Vinte Um

Prepare-se para o Draft da NBA. A loucura continua
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Giancarlo Giampietro

O Draft está marcado para as 20h (horário de Brasília, com transmissão gratuita via League Pass), mas, para quem está chegando só agora, a balada já começou faz tempo, gente. É como se fosse uma rave da NBA, com mais de 24 horas de negociações, rumores, blefes, contra-espionagem e tudo o mais. Nesta quarta-feira, três trocas foram fechadas – ou quase. Admito que me precipitei em escrever sobre Jeremy Lamb ao lado de Kemba Walker em Charlotte, pois restavam detalhes para que a transação fosse concluída, o que não aconteceu. O Memphis entrou na jogada e acabou interceptando Matt Barnes, que agora vai fazer uma dupla assustadora com Tony Allen. Quer dizer: a terceira troca aconteceu, mas foi fechada nesta quinta, com outras peças, o que não é o fim do mundo. Pois a liga toda está na pista, com  Danny Ainge, Sam Hinkie e Daryl Morey numa vibe que só. Imaginem os caras soltando aquele ''U-RUUU'' característico. Mas de terno e gravata.

A especulação mais instigante do momento envolve Sacramento Kings, Los Angeles Lakers e DeMarcus Cousins. Chegamos àquele ponto bastante instrutivo, aliás, para os torcedores em geral: o de que a palavra oficial de seus dirigentes não vale tanto assim. Vlade Divac e qualquer fonte ligada à diretoria asseguram que não têm a menor intenção de despachar o pivô. Essa é uma meia-verdade. Os caras prefeririam segurar o jovem campeão mundial. O que não os impede de já estarem em conversações adiantadas com o Lakers, discutindo nomes, e tudo o mais, além de manterem contato com qualquer outro clube interessado.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> 4 brasileiros retiram candidatura. O que houve?
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Promessa argentina pode repetir Caboclo neste ano
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Danilo Siqueira: muita energia em trilha promissora

Segundo o superfurão Adrian Wojnarowski, o Kings pede a escolha número dois do recrutamento desta quinta, Julius Randle e Jordan Clarkson, solicitando que o rival californiano ainda pegue o contrato de Carl Landry. O Lakers, segundo o mesmo artigo, não está interessado em envolver Randle neste negócio. O que é curioso, considerando que o ala-pivô número 7 do Draft passado fraturou a perna logo na primeira partida da temporada. O rapaz estaria rendendo muito nos treinos em El Segundo. Mas, se Sacramento estiver realmente disposto a aceitar um pacote desses, não há motivo para não entregá-lo. Cousins tem seus problemas de temperamento, mas jogou uma barbaridade nos últimos dois campeonatos e tem apenas 24 anos. É um cara em torno do qual você pode construir uma grande equipe. Mesmo no Oeste.

Por que Divac e seus comparsas aceitariam algo nessa linha? É que a classe deste ano vem sendo bastante elogiada pelos scouts em geral, com ótimas opções para as primeiras seis, sete escolha. Com o segundo pick do Lakers, porém, a esmagadora opinião é a de que você pode contratar um futuro All-Star. De resto, os scouts apostam em um bom volume de jogadores até a faixa de 20 a 25 do Draft. A partir daí, o consenso é de que a qualidade despenca sensivelmente, num nível muito inferior ao de anos anteriores. Então há muitos clubes que pretendem subir na lista, enquanto outros times topam até mesmo abrir mão de suas escolhas, de olho em veteranos ou em ativos para o futuro.

Quais são as possibilidades? Vamos apresentá-los aqui brevemente, oferecendo links mais detalhados (em inglês). Também vale desde já discutir qual o impacto que a geração pode ter como um todo e, depois, apresentar os pontos básicos para se entender como funciona o Draft – percebo que este processo ainda não está muito claro para muita gente. Claro que o leitor  viciado no noticiário do Draft provavelmente já até decorou tudo isso. Mas, simbora.

– Os espigões

Karl Towns pode se juntar a Duncan, LeBron, Monocelha e Olowakandi e Kwame como escolha número um de Draft

Karl Towns pode se juntar a Duncan, LeBron, Monocelha e Olowakandi e Kwame como escolha número um de Draft

A fornada deste ano está cheia de grandalhões promissores. O mais bem cotado é o dominicano Karl Towns, que já enfrentou a seleção brasileira enquanto adolescente. O jogador ficou um ano em Kentucky e progrediu bastante sob a orientação de John Calipari. Quando o vi pela primeira vez em amistosos e competições da Fiba, se mostrava mais como um ala-pivô flutuante, atuando longe da cesta, confiante em seu arremesso de média distância. O porte físico era um fator para isso. Em Lexington, no entanto, foi empurrado para o garrafão e teve seu jogo perimetral praticamente ignorado. Não que não pudesse produzir deste jeito. O objetivo era a expansão de seu arsenal – veja um vídeo de um de seus treinamentos regulares. Deu certo. Hoje não tem problema em encarar o contato perto da cesta e desenvolveu um bom gancho e jogo de pés. É bastante ágil para alguém de seu tamanho e protege o aro com destreza. Faz um pouco de tudo e, por isso, tem um potencial enorme e não deve passar do Minnesota Timberwolves, o primeiro. Leia o scout completo do dominicano feito por Rafael Uehara, que já colaborou aqui para enriquecer o blog.

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Por dividir espaço com uma série de prospectos muito prestigiados, Towns elevou aos poucos sua cotação entre os scouts. Durante boa parte da temporada, o pivô Jahlil Okafor, campeão universitário por Duke, foi considerado como o candidato número um. É um garoto com jogo de velha escola, extremamente talentoso de costas para a cesta, com um conjunto de movimentos talvez precocemente mais criativo que o de Al Jefferson, por exemplo, e mãos gi-gan-tes-cas. Quanto mais o observaram, porém, mais os olheiros se preocupam com sua mobilidade reduzida e o quanto isso pode lhe deixar exposto na defesa, especialmente numa NBA cada vez mais veloz. Também, por isso, questionam o quão motivado o jogador estaria para trabalhar e se tornar uma superestrela. O DraftExpress aborda essas questões. Seu perfil tem toda a identificação com a história do Lakers, clube habituado a jogar com pivôs dominantes. O Knicks, com o sistema de triângulos, também seria uma excelente pedida. Não deve passar daí.

Jahlil Okafor e uma bola que não é mirim

Jahlil Okafor e uma bola que não é mirim

Outros espigões bem cotados: Frank Kaminsky, já com 22 anos (dois anos mais jovem que Boogie Cousins, por exemplo), eleito o melhor jogador da NCAA por Winconsin, de 2,13 m de altura, mas com fundamentos de ala no ataque e um arremesso infalível, despertando interesse do Knicks, do Hornets, do Heat e do Pacers; Trey Lyles, companheiro de Towns e Kentucky, mas que jogou deslocado no perímetro o ano todo, também muito bem fundamentado, com um jogo comparado ao de Juwan Howard e Carlos Boozer,; Myles Turner, da Universidade do Texas, que une chute de longe e habilidade de tocos, uma combinação bastante cobiçada na liga de hoje; e Willie Cauley-Stein, mais um de Kentucky, um pivô de 21 anos e considerado o melhor defensor do Draft, capaz até de brecar armadores no perímetro. Esses atletas não devem sair entre os 4º e 17º lugares.

Se boa parte desses garotos realizarem seu potencial, a tese de que a NBA é hoje uma liga de armadores pode ser revisada.

– Os europeus
Apenas dois jogadores do Velho Continente estão projetados para as dez primeiras escolhas. Um deles também engrossa a categoria acima: o letão Kristaps Porzingis, que, de certa forma, tem a candidatura mais complexa, controversa deste Draft. Muito por se chamar Kristaps Porzingis, claro. Mesmo que tenha jogado duas temproas completas pelo Sevilla na Liga ACB, a liga nacional mais forte do mundo Fiba, e que haja dezenas de vídeos do ala-pivô disponíveis basicamente em qualquer lugar na rede, muitos nos Estados Unidos insistiram em chamá-lo de ''homem misterioso''. Suas características de chutador nato, homem ágil e magro também ajudam e não ajudam. Muitos salivam ao assisti-lo, exagerando como sempre ao falar de Dirk Nowitzki e Andrei Kirilenko, enquanto outros fazem questão de lembrar de Andrea Bargnani, Nikoloz Tskitishvili e diversos jovens europeus que fracassaram na liga. Com quase 3.000 palavras, Rafael Uehara nos conta que o melhor, mesmo, é sempre o meio termo.

Porzingis fez um treino individual em Las Vegas, no dia 12, assistido por Phil Jakcson e muitos outros dirigentes. Teve um rendimento espetacular, inflando sua cotação. Mas qualquer dirigente mais dedicado já poderia ter assistido ao letão em diversas partidas em Sevilha

Porzingis fez um treino individual em Las Vegas, no dia 12, assistido por Phil Jakcson e muitos outros dirigentes. Teve um rendimento espetacular, inflando sua cotação. Mas qualquer dirigente mais dedicado já poderia ter assistido ao letão em diversas partidas em Sevilha

O outro? Mario Hezonja, o croata companheiro de Marcelinho Huertas no Barcelona, um gatilho excepcional, atlético, cheio de confiança, mas que não conseguiu mostrar tudo o que podia nos últimos anos, devido a uma concorrência muito forte no elenco do clube catalão – e também por certa implicância do técnico Xavier Pascual e dos dirigentes locais, que esperavam aproveitá-lo no futuro e deram um jeito de boicotar sua candidatura. Uma anedota bastante desagradável neste sentido? Hezonja tinha voo marcado de Barcelona para Nova York na noite de quarta-feira, caso seu time fosse varrido pelo Real Madrid nas finais da ACB. Aconteceu. E o que a diretoria fez? Marcou um treino para esta quinta, mesmo que a temporada tenha acabado. Totalmente bizarro, como se fossem um grupo de juvenis que precisassem de uma lição. Seria melhor ter praticado melhor antes de apanhar do Real, não? Claro que não era esse o caso. O objetivo implícito aqui era impedir que o croata comparecesse à cerimônia. O fato de ele não estar no Brooklyn não altera nada o seu status, diga-se. O garoto só foi privado do prazer de subir ao palco, tirar uma foto com Adam Silver e sorrir como jogador de NBA nesta quinta. Infantilidade é pouco.

Hezonja teve lampejos pelo Barcelona, mas não foi aproveitado da melhor forma

Hezonja teve lampejos pelo Barcelona, mas não foi aproveitado da melhor forma

Se os jogadores estrangeiros foram uma coqueluche no início da década passada, com o sucesso de Dirk, Gasol, Parker, Ginóbili, no momento enfrentam uma dura resistência, até pela falta de resultados. Desde o Draft de Yao Ming em 2002, nenhum atleta de fora dos Estados Unidos escolhido entre os dez primeiros se tornou um All-Star. Desta forma, o preconceito voltou e reforçado. Porzingis e Hezonja têm talento para enfrentar essa questão.

Outros talentos internacionais já estabelecidos em alto nível na Europa e que devem ser selecionados, provavelmente na segunda rodada: Willy Hernangómez, pivô do Sevilla de 21 anos, de jogo forte e maduro no garrafão, superprodutivo, mas com capacidade atlética limitada, Cedi Osman, fogoso ala-armador tratado como príncipe na Turquia, Arturas Gudaitis, trombador do Zalgiris Kaunas, Mouhammadou Jaiteh, mais um paredão francês, e Nikola Milutinov, mais um pivô grande e habilidoso da Sérvia.

De um modo geral, a safra de gringos é considerada bem fraca este ano. O que nos leva a crer que Georginho, caso tivesse mantido seu nome na lista, seria selecionado. Os agentes do armador do Pinheiros, porém, não se contentavam com isso. Queriam o comprometimento de um clube com o jovem brasileiro, com um plano detalhado para seu desenvolvimento. Por isso, optaram por sua retirada, ao lado de Danilo Fuzaro, Humberto Gomes e Lucas Dias.

– No perímetro
Entre os armadores, as opções são bem escassas.

A canhota de D'Angelo tem muitos fãs

A canhota de D'Angelo tem muitos fãs

Toda comparação é natural e inevitável para os scouts. É a forma mais fácil de eles se localizarem. Nesse processo, porém, os paralelos podem soar forçados também. Para D'Angelo Russell, já deu para se acostumar a ler os nomes de gente como James Harden e Stephen Curry. Só. O caso do armador de Ohio State é curioso, pelo fato de ele ter surpreendido os olheiros em sua temporada. O jogador recebia elogios ao entrar no basquete universitário, mas não me recordo de ser cotado como um talento de ponta. Isso mudou rapidamente, quando puderam ver que sua combinação de arremesso, visão de quadra, inteligência e maturidade já o destacavam em meio a uma concorrência muito mais forte do que a dos tempos de universitário. Há quem questione sua defesa e a falta de explosão em seu jogo. Não é o suficiente para lhe tirar do grupo dos quatro primeiros.

Seu principal concorrente é o explosivo Emmanuel Mudiay, que optou por ignorar a NCAA e jogar na China, na última temporada. Os clubes obviamente enviaram olheiros para lá, para avaliá-lo, mas o distanciamento resultou em menor exposição para o jogador que, um ano atrás, era considerado a grande ameaça a Okafor pelo topo do Draft. O potencial atlético é o mesmo de antes, todavia.

Cameron Payne, de Weber State, Tyus Jones, eleito o destaque do torneio nacional da NCAA por Duke, Jerian Grant, de Notre Dame, Delon Wright, de Utah, com perfis e idades diferentes, têm seus admiradores, mas não são vistos como jogadores que cheguem para serem titulares. Payne é o mais bem cotado, chamando atenção de Pacers, Suns e Thunder. Os outros quatro devem sair na segunda metade da primeira rodada.

Winslow, espírito e jogo vencedor

Winslow, espírito e jogo vencedor

A safra de alas é liderada por Justise Winslow, o motor por trás da conquista de Duke. Winslow tem um espírito que contagia e não deve passar do Detroit Pistons, em oitavo. Ele concorre diretamente com Hezonja. Num degrau abaixo estão Sam Dekker, vice-campeão por Winsconsin, Stanley Johnson e Rondae Hollis-Jefferson, de Arizona, e Kelly Oubre Jr., de Kansas. Deste grupo, Hollis-Jefferson é o meu preferido. Um trator aos moldes de Michael Kidd-Gilchrist.

