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Jukebox NBA 2015-16: Sixers, a loteria do Draft e uma tremenda sabotagem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: já estamos nos playoffs e o blog vai tentando fazer uma ficha sobre as 30 franquias da liga, apelando ainda a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Sabotage”, Beastie Boys

Haaaaaja coração amigo! É hoje! É final de campeonato!

(Mas, não, meu amigo torcedor, minha amiga torcedora do Toronto, do Cleveland ou do LeBron. Para vocês, começa a decisão do Leste, é verdade, mas ninguém está ligando muito para quem é campeão de conferência, mesmo que caia todo aquele confete em quadra e que o proprietário do clube vá fazer um discurso empolgado. Não vale nem mesmo para o Oeste Selvagem, com o Thunder já aprontando para cima dos atuais campeões.)

Vamos fazer uma pausa na programação regular dos playoffs e nos dedicar à outra atração da noite de NBA nesta terça-feira. No caso, a loteria do Draft, cientes de que para muitos clubes esse evento pode ser um marco da virada, de um mundo melhor. Dentre os 14 clubes participantes, nenhum está mais interessado do que o Philadelphia 76ers, que venceu um total de 28 partidas nos últimos dois campeonatos (quase um terço do que o Warriors conseguiu só neste ano, contando playoffs). O intuito é ser premiado com um novato que possa mudar o seu curso — de lanterna da liga, a candidato ao título num futuro breve.

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Ok. Essa última frase pode soar meio simplista demais. Quando Sam Hinkie convenceu os proprietários da franquia de seu plano audacioso, ele apostava fortemente na sorte do Draft, mas não só nisso. Havia todo um plano para manter a folha salarial baixa, o que lhe gerou oportunidades no balcão de trocas, e também para tentar garimpar talento jovem bruto, pouco badalado, com a esperança de desenvolvê-los em jogadores baratos e sólidos, para que estivessem prontos para o momento em que o time pudesse lutar por algo significante. De acordo com Hinkie e o acionista majoritário Joshua Harris, era o título e tão somente o título que eles queriam.

Para chegar lá, a história da NBA mostra que são necessárias basicamente as chamadas superestrelas, os jogadores transcendentais, em torno dos quais você vai montar seu elenco. É só ver os finalistas de conferência pata entender: o Toronto de Lowry e DeRozan é uma exceção em meio aos Durants, Westbrooks, LeBrons e Curries. O Detroit Pistons de 2004 foi o último time a quebrar este tabu, e escalava em seu quinteto inicial quatro eventuais All-Stars.

A matemática histórica, pelo qual o supernerd Hinkie tem profundo apreço, também diz que o Draft é a alternativa mais provável para conseguir esse tipo de jogador. Mais do que trocas e agentes livres. E aí a lógica, fria e feia, da liga, indica que é melhor você perder, perder e perder. Quanto mais derrotas, maiores as chances no recrutamento. E Philly (não?) jogou o tempo todo para isso. Está aí a primeira sabotagem — seguinndo as regras, diga-se — à qual os Beastie Boys fazem referência (numa das músicas mais legais e únicas dos anos 90, bem como num dos clipes mais cool da história, dirigido pelo genial Spike Jonze).

É loteria! Quem leva?

É loteria! Quem leva?

Acontece que, nesse processo todo, em meio a tanta racionalidade e paciência, você ainda vai precisar, sim, de sorte. O que não deixa de ser irônico ou até mesmo maluco, já que não passa de um exercício de fé em números e probabilidades. Para esta noite, o time agora comandado por Bryan Colangelo tem 26,9% de chances de obter a primeira escolha. Simultaneamente, torce para que o Lakers saia do Top 3 e seja obrigado a lhe repassar sua seleção. (Sim, para o Lakers também é dia de final, de um tipo beeem diferente ao qual Magic e Kobe estavam acostumados). Agora, nada disso está garantido. Existem cenários em que os argelinos podem assumir o primeiro lugar, com o Sixers caindo para quarto. É uma loteria, diacho.

Basta ver o que ocorreu com o próprio clube nos últimos dois anos. A pior campanha/maior chance de triunfo no Draft se transformou em duas terceiras escolhas seguidas e dois pivôs que são incógnitas. Aí entra o fator competência também. Os primeiros ativos acumulados por Hinkie não foram aproveitados da melhor forma. Pensem o seguinte: mesmo que Philly mão tivesse dado maiores saltos nos últimos três anos, Jahlil Okafor, Joel Embiid, Dario Saric, Nerlens Noel e Michael Carter-Williams ainda poderiam ser, hoje, Kristaps Porzingis, Aaron Gordon, Clint Capela, C.J. McCollum e Giannis Antetokounmpo.

