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Arquivo : maio 2016

Quando o ‘velho’ Westbrook não consegue domar a fera
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Giancarlo Giampietro

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Não se trata de uma versão de Jekyll & Hyde. Talvez esteja mais para Bruce Banner, em seus dias mais melancólicos, tentando se afastar de grandes centros urbanos, com o medo de que o Hulk apareça para esmagar tudo. Deve ser assim mais ou menos assim que funciona para Russell Westbrook, tentando domar seu lado mais agressivo em quadra para o bem de seu time. Não que suas explosões em quadra tenham de ser evitadas a qualquer custo. A questão é ter um controle sobre elas, sobre quando e como fazer. Em mais um jogo tenso entre OKC e San Antonio na noite desta sexta-feira, Wess perdeu ambas as batalhas: a interna, que levou ao revés na externa, permitindo que o Spurs recuperasse o mando de quadra e reassumisse a liderança na série pelas semifinais do Oeste.

Westbrook terminou a partida com 31 pontos, oito assistências e nove rebotes. Números fenomenais. Mas que não compensam a parte negativa de sua linha estatística, com 21 de seus 31 arremessos desperdiçados, além de cinco turnovers, três dos quais acontecendo no quarto período. Os últimos dois foram os mais custosos, aos 3min25s e aos 1min55s, a partir dos quais os visitantes texanos conseguiram cinco pontos diretos para reassumir o controle do placar e, aí, não perder mais, triunfando por quatro pontos de diferença, ou 100 a 96.

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Os 21 chutes que Westbrook desperdiçou são três a mais do que Kevin Durant tentou durante toda a partida. KD terminou com 26 pontos em 18 arremessos (1,44 na média). Do outro lado, Kawhi Leonard chegou aos mesmos 31 pontos em 17 arremessos (1,82). Então estamos de volta, né? Aos maus e velhos tempos em que o armador era constantemente achincalhado, muitas vezes com razão, por segurar demais a bola, arriscar chutes tresloucados e ignorar um dos cestinhas mais talentosos que a NBA já viu logo ao seu lado.

Essas críticas andavam abafadas. Primeiro porque Durant mal jogou na temporada passada, e aí sobrou para esse furacão carregar o que restou de time por conta própria. Nesta temporada, porém, reencontrando o cestinha, vimos o melhor de Wess como distribuidor. Ele finalizou sua campanha com recordes pessoais em assistências para todos os gostos: total (834), média (10,4), média por minuto (10,9 por 36) e também em cestas assistidas de seus companheiros (49,6%). Se você clicar nestes links todos, vai reparar também numa tendência: como, desde a campanha 2011-12, na qual foram bicampeões, seus números foram progredindo constantemente. Dos seus 23 aos atuais 27 anos, num amadurecimento mais que natural, mas que os mais tinhosos relutavam em aceitar, sendo tão teimosos como o jogador pode ser em quadra.

Essa atenção maior aos passes e aos parceiros, porém, não o deixou menos agressivo. Ele ainda arriscou 18,1 arremessos por partida e bateu 7,2 lances livres, ainda acima das médias pessoais na carreira. Por minuto — excluindo, claro, a temporada passada de exceção –, seu volume de jogo não destoa muito do que vinha fazendo antes, atacando de maneira incessante. Porque tem isto: você não vai pegar um jogador de capacidade única e tentar transformá-lo em José Calderón. Simplesmente não dá, seja por características técnicas (nunca vai ser um chutador daquele nível), psicológicas (calmaria você não vai ver por aqui) ou dinâmicas, atléticas (seria como comparar um leopardo a um leão marinho solto em terra). O sucesso do Thunder passa por seu jogo nuclear.

Westbrook não deve deixar de atacar nunca, mesmo passando como nunca na carreira

Westbrook não deve deixar de atacar nunca, mesmo passando como nunca na carreira

A questão era encontrar um equilíbrio. Ou melhor:  diminuir o desequilíbrio, entre pensar o sistema ofensivo só como produto para seus arranques inigualáveis e infiltrações devastadoras e passar a olhar com mais cuidado o que está acontecendo ao seu redor. Isso vinha acontecendo, conforme registrado nos números acima, e atingiu o balanço ideal agora, com a menor taxa de uso (posses de bola que terminam com ações individuais dele) desde 2011. Além disso, percebe-se também uma alteração sutil, mas importantíssima em sua seleção de arremessos. Westbrook nunca enterrou tanto em sua vida. Foram 69 cravadas na temporada, contra 59 de seu ano de novato, quando tinha 20 aninhos apenas. Isso significa, sim, que ele disparou em direção ao garrafão muito mais do que nos últimos anos: 37,7% de seus arremessos saíram na região do semicírculo, contra 33,1% de 2013-14, por exemplo. Esse tipo de troca foi consistente, tirando sempre dos tiros de média distância mais indesejáveis (os de dois pontos mais longos, que caíram de 17,1% há dois anos para apenas 10,6%). O que caiu também foi o volume de três pontos, de 27,1% para 23,6%.

Agora, para alguém que chuta tão mal de longa distância, o All-Star ainda tem insistido demais. São 4,3 por jogo, com acerto pífio de 29,6% neste ano. Em sua carreira, ele acertou apenas 30,2% de suas 1.675 tentativas. De acordo com dados do Basketball Reference, apenas Charles Barkley e Ron Harper têm um rendimento pior entre atletas com pelo menos 1.500 disparos, respectivamente com 26,6% e 28,9%. Argh. Eaí chegamos aos dez tiros de três que ele tentou nesta sexta-feira, inexplicáveis ou indesculpáveis, independentemente do contexto.

