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Com Érika bloqueada, Brasil perde para tchecas na estreia
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Giancarlo Giampietro

Érika, num raro momento em que não estava completamente cercada

Érika, num raro momento em que não estava completamente cercada

O Brasil escala uma das melhores pivôs do mundo, uma comodidade daquelas que toda equipe sonha em ter. Claro que estamos falando de Érika. O problema é que, ao mesmo tempo que possui um luxo desses, a equipe, independentemente do técnico e do elenco de apoio ao redor da jogadora, segue sem usá-la de modo apropriado ou eficiente.  Neste sábado, na rodada de abertura da Copa do Mundo feminina, a República Tcheca praticamente tirou a estrela do Atlanta Dream de jogo e caminhou para uma vitória segura por 68 a 55, pelo Grupo A, em Ankara.

Essa coisa de acionar a pivô é uma questão crônica da seleção nos últimos torneios, independentemente de quem a está acompanhando e orientando. É verdade que as adversárias da estreia marcaram muito bem a linha de passe, diversas vezes posicionando suas pivôs frontalmente, conseguindo a proeza de ''esconder'' a gigante brasileira. Mas aí é o caso de procurar alternativas e não se conformar com a contestação inicial. Poderia se tentar fazer passes rápidos para o lado contrário, colocando a pivô, após um giro, de frente para a cesta. Ou um corta-luz entre as próprias pivôs para liberá-la por instantes preciosos para a recepção do passe. Qualquer truque que possa dar uma folga para a excelente jogadora que foi limitada a apenas oito arremessos em 29 minutos, convertendo três deles. Ela terminou com 8 pontos e 10 rebotes (cinco ofensivos e cinco defensivos. Impensável uma coisa dessas.

Falta chute de longa distância também ao redor de Érika, que acaba ficando muito visada. Nas ocasiões em que a seleção conseguiu ativá-la – seja em descidas mais rápidas para o ataque ou em situações que a grandalhona conseguiu estabelecer posição, as tchecas não titubeavam em mandar uma dupla ou até mesmo tripla marcação. É algo a que a jogadora está habituada, em torneios de Fiba, já que é uma verdadeira força no garrafão, internacionalmente reconhecida. Os oponentes vão fazer de tudo para segurá-la, e o Brasil ainda não encontrou formas de ajudá-la. Angustia.

O arremesso de fora poderia dar um alívio para Érika, mas não funcionou bem na estreia

O arremesso de fora poderia dar um alívio para Érika, mas não funcionou bem na estreia

Nesse ponto, também chama a atenção o modo como Damiris vagou pela quadra, sem muito propósito no jogo. Para um talento desses, alguém que pode realmente efetivamente atacar de dentro para fora, ou de fora para dentro, é um desperdício enorme. O quanto isso tem a ver com alienação tática ou de passividade da jogadora? Uma combinação das duas? Fato é que a ala-pivô poderia interagir muito mais com sua companheira de WNBA – e não necessária ou obrigatoriamente com o high-low que Barbosa tanto adorava, com a famosa conexão Tuiu-Alessandra. Damiris jogou por praticamente 25 minutos e estava zerada até o finalzinho, quando anotou seus dois únicos pontos num tiro de média distância na cabeça do garrafão.

Sem que as duas pivôs, suas jogadoras mais renomadas e qualificadas, produzissem, o ataque basicamente entrou em colapso, convertendo baixíssimos 26% nos arremessos de quadra (18-69), com 13-53 nas bolas de dois pontos. Coletivamente, o time realmente não rendeu, e até mesmo a transição foi inexistente, com apenas sete pontos de contra-ataque, contra dez das adversárias. Pode falar de nervosismo, juventude etc., mas isso não explica tantas falhas. O plano de jogo também deixou a desejar.

Em termos individuais, Tatiane Pacheco chamou a atenção. Embora não tenha terminado com números excepcionais (3-10, 8 pontos e 2 assistências),  talvez também pudesse ser mais explorada. A ala de 23 anos foi das poucas em que se mostrou confortável em atacar a partir do drible, com boa envergadura, controle de bola. Depois de substituída no primeiro quarto, demorou para voltar para a quadra. Dá para entender por um lado, já que as alas Jaqueline e a caçula Isabela Ramona foram muito bem na defesa, colocando mais pressão em cima da bola, ajudando a desestabilizar a articulação de jogadas das tchecas, forçando turnovers, que estavam muito tranquilas no primeiro quarto. Mas a ideia seria combinar, equilibrar essa energia com a técnica de Tatiane.

A equipe europeia tem muito mais rodagem, mas não era só isso. Sua linha de frente titular, com Vesela, Burgrova e Viteckova, é muito homogênea, com atletas espichadas e leves, que jogam flutuando com naturalidade. Um simples corta-luz fora da bola era o suficiente para liberar uma dessas atletas para o chute. Já seria um pouco difícil marcar essa bola devido à maior estatura de duas delas comparada com as brasileiras, e a retaguarda ainda falhou em algumas situações de troca, permitindo o arremesso de média distância livre. O jeito foi atacar quem estivesse driblando, mesmo, com as duas alas reservas fazendo bom papel nesse quesito.

Por falar em reservas, o técnico Lubor Blazek pouco usou seu banco. Quatro atletas não ganharam nem um segundinho sequer de ação, enquanto, das oito utilizadas, apenas seis ganharam mais de 10 minutos de jogo – a armadora Sedlakova ficou em 9min54s, enquanto Hejdova recebeu apenas 5min40s. A rotação dificilmente poderia ser mais enxuta que essa. Do outroo lado, Zanon colocou todas as suas 12 jogadoras em quadra, e apenas três delas ficaram abaixo dos dez minutos, numa situação reversa.

Esses números levam a crer que um ritmo mais intenso das brasileiras, com mais pressão quadra inteira, com uma defesa mais adiantada, mesmo, pudesse ter surtido mais efeito, para tentar cansar as oponentes. Claro que o jogo corrido não favorece o basquete de Érika. Mas, se em situações de meia quadra, a seleção não sabia explorá-la, o que fazer?

Faltou mais diálogo entre Érika e Damiris para a seleção

Faltou mais diálogo entre Érika e Damiris para a seleção

No jogo cadenciado, a República Tcheca sobrou. Não que seu time fosse lento, arrastado. Pelo contrário. Considerando a estatura de seu núcleo forte, elas eram bem ágeis, e isso surtiu todo o efeito para sua produção ofensiva, com 50% nos tiros de dois (23/46) e 45% de três (5/11). Isto é, quando não desperdiçavam a posse de bola (foram 19 no jogo),  concluíam com categoria. Percebe-se um melhor preparo técnico das adversárias e a resultante coesão que se ganha com isso. O ataque sai com muito mais fluidez devido à maior versatilidade.

Nem mesmo uma torção de tornozelo que Burgrova atrapalhou essa movimentação, já que a ala-pivô Alena Hanusova, de apenas 23 anos, executou ainda melhor  fazendo um belo terceiro período em seu lugar. Com 15 pontos, 6/8 nos arremessos em 26 minutos. Viteckova marcou 13 pontos, sendo nove deles em disparos de fora, num grande diferencial. Burgrova terminou com 12, enquanto Vesela teve 11. Quer dizer, foram 41 pontos distribuídos para esse quarteto.

*   *   *

Sei que existe uma espécie de celeuma a respeito da pivô Clarissa, se ela só serve para o basquete nacional Etc. Sinceramente, não vejo razão para discussão. Claro que, pela baixa estatura, ela acaba tendo dificuldade para pontuar próxima do aro, especialmente contra um time tão espichado como o da República Tcheca. Mas sua dedicação e energia em quadra são qualidades indispensáveis. Nesta estreia, ela conseguiu simplesmente oito rebotes ofensivos. Além disso, quando pôde atacar a cesta de frente no segundo tempo, teve sucesso, usando sua velocidade em investidas de dribles curtos, com trilhas bem pensadas. Somou 10 pontos e 10 rebotes em 21 minutos.

*   *   *

Próximos jogos: Espanha, neste domingo (15h15 de Brasília), e Japão, na segunda-feira (8h). Se derrubar as espanholas é mais complicado, a missão é derrotar as japonesas para conseguir uma vaga nos mata-matas. Com menor número de participantes que a masculina, a Copa feminina tem um formato diferente. Os primeiros colocados de cada grupo se classificam diretamente para as quartas de final, enquanto os segundo e terceiro lugares dão vaga em uma fase que vamos chamar de oitavas de final, mas não é necessariamente isso.


A ciranda de Marquinhos, Flamengo e Wizards. Como faz agora?
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Giancarlo Giampietro

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Primeiro foi tratado como ''rumor''. Depois, como furada. Mas agora parece que está acontecendo mesmo: os repórteres Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, parceiros aqui do UOL Esporte, acabam de noticiar que Marquinhos está, mesmo, em negociações avançadíssimas para assinar com o Washington Wizards.

