizmente, não passaram despercebidas pelo pelo público nacional.

Varejão fiscalizando Bosh. Prioridades defensivas

Varejão fiscalizando Bosh. Prioridades defensivas

De qualquer maneira, o Varejão que jogou pelo Cavs foi outro. A partir do momento em que anotou os dois primeiros pontos do confronto, num tiro de média distância, o pivô não se cansou de balançar a redinha. Foi um gesto bem legal do técnico David Blatt, que desenhou jogadas que colocavam o cabeleira em posição favorável para pontuar lá dentro, assessorado por LeBron. Desse jeito, o treinador vai se tornar um personagem popular com seus atletas rapidamente. A seriedade de Blatt só não foi abalada quando, no período final, a galera passou a gritar o nome do pivô, pedindo seu retorno. Não ia rolar – há planos mais sérios, de longo prazo, que precisam ser respeitados.

O brasileiro deu provas de que tem munheca e que pode ser explorado. Teve até gancho de média distância caindo, tiros em flutuação, com muita confiança. Ele anotou 8 dos primeiros 16 pontos do time, ralando, vejam só, com Dwyane Wade. No primeiro tempo, foram 12 pontos no total, acertando seis de oito tentativas de cesta. Que fase! Sua participação se encerrou no terceiro quarto, com 14 pontos em 20 minutos.

No terceiro período, porém, Kevin Love foi mais um a se beneficiar da companhia de um LeBron que estava distribuindo mais, atacando menos, desembestou e estragou tudo, disparando em sua contagem pessoal (terminou com 25 pontos pontos em 26 minutos). Chris Bosh queria morrer de tanta inveja. O impetuoso Dion Waiters também aprontou uma ou outra coisa, deixando claro que talento, para ele, não é o problema. A questão é controlar a cabeça – mesmo num amistoso lá estava o jovem ala-armador fazendo caras, bocas e poses após suas infiltrações. Não precisa.

LeBron crava: uma das duas cestas de quadra do astro em pré-temporada

LeBron crava: uma das duas cestas de quadra do astro em pré-temporada

Em termos ofensivos, o potencial do Cavs é imenso. David Blatt tem ao seu dispor alguns craques, mas não é só isso. As características de LeBron e Love já permitem uma série de quintetos diferentes. A presença de caras como Dion Waiters, Shawn Marion, Mike Miller, Joe Harris e Tristan Thompson no elenco de apoio, porém, sugere caminhos intermináveis para serem explorados. São muitos atletas versáteis, intercambiáveis e alguns excelentes arremessadores de três pontos (a escolha de Harris na segunda rodada do Draft deste ano foi providencial, aliás). Para um jogo de pré-temporada, a fluidez das movimentações ofensivas já impressionam. A mente brilhante do técnico vai se esbaldar.

Com esse ataque superprodutivo, sua equipe foi dominante, liderando o placar de ponta a ponta.  No geral, foi um jogo de nível muito superior ao Bulls x Wizards do ano passado. O fator LeBron-contra-ex-time definitivamente contribuiu para isso, ainda que o astro estivesse bem mais complacente que o normal em quadra, ainda em modo pré-temporada. Com as pernas pesadas ainda, só tentou oito arremessos no total, convertendo dois. Nos lances livres, como reflexo desse condicionamento físico ainda aquém do esperado, errou quatro de sete chutes. Fechou sua participação na metade do terceiro período com sete pontos e oito assistências.

Entre seus antigos comparsas, Dwyane Wade começou bem, mas foi perdendo eficácia no decorrer dos quartos. Chris Bosh foi mais consistente e produtivo. A temporada promete para o pivô. Enquanto, para Udonis Haslem, as coisas estão bem claras: não tem essa de jogo de pré-temporada. O veterano pivô brigou, correu, trombou, reclamou e agitou bastante. Vale ficar bem atento ao ala James Ennis também. Calouro, ele foi escolhido por Pat Riley no Draft de 2013, mas jogou a temporada na Austrália, para ganhar cancha. Está afiado. De resto, muuuita discrição. No mau sentido.

