Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte II
Giancarlo Giampietro
É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.
Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.
Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, ‘prévias’ (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.
Coferência Leste, lá vamos nós:
(E clique aqui para ler sobre o Oeste)
CENTRAL
– Bulls: vamos descobrir qual o impacto de se proporcionar liberdade, criatividade e poder de decisão para um elenco que venceu muitas partidas (e suou e se arrebentou) sob o pulso firme de Thibs. Essa, para mim, é a questão mais interessante, do ponto de vista de cultura esportiva, de toda a temporada. É uma questão até mesmo humanista. (Sim, gente, é nesse momento que você pode entrar com a referência básica na linha de “o esporte enquanto reflexo/espelho/laboratório da sociedade.)
– Bucks: é o time mais enigmático do Leste, ao meu ver. Essa molecada pode tanto avançar consistentemente rumo ao topo da conferência como pode engasgar com seu ritmo frenético, fazendo uma pausa para uma avaliação mais cuidadosa de quem é quem no elenco para saber exatamente o que eles têm no elenco. É o tipo de questão que qualquer jovem equipe tem de enfrentar depois de um primeiro ano com sucesso acima do esperado.
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– Cavaliers: se o time chegar pelo menos com 80% de sua capacidade técnica aos playoffs, acho que não vai ter desculpa: será o suficiente para brigar de igual para igual com qualquer rival, mesmo aquele que venha do Oeste. E aí vamos saber se o plano mirabolante de LeBron James de assumir o controle de uma franquia ainda como jogador pode vingar. Dependendo dos resultados, pode ser outro marco histórico da indústria esportiva (mais e mais astros exigindo poder pleno no futuro), ou o supercraque terá muito o que explicar sem apontar para uma ou outra falha de técnicos, dirigentes e companheiros que deveriam ter autonomia, mas, hoje, são basicamente seus subordinados
– Pacers: Larry Bird arrefeceu e decidiu mudar o curso do time em 180º, e Paul George não sabe exatamente como reagir e o que fazer com as novas instruções. Qualquer alteração drástica a esse ponto pede paciência para se avaliar. Em Chicago, Hoiberg ao menos tem as peças para fazer o jogo aberto e bonito. Já Frank Vogel vai ter de se virar com Monta Ellis, Rodney Stuckey e George Hill. Esse trio pode conviver em paz, ainda mais sabendo que a bola vai ficar mais com seu astro? Esses caras vão atacar de modo integrado ou vão adotar o sistema de “uma-vez-de-cada-um”? Com tantos possíveis tijolos forçados atirados rumo ao aro, o duvidoso novo conjunto de pivôs vai estar preparado para apanhar os rebotes? Vogel será deveras exigido.
– Pistons: de certa forma, está tudo aqui, finalmente. SVG mexeu, remexeu e conseguiu formar um time com peças bem similares ao que tinha em Orlando. Andre Drummond pode não ser um Dwight Howard defensivamente, mas, no ataque, vai atrair ajuda de marcação sem parar, liberando a quadra para os alas chutadores e para os ataques de Reggie Jackson. Só falta aqui um segundo playmaker como era Turkoglu. Então… será que agora vai!?!? Será que o Pistons voltará a ser um time digno de NBA (o que, no Leste, equivale basicamente a time de playoff)?
NORDESTE
– Celtics: Ainge está tentando, cavucando e, aos poucos, encontrando. Um Jae Crowder aqui, outro Amir Johnson ali, e Brad Stevens vai ganhando peças. Será que eles têm pique e fôlego para desafiar Toronto no topo da divisão?
– Knicks: muita gente, mas muita gente mesmo simplesmente acredita que Phil Jackson foi um tremendo de um sortudo em sua carreira de técnico por ter em mãos grandes lendas do basquete. O que é ridículo, uma vez que nenhum desses craques havia ganhado um título antes de conhecê-lo. Bem, de qualquer forma, agora como presidente do Knicks, o Mestre Zen ainda não conseguiu uma superestrela para fazer companhia a Carmelo. Então, para que o Knicks volte a ser competitivo, o que vai pesar é sua visão geral e seu olho de scout, confiando que os alvos alternativos que escolheu são os corretos. Vai dar triângulo? Ou melhor, vai dar jogo?