O Utah Jazz recebeu 101 atletas (!!!) para atletas em seus testes pré-Draft. Georginho e Lucas Dias entre eles

O Utah Jazz recebeu 101 atletas (!!!) para atletas em seus testes pré-Draft. Georginho e Lucas Dias entre eles

– Mais links
O básico Mock Draft do DraftExpress, que tem o maior índice de acerto no recrutamento de calouros. Chad Ford, do ESPN.com, oferece outra perspectiva.

O guia do Bball Breakdown é um absurdo, com uma planilha em didática para especificar as qualidades de cada prospecto e as carências de cada clube.

Para perfis detalhados dos jogadores estrangeiros, recomendo, além do DX, o Eurohopes, cuja equipe já revelou até mesmo três scouts para a NBA.

Kevin Pelton, analista do ESPN.com com enfoque estatístico, produziu material bem interessante nas últimas semanas: as projeções numéricas dos candidatosuma defesa a Kristaps Porzingis e a produção positiva do talento internacional (ainda que sem produzir muitas estrelas).

– O Draft
É o recrutamento oficial de calouros da NBA. Hoje, são duas rodadas de seleção, com 60 escolhas no geral. Supostamente, cada clube deveria ter duas cada – mas eles podem envolvê-las em negociações, gerando um desequilíbrio ano após ano. O Philadelphia 76ers, por exemplo, tem seis picks nesta quinta-feira, sendo cinco na segunda rodada. Dificilmente vai aproveitar todas, então podem esperar que Sam Hinkie bagunce tudo mais tarde. Para variar.

Quais jogadores podem ser escolhidos? Apenas atletas de fora dos Estados Unidos que completem de 19 a 22 anos na temporada do Draft. Para aqueles que tenham estudado nos Estados Unidos, as regras mudam. Eles precisam ter pelo menos um ano de rodagem depois do high school, seja na NCAA ou no basquete profissional – em ligas estrangeiras, como Emmanuel Mudiay na China, ou na própria D-League da NBA, como aconteceu com PJ Hairston, Glen Rice Jr. e Latavious Williams no passado. Para os universitários, não há limite de idade. O pivô Bernard James, de Florida State, foi escolhido pelo Dallas Mavericks em 2012 aos 27, depois de ter servido ao Exército americano.

O fato de o jogador ser draftado não é garantia de que vá para a NBA. Os brasileiros Paulão Prestes e Raulzinho, por exemplo, já foram escolhidos por Minnesota Timberwolves e Utah Jazz, respectivamente, em 2010 e 2013, mas só foram aproveitados até agora em jogos de liga de verão, que não são oficiais. Cada caso é um caso. Paulão dificilmente vai jogar pelo Wolves, enquanto Raul ainda toca sua carreira na Europa em um ambiente mais propício ao seu desenvolvimento, seguido de perto pelos cartolas de Salt Lake City. Houve casos de atletas, porém, que simplesmente se recusaram a jogar nos Estados Unidos. Lá atrás, nos anos 80, foram vários, com Oscar Schmidt entre eles. Dejan Bodiroga é outro craque célebre que nunca teve interesse. Mais recentemente, tivemos o espanhol Fran Vázquez, selecionado pelo Orlando Magic na 11ª posição em 2005. Fechou a porta na cara do ex-gerente geral Otis Smith.


Proximidade do Draft e 2 trocas num dia! A NBA está uma loucura
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Giancarlo Giampietro

(Post atualizado nesta quinta-feira, 11h20)

Adieu, Batum! As trocas já começaram

Adieu, Batum! As trocas já começaram

Bem, amigos, é hora de evocar o galvão-buenismo mais uma vez.  Haaaaaaja… vocês sabem. Mal o Golden State Warriors comemorou seu grande título, e a liga já está de pernas para o ar. Pois a noite de recrutamento de calouros da NBA promete ser um estrondo, mesmo. Não só a classe de candidatos tem diversos talentos intrigantes, como boa parte das franquias parece empenhada em fazer negócios. Trocas atrás de trocas, imaginem.

''Está tendo muita conversa. Muito mais que o normal. Acreditamos que vai haver muita atividade na noite do Draft. Vai ser divertido. Então fiquem ligados'', afirmou Danny Ainge, o gerente geral do Boston Celtics que adora um fuzuê. Foi o cara que fechou algo em torno de 39 transações durante a temporada e, agora, está, presumidamente, animadíssimo ao ver o telefone tocar sem parar. Ele só espera que a fumaça toda seja justificada por um tremendo fogaréu. ''Acho que talvez eu esteja esperançoso que haja alguma movimentação. Temos diversas coisas caminhando separadamente, um monte de possibilidades. Geralmente nada acontece. Mas estou esperançoso.''

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Estamos todos, Danny. Estamos todos. E, a julgar pelo que testemunhamos nesta quarta-feira, vai ser uma loucura, mesmo. A pouco mais de 24 horas para o Draft, três duas negociações foram fechadas, duas delas envolvendo o Charlotte Hornets. A transação mais bombástica foi com o Portland Trail Blazers, que abriu mão dos serviços de Nicolas Batum. Em troca, cederam o ala Gerald Henderson e o jovem ala-pivô Noah Vonleh. Ainda um adolescente aos 19 anos, Vonleh é visto por muitos como um jogador de muito futuro, embora tenha tido dificuldade para assimilar os sistemas de Steve Clifford em sua primeira campanha. Estaria o Blazers já conformado com uma eventual saída de LaMarcus Aldridge e já se preparando para uma reconstrução? Segundo Adrian Wojnarowski, não. Difícil de acreditar nessa, mas vale lembrar que o ala foi uma grande decepção para o Blazers neste campeonato, com problemas fora de quadra (e o desgaste devido a sua participação na Copa do Mundo). Mas a frustração foi tamanha assim? Depois do All-Star Game, o francês já havia elevado sua produção.

Dorell Wright ficou chocado e Damian Lillard, triste, a julgar pela reação em tempo real no Twitter:

Ao mesmo tempo em que fechava com o Portland, os dirigentes de Charlotte acertavam a contratação do ala Jeremy Lamb, do Oklahoma City Thunder, que poderia se reunir com Kemba Walker, com quem foi campeão universitário por Connecticut. Acontece que o blogueiro aqui se precipitou e não esperou a oficialização do negócio por Matt Barnes. Resultado: no fim, as coisas evoluíram e se tornaram mais complexas, com o Memphis Grizzlies entrando na parada. Para adicionar Barnes, seu velho rival de conferência, o Grizzlies cedeu o armador Luke Ridnour.

Mas… Como assim? O Ridnour não era do Orlando Magic? Pois então. A primeira negociação do dia havia envolvido o veterano, sem chegar a comover. O Orlando mandou o jogador para o Memphis e ganhou os direitos sobre o ala letão Janis Timma, de 22 anos, que está jogando pelo VEF Riga. Um jogador que foi a última escolha do Draft de 2013, mas que pode ter um futuro na liga americana. Com Mike Conley Jr. e Beno Udrih sob contrato, era de se imaginar que o Grizzlies não tinha interesse em Ridnour. Aos 34, o andarilho já andou dizendo que pode se aposentar. Seu vínculo, inclusive, não é garantido. Então, em tese, a franquia poderia estar se preparando para mais uma transação. Ficamos no aguardo, e a troca por Barnes foi fechada. Se o Grizzlies já tinha a pele grossa de urso pardo, agora ainda vai ter o desbocado ala ex-Clippers ao lado de Tony Allen e Zach Randolph. Melhor não mexer com esses caras.

De qualquer forma, imagino que o enigmático Jeremy Lamb, com todo o seu talento e uma cara de soneca daquelas, ainda interesse ao Charlotte. E o OKC precisa se desafazer de seu salário para abrir espaço no elenco e ainda poupar dinheiro para tentar renovar com Enes Kanter e Kyle Singler. Talvez o negócio seja estendido e Ridnour seja repassado, já que seu contrato também não é garantido para a próxima temporada. Quando se livrar do ala, o Thunder terá, melancolicamente, despachado mais uma das peças recebidas por James Harden. Só restaram Steven Adams e Mitch McGary para contar algumas histórias sobre essa cada vez mais desastrada.

O que percebemos é que, com ou sem Jeremy Lamb, Michael Jordan está botando o povo em Charlotte para trabalhar, hein? Na semana passada, já haviam dado um jeito de se livrar de Lance Stephenson, que foi encaminhado para o Los Angeles Clippers, valendo o próprio Barnes e o pivô Spencer Hawes. No saldo, ficam com um time muito mais equilibrado, tendo ainda a nona escolha do Draft para reforçar a rotação. (Sobre Stephenson em Los Angeles? Não acho que valha a dor-de-cabeça e também não considerdo uma boa combinação técnica ou tática. O ala-armador já mostrou que precisa da bola nas mãos para produzir. No Clippers, ela está sempre com Chris Paul e Blake Griffin. O espaçamento de quadra fica, logo, comprometido e, no final das contas, Doc pagou dois homens por um, sendo que o ideal era buscar o outro rumo nessa, reforçando o banco. A falta de plantel foi o que derrubou seu time nestes playoffs.)

Hawes foi o primeiro a chegar a Charlotte

Hawes foi o primeiro a chegar a Charlotte

Mais relevante que esta foi a troca entre Detroit Pistons e Milwaukee Bucks divulgada na semana passada. Stan Van Gundy acredita ter encontrado o strecht four ideal para fazer companhia a Andre Drummond ao acertar com Ersan Ilyasova. O ala-pivô turco teve rendimento bastante irregular nos últimos dois campeonatos, mas tem um talento inegável e, em teoria, representa um encaixe perfeito para o Pistons, cobrindo a vaga de Greg Monroe, cuja saída é dada como certa. O Bucks levou Caron Butler e Shawne Williams, mas ninguém espera que os veteranos sejam aproveitados. Serão dispensados, para que o emergente clube (batendo na madeira, por favor, em nome de Jabari Parker) possa, talvez, fazer uma contratação (literalmente) de peso em julho. Brook Lopez e Tyson Chandler seriam os principais alvos. Zaza Pachulia jogou bem pacas, de acordo com suas capacidades, mas um pivô deste nível tornaria o Bucks um time já muito perigoso.

Tantas movimentações assim não são muito comuns e devem fazer Danny Ainge sorrir e acelerar o coração em Boston. O chefão do Celtics só espera agora que possa receber um convite para a festa.


Real varre o Barcelona e fecha ano inédito na Espanha com 4 taças
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Giancarlo Giampietro

Real comemora. Na quadra do Barça

Real comemora. Na quadra do Barça: superioridade em toda a temporada

Os torcedores do Real Madrid querem saber, mesmo, é de basquete, né? Pelo menos por ora. Afinal, foram os galácticos do baloncesto que lhes encheram de orgulho com uma campanha verdadeiramente histórica. Pela primeira vez, um clube levou os quatro títulos que disputou: Supercopa, Copa do Rei, a tão sonhada Euroliga e, agora, por fim, a Liga ACB, depois de ter varrido o Barcelona nesta quarta-feira. Pelo menos para algo serve um torneio de início de temporada como a Supercopa, hein? Para estabelecer recordes.

Os merengues bateram os arquirrivais catalães por 90 a 85, fora de casa, acabando com qualquer expectativa de reação por parte da equipe de Marcelinho Huertas, que pode ter feito sua despedida do Barça. Um desfecho perfeito para o Real, que penou tanto nos anos anteriores e correu o risco de ser desmontado. Desmonte, agora, só se for pelo fato de o clube ter ganhado tudo o que podia e pela cotação inflacionada de alguns de seus principais atletas.

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>> Leia o que o blog já publicou sobre o Real

Mas como assim? Quem poderia pensar em virar as costas para um clube desse porte? Bem, é aí que temos a grande diferença para um madridista na hora de se apegar ao basquete, deixando o futebol em segundo plano. É que, se for para falar das quadras, a NBA tem o maior poderio financeiro. E a liga americana está de olho no campeão europeu e espanhol em busca de possíveis reforços.

O Houston Rockets já estaria preparado para oferecer um contrato de três anos para tentar, enfim, levar Sergio Lllull, o MVP das finais da ACB, selecionado pelo clube texano no Draft de 2009. Ídolo em Madri, sempre competindo em alto nível no Velho Continente, o armador já relutou por um tempo para se transferir para os Estados Unidos, mas, ao que tudo indica, chegou a hora. Ele estaria trocando um Señor Barba pelo Mister Barba. No caso, Sergio Rodríguez por James Harden.

Llull, MVP das finais da Liga ACB pela primeira vez. De saída?

Llull, MVP das finais da Liga ACB pela primeira vez. De saída?

Até porque Rodríguez é outro que pode estar de saída. Segundo o repórter Adrian Wojnarowski, o cara mais conectado na mídia americana, o outro armador estelar do Real estaria interessado em tentar a grande liga novamente, depois de uma passagem pouco produtiva quando mais jovem – foi selecionado pelo Portland Trail Blazers em 2006, ficou nos Estados Unidos até 2010, teve bons momentos pelo New York Knicks, mas, um tanto traumatizado, voltou correndo para casa assim que seu contrato de calouro acabou. Cresceu muito pelo Real e se tornou um dos melhores do mundo em sua posição.

Perder dois armadores deste nível seria um golpe e tanto para o técnico Pablo Laso, claro. Mas pode ser o preço depois de um ciclo tão vitorioso como esse. E obviamente que o orçamento seguiria generoso o suficiente para tentar uma reformulação em alto nível, ainda que encontrar um armador já seja complicado, quanto mais dois.