Quer dizer, o contexto específico do duelo com o Spurs não pode ser ignorado. Justamente por ser algo que Gregg Popovich queira induzir — assim como vários inimigos do Hulk fazem nos quadrinhos e nas telonas, para desestabilizá-lo, mesmo que ativar o monstrão verde seja um perigo danado. A famosa armadilha que seu time já preparou diversas vezes, desde a época em que era forçado a lidar quase que anualmente com um Kobe Bryant no auge atlético. O mesmo foi repetido contra LeBron James em duas finais consecutivas. Contra um OKC que tem dois cestinhas explosivos, a julgar pelo que vimos na sexta, a prioridade de San Antonio é que Kevin Durant não seja o definidor. Por isso, vão atirar dobras para cima dele sempre que possível, tentando desestimulá-lo. Westbrook tem ficado mais no mano a mano, por isso. Se, de 31 tentativas de arremessos de Westbrook, dez virão de longa distância, Pop vai achar o máximo. Pelo Jogo 3, ora, ele teve 30% de acerto, precisamente a média de sua carreira.

Tentando bloquear as linhas de passe para Durant, o Spurs deixou a bola nas mãos do armador do Thunder, e dessa vez ele não soube o que fazer com ela, seja por fome ou por inoperância de sistema contra uma das melhores defesas da história. Levantamento estatístico da ESPN mostra que 21 dos 31 arremessos de Wess nesta sexta aconteceram em posses de bola que ele começou e finalizou sem ter feito um passe sequer.  Quer mais? Desses 21 chutes, apenas dois não foram contestados. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo.

Westbrook ainda ganhou o garrafão, região na qual saíram 17 de suas 31 tentativas de cesta. Com LaMarcus Aldridge, Tim Duncan, David West ou Boris Diaw quase sempre na cobertura, a aberração atlética de OKC dessa vez teve dificuldade para converter suas infiltrações, com 45,9% de seus arremessos. É provável que, ao analisar a gravação do jogo, perceba como os defensores o abordaram em ajuda e que possa encontrar alternativas. Ou talvez ele simplesmente atropele todo mundo como bem entende. O importante é seguir agredindo. Cada arremesso que fizer de média para longa distância será ao gosto da defesa. (O bloqueio defensivo, aliás, não foi apenas contra Westbrook. O armador até bateu oito lances livres na partida. No geral, porém, o Spurs cobrou muito mais do que os donos da casa, com 34 a 24. Apesar de seu baixo percentual, acertou seis a mais, e essa foi a primeira vez nestes playoffs em que OKC foi superado nesse quesito.)

Esse é o tipo de arremesso que Tony Parker não vai ligar de ver

Esse é o tipo de arremesso que Tony Parker não vai ligar de ver

A boa notícia para Kevin Durant, Billy Donovan e seu fiel séquito trovejante é que, em sua coletiva pós-jogo, Wess acusou o golpe. Num gesto de humildade totalmente surpreendente, não se cansou de assumir a culpa pela derrota, talvez até de modo exagerado. Ele não fez uma boa partida, de certo. Mas não é que possa ser responsabilizado pelos atos igualmente ultra-atléticos de Kawhi, por exemplo.

Mas foi interessante que tenha repetido sem parar sua falha na condução do time, citando o verbo “executar” e seus derivados à exaustão. Esse é o termo mais usado em entrevistas da liga, claro, mas o astro de OKC se superou dessa vez. E isso é um bom sinal. Em outros tempos, talvez adotasse uma postura blasé diante das perguntas, apelando ao sarcasmo, se tanto, para prestar contas sobre o que havia acabado de acontecer em quadra. Dessa vez chamou a bronca.

“Execução. Isso começa comigo. Tenho de fazer um trabalho melhor de execução e colocar nossos caras em posição para fazer a cesta, especialmente no final do jogo e contra uma boa defesa. Você tem de encontrar maneiras de fazer a bola rodar, e isso começa comigo”, afirmou, para aí listar seus erros. “Foram muitos arremessos, mesmo. Honestamente, tenho de fazer melhor esse trabalho, de descolar arremessos para os caras, como disse. Steven (Adams) só tentou um chute. Eles precisam ser envolvidos para nós batermos esta equipe. Também desperdicei a bola quando era hora de decidir o jogo. Assumo a responsabilidade quando a bola está em minhas mãos, para criar para os meus companheiros, e não fiz isso. Assumo a culpa.”

Westbrook perdeu o controle do jogo em quadra, e o Thunder, o da série. Para avançar à final da conferência, sua equipe vai precisar vencer três das próximas quatro partidas, sendo duas delas em San Antonio. Tarefa duríssima. Mas tem muito chão pela frente ainda — algo que me surpreende em dizer, confesso.

Depois de uma surra levada na primeira partida, vimos dois confronto muito equilibrados, nos quais o elenco de apoio do Spurs encontrou muita dificuldade para jogar. Tim Duncan (no geral) e Manu Ginóbili (nesta sexta) pareceram tão velhos quanto suas fichas de inscrição mostram, travados, sem conseguir lidar com oponentes muito mais vigorosos. Boris Diaw está marginalizado, e, quando isso acontece, ele mostra seu pior lado: desencana da vida e fica murchinho (metaforicamente falando, que fique claro). Em 13,0 minutos, tem médias de 3,0 pontos, 2,3 assistências, 1,7 rebote. Nos últimos dois jogos, foram apenas três pontos no total, três assistências, um rebote e uma cesta de quadra em 21 minutos. David West vai brigar sempre, não importando se está sendo mimado, ou não. Contra Adams, Serge Ibaka e Enes Kanter, porém, não consegue ser tão efetivo assim mais, com médias de 6,0 pontos, 2,7 rebotes e 44,4% nos arremessos. Até agora, só conseguiu bater dois lances livres. Esses dois pivôs reservas fazem muita falta, ainda mais com Duncan inócuo.

Com tanta gente produzindo abaixo, o Thunder tem conseguido equilibrar as coisas em meia quadra, no coletivo, algo totalmente inesperado depois da série que fizeram contra Dallas. Westbrook entende isso, o que é um tremendo avanço, comparando com sua versão mais jovem. Precisa ver apenas o quanto seu ímpeto, sua força anterior serão maiores que isso neste momento de pressão. O Thunder não pode vencer com ele afastado, é certo. Mas, se perder o controle novamente, as chances de estrago também são enormes.