Isso é curioso: por mais que tenha perdido apenas uma peça de seu time finalista de NBA, o Miami ainda busca de uma nova identidade, de atleta que ainda procuram entender exatamente qual é o seu papel. Afinal, foi a peça que saiu, né? O cara em torno de qual todo o sistema ofensivo e defensivo girava.

Do outro lado, bastante solto em quadra, o Cavs dá primeiros sinais bastante promissores. Só não esperem que, nesta jornada, Varejão vá receber tantos passes e marcar tantos pontos como fez no primeiro tempo. E ele, claro, nem importa. Desde que em junho possa fazer mais festa. Mas dessa vez em Cleveland.

*   *   *

O momento de pastelão do jogo coube a… LeBron! Claro. Vejam a cena:

Ao subir na defesa acompanhando Luol Deng, o craque do Cavs teve um lapso mental, viajou no tempo e se comportou como um atleta do Miami Heat ao fazer um corta-luz em Matthew Dellavedova, para liberar Norris Cole. Afinal, LBJ já ficou ao lado do armador-cabelo-de-bigorna por muito mais tempo do que do australiano. Acontece com as melhores cabeças.

*   *   *

O final da partida, pegando fogo, foi divertido, com Shabazz Napier lembrando os tempos de Connecticut e a turma do fundão do banco suando para valer, mostrando serviço – muitos deles serão dispensados nas próximas semanas. Não bastasse o reencontro de LeBron com a ex-equipe, a contratação de Kevin Love e tudo o mais… O Brasil ganhou até mesmo um jogo com prorrogação. A galera pirou, e haja sorte para os organizadores. Deu tudo certo, com um placar bastante elevado: 122 a 119 para o time de Varejão.


Negócios da NBA: jogador é trocado 4 vezes em 2 meses
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

O mundo da NBA se faz com grandes partidas e muito talento, reunindo os melhores atletas do mundo. Isso não se discute. Mas, fora das quadras, a liga norte-americana também é sustentada por muitos pormenores burocráticos, que os cartolas dos clubes vão descobrindo e explorando ao máximo em busca de algum trunfo que lhe ajudem na montagem de seus elencos, na tentativa de superar a concorrência.  A história do ala Scotty Hopson casa bem esses dois lados.

Desde que a temporada 2013-2014 acabou, o jogador de 25 anos foi trocado não uma, não duas, mas quatro vezes! De Cleveland para Charlotte, de Charlotte para New Orleans, de New Orleans para Houston e, por fim, de Houston para Sacramento, pelo qual foi dispensado nesta segunda-feira. Tudo isso em três meses. E como diabos uma ciranda dessas acontece?

Primeiro é preciso entender o tipo de contrato que Hopson fechou com o Cavs, na reta final da temporada passada.

O gerente geral David Griffin havia acabado de assumir a gestão do clube, arregaçando as manguinhas. Seu plano não só era deixar a equipe mais competitiva em busca de uma tão sonhada cobrada vaga nos playoffs pelo proprietário Dan Gilbert, como arrumar a casa para o mercado de agentes livres e trocas de há pouco. Esse mesmo, em que fecharam negócios com LeBron James e Kevin Love.

Hopson se encaixava nesse quebra-cabeça pensando mais na segunda parte do plano. Tanto que só foi acionado pelo técnico Mike Brown em duas partidas de 2014, mesmo que tenha ganhado a bolada de US$ 1,4 milhão para assinar por 17 dias de campeonato. Sim, isso, mesmo. Por apenas 17 dias e seis minutos jogados, ele faturou quase o dobro do que o calouro australiano Matthew Dellavedova vai ganhar  por todo o próximo campeonato.

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Esse valor, no entanto, fazia parte de um truque mais amplo de Griffin. O vínculo assinado foi de cerca de US$ 2,8 milhões por aquele restinho de temporada e uma segunda adicional. Com um detalhe: o segundo ano não tinha nem mesmo um tostão furado garantido. É o que podemos chamar de um contrato “oco”– está ali, é real, mas sem substância alguma, uma vez que poderia ser anulado a qualquer momento, bastando exercer uma cláusula.