Um organizador que deve ir para o mercado é Huertas. Segundo o que apurei, o brasileiro estaria realmente interessado em sondar o mercado norte-americano. Algo que confirmou em entrevista ao mesmo Wojnarowski. O Toronto Raptors estaria interessado, segundo o site Sportando. Mas vocês sabem como são essas coisas de mercado. O armador, mesmo,  depois diria que era possível renovar com o Barça. O Fenerbahçe também havia demonstrado interesse em sua contratação, mas já fechou com o americano Bobby Dixon, que tem passaporte turco e fez bela temporada no país.

Outros que podem deixar o clube catalão: o ala Mario Hezonja, sensação croata que está cotado para ser uma das dez primeiras escolhas do Draft da NBA desta quinta-feira, e o pivô Tibor Pleiss, alemão que tem sondagem do Bayern de Munique e também seria uma possibilidade para completar a rotação de grandalhões do Utah Jazz, ao lado de Rudy Gobert e Derrick Favors.

Perder jogadores até que não seria o pior negócio para o Barcelona, aliás. O técnico Xavier Pascual simplesmente não conseguiu comandar um elenco vasto e caríssimo nesta temporada. As lesões de Juan Carlos Navarro, Brad Oleson e Alejandro Abrines atrapalharam muito, mas, quando teve força máxima, o treinador falhou ao encontrar uma rotação funcional. Com um time desses, é a pior coisa que pode acontecer: papéis indefinidos, minutos (e estatísticas) irregulares, confusão geral. Os pivôs rodaram muito durante toda a temporada. Satoranksy e Huertas trocaram de posto. As incertezas duraram até as finais da liga espanhola, com Abrines, Edwin Jackson e Hezonja numa gangorra. Um desastre.

Do outro lado, o Real demorou, mas se acertou. A equipe que encantou a Europa na temporada passada não era mais a mesma. A saída de Nikola Mirotic custou muito em velocidade e espaçamento de quadra. Aos poucos, porém, Laso, tão contestado, deu um jeito de acomodar suas peças, nem sempre com decisões fáceis. Mesmo com uma rotação de até dez homens na liga nacional – Llull foi quem mais jogou, com 24 em média –, teve de sacrificar um jogador caro como Ioannis Bourousis. Trocou Jonas Maciulis por KC Rivers no quinteto inicial, encontrando mais equilíbrio defensivo. Reaproveitou Marcus Slaughter de modo pontual, sempre que precisou de mobilidade e capacidade atlética, e manteve o plano de jogo aberto, com atiradores de três pontos em todos os cantos e um contragolpe mortal. A diferença é que, na hora do aperto, em meia quadra, tinha um garrafão mais forte, com um Felipe Reyes em incrível boa forma, toda a versatilidade de Gustavo Ayón e o espírito vencedor (e garra e catimba) de Andrés Nocioni.

MVP do Final Four da Euroliga, Nocioni apareceu muito bem no segundo tempo nesta quarta, com tiros de longa distância em momentos críticos. Foi mais uma vez decisivo (11 pontos, 6 rebotes e 3/4 de fora) para conter a reação de um Barcelona que chegou a marcar 16 pontos seguidos no terceiro período para assumir a liderança do marcador, depois de perder por 14 no primeiro tempo. Outro que contribuiu de modo significativo foi Jaycee Carroll, o gatilho americano que anotou 19 pontos em 21 minutos. Os dois mais importantes foram a 14 segundos  do fim, num tiro contestado de média distância para levar a vantagem madridista a duas posses de bola (88 a 83). Veja:

Este foi um padrão da temporada: as estrelas são os Sergios e Rudy Fernández, acompanhados por Reyes. Mas o elenco de apoio sempre esteve de prontidão para ajudar esses ídolos nacionais, como tem de acontecer em qualquer grande time. Para ganhar quatro títulos no ano, então, nem se fala.


Promessa argentina pode repetir Bruno Caboclo no Draft da NBA
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Giancarlo Giampietro

As cravadas de Vaulet chamam a atenção na Argentina

As cravadas de Vaulet chamam a atenção na Argentina

Vocês se lembram como foi a história de Bruno Caboclo antes do Draft da NBA no ano passado, né? Um grande ponto de interrogação na cabeça de muita gente que não imaginava que o garoto revelado pelo Barueri e pelo Pinheiros estivesse realmente na mira dos scouts americanos, até que decidiu manter seu nome na lista final de candidatos, e não demorou para que surgisse a informação de que ele teria uma promessa. Pois bem: agora é a vez de a Argentina passar por essa.

Existe uma forte suspeita nos bastidores da liga indicam de que ala Juan Pablo Vaulet, de apenas 19 anos, teria um acerto informal com o San Antonio Spurs para ser escolhido no próximo recrutamento de calouros da liga americana, na quinta-feira. O clube texano tem as 26ª e 55ª escolhas.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
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Tal como ocorreu com Caboclo, Vaulet vem sendo solenemente ignorado pelos sites especializados na cobertura do Draft. Seu nome não consta em nenhuma projeção (os chamados ''Mock Drafts'') e nem mesmo é discutido como um prospecto com ambições sérias de seleção. O fato de ter mantido sua inscrição na segunda-feira passada, enquanto os quatro brasileiros preferiram retirar, porém, fez muita gente se mexer para entender o que estava acontecendo. Foi aí que as atenções se voltaram para o Spurs. Por quê?

Bem, Vaulet jogou a última temporada pelo Bahía Blanca, da liga argentina. Que tem como treinador um membro da família Ginóbili como técnico. Estamos falando de Sebastián, seu irmão mais velho, que já enfrentou os clubes brasileiros em diversas competições continentais. É uma conexão muito forte para ser ignorada. Mas a intriga não se encerra com isso. Vaulet está convocado para disputar o Mundial Sub-19 a partir do fim de semana – e Seb Ginóbili é o técnico da seleção, inclusive, enquanto o Brasil, claro, vê tudo de fora, novamente. Durante a fase de preparação, o ala foi liberado para viajar aos Estados Unidos para realizar uma consulta médica, que, segundo a CABB, estava previamente marcada.

Os exames se fariam necessários pelo fato de o jovem atleta já ter encarado uma séria lesão em 2013. Chegou a ficar um ano e meio fora de ação, devido a um tratamento inicialmente equivocado. Então toda a precaução é pouca. Acontece que o jogador já estava em atividade há pelo menos seis meses em solo argentino. Não sofreu nenhuma lesão grave durante o campeonato. Foi convocado e se apresentou ao time nacional para jogar, sem nenhum problema. Então que consulta foi essa? E ela obrigatoriamente deveria ser realizada nos Estados Unidos? Não havia nenhum médico em casa capacitado para avaliá-lo? Ou na Europa, aonde a seleção estava disputando amistosos?

Depois de uma breve passagem por solo norte-americano, Vaulet se reuniu com seus companheiros em Belgrado, para amistosos contra a Sérvia. Depois, ainda disputariam mais duas partidas em Getxo, na Espanha, na região do País Basco. Para os clubes que não tenham feito a devida lição de casa, era a chance de observá-lo. No primeiro duelo, porém, ficou em quadra por apenas cinco minutos. Na Espanha, foi poupado, devido a uma torção leve de tornozelo, segundo a confederação. Você pode imaginar, então, o quanto os dirigentes e scouts estão ouriçados agora.

Vaulet, de volta ao basquete após 16 meses

Vaulet, de volta ao basquete após 16 meses

Na Argentina, o rumor da promessa do Spurs também já circula com força. Oficialmente, claro, ninguém se pronuncia. Quer dizer, não especificamente sobre um interesse do time de Manu. Sobre o garoto em si, o que está óbvio é que ele é tido como uma grande aposta, talvez o primeiro grande prospecto de nossos vizinhos desde a incomparável geração dourada. Com a palavra, o ex-armador Pepe Sánchez, campeão olímpico e hoje presidente do Bahía Blanca: ''Ele é o melhor atleta que já vi desde que jogo basquete na Argentina''.

Que tal? Estamos falando do condutor de um time que tinha Manu e Nocioni atacando o aro com muita explosão física e categoria.  Pois Sánchez deu entrevista ao jornal ''Mundo D'' e foi muito contundente em suas declarações (leia aqui na íntegra). Aqui, um resumo do que disse ao jornalista Gabriel Rosenbaun sobre o ala nascido em Córdoba: ''É um garoto que nasceu para jogar isto. Não há dúvida. Anatomicamente, foi feito para jogar basquete, sobretudo o basquete norte-americano. É o seu destino inevitável. Juan Pablo vai jogar na NBA. A NBA é para superatletas, e Juan Pablo é um superatleta. De qualquer outro jogador, não diria isso, ou me calaria. Mas se tem a sorte de ser um atleta de primeiro nível, tem de se desfrutar de sua qualidade e seu talento''.

Só quando questionado especificamente sobre as chances de Vaulet no próximo Draft que Sánchez foi mais evasivo. ''Sua decisão foi manter o nome entre os jogadores elegíveis. Nada que eu possa dizer vai melhorar ou piorar sua situação. Na quinta, saberemos'', afirmou.

A entrevista contundente de Pepe Sánchez

A entrevista contundente de Pepe Sánchez

De qualquer forma, na visão do ex-armador e dirigente, o ideal (e surpreendente) era que o jovem atleta se mandasse o quanto antes para os Estados Unidos. ''É uma opinião muito pessoal, mas grande parte do aprendizado que ele poderia ter para se desenvolver em nossa liga jogaria contra seu crescimento. Ele necessita de espaço para poder expressar o quão longilíneo. A NBA é o lugar em que vai se sentir mais cômodo, por ser um jogador que se expressa melhor de uma maneira vertical. Acima de tudo, com a disciplina que ele tem para treinar, é evidente que seu crescimento se volta para outros horizontes. Já disse isso a ele. Ele precisa assumir isso o quanto antes. Juan Pablo está formado como pessoa e como jogador para dar o salto rumo ao seu destino.''

Impressiona, não? Como Sánchez diz, é a apenas uma opinião. Mas são frases que fazem os olhos arregalarem, mesmo. Por mais empolgação que a temporada 2013-2014 de Caboclo tivesse gerado, hã… Não houve quem se referisse ao ala desta maneira. Nem mesmo a turma do Toronto Raptors, que pregou paciência, muita paciência a todos quando apontou o brasileiro como o 20º do último Draft.

Uma coisa que separa os dois garotos é o fato de Vaulet já ter ganhado boa rodagem na liga principal argentina em sua campanha de estreia. Nesta temporada, disputou 34 partidas pelo Bahía Blanca, com 589 minutos no total (17,3 em média). Produziu 7,2 pontos, 4,1 rebotes e aproveitamento de 50,5% nos arremessos. Lembrem-se: completou 19 anos em março – é apenas dois meses mais velho que Georginho, que teve 4,4 minutos em apenas seis partidas pelo Pinheiros no NBB 7.

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Os números em si são uma vitória para o ala. Mas a sensação de satisfação é maior pelo simples fato de ter podido jogar, e não apenas pela pouca idade. É que Vaulet sofreu no Sul-Americano Sub-17 de 2013 uma grave lesão no tornozelo que o tirou de quadra por 16 meses. Só retornou em dezembro do ano passado, depois de duas cirurgias. ''Foi muito difícil ficar afastado. O mais difícil era ficar assistindo, sem poder participar. Aprendi a ser paciente e disciplinado e seguir todos os passos que precisava para ficar saudável novamente. Depois de uma longa recuperação, foi espetacular retornar. Eu me senti aliviado por deixar tudo aquilo para trás'', disse em entrevista ao site da Fiba.

Sua participação naquele campeonato continental em Salto, no Uruguai (competição em que Georginho defendeu a seleção brasileira pela primeira vez), foi espetacular, ainda que breve, somando 42 pontos, 18 rebotes e 7 tocos em partidas contra Peru e os donos da casa. Em 2013, mesmo dois anos mais jovem, também já havia disputado o Mundial Sub-19, com médias de 8,5 pontos e 4,0 rebotes.

Beirando os 2,00m de altura, o ala tem braços compridos e, como enfatizou Pepe Sánchez, muita capacidade atlética. Um salto vertical e longitudinal muito acima da média sul-americana, digamos. Boa leitura de jogo, com movimentação perigosa fora da bola, sabendo a hora de atacar o aro. É um jogador aguerrido, que joga com intensidade o tempo todo e, por isso, também tem tremendo potencial defensivo. Em geral, a principal carência é o arremesso, ainda muito irregular, especialmente de longa distância, tendo acertado apenas duas bolas em 20 tentativas de três pontos na temporada. Vejam o moleque em ação:


No YouTube, é possível encontrar diversos dos seus jogos na íntegra, em vídeos disponibilizados pela liga argentina. Certamente muito visados pelos olheiros americanos e pelos basqueteiros argentinos, que não escondem a esperança de que um novo craque esteja surgindo, a despeito do grande susto que já levaram devido a sua lesão. Isso seria uma pressão? ''Não sei se pressão, mas isso me causa uma sensação de dizer que tenho de melhorar isso ou aquilo. Mas não dá para conseguir tudo de um dia para o outro. Leva tempo. Você tem de se precuopar em treinar e fazer as coisas bem todos os dias. E aí vai acontecendo. Já cheguei a fica rum pouco louco por isso tudo, mas agora trato de desfrutar e fazer as coisas bem dia a dia'', afirmou em longa entrevista ao Básquet Plus, na qual mostra que não é dos garotos mais deslumbrados ou eloquentes, não.

De qualquer forma, é muito difícil de avaliar um atleta nesse contexto e fazer projeções para a NBA. A tarefa dos scouts nem sempre é fácil. Ainda mais quando o garoto ficou tanto tempo parado. Um ano e meio sem jogar, nessa idade, é algo um tanto assustador. Mas Vaulet se inscreveu no Draft (que, no Brasil, terá transmissão gratuita pelo League Pass) e manteve seu nome. Criou, desta forma, um redemoinho para a liga americana. Aqueles que duvidam de uma promessa do Spurs levantam a possibilidade de os agentes do argentino querem que ele não seja selecionado. Desta forma, apostariam que, num futuro breve – caso confirme as expectativas em torno de seu nome em quadra, eventualmente na Europa –, teria mais autonomia para negociar um bom contrato em seus termos. Seria uma aposta arriscada e arrojada. Já aconteceu isso antes, mas não é tão normal. Faltam só dois dias mesmo para se tirar a prova, e as especulações só devem aumentar.


