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Arquivo : LeBron

Ainda em busca de paz, Cavs perde e agora é pressionado até pelo Raptors
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Giancarlo Giampietro

LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

Respira fundo: LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

O Cleveland Cavaliers é um time que desafia qualquer observador. O time ainda tem a melhor campanha do Leste e a terceira melhor no geral. Com Tyronn Lue, ainda que numa amostra menor de jogos em relação a David Blatt, o ataque se tornou um do mais eficientes da liga (superando o Golden State por um triz) e elevou seu saldo de pontos também, espancando rivais como San Antonio e Oklahoma City pelo caminho.

Ainda assim, basta uma derrota para o clima no vestiário se anuviar. Depois de tomada uma virada no quarto período contra um Toronto Raptors cujo principal cestinha não tinha condições de jogo, recomeçou o jogo da culpa, das críticas internas, liderado por Lebron James.

Assim como no caso da surra que tomaram do Warriors em casa, o raciocínio tem de ser mantido: foi só mais um jogo num calendário de 82 rodadas. Por mais que, do ponto de vista prático, fosse um jogo realmente mais importante que a revanche contra Golden State, já que agora o adversário canadense não só se aproxima na tabela (com apenas duas derrotas a mais) como assegurou o triunfo por 2 a 1 no confronto direto e garante o direito do desempate na classificação, se for o caso. Basicamente: o Cavs, que corre atrás do próprio rabo para tentar se equiparar a Warriors e Spurs, sofre mais pressão, agora de que vem de baixo, o Raptors.

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Mas, bem, desde o momento em que o Rei James anunciou seu retorno, pressão seria a via de regra. O que a derrota em Toronto nos conta é justamente sobre a questão de como o elenco reage a isso.  E não parece bem. O Cavs perde uma, e parece que a equipe está se desequilibrando diante de um precipício. Não era para ser assim. Derrotas acontecem, especialmente contra adversários qualificados – excluindo o Golden State aqui, que prefere perder para times medíocres.

Vamos ver o relato do repórter Dave McNemanin, setorista do ESPN.com, num texto cuja manchete é “Cavs sofre déjà vu em derrota, com os mesmos problemas reparecendo“:

Nós não acabamos de passar por aqui? Não parece que foram há apenas alguns dias, e, não, semanas, que o Cleveland Cavaliers trotou rumo a Toronto, com um céu ensolarado supostamente no horizonte, vencedores de 11 dos últimos 13 jogos, até que o Raptors fizesse chover em seu desfile, deixando o vestiário em desordem após a partida?

Avancemos a fita três meses, e o Cavs voltou ao Air Canada Centre na sexta-feira, vencedores de 11 de seus 14 jogos anteriores. E o resultado? O mesmo. A cena pós-jogo? Semelhante. Não houve uma reunião só de jogadores como da última vez, mas houve um aspecto semelhante com diversos jogadores reunidos em pequenos grupos para longas conversas como vestiário aberto para a mídia, e eles lamentando o que deu de errado, enquanto seus comentários gravados foram concisos, mas reveladores.

E aí tem essa aspa de LeBron, numa entrevista que, segundo Chris Haynes, do Cleveland Plain Dealer, durou pouco mais de um minuto: “Quando perdemos do jeito que foi, cometendo um erro mental atrás do outro, isso dói mais que tudo, já que sabemos que podemos jogar melhor mentalmente. As pessoas podem se concentrar no aspecto físico. Mas nos falta força mental agora. E temos de continuar melhorando com isso”.

Você pode ler a frase acima como uma observação honesta, depois do que aconteceu em quadra. O Cavs chegou ao quarto período com nove pontos de vantagem e, sem que LeBron tenha sentado sequer por um minuto em todo o segundo tempo, foram superados por 99 a 97, com uma exibição magnífica de Kyle Lowry – 43 pontos, seu recorde pessoal, 9 assistências, 15-20 nos arremessos, 11-15 nos lances livres, em 43 minutos. Por uma noite, entre a elite do Leste, Lowry foi o melhor jogador em quadra.

Mas aí vem outra: “É isso que os All-Stars fazem”, elogiando Lowry, titular no jogo festivo de alguns dias atrás, o mesmo que não teve Kyrie Irving, curiosamente. E não nos esqueçamos que houve uma polêmica a respeito de uma possível seleção de Irving. Para alguém que, lesionado, havia perdido metade do calendário, obviamente não caberia na festa. Mas o voto popular quase o colocou lá. Virou assunto. E esta: “Pensando adiante, vamos ter de encontrar alguém que seja capaz de marcá-lo”, num comentário que atinge também um leal soldado como Matthew Dellavedova, que tomou um baile do cestinha da partida no quarto período. Coincidentemente, foi a mesma frase usada por Lue em sua coletiva.

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

Se você pega os comentários de LeBron e os analisa no vácuo, como se o Cavs tivesse disputado apenas um jogo nesta temporada, não há o que contestar. Ele listou fatos. Usou pouco mais de 60 segundos para mandar sua mensagem aos companheiros. Além disso, pressupõe-se que o ala deva conduzir  time, mesmo. É ele que tem a fama, a visão de jogo e, principalmente, a experiência de anos e anos de playoffs e jogos decisivos para se impor no vestiário e tentar arrumar as coisas. Love, Irving e toda a galera deveriam escutá-lo, sem dúvida.

Existe sempre o outro lado da história, porém. Que nos diz que LeBron também não pode querer liderar só com base em seu currículo, se não for ele a dar exemplo em quadra – uma discussão que, pasme, já vem do ano passado e ainda não foi resolvida internamente, como Kevin Love fez questão de nos lembrar na derrota para o Warriors. Neste jogo específico em Toronto, ele ficou em quadra durante todos os 24 minutos do segundo tempo, por sinal (e se isso foi uma decisão inteligente por parte de Tyronn Lue e do craque, é de se questionar, faltando perna para o último arremessos, sobre o qual falaremos mais abaixo). Mas não é que o craque tenha se esforçado muito e se ralado durante a temporada. São vários os jogos em que ele esculachou geral na defesa sob o comando de David Blatt, minando o treinador e também preservando energias para a hora que mais importa, os playoffs. Para alguém com sua milhagem, é natural, aliás. James Harden não acumulou nem a metade disso, e faz igual ou pior. Para o elenco, por maior que seja sua estatura, suponho que isso não pegue bem e não dá total liberdade para que ele critique os demais, com comentários sucintos ou não.

Além disso, se LeBron vai reclamar do surto de fome por que passa Irving, se vai tentar chacoalhar Love e tirá-lo da depressão, também deve ouvir que seu aproveitamento nos arremessos de média para longa distância deixam muito a desejar até o momento, com aproveitamento de 28,0% na temporada, o pior de sua carreira (quando novato, aos 19 anos, acertou 29,0%) e que, mesmo assim, foi para um hero ball contra o Raptors. É algo um tanto bizarro, já que despencou dos 35,4% da temporada passada e dos 40,6%% que atingiu há três temporadas, pelo Miami, seu auge no fundamento. Se o astro folga na defesa e se sua taxa de uso no ataque está levemente reduzida até, em tese não haveria motivo para sentir a perna e amassar o aro nos chutes de fora:

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade)

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade). Em termos de percentual no total de arremessos, ao menos LeBron baixou seu volume de tentativas de fora, de 26,5% para 20,4%, segundo o Basketball Refrence reconhecendo sua dificuldade. A taxa de lances livres em relação ao número de arremessos, porém, também, caiu, de 41,3% para 35,8%

Aqui chega a hora de recuperarmos a última bola da derrota em Toronto. Com dois pontos atrás no placar e 3s8 no relógio, qual a jogada sai no final?

Um chute de três de LeBron a partir do drible, em isolamento? Era a melhor alternativa para alguém que não descansou no segundo tempo? A matemática da temporada diz que não era uma boa decisão, mesmo que ele tivesse matado duas em três na partida e tenha sobrado com o diminuto Cory Joseph e que o canadense nem o contestou tão bem assim. Que o camisa 23 ganhe a prioridade nesse tipo de situação, pelo arremesso da vitória, não dá para discutir muito. É assim que funciona por lá, é assim que funcionou a vida toda para Kobe em Los Angeles, e Kyrie Irving vinha numa jornada horrível (e, para ser justo, o armador também só tem matado 29,5% de seus arremessos de longe na temporada). Só havia tempo no cronômetro e dois pontos por reverter no placar para tentar outra alternativa.

Agora… com dois pedidos de tempo, essa foi a melhor idéia que Tyronn Lue teve? Então vale a zoeira: ao que parece, não era apenas David Blatt que tinha dificuldade para desenhar jogadas na rodinha… E, claro, meu amigo enfezado, que isso é uma ironia. Qualquer armador que tenha ficado mais de dez anos na liga sabe rabiscar uma prancheta, assim como qualquer técnico que tenha medalha olímpica e título de EuroBasket e Euroliga.

De qualquer  maneira, não é culpa de LeBron que o time tenha pedido em Toronto. Que ele e Lue não foram para a bola mais inteligente, não há o que negar, mas não foi o airball que custou a partida.  McNemanim lista outros itens, por exemplo:

– o aproveitamento de 5-9 de LeBron na linha de lance livre. Pois é: não é que o ala seja a perfeição em quadra e não faça parte dos problemas.

– Em 1min34s de jogo no quarto período, Shumpert fez duas faltas em Lowry e ainda tomou uma técnica por reclamação exagerada, em sequência que agitou a galera e o adversário.

– Kyrie Irving foi um horror, sem conseguir nem fazer cócegas em Lowry ou em Cory Joseph e sem agrediu do outro lado (4-11, 10 pontos), tomado por apatia. E segue a inquietação de James, e talvez mais atletas, de que ele seja egoísta demais com a bola, registrando apenas uma assistência em 31 minutos, para ficar com uma média de 3,2 passes para cesta nas últimas cinco partidas. Dê uma espiada neste link aqui também e veja alguns dados interessantes sobre as trocas de passe entre Irving e LeBron.

Acrescento outro:

– Formando uma dupla de pivôs com LeBron no quarto período, Kevin Love rendeu bem no ataque, chegando a marcar cinco pontos consecutivos nos minutos finais. Mas a defesa sentiu com essa formação, tomando cinco cestas no garrafão nesta parcial, sem contar as penetrações de Lowry que terminaram em falta. Qualquer jogadinha de pick-and-roll virava um tormento.

E, para não dizer que a visão de McMenamin estaria contaminada pelo fato de ele escrever para a “sensacionalista” e “manipuladora” ESPN, Chris Haynes, que é praticamente um porta-voz da agência Klutch, de Rick Paul e LeBron, disse que o astro estava “furioso”, enquanto  Jasson Lloyd, do Akron Beacon Journal, teve a mesma impressão  sobre o clima ruim no vestiário em suas notas sobre a noite de sexta-feira.

Lloyd também ressalta o esforço contraditório que LeBron tem feito em dizer que não se importa com a classificação da conferência, ao mesmo tempo que pede um senso de urgência aos seus companheiros. De acordo com o repórter, porém, Lue atribuiu desde o princípio extrema importância ao jogo, a ponto de manter seu principal atleta em quadra sem um respiro – dessa vez o ala pelo menos nos poupou do artifício da auto-substituição. Ele provou que está em forma, aí, sim, supostamente preparado para tomar conta da situação quando chegar aos playoffs.

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

Aliás, nos mata-matas do ano passado, LeBron foi ainda pior nos arremessos de fora, com 27,2%, mas isso não interferiu em nada na caminhada do Cavs rumo à disputa do título. Também não é o mais correto comparar com o rendimento da temporada regular com o da fase decisiva, por serem realidades completamente distintas. Os time fazem mais jogos contra adversários específicos, e, no caso do Cas, um deles foi o Golden State (seis de suas 20 partidas), o que desequilibra os números.  Outra particularidade: Kevin Love e Kyrie Irving ficaram pelo caminho numa fase em que as defesas estão mais atentas.

De todo modo, como sabemos, não é um duelo de primeira rodada com um Charlotte da vida ou mesmo um reencontro com Indiana ou Miami na segunda rodada que devem preocupar o time, tal como no ano passado. Em teoria, é como se entrassem nos mata-matas apenas com duas séries pela frente, com a final de conferência e a decisão do Oeste, caso avancem. (No ano passado, a diferença é que o teste veio na semi contra o Bulls, uma vez que o Atlanta ficou ainda mais esfacelado em termos de lesões).  Mais: é improvável que o Cavs adote a tática de “entregue-a-bola-para-LeBron-e-saia-da-frente-enquanto-ele-consome-o-relógio”, se a equipe estiver completa. Aquele ataque foi circunstancial, com o ala sendo acionado já dentro do perímetro, abrindo pouco para o chute. Contra defesas mais fortes, esse tiro de fora faz falta, ainda mais para alguém que retém tanto tempo a bola, e principalmente se Irving não reencontrar um rumo na vida. Se chegarem aos playoffs apenas com J.R. e Love com válvulas de escape, podem esquecer.

A confiança que o torcedor ferrenho do Cavs tem é a de que, na hora do vamos ver, LeBron vai ativar o turbo e dominar, com seu arranque de locomotiva rumo ao aro. Aconteceu no ano passado – e, sim, ele fez tudo o que pôde, vendo seu índice de eficiência despencar, mas simplesmente porque o Cavs não tinha mais nenhuma alternativa em quadra. E, como sabemos, não foi o suficiente: chegou uma hora em que o gás acabou, que ele se viu encurralado diante de um paredão do Warriors no garrafão e que Stephen Curry entendeu o que fazer diante de uma defesa agressiva, mas limitada atlética e tecnicamente, devido ao número reduzido de peças.

São 15 jogos, com 11 vitórias, mas ainda está cedo para Lue dizer a que veio

São 15 jogos, com 11 vitórias: ainda está cedo para Lue dizer a que veio

Ah, mas você mesmo já falou: Irving e Love se lesionaram, e Varejão não estava pronto para retornar. Ah, mas agora o time tem um técnico que respeitam. Ah, e a despeito da idade, LeBron diz que se sente dez vezes melhor nesta temporada do que na campanha passada, quando estava com as costas travadas, o joelho doendo e a cuca frustrada com Blatt, até mesmo tirando férias no meio do campeonato.

Sim, sim, tudo isso conta e está em jogo. Com Tyronn Lue, desde o dia 25 de janeiro,  em seus últimos 15 jogos, o time realmente teve o melhor ataque da liga, num empate técnico com o Thunder e o… Warriors, sempre ele. Por mais que a defesa tenha caído bastante (ficando em 14º, oras), o Cavs ainda aumentou seu saldo de pontos nesse período. Está cedo, de todo modo, para comparar os números com os de Blatt. Guardemos esses dados para abril.

Agora percebam o seguinte: escrever um texto sobre o Cleveland Cavaliers sem um advérbio de adversidade (mas, porém, contudo, no entanto, todavia…) é uma tarefa impossível. Acredite: fico me esforçando aqui para não repetir a fórmula, sem sucesso. Desafio os melhores escribas a esta empreitada. Estamos tratando de um time muuuuuito complexo, que escancara diversas das questões e miudezas da NBA que vão além da cobertura de pick-and-roll ou de movimentação ofensiva. “O que é de deixar maluco é que você vê este time destroçar o Thunder, na estrada, numa noite e, na outra, o vê sendo derrotado pelo Pistons em casa, para não falar de largas lideranças cedidas em derrotas para o Celtics e, agora, o Raptors”, escreve Llloyd.