Por mais cedo que seja para avaliar Okafor e, principalmente, Embiid, pelo fato de ele nem ter jogado na NBA ainda, acho que dá para dizer que a versão alternativa de Draft acima não teria resultado na demissão do mentor desse plano todo. Por mais planilhas e recursos que tenha utilizado, as coisas não saíram da melhor forma. De novo: está cedo para julgar tudo isso. Após dois extenuantes e aflitivos anos de reabilitação, rumores, tweets cômicos e viagens para o Catar, pode ser que o camaronês Embiid siga uma trilha diferente, deixe Greg Oden para trás e domine as tábuas. Pode ser que Noel e Okafor encontrem uma forma de dividir a quadra. Que Saric chegue em julho e produza mais até que Mirotic. Que Carter-Williams se transforme na quarta escolha deste ano, via Lakers. Enfim. Tem muito em jogo ainda.

O cruel aqui? Que Hinkie não vai estar por perto para ver nada disso. Aliás, toda a curiosidade para saber onde passará as noites da loteria e do Draft em si. À frente da TV? Tablet ligado? Torcendo para o quê? Pessoalmente, se o chamado “Processo” render dois jovens de talento neste ano e no início da virada para a franquia, ao menos vai ter o prazer de ver algo que planejou vingar. Mesmo que à distância.

Antes: Hinkie, Harris e Jerry

Antes: Hinkie, Harris e Jerry

Depois de se gabarem pela audácia e paciência que tinham com as ideias de Hinkie, os proprietários do Sixers acharam, por bem, contratar um Jerry Colangelo para supervisionar as ações do cartola, em dezembro. A parcimônia havia acabado, com a equipe novamente perigando não só ser a pior da temporada, como de toda a história. Quando foi anunciado como “chairman” do departamento de basquete, Colangelo disse que trabalharia ao lado do gestor, como um consultor, um conselheiro. Ninguém na NBA acreditou: um cara desta estatura não voltaria à liga só para fazer pose e dar alguns pitacos. Exatamente quatro meses depois, Hinkie pediu demissão, ao saber que não só o Colangelo pai ficaria por ali, como estavam contratando seu filho também, Bryan.

Por quê? Bem, ao que tudo indica, o breve convívio entre ambos deixou claro de que suas visões de gestão não poderiam ser mais diferentes. O Colangelo pai era a velha guarda, Hinkie representa um movimento que talvez nem tenha tanto fôlego assim na liga, pelo menos não em seus radicalismos. Um sempre foi dos mais comunicativos, a ponto de ser convocado por David Stern para salvar a USA Basketball. Deu no que deu: sob sua supervisão diplomática e atuante, a seleção americana está invicta desde 2007. O outro valorizava tanto o segredo como um trunfo que chegava a alienar até mesmo seus subalternos, técnicos e jogadores. Para não falar de agentes, concorrentes, e torcedores. A chiadeira era geral.

De modo que, quando Hinkie entregou sua carta de demissão aos proprietários, não poderia realmente acreditar que ficaria naquilo mesmo. Não levou nem mesmo duas horas para que o documento de 13 páginas (!) vazasse, e via ESPN ainda. Essa foi a segunda sabotagem, como consequência da primeira. Que o dirigente tenha ficado mordido com isso é muito revelador sobre sua maneira de enxergar a liga como um universo de Jogos Vorazes, e só. São 30 clubes apenas, a competitividade é enorme, claro. Mas uma pequena comunidade dessas também não se sustenta sem ombros amigos.

Em dois anos, Brett Brown mal pôde trabalhar com Embiid em quadra

Em dois anos, Brett Brown mal pôde trabalhar com Embiid em quadra

A abordagem silenciosa e meticulosa de Hinkie foi até mesmo equivocadamente vangloriada por seus seguidores. Era um modo de controlar o fluxo de informação e lhe colocar em vantagem. Ele realmente acreditava nisso. Quando Colangelo chegou e lhe sugeriu que se expusesse mais, talvez tenha dado mais entrevistas em semanas do que havia feito em dois anos. Mas o estrago de relações públicas já era imenso.