Despotismo de LeBron em Cleveland dá brecha à turma do contra
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Giancarlo Giampietro

LeBron James, Cleveland, coach, David Blatt

LeBron James ainda enfrenta uma grande resistência em muitas praças, independentemente do que faça em quadra. Pode ser pelo fato de ter perdido quatro de suas seis #NBAFinals. Mas talvez tenha muito a ver com as ameaçadoras, assustadoras e constantes comparações com Michael Jordan, que não fazem bem a ninguém. Desta forma, estava preparado aqui para escrever mais um texto cheio de elogios e hipérboles a respeito do craque, que era bobabem perder tempo com paralelos históricos, que o lance é realmente apreciá-lo, enquanto ainda tiver fôlego para produzir como superestrela. Contra o Warriors, fez tudo o que podia, com números e esforço superlativos.

Até que… Ka-bum. O jornalista Marc Stein, do ESPN.com, soltou o seguinte petardo, numa tradução livre: ''O jeito impróprio de LeBron de lidar com Blatt''.

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Que a relação entre o jogador e o treinador não era das melhores, já sabíamos. Os problemas no relacionamento foram bem documentados, numa narrativa que contou com diversas matérias e informações de Brian Windhorst, o jornalista mais chegado ao universo lebroniano. Porém, o fato de o time ter alcançado a decisão, sem três de seus principais atletas, nos fazia supor que as coisas haviam se apaziguado, em busca de um objetivo em comum. Ledo engano. O relato de Stein chega a ser perturbador. Alguns trechos de seu texto:

''Tenho uma questão para LeBron James que realmente espero que ele possa responder algum dia. Uma questão que pode ser feita de um modo variado. Que tipo de técnico você quer? Quem por aí afora seria um técnico pelo qual você gostaria, mesmo, de jogar? Quem o Cleveland Cavaliers poderia contratar que ganharia o seu apoio? Não tenho as respostas para nenhuma dessas questões. O assistente Tyronn Lue seria meu melhor palpite. Sei de uma coisa, porém: James é jogador muito brilhante, realmente grandioso, para se comportar do jeito que ele fez com David Blatt durante as finais da NBA'', diz seu lead.

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

''Vimos LeBron castrar Blatt de modos que são simplesmente impróprios para um jogador da estatura de James, que está construindo uma lenda toda própria. Vi de perto isso, em meu papel de repórter ao lado da quadra para a ESPN Radio. James essecialmente pediu tempos e fez substituições por conta. Ele questionava Blatt dura e abertamente depois de decisões que ele não gostava. Ele se reunia frequentemente com Lue, olhando para qualquer um menos Blatt'', prossegue.

''Teve a vez, por exemplo, que testemunhei no Jogo 5, sentado atrás do banco do Cavs, James balançando a cabeça veementemente em sinal de protesto após uma jogada desenhada por Blatt no terceiro quarto, num pior sinal possível de reprovação silenciosa que você poderia imaginar e que obrigou Blatt, na frente de toda a sua equipe, apagar a prancheta e elaborar algo diferente''.

''Essa me pareceu uma imagem que não faz jus a uma das maiores carreiras de todos os tempos, sem importar o quão inepto ele possa considerar o técnico. Com seus companheiros de Cavs vão tratar Blatt com qualquer forma que se aproxime reverência quando James o trata como um mero ornamento na frente de todos? Como James pode louvar sua própria liderança, como faz constantemente, quando age desta maneira?'', questiona.

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Tudo por LeBron: os malabarismos do Cavs

Por aí vai. Antes de mais nada, para quem não está familiarizado com o jornalista, estamos falando de uma das figuras com maior credibilidade na liga, com uma cobertura que começou em… 1991. Não é um qualquer desavisado (oi!), especulando, bagunçando, citando fontes anônimas. Mas, sim, um cara veterano que assistiu aos seis jogos das finais num assento privilegiado, alguém com contatos no país todo e que, veja bem, trabalha para a ESPN. Tipo a Globo dos Estados Unidos, galera, quando o assunto é esporte. Se há uma organização que faria de tudo para evitar chatear o astro, seria essa da sigla de quatro letras.

Stein, então, relembra como Tim Duncan respeitou Gregg Popovich desde o início em San Antonio, mesmo antes de o Coach Pop ganhar o status que tem hoje. Essa é uma simbiose incomum, pode ser sacanagem citá-la. Daí que ele lembra como o próprio Andre Iguodala,  aceitou Steve Kerr, mesmo que o técnico tenha decidido colocá-lo no banco pela primeira vez na carreira. Enfim, são diversos exemplos nesse sentido, de uma relação saudável entre jogador e treinador que leva os respectivos times adiante.

O experiente jornalista, de todo modo, também lembra que Blatt tem responsabilidade nesse estresse, ao falhar em conquistar o respeito geral de seu elenco, independentemente de ter sido contratado inicialmente para uma missão (elevar o Cavs a time de playoff, com um elenco jovem) e terminado com outra (guiar um supertime rumo ao título em seu primeiro ano de liga). Ganhar, LeBron, era a prioridade, conforme um scout bastante familiar com o trabalho do técnico havia dito ao blog. O sucesso passava por isso. Blatt, a princípio, tentou se impor. Depois do atrito, também fez concessões, entre elas muito do controle das jogadas a LBJ, abrindo mão de seu sistema ofensivo  quando as coisas não estavam se encaixando em quadra. Afinal, seria burrice ignorar as sugestões de alguém com visão de quadra apuradíssima – e, não, só pelo peso de seu nome. Pelo que entendo, a intenção do texto não é defender o técnico cegamente e atacar gratuitamente o atleta, mas tentar entender, antes de tudo, aonde o jogador esperava chegar ao tratar o (?) comandante de tal maneira?

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>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
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>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto
>> Jogo 6: Campeão e queridinho: nem sempre foi assim

O que nos leva ao seguinte questionamento: será que em algum momento Blatt teve alguma chance de conquistar o astro? Erik Spoelstra penou em sua mão também, mas contou com a ajuda de Pat Riley e Dwyane Wade para segurar as pontas, contornar a tensão inicial e chegar a um estágio em que seus conceitos de jogo poderiam prevalecer. Não vai ser qualquer rabisco de prancheta que vai convencer James. Isso está claro. Que os jogadores tenham mais poderes era algo que deveria acontecer, mais, aliás. É uma tese de LeBron que me agrada. O treinador tem a palavra final, mas o mais saudável é sempre um bom diálogo, como Steve Kerr nos ensina.

Ao que parece, o grande problema aqui é um ego desmedido. O ego de quem sabe que é a maior figura da NBA hoje – uma referência para o marketing global. Que, de novo, tem o Cavs na palma de suas mãos, deixando o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin numa situação muito desconfortável. Lembrem-se que ele pode se tornar agente livre logo mais, algo que Griffin espera que aconteça, mesmo, com o exercício de uma cláusula contratual. É difícil de imaginar que o ala possa virar as costas para o ''seu povo'' mais uma vez. Os trunfos são todos dele, todavia, na hora de negociar. Em sua missão declaradamente messiânica, quem poderá interferir?

LeBron James, Cavs, Cleveland, legacy

LeBron é alguém preocupado com seu legado. Dentro e fora de quadra

Em entrevista coletiva nesta quinta, que já estava programada e acabou coincidindo com a publicação do artigo bombástico, o gerente geral mais uma vez assegurou Blatt como seu técnico para a próxima temporada. Qualificou a publicação de Stein como ''sensacionalista'' – embora em nenhum momento o texto carregue na tinta e tenha críticas estritamente baseada em observações in loco do que se passava em torno do Cavs, e não no diz-que-diz de fontes anônimas. Convenhamos que não havia como ser diferente a atitude da diretoria, assim de imediato, já que Blatt, com uma equipe toda remendada, ficou a duas vitórias do título. Com o respaldo de Gilbert, que escolheu pessoalmente o técnico, o cartola agora deve torcer para que o período de férias e o longo distanciamento entre as partes sirva para aplacar essa tensão. Desde que Irving se reabilite, que Kevin Love renove (e seja mais bem explorado pelo treinador, diga-se) e que o contrato de Brendan Haywood e a escolha de Draft deste ano sejam bem aproveitados, o Cleveland tem tudo para voltar fortalecido e justificar a condição já de favorito nas bolsas de aposta.

LeBron, Finals, 2015, Cavs

Vai ter contra-ataque?

Por mais óbvia que seja a necessidade de mimar e convencer o astro, é preciso também encontrar um equilíbrio e não ceder todo o controle ao atleta. Acho. Com a divisão apropriada de tarefas é que poderemos saber até onde vai a culpa e o mérito de um e do outro. Com a disposição de LeBron de assumir as rédeas, fica tudo nebuloso. Peguemos a tática para desacelerar o jogo ao máximo, que deu tão certo nos três primeiros jogos. Quem teve maior influência aqui? Um jogo lento, porém, não significa que precise ser estagnado, com quatro atletas plantados em quadra esperando a definição do craque. Quem ditou o posicionamento deles?

Enfim, as questões são meio que retóricas, e, independentemente das incertezas, Blatt ainda merece muitos elogios. É inconcebível que o jogador tenha planejado tudo sozinho. De qualquer maneira, aguardo com ansiedade, desde já,  o 'outro lado' da história, o de LeBron. Das duas, uma: a) um artigo recheado de fatos que tentem menosprezar Blatt e explicar o desdém do astro por sua figura; ou b) um artigo que procure dizer que não existe nada disso, tentando descolar a imagem da estrela de uma eventual decisão drástica sobre o treinador – quiçá não haja resposta nenhuma até, estratégia que talvez seja ainda mais eficiente.

E admito: nas aulas (seculares) de história, ou nas histórias de fantasia, a ideia da existência de um rei, de um líder supostamente magnânimo, nunca me agradou tanto – e o Game of Thrones, galera, só faz esse sentimento piorar, né? Houve reis e reis, imaginários, ou não, é verdade, mas em geral não me deixo seduzir por qualquer aura que os homens da coroa possam ter. Logo, se você for juntar os pontos, deve imaginar que não curto o apelido (autodeclarado de) King James.

Em quadra, ele teve uma atuação soberana contra o Warriors, mesmo que aqui e ali tenhamos aqui e ali algum indício de declínio, a julgar pela dificuldade que teve para encarar Iguodala e o baixo aproveitamento nos arremessos de quadra, que despencaram nos playoffs em relação ao que andava fazendo em Miami. Claro que o contexto do time, desde os companheiros ao sistema tático, influencia de modo decisivo nessa queda de eficiência – mas, não, na consistência. A carga enorme carregada nessa última jornada, ao meu ver, só faz a lenda crescer. Foi um desempenho absurdo. Em quadra, já um dos dez melhores da história.

Por outro lado, os recentes relatos dos bastidores do Cleveland dão claramente outra contação a essa alcunha de Rei, nos remetendo a um déspota. Estaria LeBron verdadeiramente preparado para assumir toda a responsabilidade e adotar o esquema de ''eu ganho'' e ''eu perco'', abolindo a primeira pessoa do plural? Ironicamente, é isso o que o seus críticos mais querem.


Campeão, Golden State é hoje o queridinho da NBA. Nem sempre foi assim
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Giancarlo Giampietro

CLEVELAND, OH - JUNE 16: The Golden State Warriors celebrates with the Larry O'Brien NBA Championship Trophy after winning Game Six of the 2015 NBA Finals against the Cleveland Cavaliers at Quicken Loans Arena on June 16, 2015 in Cleveland, Ohio. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, user is consenting to the terms and conditions of Getty Images License Agreement. (Photo by Ezra Shaw/Getty Images)

Eles estrelaram contra LeBron James as #NBAFinals de maior audiência nas transmissões da ABC. Stephen Curry foi alçado ao rol dos jogadores mais populares da liga. O estilo de jogo é vistoso, frenético, empolgante. Eles se tornaram os queridinhos da América, antes mesmo da conquista do título nesta terça-feira, com uma vitória por 105 a 97 sobre o Cleveland Cavaliers para fechar a série.

Não tem muito o que ser dito sobre este Jogo 6, em relação ao que se passou nos últimos duelos (comentários linkados logo abaixo). O Cavs fez o que podia com o que havia de disponível. David Blatt não conseguiu criar um fato novo na série – e sabe-se lá qual fato poderia ser esse, com um banco de reservas muito limitado devido aos desfalques de Kyrie, Love e Varejão e a surtada básica de JR Smith, dos profissionais milionários mais imaturos que a gente vai ver por aí. Não dava para esperar nada de Mike Miller, Shawn Marion ou Kendrick Perkins.

E não dava para pedir mais nada de seu grande craque, o ídolo local que ficou a uma assistência de mais um triple-double, com 32 pontos e 18 rebotes em 47 minutos. O camisa 23 terminou a série decisiva com 35,8 pontos, 13,3 rebotes, 8,8 assistências – é a primeira vez que um atleta lidera as finais nestes três quesitos –, em 45,8 minutos, mas com 39,8% nos arremessos de quadra. Amarga o quarto vice-campeonato em seis finais, mas não há absolutamente nada o que falar a respeito de seu desempenho desta vez. Está entre os maiores já.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
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>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto

A partir do quarto período da terceira partida, com uma arrancada que ameaçou aquela que seria a segunda vitória do Cleveland, os campeões do Oeste sobraram – mesmo que não tenham conseguido impor seu estilo seu ritmo. De modo que, agora, eles são também os campeões da liga como um todo, após 40 anos. Aclamados. Entre eles está Leandrinho, o segundo brasileiro campeão da liga, 12 anos depois de sua estreia. Com um papel limitado, mas jogando muito bem, importante na engrenagem de um grande time, que somou 83 vitórias e 20 derrotas em todo o campeonato.

Esse é o terceiro maior total de triunfos na história, atrás apenas do Bulls de 1996 e 97, e uma quantia que se explica pela combinação de ataque (o mais eficiente da temporada, num empate técnico com o Clippers) e também a melhor defesa, mesmo jogando no ritmo mais acelerado do campeonato. Uma combinação inédita, aliás, mas aplicada por um vencedor como Steve Kerr, em seu primeiro ano no cargo, para dominar uma Conferência Oeste inóspita.