David Blatt já foi demitido, e entre tantas razões, consta por aí que gerente geral David Griffin queria justamente tirar de cena aquele que seria o álibi perfeito para os jogadores numa eventual queda nos playoffs. Kevin Love está mais animado, energizado, participativo. Kyrie Irving e Iman Shumpert estão saudáveis, ou pelo menos é o que se informa oficialmente. Até o J.R. Smith anda minimizando suas cabeçadas (apenas 0,8 em turnovers) e matando tudo de fora (46%) em fevereiro.

Os elementos estão aí, o time vai crescendo e, ainda assim, pelas declarações de LeBron e pelo sentimento geral dos repórteres presentes no Air Canada Centre, ainda perdura algo de estranho no ar.  É tudo ou nada para o Cavs, e depois de 139 partidas de temporada regular e de uma disputa das finais com LeBron, a 25 partidas do fim da campanha 2015-16, seus jogadores ainda não se acostumaram com isso e nem se apaziguaram.


Os melhores da (metade) da temporada: Conferência Leste
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Giancarlo Giampietro

Escrever uma artigo sobre prêmios de uma temporada qualquer da NBA pode ser um exercício de futilidade, certo? Por outro lado, dá ao blog, inativo por tanto tempo, a chance de recuperar o tempo perdido e abordar um ou outro protagonista da temporada. Então vamos roubar um pouco e dividir essa avaliação toda em duas listas, para cada conferência. Desta forma, ganhamos espaço para falar mais. E, claro, deixa a vida mais fácil na hora de fazer as escolhas:

Melhor jogador: LeBron James

LeBron não está jogando tudo o que pode. Mas ainda reina no Leste

LeBron não está jogando tudo o que pode. Mas ainda reina no Leste

Os acontecimentos recentes de Cleveland quase sugerem que essa escolha aqui deveria ser invalidada. Mas, em termos de bola, por mais que ele tenha relaxado em diversos jogos, desencanando da defesa, em termos de produtividade, ainda não há ninguém no Leste que possa com o dono do Cavaliers, mesmo que ele não esteja sendo tão efetivo como nos tempos de Miami Heat, claramente o auge de sua carreira. Também não importa ainda que ele tenha amassado o aro em suas tentativas de longa distância em novembro e dezembro – em janeiro, o aproveitamento já subiu para 37,3%, que é o mínimo que ele precisa fazer para pressionar as defesas. Com ele em quadra, o Cavs vence seus adversários por 11,3 pontos a cada 100 posses de bola. Sem ele, a equipe tem saldo negativo de 7,7 pontos. Dá um saldo de 19,0 a seu favor, o que é uma diferença absurda para uma equipe que conta com a folha salarial mais cara, e de longe, da liga.
Outros candidatos? Hã… ninguém. Talvez fosse legal falar aqui sobre Paul Millsap, subestimado a carreira toda até receber uma proposta generosa do Orlando Magic durante as férias e que segue hiperprodutivo, fazendo de tudo um pouco para elevar o Atlanta. Paul George começou a temporada numa arrancada sensacional, mas perdeu rendimento despencar de dezembro para cá, chutando abaixo dos 40% e, hoje, se fosse para votar, ficaria atrás também de Kyle Lowry, para mim.

Melhor técnico: Frank Vogel

Vogel tem Paul George e não muito mais que isso

Vogel tem Paul George e não muito mais que isso

O Leste oferece várias opções. David Blatt vai dirigir a seleção do Leste no All-Star e vem fazendo um bom trabalho, mas com o melhor elenco da conferência, de longe. Acho que chegou a hora de Vogel ser aclamado. Que ele tenha perdido Roy Hibbert e David West e mantido o time entre as defesas mais eficientes da liga, é um feito, e tanto. Estão atrás apenas de San Antonio e  praticamente num empate técnico com o Golden State e Boston em segundo, com a ajuda de Ian Mahinmi e Lavoy Allen, que ainda compõem uma dupla de pivôs contra adversários de garrafão mais pesado, pedindo licença ao conceito de small ball que Larry Bird queria por em prática.

O sistema ofensivo, porém, ainda está, de certo modo, emperrado, sendo o 19º mais eficiente da liga – o que, ainda assim, já é um avanço em relação aos últimos dois campeonatos, em que falhou em ficar até mesmo entre os 20 primeiros. Ajudaria se Monta Ellis pudesse jogar um pouquinho mais. Sua contratação foi um fiasco até o momento. Com médias de 43,1% nos arremessos e 27,1% de três, 2,7 turnovers e apenas 2,5 lances livres por jogo, ele faz sua pior temporada desde o ano de novato. O Pacers precisa de uma evolução nesse sentido para se distanciar da concorrência na briga por uma vaga nos playoffs, com a chance de ter mando de quadra – seu saldo de 3,1 pontos por jogo, o terceiro melhor da conferência, abaixo de Cavs e Raptors, já é promissor.

Basicamente, então: Vogel viu muitas trocas no elenco, está mudando o modo como time joga, passando de 19º para o 5º time que mais corre na NBA (!!!) e não perdeu muito em pegada defensiva. Tem um elenco limitado e está tirando muito dele.

Outros candidatos? Stan Van Gundy (repetindo a fórmula de sucesso em Orlando), Dwane Casey (o Raptors deu mais um salto neste ano, mesmo que DeMarre Carroll ainda não tenha contribuído tanto), Scott Skiles (mais aqui) e Steve Clifford (sabotado pela lesão de três titulares).

Melhor defensor: Hassan Whiteside

Assusta

Assusta

Olha… Para quem não estiver tão por dentro assim do que prega a intelligentsia do NBA Twitter, há uma campanha expansiva contra o pivô-surpresa do Miami Heat, alegando basicamente que ele é uma fraude. Campanha que foi reforçada, de maneira nada sutil, pelo ala Evan Fournier, do Orlando Magic. (Segue um resumo: dia desses, Rudy Gobert basicamente manifestou sua frustração sobre a ideia de que os números dizem tudo sobre um jogador de basquete, que não é bem assim e de que há jogadores que caçam estatísticas em quadra. Aí o Nikola Vucevic o interpelou e pediu para que ele citasse nomes, ué. E aí Fournier, amigo de Gobert desde as competições de base e parceiro de Vucevic na Flórida, se intrometeu e achou que estava sendo sutil ao escrever: “Blancoté? Risos”, que, em francês, se tratava de um diretaço em relação ao pivô do Heat. É o tipo de zum-zum-zum que faz da NBA esse universo incrível.)

O principal argumento dessa turma toda é o de que, por mais tocos e rebotes que Whiteside compute, o Miami seria um time pior com ele em quadra. Será? Friamente, existe um número que mostra que o Miami, com ele em quadra, sofre 3,5 pontos a menos por 100 posses de bola quando o pirulão está no banco.  Agora, o que essa conta não indica é que Whiteside está quase sempre em quadra acompanhado por um certo Dwyane Wade (seu companheiro em oito dos dez quintetos que ele já compôs no ano). O astro ainda carrega o piano ofensivamente – mesmo que alienando Goran Dragic no processo –, mas que está hoje entre os marcadores mais ineficazes da liga. Não estou dizendo que Wade afunda o Miami por conta própria. Só não parece justo que tratem Whiteside, líder em tocos na temporada e com uma bagagem de infantilidade, exatamente desta forma.

O índice de “Real Plus-Minus” do ESPN.com,  o coloca como o jogador de número 375, com saldo de -2,05.  O que diabos é o RPM? É uma ferramenta analítica, desenvolvida por Jeremias Engelmann e Steve Ilardi, que faz uma estimativa sobre o impacto de um jogador no desempenho da equipe e é medido em saldo de pontos por 100 posses, levando em conta quem está em quadra tanto ao seu lado como do outro. Não são números exatos, mas servem como um bom indício. Nomes como Tim Duncan, Draymond Green, Andrew Bogut, Kawhi Leonard e Kevin Garnett aparecem entre os dez primeiros colocados nesta temporada, para constar.

Nesta mesma medição, Whiteside está em em 10º, e creio que seus 4,8 tocos por 36 minutos ajudem para tanto – intimidam e o colocam entre os melhores da liga de quase todas as medições de proteção de aro. Em sua conferência, Ian Mahinmi (5º), Andre Drummond (8º) e Pau Gasol (9º) estão acima. Mahinmi é uma grata surpresa pelo Indiana, mas fica ainda menos minutos em quadra (23,8). Em Miami, Whiteside joga por 28,9. O que, para mim, é um mistério. Estaria Spoelstra, com um cochicho de Riley, procurando controlar a produção do pivô que vai virar agente livre? Talvez seja muita conspiração aqui. Talvez ele seja muito indisciplinado, mesmo, e, ao contrário do que acontece com Stan Van Gundy e Drummond em Detroit, Spoelstra acredita ter alternativas para tornar seu time mais produtivo sem um pivô de números . Só é difícil entender, já que Amar’e Stoudemire, Chris Andersen e Udonis Haslem não são mais solução para nada e Josh McRoberts está quebrado. Com Justise Winslow e Gerald Green, as formações de smallball são bem-vindas. Ao redor de um pivô tão atlético, têm potencial para render ainda mais.
Outros candidatos? O próprio Winslow, Nerlens Noel e Bismack Biyombo, que está jogando muito em Toronto.

Melhor novato: Kristaps Porzingis

Nasce uma estrela

Nasce uma estrela

O letão mais popular em Nova York. O letão mais popular no mundo, na verdade, com todo o respeito a Ernests Gulbis. A quarta camisa mais vendida da NBA. Um rapaz carismático e que não fica só nisso. Proporciona os highlights e também substância ao Knicks, dando um refresco para Carmelo Anthony e oferecendo esperança de verdade a sua torcida. O que mais impressiona no pivô é sua agilidade, coordenação e talento em geral para alguém tão comprido, que contribui dos dois lados da quadra. Por outro lado, é de se admirar a maturidade e graça com as quais vem lidando com tanto burburinho e atenção que vem recebendo. Que história. Qualquer scout que tenha cravado para seu gerente geral que Porzingis seria uma estrela na liga deve estar se sentindo muito bem agora.

O garotinho aqui chorou muito quando ouviu o nome de Porzingis pela primeira vez:

Mas agora esse mesmo pirralho deve saber até este rap de cor:


Outros candidatos? Jahlil Okafor, um jogador de fundamentos ofensivos de fato impressionantes para alguém de sua idade e que, enfim, vem conseguindo evitar as páginas do TMZ, e Winslow, que é a antítese de seu companheiro de Duke: faz muito na defesa, mas ainda tem um longo caminho pela frente para se tornar alguém respeitado no ataque. Não dá tempo de Myles Turner entrar nesse papo.

Jogador que mais evoluiu: esse faz mais sentido esperarmos até o final da temporada, né? Mahinmi (ele de novo!), Kemba Walker, os bockers Derrick Williams e Lance Thomas e Kent Bazemore despontam como candidatos.

Melhor executivo: a mesma coisa. Masai Ujiri, Stan Van Gundy e Phil Jackson poderiam levantar a mão por ora.

All-Star: Kyle Lowry, Jimmy Butler, Paul George, LeBron James e Chris Bosh. Mais… John Wall, Kemba Walker, DeMar DeRozan, Jae Crowder, Carmelo Anthony, Pau Gasol e Andre Drummond.
(Aos fãs de Isaiah Thomas, Brook Lopez, Al Horford, Kevin Love: desculpe)


Polêmica demissão de Blatt só aumenta a pressão em cima de LeBron e Cavs
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Giancarlo Giampietro

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Silas, Malone, Brown e, agora, Blatt: todos caíram no Cavs de LeBron

A temporada era 1981-83, e o Los Angeles Lakers havia vencido sete de seus 11 primeiros jogos, elevando seu recorde pessoal para 111 triunfos contra 50 derrotas, com direito a um título. Em quadra e no vestiário, porém, não havia alegria nenhuma. O elenco liderado por Kareem Abdul-Jabbar estava se arrastando num ritmo modorrento, entediado e frustrado com o pulso rígido do técnico Paul Westhead. Nada de showtime.

Em sua terceira campanha pela liga, já considerado uma estrela, Earvin “Magic” Johnson veio, então, a público num belo dia para dizer que não aguentava mais o professor, e que para ele já havia dado: queria que o clube californiano o trocasse. (E imaginem se tivesse sido atendido?)

Coincidentemente, no mesmo dia, o proprietário Jerry Buss anunciou que a era Westhead havia chegado ao fim. Difícil não associar a decisão ao ultimato do armador, por mais que o célebre e falecido proprietário negasse. “A ironia é que eu já havia decidido demiti-lo, e o Magic acabou dando azar de ter falado aquilo. Mas não acho que ninguém vai acreditar nisso”, afirmou.

E quem assumiria o cargo? Seu principal assistente, um certo Pat Riley.

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Tudo isso para dizer que LeBron James não foi o primeiro craque a fritar seu treinador, nem será o último. Isso é rotineiro na NBA. Mas, que suas ações levaram à queda do treinador, acho que não há o que se discutir, por mais que ele e o gerente geral David Griffin digam o contrário, e que alguns veículos de mídia americanos façam coro a eles, tentando amenizar o impacto causado pela demissão de um cara que venceu a Conferência Leste no ano passado, a despeito de tantas lesões relevantes e da chegada de novas peças durante a jornada. O mesmo cara que novamente superou alguns desfalques na primeira metade desta temporada, liderando a terceira melhor campanha da liga, com o time aparecendo na lista dos sete ataques e defesas mais eficientes. O tipo de currículo que torna a decisão da franquia um tanto chocante, por mais que, em Cleveland, muitos já estivessem preparados para tal desfecho.

Apurar se LeBron foi, ou não, informado sobre a demissão desta sexta-feira, aliás, é perda de tempo das mais tolas. Não havia razão para Griffin consultar o astro – ele já sabia qual seria a resposta. A má vontade de LeBron para com Blatt está foi muito bem documentada, de modo que esse tremendo esforço de última hora limpar sua barra soa inútil.

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Aliás, segundo relatos dessa mesma campanha de blindagem, LeBron desde o princípio se mostrou muito pouco receptivo ao treinador, sem o acolher ou ajudar em sua adaptação ao clube e uma nova liga. Pelo contrário. Frases como “Blatt nunca teve chance” também foram escritas a esmo nessas últimas 24 horas. Adrian Wojnarowski publica que o jogador e seu agente/sócio, Rich Paul, queriam a contratação de Mark Jackson. A diretoria disse que seria impossível. E aí que Tyronn Lue virou a solução para dupla. Tudo, menos Blatt.

O que tem sido dito, porém, é que o descontentamento com Blatt não se limitava ao camisa 23.  Tudo leva a crer que, sim, o técnico estava com o filme queimado – com quantos e quem, exatamente, é o que não vamos saber. Agora, só não dá para negar que a postura de LeBron obviamente exerceu forte influência para tanto. Se um cara de sua estatura não é receptivo, fica muito mais fácil para os demais peitarem o técnico. Natural até.