De modo que este é um post complicado de escrever, mas importante, já que tem a ver com o universo do basquete e o do jornalismo, com notícias (ou boatos?), desmentidos (ou dissimulações?)… Enfim, todas as artimanhas que a profissão sempre ofereceu para repórteres e fontes, que ficam ainda mais complicadas em tempos de Internet. Vamos lá, então, relatar o que está acontecendo, em ordem cronológica:

Quinta-feira
O jornalista italiano Emiliano Carchia, que pilota o site Sportando, referência em notícias do basquete europeu e que também mete a colher aqui e ali no mundo da NBA, soltou uma bomba que agitou o basqueteiro brasileiro – e o flamenguista em particular. Emiliano cravou: Marquinhos havia acertado um contrato de um ano com o Washington Wizards e estaria pronto para viajar no mesmo dia.

Acontece que, naquele exato momento, o Flamengo estava treinando na Arena HSBC no Rio de Janeiro, na véspera da disputa da Copa Intercontinental contra o Maccabi Tel Aviv. Que hora, hein? Finalizada a sessão, Marquinhos desmentiu, disse que não tinha assinado contrato nenhum. O Flamengo não estava sabendo de nada. O agente do atleta, em contato com o jornalista italiano, reforçou as negativas, pedindo um desmentido no site. Emiliano seguiu a linha de ouvir o outro lado e publicou sua nota de noite. O pequeno texto, porém, se encerrava com a informação de que uma fonte sua assegurava que o ala brasileiro e o time da capital norte-americana tinham um acordo acertado.

Sexta-feira
Marquinhos vai para a quadra normalmente com o Flamengo, escalado no time titular ao lado de Laprovíttola, Marcelinho e Walter Herrmann, trio que também participou da Copa do Mundo. Torneio no qual o lateral jogou muita bola, apresentando uma intensidade bastante rara para quem acompanha sua carreira desde os tempos de Vasco da Gama, Mogi etc. Obviamente que o desempenho chamaria a atenção de olheiros – o atleta sempre foi um prospecto de nível internacional, descolando contrato com o então fortíssimo basquete italiano cedo em sua carreira, sendo draftado pelo New Orleans Pelicans-então-Hornets e tal. Poderia estar no basquete europeu há tempos, em clubes de ponta, mas, devido aos filhos, preferiu o conforto de casa, fazendo boas campanhas por Pinheiros e, agora, Fla.

Contra o Maccabi, o ala não teve o desempenho mais eficiente (4-12 nos arremessos, 11 pontos, 4 rebotes, 2 roubos de bola, 2 turnovers em 29 minutos), mas jogou duro, com a mesma pegada que havia demonstrado na Espanha. Não foi sua melhor partida, mas jogou bem, passando aquela impressão (de sempre) de que pode ser muito mais utilizado, ainda mais quando está empenhado em partir para a cesta.

Ao final da partida, uma derrota por 69 a 66, Marquinhos foi o escolhido pelo repórter Guido Nunes, do SporTV, para fazer os primeiros comentários sobre o jogo. Quando questionado sobre os reforços rubro-negros para a competição – especificamente o argentino Walter Herrmann, que vem para disputar toda a temporada, e o norte-americano Derrick Caracter, contratado especificamente para o Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos –, o brasileiro não dobrou a língua e foi crítico. Disse que os gringos não jogaram bem e que o técnico José Neto deveria ter usado um ''time que se conhece''. Assim, na lata. Essa coisa de contratação pontual, para um punhado de jogos, tem histórico bastante duvidoso. Os cruzeirenses que o digam.

O que nos leva ao grande hit da banda sueca The Hives, que já tem mais de dez anos:

Sábado
Lá vêm Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida para basicamente confirmarem a bomba que Emiliano Carchia havia soltado na quinta: sim, Marquinhos está negociando com o Washington Wizards. Nenê teria reforçado a indicação de seu companheiro de seleção, que está inclusive pesquisando sobre escolas na capital norte-americana para inscrever as filhas. Quer dizer: o Sportando pode ter meio que errado ao dizer que o contrato estava assinado e que já viajaria na quinta. Mas também estava meio certo, no sentido de que parece que está tudo acertado entre as partes, restando apenas a tinta no papel.

Domingo
E aí? Faz como?

Lembrando que não é a primeira vez que Marquinhos se envolve nesse tipo de tiroteio público. Como sabem Guerrinha e Flávio Davis, assistentes da seleção na gestão de Lula Ferreira. Por falar nesta fase da equipe nacional, mais especificamente de 2007, nem sempre o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas, né? Além do mais, até Rubén Magnano, um entusiasta do jogador, teve suas rusgas e lamúrias. O que não quer dizer que ele seja um atleta problemático. Marquinhos é simplesmente um atleta que não se importa com o microfone e costuma falar o que dá na telha.

O ala está falando por conta própria? Sua opinião foi, digamos, pontual? No sentido de que só fez uma crítica ao basquete apresentado pelo(s?) reforço(s?) naquela sexta-feira específica e que seu treinador deveria se ater a um time mais bem entrosado? Ou seu comentário tem a ver com algum ressentimento pela contratação de última hora de Caracter? E isso reflete de algum modo a opinião geral do vestiário, ou pelo menos de alguns companheiros? Se há um desconforto, isso o teria motivado a abrir o bico em rede nacional, uma vez que seu compromisso com o clube já está chegando ao fim?

São as questões que precisam ser respondidas agora.

O Flamengo, basicamente, precisa vencer o Maccabi por quatro pontos para ganhar um título histórico. É mais do que plausível isso. O time israelense comprovou na primeira partida sua vulnerabilidade, sua falta de entrosamento. Foi salvo pelo caminhão de chutes de três desperdiçados pelo adversário e pelas estripulias de Jeremy Pargo.

Agora, porém, as dificuldades cresceram. E o que será mais complicado de se resolver: lavar a roupa suja com Marquinhos, treinar os chutes de três pontos ou anular Pargo?


Flamengo erra um caminhão de bolas de 3 e perde 1ª final
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Giancarlo Giampietro

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Foi apenas por  três pontos: 69 a 66. O Flamengo perdeu para o Maccabi Tel Aviv por um placar reduzido desse, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, na primeira final da Copa Intercontinental. Quer dizer: a equipe carioca tem totais condições de virar o resultado na segunda partida, domingo, com base no saldo de pontos – numa fórmula de competição esdrúxula, independentemente das limitações do calendário internacional, convenhamos.

Então, tudo bem. Acontece, né?

Hm… Nem tanto: as condições poderiam ser muito mais favoráveis para o time rubro-negro no segundo jogo não fosse uma jornada completamente equivocada, desastrada e inexplicável nos arremessos de longa distância.

Pois, que coisa: se, na defesa, a equipe de José Neto fez o dever de casa, fiscalizando da maneira devida, exemplarmente, os arremessos de três pontos de seu adversário, no ataque ela se entregou desta forma. Para deixar mais claro contra-senso: de um lado, trabalhou seriamente para limitar os chutes de fora; do outro, achou que poderia resolver a partida do mesmo jeito.

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

E não é que o Maccabi tenha repetido a dose de seu rival e contestado as tentativas de longa distância flamenguistas. Em diversas ocasiões, principalmente no primeiro tempo, os donos da casa simplesmente se contentaram em brecar na linha perimetral  para mandar ver. Sem sucesso: o aproveitamento geral na noite foi de apenas 4-31 neste tipo de bola. Apenas 12,9%. Com um rendimento desse, não vamos falar de azar ou detalhes, vamos? Sinceramente.

''A verdade é que o time deles fechou muito o garrafão e não tivemos muita saídas. Agora é assistir ao vídeo e ver no que pode melhorar'', afirmou Marquinhos, ao SporTV, que anotou 11 pontos em 29 minutos, convertendo 4 de 12 arremessos, em 29 minutos. Titular da seleção brasileira na Copa do Mundo, o ala foi um pouco mais comedido em seus disparos: 1-4 de longa distância.

Já o Maccabi terminou também com pífios 24% nos arremessos de três pontos, matando apenas 5-21, algo que não valeria nunca um título de Euroliga. Quer dizer: José Neto conseguiu passar a mensagem aos seus atletas de que esse jogo exterior precisaria ser contido. O que deixa perplexo é o fato de, na outra faceta, seus ateltas se perderem justamente da mesma maneira.

Que o Maccabi tenha forçado o Flamengo para os arremessos de fora não é uma surpresa. É um time que não tem tanta estatura ou envergadura, mas que preenche seu garrafão da maneira apropriada. O problema? O time brasileiro se perdeu em uma avalanche de arremessos sem a menor paciência para trabalhar a bola, nem mesmo quando tinha vantagem no placar.

Neste quesito, um jogador com a experiência de Marcelinho Machado precisaria ser um líder, para acalmar a situação. Acabou tendo uma atuação ainda mais lamentável no Rio, errando todos os seus nove chutes, incluindo todos os oito de três, em 19 minutos. Mas não dá para falar apenas do camisa 4. O armador argentino Nicolás Laprovíttola também se atrapalhou todo com apenas uma cesta de longa distância em nove que tentou (2-12 no geral). Vitor Benite, muito mais jovem, explosivo e habilidoso que seu veterano capitão, ficou com 0-5 (fez 9 pontos em 16 minutos, sendo muito mais eficiente quando partiu para os chutes mais de perto (3-3 nas bolas de dois…).