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Campanha sem Curry mostra várias razões que tornam o Warriors especial
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Giancarlo Giampietro

Klay Thompson, estrelando "Prenda-me Se for Capaz"

Klay Thompson, estrelando “Prenda-Me Se for Capaz”

Pode tirar o asterisco, vai, depois do que o Golden State Warriors fez nesta madrugada contra o Portland Trail Blazers. Para quem dormiu mais cedo achando que já era, para quem não checou o Twitter, o HoopsHype, o ESPN.com, ou qualquer outra fonte factual, foi o seguinte: os atuais campeões entraram no quarto final com desvantagem de 11 pontos, a maior que encarou por estes playoffs em três parciais — no primeiro tempo, o déficit chegou a 17; daí que venceu o restante da partida por 22 pontos de diferença (34 a 12) para triunfar por 110 a 99. Foi o melhor saldo no quarto período de um jogo do mata-mata desde 1987. Apenas outros dois times haviam entrado no quarto com um déficit de dígitos duplos e terminaram com uma folga sob as mesmas condições. O segundo desses times? O Houston Rockets, contra o Clippers, pelas semis do Oeste no ano passado. Sim, aquela virada incrível, com -12 ao fim de três períodos e saldo de +13 para colocar seu adversário em choque.

Tá. Sensacional, né?

Tudo isso, sem Stephen Curry.

O que não quer dizer, de modo nenhum, que Curry não faça diferença, como tenho certeza que muitos críticos persistentes ao armador gostarão de apontar como argumento para desvalorizar o que o MVP da liga fez pelos últimos dois campeonatos. Curry é parte integral do sucesso do Warriors. Mas o que a gente aprende, ou deveria aprender, com o passar dos jogos e dos dias, é tentar não simplificar tudo. O Warriors não era um timaço só porque tinha Curry, nem Curry é irrelevante só porque o Warriors segue um timaço durante a sua ausência — até porque, por mais que esteja enfrentando um Blazers que é muito mais forte, hoje, que o Rockets, mas não é um candidato ao título. Para além do desfecho tranquilo da primeira fase, nestes dois primeiros jogos pelas semifinais, em especial nestes 12 minutos demolidores, o que a equipe de Steve Kerr nos mostra são as diversas partes que, somadas, a tornam especial.

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Peguem, por exemplo, Klay Thompson. Depois de acertar sete bolas de longa distância em suas últimas três partidas, decepcionou pelo Jogo 2 em Oakland: matou apenas cinco. Ele foi novamente o cestinha, com 27 pontos no total, em 20 arremessos. Não foi a jornada mais eficiente de sua carreira, mas não ouse falar isso para ele ou levantar a questão como algo importante.  Pois é um pouquinho complicado ficar o tempo todo marcando o melhor jogador do adversário (esse tal de Damian Lillard) e, do outro, ter a obrigação de, se não carregar, produzir muito para fomentar um ataque que está carente de seu melhor armador. Sem Curry, as defesas se concentram mais no ala, claro. Ainda assim, ele está se virando muito bem, obrigado. Sua cotação na NBA só sobe, enquanto Kerr e Jerry West se sentem cada vez mais felizes com o veto a uma possível troca por Kevin Love dois anos atrás.

Não dá mais para falar só de sua mecânica extremamente rápida. É preciso valorizar o quanto ele se desloca no ataque, de um lado para o outro da quadra, para a frente e para trás, buscando os corta-luzes ferozes de seus grandalhões, que abrem linhas de passe que, um segundo antes, não estavam apresentadas, nem sugeridas. Incansável, como neste vídeo abaixo. O Coach Nick, do Basketball Breakdow (conta obrigatória para as jornadas de NBA), dá uma cornetada em Maurice Harkless, mas seu clipe em flash não mostra o tanto que o jovem ala do Blazers teve de se movimentar para acompanhá-lo durante o quarto período. Chega uma hora que você se perde, mesmo, ou que quer abreviar a maratona e tentar um bote infeliz:

(E Harkless havia marcado Thompson muito bem no primeiro tempo, sendo um dos grandes responsáveis para que o ala tenha desperdiçado 13 de seus 20 arremessos. Era um belo ajuste de Terry Stotts, que não poderia mais conviver com a ideia de ver o gatilho abusar de Lillard ou CJ McCollum, e que colocou Portland em situação tão favorável ao final de três períodos.)

E quem faz o passe para Klay matar? Draymond Green, claro, com uma de suas sete assistências. E, sim, ele foi o armador do time durante a virada, por mais que, na escalação oficial, Shaun Livingston recebesse tal denominação. O ala-pivô-armador-faz-tudo soma agora, em duas partidas da série, 40 pontos, 27 rebotes e 18 assistências. Nos últimos dez anos, apenas LeBron James e Blake Griffin, justamente pelo último playoff, conseguiram esse tipo de soma.

Green ficou todos os 12 minutos do quarto final em quadra. O cara talvez se sentisse endividado com os companheiros, depois de um primeiro tempo, hã, tímido — se é que esse termo pode ser associado a uma figuraça, que é a mais abusada da NBA hoje e, ainda assim, só não vem para o #Rio2016 se não quiser. Ou talvez Steve Kerr soubesse que não poderia tirá-lo de jeito nenhum, mesmo. Pois o cara se tornou um monstro de jogador, para surpresa geral. “Assisti a VÁRIOS jogos de Draymond na universidade. Achava que haveria um lugar para ele na liga. Mas não pensava que ele iria CRIAR um lugar só dele”, observou o repórter Vincent Goodwill, repórter nativo de Detroit e cobriu o basquete local por muito tempo, incluindo Michigan State, antes de se mudar para Chicago. Ele é um jogador único, mesmo:

Mas não vamos ficar aqui falando de mais individualidades como a dupla de All-Stars do Warriors quando dizemos que o time não é feito só de Steph Curry. Na verdade, é a combinação desses diversos talentos que funciona. Colocando na conta a presença física e inteligente de Andrew Bogut perto da tabela, os ganchinhos hoje aparentemente imarcáveis de Shaun Livingston, a ameaça que Harrison Barnes representa como chutador do lado contrário, o combate e versatilidade de Andre Iguodala etc. E, ainda assim, a soma de todas essas habilidades dá tão certo assim porque Steve Kerr soube criar um sistema para aproveitá-las ao máximo. Num ataque mais estático, apostando em isolamento, Thompson seria tão efetivo? Green teria espaço para infiltrar vindo de trás da linha de três pontos?