Desta forma, o Cavs forjou quase que instantaneamente o famoso “expiring contract”, aquele que serve para facilitar a execução de trocas – e haja troca! –, uma vez que o clube do outro lado poderia pegar o calhamaço, picotá-lo e jogá-lo no lixo mais próximo, poupando alguns milhares de dólares no caminho. Houve quem criticasse a medida. Não por ser anti-ética, nem nada disso. Mas por seu preço salgado: a franquia estava pagando US$ 1,4 milhão para Hopson para gerar um trunfo que eventualmente lhe serviria em uma negociação.

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

Segundo Mark Deeks, jornalista inglês que pilota o ShamSports.com, especialista nas minúcias do teto salarial da NBA, o dirigente poderia ter trabalhado em artimanha semelhante por apenas (coff! coff!) US$ 131 mil. Bastaria assinar com qualquer veterano que tivesse mais de dez anos de experiência na liga para o mesmo período e dar a ele o mesmo contrato sem garantias na sequência.  Acontece que, como nota o Akron Beacon Journal, Griffin não descartava manter Hopson em seu elenco, se nenhum negócio interessante se manifestasse. Mas foi barbada.

O Hornets, ex-Bobcats, foi o primeiro a receber o ala e seu contrato maroto, mandando o pivô Brendan Haywood e o ala-pivô calouro canadense Dwight Powell para Cleveland. A ideia de Cleveland era conseguir um jogador de contrato mais caro e também por expirar (são US$ 10,5 milhões nada garantidos para 2015-16). Para quê? Acho que muito mais pelo fato de que Haywood pode ser envolvido em alguma supertroca daqui para a frente (usando seus US$ 10,5 milhões “ocos”) do que para ajudar Anderson Varejão a proteger a cesta. Ao mesmo tempo, adicionaram um atleta de potencial para ser desenvolvido.

Um dia depois de adquirido pelo Charlotte, Hopson foi repassado para o New Orleans Pelicans, naquela negociação que só vai confundir o torcedor mais aearado. Era Hornets, ex-Bobcats, tratando com o Pelicans, ex-Hornets. Ah, e uma coisa: em todas as trocas de Hopson, o lateral Alonzo Gee foi junto. Quem precisava do contrato dessa vez era o time de Nova Orleans, para incluí-lo no parágrafo abaixo. Para o clube de Michael Jordan, valeu a pena: em vez de simplesmente cortar o salário do atleta, MJ ainda descolou alguns milhares de dólares para pagar uma rodada de golfe para seus amigos e ainda pode ter sobrado um troco para uma caixa de charutos cubanos.

A terceira troca, bastante complexa, envolveu, então, o Houston Rockets e o Washington Wizards, no rolo que mandou Omer Asik para ser o segurança de Anthony Davis em N’awlins e trouxe Trevor Ariza de volta ao Texas. O Pelicans precisava do contrato de US$ 1,4 milhão de Hopson para fechar as contas de acordo com as regras da liga. O Rockets ainda ganhou uma escolha de primeira rodada do Pelicans e pagou US$ 1,5 milhão como compensação.

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Por fim, na semana passada, o Rockets encaminhou o pacote para Sacramento e recebeu veteraníssimo Jason Terry e algumas escolhas de segunda rodada, que pode ajudar aqui e ali o Sr. Barba e o James Harden na busca por (mais) respeitabilidade na duríssima Conferência Oeste. O Kings simplesmente queria se livrar do salário de Terry, concordando em dispensar Hopson de cara. O americano já tinha um trato encaminhado com o Brindisi, da Lega Basket italiana.

E o que isso tudo quer dizer a respeito de Hopson, o jogador? Que ele não tem valor para nada?

Não é bem assim: ninguém marca 15,0 pontos por jogo em seu primeiro ano de Euroliga de graça, como ele havia feito pelo Anadolu Efes. Acontece que o atleta chegou a um Cleveland Cavaliers em meio a esse processo esquizofrênico de reformulação, no meio da temporada, em que apostaram várias escolhas de Draft para ter Luol Deng e Spencer Hawes, mas nem assim conseguiram brigar pela oitava colocação numa Conferência Leste anêmica. Queriam ganhar, mas só perdiam, e, no meio dessa confusão toda, aparece esse ala vindo do basquete europeu, sem fanfarra.