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40 anos de sofrimento: as trapalhadas do #GSW

A grande surpresa foi, confesso, a eleição de Andre Iguodala a MVP das finais. Não que não merecesse: teve o meu voto virtual. Acreditava, porém, que Stephen Curry levaria, pelo maior cartaz (e não seria um absurdo, digamos) – já que seria muito difícil entregar o troféu para o melhor em quadra, mesmo, uma vez que ele saiu de quadra derrotado. A candidatura do ala teve como plataforma principal a defesa que fez para cima de LeBron. Incrível sua resistência diante de uma força da natureza. O astro adversário acumulou números espetaculares, mas o fato é que, quando marcado diretamente pelo antigo sexto homem do Warriors, seu rendimento foi ínfimo.

Mas não fica só nisso: Iguodala foi o atleta mais consistente para Steve Kerr durante as seis partidas e também contribuiu no ataque, com 16,3 pontos, 4,0 assistências, 40% nos arremessos de longa distância e 52,1% no aproveitamento geral de quadra. Para não falar dos 5,8 rebotes, importantíssimos para facilitar a decisão do técnico de promovê-lo ao time titular no Jogo 4, no lugar de Bogut. Com ele em quadra, o Golden State teve saldo de 62 pontos em 222 minutos de ação. Nos 76 em que descansou, sua equipe saiu com placar negativo (-19).

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Ao contrário do que se passou com o Cavs, contudo, com sua total dependência de LeBron, o Golden State realmente venceu como conjunto. É nessa hora que vale a pena recuperar o histórico de alguns dos personagens. Quem são esses caras, afinal? E aí que se dá conta de que nem sempre foi assim. Nem sempre foram as figuras mais aplaudidas do pedaço. Muitos daqueles que hoje são celebrados já ouviram muitos ''nãos'' na carreira, a começar pelo MVP da temporada regular:

Stephen Curry: filho de um jogador de sólida carreira na NBA, mas o sobrenome não foi o bastante para que conseguisse bolsa em uma universidade mais prestigiosa. Fechou então com a modesta instituição de Davidson, que mandou, no total, apenas seis jogadores para a grande liga. Quatro deles se aposentaram antes dos anos 80. Era considerado muito frágil, baixo, lento para que se tornasse um profissional, quanto menos seu jogador mais valioso.

Klay Thompson: mais um caso de prospecto que tinha tudo para se profissionalizar com tranquilidade. Afinal, também tinha um pai com currículo significativo, sendo inclusive campeão pelo Lakers e número um em seu Draft. Quando colegial, nas partidas mais relevantes, ficava mais tempo no banco, vendo um tal de James Harden, antes da barba, brilhar em quadra. Foi ignorado pelas principais universidades da Califórnia e teve de buscar uma vaguinha em Washington State, que, ao menos, revelou 16 jogadores de elite. Também teve um incidente com a polícia em sua época de universitário, detido com posse de maconha. Não curto muito a patrulha contra atletas fora de quadra, mas obviamente que se trata de uma notícia que poderia ter atrapalhado o lançamento de sua carreira. Hoje, um All-Star e campeão mundial.

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

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Leandrinho: sair do basquete brasileiro para brilhar na NBA parece, hoje, algo fácil, devido ao constante influxo de talento daqui para lá. Balela. É uma transição ainda muito difícil. Mais complicado ainda é se fixar por lá e vencer (muitos jogos) e ganhar (uma bolada e prêmios). Foi o caso do ligeirinho, estreante em 2003. O tempo passa, porém, e, já veterano, o ala-armador passou por provações talvez ainda mais desafiadoras que o Draft. Com uma cirurgia por lesão do ligamento cruzado anterior, teve de retomar sua carreira no Brasil, com ajuda do Pinheiros, até retornar aos Estados Unidos pela porta dos fundos. Nem o Golden State Warriors confiava plenamente em sua recuperação, diga-se, tendo lhe oferecido um contrato sem garantias. Daqueles em que o clube pode cortar o atleta até janeiro, sem obrigação de pagar todo o salário acordado. Pouco provável que tenha de esperar tanto por um emprego na temporada que vem.

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

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Draymond Green: um ala-pivô de 2,01 m? E lento? Sem impulsão? Na NBA? Ah, conta outra. A revelação de Michigan State construiu um grande currículo na NCAA, tinha os números ao seu favor, mas seu perfil não agradava tanto assim a grande parte dos scouts. Foi selecionado, como um senior, aos 22 anos, apenas na 35ª colocação, atrás, pela ordem, de Jae Crowder, Bernard James, Tomas Satoransky, Jeffery Taylor, seu companheiro Festus Ezeli, Marquis Teague, Perry Jones… Enfim, entenderam, né? Até Fabrício Melo, o 22º, saiu antes. Está preparado para receber um contrato na casa de US$ 15 milhões anuais.

Andre Iguodala: ok, um jogador elogiado basicamente durante toda a sua carreira. Como ele mesmo disse ao receber o prêmio em quadra: já foi comparado a um jovem Scottie Pippen, um jovem Grant Hill, Penny Hardaway… Para tê-lo no elenco, o Golden State pagou duas escolhas de Draft. Acontece que, neste ano, ao se apresentar para o training camp, foi puxado de canto por Steve Kerr para ser informado de que viraria reserva. O técnico o enxergava como o sexto homem do time. Pode parecer bobagem, mas há muitos atletas que não tolerariam um comunicado desses e pediriam troca. (Oi, Dion Waiters). Iguodala admite que estranhou a ideia a princípio. Mas topou a causa e não abriu o bico em nenhum momento durante o campeonato. Acabou, por isso, fazendo história, ao ser o primeiro MVP das finais sem ter começado sequer uma partida da temporada regular como titular.

– Andrew Bogut e Shaun Livingston: mais dois casos de atletas prestigiados desde cedo. A dificuldade que a dupla teve de enfrentar teve a ver com questões física. Gravíssimas lesões, daquelas que ameaçam uma carreira. Especialmente no caso de Livingston, quando ainda era um promissor armador pelo Los Angeles Clippers, aos 21, em 2007, e arrebentou o joelho num dos lances mais assustadores que você vai achar no YouTube. Ficou um ano parado, em recuperação. Desde que voltou, defendeu sete times diferentes (incluindo o Cleveland) até chegar nesta temporada ao Golden State. A lesão mais séria de Bogut aconteceu em 2010, quando, após uma enterrada em Milwaukee, caiu em quadra com tudo, sofrendo deslocamento no cotovelo, fratura no braço e torção do pulso.


Brasileiros retiraram a candidatura ao Draft da NBA. O que houve?
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Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho em Treviso, e os scouts da NBA atrás

O que houve?

Bem, respondendo: não é que tenha sido algo anormal, para começo de conversa. Foram quatro os jogadores daqui que se declararam ao Draft da NBA deste ano e, no final, acharam por melhor retirar retirar a candidatura. Foram os três pinheirenses Georginho, Humberto e Lucas Dias, mais o mineiro Danilo Siqueira.

Todos os jogadores de fora dos Estados Unidos, que não completam 22 neste ano, tinham até esta segunda-feira para decidir se continuariam, ou não, no páreo para a cerimônia que será realizada no dia 25, em Nova York. Cada um saiu por seus motivos. Isso significa que não sejam bons jogadores, que não tenham talento e que não possam mais flertar com o recrutamento de calouros da liga americana no futuro. Danilo será um candidato automático em 2016, por  chegar aos 22. Para constar, qualquer jogador brasileiro nascido em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, ainda pode ser escolhido este ano – mas seria uma grande surpresa. Lucas e Humberto têm pelo menos mais dois anos para participar do processo. Georginho, mais três.

O mais jovem do quarteto de ex-candidatos, aliás, era o que tinha a melhor cotação. De quatro clubes consultados pelo blog na segunda-feira, três disseram que tinham 100% de certeza de que ele seria selecionado no Draft, enquanto o outro acreditava que isso não seria possível, já por acreditar que o armador não ficaria na lista. Mesmo que esta seja uma pequena amostra no contexto da liga (4 de 30 clubes opinando), dificilmente o caçulinha passaria em branco na lista, devido aos seus atributos físicos incomuns e a tenra idade. Então por que abrir mão disso?

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Danilo Siqueira: muita energia em trilha promissora

Existe uma diferença entre ser selecionado e ser pinçado especialmente por uma franquia que esteja disposta a elaborar um projeto detalhado, paciente, de longo prazo para um atleta de enorme potencial, mas muito jovem, longe de estar preparado para  encarar uma temporada regular – como nos moldes do Toronto Raptors com Bruno Caboclo, independentemente do sucesso dessa empreitada. Que ele fosse escolhido na segunda rodada do Draft e enviado ao basquete europeu estava descartado. Não seria nada fácil encontrar um clube disposto a investir num garoto que seria enquadrado já como adulto e não tem dupla cidadania. ''Jogar na Europa não faz sentido para ele'', afirma um scout internacional ao VinteUm. ''Ele precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião. A D-League provavelmente seria o melhor caminho, mas aí você tem de ter um time com afiliação única.''

Pois é: até para evitar a situação desconfortável que Caboclo enfrentou durante a temporada, jogando por um time que não tinha obrigação alguma de lhe dar minutos e oportunidades, o ideal era encontrar um dos 17 clubes com filial exclusiva na liga de desenvolvimento. Com um eventual contrato de quatro anos. E que tenha um histórico saudável no trato com atletas mais jovens. Você vai peneirando e peneirando, e os cenários fiam reduzidos. Os clubes ligaram para a base da poderosa Octagon nesta segunda-feira em Chicago, mas, no fim, não apareceu nada de concreto em relação ao tipo de comprometimento que esperavam.  Os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis decidiram, então, pela cautela e por mantê-lo no Pinheiros, com a perspectiva de receber muito mais tempo de quadra entre a elite nacional. ''O projeto do clube para a próxima temporada é muito bom para os garotos. Optamos por este projeto'', disse Resende.

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O mesmo raciocínio se aplica ao ala Lucas Dias, que deve virar um ponto de referência para o técnico Claudio Mortari. Em relação a Humberto, os agentes declararam seu nome para que ganhasse evidência internacional e se fixasse no radar da liga para os próximos anos. Nem saiu do país, então. A diferença é que tanto George como Lucas já haviam tido mais exposição em quadras estrangeiras, devido ao currículo maior com a seleção brasileira. Eram mais comentados pelos scouts e também tiveram um papel de maior protagonismo na última LDB.

Em Las Vegas

Danilo em Las Vegas: uma semana de trabalho com fundamento

O caso de Danilo Siqueira está à parte. O ala-armador, representado pelo agente Vinícius Fontana, foi para os Estados Unidos passar por um período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, a dez dias da data-limite para retirada do nome da lista. Na sexta passada, fez um workout em frente a uma plateia cheia de dirigentes, até mesmo com Phil Jackson presente. Os cartolas estavam lá para assistir ao letão Kristaps Porzingis, e Danilo pôde pegar carona nessa, num trabalho em conjunto com o superagente Andy Miller. Os planos em torno do atleta do Minas Tênis estavam voltados para o Draft de 2016 – ou para uma transferência para a Europa ao final de seu contrato.

(Aliás, existe um consenso entre as quatro fontes da NBA consultadas e que é  preocupante: eles acreditam que os jovens deveriam sair do Brasil ''o quanto antes'', para acelerar sua curva de aprendizado. É um tema espinhoso, mas obrigatório de se abordar aqui no blog, mas em outro texto. Nos próximos dias, prometo.)

Georginho e Lucas encararam um périplo nas última semanas. Primeiro, passara duas semanas treinando na academia IMG, na Flórida e voltaram ao Brasil. Em abril, o armador participou do Nike Hoop Summit, em Portland. Depois, em maio, foi a vez do Draft Combine em Chicago – que o ala perdeu por conta de uma torção no tornozelo. Por fim, neste mês, viajaram até Treviso, na Itália, para disputar o adidas Eurocamp. Em volta disso, muitos workouts particulares nos Estados Unidos.

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

É raro que um prospecto, no caso de George, ganhe esse tipo de exposição rumo ao Draft. O brasileiro alternou boas e más partidas, algo natural para alguém tão inexperiente, que ainda está aprendendo inglês (e avançou bastante nesse sentido), ficou na estrada por um bom tempo e está habituado a um nível de concorrência muito inferior em quadras brasileiras (e aqui obviamente fez falta uma rodagem maior no NBB…). Em Chicago e Treviso ele jogou contra caras até cinco anos mais velhos. ''Nos dois casos, não é um ambiente fácil para se jogar, devido ao fator competitivo entre os atletas, que querem nos impressionar'', afirmou um executivo de um clube da Conferência Oeste. ''E pode anotar: não é fácil também para avaliar os jogadores nesse tipo de atividade.''

Para Lucas, o evento na Itália era essencial, mas no qual existe essa complicação para se afirmar, acentuada no caso de um ala-pivô, que depende dos companheiros para entrar em ação. ''Ele não conseguiu fazer muita coisa nos dois primeiros dias. Não encontrou o seu nicho neste tipo de configuração, com tantos atletas que dominam a bola'', diz o scout internacional aqui já mencionado. ''Ele foi ok. Teve alguns bons momentos no fim. Mas não me impressionou  muito com seu arremesso'', afirmou outro olheiro.

Para muitos avaliadores, os camps foram a primeira oportunidade de ver os brasileiros ao vivo. Nos treinos, o cenário já era outro. A maior parte das franquias que os convidaram foi de times que vieram ao Brasil para observá-los – caso de San Antonio, que compareceu duas vezes, Dallas e Portland, por exemplo. Em duas escalas em que a dupla visitou, ouvi de dirigentes que eles ''competiram'' muito bem, jogando de igual para igual com atletas já formados na NCAA. A tendência é que esses clubes que os acompanharam seu habitat os tenham em melhor conta. Foram avistados no mínimo dez times diferentes em ginásios brasileiros.