Mais: não fosse o controle de minutos mais rígido que o Warriors pratica durante a temporada regular, Thompson, com 33,3 minutos, teria condições para correr tanto no ataque e ao mesmo tempo pressionar um cara como Lillard do outro lado? O mesmo raciocínio vale para Draymond Green, que jogou um pouquinho mais (34,7 minutos, o líder da equipe nesse quesito). Andre Iguodala, que, aos 32 anos, é o mais velho dos jogadores fixos na rotação, se beneficiou ainda mais, limitado a apenas 26,6 minutos por partida. Estão todos descansados, ou relativamente descansados para assimilar mais responsabilidades enquanto Curry não retorna. Para os machões de plantão que acham que o controle de minutos não influencia nada nos mata-matas, é só perguntar a Popovich, Duncan, Ginóbili e Parker o que eles pensam disso. Acho que o Spurs até que foi bem nos últimos anos ao adotar esse tipo de estratégia, né?

Curry, retorno pode esperar

Curry, retorno pode esperar

Com pernas e confiança bem elevada, o Warriors promoveu uma blitz para cima do Blazers no quarto final do Jogo 2, com uma defesa realmente assustadora. No quarto período, os visitantes tiveram o mesmo número de turnovers e cestas de quadra: cinco. “Pensar em buscar uma virada sem Steph é diferente. Tivemos de contar com nossa marcação”, disse Kerr. Isso só mostra mais uma vez que tem muito mais do que um ataque potente. Para virar o placar, na real, eles contaram com sua defesa, que foi a quarta mais eficiente da temporada, empatada com a do Celtics e a do Clippers. Na temporada passada, eles haviam sustentado a melhor defesa da liga também — não custa repetir essa informação aqui, pois ainda há muita gente que pensa que o sucesso do time se deve apenas a sua artilharia exterior. (Aliás, em noite em que acertou apenas 33,3% de seus arremessos de fora, levando 15 pontos de prejuízo na comparação com o Blazers, a equipe venceu o jogo pontuando no garrafão, área em que fez exatamente o dobro do oponente: 56 a 28).

Quem via o jogo poderia até estranhar o que Mason Plumlee estava fazendo tanto com a bola em mãos, desperdiçando a bola sem parar, seja em desarmes em ataques ao garrafão, ou tomando algumas raquetadas na hora de buscar a cesta: foram seis turnovers para ele em toda a partida e três tocos sofridos. Não é que Mason P tenha ficado maluco. (Mason P?! Sim, uma licença poética, tá? Imaginemos todos os irmãos Plumlee como MCs. Miles P. Mason P. E Marshall P, o caçula.) O Plumlee de Portland até pode dar assistências em movimento contra um time desprevenido — tem 5,5 em oito partidas destes playoffs e é o líder da equipe, acreditem. Acontece que dessa vez o Warriors estava preparado pressioná-lo, forçando o adversário a jogar com seu pivô, tirando a bola das mãos de Lillard com sucesso.

No terceiro período, a estrela do Blazers havia anotado 17 pontos, com quatro bolas de três em cinco tentativas. Para tanto, foi fundamental a substituição de Andrew Bogut por Festus Ezeli, em vez de Anderson Varejão, registre-se — o pivô brasileiro ainda não se encontrou no time. O gigante australiano não tem condições de se manter à frente de um armador no perímetro, quando o oponente força a troca da marcação com um corta-luz (algo que Plumlee faz muito bem, registre-se). Ezeli, também imenso ao seu modo, tem mais agilidade no deslocamento lateral e conseguiu impedir ações rápidas de Lillard, até que Klay Thompson também se aproximasse para fazer o abafa. Deu muito certo. Depois de voltar de um breve descanso, o armador não conseguiu mais pontuar. Saiu zerado naquela parcial, tendo tentado apenas três arremessos.

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Ezeli, que topou defender a Nigéria no #Rio2016, só foi substituído a 3min16s do final, quando Warriors já havia assumido a liderança (98 a 95). Harrison Barnes veio para o seu lugar e se juntou a Livingston, Thompson, Iguodala e Green. Esse é o Kerr controlando sua rotação perfeitamente, e estava formada, então, uma versão alternativa da “escalação da morte” dos atuais campeões, e aí virou espanco, como diria o chapa Maurício Bonato, aumentando a intensidade defensiva. Foi estonteante até. O Portland, tão bem dirigido por Terry Stotts e guiado em quadra por dois armadores excepcionais, mal conseguia completar suas jogadas.

Ao completar a virada, o Golden State pode, de certa forma, ficar um pouco mais relaxado. Por ter defendido seu mando de quadra e para impedir um ganho de confiança de um time jovem e perigoso. Pensando mais longe, porém, o mais importante é o reflexo que a vitória tem para tirar pressão de Steph Curry e do departamento médico. Não há porque apressar seu retorno. O Jogo 3 será apenas no sábado, mas sua presença não se faz mais tão urgente assim na série. Segunda-feira, para o Jogo 4? De novo: só ele estiver totalmente liberado. Para lesões de ligamento no joelho, cautela e preparação nunca é demais. O retrospecto histórico dos playoffs mostra que o time que tenha vencido os dois primeiros jogos em casa avançou em 94% das vezes. Dependendo do desempenho em Portland, então, sem menosprezar o Blazers, o Warriors poderia até mesmo se dar ao luxo de guardar seu MVP para as finais da conferência. Eles ganharam, em quadra, esse direito.

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OKC vence em San Antonio: dissecando os 13s5 mais loucos dos #NBAPlayoffs
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Giancarlo Giampietro

O que foi tudo aquilo que aconteceu?