Não que o treinador tenha sido mera vítima e que não tenha contribuído para o motim com algumas atitudes um pouco tolas. Como, na ocasião de sua primeira vitória pelo Cavs, quando mal comemorou com os atletas, estragando a festa deles, dizendo que, caras, tipo, já tinha centenas de triunfos em seu currículo. Ok, ele é realmente um dos profissionais mais vencedores da modalidade, mas, para todos efeitos, para o mundo da NBA, ainda era um calouro. A intenção dos jogadores não era de provocá-lo ou ofendê-lo, nesse caso. Quanta simpatia, né?

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Anderson Varejão foi um dos que teve de lidar com a insensibilidade do técnico, segundo o “ESPN.com”. Recuperando-se de uma lesão no tendão de Aquiles, o brasileiro estava disposto a retornar ao time para a série final contra o Golden State Warriors. A diretoria achou que não era o caso. A decisão estava tomada. Quando questionado em uma coletiva, todavia, Blatt não disse que sim, nem  que não, mexendo com os ânimos de todos.

Outro ponto que causava bastante incômodo seria a condescendência de Blatt com LeBron, Kyrie Irving ou Kevin Love, protegendo as celebridades em coletivos e sessões de análise de vídeo. Os mimos aos astros não pegavam bem com o restante do elenco: seria traços de covardia e injustiça por parte do treinador. O agora promovido Tyronn Lue, dizem, se via obrigado a interferir e cobrar as estrelas, na tentativa de apaziguar os ânimos. Mas a relação já estava estremecida demais, algo que Griffin, em seu duro discurso nesta sexta-feira, deixou claro.

“Eu vi os jogadores interagindo entre eles por um longo tempo, em diversas circunstâncias. Sei quando uma coisa não está certa, e acho que tomei a decisão correta. Vou ao vestiário muitas vezes. Falta espírito ali. Nossa campanha de 30-11 foi com uma tabela relativamente fácil. Faltava conectividade do técnico com o time. Falta identidade ao time, que deu dois passos para a frente e um para trás. Quando temos clareza no que queremos como franquia, essas decisões acabam sendo tomadas por conta própria. Não vou deixar um time que tem uma folha salarial sem precedentes  à deriva”, afirmou.

Precisa de ajuda? "Não".

Precisa de ajuda? “Não”.

A inexperiência de Blatt em particularidades da liga também teria chamado a atenção de alguns veteranos, como quando pediu tempo no finalzinho do quarto jogo da série contra o Bulls nos playoffs do ano passado e, por sorte, foi ignorado pela arbitragem. O Cavs já havia esgotado sua cota e, caso percebida, a ação do treinador teria resultado em uma falta técnica. A chance era grande, então, que Chicago abrisse uma vantagem de 3 a 1. Esse tipo de falha teria acontecido seguidas vezes, gerando mais desconfiança no elenco.

O que não dá para acreditar, porém, é que David Blatt fosse um tremendo de um incompetente e que todo o sucesso do time se explicasse pelo talento de LeBron. Nessa campanha de difamação de um e proteção do outro, chegou-se ao cúmulo de fontes anônimas dizerem que o técnico simplesmente não sabia desenhar jogadas na prancheta durante pedidos de tempo. Em entrevista à rádio “Sirius XM”, o pivô Brendan Haywood, reservão do time no campeonato passado e agora aposentado, se sentindo livre para falar o que bem entender, confirmou esse problema. Disse também que o comandante não entendia os padrões de substituição da liga e que cometia “erros óbvios”. Hã… Sinceramente, dá para acreditar nessa? Estamos realmente falando do mesmo técnico cujo Maccabi Tel Aviv ganhou, em 2015, de CSKA Moscou e Real Madrid com um elenco absolutamente inferior? O mesmo que levou a Rússia o bronze olímpico em Londres 2012, derrotando a fraquinha e inexperiente Argentina na disputa pelo terceiro lugar? Enfim…

Até mesmo quando tentam defender Blatt,  seus críticos o tratam com desrespeito. Dizem que Blatt não foi contratado, a princípio, para conduzir um elenco pesado como este, que o título não estava em pauta, antes de saberem que LeBron queria, mesmo, voltar. É um fato, mas esse pensamento já manifesta uma condescendência que beira o ridículo. Algo como: “Coitadinho, não era para ele”. Falando isso de um técnico que ficou a duas vitórias do título em sua primeira campanha pela liga. Ele teve muitos acertos como estrategista. Por mais exuberante que tenha sido LeBron, ele realmente fez tudo sozinho? E o que dizer da boa campanha atual, a despeito da ausência de Irving e Iman Shumpert no início? Seu único tropeço mais custoso foi não ter integrado Love de um modo mais orgânico ao sistema ofensivo – agora, o quanto se pode julgá-lo por isso é uma questão: afinal, se era LeBron quem estava no comando… Não seria tarefa dele? Não dá para dizer que tudo de positivo do plano tático e técnico passa pelo jogador, enquanto a Blatt sobrariam apenas as críticas.

David Griffin chamou a responsabilidade

David Griffin chamou a responsabilidade

Em sua coletiva, Griffin não questionou de modo algum o conhecimento de jogo do demitido. Não há como – a sacolada que a equipe tomou do Warriors na segunda-feira não foi, diz, decisiva para sua decisão. E nem deveria ser: em confrontos anteriores com Golden State e San Antonio, as derrotas foram, respectivamente, por seis e quatro pontos. Não foi a bola que derrubou Blatt. No entanto, a política no vestiário é parte integral da profissão, tão ou mais importante que o riscado, ainda mais numa liga como a NBA, cujos atletas são paparicados desde sempre. Faltou mais jogo de cintura, tato e carisma para Blatt. Características que, ao que parece, sobram para Tyronn Lue.

O baixotinho que levou um baile de Allen Iverson nas finais de 2001, mas que teria longa carreira, agora é, aos 38 anos, o técnico mais jovem da liga. Respeitado no vestiário, constantemente elogiado até mesmo por Blatt, que teria dado a ele o crédito pela fortíssima defesa que o time apresentou nos playoffs de 2015. Uma generosidade que, neste sábado, não foi correspondida por seu antigo subordinado. Repórteres lhe perguntaram o que ele faria de diferente agora que está no comando. Respondeu que diferente não era o termo que ele usaria, mas, sim, que faria “melhor”. Muito elegante o sujeito que, para constar, na reportagem de Wojnarowski, foi retratado como um fiel assistente, que teria feito de tudo para defender Blatt diante do assédio de LeBron e Paul.

Lue pode ser jovem, mas, em termos de NBA, é muito mais calejado que o antecessor. Sabe muito bem o que está em jogo. Que, para o Cavs, é título, ou nada. Título, ou fiasco, e a pressão só aumenta com a demissão de um treinador com aproveitamento de 67,5% (83 vitórias e 40 derrotas) no total e que contava, aparentemente, com apoio da torcida do Cavs. Sabe provavelmente também que será o quinto treinador do time em nove temporadas com LeBron. É um clube de gestão instável, no mínimo – não dá para deixar o proprietário Dan Gilbert distante dessa confusão toda. O chefão, por sinal, era o principal defensor de Blatt e teve de ser convencido por Griffin que a demissão era a melhor solução na tentativa de desbancar o Warriors (ou, claro, o Spurs). Existe ainda a noção de que, removendo Blatt, ele também estaria eliminando uma eventual desculpa para os jogadores em caso de derrota nos mata-matas.

Agora é com ele

Agora é com ele

Daí que não deixa de ser uma ironia que, na mesma noite em que Steve Kerr fez sua estreia na temporada, Blatt acabou demitido. E é uma coincidência que diz muito – os líderes de cada conferência não poderiam ser mais diferentes hoje. Caos x harmonia. Intrigas, traições, imposições x diálogo franco, aberto e constante. Nuvens carregadas x céu aberto. Griffin afirma que demitiu seu treinador em busca dessa sensação de unidade. Mas isso não é algo que se constrói com uma só ação. Não depende apenas de Blatt, e não vai depender só de Lue, embora todo técnico seja uma figura primordial na hora de buscar essa química.

Em 1982, quando Westhead caiu, começou a carreira de um dos maiores treinadores que a NBA já viu. Riley, aquele que, como presidente do Miami Heat, cerceava toda a ambição de LeBron, colocou o Lakers para correr, tal como Magic queria, e deu certo. O resto é história. O time alcançou a final e foi campeão, batendo o Philadelphia 76ers de Julius Erving. Até o ano passado, ele era o único técnico a ser campeão logo em seu ano de estreia. Kerr repetiu a façanha, e David Blatt chegou perto. Numa aposta de risco, o Cavs espera que Tyronn Lue aumente a lista.


A surra contra o Warriors dói. Mas, no plano geral do Cavs, foi um só jogo
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Giancarlo Giampietro

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Numa temporada regular de 82 jogos, a primeira lição para qualquer time da NBA é a de que você não deve reagir com desespero a nenhum resultado isolado.

Mas, quando um Cleveland Cavaliers toma uma sacolada de 34 pontos da equipe pela qual havia sido derrotada na final do campeonato anterior, aí é difícil de segurar. E este será o principal desafio dos LeBrons e Dan Gilbert daqui para a frente: por mais dolorida e chocante que tenha sido a derrota de segunda-feira, em rede nacional, não é que o time esteja totalmente sem rumo,  chão ou teto. Eles precisam se apegar a uma tese que circulou nesta terça: o Cavs por ora só tem de se conformar com o fato de estar um degrau abaixo de Golden State Warriors e San Antonio Spurs. Em 20 de janeiro de 2016, isso não significa o inferno na terra, de modo algum.

Que há problemas para serem resolvidos? Claro que sim. Vamos falar mais deles adiante, sendo que, na ressaca já encarada no vestiário depois do espanco sofrido, uma velha questão ressurgiu. Antes de buscar um diagnóstico sobre o que teria dado de errado em sua tentativa de revanche, não dá para esquecer o que já está dando certo para o time, na metade da temporada.

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De acordo com o NBA.com, o Cavs é um dos cinco times que estão posicionados entre os dez mais eficientes tanto na hora de defender como na de atacar – os outros são Warriors (toin!), Spurs (pumba!), OKC Thunder (Durant + Wess = sucesso) e o digníssimo Atlanta Hawks (em ascensão discreta, tipicamente).

Sim, mesmo depois de levar 132 pontos de seu mais recente algoz, o conjunto está em sétimo quando tenta proteger sua cesta, não muito distante de Miami Heat e Chicago Bulls. Seu sistema ofensivo aparece em quinto, atrás de Warriors, Thunder, Spurs e Clippers, mesmo que Kyrie Irving tenha jogado em apenas 13 partidas e ainda esteja recuperando o ritmo. Desta forma, a cada 100 posses de bola, o conjunto de David Blatt tem o quarto melhor saldo, de 5,4, abaixo só da trinca do Oeste acima citada.

É aqui que entra a tese de que, em qualquer campeonato mais normalzinho, o Cavs estaria ali no topo das estatísticas, com plenas chances de título. Acontece que, vocês já devem ter percebido, não estamos em uma temporada comum, pois Warriors (apenas quatro derrotas em 42 jogos e saldo de 13,3 pontos a cada 100 posses) e Spurs (seis derrotas em 42 jogos) e saldo de 14,9, que é o melhor da história) elevaram a barra a um patamar raríssimo de se alcançar.

Kevin Love que se cuide: o Warriors pode deixá-lo exposto

Kevin Love que se cuide: o Warriors pode deixá-lo exposto

Então, sim: se for para pensar no tipo de jogo daqueles que hoje são os dois grandes favoritos da NBA, o grito de alerta de LeBron deve ser levado a sério por qualquer jogador no vestiário do time. “Esta noite foi um exemplo de quão longe estamos do nível de se lutar pelo título”, afirmou, visivelmente abatido, na Quicken Loans Arena. Registre-se, de todo modo, que o craque vem batendo nessa tecla desde os primeiros dias do calendário.

Isso que parece, à distância, o mais preocupante. LeBron pode simplesmente estar pressionando seus companheiros para lhes tirar de uma traiçoeira zona de conforto que o Leste proporciona a um timaço. Por mais que o nível da conferência tenha subido nestes dias, ainda não há um rival que possa, com convicção, erguer a mão em meio à multidão e desafiar os cavaleiros de Cleveland. Mas uma coisa é bater o Raptors em seis jogos. Outra é se preparar para uma decisão que, descontando qualquer lance de sorte, será uma batalha tão ou mais ferrenha que a de 2015. O nível de exigência é altíssimo. Estamos falando de excelência. Então precisa cobra diariamente, mesmo, a dedicação extrema, a atenção e o comprometimento com os pequenos detalhes etc.

Todavia, a outra versão para essa história, que teima em não ir embora, pode ser maior. Pode ser que os constantes recados dados por Sua Alteza tenham como origem uma preocupação ainda maior com o que se passa no vestiário e no dia-a-dia do clube em geral. Mas o que poderia ser isso? Bem… Acho que, dentre algumas possibilidades, o torcedor do Cavs já desconfia da resposta: a relação com David Blatt (sobre a qual já escrevemos muito aqui) ou Kevin Love.

No pós-jogo deprimente de segunda, LeBron não soltou nenhuma indireta sequer que pudesse atingir seu treinador. Em relação aos companheiros de time, porém, havia uma observação a ser feita. “Temos alguns caras inexperientes que ainda não disputaram jogos de basquete que valham alguma coisa e sirvam como lição. Quando as coisas ficam um pouco difíceis em quadra, não é que eles tenham experiência prévia para consultar e que possa ajudá-los a enfrentar o que está acontecendo”, afirmou em coletiva.

O comentário é praticamente uma contestação. Não tem muitos adjetivos, nem nada pesado. O elenco do Cavs tem realmente pouca bagagem de vitórias expressivas e grandes duelos. Anderson Varejão, Mo Williams e Richard Jefferson, na verdade, são os únicos ali com vasta experiência de playoff, e eles nem têm muito espaço assim na congestionada rotação de Blatt.

Depois, em conversa quase informal com os setoristas de Cleveland, LeBron levou a conversa adiante e, aí, mesmo sem citar seus nomes, matutou especificamente sobre Love e Irving ao dizer que alguns de seus colegas , devido a lesões, não haviam ganhado essa experiência valiosíssima de se lutar com os companheiros nos momentos mais duros do campeonato. E era a estreia deles nos mata-matas. De novo: não é um ataque. Já vimos o astro ser muito mais ácido.

Acontece que, do outro lado, Kevin Love não parecia o sujeito mais contente em assumir a bronca toda por sua inexperiência em grandes jogos. “Temos de melhorar em um monte de coisas. Isso vai fazer com que vários caras se olhem no espelho, e tudo começa com o nosso líder ali e vai para baixo”, afirmou, apontando precisamente para o camisa 23.

Antes que o torcedor brazuca do Cavs se inflame e acuse A Diabólica Mídia (Ah, Essa Mídia) de procurar semear a discórdia em sua equipe,  como já vi acontecer antes, é preciso ter em mente que todos os relatos que li sobre esse pós-jogo, incluindo o de jornalistas locais, dão a entender que Love fazia cara de poucos amigos ao dar sua declaração, meio que dizendo: não sou apenas eu o problema.