Houve quem se encantasse pelo garoto (como no caso de um dos clubes consultados pelo blog), outros que acreditavam que levaria muito tempo para que ele se desenvolvesse e se tornasse um atleta de NBA (dois clubes) e também os que não vinham nele as qualidades necessárias para se investir (o clube que não acreditava que ele fosse selecionado). Aqui é importante ressaltar a complexidade do universo dos scouts. Cada franquia tem um batalhão de observadores. Haverá conflitos naturais de opinião, gente com todo o tipo de ponto de vista possível.  Além disso, nem sempre o apreço de um scout signfique que seja possível a escolha do atleta. Como está a configuração do elenco? Eles já têm muitos jovens com quem trabalhar? Precisam reservar espaço no plantel para fechar uma troca? Precisam poupar dinheiro para não pagar multas? Etc.

E é aqui que fica uma lição para o blog, que repasso agora: esqueçam as projeções sobre o Draft dos sites especializados. Quer dizer: podem consultar, mas não é para levar ao pé-da-letra. Servem como indicativos, mas de uma forma bem flexível, digamos, e com a influência de muitos fatores externos. Haja lobby. O próprio Jonathan Givony, do DraftExpress, já disse que, se não desse tanta audiência, nem as faria, por achar bobagem. O esforço dele e de boa parte dos analistas dedicados a esta cobertura está quase todo voltado para a primeira rodada do recrutamento. O que já é difícil de acertar – e cujos palpites só tendem a se tornar mais precisos na véspera do evento, quando os times estão realmente encaminhados. Para a segunda rodada, então, com vendas e trocas de picks, então, não há como prever. Basta lembrar o que aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado. O VinteUm até ouviu de múltiplas fontes que o ala tinha uma promessa do Toronto Raptors ou do Indiana Pacers. A informação estava circulando. Mas ninguém imaginava que o clube canadense fosse escolhê-lo em 20º. O plano nem era esse.

Caboclo só ficou no último Draft porque o Raptors, basicamente, pediu. Dessa vez, nenhum time se comprometeu, ou fez uma promessa desse tipo. As conjunturas mudam. E o que os quatro brasileiros têm ao seu lado, além do talento natural, é o tempo. Todos eles vão trabalhar com o técnico Gustavo de Conti, em Rio Claro, nos próximos dias para disputar a Universíade, na Coreia do Sul. Segue o jogo. Retornam provavelmente um tanto frustrados, mas certamente com mais bagagem e lições para serem revisadas durante a próxima temporada para, quiçá, tentar mais uma vez.


Steph Curry merecia uma dessas, e Warriors fica perto do título
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Giancarlo Giampietro

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Stephen Curry estava precisando de uma partida dessas. Para fazer justiça ao seu campeonato magnífico. Não que estivesse jogando mal. Nas últimas duas partidas, já havia feito algumas coisas memoráveis. Mas estava faltando uma atuação seminal, assim como foi toda a sua campanha. Nas palavras de Everaldo Marques… Bingo! Aconteceu neste domingo, e o Golden State Warriors agora está a uma vitória do título, tendo vencido o Cleveland Cavaliers por 104 a 91.

LeBron James conseguiu o segundo triple-double nestas #NBAFinals, mas foi privado da comemoração, diferentemente do que havia acontecido no Jogo 2, quando saiu de Oakland com o mando de quadra ao seu favor. Aquela foi mais uma exibição primorosa do astro, o melhor jogador desta série decisiva, sem dúvida. Até mesmo coadjuvantes como Matthew Dellavedova e Andre Iguodala já tiveram seus momentos definitivos. Numa série sensacional, com suas idas e vindas, faltava, então, uma exibição magnífica do MVP da temporada. E aí vieram os 37 pontos em 42 minutos, com sete bolas de três pontos em 13 tentativas.

Melhor: boa parte de sua produção desenrolada no quarto final, respondendo a mais uma tentativa de marcha de James e seus aguerridos cavaleiros. Curry marcou 17 pontos na última parcial (um recorde nos últimos 40 anos), com 5-7 nos arremessos em geral, 3-5 de longa distância e mais 4-4 lances livres. Algumas de suas cestas desafiaram qualquer lógica pré-estabelecida – cujos vídeos deveriam ser acompanhados por algum aviso do tipo: ''Não tentem repetir isso em casa. Ou melhor, na sua quadra''.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs

Sim, corre-se esse risco. Assim como Kevin Garnett influenciou sabe-se lá quantos pirulões a expandir seu arsenal de fundamentos, neste exato momento milhares de baixotinhos estão assistindo ao astro do Warriors, congelando a imagem frame a frame, para tentar imitar seus movimentos, acreditando ser possível. Provavelmente um pirralho chegue perto no futuro. Igualá-lo? Impossível. Estamos vendo alguém único, que realmente quebra paradigmas em quadra com sua destreza nos arremessos a partir de um controle de bola belíssimo.

Curry joga, de certa forma, no limite. É o máximo de refinamento técnico que se tem por aí hoje, mas por vezes passa a impressão de que está flertando com a displicência. Contra uma defesa feroz, combativa como a do Cavs, a eficiência não foi a mesma da temporada regular ou dos playoffs. Seus números em pontos, assistências e aproveitamento nos arremessos caiu, enquanto o de turnovers decolou, com média de cinco por partida. A segunda partida beirou o desespero, por exemplo, com 18 arremessos errados em 23 tentativas e mais desperdícios de posse de bola (seis) do que assistências (cinco).

Dellavedova foi bastante elogiado por seu trabalho, e com razão. Matéria do Plain Dealer, todavia, indica que talvez os elogios tenham sido exagerados. Pelo visto do ponto de vista do astro do Warriors, que estaria pê da vida com a atenção dada ao seu marcador. ''As pessoas mexeram com o Steph, o que é positivo para nós'', afirmou Andrew Bogut, hoje relegado a assistente técnico no banco, sobre a badalação em torno de seu compatriota. ''É algo que você não gostaria de fazer, mas que para nós funcionou muito bem. O Delly é um grande defensor, mas sabemos que não vai anular Curry.''

Se foi essa sensação de desrespeito, se acabou o gás do adversário ou se simplesmente o cestinha do Warriors teve duas noites pouco inspiradas, a gente dificilmente será comunicado oficialmente a respeito. Fato é que demorou um pouco para que ele se encontrasse no duelo. Quando achou o rumo… Aí danou-se tudo. Depois de acertar apenas 4 de 21 disparos de fora, converteu 18 de 33 nas últimas três. Faz parte do pacote, e o torcedor do Golden State já está mais que acostumado – e maravilhado – com isso. Nas finais, o restante do público pode se entregar.

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Claro que uma diferença dessas não acontece ao acaso. Steve Kerr mudou o modo como explorar seus talentos, deixando quele retomasse alguns hábitos dos tempos de Mark Jackson com mais investidas individuais, uma vez que Dellavedova estava fazendo um excelente papel em lhe negar a bola a partir de trilhas do lado contrário. Outro fato é o simples cansaço de seus oponentes em geral. Algo difícil de quantificar, mas que é inegável e muito relevante.

Nos últimos três jogos, a equipe californiana venceu o quarto período por um placar agregado de 94 a 57. São 37 pontos de vantagem em 36 minutos. O Cavs faz um jogo duro por três parciais e despenca na última, cai por terra. Neste domingo, enquanto o Warriors marcou 19 pontos nos últimos cinco minutos, com 5-8 de quadra, os visitantes ficaram, respectivamente, com 7 e 2-10. Uma discrepância de rendimento que impediu mais um desfecho ao estilo thriller, como tivemos nas duas primeiras partidas em Oakland.

Mas foi um jogaço, de todo modo. Se, bem no início, o basquete apresentado era tenebroso, com direito a cinco turnovers e três airballs em pouco mais de quatro minutos de ação, depois o nível subiu consideravelmente. A emoção foi junto. Foram 20 trocas de líder no placar e 10 empates até o Warriors desgarrar nos últimos quatro minutos. Quando cronômetro ainda mostrava 4min52s, a vantagem dos anfitriões era de apenas um ponto, 85 a 84, depois de uma cesta de Tristan Thompson. Um pouco antes, a 7min47s, com uma bola de muito longe de LeBron, o Cavs chegou a liderar por 80 a 79. Mas o time não teria, então, condições de esfriar Curry, nem mesmo com as faltas intencionais para cima de Andre Iguodala.

Blatt e LeBron tentaram de tudo, aliás. Da parte do treinador, o ajuste maior foi a redução significativa dos minutos de Mozgov, que terminou com apenas nove – e zerado em pontuação, depois de fazer muito provavelmente a melhor partida de sua vida na quinta-feira. Houve momentos em que o superastro era o mais alto do time em quadra, acompanhado por James Jones, Iman Shumpert, JR Smith e Matthew Dellavedova. E, por um bom tempo, deu certo.

É o que dá ter um talento como o de LBJ no elenco. Mesmo em sua formação mais baixa, o Cavs era o time mais forte e físico por causa da mera presença de seu camisa 23, um jogador realmente transcendental, que se juntou a Magic Johnson no clube daqueles que foi armador e pivô num mesmo jogo pelas finais da NBA. A diferença: Magic fez isso em 1980, outra época, com jogo muito mais concentrado no garrafão, claro. (E foi campeão).

Mas, por favor, creio que não há nada que se possa atirar na direção do craque do Ohio, independentemente do que vai acontecer na próxima terça. Se vai ter empate, ou se a conta fecha em seis a favor do Warriors. Dessa vez ele saiu de quadra com 40 pontos, 14 rebotes e 11 assistências, sendo apenas o segundo jogador na história da liga a conseguir um triple-double com 40 pontos na série decisiva. O outro foi Jerry West, em 1969, pelo Los Angeles Lakers. Ironicamente o raro ano em que um jogador do time derrotado foi eleito o MVP do confronto – e ninguém do Boston Celtics estranhou. Não seria absurdo algum repetir esse feito agora com James.

Pois, de novo, não foi só uma questão de brilho estatístico, mesmo que ele tenha tido sua partida mais eficiente nos arremessos (15-34). O que engrandece mais seu desempenho é a dinâmica desses jogos, com o craque carregando o time enquanto pode. No primeiro tempo, das 17 cestas de quadra de Cleveland, 16 tiveram seu envolvimento direto ou indireto. No final, nos ataques em que LeBron não arremessou ou não deu um passe para chute, seus companheiros acertaram apenas 6 em 25 tentativas, com 1-11 nos três pontos.

Já Curry obviamente não fez as coisas sozinho. A disparidade de talento entre um plantel e o outro (desfalcado) é enorme. O Warriors conseguiu 67 pontos com jogadores que não atendem pelo nome de Stephen. Já os atletas de sobrenome diferente de James marcaram 51. Tristan Thompson foi o único parceiro que conseguiu produzir em alto nível neste Jogo 5, com 19 pontos e 10 rebotes. JR Smith deu sinal de vida no primeiro tempo, com 14 pontos, mas voltou a se atrapalhar no segundo. Iman Shumpert foi bem nos chutes da zona morta (3-6), mas tem sérias dificuldades para colocar a bola no chão e completar uma bandeja. As limitações de Dellavedova foram expostas. Já Mike Miller provou, nos surpreendentes 14 minutos que recebeu, que não sua presença neste tipo de jogo já não é mais justificável – se mexe pela quadra com as costas travadas e não dá conta de parar ninguém, sendo até inexplicável a o número reduzido de tentativas do Warriors para atacá-lo no um contra um.

Do outro lado, Andre Iguodala pode ter vivido um pesadelo nos lances livres, errando 9 de 11, mas jogou demais novamente, com 14 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Em termos de consistência e esforço, o ala é o melhor jogador do Warriors nas últimas duas semanas. Depois do que o Chef Curry fez, porém, dificilmente vai perder o prêmio de MVP das finais, a não ser que os eleitores quebrem o protocolo, indicando James.

Draymond Green foi outro que entregou de tudo um pouco a Steve Kerr, com 16 pontos, 9 rebotes e 6 assistências (ainda que se atrapalhando com a bola quando enfrentou jogadores mais baixos, cometendo quatro turnovers). Harrison Barnes atacou os rebotes como nunca, terminando com 10 no total e ainda se impôs atleticamente em alguns embates com James. Se Klay Thompson esteve bem abaixo da média, com 12 pontos em 14 arremessos, seu deslize permitiu a Leandrinho mais minutos, e o ala-armador respondeu muito bem, com sua melhor exibição na série: 13 pontos em 17 minutos, agressivo e novamente eficiente (4-5 nos arremessos, 4-4 nos lances livres). É de se imaginar que o brasileiro não vá ter problema algum para assinar seu próximo contrato:

Isto é, Steve Kerr tem mais alternativas com quem trabalhar. Dessa vez, ele usou até mesmo o pivô Festus Ezeli em alguns minutos estranhos de rotação para abrir o quarto final, enquanto Blatt tinha Mozgov em quadra. O técnico do Cavs foi novamente superior, mas seu raio de ação, porém, se encerra com as limitações da equipe. Kerr, porém, sempre vai ter o mérito de ter feito sua mudança drástica antes do Jogo 4 e também por lidar da melhor forma com os jogos incríveis de LeBron. ''Ele tem a bola em mãos por muito tempo. Nós temos de continuar com nosso plano e não esmorecer se ele acertar seus arremessos. Ele vai, não tem jeito'', diz Curry, sobre seu concorrente, meio que repetindo um mantra desde o Jogo 1. ''Mas, no decorrer de 48 minutos, esperamos desgastá-lo e deixar as coisas muito difíceis para ele.''

É o que tem acontecido. LeBron vem produzindo, mas corre o risco de, com o distanciamento histórico, ver suas exibições relevadas. O craque sabe como as coisas funcionam, após ter conquistado dois títulos e enfrentou muitas decepções. Curry também está ciente a respeito. Por isso, não vai se gabar de um outro lance que tira do sério até mesmo os jogadores que estão na plateia. Como quando passou a descadeirar um australiano já sem se incomodar com a pegada do australiano, entendendo como responder ao desafio. Continua com os lances de efeito, mas com os olhos para a cesta, para o título. O espetáculo que aconteça de maneira inerente. ''Foram alguns momentos legais, mas eles só vão significar alguma coisa se formos campeões. Provavelmente terei uma resposta melhor para essa pergunta depois de vencermos o campeonato'', afirmou o armador do Warriors, torcendo para que isso aconteça o quanto antes. ''Momentos definitivos só acontecem para os jogadores que estão segurando o troféu.''