Aqui, cabe o devido parêntese: ambos os times estão em fase de pré-temporada. Estão desenferrujando, recuperando o melhor ritmo de jogo, buscando um melhor entrosamento. O jogo teve, mesmo, cara de amistoso, algo que pode mudar no domingo, com expectativa de público maior no ginásio da Barra. Mas, se for para falar disso, os próprios flamenguistas admitem que isso seria uma vantagem ao seu favor, uma vez que têm apenas dois atletas para assimilarem – Walter Herrmann e a contratação pontual Derrick Caracter –, enquanto, do outro lado, os europeus mudaram mais da metade de sua rotação e ainda estão assimilando os conceitos de um novo treinador. Uma combinação de fatores que abre incógnitas sobre o desenvolvimento do time israelense, dando mais chances para o Flamengo.

Essas chances ficaram evidentes no jogo desta sexta-feira. O campeão brasileiro e latino-americano vencia ao final do terceiro quarto por cinco pontos. A vantagem chegou à casa de duplos dígitos na etapa inicial, mas as precipitações no ataque permitiram que o Maccabi se mantivesse no jogo. Algo que se mostrou fatal no último quarto, quando a boa e velha combinação de um armador explosivo e matreiro com um pivô atlético fazendo a limpa na tábua ofensiva voltou a funcionar.

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Com Tyrese Rice infernizando a defesa de seus adversários e Alex Tyus desequilibrando na rebarba, o time israelense faturou a Euroliga de modo surpreendente em Milão, derrubando o CSKA pela semifinal e o grande favorito Real Madri pela final. Na troca de temporada, com o mercado russo interferindo, Rice se mandou, mas Pargo retornou para assumir sua vaga. Único jogador com experiência de NBA no elenco de Tel Aviv, o armador foi um terror em quadra, com 21 pontos em 30 minutos, matando 8-14 chutes de quadra, castigando a defesa do Fla tanto dentro como fora. Tyus se viu mais limitado, com apenas 23 minutos, mas contribuiu com 9 pontos e 5 rebotes, dois deles ofensivos.

Com o norte-americano ao centro e quatro atletas abertos, o Maccabi lembrou em muito mais o time que levou o título europeu na temporada passada, ao contrário da formação tradicional que usou no início do confronto, com o pesado e nada efetivo Aleks Maric tendo a companhia de Brian Randle no garrafão. No segundo tempo, o australiano Maric ficou grudado no banco de reservas, e os israelenses ganharam em agilidade e mobilidade para fazer uma defesa mais compacta e também pontuarem de modo mais diversificado. Saiu um poste e entrou outro atleta capaz de criar a partir do perímetro, espaçando a retaguarda flamenguista.

Os times foram se estudando, entendendo. Por melhor que seja o scout feito na véspera, nada melhor do que ver o embate empírico de suas peças, ainda mais com a distância geográfica e esportiva que existe entre a Liga das Américas e a Euroliga. Levando este ponto em consideração, o deslize do Flamengo é ainda maior, considerando o cenário propício para desbancar os favoritos.

Também ao SporTV, ao final do jogo, o armador MarQuez Haynes, que anotou 5 pontos em 13 minutos, reconheceu que cada time agora conhece melhor o seu oponente. Se formos pensar assim, o destempero rubro-negro da linha de fora talvez até possa, enfim, jogar ao seu favor. Capaz de o Maccabi não votar mais fé nenhuma neste fundamento. Aí, de repente, a sorte vira de lado. Foram apenas três pontos de vantagem para os israelenses no primeiro jogo. Três pontos não são nada no basquete.

*  *  *

Em sua entrevista pós-jogo, Marquinhos também disse o seguinte: ''O Neto tem que colocar em quadra quem ele conhece''. Sem explanar muito, fora de contexto, parece um jab de direita em direção ao americano Caracter, contratado de última hora para a Copa Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA. O pivô jogou por quase 22 minutos e somou 10 pontos e 11 rebotes, sendo, ao lado de Olivinha, um dos atletas mais eficazes do Fla. Talvez não seja uma crítica, então. Mas tem a história do Cruzeiro, no futebol, sempre para ser contada.


A Copa Intercontinental em 4 textos
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Giancarlo Giampietro

Taças e taças

Taças e taças

Amigos, com certo atraso, mas foi: saíram quatro textos no blog de prévia para a Copa Intercontinental que começa a ser disputada nesta sexta-feira, entre Flamengo e Maccabi Tel Aviv. Para os que entram de gaiato no navio, é o torneio que foi resgatado no ano passado, com grande participação da direção do Pinheiros, para colocar frente a frente o campeão da Liga das Américas com o vencedor da Euroliga, campeonato que comentei no ano passado na íntegra, pelo canal Sports +. No ano passado, deu Olympiakos. Abaixo, o material preparado para o evento:

A Copa Intercontinental em 4 textos

Copa Intercontinental e suas incógnitas: chance para o Flamengo
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=6918

Garimpando: conheça o Maccabi Tel Aviv jogador por jogador
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=7030

Maccabi joga sempre pressionado. Ainda mais de técnico novo
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=7039

Flamengo acerta contratação pontual para o torneio. É válido?
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=6976


Garimpando talentos: conheça o Maccabi jogador por jogador
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Giancarlo Giampietro

Maccabi Tel Aviv 2014-2015

Maccabi Tel Aviv 2014-2015, sem o Baby Shaq grego na foto : (

O Maccabi Tel Aviv tem torcida, grana e um ginásio sensacionais. Um nível de estrutura que nenhum clube brasileiro dedicado ao basquete ainda está perto de atingir. É uma verdadeira potência europeia, mas que vem sofrendo um pouco nas últimas temporadas para sustentar seu status para além da tradição. Leia-se: com resultados.

Mas eles não são os atuais campeões, cara pálida?

Sim, só vão jogar a Copa Intercontinental contra o Flamengo por isso, mesmo. Ta-ta-ta-tum-pá! (Virada imaginária de baterista.)

Agora tenha em mente o seguinte: entre 1999 e 2006, eles ganharam a Euroliga três vezes e só ficaram fora do Final Four em 2003 – o ano em que Anderson Varejão foi campeão pelo Barcelona, aliás. Nos sete campeonatos seguintes, o baque: só terminaram entre os quatro melhores apenas duas vezes, passando em branco, até encerrarem o jejum em 2014.

Pargo foi companheiro de Varejão por alguns meses no Cleveland. Em Maccabi, pode voltar a ser rei

Pargo foi companheiro de Varejão por alguns meses no Cleveland. Em Maccabi, pode voltar a ser rei

Por mais que tenham a tradição e uma base fervorosa, é extremamente complicada a concorrência financeira com outros centros, no que se refere a contratações de grandes estrelas. No elenco que veio ao Rio de Janeiro, não há sequer um atleta que tenha disputado a última Copa do Mundo. Em termos de NBA, apenas o armador Jeremy Pargo jogou por lá, comparando com nove e quatro, respectivamente, do Real Madrid.

Russos e turcos tendem a rapelar o mercado, assim como a dupla Real-Barça, ano após ano. Para se manter com chances no mais alto nível do basquete além das fronteiras da liga americana, então, o time faz ótimo trabalho de prospecção com nomes geralmente  alternativos, que tendem a se destacar lá para depois saírem em busca de um cheque mais vantajoso.  Um processo que voltou a acontecer depois do título europeu, um  fator que inflacionou contação de seus atletas.

Lá se foram as duas figuras instrumentais de seu ataque, a dupla de armadores americanos Tyrese Rice (Kimkhi Moscou) e Ricky Hickman (Fenerbahçe). Depois de fazer péssima primeira fase, Rice cresceu durante o campeonato e se tornou o MVP do Final Four da Euroliga, com atuações espetaculares na semi e na final. É um armador baixinho, mas explosivo, que infernizou a vida dos Sergios do Real. Rodríguez e Llull simplesmente não conseguiram lidar com ele. Já Hickman, depois de uma longa jornada, foi a força criativa mais estável do clube durante todo o campeonato, também criando muito a partir do drible.

Outro que saiu foi o pivô Shawn James, que ficou fora praticamente de toda a temporada por conta de uma cirurgia nas costas, mas era o principal defensor da equipe quando em forma – excepcional na cobertura vindo do lado contrário. Ele migrou para o Olimpia Milano. Já o versátil ala australiano Joe Ingles, depois de anos de namoro com a NBA, foi para o altar com o Los Angeles Clippers.

A lista segue. Podem somar também mais duas baixas, digamos, casuais. O veterano ala-pivô David Blu, outro atleta decisivo para o título europeu, tendo anotado 29 pontos nos dois jogos do Final Four, com 53,8% nas bolas de três, se aposentou. Além de gatilho, Blu era um dos líderes da equipe, de tantos troféus que conquistou por lá. Já o pivô Sofoklis Schortsanitis, única referência de garrafão da equipe, está afastado das quadras devido a um glaucoma – um alívio para os flamenguistas, especialmente seus pivôs, que já não precisam estocar analgésicos em casa, mas uma pena para o público em geral, que perde a chance de ver na arena um dos jogadores mais singulares do basquete mundial.

Rice, de bandana, já se foi, assim como Ingles (d). Tyus (e) ficou

Rice, de bandana, já se foi, assim como Ingles (d). Tyus (e) ficou

Então quem sobrou? E quem chegou?