O ala-pivô provavelmente ainda não sabia que o vine abaixo, do Basketball Breakdown, já havia viralizado:

Contra um time que roda a bola em alta velocidade e movimenta seus jogadores no mesmo ritmo, com até cinco arremessadores ao mesmo tempo em quadra, Love não pode estar nem meio passo atrasado em suas  coberturas. Quando está até dois ou três passos para trás, cumprica. Que ele não tenha se dado conta de que um cara como Draymond Green pode flutuar para o perímetro depois de um corta-luz, é porque alguma coisa está muito errada. Aí vira piada, mesmo, e não tem como olhar para David Blatt, que procurou chamar a culpa para si, dizendo que assumia toda a responsabilidade pelo aparente despreparo tático e emocional de seu time para um confronto tão chamativo. Se esse for o padrão de atenção defensiva que o jogador de US$ 110 milhões vai levar aos playoffs, será o caso de seu treinador repensar seu tempo de quadra. Contra o Warriors, é impensável ter um defensor caçando borboletas desta forma.

Mas, não, a derrota impactante não se explica apenas pela defesa displicente de um ala-pivô. O próprio LeBron, talvez desanimado com o que via em quadra, ficou devendo e deu sua contribuição para o maior déficit de pontos que já viu seu time sofrer em todos os 1.127 jogos de sua carreira, quando o Warriors abriu 43 pontos de vantagem, segundo a “ESPN Stats & Info”. Numa partida especial dessas, o ideal é que o time não peça de LeBron uma atuação de super-herói, tal como aconteceu nas finais, devido a circunstâncias infelizes. Mas você espera mais do que 16 pontos, 5 rebotes e 5 assistências e 43,8% nos arremessos, sem nenhum tiro de fora, em 33 minutos.  Ele não precisa carregar o time, mas, diante de grandes desafios, as responsabilidades são maiores. (E talvez seja essa a sua mensagem para os parceiros mais jovens, tirando o pé para ver no que dá. Para constar, sua atuação e linha estatística de quatro noites antes, em San Antonio – para seus padrões, que fique claro – também não estavam entre as superlativas: 22 pontos, 7 rebotes e 5 assistências, com 52,9%.)

Dureza

Dureza

Em Cleveland, ciente de que provavelmente seus oponentes viriam com tudo em sua direção após a declaração sobre o cheiro da champanhe, Stephen Curry estraçalhou a defesa do Cavs desde o início do jogo, chegando aos mesmos 16 pontos antes mesmo do intervalo. Terminou com 35 pontos e alguns de seus arremessos impossíveis (12-18 de quadra, 7-12 de três pontos, em 28 minutos). Juntos, para relativizar, LeBron, Love e Kyrie Irving fizeram 27 pontos.

Os donos da casa ficaram devendo como um todo, como time, especialmente na defesa. Não precisa nem colocar aqui um clipe de cesta em contra-ataque do Warriors, pois foram várias as situações em que desciam dois ou até mesmo três contra um no primeiro tempo, para abrir uma vantagem de 26 pontos em 24 minutos de jogo. No geral, foram 17 pontos em contra-ataque na súmula oficial, mas muitos outros gerados pelo desequilíbrio e lerdeza da transição defensiva do adversário.

Foi um horror, é verdade, e isso joga pressão para cima do time como um todo.

Mas não foi de acordo com o padrão apresentado pelo Cavs no campeonato. Então é preciso paciência por parte de LeBron e, especialmente, Dan Gilbert, um bilionário que já perdeu muitas vezes as estribeiras quando o assunto é seu clube de basquete. LeBron vai apertar o passo nos mata-matas. Até lá, tem tempo para Irving refinar seu drible e arremesso e resgatar a agressividade da segunda metade da temporada passada. Nesse meio tempo, Love pode repensar algumas coisas, enquanto Blatt deve fazer o mesmo em relação ao ala-pivô, se ele não apresentar melhoras.

Voltamos à regrinha de que, ok, era um senhor jogo, com todo mundo assistindo e aquele desejo de se firmar como resistência e dar o troco. Mas, ainda assim, só um jogo. “Vamos ter um monte de tropeços no caminho, e isso é normal. Vamos aprender e melhorar com isso. O melhor professor na vida é a experiência, e é bom passar por isso”, disse o craque.

Vale o recado geral, olhando no espelho, ou não.


Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte II
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Giancarlo Giampietro

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É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.

Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.

Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, ‘prévias’ (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.

Coferência Leste, lá vamos nós:

(E clique aqui para ler sobre o Oeste)

CENTRAL

Hoiberg dá liberdade ao Bulls. Como os jogadores vão aproveitá-la?

Hoiberg dá liberdade ao Bulls. Como os jogadores vão aproveitá-la?

– Bulls: vamos descobrir qual o impacto de se proporcionar liberdade, criatividade e poder de decisão para um elenco que venceu muitas partidas (e suou e se arrebentou) sob o pulso firme de Thibs. Essa, para mim, é a questão mais interessante, do ponto de vista de cultura esportiva, de toda a temporada. É uma questão até mesmo humanista. (Sim, gente, é nesse momento que você pode entrar com a referência básica na linha de “o esporte enquanto reflexo/espelho/laboratório da sociedade.)

– Bucks: é o time mais enigmático do Leste, ao meu ver. Essa molecada pode tanto avançar consistentemente rumo ao topo da conferência como pode engasgar com seu ritmo frenético, fazendo uma pausa para uma avaliação mais cuidadosa de quem é quem no elenco para saber exatamente o que eles têm no elenco. É o tipo de questão que qualquer jovem equipe tem de enfrentar depois de um primeiro ano com sucesso acima do esperado.

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– Cavaliers: se o time chegar pelo menos com 80% de sua capacidade técnica aos playoffs, acho que não vai ter desculpa: será o suficiente para brigar de igual para igual com qualquer rival, mesmo aquele que venha do Oeste. E aí vamos saber se o plano mirabolante de LeBron James de assumir o controle de uma franquia ainda como jogador pode vingar. Dependendo dos resultados, pode ser outro marco histórico da indústria esportiva (mais e mais astros exigindo poder pleno no futuro), ou o supercraque terá muito o que explicar sem apontar para uma ou outra falha de técnicos, dirigentes e companheiros que deveriam ter autonomia, mas, hoje, são basicamente seus subordinados

O remodelado Pacers vai pedir mais de Paul George. Mas e o que está ao seu redor?

O remodelado Pacers vai pedir mais de Paul George. Mas e o que está ao seu redor?

Pacers: Larry Bird arrefeceu e decidiu mudar o curso do time em 180º, e Paul George não sabe exatamente como reagir e o que fazer com as novas instruções. Qualquer alteração drástica a esse ponto pede paciência para se avaliar. Em Chicago, Hoiberg ao menos tem as peças para fazer o jogo aberto e bonito. Já Frank Vogel vai ter de se virar com Monta Ellis, Rodney Stuckey e George Hill. Esse trio pode conviver em paz, ainda mais sabendo que a bola vai ficar mais com seu astro? Esses caras vão atacar de modo integrado ou vão adotar o sistema de “uma-vez-de-cada-um”? Com tantos possíveis tijolos forçados atirados rumo ao aro, o duvidoso novo conjunto de pivôs vai estar preparado para apanhar os rebotes? Vogel será deveras exigido.

Pistons: de certa forma, está tudo aqui, finalmente. SVG mexeu, remexeu e conseguiu formar um time com peças bem similares ao que tinha em Orlando. Andre Drummond pode não ser um Dwight Howard defensivamente, mas, no ataque, vai atrair ajuda de marcação sem parar, liberando a quadra para os alas chutadores e para os ataques de Reggie Jackson. Só falta aqui um segundo playmaker como era Turkoglu. Então… será que agora vai!?!? Será que o Pistons voltará a ser um time digno de NBA (o que, no Leste, equivale basicamente a time de playoff)?

NORDESTE

– Celtics: Ainge está tentando, cavucando e, aos poucos, encontrando. Um Jae Crowder aqui, outro Amir Johnson ali, e Brad Stevens vai ganhando peças. Será que eles têm pique e fôlego para desafiar Toronto no topo da divisão?

Greg Monroe não quis saber de Phil Jackson. Entra Robin Lopez

Greg Monroe não quis saber de Phil Jackson. Entra Robin Lopez

– Knicks: muita gente, mas muita gente mesmo simplesmente acredita que Phil Jackson foi um tremendo de um sortudo em sua carreira de técnico por ter em mãos grandes lendas do basquete. O que é ridículo, uma vez que nenhum desses craques havia ganhado um título antes de conhecê-lo. Bem, de qualquer forma, agora como presidente do Knicks, o Mestre Zen ainda não conseguiu uma superestrela para fazer companhia a Carmelo. Então, para que o Knicks volte a ser competitivo, o que vai pesar é sua visão geral e seu olho de scout, confiando que os alvos alternativos que escolheu são os corretos. Vai dar triângulo? Ou melhor, vai dar jogo?

– Nets: sério… qual é a graça aqui? O que tem de divertido nesse time, agora que Brook Lopez nem visita mais a Comic Con!? Além de uma eventual troca pelo cada vez mais lento Joe Johnson, da estabilidade física de seu talentoso pivô e da histeria de Lionel Hollins, não sei bem o que pode gerar interesse em torno da franquia. O que é alarmante, considerando que Billy King vai ceder uma escolha alta de Draft ao Celtics antes de tentar seduzir algum agente livre com os cacos de um projeto estilhaçado.

DeMarre Carroll chega ao Raptors com propósitos claros

DeMarre Carroll chega ao Raptors com propósitos claros

– Raptors: depois da tremenda decepção dos últimos playoffs, Masai Ujiri tinha uma chance de implodir tudo e resgatar a ideia de repaginação do clube, abortada em meio a uma inesperada guinada. Ou, poderia fazer uma análise fria do que faltava ao seu time, acreditando que, com essa base, é possível, sim, chegar ao título do Leste. Ao dar US$ 15 milhões a DeMarre Carroll, fica claro o caminho que preferiu seguir, de modo que não há muitas dúvidas aqui. É preciso saber se, com um novo estafe e reforços de mentalidade cascuda, Dwane Casey vai conseguir montar uma defesa forte e sustentável.

– 76ers: entre os que pregam a frieza de cálculos e experimentos e a necessidade natural de se querer competir. qual o limite? Pelo bem de Brett Brown, qual o limite para se estender esse dilema? Não há a menor possibilidade de prolongar este Processo por mais um ano, certo? CERTO!?

SUDESTE

Não é exatamente para cravar que Splitter foi contratado por Budenholzer

Não é exatamente para cravar que Splitter foi contratado por Budenholzer

– Hawks: se até o Bulls e o Pacers quiseram ficar mais leves e velozes, será que o Hawks já estava light demais? Entra em cena Tiago Splitter, com seu impacto nos pormenores do jogo e da defesa, para fazer uma rotação, em teoria, perfeita com Millsap e Horford. Só é preciso checar se Bazemore, Sefolosha e Holiday conseguem segurar as pontas no perímetro para que o catarinense não seja exigido demais para compactar a defesa.

– Hornets: a lesão de Kidd-Gilchrist dói demais, a concorrência parece mais ajeitada, mas o Leste ainda é o pálido Leste, e algum clube precisa se dar bem por aqui. Caberá a Steve Clifford chegar a um total que valha mais que a soma de suas peças, remediando a defesa e confiando que o sofrível ataque será animado pela chegada de Batum, Lin, Kaminsky e, quiçá, Jeremy Lamb, em sua última chamada.

– Heat: não vejo meio termo aqui: ou esse time vai arrebentar, ou vai se arrebentar. Qual alternativa será a correta, então? a) todos jogam (Wade e Bosh especialmente), Dragic e Wade dialogam, Whiteside é de verdade, e Spoelstra terá condição de preparar um bom menu. Ou… b) com um monte de peças de durabilidade suspeita, as lesões não cessam, o time não consegue ganhar um conjunto, e, em tempos de dificuldade, os egos tomam conta da bola?

O Orlando precisa de Hezonja. Mas, para jogar com Skiles, ele precisa defender

O Orlando precisa de Hezonja. Mas, para jogar com Skiles, ele precisa defender

– Magic: os jovens de cabeça boa agora têm um mentor com histórico positivo nos primeiros anos de trabalho, podendo tirar o máximo de sua ética de trabalho. Ainda assim, sabe do que esse time vai precisar, se quiser entrar na briga pelos playoffs? Justamente de seu jogador com temperamento mais volátil. Sim, Mario Hezonja! O jovem croata será um desafio para Skiles durante a jornada, uma vez que, suponho, Fournier não será o bastante para desafogar o ataque.

– Wizards: tudo parece muito bem encaminhado aqui. Wittman está decidido a aplicar na temporada regular o ritmo acelerado bem-sucedido de algumas semanas de playoffs. Quando o Wizards voltar ao mata-mata, só não terá aquele tal de Paul Pierce para chamar a bronca. E aí será a vez de John Wall e Bradley Beal darem mais um passo, na tentativa de conquistar Kevin Durant.


Jukebox NBA 2015-16: Cavs, LeBron e os Beatles
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Golden Slumbers/Carry That Weight/The End/Her Majesty”, por eles, The Beatles

Por quê? Antes de mais nada, o blog já se defende de possíveis críticas de que tenha roubado aqui ao escolher quatro faixas para escrever sobre o Cavs, em vez de uma. Mas, calma lá, campeão: é simplesmente ouvir o trecho final de “Abbey Road” e separar uma da outra. Este é um medley de verdade, uma jam session feita para ser ouvido de uma vez. E o título de cada faixa se encaixa quase que perfeitamente para a História do Reencontro do (Autodenominado) Rei e seus Cavaleiros. Só precisa de uma adaptação.

Primeiro lidamos com os os sonhos dourados de LeBron. “Uma vez havia um caminho de retornar para casa”, canta Paul McCartney com leveza, como se fosse um cantiga de ninar. “Os sorrisos acordam quando você se ergue”, também diz. Depois, os Beatles vêm num coro opressor: ah, é? Voltou, mesmo!? Então vai ter de “carregar aquele peso por um tempão“. É, garoto, um peso, e tanto.  Aí que estamos chegando ao fim, como o jogador sabe, como o time sabe. Macca avisa: “E no fim, o amor que você toma é igual ao amor que você faz”. Não pensem em impurezas, meninos, mas na relação de adoração de Ohio/Cleveland ao prodígio, e o que ele pode dar em troca. Para fechar, aí a gente troca o “her” por “him”, embora em português fique tudo na mesma: “Sua Majestade“, o Rei, e não a Rainha, e como cortejá-lo.