Pouco badalado, é verdade, mas só se formos falar de um Scotty Hopson profissional. Sete, oito anos atrás, sua versão adolescente era considerada uma das grandes promessas do High School americano. Aquele tipo de exposição que atinge a garotada por lá desde cedo e que, se não bem explicada, pode mexer com a cabeça do jogador. Algo que aconteceu com nosso rapaz de tantas trocas. Hopson foi recrutado pela universidade do Tennessee e falhou em deixar sua marca por lá. Mas não foi algo que lhe ocorreu quando decidiu se candidatar ao Draft da NBA de 2011. Um processo delicado no qual aquilo que você mostra fora das quadras também pode valer muito. “Aquele cara não é do mesmo planeta que o resto de nós”, disse ao DraftExpress um gerente geral, assustado com o lunatismo do jovem.

Em quadra, o que os scouts viam era claro: um atleta de primeiro nível, capaz de maravilhar atleticamente (veja o vídeo abaixo), mas que ainda pedia muito refinamento e amadurecimento. “Enquanto ele possui ferramentas físicas excepcionais para um ala de NBA e mostra flashes de habilidade da mesma forma, Hopson ainda parece sentir falta de polimento e de uma abordagem mental consistente, além de uma compreensão geral  do jogo para que possa contribuir de modo eficiente jogo após jogo”, escreveu o DX, na época.

Ignorado no Draft, sem ofertas, o ala teve de escolher entre a D-League ou o dinheiro de ligas menores da Europa. Partiu para outro mundo. Jogou na Grécia, pelo Kolossos Rodou, em Israel, pelo Hapoel Eilat, e, aos poucos, numa história bacana, foi progredindo em quadra e elevando sua cotação, até chegar a um time de Euroliga, o Anadolu. No torneio continental, fez uma primeira fase excepcional até chamar a atenção devida da NBA – e de David Griffin especificamente. Mal pôde acreditar quando recebeu a proposta do Cavs.

Não só pelo dinheirão quer recebeu, muito mais do que ele ganhou em qualquer temporada na Europa, segundo o Akron Beacon Journal. Mas também por essa coisa de sonho realizado. Todo jogador americano quer a grande liga, né?  “Apenas continuei persistente, tendo fé de que, cedo ou tarde, chegaria aqui. Mesmo que não chegasse, a principal coisa que queria fazer na minha carreira era maximizar meu potencial. O sonho era sempre entrar na NBA, e isso finalmente aconteceu para mim. Estou curtindo o momento”, afirmou, durante sua breve passagem por Cleveland.

Desde então, Hopson só pôde curtir ver seu nome em negociações atrás de negociações, até se dar conta de que seu momento de NBA durou por apenas seis minutos, mesmo, mas valendo US$ 1,4 milhões. Como ele mesmo aprendeu. Existe o jogo, sim. Mas, no seu caso, esta aventura teve muito a ver com os negócios:

 


Que tal falar mais um pouco sobre LeBron James?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

LeBron isso, LeBron aquilo, LeBron, LeBron...

LeBron isso, LeBron aquilo, LeBron, LeBron…

Este era para ser um texto sobre nada. E, ok, já admitamos desde já que essa também não é a melhor forma de se abrir um artigo. Se não há nadinha a ser dito, por que continuar a leitura?

Mas, bem, o ódio que muita gente sente por LeBron James acaba validando a pauta. Neste domingo, o ala do Miami Heat teve um jogo esplendoroso e liderou seu time a uma vitória por 98 a 96. A série final contra o San Antonio Spurs está empatada, com o mando de quadra dos texanos, por ora, revertido.

Se formos pensar bem, o que tem de mais? LeBron jogando bem, o Miami vencendo… Tudo muito normal para quem vem acompanhando os atuais, hã, bicampeões da liga, com o craque que já foi eleito quatro vezes o MVP aprontando das suas. Sobre isso, quantos artigos, matérias e notas já foram escritos? Para que perder tempo para falar novamente sobre isso?