Bom, vocês viram. Faltavam 13s5 no cronômetro, e o Oklahoma City Thunder defendia uma vantagem de um ponto, com o direito de repor a bola. Só precisavam colocá-la na mão de Kevin Durant ou Russell Westbrook e esperar pelo melhor — no caso, a conversão de dois lances livres e uma boa defesa para evitar o empate. Dion Waiters surtou, agrediu Manu Ginóbili na cara do ‘seo juiz’ e atirou um balão na direção de Kevin Durant. Danny Green interferiu, Durant cai desequilibrado, e o Spurs tem a chance. Green passa para Patty Mills, que não tem ângulo para finalizar. O australiano aciona Manu Ginóbili. O craque argentino não vai para a cesta e devolve para a formiguinha atômica. Sai um airball da zona morta. Serge Ibaka está lutando pelo rebote sozinho com LaMarcus Aldridge e Kawhi Leonard. Os dois All-Stars do Spurs não conseguem subir coma  bola na cesta. Final de jogo.

Resumido assim, já é uma loucura, né? Tudo em 13,5s frenéticos, envolvendo duas das quatro melhores equipes da temporada regular. Elencos experientes, estrelados, orientados por um técnico cinco vezes campeão pela NBA e outro bicampeão universitário. E nada disso importou em meio à tensão de um jogo de playoff, com o Thunder tentando apagar o vexame que havia passado pelo Jogo 1 e o Spurs tentando validar seu mando de quadra, ciente de que um triunfo por 30 pontos tem o mesmo valor de uma derrota por um pontinho.

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Mas e se a gente fizer (quase) frame a frame? Separar as imagens abaixo terminou de apagar o sinal de “pause” do botão do controle. Por sorte, não o afundou de vez. Tem imagem que você congela para ver uma coisa, e acaba percebendo outra. Simbora:

Spurs x OKC - 2016 playoffs - Game 3

Tudo começou assim. Waiters fazendo a reposição. Os quatro demais jogadores do Thunder (Durant, Westbrook, Ibaka e Adams) posicionados no perímetro interno. A primeira dúvida, mais óbvia, aqui é a escolha de Waiters para fazer a reposição. Não estamos falando do sujeito mais equilibrado emocionalmente, por mais que até viesse com uma boa atuação pelo quarto período. O problema é que talvez não houvesse opção melhor. A presença de dois dos maiores cestinhas da liga no mesmo elenco esconde um problema sério: estamos falando da versão menos talentosa do time desde a saída de James Harden. Uma opção talvez fosse Andre Roberson? Ao menos é mais alto. Para além de Waiters, a grande questão é: o que diabos Steven Adams está fazendo em quadra? Para fazer corta-luz, ok. Ao mesmo tempo, é menos um jogador para receber o passe, com seu aproveitamento de 58,5% nos lances livres. Não à toa, foi marcado por Patty Mills (veja a diferença de tamanho). Pop sabe que ele não vai receber o passe de modo nenhum.

Spurs x OKC - 2016 playoffs - Game 3

Aqui, Manu começa a sassaricar à frente de Waiters, com o juizão fazendo a contagem (1 segundo). Westbrook dispara para o lado contrário, para abrir espaço. Acredito que a ideia foi sempre foi passar para Durant. Adams olha em sua direção, provavelmente para fazer o tal do corta-luz. Acontece que o Spurs tem dois excelentes defensores em sua formação: Danny Green e Kawhi Leonard, podendo colocar cada um deles em uma das superestrelas adversárias. Green, sendo muito mais baixo, faz um ótimo trabalho e não desgruda de Durant.

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O corta-luz de Adams não rolou. Durant já veio para o centro da quadra, ainda pressionado por Green. Além disso, Manu cortou aquela linha. Por outro lado, havia um corredor claro aqui para Ibaka, um chutador de lance livre mais competente (75,2% no ano). De todas as opções de passe que se apresentaram, esta seria a mais segura — mas não a ideal, claro. Além disso, seu posicionamento na lateral da quadra seria muito propício para uma dobra agressiva de Aldridge e Ginóbili. Não precisava fazer a falta de imediato. É fácil falar daqui do sofá, com o controle remoto em mãos. Mas os jogadores fazem isso todo santo dia e têm de estar preparados para tomar a decisão num instante que seja. O juiz segue contando (2 segundos). Westbrook breca e volta em direção à bola com Kawhi em seu cangote.

Waiters, Ginobili, push, offensive foul, inbound

Dion Waiters, que figura. “Nunca vi isso antes”, disse um enervado Chris Webber, comentarista da TNT. Essa frase seria repetida durante toda a noite, madrugada adentro. Talvez Ginóbili estivesse muito perto (convenciona-se uma distância de três pés para a marcação da reposição). Por outro lado, essa coisa de empurrar o defensor com o antebraço, antes de fazer o passe, não existe. Quer dizer: não existia até a noite de segunda-feira. Na cara da arbitragem, claramente de olho no lance. Seja pelo ineditismo do lance, sem saber como proceder naquele momento, ou por pura esquiva, deixaram passar. Enquanto isso, no canto direito, Kawhi permite que Westbrook escape e, por isso, apela, puxando-o pela camisa.

dion-waiters-push-kawhi-hold

Aqui, o puxão de Kawhi fica bem claro. Esse ângulo também nos permite ver o quanto Waiters invadiu a quadra. Ao fundo, pode ser que LaMarcus esteja segurando o braço esquerdo de Ibaka. Dois juízes têm plena visão do lance, a não ser que tenham se distraído com a torcida…

Waiters inbound play, push

Depois do empurrão em Ginóbili (aqui desequilibrado), Waiters comete uma segunda atrocidade: um balãozinho de passe, todo suave, para o centro da quadra, com Danny Green já preparadíssimo para saltar. Não há tanta separação entre ele e Durant.

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Não deu outra. Green contesta Durant antes mesmo de ele alcançar a bola. Mills e Adams estão mais próximos — os dois vão se reencontrar ainda. Ginóbili observa, com Dion Waiters alguns passos preciosos para trás.