Seguem então alguns breves comentários sobre os atletas do Maccabi:

Jeremy Pargo ocupa a vaga aberta por Rice, jogador com o qual compartilha uma característica: muito explosivo, com corte para os dois lados, difícil de ser contido atacando a cesta. Quando quebra a primeira linha defensiva, tende a criar um salseiro rumo ao garrafão – e o ataque do Maccabi depende muito disso, para que seus arremessadores sejam liberados. Destaque da universidade de Gonzaga, volta ao clube pelo qual viveu sua melhor fase, em 2010-11, ano em que foi vice-campeão da Euroliga. Depois daquela campanha, conseguiu exposição e tentou mais uma vez a NBA. Ganhou um contrato garantido do Memphis Grizzlies, mas foi pouco aproveitado como reserva de Mike Conley. Acabou trocado para o Cleveland, que o dispensou em janeiro de 2013. Passou brevemente pelo Philadelphia 76ers sem ganhar destaque. Sua velocidade e capacidade atlética acabam fazendo a diferença mais na Europa, mesmo. Recebeu, então, uma  oferta de quatro milhões de euros do CSKA. Concorrendo com Milos Teodosic e Aaron Jackson, porém, não teve o sucesso esperado e foi liberado para retornar a Israel na tentativa de reencontrar a satisfação em quadra. Vai ser um páreo bem duro para Laprovíttola e Gegê.

Ohayon, canhoto e maroto

Ohayon, canhoto e maroto

Yogev Ohayon é um dos poucos jogadores israelenses do elenco do Maccabi que efetivamente entra em quadra (sem contar os americanos naturalizados, tá?). E o armador é um personagem muito importante para o time, dando estabilidade, cadência ao time, envolvendo todos no ataque, quando necessário conter um pouco a loucura dos armador americano arrojado da vez.   Só não pensem nele como um jogador molenga. Inteligente e oportunista, quando você menos espera, lá está o armador partindo para a bandeja.

Guy Pnini é o outro israelense que vai jogar de modo regular contra o Flamengo. Pode ser que seja anunciado como ala-pivô, ''jogador da posição 4'' no jogo desta sexta, mas não tem nada disso (média de 1,6 rebote na carreira de Euroliga, gente). Pnini joga aberto o tempo todo: é excelente arremessador de três pontos, não importando a distância, e precisa ser contestado. É obrigatória a contestação, na verdade, especialmente quando ele está de frente para a tabela.  Dificilmente vai entrar no garrafão se for obrigado a fazer a finta, preferindo um tiro em flutuação. Tem pouca presença física, mas é bastante intenso e um dos líderes do time.

Sylven Landesberg: um ala americano que jogou com Jerome Meyinsse na universidade de Virginia. Bastante atlético, forte, de batida firme para a cesta (mas em linhas retas, sem muita criatividade ou 'eurostep'). Foi aproveitado apenas de modo pontual por Blatt nas últimas duas temporadas, mas que, nas poucas vezes que recebia uma chance real, mostrava que tinha jogo. A prova disso é que tem produzido bastante nesta pré-temporada, aproveitando a saída de Ingles. Sua mão pegando fogo:

Devin Smith: é um jogador discreto que, ironicamente, fez uma das cestas mais espetaculares da Euroliga passada (veja abaixo). No geral, o valor de Smith está muito mais em sua consistência. Nem sempre quando se fala em ''jogador regular'', isso quer dizer que seja fraco. Bom arremessador da zona morta, jogando bastante aberto, sendo mais um chutador espaçando a quadra para Pargo. Do outro lado, também um ótimo reboteiro defensivo – é ele que se aproxima mais dos pivôs, para compensar a fragilidade de Pnini. Parte para sua quinta temporada de Maccabi.

Alex Tyus: o que o Big Sofo tem de pesado, Tyus tem de atlético. Um pivô baixo, mas de muita impulsão, que adora completar uma ponte aérea por trás da última linha defensiva. Castiga o aro também em rebotes ofensivos. No ano passado, sua combinação no pick-and-roll com Rice foi mortal. Quando não saía a assistência, ele atacava a tabela em busca de uma eventual rebarba após a conclusão do armador. A defesa flamenguista como um todo vai ter de ficar muito atenta ao bloqueio de rebote em cima do americano formado pela universidade da Flórida. E esse bloqueio precisa acontecer bem antes de sua aproximação da cesta, devido a sua capacidade atlética. Na defesa, Tyus também ajudou muito David Blatt desde o afastamento de Shawn James.

Aleks Maric: nunca foi o pivô de maior mobilidade no mercado – nem mesmo no auge Partizan em 2009-10 –, e sua movimentação ainda mais comprometida na temporada passada pelo Lokomotiv Kuban, devido a uma lesão no joelho. É muito grande, porém, e cria problemas na tábua ofensiva. Já que o Flamengo contratou Derrick Caracter, sua presença será mais necessária quando o australiano estiver em quadra. Do outro lado, deve ser explorado em jogadas de dupla – seria ideal que o Fla forçasse uma troca de defensores, para que Laprovíttola partisse para o ataque contra o grandalhão. É o tipo de jogador que faltava no elenco do Maccabi do ano passado, de maior estatura, mas só foi contratado devido ao glaucoma que tirou Schortsanitis de ação neste início de campanha. O vínculo até dezembro, com possibilidade de renovação.

(Para constar, com o corte do Big Sofo, o Baby Shaq, o flamenguista ficará sem ver um dos jogadores mais singulares do basquete internacional. É como se ele fosse uma versão grega, bem mais baixa, mas mais larga do Sidão, ex-Mogi. Um terror no pick and roll, por razões óbvias, e também nas mais simples jogadas de costas para a cesta. Falta ao pivô condicionamento físico, claro, de modo que ele só pode ser aproveitado em curtos intervalos durante uma partida, nos quais vira referência obrigatória do ataque do time. Bola nele, pancada na sequiencia, perigando carregar os adversários de falta.)

Haynes, agora no Maccabi, não foi muito bem na última Euroliga

Haynes, agora no Maccabi, não foi muito bem na última Euroliga

Sinceramente, dos americanos recém-contratados pelo Maccabi, só vi um deles jogar, e muito pouco: o armador MarQuez Haynes, ex-Olimpia Milano e Montepaschi Siena. Ele cobre a vaga aberta por Hickman, embora tenha o jogo bem mais acelerado e agressivo, mais similar ao que Pargo e Rice fazem. Hickman batia para a cesta muitas vezes também, mas usando mais a malandragem e movimentos de hesitação do que a quinta marcha. Na Euroliga passada, jogou a primeira fase pelo Milano, mas com tempo de quadra muito restrito, atrás dos compatriotas Keith Langord e Curtis Jerrells (caras mais bem valorizados e com maior experiência em alto nível no basquete europeu). Foi dispensado e assinou com o Siena, pelo qual se soltou. Na Lega Basket, anotou mais de 14 pontos por partida. Só me chama a atenção o fraco aproveitamento de três pontos quando jogou pela Euroliga ou pela Eurocup, ficando abaixo dos 30% nos últimos dois anos.

Os outros dois reforços significativos são Brian Randle e Nate Linhart. Randle é um ala-pivô que está em Israel há um bom tempo, desde 2008, e só agora chega ao time de Tel Aviv. Foi eleito em duas ocasiões o melhor defensor da concorrida liga israelense, incluindo a edição passada, pelo Maccabi Haifa. Segundo consta, é um atleta de primeiro nível, mas está se recuperando de uma lesão muscular.

Linhart foi revelado pela universidade de Akron, terra de LeBron, e está na Europa há três anos. Foram dois na Alemanha e o último na Itália, pelo Venezia. De acordo com a descrição do Maccabi, chega ao elenco para fazer um pouco de tudo no perímetro: ''Linhart é um ala muito inteligente, que também pode jogar como guard. Ele é um jogador cheio de energia, que pode ler a defesa e criar oportunidades para si e seus companheiros de equipe. Linhart é um verdadeiro jogador de equipe, que ajuda aqueles que melhora aqueles que estão ao seu lado e para quem o sucesso da equipe é a prioridade número um. Um bom e estável arremessador e estável de três, com média de 40% os últimos dois anos''. Agora é ver como ele vai se comportar num time com muito mais cobrança, enfrentando competição bem mais qualificada.


Maccabi joga sempre pressionado. Ainda mais sem Blatt
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Giancarlo Giampietro

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Conforme dito já em toda a Internet, o Maccabi Tetl Aviv que enfrenta o Flamengo no Rio de Janeiro é bem diferente, em termos de nomes, daquele que foi campeão da Euroliga em Milão, em maio. Na troca de temporada, o clube israelense perdeu muitos de seus principais jogadores. Mas a grande mudança, mesmo, diz respeito ao seu comando técnico. Guy Goodes tem a missão ingrata de substituir um David Blatt que foi a grande força por trás de sua histórica e suada conquista e agora vai conversar bastante com LeBron James e Kevin Love em Cleveland.

Podem dizer que técnico não joga, mas Blatt é daqueles que faz a diferença, sim. Extremamente versátil, consegue tirar o máximo do grupo que tem ao seu dispor, adaptando seu jogo ao que seus atletas podem oferecer. ''Há duas escolas de pensamento para técnicos, e nenhuma está mais certa que a outra. Há técnicos que têm o seu sistema e vão usá-lo, independentemente da montagem de seu time. E há técnicos que se adaptam, que pegam seu elenco, e jogam de acordo com suas habilidades. Sou mais dessa escola adaptável, com alguns princípios que são consistentes durante a minha carreira'', afirmou a Zach Lowe, do Grantland.