Mas… Quaisquer duas ou três clicadas pelo mundo virtual (real?) é o suficiente para saber que nada do que este jogador específico e seus companheiros fazem quadra parece o bastante, o suficiente.  Quem é do contra, é do contra até o fim, e parece não ter muito jeito. De pouco importam as diversas sessões de 48 minutos de basquete disputadas noite após noite. De pouco importam as evidências, ali escancaradas em alta definição. Se você não quiser enxergar, não vai, mesmo. Se você for pensar apenas na “De-ci-são” tomada pelos caras em 2010, tem grandes chances de refutar o que o clube representa, e o jogo jogado que se dane.

“Ódio” é um termo muito forte? Talvez. Quem sabe ojeriza? Desprezo? Asco? Podemos escolher qualquer termo numa linha de repugnância e similares, mas mantenho minha escolha inicial. A gente realmente vive tempos odiosos. É muita gente espumando por aí, em cruzadas incisivas contra tudo e todos – sempre com a benção do anonimato, claro. Longe de querer viver numa vila, numa cidade, num grupo de pessoas pacatas, dispostas ao “sim, senhor, 100% tamo junto”. Existe, contudo, uma grande diferença entre ter espírito crítico, desconfiado e se deixar dominar pela raiva.

É muita gente que se sente mal, mesmo, por ver o sucesso de um ou outro.  Nesse contexto, LeBron virou um baita alvo. Uma supercelebridade – algo, aliás, que gosta de cultivar – e que, ainda por cima, pratica esportes? Pfff, boa sorte com isso.

Não sou fã das gracinhas e poses que o cara gosta de fazer quando seu time está voando por cima dos adversários. A apresentação do trio parada dura na Flórida também foi de um mau gosto daqueles. Bla, bla bla.

Nada disso tem a ver com o que LeBron executa em quadra. Perguntem a Kawhi Leonard ou Gregg Popovich o que acham a respeito. O ala e o técnico do Spurs têm hoje problemas muito mais graves e complicados para resolver do que discutir o carisma, a conduta ou as fofocas em torno do astro. A partir do tapinha inicial, o fato indiscutível é que eles têm de encontrar uma forma de segurar um sujeito que representa uma das maiores aberrações que o esporte já viu, se não a maior.

Kawhi que se vire com LeBron, com ou sem críticas

Kawhi que se vire com LeBron, com ou sem críticas

Wilt Chamberlain nos anos 60. Magic Johnson com altura de pivô, rasgando a quadra em contra-ataques furiosos e geniais. Michael Jordan roubando o “Air” como sua marca própria. Shaquille O’Neal entortando grandalhões e devorando tabelas. Allen Iverson passando por baixo das pernas do mesmo Shaq. A elegância nos movimentos de alta dificuldade que Kobe executava nos bons tempos. A envergadura interminável de Kevin Garnett. Dirk Nowitzki revolucionário. Eventos atléticos impressionantes, que marcaram época na liga. Agora vivemos o período de se pirar com o que o camisa 6 do Miami Heat oferece, e ele vai longe ainda.

Chega a ser injusto. Para os oponentes, no caso, e também um pouco para o próprio LBJ. Para aqueles que têm de bater frente com o cara, o que fazer? Em 2004 ou 2005, a tática era até simples. Você recua e deixe que ele chute. Mas não como um jogo mental. Você fazia isso simplesmente pelo fato de que o ala realmente não tinha um chute confiável de longa distância. Quem se lembra disso? Em suas oito primeiras temporadas, na verdade, o ala só acertou mais de 35% de seus arremessos de três pontos uma vez, em 2004-05. Hoje, pelas probabilidades, talvez ainda seja a alternativa menos pior, sabendo ainda assim que é uma opção já desconfortável. E não que um simples afastamento resolva tudo.