Virou melhor de três: notas antes do Jogo 5 entre Warriors e Cavs
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Giancarlo Giampietro

Escuta, gente, eu recebi um SMS de madrugada que diz que...

Escuta, gente, eu recebi um SMS de madrugada que diz que…

Após duas vitórias para cada lado, o que temos agora é realmente uma série melhor de três para definir as #NBAFinals. Mas isso não significa que Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers estejam recomeçando do zero. Tudo o que aconteceu nas primeiras quatro partidas conta e influencia o que vem pela frente. E foi muita coisa.

Duas prorrogações em Oakland, com o Cavs roubando o mando de quadra após muito drama. LeBron James nunca arremessou tanto em sua vida, acumulando números absurdos num esforço hercúleo. Matthew Dellavedova virou personagem de cinema. Timofey Mozgov e Tristan Thompson engoliram a tábua ofensiva. Stephen Curry errou muitos arremessos de três pontos e cometeu um caminhão de turnovers no meio do caminho até reencontrar o mínimo de equilíbrio. Andre Iguodala provou que ainda pode ser um jogador bastante relevante na liga, assim como David Lee, em menor escala. E, claro, diante de tanta movimentação por parte de seus jogadores, David Blatt e Steve Kerr jogaram xadrez. Ou pôquer. Escolham.

A série
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Rumo ao Jogo 4, o Warriors estava contra a parede, encurralado pela pressão física que seus adversários estavam impondo, incomodando LeBron aqui e ali, mas se curvando diante de sua dominância. E aí o time californiano radicalizou, ao banir nos grandalhões de sua rotação e enfim assumir o controle das ações em quadra, como aconteceu na quinta-feira.  Agora é a vez de Blatt promover ajustes, embora seja difícil imaginar quais.

Pequenas coisas podem ser feitas. A preocupação inicial é tentar ajudar Matthew Dellavedova a ser eficiente no ataque, liberando o australiano com bons corta-luzes para que ele possa produzir alguma coisa. A outra é o que fazer quanto a Andre Iguodala. Em teoria, você paga para ver seu chute de longa distância, historicamente ineficiente. Mas que tal apenas fazer sombra ao ala, pelo menos? Sobre os minutos de LeBron: quando ele vai descansar e como atacar quando ele está no banco? Gastar os 24 segundos só não adianta.

É aqui, então, que entra a primeira de algumas notinhas interessantes que pudemos coletar desde quinta. Uma nota que vale como emenda ao último artigo do blog sobre as finais: a escassez de alternativas técnicas para Blatt, e a angústia que essa constatação gera:

– Diga-me com quem andas
O repórter Brian Windhorst construiu sua carreira na NBA com a sorte de poder acompanhar o surgimento do adolescente LeBron em Ohio, ao mesmo tempo em que trabalhava diariamente na cobertura do Cavs. Competente, cultivou fontes e estava muito bem posicionado para relatar o que se passava ao redor do principal nome da franquia. Foi, por isso, contratado pela ESPN.

Estamos falando, logo, de alguém bem conectado, com credibilidade para dar furos sobre o cotidiano do clube. Sua última matéria de bastidores, com base em fontes anônimas, porém, é daquelas de se fazer coçar a cabeça. Apurou que ''alguns jogadores sentem, acreditam que uma rotação mais ampla, com minutos mais distribuídos, beneficiaria a equipe''.

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Só faltou identificar que tipo de jogador estava falando isso: os que não estão saindo do banco, ou algum titular eventualmente extenuado? Faz toda a diferença, não? Se o cara não está sendo utilizado, dãr, é claro que vai pedir para entrar na festa. São as finais. Se alguém estiver se arrastando, não poderá pedir para sair, literalmente, mas pode recomendar que um companheiro diferente seja utilizado. Pega bem com o coletivo, ao mesmo tempo em que não funciona como confissão.

As duas linhas argumentativas fazem todo o sentido, aliás, como teoria. Na prática… O que está sendo pedido? Que Blatt tente abrir as portas do vestiário para Mike Miller e/ou Shawn Marion – já que pedir Kendrick Perkins e Brendan Haywood ultrapassaria a fronteira da insanidade. Sobre Miller e Marion: talvez fosse o caso de arriscar, mesmo, a inserção de um deles no grupo de atletas ativos. O problema: quem exatamente eles vão substituir, em termos de dar descanso?

Há cinco anos, Marion poderia dar muito trabalho ao Warriors. Agora, quer jogar, mas ninguém sabe ao certo o que ele pode oferecer – ou se não vai atrapalhar

Há cinco anos, Marion poderia dar muito trabalho ao Warriors. Agora, quer jogar, mas ninguém sabe ao certo o que ele pode oferecer – ou se não vai atrapalhar

Os titulares visivelmente mais desgastados são LeBron e Dellavedova, e não me ocorre de que maneira um dos veteranos alas poderia rendê-los. Sem Kyrie Irving e Kevin Love, o Cleveland não tem um jogador além de seu principal astro que possa criar jogadas por conta própria. Marion e, muito menos, Miller, não se encaixam nesse perfil. Não adianta ter um chutador desses, se ele não vai ter espaço para arremessar – como aconteceu em Miami e Memphis, a partir das sobras de James, Wade, Bosh, Gasol e Randolph. Isso para não falar do jogador que ele precisaria marcar: Barnes, Iguodala, Livingston, Leandrinho? Sem chance. (Antes de mais nada, o mesmo raciocínio vale para o calouro Joe Harris, com o agravante de sua inexperiência).

Do outro lado da quadra, o antigo Matrix já não tem mais condições de marcar um armador, especialmente um armador veloz e habilidoso como o Chef Curry. Mesmo com minutos reduzidos. Fiscalizar Klay Thompson talvez seja pedir demais. E, em termos de ala-lento-que-ainda-pode-tentar-fazer-alguma-coisa-para-atrapalhar-Draymond-e-Harrison, James Jones já se ocupou dessa tarefa, sendo muito mais perigoso nos arremessos. Ele parece o mais indicado para dar uma folga a Tristan Thompson.

De resto, temos Timofey Mozgov, sobre o qual não precisamos nem gastar mais tempo para discutir, e os demais alas. JR Smith jogou menos de 32 minutos por partida desde que chegou a Cleveland e passou também um bom tempo no banco em Nova York. Iman Shumpert sofreu com pequenas lesões e não passou dos 25 minutos em média em seu novo clube. Nos playoffs, sua carga subiu para 34 minutos. O cabeleira tem 24 anos, um a mais que o Thompson canadense, alguém que leva muito mais pancadas numa partida de basquete e deu de ombros ao ser questionado sobre um eventual cansaço ao final do Jogo 4. Miller e Marion poderiam eventualmente substitui-los por alguns minutos pontuais que fossem. No plano geral, faria diferença? São caras que já ganharam títulos, sabem o que precisa ser feito. A dúvida é se eles ainda conseguem e se, mais grave, os meros minutinhos que possam ganhar não seriam muito custosos.

A temporada regular dos veteranos...

A temporada regular dos veteranos… Não anima muito

''É uma decisão do técnico, se ele pensar em usar mais o banco. Não usamos muitos caras nesta campanha de playoff. Acho que poderia ajudar alguns dos que estão acumulando muitos minutos, certamente. Basta dar alguns minutos aqui e ali. Mas a comissão técnica vai  tentar fazer o que for melhor para nos ajudar em nossa preparação física e mental para o domingo'', diz LeBron, para, depois, completar e consentir: ''Não temos muitas opções em termos de escalação.''

Seria prudente um remanejamento de minutos. Qualquer respiro a mais para LBJ pode ser valioso no caso de outro jogo apertado. A dica até ficaria. Mas aí você tem de encontrar as alternativas para sustentá-la.

– Valendo US$ 6 milhões ou mais
Se o banco de reservas não oferece muitas alternativas, a grande esperança de Blatt talvez seja, mesmo, uma evolução dos próprios jogadores que ele vem utilizando. Em especial JR Smith. O ala seria o único que poderia realmente ajudar a aliviar as responsabilidades ofensivas do camisa 23. Não estivesse numa terrível fase.

Taí um chute quase contestado para JR converter. Fácil?

Taí um chute quase contestado para JR converter. Fácil?

Se, contra o Atlanta Hawks, o avoado Smith teve médias de 18 pontos e 50% nos arremessos, contra o Golden State seu aproveitamento vem sendo horroroso, que não compensa em nada sua constante desatenção defensiva. Em quatro partidas, tentou 47 arremessos de quadra e converteu apenas 14. Na linha de três, foram 7 em 28. Se ele comete poucos turnovers, também não dá assistências (foram apenas três até aqui), num claro sinal de que não está criando, nem mesmo tentando criar nada. Deve ser um reflexo direto do plano de jogo centralizado em James, para gastar o tempo e conter o número de desperdícios de bola. Mas o Cavs precisa, com certo desespero, que ele ao menos consiga converter os chutes que tiver no lado contrário a partir das eventuais dobras em cima da superestrela. LBJ sabe disso.

''Ele pode errar uma centena de arremessos'', disse. ''Se estiver bem posicionado, a partir de infiltrações e passes para fora, tem de chutar com confiança. Se ele estiver se sentindo confiante em sua agilidade, então eu também estarei confiante nisso. Enquanto competidor, se você perder sua confiança em suas capacidades, fica muito difícil de recuperá-la.''

Com mais mobilidade, a defesa do Warriors forçou que Smith, Dellavedova e Shumpert colocassem a bola no chão antes de subir para a cesta. A estratégia deu certo, em geral. Mas o próprio Smith é quem se gaba ao dizer que prefere muito mais um arremesso contestado, difícil, do que aquele em que estiver livre. Tem agora uma ótima oportunidade para comprovar sua lógica tresloucada.

As decisões de extensão contratual de James e Kevin Love, naturalmente, são as que mais chamam a atenção nos bastidores do Cavs. Acontece que JR também pode virar um agente livre, caso decida exercer uma cláusula contratual e abrir mão dos US$ 6,4 milhões que tem para receber na próxima temporada. Se continuar ladeira abaixo nestas finais, talvez seja difícil optar pela rescisão, com a insegurança de que talvez não esteja tão valorizado assim para assinar um novo compromisso de longo prazo.

– Tem hora para tudo
Nick U'Ren tem apenas 28 anos. Você pode espiar seu currículo aqui e perceber uma vasta área de atuação e talvez não pudesse imaginar que partiu dele uma sugestão que pode ter mudado o rumo da série: a promoção de Andre Iguodala ao time titular, mas no lugar de Andrew Bogut. Lee Jenkins, um dos melhores textos e repórteres envolvidos com a cobertura de NBA, conta tudo na Sports Illustrated.

Seu cargo tem o seguinte título: ''assistente especial do treinador principal''. O cara basicamente quebra todo o tipo de galho para Steve Kerr e sua comissão técnica. Na última quarta, decidiu fazer algo a mais. No tempo (supostamente) livre à noite, decidiu recuperar alguns VTs das finais do ano passado, entre Spurs e Heat. Não faz tanto tempo assim, mas é fácil relevar ou mesmo esquecer alguns detalhes daquela batalha que envolveu um time totalmente dependente de LeBron. Foi quando se deparou com a escalação texana para o Jogo 3, em Miami. Tiago Splitter, tão importante para a defesa de Gregg Popovich, deu lugar a Boris Diaw no quinteto inicial.

U'Ren telefonou na hora para Luke Walton, um dos assistentes e Kerr proteção do aro, o Warriors rebaixaria sua estatura e envergadura completamente. Walton, o integrante mais jovem do corpo de técnicos, matutou e abraçou a causa. Mandou uma mensagem de texto às 3 h da madruga para Steve Kerr. Essa é a história por trás da ''mentira'' assumida por Steve Kerr, que havia dito que não alteraria de forma alguma seu time.

Nick U'Ren, o homem do momento

Nick U'Ren, o homem do momento

O treinador tinha todos os motivos para relutar, mesmo. Com Bogut patrulhando o garrafão, seu time foi o melhor da liga por quase 100 partidas. Embora tivessem perdido o o controle das finais, não é fácil passar a borracha em tudo o que haviam elaborado até o momento. No fim, porém, o pentacampeão da NBA ignorou qualquer noção de vaidade e topou a mudança proposta por um cara de 28 anos, provavelmente desconhecido pela grande maioria de torcedores do Warriors. Não só isso: na entrevista pós-jogo, fez questão de dar todo o crédito para U'Ren, dizendo ainda que o rapaz tem toda a pinta de que vai se tornar um gerente geral ou técnico no futuro.

Sobre o que escreve Jenkins: ''Quando Kerr assumiu o cargo em maio, fechou com dois assistentes experientes em Ron Adams e Alvin Gentry, mas também deu oportunidades a Walton e Jarron Collins. Ele trouxe Bruce Fraser, com quem trabalha junto desde a universidade, e U'Ren, que trabalhou com ele em Phoenix. Deu a eles uma voz, independentemente de seu status, criando uma cultura em que ninguém tinha receio de falar – ou mandar uma mensagem de texto de madrugada''.

A propensão de Kerr ao diálogo, aliás, emula o comportamento da diretoria do Warriors. Os debates entre os principais articuladores da franquia já se tornaram célebres. Como no dia em que Jerry West ameaçou pedir demissão do cargo de consultor caso o proprietário Joe Lacob decidisse levar em frente a troca de Klay Thompson por Kevin Love. Um chefe mais controlador talvez se antecipasse e decidisse ele, mesmo, mandar West embora (ou qualquer figura menos prestigiada). Ninguém sabe ao certo se o legendário estava falando sério, ou não. Sua opinião foi ouvida, fato.