Hinkie não foi o primeiro a adotar a estratégia do quanto pior, melhor. Em 2002, Cleveland e Denver fizeram de *nada* para terem a chance de selecionar LeBron ou Carmelo (e Darko!). Sam Presti conseguiu Kevin Durant em 2007 e não quis saber de acelerar a construção do antigo Seattle SuperSonics. Aí, em OKC, adicionou Westbrook e Harden e mais. Presti também não lá tão afeito assim a entrevistas, por exemplo. Mas o que se viu em Philadelphia foi algo mais drástico, supostamente com o aval dos donos da franquia e que, até o momento, não conseguiram nenhum jogador que desperte tanto interesse assim como acontecia com LBJ e Melo há 14 anos.

Se for para falar do futuro do clube, todavia, é inegável que Bryan Colangelo assume um departamento de basquete em situação muito melhor que a que de seu predecessor. Jrue Holiday, Evan Turner, Thaddeus Young e Spencer Hawes são bons jogadores, bacanas e tal, mas este núcleo não prometia muito mais do que as 34 vitórias que haviam somado em 2013. Ah, eles tinham o fantasma de Andrew Bynum rondando por lá também.

Agora o clube tem três pivôs jovens e promissores, um ala-pivô croata de visão de quadra rara, alguns atletas jovens, interessantes e baratos (como Robert Covington, Jerami Grant, Richaun Holmes e TJ McConnell) mais duas escolhas extra neste Draft (e potencialmente a do Lakers ainda). É verdade, de todo modo, que não está claro se Okafor e Noel podem jogar juntos. Os resultados do primeiro ano da jovem parceria não foram animadores. Embiid perdeu seus dois primeiros anos de desenvolvimento e, como Andrew Wiggins, seu companheiro de Kansas, pode comprovar, leva tempo para entender e encarar os desafios da liga – logo, pode ser que, na melhor das hipóteses físicas e clínicas, o pivô chegue ao final de seu ano de contrato ainda aprendendo em quadra, e aí terão de pensar no que fazer com tantos grandalhões. Existe um núcleo montado aqui, mas que ainda pedirá uma ou outra troca até ficar balanceado.

Em geral, Philly levou a melhor na grande maioria das trocas que realizou de 2013 para cá. Peguem, por exemplo, o roubo cometido contra Sacramento no ano passado, sendo a arma um telefone celular ou um charuto, sei lá, apontada para um inexperiente Vlade Divac. Vamos lá: Philly tem o direito de trocar sua escolha com a do Kings neste recrutamento. Isto é, caso o clube da capital californiana os ultrapasse no sorteio, serão obrigados a lhes conceder a honra. E quer saber mais? O 76ers tem o direito de repetir isso no ano que vem. Além disso, vai ganhar a escolha de 2018.  E ainda pode ver se Nik Stauskas vai se dedicar um pouco mais nos treinos e virar o ala que conquistou os olheiros em Michigan. Danny Ainge e Daryl Morey certamente aprovariam um negócio desses.

Foram muitas negociações fechadas por Hinkie, mas quase sempre pensando adiante. Josh Harris e seus sócios só não tinham a confiança de que ele seria o homem certo para assumir esta segunda fase do plano de reconstrução, como avaliador de talentos e comunicador. Agora, outro cartola vai ter o privilégio de decidir o que fazer com tantos recursos disponíveis. Certamente os demais candidatos ao cargo de gerente geral liga afora acompanharam tudo com muita atenção. S conduta agressiva de alguma forma feriu um código que não está escrito, nem divulgado em lugar nenhum. Seu rebaixamento também mostra que a paciência dos proprietários com o processo de detrimento dos resultados sempre vai ter limite, independentemente do ramo de negócios que venham. Esses caras, bilionários, produtores da própria riqueza, agora se levantam em suas bases – não necessariamente em Philly –, tomam um bom café nutritivo, dão aquela corridinha ou malhada, botam o header, disparam emails e mensagens, mas estão suando frio, ansiosos, como qualquer torcedor comum, esperando que tantas derrotas tenham acontecido por um bom motivo. Eles precisam de sorte.

A pedida? Uma escolha número dois de Draft e que o Lakers saia do Top 3.

Depois: sobraram Bryan e Harris

Depois: sobraram Bryan e Harris

A gestão: não dá para falar muito sobre o que Bryan Colangelo está fazendo em Philly. Afinal, até agora, de concreto, o que sabemos é que ele só contratou um braço direito: Marc Eversley, com quem trabalhou em Toronto e estava em Washington como vice-presidente de scouting. Por enquanto, também decidiu manter Brett Brown, por mais que a presença de Mike D’Antoni, com quem o dirigente se deu tão bem em Phoenix, seja uma ameaça considerável. O resto está por vir.