As passadas são tão explosivas e largas, que ele pode passar com tudo pela primeira barricada. A combinação de força física, arranque, impulsão velocidade e agilidade já faria de LeBron o atleta ideal. Acrescente sua visão de jogo soberba, as mãos grandes e firmes e a experiência acumulada de dez anos na liga, então, e temos um produto que talvez nem mesmo aqueles viciados num videogame pudessem imaginar. Seria muita apelação – e qual a graça de ganhar desse jeito.

E aí que as coisas ficam injustas para ele mesmo. O autointitulado Rei James faz tantas coisas absurdas em quadra,  de maneira tão assídua e, ao mesmo tempo, fácil, que a gente vai esperar tudo sobre ele. Os feitos mais heróicos, as maiores glórias. A cobrança para Mario Chalmers é uma. A de LeBron, outra. Dãr. Mas vem dessa diferença o principal motivo dos anda frequentes ataques ao seu jogo. Aquela coisa de ele não assumir a responsabilidade devida. De sua obrigação de fazer 50 pontos no quarto período de qualquer partida. Afinal, para alguém tão exuberante assim, tudo é possível, não? Não há limites.

Peguem o Jogo 2 das finais, por exemplo. São 35 pontos em 38 minutos, com 14-22 nos arremessos e 100% nos tiros de três. Mais dez rebotes e a defesa assustadora de sempre. Com ele jogando, o Miami Heat teve saldo de +11 pontos – com Bosh e Wade, a conta cai, respectivamente, para -11 e -8. Isso se chama “impacto”. Causa e efeito.  Então como é possível que um cara desse sinta câimbras? Como é possível que ele tolere a ideia de que um passe é a melhor solução?

Nossos tempos são odiosos, mas também egocêntricos. Tanta gente por aí prontinha para se vangloriar. Lutando para serem reconhecidos como diferentes, especiais. No escritório, no bar, em qualquer lugar. Vamos cobrar, então, o que de atletas? Que eles resolvam tudo sozinhos. Quem sabe faz na hora, não espera acontecer. Para LeBron e o público fiel da NBA, a relação fica ainda mais complicada. As comparações são inevitáveis, ainda que pouco produtivas. LeBron joga pela Grandiosidade, e também sabe e não foge disso. O que não o torna alguém individualista na hora de jogar, para desespero de muitos. Ah, porque o Michael Jordan isso. Ah, porque o Kobe Bryant aquilo. Todos se lembram das cestas decisivas de MJ – a pernada para cima de Craig Ehlo, o empurrão em Byron Russell.

São esses os lances que ficam mais gravados e que a liga e as TVs não vão cansar de reproduzir. Essa é a construção, justa, de um mito. Agora, não quer dizer que Jordan, supercompetitivo do jeito dele, obsessivo e viciado em vencer, tivesse cola nas mãos. Se fosse a jogada certa, ele passaria sem problemas. John Paxson agradece:

Steve Kerr é ouro que pode contar uma boa piada a respeito:

Esse tipo de lance quem vai lembrar? Ainda mais se for para distorcer a história de um modo que se possa fazer LeBron passar um carão. E mais: o Spurs é tão celebrado por seu basquete coletivo. E aí surge uma grande estrela que também comunga desse preceito, e o que as pessoas acham? Que é um fracote, claro, um entregão, um amarelão.

Como ousaram dizer após o Jogo 5 da final do Leste contra o Pacers, quando optou por passar para Bosh na zona morta. Na ocasião, o ala-pivô errou o chute. Neste domingo, com 1min17s no cronômetro, ele acertou. Teria Bosh a confiança para fazer o arremesso, estaria ele preparado se ele não soubesse que seu companheiro realmente poderia procurá-lo e encontrá-lo? O mesmo vale para a relação entre Jordan e seus tampinhas chutadores nos tempos de Bulls. BJ Armstrong, Craig Hodges, Paxson, Kerr. Eles ganharam a cumplicidade do astro. Jordan matava, mas também servia.