Para quem acopanhou o Maccabi na temporada passada, isso ficou bem claro. Blatt não só aplicava sua tática de acordo com o que tinha em mãos, como também o time era maleável bastante para alterar completamente seu estilo de um jogo para o outro, ou mesmo dentro de um jogo, dependendo do adversário, da fase dos atletas e se Schortsanitis estava em ação.

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

No time que derrotou o Real na decisão europeia, dos que foram para quadra, só mesmo o Baby Shaq grego tinha mais de 2,03 m de altura (oficiais 2,06 m, vamos dizer assim), e foi por menos de 10 minutos num jogo de prorrogação. Vimos um Maccabi correndo contra quem podia correr, um time de jogo mais lento quando não conseguia aguentar o pique, protegendo bem sua cesta mesmo sem estatura, alternando defesa pressionada com zonas simples ou mistas para desestabilizar o adversário, mas sempre povoando o garrafão.

De novo: era um time muito interessante, mas limitado, que tinha de se virar como dava – em termos de talento, no papel, seu elenco estava bem abaixo de seus concorrentes do Final Four. Foi um time que perdeu, por exemplo, seis de 14 jogos na fase Top 16, na qual ficou sob séria ameaça de eliminação, até garantir sua vaga nas quartas de final com uma vitória sobre o Bayern de Munique na penúltima rodada. Antes desse triunfo sobre o Bayern, acreditem: o próprio Blatt teve de encarar entrevistas coletivas em que  sua demissão era cogitada. Pasme.

Uma vez classificado para as quartas, porém, o time decolou, vencendo cinco dos próximos seis jogos. O turning point foi uma vitória dramática, na prorrogação, sobre o Olimpia Milano, em Milão, na abertura dos mata-matas. O time virou um jogo impossível, uma reação daquelas digna de Maccabi Tel Aviv, que o presidente Shimon Mizrahi, uma figuraça, vai contar para os bisnetos.

Em termos de talento, seu elenco estava bem abaixo se comparado com o da maioria das equipes classificadas para as quartas de final do torneio europeu. No Final Four, então, era claramente um azarão. Ainda assim, os caras derrotaram o CSKA Moscou num jogo parelho pela semifinal e, depois, derrubaram a máquina de se jogar basquete do Real Madrid na decisão. Mas é isso, né? O tipo de coisa que pode acontecer em jogos decisivos, ainda mais se em confrontos solitários. Um time competitivo engrenar, começar a acreditar e, pumba, realizar sua missão-na-terra. São justos, legítimos campeões, mas o próprio Blatt foi o primeiro a dizer que, num sistema de playoff, dificilmente ele e seus rapazes teriam chegado lá. Talvez estivesse subestimando suas próprias habilidades como estrategista e líder.

David Blatt saiu nos braços do povo

David Blatt saiu nos braços do povo

Blatt construiu um currículo e uma reputação que o empurravam para outra direção. Enfim, as portas da NBA foram abertas para ele, recebendo uma proposta generosa do gerente geral do Cleveland Cavaliers, David Griffin, que teve o apoio inesperado do intempestivo proprietário Dan Gilbert, que preferia um John Calipari. Poucos em Israel puderam acreditar. Não que ele não merecesse. É que não estavam preparados para que ele 'já' saísse após seu tão sonhado primeiro título de Euroliga. Havia apenas especulações de propostas para assistente, algo que não necessariamente seria atraente para alguém com seu status, e aí chegou o Cavs, pré-Retorno de LeBron, interessado. Pronto.

Cabe a Guy Goodes, então, assumir essa bronca. Pelo menos o treinador de 43 anos sabe muito bem da responsabilidade. São 15 anos de clube. Já integrou a comissão técnica do Maccabi por seis temporadas – entre 2006 e 2008 e também as última quatro como braço direito de Blatt. Não obstante, também jogou pelo time de 1990 a 1998. Agora assume o cargo principal, sem muita experiência, porém, nessa função. Entre uma passagem e outra como assistente, dirigiu o Hapoel Jerusalem, e só.

Como faz, então, agora que está no comando? ''No papel há muitas diferenças entre os dois treinadores, mas também há várias semelhanças. Goodes aplicou no time muito da filosofia de Blatt como também a sua. Ainda assim, Blatt é conhecido por ser um treinador de espírito defensivo que se empenha em limitar os oponentes a 70 pontos por jogo. Goodes é o oposto. Ele ama o basquete veloz, com passes rápidos. Durante a pré-temporada, o Maccabi por duas vezes anotou 106 pontos e 109 em outra'', afirmou o jornalista israelense David Pick, um carrapato do Maccabi, ao Mondo Basquete.

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

É importante dizer que, mesmo que o elenco israelense tenha sido sacudido, o perfil dos atletas foi mantido. Vale destacar o retorno de Jeremy Pargo para a vaga de Rice e a aposta em MarQuez Haynes para o lugar de Hickman. Curioso como o clube realmente foi atrás de jogadores de características muito semelhantes, mesmo. Com os dois em quadra, já se pode esperar muita velocidade. Em situações de meia quadra, preparem-se para o uso e abuso do jogo de pick-and-rolls e pick-and-pops e até mesmo muitas jogadas no mano a mano, explorando a habilidade dos recém-contratados e a presença de muitos arremessadores ao redor deles, com o pivô Alex Tyus representando uma das poucas ameaças no corte para a cesta, fora da bola (fora, isto é, das mãos dos armadores americanos). Brian Randle, bastante atlético, mas voltando de uma lesão muscular, também precisa ser vigiado nessas – se for para o jogo, mesmo.

O time segue muito baixo, com apenas três jogadores acima de 2,05 m – quando, na real, era para ser apenas um. Explico: Alex Maric, de 2,11 m e muita presença física no garrafão, só foi contratado para quebrar o galho enquanto Sofoklis Schortsanitis se recupera de sua operação devido a um glaucoma. O terceiro é o pivô americano Jake Cohen, de 2,08m, que foi contratado no ano passado ao sair da universidade de Davidson. Ainda é um projeto, tendo sido emprestado para o Maccabi Rishon Lezion. Nesta temporada, deve ficar no clube principal, com o qual tem contrato por mais três temporadas, mas sem muito tempo de jogo.

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

É de se imaginar confrontos de ritmo acelerado em que um atleta lento como o australiano Maric não deve ter espaço – a não ser que o Flamengo não consiga defendê-lo. Como destacou David Pick, o Maccabi tem corrido bastante em seus jogos de pré-temporada, com média incomum de 93,5 pontos em seis partidas disputas na pré-temporada até aqui. Se essa proposta for mantida, for dominante, é algo que favorece o Flamengo, que também gosta de sair em transição, com atletas como Marquinhos, Benite, Laprovíttola, Meyinsse, Gegê, Felício etc. Estão preparados para isso.

Agora, é preciso ver se o novo treinador é um cara de uma cartada só ou se aprendeu com Blatt a se moldar também de acordo com o que jogo oferece, com as facilidades sugeridas e dificuldades impostas pelo adversário. Na pré-temporada, vem com cinco vitórias e apenas uma derrota justamente pela final da Copa da liga israelense, já valendo como partida oficial. Perderam para o Hapoel Jersualem, por 81 a 78.

Sofrer mais um revés em uma decisão seria péssimo para Goodes em seu início de trabalho numa instituição em que a pressão por resultados é gigantesca e pode afetar até uma lenda viva como Blatt. O ex-assistente e o clube ainda não estão preparados para mais mudanças em sua estrutura. Mas o Flamengo não está aí para dar uma forcinha.


Copa Intercontinental e suas incógnitas: chance para o Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Copa Intercontinental 2014, Fiba, Flamengo, Maccabi

É difícil dizer qual é o Maccabi Tel Aviv que enfrenta o Flamengo neste final de semana pela Copa Intercontinental, no Rio de Janeiro. Porque já era muito complicado definir qual era a equipe que havia conquistado a Euroliga da temporada passada, com sua formação camaleônica, irregular, que acabou surpreendendo ao ser campeão continental. Você soma aí o fato de que eles trocaram de técnico, perdendo o genial David Blatt, e mudaram mais da metade de seu elenco, e os jogos desta sexta-feira e domingo ganham um aura de incógnita.

É um clima bem diferente da decisão do torneio de 2013, no qual o Olympiakos aparecia como amplo favorito. Isso tinha muito a ver com a consistência do clube grego, que havia conquistado dois títulos europeus seguidos e também contava com Vassilis Spanoulis, um cara que obviamente estava um degrau acima dos demais atletas em quadra.