Jerry tem mais moral, claro, na liga. Seja como técnico, gerente geral ou dono, o Phoenix Suns teve muito sucesso com sob seu controle. Ele foi, na verdade, o primeiro ‘GM’ do clube, em 1968. Ficou por lá até 2004, quando, já como proprietário, vendeu o clube para um grupo de investidores liderado por Robert Sarver. Nestes 36 anos, o clube ‘só’ foi a duas finais, mas foi aos playoffs em 23 ocasiões, incluindo uma sequência de 1988 a 2001.  Foi eleito quatro vezes o Executivo do Ano, um recorde.

Não está claro qual será a sua influência nas próximas semanas. Assim que contratou o filho, abriu mão da nomenclatura de ‘chairman’ do departamento de basquete para ser um consultor especial do sócio controlador, Joshua Harris. Mesmo o fã mais ligado a Hinkie espera que ele não fique tão distante assim.

Não que Bryan seja um simples produto do nepotismo. Ao ser eleito o melhor cartola da NBA em 2005, ainda em Phoenix, e em 2007, já em Toronto, elevou a seis o número de troféus da família. O problema é que a última impressão que deixou na metrópole canadense não foi das melhores.

Com uma base europeia em torno de Chris Bosh, o Raptors foi aos playoffs nos dois primeiros anos de administração. Em 2010, ainda conseguiu 40 vitórias, mas bateu na trave e perdeu Bosh. Em 2011 e 2012,  não passou de 23 vitórias. Em 2013, foi afastado da gerência da equipe e se demitiu. Um desfecho deprimente. A busca por talento de fora (seja jogadores em atividade na Europa como Anthony Parker, José Calderón e Jorge Garbajosa ou de estrangeiros como Rasho Nesterovic e Carlos Defino) foi uma boa sacada para uma cidade que tinha dificuldade para atrair atletas americanos de ponta. Receber Kyle Lowry de Houston em troca de uma escolha de Draft foi excelente também, assim como a escolha de DeMar DeRozan em 2009.

(Aliás, em termos de Draft, teve grandes acertos em Phoenix ao selecionar tanto Amar’e Stoudemire como Shawn Marion em oitavo. Steve Nash ele topou em 15o, mesmo com Jason Kidd e Kevin Johnson no elenco. Leandrinho saiu no final da primeira rodada. Se Casey Jacobsen e Zarko Cbarkapa não deixaram tanta saudade assim, seus achados foram mais relevantes.)

No geral, porém, falhou em montar em Toronto elencos competitivos mesmo numa conferência esvaziada. E o símbolo da derrapada acaba unindo por coincidência o interesse por europeus e o tino para o Draft, quando Andrea Bargnani foi eleito o primeiro europeu número um de Draft, em 2006, logo que chegou.

O italiano foi mais um candidato a próximo Nowitzki que deu errado. Ao contrário de Nikoloz Tskitshvili, porém, saiu do Bennett Treviso como um jovem produtivo, que ia para a quadra. Na NBA, porém, nunca sr tornou um reboteiro minimamente decente para ganhar a confiança de treinadores. O italiano mostrava potencial, mas não conseguiu montar o quebra-cabeça inteiro. Foi mais um a sair vaiado de Toronto, sem encontrar seu lugar ao lado de Bosh (são jogadores similares, no fim), mas também irritando uma torcida passional pela passividade em quadra.

Para quem venerou ou aturou Hinkie por quase três anos, só esperam que, num posto tão alto de Draft, o mesmo tipo de história não aconteça.

(Bônus: o Philadelphia 76ers se tornou nesta segunda-feira o primeiro clube a vender o pequeno espaço para patrocínio em sua camisa. O parceiro foi ligeiramente estranho, devido à grande ameaça de um conflito de interesses: o site StubHub.com, de compra e venda de ingressos para eventos esportivos e culturais. O acordo vale por três temporadas e US$ 15 milhões no total.)

card-allen-iverson-sixers-rookieUm card do passado: Allen Iverson. O Sixers é um dos times mais tradicionais da NBA, podendo pendurar a camisa de diversos craques da liga. Wilt, Dr. J, Moses, Barkley, Greer, Cunningham e muito mais. Mas isso não quer dizer que o período atual de draga. Que tal voltarmos 20 anos no tempo?