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Vai… tem tudo a ver, né? Para além da solenidade que foram as últimas gravações dos Beatles em 1969. Pois tudo o que se passa em Cleveland nesses dias gira em torno de LeBron. De maneira justa, ou não, ele tenta tomar o clube de refém, com o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin oferecendo resistência pontual aqui (David Blatt infernizado pelo astro) e ali (as negociações arrastadas e ridículas com Tristan Thompson). Agindo desta maneira, pressionando a franquia via redes sociais, e tudo, retomo o que já escrevi em relação ao campeonato passado: enquanto agir desta forma, LeBron vai ter de arcar com as consequências. Se ele quer ser o Rei, déspota, vai ter de se responsabilizar pelo que acontece no final. Se o Cavs perdeu para o Warriors, foi ele que perdeu. Pois não dá para interferir na função dos outros, em algo que não lhe compete, e, no final, com mais um vice-campeonato no currículo, culpar os Deuses ou a família Gilbert.

A pedida: vice-campeonato da Divisão Central!

(“Ha!”, expressaria o Mallandro.)

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

Cavs, campeão do Leste: muito pouco para Gilbert e LBJ

É título ou nada para os LeBrons, claro. Já poderia ter acontecido no campeonato passado, não fosse a derrocada física do time nos mata-matas, por lances de azar, como o golpe de Kelly Olynyk em Kevin Love e a fratura no joelho de Kyrie Irving durante as finais. A tendência é falar que eles levariam. Mas, com as duas estrelas em forma, talvez o sistema utilizado por Blatt (ou LeBron…) seria diferente. A dinâmica da série seria outra, então vai saber.

Fato é que, com a atual formação, eles têm time para acabar com a maldição de Cleveland. O elenco é balanceado e tem arremesso, bons defensores no perímetro e uma coleção de pivôs para marretar o adversário, mesmo sem Thompson, sejá lá quando a diretoria e a turma de LBJ vá resolver isso.

A negociação com o pivô canadense pode dizer muito sobre o time. Não necessariamente devido aos seus talentos, mesmo que ele seja um defensor extremamente valioso por sua capacidade para frear armadores no pick-and-roll e que também represente um pesadelo no ataque aos rebotes ofensivos. Daí a pedir US$ 94 milhões por cinco anos de contrato (ou o equivalente a essa quantia em três anos), mesmo na nova economia bombada da NBA, é se colocar para além da fronteira do absurdo.

A franquia e o jogador ficam num impasse curioso. Da parte do jogador, se mantiver a pedida, ele e sua agência (que, na prática, gente, tem LeBron como sócio) vão simplesmente ter de torcer para que as coisas no Cavs deem errado, seja pelo acúmulo de reveses ou lesões. Para constar, Mozgov está voltando de cirurgia recente no joelho, Varejão ainda precisa tirar a ferrugem vindo de uma no tendão de Aquiles e mesmo Love também está nos últimos estágios para retornar de operação no ombro. Ah, sim, e Kyrie Irving e Iman Shumpert ainda não têm data prevista para retorno.

Bem legal, não?

Get it done!!!! Straight up. #MissMyBrother @realtristan13

Uma foto publicada por LeBron James (@kingjames) em

Se essa situação se arrastar por mais algumas semanas e o time sofrer em quadra devido aos desfalques, então a diretoria poderia se sentir pressionada a arrefecer nas conversas e dar ao outro lado o que eles pedem, que é uma demanda ridícula. Ou isso, ou Thompson vai ficar o ano inteiro parado, perder alguns milhões para já e voltar ao mercado do ano que vem como agente livre… Mas novamente restrito, com sua cotação muito provavelmente avariada.

Da parte da franquia, existe sempre o risco LeBron. O craque vai continuar pressionando? Seria ele capaz de “entregar” jogos para ajudar seu amigo e cliente? Talvez seja um exagero até mesmo cogitar isso, mas, nos bastidores, o quanto de escarcéu ele poderia fazer? E o restante do time? Conseguiriam ficar alheios ao tumulto? Aqui, de primeira, vejo esse lenga-lenga como a principal – e talvez única – ameaça ao Cavs no Leste.

Em termos de apostas, imaginar o Cleveland campeão da conferência é aquela mais chega perto de uma barbada.  O Atlanta tem um grande desafio que é replicar a química da temporada passada, enquanto confere se é possível jogar desta forma com uma linha de frente mais alta e pesada. O Chicago passa por alterações muito mais drásticas em seu sistema. Para mim, dependendo desses ajustes, seriam os únicos candidatos a aprontar. De resto… o Washington não tem artilharia para aprontar nesse nível, assim como o Toronto Raptors ou os emergentes Boston Celtics e Milwaukee Bucks.

LeBron, é tudo dele

LeBron, é tudo dele

Então creio que ficamos nisso: o maior inimigo do Cavs em sua conferência pode ser seus bastidores, com a relação entre LeBron e Blatt também merecendo atenção.

A gestão: tentando se estabelecer. Aqui, as coisas vão depender muito do comportamento de LeBron e de como Dan Gilbert vai reagir a isso. David Griffin mostrou na temporada passada que, mesmo sob grande pressão, é um grande negociador, fazendo valer os elogios que recebia dos companheiros quando era assistente de Colangelo e Kerr em Phoenix. As trocas que fechou no meio da temporada, com o aval do craque, diga-se, salvaram o time e deram a Blatt mais matéria-prima com que trabalhar, para além do trio de astros e dos amiguinhos do Rei. O processo continuou este ano com a adição de Kaun (excelente finalizador próximo ao aro, forte toda a vida, bom patrulheiro de garrafão, para compor uma rotação russa de pivôs gigantes), Richard Jefferson (experiência, chutes da zona morta e versatilidade num corpo ainda mais ativo que o de James Jones) e, principalmente, Mo Williams (num papel reduzido, vindo do banco de reservas, como lhe cai bem, ao mesmo tempo que serve como uma apólice parcial de seguro para as lesões de Irving).

Inseguro ou ultrajado, Blatt se comportou de modo arrogante em alguns momentos da temporada passada, embora isso deva ser minimizado devido ao contexto ao seu redor. A contratação de LeBron jogou pressão para cima do técnico desde o início e é complicado de se estabelecer um relacionamento com um astro dessa magnitude. Por outro lado, nos playoffs, depois de ser salvo por Tyronn Lue com um pedido de tempo que poderia ser desastroso na série contra Chicago, o treinador deu seguidas provas de como pode ser uma peça valiosa para o time, até que a virada que o Cavs sofreu na final voltou a suscitar relatos preocupantes sobre como ainda estaria sendo destratado pelo seu principal jogador.

O brasileiro: Anderson Varejão só quer uma coisa: ficar saudável e poder completar uma temporada, ou pelo menos chegar à marca de 70 partidas pela primeira vez desde… 2011. São muitas lesões desde, então, o que é a pior coisa que pode acontecer para um atleta. O Cavs, em teoria, mesmo sem Thompson, estaria coberto dessa vez para inserir o pivô aos poucos em sua rotação e preservá-lo para a hora que importa – um controle de minutos, abaixo de 20 por partida, talvez fosse o mais recomendável. O duro é que, no início de campanha, com Thompson fora e a dupla titular em fase de reabilitação, pode ser que seus serviços já sejam exigidos.

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Kevin Love, agora de bem com a vida e tudo o mais?

Olho nele: Kevin Love. Se formos comparar sua produção com a dos tempos de Minnesota, obviamente sua primeira temporada em Cleveland foi inferior. Mas, como terceira opção no ataque, isso era mais que esperado. De qualquer forma, Blatt, LeBron e Irving reconhecem que os diversos talentos do ala-pivô (como referência no garrafão, reboteiro ofensivo e passador a partir do poste alto) não foram aproveitados na medida da certa, com o jogo muito focado nas jogadas de pick-and-roll com os outros dois astros. Ele tem agora um contrato polpudo (U$ 110 milhões por cinco anos) e gente empenhada para que seu jogo se encaixe e deixe a equipe ainda mais perigosa. Quanto melhor ele jogar e quanto mais isso durar, pior fica a situação de Tristan Thompson como agente livre. Com o time completo, tendo Love ao lado de LeBron e Mozgov na linha de frente, simplesmente não sobram tantos minutos para o ala-pivô canadense.

Daniel Gibson, Cleveland, card, 2007Um card do passado: Larry Hughes. Da primeira vez em que LeBron chegou a uma final de NBA pelo Cavs, em 2007, o segundo jogador que mais acumulou minutos em média nos playoffs pela equipe foi o ala-armador draftado pelo Philadelphia 76ers. O cara que havia sido contratado por Danny Ferry para ser o principal comparsa do então jovem astro de 22 anos no perímetro, embora não fosse um bom arremessador de longa distância e precisasse tanto da bola como LBJ para produzir. A passagem do ala por Cleveland não deixou saudade nenhuma, com o arrependido gerente geral se desfazendo de seu contrato assim que pôde, logo na temporada seguinte.

Tudo isso para dizer que, agora veterano, se os acidentes da campanha passada não se repetirem, James tem muito mais ajuda ao seu lado para tentar conquistar o terceiro anel de campeão e dar o troféu pela primeira vez ao clube. Com todo o respeito a Zydrunas Ilgauskas, Drew Gooden, Sasha Pavlovic, Damon Jones, Eric Snow e Boobie Gibson.


Despotismo de LeBron em Cleveland dá brecha à turma do contra
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Giancarlo Giampietro

LeBron James, Cleveland, coach, David Blatt

LeBron James ainda enfrenta uma grande resistência em muitas praças, independentemente do que faça em quadra. Pode ser pelo fato de ter perdido quatro de suas seis #NBAFinals. Mas talvez tenha muito a ver com as ameaçadoras, assustadoras e constantes comparações com Michael Jordan, que não fazem bem a ninguém. Desta forma, estava preparado aqui para escrever mais um texto cheio de elogios e hipérboles a respeito do craque, que era bobabem perder tempo com paralelos históricos, que o lance é realmente apreciá-lo, enquanto ainda tiver fôlego para produzir como superestrela. Contra o Warriors, fez tudo o que podia, com números e esforço superlativos.

Até que… Ka-bum. O jornalista Marc Stein, do ESPN.com, soltou o seguinte petardo, numa tradução livre: “O jeito impróprio de LeBron de lidar com Blatt“.

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Que a relação entre o jogador e o treinador não era das melhores, já sabíamos. Os problemas no relacionamento foram bem documentados, numa narrativa que contou com diversas matérias e informações de Brian Windhorst, o jornalista mais chegado ao universo lebroniano. Porém, o fato de o time ter alcançado a decisão, sem três de seus principais atletas, nos fazia supor que as coisas haviam se apaziguado, em busca de um objetivo em comum. Ledo engano. O relato de Stein chega a ser perturbador. Alguns trechos de seu texto:

“Tenho uma questão para LeBron James que realmente espero que ele possa responder algum dia. Uma questão que pode ser feita de um modo variado. Que tipo de técnico você quer? Quem por aí afora seria um técnico pelo qual você gostaria, mesmo, de jogar? Quem o Cleveland Cavaliers poderia contratar que ganharia o seu apoio? Não tenho as respostas para nenhuma dessas questões. O assistente Tyronn Lue seria meu melhor palpite. Sei de uma coisa, porém: James é jogador muito brilhante, realmente grandioso, para se comportar do jeito que ele fez com David Blatt durante as finais da NBA”, diz seu lead.

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

“Vimos LeBron castrar Blatt de modos que são simplesmente impróprios para um jogador da estatura de James, que está construindo uma lenda toda própria. Vi de perto isso, em meu papel de repórter ao lado da quadra para a ESPN Radio. James essecialmente pediu tempos e fez substituições por conta. Ele questionava Blatt dura e abertamente depois de decisões que ele não gostava. Ele se reunia frequentemente com Lue, olhando para qualquer um menos Blatt”, prossegue.

“Teve a vez, por exemplo, que testemunhei no Jogo 5, sentado atrás do banco do Cavs, James balançando a cabeça veementemente em sinal de protesto após uma jogada desenhada por Blatt no terceiro quarto, num pior sinal possível de reprovação silenciosa que você poderia imaginar e que obrigou Blatt, na frente de toda a sua equipe, apagar a prancheta e elaborar algo diferente”.

“Essa me pareceu uma imagem que não faz jus a uma das maiores carreiras de todos os tempos, sem importar o quão inepto ele possa considerar o técnico. Com seus companheiros de Cavs vão tratar Blatt com qualquer forma que se aproxime reverência quando James o trata como um mero ornamento na frente de todos? Como James pode louvar sua própria liderança, como faz constantemente, quando age desta maneira?”, questiona.

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Tudo por LeBron: os malabarismos do Cavs

Por aí vai. Antes de mais nada, para quem não está familiarizado com o jornalista, estamos falando de uma das figuras com maior credibilidade na liga, com uma cobertura que começou em… 1991. Não é um qualquer desavisado (oi!), especulando, bagunçando, citando fontes anônimas. Mas, sim, um cara veterano que assistiu aos seis jogos das finais num assento privilegiado, alguém com contatos no país todo e que, veja bem, trabalha para a ESPN. Tipo a Globo dos Estados Unidos, galera, quando o assunto é esporte. Se há uma organização que faria de tudo para evitar chatear o astro, seria essa da sigla de quatro letras.

Stein, então, relembra como Tim Duncan respeitou Gregg Popovich desde o início em San Antonio, mesmo antes de o Coach Pop ganhar o status que tem hoje. Essa é uma simbiose incomum, pode ser sacanagem citá-la. Daí que ele lembra como o próprio Andre Iguodala,  aceitou Steve Kerr, mesmo que o técnico tenha decidido colocá-lo no banco pela primeira vez na carreira. Enfim, são diversos exemplos nesse sentido, de uma relação saudável entre jogador e treinador que leva os respectivos times adiante.

O experiente jornalista, de todo modo, também lembra que Blatt tem responsabilidade nesse estresse, ao falhar em conquistar o respeito geral de seu elenco, independentemente de ter sido contratado inicialmente para uma missão (elevar o Cavs a time de playoff, com um elenco jovem) e terminado com outra (guiar um supertime rumo ao título em seu primeiro ano de liga). Ganhar, LeBron, era a prioridade, conforme um scout bastante familiar com o trabalho do técnico havia dito ao blog. O sucesso passava por isso. Blatt, a princípio, tentou se impor. Depois do atrito, também fez concessões, entre elas muito do controle das jogadas a LBJ, abrindo mão de seu sistema ofensivo  quando as coisas não estavam se encaixando em quadra. Afinal, seria burrice ignorar as sugestões de alguém com visão de quadra apuradíssima – e, não, só pelo peso de seu nome. Pelo que entendo, a intenção do texto não é defender o técnico cegamente e atacar gratuitamente o atleta, mas tentar entender, antes de tudo, aonde o jogador esperava chegar ao tratar o (?) comandante de tal maneira?

>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto
>> Jogo 6: Campeão e queridinho: nem sempre foi assim

O que nos leva ao seguinte questionamento: será que em algum momento Blatt teve alguma chance de conquistar o astro? Erik Spoelstra penou em sua mão também, mas contou com a ajuda de Pat Riley e Dwyane Wade para segurar as pontas, contornar a tensão inicial e chegar a um estágio em que seus conceitos de jogo poderiam prevalecer. Não vai ser qualquer rabisco de prancheta que vai convencer James. Isso está claro. Que os jogadores tenham mais poderes era algo que deveria acontecer, mais, aliás. É uma tese de LeBron que me agrada. O treinador tem a palavra final, mas o mais saudável é sempre um bom diálogo, como Steve Kerr nos ensina.