Em termos de acúmulo de resultados positivos, dessa vez é o Flamengo que chega embalado, vindo de dois NBBs e sua primeira Liga das Américas – me desculpem, mas não dá para incluir aqui os recordes recentes do estadual, a despeito da tradição do torneio. O difícil é traduzir o jogo de cá com o de lá: o quanto um Fla dominante no Brasil e, por um ano, nas Américas é poderoso para enfrentar um campeão europeu meio acidentado. Um campeão justo, é verdade, porque levou a melhor em quadra – mas que definitivamente não foi o melhor time europeu de 2013-2014

Você jamais pode subestimá-lo – e certamente o Flamengo não vai correr esse risco. Eles têm camisa, história, com seis títulos continentais, uma base de torcedores das mais entusiasmadas do mundo todo. Então é claro que o time de José Neto vai respeitar seu adversário, e bastante. Só, acredito, não precisa se colocar em situação de inferioridade. Estivessem o Real Madrid ou o Barcelona do outro lado, aí a coisa mudaria de figura – estes, sim, os times com melhor campanha na Euroliga, até o Final Four.

Para comparar, durante a temporada regular (primeira fase e Top 16 somadas aqui), a agremiação israelense teve 16 vitórias e 8 derrotas, contra 21 e 3 do Real e 19 e 5 do Barça – sendo que o time de Huertas bateu de frente com Fenerbahçe e  CSKA pela etapa inicial e, depois, ainda precisou lidar com Fener, Olympiakos, Panathinaikos, Olimpia Milano por um grupo duríssimo. Além do mais, o próprio Blatt admitiu que, num confronto de playoff, sua equipe dificilmente teria derrubado o Real, ou até mesmo o CSKA. Em um jogos únicos, porém, foi uma tarefa plausível, graças em muito ao seu domínio do tabuleiro.

Para considerar também: os dois adversários chegam ao confronto em fase inicial de preparação. É apenas a pré-temporada. Os rubro-negros, nesse sentido, levam a vantagem de terem uma base muito mais bem entrosada. Um craque como Walter Herrmann, já mais velho, mas ainda de uma categoria acima da média, foi adicionado, e deve ser peça fundamental da equipe. Derrick Caracter é outra história, aqui discutida. De resto, a rotação está intacta. Já o seu adversário realmente passou por uma reformulação drástica em seu plantel, algo que sempre pode acontecer, mas não estava nos planos.

O Maccabi é bem mais vulnerável do que o título de campeão europeu pode sugerir. Não quer dizer que seja fraco, ok? Longe disso. Mas a expectativa é de um confronto muito interessante, desde que os flamenguistas estejam fazendo a lição de casa direitinho.


Flamengo acerta contratação pontual. Vale a pena?
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Giancarlo Giampietro

Caracter chegou nesta quarta. Fla espera que com bagagem de soluções

Caracter chegou nesta quarta. Fla espera que com bagagem de soluções

Em 1997, o Cruzeiro se preparava para um dos maiores desafios de sua história: jogar a Copa Intercontinental/Mundial de clubes contra o Borussia Dortmund, depois de fazer bela campanha na Copa Libertadores. O time tinha uma forte base, que não era necessariamente brilhante, mas possuía figuras talentosas como o meia Palhinha, o centroavante Marcelo Ramos e o goleiro Dida.

Antes de mais nada, peço um pouco de paciência, antes do ataque: ''Até aqui você vai ficar falando de futebol?! Santa monocultura!''

É que a gente pode ligar esse jogo de 17 anos atrás com outra Copa Intercontinental, a de basquete, que será disputada entre Flamengo e Maccabi Tel Aviv a partir desta sexta-feira, com o primeiro jogo no Rio. A segunda e decisiva partida será no domingo, na capital fluminense. E qual seria o link entre coisas tão absurdamente distintas?

Bebeto foi um dos que chegaram ao Cruzeiro de última hora em 1997. Um causo alarmante

Bebeto foi um dos que chegaram ao Cruzeiro de última hora em 1997. Um causo alarmante

Antes de encarar o Dortmund, o clube mineiro fez quatro contratações exclusivamente para aquela decisão, algo que aprendemos a chamar de contratações ''pontuais'': o lateral Alberto, o zagueiro Gonçalves e os atacantes Bebeto e Donizete Pantera. O Fla apelou nesta semana ao mesmo expediente: acertou com o pivô Derrick Caracter para reforçar seu garrafão para desafiar o Maccabi – e também para os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA.

Antes de falar de Caracter e do Fla, é preciso lembrar o que se passou com a Raposa depois de sua cartada, com o perdão do amigo cruzeirense, que não precisava de revisitar essa história num momento em que seu time está voando no Brasileirão. Naquela ocasião, o tiro saiu pela culatra, numa derrota por 2 a 0 em que os alemães foram bem superiores. Diante daquela situação inusitada, sobrou, claro, para os caras que chegaram de última hora.

''A culpa não era deles. Se você é chamado para o Mundial, não vai? É claro que vai. Mas a vaidade no futebol é muito grande. Os jogadores vinham falar comigo, chateados. Tive que conversar muito. Não vou dizer nomes, mas começamos a discutir premiação para o título, algo que sempre é feito antes da partida, e um dos contratados falou que deveríamos deixar para depois. O cara pegou o dinheiro (da contratação) na mão e não queria discutir premiação? Era um dinheiro importante para caramba para as famílias. Mais tarde, depois daquela final, conversei com o presidente, com quem fiz amizade, e ele disse que voltaria atrás se pudesse'', afirmou o meio-campista Cleisson ao GloboEsporte.com.

“Não participar do Mundial foi a maior tristeza que eu tive na minha carreira. Foi uma decisão que achei injusta. Na época, fui conversar com o presidente Zezé Perrella a respeito dessa situação, não só comigo, mas também com outros jogadores. O Zezé (Perrella) apenas disse que a decisão era do treinador e não poderia fazer nada”, relembra Gottardo, ao SuperEsportes.com.br, acrescentando que inclusive pediu ao presidente para ser negociado.

“Era uma situação complicada, sabíamos da qualidade deles. Havia uma cobrança dos jogadores que ficaram fora e da imprensa em cima do presidente, mas isso faz parte”, completa o lateral Vitor, ao FoxSports.com.br.

Deu para entender, né? Com a turbulência que as mudanças geraram – o capitão da Libertadores, Wilson Gottardo, por exemplo, foi cortado da delegação que viajou ao Japão –, o Cruzeiro já meio que havia perdido a final antes mesmo de disputá-la.

Então tá: ponto.

O flamenguista mais doente já pode estar salivando, achando que o blog está jogando praga para cima do elenco rubro-negro. Não é bem assim. Só foi o primeiro caso que bateu na telha ao lembrar de contratações pontuais como a de Caracter. Se alguém tiver algo mais emblemático e positivo que esse, favor compartilhar. Além do mais, podemos alegar que uma coisa é contratar quatro jogadores num pacote e outra, trazer um só atleta para reforçar uma posição considerada carente. Mas não há como fugir desse questionamento.

Caracater, cestinha talentoso, com algumas questões comportamentais no meio do caminho. Jogou 41 partidas, com média de 5 minutos

Caracater, cestinha talentoso, com algumas questões comportamentais no meio do caminho. Jogou 41 partidas, com média de 5 minutos

Não dá para saber como o elenco de José Neto vai reagir a uma situação dessas – e nem como o pivô vai se comportar. Ênfase em ''comportar'', porque cabe outra ressalva: uma boa alma vai dizer que você não deve julgar ninguém pelos erros do passado, que se deve dar uma segunda chance, mas há uma razão triste para explicar como alguém que já foi considerado um dos maiores talentos de sua geração nos Estados Unidos estava disponível no mercado, para um acerto pouco usual destes. Como os americanos gostam de dizer, o jogador tem ''bagagem''.

Na universidade, deu um trabalhão danado para os técnicos de Louisville, sendo obrigado a pedir transferência para Texas El-Paso. Ainda assim, foi selecionado pelo Lakers na segunda rodada do Draft de 2010, na 58ª/antepenúltima posição. Já como profissional, foi preso por ter agredido uma garçonete – um raro caso de problema com a polícia, diga-se; antes, sua ficha de advertências estavam limitadas a problemas de notas e de disciplina ''esportiva''. Desde então, foi dispensado pelo time californiano, perambulou por aí, entre Europa e D-League, tendo jogado a última temporada pelo Idaho Stampede (veja suas estatísticas).

Três anos depois de sua prisão em Nova Orleans, Caracter desembarcou no Rio apenas nesta quarta-feira, praticamente junto dos caras do Maccabi, mal tendo tempo de treinar com seus novos companheiros.  Caracter supostamente chega para deixar o Flamengo mais competitivo. Está dentro das regras, sim, mas o quão válido, legítimo é o processo? Qual caminho você prefere: jogar todas as cartas possíveis e tentar de tudo numa grande vitrine dessas, jogando por um título que seria mais que formidável para o clube e o basquete brasileiro, ou ir para a quadra com o que você tem (de verdade), que, aliás, já é um grande time de basquete?

A segunda alternativa, parece, seria a ideal. Mas dá para entender também quem abrace sem pestanejar – pensando de modo pragmático e na importância que têm a Copa Intercontinental e os jogos nos Estados Unidos. Agora só resta saber o quanto Caracter pode contribuir de fato para uma equipe que mal conhece. Aliás, não está nem muito claro o quanto o técnico José Neto e os demais atletas sabem sobre o pivô também. Justamente quando o entrosamento seria um dos grandes trunfos para os rubro-negros em relação ao seu concorrente.

