E o Knicks também disse “não” a Jeremy Lin
Giancarlo Giampietro
Se vocês me permitem, vou retomar aqui as 11 vezes que Jeremy Lin ouviu muitas vezes a simples e mais chata resposta que existe: “não”, desde que resolveu que dava para ser jogador de basquete. São tópicos que publiquei na encarnação passada (para formar a seleção dos rejeitados da NBA 2011-2012, mas que encontraram alguma forma de seguir na liga):
“1) Nenhum sino-americano pode ser um jogador de basquete que se preze.
2) Nenhum bom jogador de basquete que se leve a sério escolheria Harvard na universidade;
3) Nenhum jogador de Harvard pode jogar na NBA;
4) Ok, ele foi chamado para jogar Summer League pelo Mavs, encarou o John Wall por alguns minutos de igual para igual, mas isso não quer dizer que ele seja um jogador de NBA de verdade;
5) Tá, ele conseguiu uma vaga no Golden State Warriors, mas era só um golpe de marketing dos novos proprietários do clube cientes da grande colônia asiática na Costa Oeste californiana.
6) Ele mal jogou em sua temporada de calouro, é só uma mascote, mesmo. Daqui a um ano vai estar na liga chinesa esquecido. Quando precisou, o Warriors não titubeou em dispensá-lo para tentar a contratação impossível de DeAndre Jordan;
7) Veja só. Mal o Houston Rockets o contratou, já o dispensou também, porque não compensava bancar seu salário mínimo quando o time precisava do reforço de Samuel Dalembert no garrafão e tinha até um Johnny Flynn como terceiro armador;
8) Em Nova York, os técnicos mal sabiam seu nome na hora de chamá-lo para o final do treino coletivo. Esteve a poucos dias de ser chutado pela terceira vez em menos de seis meses e só sobreviveu devido a uma lesão inesperada do novato Iman Shumpert e porque Mike Bibby, mesmo saudável, ainda perdia na corrida para Baron Davis em recuperação de uma hérnia. Claro, então, que ele não servia para nada.
9) Ele fez 53 pontos nos dois primeiros jogos como titular, mas foram confrontos com o Nets e Wizards. Quê? Deron e Wall? Coitados, só jogam com pangarés em seus times.
10) “Afemaria, ele fez 38 pontos, sete assistências e quatro rebotes contra o Kobe e o Lakers em rede nacional???”… Bem… Mas… Vai passar. Deixa só o Carmelo voltar. Voltou e foi vaiado no começo por tirar a bola das mãos do armador.
11) Sem o técnico Mike D’Antoni, ele não é nada. É só produto de um sistema que infla os números dos atletas.”
Aí Lin lesionou o joelho e teve de abrir mão do restante da temporada. Estava mais ou menos recuperado para disputar o final da série contra o Miami Heat nos playoffs, mas optou e foi aconselhado a não voltar no sacrifício. Fecharam-se as cortinas, ele participou de algumas premiações, fez um pouco de farra, mas logo voltou para a Califórnia para trabalhar com seu velho técnico, enquanto não chegava a hora de negociar seu próximo contrato, sendo um agente livre restrito (qualquer clube poderia elaborar uma proposta, mas o Knicks tinha o direito de cobri-la).
Sabendo que tinha esse suposto trunfo em mãos, o clube nova-iorquino deixou que o mercado ditasse o valor do armador. Oooops: foi aí que abriram caminho para o endiabrado Daryl Morey, o padrinho dos nerds, compor uma oferta muito maldosa. No geral, algo em torno de US$ 24 milhões. Esmiucando, no entanto, vem o golpe: no terceiro ano, Lin ganharia aproximadamente US$ 15 milhões. Se fosse ‘só’ isso (para os padrões desse pessoal), talvez não houvesse problema. Mas, em 2014-15, o clube de Manhattan já estaria pagando uma fortuna para Carmelo Anthony, Amar’e Stoudemire, Tyson Chandler, Raymond Felton e os vovôs Jason Kidd e Marcus Camby (sim, os dois têm contrato de três temporadas). Colocando o salário do formando de Harvard na conta, a franquia teria de pagar multas por exceder a “o limiar da luxúria” – 😉 – de acordo com as regras da NBA. No fim, por baixo, Lin poderia custar uns US$ 40 milhões. E aí, pela primeira vez na história, Dolan resolveu pisar no freio.
O que eu penso disso?
Uma tremenda de uma bobagem.
Primeiro, o mais óbvio, por razões econômicas. Fora de Nova York, mesmo seu potencial de marketing pode cair consideravelmente. Mas o Knicks tinha tudo em mãos: um elenco forte que seguraria as pontas caso o jogador não atuasse conforme o esperado e, enquanto durasse qualquer fagulha da Linsanidade, ganharia aos tubos em acordos comerciais, venda de ingressos e sabe-se lá quantas mais fontes de renda para fazer um bom pé-de-meia e fechar a conta em 2015.
Agora, dentro de quadra, os detratores do armador gostam realmente de dizer que tudo não se passou de mais um feitiço de D’Antoni. Que aquele patamar de fevereiro deste ano, em que teve 20,9 pontos, 8,4 assistências e 4 rebotes por jogo, com aproveitamento de 47% nos chutes de quadra em 35,1 (e, não nos esqueçamos altíssimos 5 erros por partida também). Em março, enquanto trombava com Carmelo e via D’Antoni se despedir, os números já não foram os mesmos, embora nem um pouco desprezíveis: 14,6 pontos, 6,3 assistências, 3,3 rebotes e 3,8 erros em 30,1 minutos. Só não se esqueçam que Lin tem apenas 23 anos, é extramemente dedicado e sério e gosta de contrariar as pessoas.
“Honestamente, eu preferia ficar em Nova York. Mas meu princial pobjetivo no mercado era ir para um time que tivesse planos para mim e me quisesse”, afirmou o armador em entrevista ao site da Sports Illustrated. “Amo de morrer os torcedores de Nova York. O que Nova York fez por mim foi incrível e eu queria jogar para eles o resto da minha vida”, completou. Imagine a pressão para cima de Felton, Melo, JR Smith, Kidd e quem mais vestir o uniforme do Knicks na próxima temporada…
No Texas, o Rockets só queria uma estrela. Em termos de marketing, já a conseguiu. Pensando em produção, claro que ninguém sabe ao certo o quanto Lin pode render daqui para a frente, assim com o técnico Kevin McHale e o próprio Morey não podiam saber quando o mandaram embora em dezembro do ano passado. Dessa vez, porém, eles decidiram pelo “sim”.