Ao que parece, o grande problema aqui é um ego desmedido. O ego de quem sabe que é a maior figura da NBA hoje – uma referência para o marketing global. Que, de novo, tem o Cavs na palma de suas mãos, deixando o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin numa situação muito desconfortável. Lembrem-se que ele pode se tornar agente livre logo mais, algo que Griffin espera que aconteça, mesmo, com o exercício de uma cláusula contratual. É difícil de imaginar que o ala possa virar as costas para o “seu povo” mais uma vez. Os trunfos são todos dele, todavia, na hora de negociar. Em sua missão declaradamente messiânica, quem poderá interferir?

LeBron James, Cavs, Cleveland, legacy

LeBron é alguém preocupado com seu legado. Dentro e fora de quadra

Em entrevista coletiva nesta quinta, que já estava programada e acabou coincidindo com a publicação do artigo bombástico, o gerente geral mais uma vez assegurou Blatt como seu técnico para a próxima temporada. Qualificou a publicação de Stein como “sensacionalista” – embora em nenhum momento o texto carregue na tinta e tenha críticas estritamente baseada em observações in loco do que se passava em torno do Cavs, e não no diz-que-diz de fontes anônimas. Convenhamos que não havia como ser diferente a atitude da diretoria, assim de imediato, já que Blatt, com uma equipe toda remendada, ficou a duas vitórias do título. Com o respaldo de Gilbert, que escolheu pessoalmente o técnico, o cartola agora deve torcer para que o período de férias e o longo distanciamento entre as partes sirva para aplacar essa tensão. Desde que Irving se reabilite, que Kevin Love renove (e seja mais bem explorado pelo treinador, diga-se) e que o contrato de Brendan Haywood e a escolha de Draft deste ano sejam bem aproveitados, o Cleveland tem tudo para voltar fortalecido e justificar a condição já de favorito nas bolsas de aposta.

LeBron, Finals, 2015, Cavs

Vai ter contra-ataque?

Por mais óbvia que seja a necessidade de mimar e convencer o astro, é preciso também encontrar um equilíbrio e não ceder todo o controle ao atleta. Acho. Com a divisão apropriada de tarefas é que poderemos saber até onde vai a culpa e o mérito de um e do outro. Com a disposição de LeBron de assumir as rédeas, fica tudo nebuloso. Peguemos a tática para desacelerar o jogo ao máximo, que deu tão certo nos três primeiros jogos. Quem teve maior influência aqui? Um jogo lento, porém, não significa que precise ser estagnado, com quatro atletas plantados em quadra esperando a definição do craque. Quem ditou o posicionamento deles?

Enfim, as questões são meio que retóricas, e, independentemente das incertezas, Blatt ainda merece muitos elogios. É inconcebível que o jogador tenha planejado tudo sozinho. De qualquer maneira, aguardo com ansiedade, desde já,  o ‘outro lado’ da história, o de LeBron. Das duas, uma: a) um artigo recheado de fatos que tentem menosprezar Blatt e explicar o desdém do astro por sua figura; ou b) um artigo que procure dizer que não existe nada disso, tentando descolar a imagem da estrela de uma eventual decisão drástica sobre o treinador – quiçá não haja resposta nenhuma até, estratégia que talvez seja ainda mais eficiente.

E admito: nas aulas (seculares) de história, ou nas histórias de fantasia, a ideia da existência de um rei, de um líder supostamente magnânimo, nunca me agradou tanto – e o Game of Thrones, galera, só faz esse sentimento piorar, né? Houve reis e reis, imaginários, ou não, é verdade, mas em geral não me deixo seduzir por qualquer aura que os homens da coroa possam ter. Logo, se você for juntar os pontos, deve imaginar que não curto o apelido (autodeclarado de) King James.

Em quadra, ele teve uma atuação soberana contra o Warriors, mesmo que aqui e ali tenhamos aqui e ali algum indício de declínio, a julgar pela dificuldade que teve para encarar Iguodala e o baixo aproveitamento nos arremessos de quadra, que despencaram nos playoffs em relação ao que andava fazendo em Miami. Claro que o contexto do time, desde os companheiros ao sistema tático, influencia de modo decisivo nessa queda de eficiência – mas, não, na consistência. A carga enorme carregada nessa última jornada, ao meu ver, só faz a lenda crescer. Foi um desempenho absurdo. Em quadra, já um dos dez melhores da história.

Por outro lado, os recentes relatos dos bastidores do Cleveland dão claramente outra contação a essa alcunha de Rei, nos remetendo a um déspota. Estaria LeBron verdadeiramente preparado para assumir toda a responsabilidade e adotar o esquema de “eu ganho” e “eu perco”, abolindo a primeira pessoa do plural? Ironicamente, é isso o que o seus críticos mais querem.


Steph Curry merecia uma dessas, e Warriors fica perto do título
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Giancarlo Giampietro

stephen-curry-warriros-game-5

Stephen Curry estava precisando de uma partida dessas. Para fazer justiça ao seu campeonato magnífico. Não que estivesse jogando mal. Nas últimas duas partidas, já havia feito algumas coisas memoráveis. Mas estava faltando uma atuação seminal, assim como foi toda a sua campanha. Nas palavras de Everaldo Marques… Bingo! Aconteceu neste domingo, e o Golden State Warriors agora está a uma vitória do título, tendo vencido o Cleveland Cavaliers por 104 a 91.

LeBron James conseguiu o segundo triple-double nestas #NBAFinals, mas foi privado da comemoração, diferentemente do que havia acontecido no Jogo 2, quando saiu de Oakland com o mando de quadra ao seu favor. Aquela foi mais uma exibição primorosa do astro, o melhor jogador desta série decisiva, sem dúvida. Até mesmo coadjuvantes como Matthew Dellavedova e Andre Iguodala já tiveram seus momentos definitivos. Numa série sensacional, com suas idas e vindas, faltava, então, uma exibição magnífica do MVP da temporada. E aí vieram os 37 pontos em 42 minutos, com sete bolas de três pontos em 13 tentativas.

Melhor: boa parte de sua produção desenrolada no quarto final, respondendo a mais uma tentativa de marcha de James e seus aguerridos cavaleiros. Curry marcou 17 pontos na última parcial (um recorde nos últimos 40 anos), com 5-7 nos arremessos em geral, 3-5 de longa distância e mais 4-4 lances livres. Algumas de suas cestas desafiaram qualquer lógica pré-estabelecida – cujos vídeos deveriam ser acompanhados por algum aviso do tipo: “Não tentem repetir isso em casa. Ou melhor, na sua quadra”.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
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>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
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>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs

Sim, corre-se esse risco. Assim como Kevin Garnett influenciou sabe-se lá quantos pirulões a expandir seu arsenal de fundamentos, neste exato momento milhares de baixotinhos estão assistindo ao astro do Warriors, congelando a imagem frame a frame, para tentar imitar seus movimentos, acreditando ser possível. Provavelmente um pirralho chegue perto no futuro. Igualá-lo? Impossível. Estamos vendo alguém único, que realmente quebra paradigmas em quadra com sua destreza nos arremessos a partir de um controle de bola belíssimo.

Curry joga, de certa forma, no limite. É o máximo de refinamento técnico que se tem por aí hoje, mas por vezes passa a impressão de que está flertando com a displicência. Contra uma defesa feroz, combativa como a do Cavs, a eficiência não foi a mesma da temporada regular ou dos playoffs. Seus números em pontos, assistências e aproveitamento nos arremessos caiu, enquanto o de turnovers decolou, com média de cinco por partida. A segunda partida beirou o desespero, por exemplo, com 18 arremessos errados em 23 tentativas e mais desperdícios de posse de bola (seis) do que assistências (cinco).

Dellavedova foi bastante elogiado por seu trabalho, e com razão. Matéria do Plain Dealer, todavia, indica que talvez os elogios tenham sido exagerados. Pelo visto do ponto de vista do astro do Warriors, que estaria pê da vida com a atenção dada ao seu marcador. “As pessoas mexeram com o Steph, o que é positivo para nós”, afirmou Andrew Bogut, hoje relegado a assistente técnico no banco, sobre a badalação em torno de seu compatriota. “É algo que você não gostaria de fazer, mas que para nós funcionou muito bem. O Delly é um grande defensor, mas sabemos que não vai anular Curry.”

Se foi essa sensação de desrespeito, se acabou o gás do adversário ou se simplesmente o cestinha do Warriors teve duas noites pouco inspiradas, a gente dificilmente será comunicado oficialmente a respeito. Fato é que demorou um pouco para que ele se encontrasse no duelo. Quando achou o rumo… Aí danou-se tudo. Depois de acertar apenas 4 de 21 disparos de fora, converteu 18 de 33 nas últimas três. Faz parte do pacote, e o torcedor do Golden State já está mais que acostumado – e maravilhado – com isso. Nas finais, o restante do público pode se entregar.

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Claro que uma diferença dessas não acontece ao acaso. Steve Kerr mudou o modo como explorar seus talentos, deixando quele retomasse alguns hábitos dos tempos de Mark Jackson com mais investidas individuais, uma vez que Dellavedova estava fazendo um excelente papel em lhe negar a bola a partir de trilhas do lado contrário. Outro fato é o simples cansaço de seus oponentes em geral. Algo difícil de quantificar, mas que é inegável e muito relevante.

Nos últimos três jogos, a equipe californiana venceu o quarto período por um placar agregado de 94 a 57. São 37 pontos de vantagem em 36 minutos. O Cavs faz um jogo duro por três parciais e despenca na última, cai por terra. Neste domingo, enquanto o Warriors marcou 19 pontos nos últimos cinco minutos, com 5-8 de quadra, os visitantes ficaram, respectivamente, com 7 e 2-10. Uma discrepância de rendimento que impediu mais um desfecho ao estilo thriller, como tivemos nas duas primeiras partidas em Oakland.

Mas foi um jogaço, de todo modo. Se, bem no início, o basquete apresentado era tenebroso, com direito a cinco turnovers e três airballs em pouco mais de quatro minutos de ação, depois o nível subiu consideravelmente. A emoção foi junto. Foram 20 trocas de líder no placar e 10 empates até o Warriors desgarrar nos últimos quatro minutos. Quando cronômetro ainda mostrava 4min52s, a vantagem dos anfitriões era de apenas um ponto, 85 a 84, depois de uma cesta de Tristan Thompson. Um pouco antes, a 7min47s, com uma bola de muito longe de LeBron, o Cavs chegou a liderar por 80 a 79. Mas o time não teria, então, condições de esfriar Curry, nem mesmo com as faltas intencionais para cima de Andre Iguodala.

Blatt e LeBron tentaram de tudo, aliás. Da parte do treinador, o ajuste maior foi a redução significativa dos minutos de Mozgov, que terminou com apenas nove – e zerado em pontuação, depois de fazer muito provavelmente a melhor partida de sua vida na quinta-feira. Houve momentos em que o superastro era o mais alto do time em quadra, acompanhado por James Jones, Iman Shumpert, JR Smith e Matthew Dellavedova. E, por um bom tempo, deu certo.

É o que dá ter um talento como o de LBJ no elenco. Mesmo em sua formação mais baixa, o Cavs era o time mais forte e físico por causa da mera presença de seu camisa 23, um jogador realmente transcendental, que se juntou a Magic Johnson no clube daqueles que foi armador e pivô num mesmo jogo pelas finais da NBA. A diferença: Magic fez isso em 1980, outra época, com jogo muito mais concentrado no garrafão, claro. (E foi campeão).

Mas, por favor, creio que não há nada que se possa atirar na direção do craque do Ohio, independentemente do que vai acontecer na próxima terça. Se vai ter empate, ou se a conta fecha em seis a favor do Warriors. Dessa vez ele saiu de quadra com 40 pontos, 14 rebotes e 11 assistências, sendo apenas o segundo jogador na história da liga a conseguir um triple-double com 40 pontos na série decisiva. O outro foi Jerry West, em 1969, pelo Los Angeles Lakers. Ironicamente o raro ano em que um jogador do time derrotado foi eleito o MVP do confronto – e ninguém do Boston Celtics estranhou. Não seria absurdo algum repetir esse feito agora com James.

Pois, de novo, não foi só uma questão de brilho estatístico, mesmo que ele tenha tido sua partida mais eficiente nos arremessos (15-34). O que engrandece mais seu desempenho é a dinâmica desses jogos, com o craque carregando o time enquanto pode. No primeiro tempo, das 17 cestas de quadra de Cleveland, 16 tiveram seu envolvimento direto ou indireto. No final, nos ataques em que LeBron não arremessou ou não deu um passe para chute, seus companheiros acertaram apenas 6 em 25 tentativas, com 1-11 nos três pontos.

Já Curry obviamente não fez as coisas sozinho. A disparidade de talento entre um plantel e o outro (desfalcado) é enorme. O Warriors conseguiu 67 pontos com jogadores que não atendem pelo nome de Stephen. Já os atletas de sobrenome diferente de James marcaram 51. Tristan Thompson foi o único parceiro que conseguiu produzir em alto nível neste Jogo 5, com 19 pontos e 10 rebotes. JR Smith deu sinal de vida no primeiro tempo, com 14 pontos, mas voltou a se atrapalhar no segundo. Iman Shumpert foi bem nos chutes da zona morta (3-6), mas tem sérias dificuldades para colocar a bola no chão e completar uma bandeja. As limitações de Dellavedova foram expostas. Já Mike Miller provou, nos surpreendentes 14 minutos que recebeu, que não sua presença neste tipo de jogo já não é mais justificável – se mexe pela quadra com as costas travadas e não dá conta de parar ninguém, sendo até inexplicável a o número reduzido de tentativas do Warriors para atacá-lo no um contra um.

Do outro lado, Andre Iguodala pode ter vivido um pesadelo nos lances livres, errando 9 de 11, mas jogou demais novamente, com 14 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Em termos de consistência e esforço, o ala é o melhor jogador do Warriors nas últimas duas semanas. Depois do que o Chef Curry fez, porém, dificilmente vai perder o prêmio de MVP das finais, a não ser que os eleitores quebrem o protocolo, indicando James.

Draymond Green foi outro que entregou de tudo um pouco a Steve Kerr, com 16 pontos, 9 rebotes e 6 assistências (ainda que se atrapalhando com a bola quando enfrentou jogadores mais baixos, cometendo quatro turnovers). Harrison Barnes atacou os rebotes como nunca, terminando com 10 no total e ainda se impôs atleticamente em alguns embates com James. Se Klay Thompson esteve bem abaixo da média, com 12 pontos em 14 arremessos, seu deslize permitiu a Leandrinho mais minutos, e o ala-armador respondeu muito bem, com sua melhor exibição na série: 13 pontos em 17 minutos, agressivo e novamente eficiente (4-5 nos arremessos, 4-4 nos lances livres). É de se imaginar que o brasileiro não vá ter problema algum para assinar seu próximo contrato:

Isto é, Steve Kerr tem mais alternativas com quem trabalhar. Dessa vez, ele usou até mesmo o pivô Festus Ezeli em alguns minutos estranhos de rotação para abrir o quarto final, enquanto Blatt tinha Mozgov em quadra. O técnico do Cavs foi novamente superior, mas seu raio de ação, porém, se encerra com as limitações da equipe. Kerr, porém, sempre vai ter o mérito de ter feito sua mudança drástica antes do Jogo 4 e também por lidar da melhor forma com os jogos incríveis de LeBron. “Ele tem a bola em mãos por muito tempo. Nós temos de continuar com nosso plano e não esmorecer se ele acertar seus arremessos. Ele vai, não tem jeito”, diz Curry, sobre seu concorrente, meio que repetindo um mantra desde o Jogo 1. “Mas, no decorrer de 48 minutos, esperamos desgastá-lo e deixar as coisas muito difíceis para ele.”