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Durant desaba na disputa com Green (ao meu ver, não houve falta ali, foi uma disputa no ar), e o Spurs ataca com três jogadores contra Adams, graças ao avanço de Ginóbili. Reparem na voto de cima de novo e vejam de onde ele saiu. Com 10s3 no cronômetro, era tempo suficiente para realizar o ataque e, olhando este cenário, acho que Gregg Popovich acerta em não pedir o tempo (tinha mais um breque de 20 segundos). Olhando este frame, a dúvida que surge: não teria sido melhor Green respirar por um segundo e acionar Ginóbili pela direita? Entre ele e Mills, estava um pivô superatlético de 2,11m, com alto risco de interceptação. Se a bola fosse para Ginóbili, seria num passe mais rápido também, aproveitando a superioridade numérica, e ele poderia seguir no trilho e se apresentar como nova opção a um novo passe, no caso de contestação do neozelandês contra o argentino. Mais uma decisão fácil de se questionar em slow-motion.

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Para evitar Adams, Green faz o passe muito alto, mesmo. Mills vai receber o passe, mas sem condições de fazer a finalização. Dion Waiters chega bem atrasado, enquanto Durant e Ibaka estão fora do quadro. Do Spurs, só LaMarcus não consta aqui.

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A bola não só demora a chegar, permitindo a recuperação de Westbrook e Waiters, como o deixa numa posição desconfortável. Ginóbili, como sempre, bem posicionado, aparece para o resgate. Restam 8s3 ainda. Seria o caso aí de Gregg Popovich pedir tempo?

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Ginóbili é acionado e tem espaço para atacar. Restando 7s3 no cronômetro, Kawhi e LaMarcus já estão no garrafão, acompanhados por Ibaka, Waiters e Adams. Não era o caso de pelo menos o ala ter estacionado na linha de três pontos para abrir mais espaço? Não era uma situação de desespero, de dois segundos, em que era pegar e chutar. Logo, não eram necessários dois homens posicionados para rebote.

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Ginóbili ataca o garrafão congestionado. Ainda assim, tem espaço para criar. Adams subiria para a contestação na certa. Canhoto, ainda ágil e elástico, afeito a lances improváveis, será que o argentino não poderia ir para um gancho de esquerda? Ou um tiro em flutuação justamente de onde está com a bola? Mills está voltando para quadra, para a zona morta. À esquerda, Durant caça borboletas, e se distancia de Green.

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Manu opta pelo passe para Mills, porém, de costas, por cima do ombro esquerdo, como só alguém de sua categoria, criatividade (e coragem) poderia pensar em fazer. Acontece que a bola não sai com tanta precisão assim. Mills tem de abaixar para fazer a recepção, enquanto Adams já vem feito um louco em sua direção.

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O instante que Mills perdeu para dominar a bola foi o instante que permitiu a aproximação do pivô. Pela foto, não dá para notar, mas tenho quase certeza, olhando atentamente ao vídeo, que Adams consegue dar o toco, nem que tenha sido com a pontinha do dedo. Quer dizer: por vias tortas, Donovan acertou em deixar o grandalhão em quadra. A bola sobe levemente e cai muito antes de chegar à cesta. O detalhe aqui? Vejam como Danny Green está chegando livrinho à linha de três pontos. Um pouco mais de paciência, e talvez o australiano pudesse ter passado para um companheiro que havia matado duas bolaças minutos antes.

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Enquanto LaMarcus tenta subir com a bola lá embaixo da cesta, repare que Adams está imóvel aqui no canto direito, e, não, por estar petrificado como Kevin Durant (enquanto Ginóbili e Green estão abertos para um chute, com 2s2). Mas, sim, pelo fato de um torcedor do Spurs o segurar. O imbecil está coberto pelo placar da TNT aqui.

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A NBA TV depois mostrou. Lamentável. Poderia o Spurs ser multado por isso? É o mínimo.

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Adams, aqui, tenta se desvencilhar do torcedor, enquanto Aldridge tenta subir para a cesta, com marcação dobrada de Waiters e Ibaka. Ele já saltou, mas não conseguiu subir com a bola. A gente vai ver este lance mais de perto:

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Enquanto o chute de Mills ainda estava longe de ser completo, a camisa de Aldridge já é puxada com tudo por Ibaka.

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Quando Aldridge tentou subir com a bola, sua camisa segue esgarçada por Ibaka. Sinceramente? Esse é o tipo de falta de escanteio, que acontece direto. Se a arbitragem não viu, dá para entender. O empurrão de DeMar DeRozan em Ian Mahinmi pelo Jogo 7 de Raptors x Pacers foi muito pior. Assim como o de Waiters em Ginóbili. No meio desse empurra-puxa, os dois segundos se foram.

*   *   *

OKC venceu esta partida no primeiro quarto, muito antes do conturbado final. Entrou em quadra determinado a agredir seu adversário, no bom sentido, e conseguiu, saindo em transição com Westbrook (29 pontos em 25 arremessos, 10 assistências e 3 turnovers), sem permitir que a parede Aldridge-Duncan fosse erguida no garrafão. Abriu vantagem, e, a partir dali, o San Antonio tinha de se virar para correr atrás. Em diversos momentos, no final do segundo período, meio do terceiro e metade final do quarto, conseguiram, mas o Thunder soube responder. Foram 21 pontos em contra-ataques em toda a noite para eles.

Estranhei a passividade com que Kawhi aceitava o corta-luz e a inversão de marcação no segundo tempo, dando a Westbrook a liberdade para atacar um cara pesado como Aldridge. Pelo menos seis pontos foram gerados desta forma. Outra jogada que funcionou bem para os visitantes: a corrida em arco de Durant 28 pontos em 19 arremessos, 4 assistências e 5 turnovers), saindo do fundo da quadra para o centro ou para as alas, aproveitando um corta-luz no meio do caminho para se livrar de Green e subir para matar seu belíssimo arremesso.