O UOL Esporte acabou de publicar um texto que nos conta os bastidores da contratação. O Flamengo sondou mais de dez nomes no mercado internacional, numa procura meio desesperada até, com dificuldade para fechar: os atletas consultados queriam contrato por uma temporada, obviamente. No fim, o agente Marcelo Maffia, que trabalha com Tiago Splitter, Rafael Hettsheimeir, Rafael Luz, entre outros muitos talentos brasileiros, ajudou a intermediar o negócio.

''Foi uma correria louca para viabilizar a vinda dele. Faz 24 anos que trabalho com basquete e nunca vivi uma situação destas. As conversas começaram no meio da semana passada. Aí tivemos de arrumar o visto rapidamente, o que conseguimos no consulado lá em Miami, tanto que ele chegou apenas na quarta-feira. Ele praticamente não treinará com a equipe. É um grande incógnita o que ele poderá fazer'', afirmou o empresário. ''Só o conheço pelas estatísticas e por vídeos. Não sei se é a melhor ou pior opção para o Flamengo. Era a que tinha no momento. Claro que é um grande risco, mas talvez possa fazer o que se espere dele.''

E o que o técnico Neto espera do americano? ''Trouxemos para ter uma opção a mais no nosso jogo interior. Ele chega para somar e trazer muita força ao nosso garrafão. O time do Maccabi é forte, usa bem os pivôs e precisamos conter isso. Precisávamos de mais força na marcação e no rebote. A ideia é que ele cumpra bem esse papel. Além disso, contamos com ele para pontuar no ataque também'', afirmou.

(Só uma observação, de quem acompanhou a temporada da Euroliga inteira no ano passado: o time israelense tem jogo interior, sim, mas ele decorre muito mais das infiltrações de seus armadores do que em bolinhas pingadas no garrafão. Ainda mais com Sofoklis Schortsanitis fora de combate, devido a um glaucoma. Vários destaques da campanha europeia saíram, eles trocaram de técnico, mas, a julgar pelo perfil de seus substitutos, essa proposta não se alterou tanto assim. Mais sobre isso nesta sexta-feira…)

(A segunda observação: Caracter sempre foi conhecido como um pivô muito forte e habilidoso, mas especialmente para questões ofensivas, com jogo de pés criativo, que funciona de costas para a cesta. É pesado, mas surpreendentemente ágil. Ambas as munhecas são bastante eficazes para a conclusão próxima ao aro. Sua capacidade como defensor, porém, não era das mais elogiadas. Pode ter melhorado com o passar dos anos, a conferir. É, de toda maneira, alguém muito vigoroso, mesmo, que vai ocupar espaço e trombar.)

Caracter, então, precisa dar uma força para Jerome Meyinsse, Olivinha e Walter Herrmann no combate com os pivôs do Maccabi.

Mas e o Felício?

Aparentemente, se Caracter corresponder às expectativas, o garotão vai dançar nessa.

Felício, 22 anos, promissor e quinto homem na rotação flamenguista em grandes jogos?

Felício, 22 anos, promissor e quinto homem na rotação flamenguista em grandes jogos?

Felício ainda é jovem, tem muito o que aprimorar em termos de técnica, mas fisicamente você não vai achar tantos jogadores mais imponentes. Além do mais, é jovem, mas já não é mais um adolescente – chega uma hora em que vai ter de produzir e competir com os marmanjos, o tempo começa a correr. Com a saída de um veterano como Shilton, figura importantíssima na conquista do último NBB, esperava-se mais Cristiano em ação, depois de o pivô ter jogado apenas 13 minutos em média na temporada passada. Nos playoffs, quando a coisa aperta, o tempo de quadra ainda foi reduzido para 8 minutos por partida. Na Liga das Américas, 99 minutos em oito partidas. Aparentemente, ainda não será desta vez.

Isso também nos leva a alguns pontos preocupantes. Estamos falando  de uma das maiores promessas brasileiras, um pivô de enorme potencial, reconhecido por Rubén Magnano, pelos olheiros da NBA (ainda que não tenha sido escolhido no último Draft, causou ótima impressão durante o Eurocamp de Treviso) e tudo o mais.  Nas palavras de Neto, o americano chega para contribuir especialmente com rebote e defesa. O pivô brasileiro ainda não estaria preparado para isso? Não seria saudável dar um voto de confiança? Qualquer minuto disputado contra o Maccabi e a turma da NBA seria muito mais importante para o desenvolvimento do atleta do que usá-lo, a essa altura da carreira, na LDB para ele somar 22 pontos e 20 rebotes numa partida.

Por outro lado, entra na mesma questão: o Flamengo não vai disputar um troféu qualquer. O time quer ser campeão mundial, então talvez não seja o momento de falar em lapidação de um atleta.  Como time de ponta nacional, ainda se reestruturando como clube, o Fla hoje difere muito de um Pinheiros, por exemplo: suas metas estão basicamente voltadas para o adulto. Ainda não há um fluxo de continuidade em seu departamento de basquete. Sem ironias: talvez não faça muito sentido, mesmo, pensar no aprimoramento de um talento como o de Felício. Eles jogam para agora, e não custa lembrar: o pivô não é nem mesmo uma cria da base rubro-negra, não foi alguém trabalhado por anos e anos na Gávea. Saiu do Minas para os Estados Unidos e voltou contratado.

Da mesma forma que o clube acertou com Caracter agora.

Que fique claro: essa é uma crítica pontual a uma contratação pontual, que se explica, mas, ao meu ver, é exagerada. Sobre o time rubro-negro em si, não há muito o que contestar depois de entupir sua sala de troféus  nos últimos anos. A essa altura, todavia, pode ser que 85% dos basqueteiros flamenguistas que tenham aberto acidentalmente esse artigo já tenham parado na metade, talvez pês da vida. Eles querem mais é que o Caracter e o Flamengo contrariem tudo isso e façam valer a aposta.

E que, de repente, a gente fique apenas falando de futebol, mesmo.


Negócios da NBA: jogador é trocado 4 vezes em 2 meses
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Giancarlo Giampietro

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

O mundo da NBA se faz com grandes partidas e muito talento, reunindo os melhores atletas do mundo. Isso não se discute. Mas, fora das quadras, a liga norte-americana também é sustentada por muitos pormenores burocráticos, que os cartolas dos clubes vão descobrindo e explorando ao máximo em busca de algum trunfo que lhe ajudem na montagem de seus elencos, na tentativa de superar a concorrência.  A história do ala Scotty Hopson casa bem esses dois lados.

Desde que a temporada 2013-2014 acabou, o jogador de 25 anos foi trocado não uma, não duas, mas quatro vezes! De Cleveland para Charlotte, de Charlotte para New Orleans, de New Orleans para Houston e, por fim, de Houston para Sacramento, pelo qual foi dispensado nesta segunda-feira. Tudo isso em três meses. E como diabos uma ciranda dessas acontece?

Primeiro é preciso entender o tipo de contrato que Hopson fechou com o Cavs, na reta final da temporada passada.

O gerente geral David Griffin havia acabado de assumir a gestão do clube, arregaçando as manguinhas. Seu plano não só era deixar a equipe mais competitiva em busca de uma tão sonhada cobrada vaga nos playoffs pelo proprietário Dan Gilbert, como arrumar a casa para o mercado de agentes livres e trocas de há pouco. Esse mesmo, em que fecharam negócios com LeBron James e Kevin Love.

Hopson se encaixava nesse quebra-cabeça pensando mais na segunda parte do plano. Tanto que só foi acionado pelo técnico Mike Brown em duas partidas de 2014, mesmo que tenha ganhado a bolada de US$ 1,4 milhão para assinar por 17 dias de campeonato. Sim, isso, mesmo. Por apenas 17 dias e seis minutos jogados, ele faturou quase o dobro do que o calouro australiano Matthew Dellavedova vai ganhar  por todo o próximo campeonato.

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Esse valor, no entanto, fazia parte de um truque mais amplo de Griffin. O vínculo assinado foi de cerca de US$ 2,8 milhões por aquele restinho de temporada e uma segunda adicional. Com um detalhe: o segundo ano não tinha nem mesmo um tostão furado garantido. É o que podemos chamar de um contrato ''oco''– está ali, é real, mas sem substância alguma, uma vez que poderia ser anulado a qualquer momento, bastando exercer uma cláusula.

Desta forma, o Cavs forjou quase que instantaneamente o famoso ''expiring contract'', aquele que serve para facilitar a execução de trocas – e haja troca! –, uma vez que o clube do outro lado poderia pegar o calhamaço, picotá-lo e jogá-lo no lixo mais próximo, poupando alguns milhares de dólares no caminho. Houve quem criticasse a medida. Não por ser anti-ética, nem nada disso. Mas por seu preço salgado: a franquia estava pagando US$ 1,4 milhão para Hopson para gerar um trunfo que eventualmente lhe serviria em uma negociação.

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

Segundo Mark Deeks, jornalista inglês que pilota o ShamSports.com, especialista nas minúcias do teto salarial da NBA, o dirigente poderia ter trabalhado em artimanha semelhante por apenas (coff! coff!) US$ 131 mil. Bastaria assinar com qualquer veterano que tivesse mais de dez anos de experiência na liga para o mesmo período e dar a ele o mesmo contrato sem garantias na sequência.  Acontece que, como nota o Akron Beacon Journal, Griffin não descartava manter Hopson em seu elenco, se nenhum negócio interessante se manifestasse. Mas foi barbada.