É o que tem acontecido. LeBron vem produzindo, mas corre o risco de, com o distanciamento histórico, ver suas exibições relevadas. O craque sabe como as coisas funcionam, após ter conquistado dois títulos e enfrentou muitas decepções. Curry também está ciente a respeito. Por isso, não vai se gabar de um outro lance que tira do sério até mesmo os jogadores que estão na plateia. Como quando passou a descadeirar um australiano já sem se incomodar com a pegada do australiano, entendendo como responder ao desafio. Continua com os lances de efeito, mas com os olhos para a cesta, para o título. O espetáculo que aconteça de maneira inerente. “Foram alguns momentos legais, mas eles só vão significar alguma coisa se formos campeões. Provavelmente terei uma resposta melhor para essa pergunta depois de vencermos o campeonato”, afirmou o armador do Warriors, torcendo para que isso aconteça o quanto antes. “Momentos definitivos só acontecem para os jogadores que estão segurando o troféu.”


Cavs entrou de all in. Mas o Warrios tinha muito mais fichas para gastar
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Giancarlo Giampietro

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No pôquer, all in quer dizer algo como “tudo ou nada”. É quando o jogador pega as fichas que tem e empurra tudo para o meio da mesa. Ou rouba o monte, ou já era. O mestre do carteado pode até oferecer uma explicação mais rica, mas a essência é essa. O Cleveland Cavaliers pegou o termo emprestado e o usou como um trocadilho ao elegê-lo como lema para os playoffs. Virou algo como: “Todos juntos nessa, vamos lá, dando tudo”.

Pois, nesta quinta-feira, o Cavs até que tentou lutar no segundo tempo, mas não conseguiu impedir que o Golden State Warriors vencesse por 103 a 82 para igualar as #NBAFinals em 2 a 2, voltando para casa agora para fazer valer seu mando de quadra no próximo domingo. Steve Kerr estava em pressionado demais nesse, mas conseguiu se desvencilhar com um movimento bastante agressivo, corajoso, e, ao mesmo tempo, talvez o único que lhe restasse para tentar virar o tabuleiro, praticamente abolindo a escalação de um pivô tradicional, o famoso cincão, no seu time.

E, aproveitando o slogan do Cavs, a pergunta que fica depois do que vimos no quarto período deste Jogo 4 é a seguinte: será que o time já deu tudo o que tinha, mesmo? O que vimos foi um time sem energia alguma para tentar completar o serviço. Eles até chegaram a encostar no placar no terceiro período, diminuindo a vantagem aberta pelos visitantes para três pontos, ou uma posse de bola. Mas não conseguiram ir além, a despeito de todo o apoio de sua torcida. Acabou o gás em quadra.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos

E daí recuperamos um argumento construído lá atrás, no primeiro jogo da série, há coisa de uma semana: a estratégia do Golden State de ‘deixar’ LeBron atacar era de curto prazo – e longo também. Algo pensado para vencer em 48 minutos, mas cujos efeitos deveriam surtir mais com o acúmulo de partidas. Bingo, narra o Everaldo. Essa é a diferença dos playoffs, minha gente. Steve Kerr e seus assistentes e jogadores certamente tiveram de respirar fundo para não perder isso de vista até que colhessem os resultados neste quarto embate, que, para eles, na verdade, tinha um status praticamente de sétimo e derradeiro. Tivesse Cleveland aberto 3 a 1, já dava para entregar a taça ao Rei de Ohio.

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

O Cavs se colocou nessa posição com muito esforço na defesa, com um espírito de luta impressionante.  Acontece que os mesmos desfalques que lhe empurraram meio que involuntariamente nessa direção extremamente agressiva na defesa agora fazem diferença de outra forma. David Blatt encontrou um modo de combater o Warriors. Mas um modo muito desgastante e sem muitos recursos no banco para variar a abordagem. Um Anderson Varejão faria uma diferença absurda agora. Kyrie Irving e Kevin Love, então? Nem se fala.

Kerr e seus atletas obviamente perceberam o que aconteceu em quadra. Se, no terceiro período, estavam suando frio perante a arrancada dos anfitriões, no quarto final viram Mike Miller , Kendrick Perkins e o calouro Joe Harris irem para a quadra, o que significava que, naquela rodada, a probabilidade de vitória já era zero. E o Golden State, por outro lado, lançava para um pivô pontuador como Marreese Speights pela primeira vez ap jogo, como que avisando: vejam só o que temos por aqui ainda.

Pivô, aliás, foi a posição decisiva para o jogo, de um modo diferente, devido a sua ausência no time californiano. Quando Kerr tirou Andrew Bogut do quinteto titular, talvez poucos pudessem imaginar que o treinador, na real, estava realmente disposto a excluir o australiano de sua rotação. Se formos avaliar o desempenho do gigantão até aqui, era algo justificável: no ataque, faz tempo que ele joga como um peso morto, mesmo. Na defesa, então, seu rendimento caiu de modo alarmante, sendo feito de gato e sapato por Timofey Mozgov e Tristan Thompson, sem físico para afastá-los da tábua ofensiva ou para oferecer uma consistente cobertura temerária para LeBron. Então não havia muito, mesmo, o que fazer com ele. Acontece que não foi só Bogut a sair de cena: se o antigo titular jogou três minutinhos desastrados (foi o nono homem da rotação, cometeu três faltas grotescas no final do primeiro tempo e nunca mais foi chamado), Festus Ezeli nem pôde tirar o agasalho. A figura do xerifão estava abolida. No lugar dela, mais um atleta em quadra, uma figura flexível, ágil, veloz para tentar acelerar as coisas pelo Warriors e mudar o ritmo das finais, até então todo favorável ao Cleveland.

E aí que, nos primeiros instantes, parecia um desastre. Os donos da casa abriram 7 a 0 e já forçaram um pedido de tempo. A intervenção serviu para acalmar as coisas um pouquinho que fosse no ginásio, mas também valeu para reforçar a mensagem que era aquele o plano tático a ser seguido, mesmo. E o primeiro quarto terminaria com uma vantagem de 31 a 24 para o Golden State. Pela segunda parcial seguida eles passariam dos 30 pontos. Um ótimo sinal: as coisas estavam no caminho certo.

Foi uma decisão que muitos podem julgar aparentemente óbvia por parte de Kerr, mas que não pode ser subestimada. Se os seus homens mais pesados não estavam dando conta no tranco, por que ficar com eles? Agora, se você tem um time que já venceu mais de 80 partidas na temporada, por que abrir mão da fórmula? Depois de duas derrota em três jogos e muito sofrimento, todavia, Kerr percebeu que era a hora de tentar algo novo. Se o Cavs estava levando a melhor nos rebotes e no jogo interno, que ele procurasse uma alternativa drástica a respeito: abaixou a estatura de seu time a apostou em mobilidade. Levou o embate tático – e físico – ao extremo.

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Ah, mas nos anos 60, 70 e 80 a NBA era muito mais dura: sarrafo, pancada, porrada… Pode usar o termo que for para designar violência. É um fato. Na liga de hoje, no entanto, existem outros meios de se estender um rival na lona: zigue-zagueando pela quadra. Correndo, se deslocando, desgastando, como um pugilista arisco. Com Andre Iguodala promovido ao time titular ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green, em vez de uma substituição simples* por Barnes, o Warriors abriu a quadra e forçou que seu adversário se cansasse ainda mais. Havia mais chão para se percorrer, para contestar. (*Nem tão simples assim, uma vez que Iggy não foi titular um vez sequer durante todo o campeonato.)

Por mais que, de início, Green, Barnes e Iguodala hesitassem de primeira, diante de um arremesso já livre, a movimentação de bola que realizaram acabou sendo ainda mais tortuosa para seus oponentes. Mais até que os 40% que a equipe converteu no final, com 12 conversões em 30 tentativas de longa distância. Mais um passe equivale a mais um pique para um time que já havia enviado, na partida anterior, um de seus principais defensores ao hospital. Matthew Dellavedova, vocês sabem, precisou tomar uma injeção há dois dias e se recuperou de desidratação grave na véspera. Não dá para questionar a garra do armador australiano. Mas isso tudo tem limite. Se as pernas não vão, não tem coração que caminhe sozinho.

Delly, o novo braço direito do Rei, ficou em quadra por 33 minutos e tentou lutar até quando podia. Incomodou Steph Curry novamente. Mas o MVP saiu de quadra com 22 pontos em 41 minutos, convertendo 8-17 nos arremessos de quadra e 4-7 de longa distância. Não foi uma atuação brilhante, mas seu time nem precisou disso. Pela primeira vez, o Warriors pôde se impor como coletivo também, com outros três atletas pontuando na casa de dois dígitos e mais dois com nove pontos.

Sim, movimentação de bola não causa apenas uma canseira. Também gera bons arremessos contra uma defesa que não teve mais a mesma velocidade de reação e combatividade. John Schuhmann, o analista estatístico do NBA.com, filtrou o seguinte dado: nesta série, quando a equipe californiana consegue trocar três ou mais passes, converte seus 46,6% dos seus arremessos. Com dois passes ou menos, despenca para 37,6%. Se for para computar apenas os chutes de longe, a desproporção fica de 38,9% para 25,9%.

Nesta quinta, a formação baixa e “total” (com cinco atletas em quadra que poderiam driblar, passar e se deslocar por todo o perímetro) abriu caminho para que a galera contribuísse. Foi o melhor jogo na série para Draymond Green, David Lee novamente produziu bem saindo do banco, Harrison Barnes tomou chacoalhadas de Tristan Thompson nos rebotes, mas ressurgiu nos arremessos e Andre Iguodala desafiou a lógica dos números e fezmais uma grande partida e para se estabelecer como o melhor jogador da série para os campeões do Oeste (22 pontos, 8 rebotes, 4 bolas de três pontos e defesa implacável para cima de LeBron em 39 minutos).

Essa é a vantagem a favor de Kerr. Se o treinador “novato” (coff, coff!) soube dosar sua rotação durante toda a temporada, é para que seus principais atletas tivessem fôlego nesses momentos decisivos. Então não havia por que limitar Iguodala ou os Splash Brothers. Agora é para gastar tudo o que tiver. E o Warriors tem muito mais o que explorar contra um Cleveland que depende horrores de LeBron James. Timofey Mozgov cumpriu o seu papel no confronto com os “tampinhas” rivais, com 28 pontos, 10 rebotes, 10 lances livres convertidos e 56,25% no aproveitamento de quadra. Tristan Thompson pegou carona com o russo e ratificou o domínio na tábua ofensiva. Foram 16 coletas no ataque contra para seu time e cinco a mais no geral. Nada disso adiantou num contexto em que o superastro foi, enfim, controlado.

O ala dessa vez terminou com apenas 20 pontos, 12 rebotes e 8 assistências. Apenas (tsc, tsc). Qualquer observador que beire o neutro ou o sensato – leia-se: qualquer um que não seja um radical ativista pró-Michael Jordan ou Kobe Bryant – vai perceber que o astro simplesmente não tinha forças mais para se impor em quadra. A carga pesou, e não teve nada a ver com emocional. Mesmo o bom tempo que teve para descansar entre o terceiro período e o quarto (intervalo + pedido de tempo de Blatt + 1hmin48s de bola em jogo) foi insuficiente para reabilitá-lo. LeBron não foi nem sombra de uma figura decisiva quando saiu do banco, enfrentando ainda mais dobras do que havia ocorrido nas três primeiras partidas. Errou cinco lances livres em 10, cometeu cinco faltas e não atacou o aro com a voracidade esperada. Nem mesmo quando tinha Curry como marcador.

All in. O Cavs deu tudo o que tinha, mesmo? A cavalaria está fora. Em termos de jogadores, não há muito o que se fazer – e aí que a presença de Mike Miller, Shawn Marion e Kendrick Perkins no banco de reservas não ajuda muito. Veteranos, campeões, líderes. Sim, e improdutivos. Com eles, não há fato novo, a não ser que Miller consiga acertar tantas bombas de três para compensar sua inépcia defensiva. Não quer dizer que acabou, que não há o que se fazer. Pode estender os minutos de um James Jones, reduzir os de JR Smith etc. Mas os nomes são estes que estamos vendo.

Blatt já expôs todas as suas cartas e muito provavelmente terá de seguir com elas até o fim, com a esperança de que os três dias de descanso (mas com uma longa viagem no meio) sejam o suficiente para recuperar o mínimo de energia e tentar mais uma vez um resultado dificílimo: sair da Oracle Arena com a vitória no domingo. Estão todos juntos nessa, mas agora com um oponente  ainda abarrotado de fichas – e revigorado – para derrubar.


David Blatt ainda não ganhou o título. Mas merece reconhecimento
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Giancarlo Giampietro

Blatt e LeBron, juntos, com 2 a 1 na série contra o Warriors

Blatt e LeBron, juntos, com 2 a 1 na série contra o Warriors

No auge da crise do Cavss, antes de Timofey Mozgov, Iman Shumpert e JR Smith, quando muitos especulavam uma possível demissão de David Blatt, como se fosse o futebol brasileiro, chamei um scout internacional da NBA para conversar. Não posso revelar quem, mas dá para garantir que, dentre os olheiros da liga, era um dos que poderia falar com mais propriedade para avaliar o que se passava em Cleveland, por ter acompanhado bem de perto mesmo os trabalhos do técnico na Rússia e em Israel. E aí? O que dizer de tanta pressão?

“O Blatt não fez nada até agora, então isso é normal”, afirmou ao VinteUm, com ênfase em nada. Mas como nada? O cara havia acabado ganhar uma Euroliga. Foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de Londres 2012. Ganhou um EuroBasket também, sem contar as dezenas de taças nacionais com o Maccabi. Foi o que interpelei. “Mas ele venceu o quê, mesmo?”, continuou. “Aquela competição em que o melhor jogador é… Quem? Alguém que não consegue nem jogar na NBA.”

Admito que me surpreendi com as respostas. Esperava uma voz que saísse em defesa de Blatt, até por vir de alguém baseado na Europa. Mas depois fui entendendo. O que o scout dizia não era necessariamente sua opinião. Só estava ecoando o que muita gente andava dizendo naquele ti-ti-ti longe das câmeras. “O problema não é o conhecimento tático dele. Isso ele tem de monte, embora a aplicação na NBA possa ser diferente. Pelo talento dos jogadores, as coisas podem até ser mais simples. Mas, para os americanos, ele é visto como um técnico novato, mesmo.”