Na defesa, no início, o time decidiu que, se fosse para alguém sobrar, que fosse Duncan, e dessa vez deu certo, com o pivô tendo dificuldade para acertar (errou sete de oito arremessos). Os visitantes ainda tiveram suas penas já tradicionais, mas simplesmente viram os jogadores do Spurs desperdiçarem arremessos livres (7-18 para Kawhi, 3-11 para Green e 3-9 para Parker). Kawhi, em particular, estava fora de ritmo, sem confiança no ataque. Como as coisas podem mudar de um jogo para o outro… Agora temos de esperar até sexta-feira pelo Jogo 3. Precisava de tanto descanso assim?

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Quando os playoffs da NBA chacoalham algumas certezas
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

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Dá para escrever sobre qualquer coisa sem ter muitas certezas? Nem que seja sobre basquete?

Pensem bem: é uma pergunta realmente difícil de encarar, e não apenas retórica. Ainda mais nestes tempos em que, a julgar pela Associação dos Comentaristas Online Desunidos, o mundo talvez nunca tenha vivido uma era de tantas absolutas convicções assim. Pelo menos não desde os tempos em que se convencionava que a Terra era plana e o centro do Universo. (E se for para falar de política brasileira contemporânea, pior ainda. Aí o que tenho para recomendar apenas é este artigo, hã, definitivo da Eliane Brum no El País, esse acontecimento surpreendente da mídia tupi-guarani.)

Se a galera toda está cheia de si, ou de saber, como você vai marcar sua opinião? Vai encarar o espírito Alborghetti e bater literalmente o pau na mesa? Deve ser a via mais fácil, mesmo, e a mais usual. Descobrir sua ira e celebridade interiores para babar e brilhar muito. Um outro caminho é assumir que você não sabe de nada. Você, no caso, valendo como “nós todos”. Que a gente deva fuçar, estudar, observar e esperar pela eventual contradição dos fatos com sua opinião. Entendendo que opinião pode variar desde um palpite, uma desconfiança até a tal da certeza irremediável.

Agora, para encurtar essa conversa de louco — como são todas as conversas de butiquim, afinal –, vamos associar o devaneio ao tem de mais tópicos agitados por aí, depois de 1) Dilma x Temer, 2) Audax e 3) Leicester: os playoffs da NBA, claro.

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A primeira certeza balançada foi a da candidatura do Golden State Warriors ao bicampeonato, mas por motivo fortuito, de azar: o escorregão de Steph Curry. De todo modo, no momento em que o Clippers também ruiu com lesões, a trilha do Warriors ficou menos congestionada, ou menos pedregosa. Além disso, Steve Kerr fala com otimismo sobre o retorno de Curry. É possível que aconteça já no próximo sábado, para o Jogo 3 (e a NBA obviamente deu uma forcinha para estender o calendário). Então pode ser que o susto já tenha passado, e nada como topar com o corroído Houston Rockets para apaziguar os ânimos. De resto nada do que aconteceu até agora tira de San Antonio e Cleveland o status de favoritos, ao lado dos atuais campeões.

Mas há outros pontos que podem muito bem ser questionados depois das primeiras semanas de mata-mata:

– Kemba Walker, darling universitário
Olha, dependendo do quanto você valoriza a experiência da NCAA, não há como alterar essa percepção. Se vai valorizar o suposto romantismo do basquete universitário, a pressão de render em tenra idade em rede nacional, ou se não vai conseguir relevar o baixo nível em geral da esvaziada competição em anos recentes, crendo que qualquer jogo de NBA vale mais.

Enfim, depois do que fez por Connecticut em 2011, seria bem difícil para Walker ser mais conhecido pelos seus feitos profissionais. Mas entre usar o título pelos Huskies como principal referência e descartá-lo como séria ameaça na NBA, tem um grande intervalo. Aqui, admito que pendia muito para este segundo grupo. Por mais desconcertante que possa ser seu gingado, estamos falando de um armador tinha dificuldade séria para chegar aos 40% nos arremessos de quadra. Tem limite para assimilar ineficiência. O que mudou este ano é que, por mais que os 42,7% não empolguem tanto, ele passou pela primeira vez da casa dos 34% nos chutes de fora (37,5%). Aí que os defensores, enfim, tinham de grudar nele no perímetro, em vez de recuar e pagar para ver. Isso ajuda demais na hora de bater para a cesta, algo fundamental para alguém que está com a taxa de uso mais alta dos playoffs até o momento (34% das posses do Hornets terminam com uma definição dele, em arremesso ou passe). Contra o Miami, teve dificuldade no início. Mas,  partir do momento em que reencontrou espaços, amparado por uma boa defesa, conseguiu colocar seu time no páreo.

– Jeremy Lin era uma mentira insana
Tão rápido como a NBA abraçou o armador naquelas semanas mágicas de 2012, muita gente também se prontificou a descartá-lo, como uma espécie de one hit wonder. Obviamente, Lin não virou o All-Star que muitos nova-iorquinos pirados cravavam. Mas deu provas em Charlotte que seu jogo físico e corajoso pode muito bem ajudar um time que se declama para os playoffs.

Dá para dizer que, depois das lesões de Kidd-Gilchrist, Batum e Jefferson, antes da chegada de Lee, o armador ajudou a salvar a temporada de uma equipe muito bem preparada e competitiva. Sob a orientação de Clifford, Lin nunca criou tão pouco para os companheiros. Também teve seu pior campeonato no aproveitamento de quadra, mas não pára de atacar, substituindo Kemba ou jogando ao seu lado em quartos períodos. Agredir as defesas parece ser a ordem. Juntos, os dois armadores já bateram 71 lances livres em seis partidas, sendo que 38 estão na conta do jogador de ascendência asiática. Em playoff, isso alivia bastante, ainda mais contra uma defesa que estava visivelmente preocupada em marcar os chutes de três. Ao que parece, deu resultado a reclamação pública sobre arbitragens menos criteriosas quando ele era o atacante. No Jogo 6, ele não foi bem, mas em geral sua contribuição é bastante positiva.