O Hornets, ex-Bobcats, foi o primeiro a receber o ala e seu contrato maroto, mandando o pivô Brendan Haywood e o ala-pivô calouro canadense Dwight Powell para Cleveland. A ideia de Cleveland era conseguir um jogador de contrato mais caro e também por expirar (são US$ 10,5 milhões nada garantidos para 2015-16). Para quê? Acho que muito mais pelo fato de que Haywood pode ser envolvido em alguma supertroca daqui para a frente (usando seus US$ 10,5 milhões ''ocos'') do que para ajudar Anderson Varejão a proteger a cesta. Ao mesmo tempo, adicionaram um atleta de potencial para ser desenvolvido.

Um dia depois de adquirido pelo Charlotte, Hopson foi repassado para o New Orleans Pelicans, naquela negociação que só vai confundir o torcedor mais aearado. Era Hornets, ex-Bobcats, tratando com o Pelicans, ex-Hornets. Ah, e uma coisa: em todas as trocas de Hopson, o lateral Alonzo Gee foi junto. Quem precisava do contrato dessa vez era o time de Nova Orleans, para incluí-lo no parágrafo abaixo. Para o clube de Michael Jordan, valeu a pena: em vez de simplesmente cortar o salário do atleta, MJ ainda descolou alguns milhares de dólares para pagar uma rodada de golfe para seus amigos e ainda pode ter sobrado um troco para uma caixa de charutos cubanos.

A terceira troca, bastante complexa, envolveu, então, o Houston Rockets e o Washington Wizards, no rolo que mandou Omer Asik para ser o segurança de Anthony Davis em N'awlins e trouxe Trevor Ariza de volta ao Texas. O Pelicans precisava do contrato de US$ 1,4 milhão de Hopson para fechar as contas de acordo com as regras da liga. O Rockets ainda ganhou uma escolha de primeira rodada do Pelicans e pagou US$ 1,5 milhão como compensação.

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Por fim, na semana passada, o Rockets encaminhou o pacote para Sacramento e recebeu veteraníssimo Jason Terry e algumas escolhas de segunda rodada, que pode ajudar aqui e ali o Sr. Barba e o James Harden na busca por (mais) respeitabilidade na duríssima Conferência Oeste. O Kings simplesmente queria se livrar do salário de Terry, concordando em dispensar Hopson de cara. O americano já tinha um trato encaminhado com o Brindisi, da Lega Basket italiana.

E o que isso tudo quer dizer a respeito de Hopson, o jogador? Que ele não tem valor para nada?

Não é bem assim: ninguém marca 15,0 pontos por jogo em seu primeiro ano de Euroliga de graça, como ele havia feito pelo Anadolu Efes. Acontece que o atleta chegou a um Cleveland Cavaliers em meio a esse processo esquizofrênico de reformulação, no meio da temporada, em que apostaram várias escolhas de Draft para ter Luol Deng e Spencer Hawes, mas nem assim conseguiram brigar pela oitava colocação numa Conferência Leste anêmica. Queriam ganhar, mas só perdiam, e, no meio dessa confusão toda, aparece esse ala vindo do basquete europeu, sem fanfarra.

Pouco badalado, é verdade, mas só se formos falar de um Scotty Hopson profissional. Sete, oito anos atrás, sua versão adolescente era considerada uma das grandes promessas do High School americano. Aquele tipo de exposição que atinge a garotada por lá desde cedo e que, se não bem explicada, pode mexer com a cabeça do jogador. Algo que aconteceu com nosso rapaz de tantas trocas. Hopson foi recrutado pela universidade do Tennessee e falhou em deixar sua marca por lá. Mas não foi algo que lhe ocorreu quando decidiu se candidatar ao Draft da NBA de 2011. Um processo delicado no qual aquilo que você mostra fora das quadras também pode valer muito. ''Aquele cara não é do mesmo planeta que o resto de nós'', disse ao DraftExpress um gerente geral, assustado com o lunatismo do jovem.

Em quadra, o que os scouts viam era claro: um atleta de primeiro nível, capaz de maravilhar atleticamente (veja o vídeo abaixo), mas que ainda pedia muito refinamento e amadurecimento. ''Enquanto ele possui ferramentas físicas excepcionais para um ala de NBA e mostra flashes de habilidade da mesma forma, Hopson ainda parece sentir falta de polimento e de uma abordagem mental consistente, além de uma compreensão geral  do jogo para que possa contribuir de modo eficiente jogo após jogo'', escreveu o DX, na época.

Ignorado no Draft, sem ofertas, o ala teve de escolher entre a D-League ou o dinheiro de ligas menores da Europa. Partiu para outro mundo. Jogou na Grécia, pelo Kolossos Rodou, em Israel, pelo Hapoel Eilat, e, aos poucos, numa história bacana, foi progredindo em quadra e elevando sua cotação, até chegar a um time de Euroliga, o Anadolu. No torneio continental, fez uma primeira fase excepcional até chamar a atenção devida da NBA – e de David Griffin especificamente. Mal pôde acreditar quando recebeu a proposta do Cavs.

Não só pelo dinheirão quer recebeu, muito mais do que ele ganhou em qualquer temporada na Europa, segundo o Akron Beacon Journal. Mas também por essa coisa de sonho realizado. Todo jogador americano quer a grande liga, né?  ''Apenas continuei persistente, tendo fé de que, cedo ou tarde, chegaria aqui. Mesmo que não chegasse, a principal coisa que queria fazer na minha carreira era maximizar meu potencial. O sonho era sempre entrar na NBA, e isso finalmente aconteceu para mim. Estou curtindo o momento'', afirmou, durante sua breve passagem por Cleveland.

Desde então, Hopson só pôde curtir ver seu nome em negociações atrás de negociações, até se dar conta de que seu momento de NBA durou por apenas seis minutos, mesmo, mas valendo US$ 1,4 milhões. Como ele mesmo aprendeu. Existe o jogo, sim. Mas, no seu caso, esta aventura teve muito a ver com os negócios:

 


O Fantástico Mundo de Ron Artest: Pandinha amigo no pé
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers. E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo diário absurdo de informações, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

A saga de LeBron James na volta a Cleveland, os quilos de especulações em torno de Kevin Love e o racismo de Don Sterling foram certamente as líderes em manchetes nos últimos meses desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo. Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

* * *

artest-panda-friend

Poxa vida, gente, já se passou mais de um ano desde a última atualização desta série. Período no qual centenas de ursos panda hibernaram e já saíram de seus esconderijos, irradiantes que só, importunando o Pequeno Pônei do Galhardo até não poder mais… Isso, claro, se os pandas hibernassem. Afinal, nem urso eles são. Ou são? A polêmica é grande na comunidade científica, e a classificação desses bichinhos mimosos já foi mais reescrita do que plano de governo em época de patrulha online 60/60/24/7. Melhor a gente nem mexer nesse vespeiro. Informalmente, devido ao apego dos anos, aqui eles serão tratados como urso-sim-pronto-acabou-e-para-sempre.

Vocês sabem, a essa altura não é novidade nenhuma que nosso anti-herói estava afim de mudar seu nome outra vez, assumindo o codinome de Amigo dos Pandas, uma vez que iria jogar na China – terra de Yao Ming, Zizão, Stephon Marbury e – agora também de – Andray Blatche. E de pandas, claro. Muitos pandas, que ganharão a proteção especial de um ala que já foi muito encrenqueiro, mas que ultimamente é todo paz e amor. Notem que ele passou um ano inteiro em Nova York, sua terra natal, sem cair em polêmica alguma.

Ainda assim, sua produção em quadra aparentemente já não sustentaria um contrato de NBA, nem mesmo com o Mestre Zen de volta ao Knicks. Toca, então, faturar um dindim na China, assinando contrato com o Sichuan Blue Whales valendo US$ 1,4 milhão. As baleias azuis e os ursos pandas: aparentemente Ron-Ron não está nem aí para essa coisa de conflitos de interesses.

Não está claro se ele dessa vez decidiu literalmente mudar seu nome, com tapetão e tudo – como nos tempos de #mettaworldpeace, ou se ele simplesmente adotou ''A Pandas Friend'' espiritualmente. Ou comercialmente, que ninguém é de ferro. Já devidamente posicionado em Sichuan, província ao Sul do vasto território chinês, Ron Metta Pandas Artest World Peace Friend apresentou os modelos ursonalizados de tênis que vai usar durante a temporada:

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Uma graça, né?

Agora, antes de vocês aí, desprovidos de coração, se perguntarem como diabos ele pretende jogar com um calçado desse, saiba que ele vai só vai entrar em quadra com o pisante dessa maneira. Antes do tapinha inicial, as coisas mudam. ''Antes de cada jogo, vou estar calçando o tênis branco ou o preto. A parte de cima tem uma cabeça de panda, que é removível. Vou tirá-lo e jogá-lo para um amigo na torcida. A pessoa que o pegar será o Amigo dos Pandas do dia'', explica o jogador ao Courtside Access.

Sinceramente, nada a acrescentar além disto: se este foi o último capítulo da série, não poderia ter encerrado da melhor forma.