A vantagem que o número 23 tinha? Jogar numa época sem Twitter, sem rede social, sem 2.0, nem nada disso que aumenta reverberação de qualquer opinião. Obviamente haveria muita gente a desgostar do legendário líder do Bulls. Mas as reclamações paravam na mesa do bar, na janela de casa. Para se alastrar, só se fossem incluídas numa seção de cartas das Sports Illustrateds da vida, ou no recado de algum ouvinte mais atrevido no programa de rádio. De resto, era o show de Jordan, mesmo, na telinha. Uma galera curtindo, admirada, a ponto de, durante o segundo tricampeonato, a agitação nas viagens do Bulls beirar o frenesi da beatlemania. Com LeBron, as coisas são um pouco diferentes. Ele é obviamente é popular. Mas ainda há muita gente perdendo tempo – e saliva –discutindo sobre o nada.


Em jogo fora das CNTP, Spurs abre 1 a 0 nas finais da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

leborn-caimbras

Foi um jogo que fugiu das condições normais de temperatura. A pressão é a mesma de sempre, aquela esperada para a abertura de um duelo de NBA.

O sistema de ar-condicionado do ginásio do Spurs simplesmente pifou, e a arena virou um caldeirão. E nem foi por causa da torcida fanática local. Segundo reportagem da ABC, o termômetro chegou a bater a marca 37ºC durante o quarto período, influenciando a partida muito mais do que qualquer instrução passada pelos treinadores durante o intervalo. Para quem assistia, incluindo os jogadores, o maior bafafa.

Num cenário desses, daria para apelar ao simplismo e dizer que aqueles mais bem preparados fisicamente levariam a melhor. O aficionado por academia e treinamento Ray Allen, por exemplo, nem ligava, correndo a quadra toda como se não houvesse amanhã. Com direito a enterrada em arrancada de um lado da quadra para o outro. Aos 38 anos, impressionaa consistência robótica do ala.

Mas aí o LeBron me passa mal pacas (de câimbras?) no período final e acaba com qualquer tese desse tipo. Sem contar o fato de que Shane Battier não caiu despedaçado em quadra e Boris Diaw nem derreteu.

Foi muito estranho ver um tanque de guerra como LBJ travar em quadra. Depois de dar um respiro no banco, já sentindo os efeitos do calor, e de um pedido de tempo, o superastro voltou para quadra com pouco mais de 7 minutos no cronômetro. Encarou Diaw, bateu pela direita e conseguiu a bandeja. Ao girar para voltar para a defesa, suas pernas de repente não estavam mais lá. O ala ficou petrificado, acusando as dores. Foi se arrastando até a linha do meio e parou por ali, na mesa dos estatísticos. Para chegar ao banco, precisou ser carregado por James Jones e um dos trainers. Bizarro, mas acontece – espero muito que não resgatem o papo de amarelão, e tal.

O Miami vencia por dois pontos, mas já permitia uma (re)aproximação dos anfitriões. Sem LeBron, a vida de Dwyane Wade no ataque já não foi a moleza de sempre. Os chutes livres para Bosh/Lewis/Allen sumiram do mapa. Coincidência, ou não, os turnovers do Spurs também pararam de acontecer. Ajuda bastante não ter um sujeito de 2,05 m zanzando por aí, de braços abertos, com fome de bola. E sai uma vitória por 110 a 95 que não conta em nada o que foi a partida – cuja última parcial foi 36 a 17.

Uma partida que, no fim, não vai indicar muito para os técnicos na sequência da série, dados os fatores extraordinários. Da parte dos grandalhões do Spurs, deu para ver algo interessante: como é imperativo que eles tenham paciência para atacar o aro.

Tim Duncan usou muito desse expediente no primeiro tempo, enquanto no segundo foi a vez de Tiago Splitter. Embora os dois tenham somado absurdos nove desperdícios de ataque, em geral eles foram bem quando acionados mais próximos do aro. Faziam a recepção e em vez de partir feito vaca louca para a cesta. Esperavam. Por um mínimo instante que fosse, para ler qual a reação da defesa pilhada adversária. A ajuda vem de todos os lados, com múltiplos atletas partindo em direções opostas. Alguns podem atacar o pivô, outros já imaginam as possíveis linhas de passe e preparam o bote. Uma simples finta ou hesitação, porém, era o suficiente para limpar o raio de ação e sobrar uma bandeja livre ou por cima de um tampinha.