– Whiteside e os grandalhões que não sabem converter lances livres
O pivô do Miami Heat não é nenhum Mark Price. Mas, gente, faz muita diferente quando uma força da natureza como Whiteside beira a marca dos 60% parado diante da linha, ainda mais quando comparado com os indesculpáveis 35,5% de Andre Drummond. Com um rendimento desses, não há como SVG manter seu gigante em quadra num final de jogo equilibrado, ou mesmo quando a vantagem do Detroit é grande e os adversários começam a descer o porrete. Whiteside saltou de 50% pela temporada passada para 65% nesta. Pela série contra o Hornets, vem com 59,3%. Se ele só fica 29,3 minutos em quadra, é porque tem se carregado de faltas, justamente pelos ataques constantes de Kemba e Lin.

Esquisito assim, mas está funcionando

Esquisito assim, mas está funcionando

– Austin, filho do homem
Bom, no ano passado, o jogador já havia vivido bons momentos. O conjunto da obra ainda não justifica exatamente a fama que tinha como colegial, visto como um dos melhores prospectos de sua geração. Ainda assim, sua exibição no derradeiro Jogo 6 em Portland foi mais um indício de que há espaço para ele na liga. O mistão do Clippers deu uma canseira no jovem Blazers, liderado pelo ímpeto do Rivers filho e de Jamal Crawford. Mais que somar 21 pontos e 8 assistências em 31 minutos, impressiona mais a imagem. Quando voltou para a quadra com o olho esquerdo cerrado feito boxer que topou com Mike Tyson no auge e seguiu atacando.

– Myles Turner: novatos não têm vez em playoffs.
(Bônus: o Indiana queria aderir ao small ball)
Aos 19 anos, Turner ainda está aprendendo exatamente como contestar bandejas sem se pendurar em faltas e sem perder o posicionamento adequado à frente do aro. Também está com o corpo claramente em formação e ainda se movimenta com uma postura um tanto estranha.

Com um treinador de orientação mais conservadora, é provável que ele não fosse lançado em uma série tão equilibrada e tensa como esta contra o Toronto Raptors. Mas Frank Vogel, durante a temporada já havia visto bastante: não só não podia barrar seu jovem pivô como afirmou que o Pacers iria até onde ele pudesse levá-lo. Não, ele não é mais jogador que Paul George e George Hill hoje. Mas virou o tal do “x-factor” devido ao impacto que causa em seus melhores dias, tanto na proteção de cesta (ajudando um combalido Ian Mahinmi) como com seu sutil toque perto da cesta e nos chutes elevados, rápidos e impressionantes de média distância. O talento e o desempenho precoce de Turner, aliás, abreviaram a estratégia de Larry Bird e Vogel de usar uma formação mais baixa nesta campanha. O time, na real, ficou com a linha de frente ainda mais alta, mesmo após a saída de Hibbert.

– Vince Carter: amarelão; Matt Barnes: só bravata, encrenqueiro
Sim, já faz tempo que Carter saiu de Toronto pela porta dos fundos, com o filme queimado, especialmente por sua viagem de graduação para a Carolina do Norte em dia de Jogo 7 contra Iverson e o Sixers. As passagens frustradas por Jersey (acompanhando Kidd) e Orlando (com Howard) reforçaram a imagem de que ele seria mais um desses astros desinteressados. Não se atrevam a repetir isso à frente de Dave Joerger.

Carter e Barnes foram as forças por trás do Esquadrão Suicida do Grizzlies, que, francamente, não era para ter chegado aos playoffs de modo algum. Foi o nome de ambos que o treinador citou em uma emocionante coletiva em Memphis, depois de varrida contra o Spurs. Se não pela questão técnica — mesmo que tenham feito o possível depois de o time perder seus dois principais criadores em Gasol e Conley –, mas essencialmente pela liderança durante período em que o time poderia ter basicamente virado um caótico Sacramento Kings.

– Continuidade é tudo na NBA
O gerente geral do Portland Trail Blazers e o técnico Terry Stotts podem erguer o braço para se gabar. Perderam quatro titulares supeevalorizados e ainda abocanharam o quinto lugar do Oeste. Está certo que o Rockets entrou em colapso. Que o Grizzlies e o Pelicans se arrebentaram. Que o Mavs não tinha pernas. E daí?  Utah, Sacramento e Phoenix não souberam aproveitar nada disso, enquanto o Blazers curtia. A comparação com o Utah é interessante. A equipe de Quin Snyder inseriu dois calouros em sua rotação (Raulzinho e Trey Lyles) e, no meio do caminho, foi atrás de Shelvin Mack. Ok. Mas Gordon Hayward, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood, Joe Ingles, Trey Burke, Trevor Booker e Alec Burks eram os mesmos. Lesões e mudanças na rotação à parte, o Utah largava com vantagem. Foi atropelado no caminho.

Cada série pode ter apresentado suas surpresas (ou quase isso), dependendo do ponto de vista.

Agora chegamos às semifinais de conferência. Depois do massacre que foi o Jogo 1, a cabeça quer pensar que nem vai ter série: 124 a 92? Uau. A última vez que um time conseguiu reverter um prejuízo desse num mata-mata? O Los Angeles Lakers sobre o Boston Celtics na final de 1985, depois de perder fora de casa por 148 a 114. Faz tempo. Da minha parte, não chegou a ser tão assustadora assim assim, considerando o que havíamos acabado de assistir pela primeira rodada. Claro que Durant e Westbrook não vão arremessar sempre tão mal assim (11-34). É de se imaginar que, sozinho, LaMarcus não vá superar a dupla também daqui para a frente (38 a 30), ou que Ibaka (19) será o cestinha da equipe? Mas, se OKC teve suas dificuldades contra Dallas, que se defendia no perímetro com Felton, Deron, Barea e Harris acompanhando de Matthews ou o do novato Anderson, o que aconteceria contra um time dez vezes melhor, com a dupla Kawhi e Green? Billy Donovan e seus astros têm um problemaço para resolver, cheios de incertezas.

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