A habilidade de Steph Curry, a genialidade de LeBron, a velocidade de Leandrinho, a brutalidade de Tristan Thompson… Isso é o que a gente vê em quadra. É  o que decide de fato os rumos de um campeonato. Mas, por trás do sucesso de um clube de NBA, estão acontecendo muito mais coisas, gente.


Danilo Siqueira, cheio de energia em trajetória promissora
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Giancarlo Giampietro

Eram três irmãos, a escadinha básica. Correndo para lá e para cá, dando aquele trabalho quando não estavam na escola em Uberlândia. É nessa hora que entra o esporte para tentar distrair a meninada. Danilo Fuzaro Siqueira, então, ia para o tatame, testar alguns golpes precoces como um carateca mirim.

Foi por influência do irmão mais velho, Nilton, que o basquete entrou em sua vida. O fato, de qualquer forma, era que os três estavam envolvidos desde cedo com o esporte em geral. Não que os pais sonhassem com medalhistas olímpicos ou qualquer coisa do tipo. “Não era uma preocupação deles em iniciar a gente como atleta”, afirma Danilo ao VinteUm, rindo. “Acho que a gente tinha muita energia, mesmo. Então era para gastar, e aí começamos a brincar. Sempre gostamos.”

Em Las Vegas

Em Las Vegas

Para quem acompanhou o progresso do ala-armador do Minas Tênis na temporada 2014-2015, chega-se a uma conclusão: o plano inicial da família Siqueira não deu tão certo assim. Afinal, energia é o que não falta em seu impressionante jogo atlético. Aos 21, anos tal como faz em suas infiltrações explosivas, deu passos largos para se fixar como uma das apostas mais promissoras. Ficou entre os três finalistas em duas categorias do NBB 7: destaque entre os jovens e jogador que mais evoluiu. Também foi convocado pelo técnico Gustavo de Conti para disputar a Universíade de Gwangju, na Coreia do Sul, ao lado de outros jovens talentosos.

Que bom, então, que as atividades recreativas não tenham aplacado o pique de infância. Pelo contrário, o levaram longe. Pegando este embalo todo, Danilo agora se vê numa posição talvez impensável quando estava de quimono: candidato ao Draft da NBA, está em Las Vegas para tentar impressionar os scouts americanos, realizando nesta sexta-feira um treinamento com garantia de ginásio cheio.

Mudanças
No começo, é tudo brincadeira, mesmo. Mas tudo evoluiu rapidamente para os irmãos basqueteiros, motivados até pela concorrência interna. “Jogávamos direto, tínhamos uma cesta na parte de trás de casa. E tinha aquela história de não gostar de perder”, conta. Imagine o quanto eles não estavam vidrados, para que os pais concordassem, em 2007, levá-los para Uberlândia para fazer peneira.

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Danilo foi aprovado e entrou no time sub-13. Os irmãos também ficaram. “Fui passando de categoria em categoria, comecei a jogar bem e as coisas ficaram mais sérias”, conta. E aí como faz? Chegou uma hora, então, que a família toda resolveu fazer a mudança, num deslocamento de cerca de 100 km, mesmo que o pai ainda trabalhasse em Uberaba. Essa fase durou relativamente pouco, no entanto.

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

O progresso do caçula foi tamanho que a troca de cidades no Triângulo Mineiro foi fichinha perto do que aconteceu em 2010, quando aproveitou a dupla cidadania e se mandou muito jovem para a Itália, enquanto Nilton, que começou tarde, cinco anos mais velho, já procurava outros caminhos fora do esporte.

O destino foi Ruvo di Puglia, uma cidadezinha (ou “comuna”) localizada na região de Bari, ao sul do país, um pouco acima do salto da belíssima Bota. Uma área muito mais conhecida por sua cultura vinícola do que por glórias esportivas, convenhamos. Jogando pelo clube local, da terceira divisão (Serie C), o brasileiro afirma que cresceu bastante – dentro de quadra, mas principalmente como pessoa. Natural, não? Mas não da forma que o bambino esperava. Ele passou por poucas e boas.

“Para mim foi um aprendizado fundamental, em muitos sentidos”, diz. “Tive dificuldade, ficando sem dinheiro, pois o clube não pagava direito. Almoço e jantar nunca faltou. Também pagavam o apartamento, que dividia com mais três garotos. Mas para coisas como café da manhã e outros gastos tive sorte de contar com a ajuda de companheiros muito legais e até mesmo de gente da cidade, que passava a conhecer. São as vantagens de estar em uma cidade pequena, hospitaleira.”

Ao contar o caso, Danilo fala com maturidade, com firmeza. É um aspecto que chama a atenção em sua entrevista, e parece claro que essa experiência que não teve nada de conto de fadas foi fundamental para isso. Pode até mesmo ter funcionado como um teste. Era isso que queria, mesmo? “Já tinha o objetivo, estava convencido de virar jogador. Sempre soube o que queria, sempre levei a sério. Ter passado pela Europa não mudava nada para mim. Tinha de treinar muito, com humildade.”

O jogador teve de se virar então como dava, o que ao menos forçou o aprendizado da língua italiana rapidamente. O bom é que, para amenizar os dias de pindaíba, o ala-armador podia ficar muito tempo dentro do ginásio, enfornado. “Passava em torno de seis horas no clube, no ginásio. O técnico Giulio Cadeo, que chegou a trabalhar com times da primeira divisão, foi muito importante. Eles me ensinaram muito. Ficava treinando com adulto, mas sem poder jogar com eles.”

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Os problemas fora de quadra, no entanto, motivou o retorno ao Brasil em 2012. “Estava sem receber e tinha medo de que pudesse acontecer a mesma situação em outro clube”, explica. Nesse período, já estava em contato constante com o treinador Cristiano Grama, do Minas Tênis, com quem já havia trabalhado em Uberlândia. O garoto voltou, então, mas não necessariamente para casa, parando em Belo Horizonte.

Passo a passo
Antes de jogar pelo Minas, Danilo teve sua primeira oportunidade com a camisa da seleção, na disputa da Copa América Sub-18, em São Sebastião do Paraíso. Uma campanha que foi um sucesso para a equipe, terminando com vice-campeonato, vencendo o Canadá de Andrew Wiggins no meio do caminho, perdendo para os Estados Unidos. Já contamos essa história com mais detalhes num perfil de Lucas Dias, o destaque aquele time de geração 1994/1995 que acabou decepcionando no Mundial de 2013.

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

“Primeiro, foi única para nós. Naquela idade que estávamos, eles tinham uma vitrine muito maior. Foi bom para sentir que não era nada de outro mundo jogar contra eles. Claro que no aspecto físico eles sobram e que a gente tinha de treinar muito, mas foi bom. Hoje a gente vê muitos daqueles jogadores já na NBA”, afirma. “Depois, o Mundial foi chato para todo mundo. A expectativa era muito boa, mas jogou bem. Perdemos a oportunidade de jogar bem e sermos cogitados para ligas melhores. Foi muito frustrante, não saiu nada do jeito que queríamos.”

Nestas campanhas, Danilo trabalhou pela primeira vez com Demétrius Ferraciu, o ex-armador da seleção brasileira e com quem, duas temporadas depois, conseguiu deslanchar na edição passada do NBB. Até chegar lá, precisou de paciência. Em seu primeiro ano clube mineiro, teve apenas sete minutos em média. Depois, sob a orientação do argentino Carlos Romano, recebeu mais que o dobro de rodagem, beirando os 20 minutos. Agora, se o tempo de quadra não progrediu tanto, o que aumentou, mesmo, foi sua produção. O jovem ala-armador obteve seus melhores índices nos arremessos de dois e três pontos, por exemplo. Numa medição mais avançada, foi o segundo jogador mais eficiente do campeonato entre os atletas sub-22, atrás apenas de seu companheiro de equipe, Henrique Coelho.

O Minas, aliás, foi um dos poucos times que verdadeiramente abriu as portas de seu time para a garotada, aproveitando-se de uma base talentosa e entrosada. “Querendo ou não, nossa equipe jogava junta há muito tempo. Pegaram essa base e adicionaram alguns veteranos que agregaram muito. O (americano Robby) Collum, o (pivô) Shilton e o (ala) Alex, com uma presença que fez muito bem ao time.”

O fato raro de ter uma base jovem no campeonato ‘adulto’ gera ansiedade, expectativa, claro. “A gente sabia que tinha de provar muito, e o caminho foi jogar com base na nossa capacidade atlética, velocidade, tirar proveito do que tínhamos de melhor”, afirma. Demétrius soube usar a vitalidade de seu elenco em torno de um excelente marcador domo Shilton para construir a terceira melhor defesa do NBB, atrás apenas dos finalistas Flamengo e Bauru.

Perdas e ganhos
A temporada, todavia, não terminou da forma que esperavam. O Minas foi a vítima da zebra da vez, o Macaé, clube que chegou aos playoffs na última posição e passou pelo cabeca-de-chave por 3 a 1, ignorando o mando de quadra. Sem a liderança tática e técnica de Robby Collum de um lado, e com outro americano, Jamaal Smith, arrebentando do outro.

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

“Para nós foi uma decepção. Perdemos nosso principal arremessador, o Collum, um cara que puxava bastante a defesa e deixava o jogo mais aberto. Foi difícil jogar em Macaé, com a torcida deles e uma quadra que não é muito boa, na qual eles estavam muito mais acostumados. O Jogo 2, que perdemos na prorrogação, em casa, foi decisivo. Creio que se tivéssemos vencido aquele, ganharíamos a série. O Jamaal fez a diferença também. Teve um aproveitamento absurdo, bem diferente do que havia feito na temporada contra a gente.”

A ausência de Collum, no entanto, abriu as portas para Danilo atestar sua evolução durante o campeonato, com grandes exibições, contribuindo nos momentos decisivos. Teve médias de 19,5 pontos, 3,2 assistências e 2,2 roubos de bola, em 30 minutos arredondados. “Individualmente foi um momento muito bom. Consegui pontuar bem e teve alguns momentos em que o time estava trabalhando para mim, algo que nunca havia acontecido antes na minha carreira. Ser o foco ofensivo, ver a bola chegando e a coisa fluir. Soube aproveitar.”

A produção não vem ao acaso. Tem a ver com as habilidades do jogador – ambidestro, excelente finalizador perto do aro, com impulsão impressionante, mãos largas, criativo em nas infiltrações até pela imprevisibilidade do lado do corte e força para trombar –, mas também com a chance de ele desenvolver esses recursos na prática. O que mais? Aos 21 anos, já tem uma boa noção em combinações de pick-and-roll, sabendo servir aos companheiros (seja o pivô mergulhando no garrafão, ou o chutador no lado contrário). Com os pés plantados, até pela estatura e envergadura, consegue passar por cima da primeira linha defensiva, com boa visão de quadra. Na defesa, porém, pode se distrair nas movimentações longe da bola, permitindo a escapada de seus adversários e também pode ser muito agressivo no combate individual, perdendo o equilíbrio. De qualquer forma, o simples fato de estar na quadra ajuda bastante a lidar com eventuais problemas. Natural, e é algo que faz falta para qualquer atleta, especialmente aos mais jovens.

Porém, quando desembarcou em Las Vegas na semana passada, no entanto, para um período curto de treinamentos na academia Impact, de Joe Abunassar, Danilo arregalou os olhos. Fez um tipo de trabalho que, de modo alarmante, julga estar em falta em quadras brasileiras. “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade.”

Aqui, um vídeo de Mike Schmitz, do Draft Express, que acompanhou uma sessão na quinta-feira, em exercício de chutes de três pontos. Danilo aparece com uma mecânica muito mais regular e equilibrada em seu arremesso, comparando como o que pudemos ver há algumas semanas no playoff contra Macaé:

A companhia mais badalada no momento nestas hora de treino em Vegas é de Kristaps Porzingis, ala-pivô do Sevilla que é cotado como um escolha top 10 para o Draft da NBA deste ano. Para muitos dirigentes, ele tem potencial, mesmo, para ser o melhor dessa safra, e seu pacote de altura, agilidade e refinamento é realmente único. A presença do letão é muito benéfica para o brasileiro, que se exibe nesta sexta para diversos olheiros que vão à academia primordialmente para avaliar o europeu. Foi uma jogada do agente Vinícius Fontana, em parceria com o americano Andy Miller, dono de uma cartela respeitável de clientes.

Em seu primeiro dia no ginásio, como um alerta para se dar conta da situação especial que vive, Danilo deu de cara com o enigmático Lance Stephenson. Foi a primeira vez que encontrou um atleta da liga ao vivo. Confiante, ele espera que esse tipo de contato possa se repetir no futuro. Sua missão é exibir o mínimo de habilidades em uma sessão em torno de 40 minutos para que possa instigar o convite para um treinamento em privado, com datas muito apertadas. “Estou bem tranquilo quanto a isso. Sou bem religioso, deixo nas mão de Deus. Estou fazendo a minha parte. Com meu agente, o Vinícius, vimos essa oportunidade e tentamos. Não tenho nada a perder.”

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Ele tem até o dia 15 para decidir se mantém seu nome na lista de inscritos. Dallas, Memphis, New Orleans, Portland e Dallas foram os primeiros times a manifestar interesse preliminar. A boa rodagem do ala-armador pelo Minas ajuda em sua avaliação, uma vez que seus clipes estão disponíveis no software Synergy, que catalogou o campeonato em parceria com a liga nacional nesta temporada.

Pensando em ligas maiores, seja na Europa ou na NBA, a projeção ideal, segundo os olheiros, é a de que Danilo se desenvolva como um armador, algo que não conseguiu cumprir por tantos minutos assim pelo Minas, até pela evolução de Coelho e pela contratação do argentino Enzo Cafferata, um jogador errático que não controla tão bem assim as partidas. “O que preciso melhorar é na hora de levar o ataque, saber comandar um time. Falta esse comando. O mais importante é ter a mente aberta para aprender”, disse Danilo. “Hoje me veem como o combo guard, como dizem aqui. E, se formos pensar, essa coisa de jogo de 1 e 2 é quase a mesma coisa hoje.”

Não importa e nem tem por que estratificar um talento desses, mesmo. O certo é que, sem importar a nomenclatura e a cidade que for. Uberlândia, Ruvo, BH, energia não vai faltar.