Duncan terminou, então, com 9-10 nos arremessos e 3-4 nos lances livres, para somar 21 pontos em 33 minutos. Splitter, que começou como titular ao lado do legendário companheiro, teve 5-6 e 4-5, respectivamente, chegando a 14 pontos em 23 minutos. Uma linha estatística excelente para o catarinense, que tanto sofreu contra o time da Flórida no ano passado. Na defesa, será complicado rodar constantemente atrás de Lewis e Chris Bosh, mas, da sua parte, a conta hoje foi favorável. Ainda assim, é mais provável que Diaw ganhe mais minutos, mesmo (33 minutos para alguém que anotou apenas dois pontos, mas influenciou o jogo com muito empenho nos rebotes e sua extraordinária visão de jogo, com seis assistências). Com o ala-pivô francês emparelhado com Manu Ginóbili (16 pontos, 11 assistências, 5 rebotes, 3 roubos de bola e N flashes de brilho em 32 minutos, a equipe ganha muito em versatilidade e dinamismo.

Não pode passar despercebido: Tony Parker se movimentou bem na primeira partida, sem mostrar muito incômodo com o tornozelo esquerdo fragilizado. Ele terminou com 19 pontos, 8 assistências, 4 turnovers e 8-15 nos arremessos

Não pode passar despercebido: Tony Parker se movimentou bem na primeira partida, sem mostrar muito incômodo com o tornozelo esquerdo fragilizado. Ele terminou com 19 pontos, 8 assistências, 4 turnovers e 8-15 nos arremessos. Olho nele. Qualquer escorregão pode ser uma catástrofe para o Spurs

No geral, o time da casa foi bem superior neste jogo interior. Em pontos no garrafão, levaram a melhor por 48 a 36, mas também bateram 11 lances livres a mais. Combine isso com o elevadíssimo aproveitamento nas bombas de três pontos – 13 acertos em 25 tentativas, com quatro jogadores acertando mais de 50% do que chutaram –, e temos um desempenho ofensivo ideal, certo?

Até que daria para dizer isso, não fossem os 22 turnovers cometidos no geral. Tem time que está cheio de jogadores firuleiros, que adoram jogar num mano a mano de pelada de parque. O Spurs, todavia, pode exagerar em sua troca de passes, tentando criar assistências que simplesmente não estão ali, tentando enxergar mais do que devem. Parece estranho escrever isso, né? Que o time passa demais.  Mas é o caso por vezes com o time texano, e algo que é muito perigoso contra um time tão ágil no perímetro. Por outro lado, não foi só na “busca pela perfeição e pela luz” que eles erraram. Vários atletas também erraram passes simples – mas quicados – para os pivôs, mal pensados e executados.

Foram 21 turnovers até 7min31s do quarto período, 22 no geral, sendo 20 em três quartos, se não me engano. Muito mais que os 14,1 por jogo na temporada regular – e mais também que os 15,6 que o Miami costuma forçar. Dos titulares, quatro cometeram pelo menos quatro desperdícios cada, um absurdo. Danny Green foi o único que se salvou neste quinteto, cometendo apenas uma violação. Também pudera: por 41 minutos de jogo, ele estava completamente anulado em quadra. Até que fez a primeira cesta de longe e desembestou daquele jeito. Streaky é pouco.

A vontade era gastar um monte de trocadilhos. Afinal, é piada pronta quando o Miami Heat sofre com o calor. Dava para dizer que os chutadores do Spurs também estavam com a mão pegando fogo. Que LeBron não tinha como congelar em quadra daquele jeito. Que o Gregg Popovich até que estava com a cuca fresca numa sauna daquelas. Etc. Etc. Etc. Waka, waka, waka. Mas, com o relógio batendo 1h14 da matina aqui na base do 21 na Vila Guarani, a infâmia não tem vez. O negócio é arrumar o edredom, esticar a perna e dormir. Quentinho, quentinho da silva.

Tomara que eles paguem as contas! NBA, onde o calor acontece

Tomara que eles paguem as contas! NBA, onde o calor acontece

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.