– Nets: sério… qual é a graça aqui? O que tem de divertido nesse time, agora que Brook Lopez nem visita mais a Comic Con!? Além de uma eventual troca pelo cada vez mais lento Joe Johnson, da estabilidade física de seu talentoso pivô e da histeria de Lionel Hollins, não sei bem o que pode gerar interesse em torno da franquia. O que é alarmante, considerando que Billy King vai ceder uma escolha alta de Draft ao Celtics antes de tentar seduzir algum agente livre com os cacos de um projeto estilhaçado.
– Raptors: depois da tremenda decepção dos últimos playoffs, Masai Ujiri tinha uma chance de implodir tudo e resgatar a ideia de repaginação do clube, abortada em meio a uma inesperada guinada. Ou, poderia fazer uma análise fria do que faltava ao seu time, acreditando que, com essa base, é possível, sim, chegar ao título do Leste. Ao dar US$ 15 milhões a DeMarre Carroll, fica claro o caminho que preferiu seguir, de modo que não há muitas dúvidas aqui. É preciso saber se, com um novo estafe e reforços de mentalidade cascuda, Dwane Casey vai conseguir montar uma defesa forte e sustentável.
– 76ers: entre os que pregam a frieza de cálculos e experimentos e a necessidade natural de se querer competir. qual o limite? Pelo bem de Brett Brown, qual o limite para se estender esse dilema? Não há a menor possibilidade de prolongar este Processo por mais um ano, certo? CERTO!?
SUDESTE
– Hawks: se até o Bulls e o Pacers quiseram ficar mais leves e velozes, será que o Hawks já estava light demais? Entra em cena Tiago Splitter, com seu impacto nos pormenores do jogo e da defesa, para fazer uma rotação, em teoria, perfeita com Millsap e Horford. Só é preciso checar se Bazemore, Sefolosha e Holiday conseguem segurar as pontas no perímetro para que o catarinense não seja exigido demais para compactar a defesa.
– Hornets: a lesão de Kidd-Gilchrist dói demais, a concorrência parece mais ajeitada, mas o Leste ainda é o pálido Leste, e algum clube precisa se dar bem por aqui. Caberá a Steve Clifford chegar a um total que valha mais que a soma de suas peças, remediando a defesa e confiando que o sofrível ataque será animado pela chegada de Batum, Lin, Kaminsky e, quiçá, Jeremy Lamb, em sua última chamada.
– Heat: não vejo meio termo aqui: ou esse time vai arrebentar, ou vai se arrebentar. Qual alternativa será a correta, então? a) todos jogam (Wade e Bosh especialmente), Dragic e Wade dialogam, Whiteside é de verdade, e Spoelstra terá condição de preparar um bom menu. Ou… b) com um monte de peças de durabilidade suspeita, as lesões não cessam, o time não consegue ganhar um conjunto, e, em tempos de dificuldade, os egos tomam conta da bola?
– Magic: os jovens de cabeça boa agora têm um mentor com histórico positivo nos primeiros anos de trabalho, podendo tirar o máximo de sua ética de trabalho. Ainda assim, sabe do que esse time vai precisar, se quiser entrar na briga pelos playoffs? Justamente de seu jogador com temperamento mais volátil. Sim, Mario Hezonja! O jovem croata será um desafio para Skiles durante a jornada, uma vez que, suponho, Fournier não será o bastante para desafogar o ataque.
– Wizards: tudo parece muito bem encaminhado aqui. Wittman está decidido a aplicar na temporada regular o ritmo acelerado bem-sucedido de algumas semanas de playoffs. Quando o Wizards voltar ao mata-mata, só não terá aquele tal de Paul Pierce para chamar a bronca. E aí será a vez de John Wall e Bradley Beal darem mais um passo, na tentativa de conquistar Kevin Durant.