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O que nos leva a uma discussão que não pode ser ignorada. Se, nos gramados, o eurocentrismo é o que impera, no basquete, obviamente, o eixo está na América do Norte. Mesmo nascido em Boston no dia 22 de maio de 1959, David Michael Blatt fzez high school em Framingham, cidade localizada naa região metropolistana de Boston que conta com alta concentração de emigrantes brasileiros, se graduou na prestigiadíssima Universidade de Princeton. Mesmo assim, é tido como um forasteiro na grande liga, por ter se formado como jogador e técnico em Israel, mesmo.

Tá. Mas qual o problema? Não vou deixar de implicar com aqueles que ainda julgam a liga americana como teatro, marketing etc. Isso é delírio. Só não dá para ser bitolado do outro lado também. Existe vida basqueteira fora dos Estados Unidos e da Association. Blatt, com seu currículo de mais de 15 anos na estrada, merecia mais respeito. Não o teve no início e, mesmo agora, também não vem reconhecendo o respeito devido. Ainda assim, está a duas vitórias de um título que seria histórico em diversos sentidos e poderia servir como um marco nessa questão.

O emprego ideal, e de muita pressão
A conversa com o scout europeu aconteceu em janeiro. O mês em que – vocês se lembram, né? – o astro tirou umas semaninhas de férias para, oficialmente, controlar dores no joelho e nas costas, mas que, sabe-se, também usou para arejar a cabeça, se distanciando de uma campanha frustrada, que transitava em torno dos 50% de aproveitamento. Antes de se afastar, o superastro regional deixava claras suas reservas em relação ao treinador nas conversas com jornalistas. Disse o olheiro: “Aí é o caso de conquistar o respeito de todos. Conquistar o respeito de LeBron. E LeBron o está testando“.

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Quando Blatt assumiu o Cavs, tinha perspectivas de melhoras no elenco, mas, internamente, a chance de contratação de LeBron ainda era considerada um tanto remota. O proprietário da franquia, Dan Gilbert, foi quem o escolheu pessoalmente, com James ou sem James, tinha como meta a classificação para os playoffs. Foi essa pressão que culminou na demissão de Mike Brown, inclusive. Em poucas semanas, no entanto, a realidade do treinador estreante (não dá para dizer “novato”) mudou profundamente. As expectativas bombaram.

Enquanto o time não se ajustava, com troca de indiretas entre as estrelas, sendo atingido no tiroteio, o treinador virou um saco de pancadas. Foi criticado em massa na mídia americana, sem o respaldo de seu principal jogador, teve de aturar notícias de que Tyronn Lue, seu braço direito, estivesse até mesmo pedindo tempo por suas costas. A coisa estava feia. Blatt entrou, então, em modo de autodefesa e passou a encarar os jornalistas nas coletivas. O que não ajudou em nada o cultivo de sua imagem, ganhando a pecha de arrogante – pois, para essa tal da imprensa, funciona assim: constrói-se uma tese que deve ser comprovada de qualquer jeito; se a fonte não acredita nessa tese, ou se a rebate, insiste-se; a fonte se irrita, e aí, pronto, já virou “pedante”.

Não era uma transição fácil de modo algum. Era o trabalho dos sonhos, mas também um emprego que você só pode vencer – e no qual tem tudo para perder. Digo: foi para a final? Ganhou o título? “Que bacaninha, parabéns”, ouve-se. “Com o LeBron, até eu”. Falhou?! “Ah, mas como pode, sua mula!?”, seria o discurso alternativo. Aliás, até mesmo Phil Jackson já foi desacreditado por só vencer com estrelas, a despeito de 11 anéis e do fato de Jordan, Pippen, Shaq e Kobe terem ganhado um anel pela primeira vez sob sua orientação. Desses, apenas Shaq conseguiu ser campeão dirigido por outro profissional. Seu nome? Pat Riley, alguém que já teve de lidar com o camisa 23 de perto.

Comissão técnica do Cavs é só sorrisos agora

Comissão técnica do Cavs é só sorrisos agora

É tudo LeBron, por causa de LeBron. Um jogador com muito poder e que sabe como usar esse poder. Um jogador inteligente demais, também fora de quadra, sendo já um verdadeiro homem de negócios, com plena noção de sua relevância. A ponto de ser consultado para tudo o que seus times fazem, bancando, em Cleveland, a contratação de JR Smith, por exemplo (“Deixe ele comigo”, disse ao gerente geral David Grrifin). Essa dinâmica muito provavelmente valeria para qualquer clube que o contratasse, mas dentro do Cavaliers, obviamente que a situação fica ainda mais delicada, por ter toda uma cidade – um Estado, na verdade – na palma da mão. Em Miami, uma figura como Pat Riley, com a ajuda de Dwyane Wade, ainda poderia contra-argumentar um pouco, tentar equilibrar o diálogo. Foi nesse ponto que o gerente geral David Grrifin teve uma atuação decisiva. Quando muita gente especulava uma demissão de Blatt já na virada do ano, o cartola veio a público e bancou o técnico, dando um recado a sua estrela. Eles teriam de se acertar.

Quando James retornou, o craque se comportou, maneirou e interrompeu o processo de fritura de um treinador com quem evidentemente não havia desenvolvido empatia. Passou a se empenhar muito mais em quadra e, quando os reforços chegaram, engatou a quinta e foi adiante. De arestas, retoques, só restou mesmo a relação de Kevin Love com o grupo. Com o acúmulo de resultados positivos, porém, mesmo esse tópico um tanto espinhoso – e que custou um Andrew Wiggins – foi contornado até o momento em que o ala-pivô sofreu uma infeliz lesão no ombro em choque com Kelly Olynyk, sendo afastado das quadras. Depois, foi a vez de Kyrie Irving cair pelo caminho, primeiro com uma preocupante tendinite no joelho direito e depois com uma fratura na rótula sofrida no Jogo 1.

Se, lá atrás, durante a entrevista, esse scout pudesse enxergar o que se passaria em maio e junho, certamente a aposta seria a de que o Cavs cairia preocemente nos playoffs. Um erro de contas do treinador contra o Chicago poderia até mesmo ter concretizado essa previsão, quando Blatt pediu um tempo que não tinha, mas a arbitragem não percebeu, até que Tyronn Lue interviesse e afastasse seu colega. A infração resultaria em falta técnica e posse de bola para oponente. Muito provavelmente o Bulls voltaria a Cleveland com um 3 a 1 no placar. Aí vai saber…

Nesta mesma partida, tivemos o último desencontro escancarado entre LBJ e Blatt, quando o técnico, para a jogada decisiva, estava pensando em usar o ala na reposição (faz sentido, em teoria, devido a seu tamanho, visão de quadra e habilidade no passe). LBJ, claro, se recusou e disse que iria para o arremesso. Matou uma bola incrível e empatou a série. Nas entrevistas, porém, cada um disse a coisa certa, sem ferir o ego do outro. Blatt também reconheceu seu ato impensado, agradeceu a Lue, mas foi um pouco além, ao dizer que esse tipo de coisa acontece. Comparou os desafios de sua profissão aos de um piloto de caça, pelo grande número de decisões que ambos precisam tomar. Virou piada na internet, com uma série de colagens o envolvendo com Tom Cruise e seu clássico da Sessão da Tarde, Top Gun. Isso foi no mês passado.

Com Steve Kerr, a bagunça seria a mesma?

O “se” não entrou em jogo, e o Cleveland varreu o Boston, bateu o Chicago em seis partidas e tornou a varrer um oponente, o Atlanta Hawks, justamente o time que não perdeu sequer uma partida em janeiro, com 17 vitórias consecutivas. E como ele fez isso?

O jeito azarão de ser
“Essa é a coisa mais incrível que a mídia americana provavelmente irá ignorar: este é o modo como as equipes do Blatt sempre avançaram na Europa. Foi a mesma história com o Maccabi no ano passado”, disse ao VinteUm outro scout da NBA, com base nos Estados Unidos, mas com bastante trânsito no mundo além das fronteiras da liga. Um fato: quem teve a oportunidade de acompanhar a Euroliga 2013-2014 sabe o tamanho da surpresa que foi a conquista do Maccabi Tel Aviv, derrubando, nos playoffs, Olimpia Milano, CSKA Moscou e Real Madrid – os dois últimos com orçamento muito superior.

Na final, o Real era amplamente favorito. Depois da zebra, a conclusão que se tirou foi a de que, no mano a mano, a única posição em que o time israelense superava o espanhol era no banco, no comando técnico. “Esse tipo de resultado acontece com boa frequência na carreira do técnico: o sucesso enquanto azarão”, diz o olheiro. Foi da mesma forma que sua Rússia derrotou a Espanha, na casa do adversário, para conquistar o campeonato europeu de 2007.

David Blatt saiu nos braços do povo

Aclamado pelos jogadores do Maccabi, campeão europeu em 2014

O fato de não ter tanta pressão assim não é o único fator que une as equipes passadas de Blatt com o Cavs, claro. É aqui que podemos falar mais sobre o impressionante trabalho tático dos campeões da Conferência Leste. A ênfase, natural, vai para a defesa da equipe. Mas Blatt será o primeiro a corrigi-lo se for para bater só nessa tecla. Ele insiste que não dá para separar o ataque da marcação. As coisas andam juntas, interligadas. (Phil Jackson já se cansou de repetir essa frase também, assim como outros profissionais de ponta. É um conceito básico, mas que a gente pode deixar escapar com facilidade.)

Com um elenco pouco entrosado, desde o início, , o treinador americano-israelense tomou uma decisão pragmática – e que se tornou ainda mais sensata devido ao acúmulo de desfalques. Desacelerou o jogo ao extremo. O Cavs tem o ritmo mais lento de todas as 16 equipes dos playoffs, amarrando o jogo do Golden State Warriors. A média da decisão tem sido de 93,7 posses de bola. Na temporada regular, sua equipe jogou para 94,8 posses – contra 100,7 dos campeões do Oeste. É preciso dizer que, nos mata-matas, o time de Steve Kerr já estava numa toada mais controlada (96,6 posses, mas ainda bem mais acentuada).

No ataque, a abordagem individualista em torno de LeBron não é para atender a caprichos do craque. Mas, sim, para reforçar esse controle do jogo, consumindo tempo a cada posse, metodicamente, fazendo de tudo para limitar as oportunidades de corrida do Golden State. Uma abordagem com mais trocas de passe, em velocidade, sem o talento de Irving e Love, talvez pudesse causar muitos turnovers ou arremessos desequilibrados, e, a partir daí, os contra-ataques. “É realmente fantástico. O Cavs não tem ninguém além de LeBron que consiga criar um arremesso quando ele sai de quadra”, afirma o scout americano.

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

Com uma estratégia simplista ao extremo, mas abusando do talento do maior jogador de sua geração, encontrou-se uma forma de diminuir os erros. E aqui temos a melhor defesa para o elevado número de arremessos do ala, algo que ele mesmo vem frizando: não é que queira chutar tanto. Na verdade, ele detesta isso esse volume e a baixa eficiência no seu aproveitamento. Mas esse é o único jeito que esta versão do time tem para atacar, na sua concepção – e na de Blatt. Ajuda ter um craque desses, mas não é que ele esteja num nível superior ao que fez pelo Miami nos últimos três anos. E não estamos vendo nenhum Dwyane Wade ou Chris Bosh ao seu lado hoje.

LeBron tem sido acionado cada vez mais de costas para a cesta, geralmente do lado esquerdo do garrafão. Executa mais alguns dribles e aí parte para o ataque. A eficiência não é a mesma dos tempos de Miami Heat, mas não se trata de acidente. Mesmo que a bola não caia, sua penetração já pode causar o mínimo de desequilíbrio defensivo, dependendo do quanto os pivôs se deslocarão na cobertura, ajudando Tristan Thompson e Timofey Mozgov na coleta de um cada vez mais provável rebote ofensivo, outro fator limitador para contragolpes. A ideia é não deixar o adversário correr de modo algum, mesmo que seu próprio ataque seja sacrificado. Num duelo franco, com tantos desfalques, não haveria como Cleveland encarar.

O jogo de transição foi o ponto mais forte do Warriors na temporada, com média de 20,7 pontos nesse tipo de ataque. Nas finais, o número caiu quase pela metade (11,7). No Jogo 3, desta terça, foram apenas quatro. Se Thompson ou Mozgov não conseguem a coleta ofensiva, os demais jogadores têm a ordem de recomposição imediata, e isso vem acontecendo religiosamente. O foco principal fica em Steph Curry, que não tem liberdade alguma a partir do momento que cruza a linha central. Matthew Dellavedova se tornou seu carrapato mais detestável, mas Shumpert também vai muito bem nessa missão de contenção em velocidade, devido aos seus reflexos e elasticidade, sendo um terror na linha de passes. Tristan Thompson também é um dos pivôs de maior mobilidade na liga, encarando a turma do perímetro sem suar muito, quando necessário.

Isso tudo cria um desconforto evidente para o Warriors, expressado em diversas ocasiões pelo próprio Steph Curry, balançando a cabeça negativamente, sem parar, em quadra. A novidade que Steve Kerr havia apresentado neste campeonato foi a combinação de uma defesa eficiente, a mais dura da liga, e jogo em velocidade, solto no ataque. Seu sistema defensivo está funcionando. A outra metade da conta é que não está fechando sem as oportunidades de contragolpe. Em meia quadra, Curry está jogando sob pressão constante, e o ataque como um todo não tem encontrado espaçou e fluidez diante do empenho e consciência tática de Dellavedova, a flexibilidade de Thompson e LeBron e a presença física de Mozgov na retaguarda. A equipe californiana talvez estivesse preparada para enfrentar outro adversário. Mas já houve tempo também para se ajustar a esta nova realidade.

E pensar que Steve Kerr poderia ter sido o chefe

E pensar que Steve Kerr poderia ter sido o chefe

As #NBAFinals, no entanto, não estão definidas. É preciso ver se o Cavs vai ter perna para manter esse ritmo defensivo, se o quarto período do Jogo 3 foi apenas um descuido, um relaxamento depois da construção de larga vantagem. A viagem de Oakland para Cleveland foi problemática para todos, e o intervalo para a quarta partida é mais curto. Iman Shumpert tomou uma bordoada no ombro, mas não sofreu lesão. Dellavedova teve desidratação e câimbras fortes, mas também deve ir para o jogo. A rotação fica ainda mais abalada, de todo modo. São mais preocupações para Blatt contornar.

Se concluir a virada, o treinador ‘forasteiro’ terá eliminado três dos quatro tmais bem votados na eleição de melhor da temporada (Brad Stevens, Mike Budenholzer e o comandante do Warriors) e quatro dos sete melhores (incluindo Tom Thibodeau). Juntos, eles ganharam 1.044 pontos na eleição, de 1.170 possíveis. Blatt ficou com três pontinhos, por três votos como terceiro melhor da temporada.

Que Blatt e Kerr  estejam se enfrentando é uma situação bastante curiosa, pelo fato de o ex-jogador, dirigente e comentarista ter feito uma proposta para que o técnico do Cavs se juntasse a sua comissão. Os dois chegaram a fechar um acordo verbal, até que Dan Gilbert entrou na história. Apesar de todos as dificuldades que está enfrentando, Kerr ao menos pode dizer que conhecia– e respeitava – seu oponente.