No início da década de 90, o próprio Barkley já tinha sacado tudo: se ficasse em Philly, iria se se lascar geral, e, talvez, ao final de sua carreira, não houvesse legado nenhum, Dream Team à parte. Antes de Chuckster forçar troca para Phoenix, o time havia vencido 35 partidas. Nos quatro anos seguintes, entre 1992 e 96, caiu de 26 para 18 triunfos. Claro que, segundo os padrões de hoje, isso poderia ser visto até como um sucesso. Para um clube que ganhou três títulos e chegou a nove finais, é ridículo. Como Hinkie bem sabe, todavia, sucessivas campanhas ruins levam ao acúmulo de altas escolhas de Draft. E aí chegamos a 1995-96, o fundo do poço desta era, com os 18 triunfos que resultariam no pick #1 daquele ano, Allen Iverson, que dispensa apresentações, embora até possa ser irreconhecível sem as trancinhas, a proteção no braço e tantas tatuagens.

Iverson foi a segunda escolha número um da história do clube, depois de Doug Collins, em 1973,  logo depois da final olímpica mais controversa da história. As lesões no joelho abreviaram a carreira de Collins, que foi eleito quatro vezes All-Star, mas parou aos 29 anos. Iverson, baixinho e magrinho que só, foi mais longe. Jogou 13 anos, até os 34, dos quais 11 foram pelo time que o selecionou.

Com cinco anos de franquia, num Leste enfraquecido, Iverson conseguiu levar o Sixers de volta às finais da NBA pela primeira vez desde o título de 1983, quando Barkley ainda nem havia entrado na liga (foi novato em 1984). Se Embiid, Okafor, Noel, ou, quiçá, Ingram/Simmons puderem um dia levar o clube até uma nova decisão, todas essas derrotas terão valido a pena?

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O Philadelphia 76ers vai ser o pior time da história?
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

OK, sem a ajuda do Google, diga quem são cada um desses da esquerda para a direita

OK, sem a ajuda do Google, diga quem são cada um desses da esquerda para a direita

Michael Carter-Williams havia acabado de retornar de uma cirurgia no ombro. Ao final do primeiro tempo, sentado no vestiário, talvez não acreditasse que pudesse ser recebido de forma tão humilhante em quadra. O Dallas Mavericks destroçava seu Philadelphia 76ers, abrindo uma inacreditável vantagem de 44 pontos após 24 minutos de jogo. Era como se a cada minuto, o time da casa fizesse uma cesta de dois pontos – e o adversário, nada.

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“Tenho certeza de que vou me lembrar disso, e não quero que aconteça de novo. Ninguém nesse vestiário vai se acostumar nunca em perder desta maneira. Nenhum de nós vai se acostumar a perder, e ponto. Ficamos chateados a cada derrota”, afirmou o talentoso e um tanto errático armador, o novato do ano da NBA 2013-2014.

Compreensível a declaração de MCW, e louvável até. Ele e seus companheiros podem muito bem não aceitar uma surra dessas. Agora, entre aceitar e se acostumar, há uma grande diferença. E é bom que o jogador e a equipe mais jovem da temporada entendam isso. Porque a temporada promete ser longa. Beeeem longa, e até inesquecível. Foram nove jogos até esta segunda-feira, e nove derrotas. Não chega a surpreender. Desde que o gerente geral Sam Hinkie montou o atual elenco, o Sixers virou sério candidato a pior da história – com a famigerada campanha da mesma franquia em 1972-73, com 9 vitórias e 73 derrotas, sendo o parâmetro. Com um agravante: o movimento é calculado.

O jogo contra o Sixers foi tão interessante que a torcida do Mavs...

O jogo contra o Sixers foi tão interessante que a torcida do Mavs…

A (já não tão) nova gestão do Philadelphia traçou um plano bem claro: implodir a estrutura então vigente. Chegar aos playoffs e perder não era o bastante, não ia levar a lugar algum. Então o que o cartola fez foi promover um leilão e vender todas as peças minimamente decentes que a equipe tinha para recomeçar do zero. Era hora de reconstrução via Draft. E, para fazer desta forma, já sabemos: quanto mais derrotas, mais chances de conseguir uma boa posição na seleção de novatos e acesso aos melhores talentos.

Veja bem: não há nada ilegítimo nessa linha de raciocínio. Nem ilegal. Está dentro das regras do jogo, e o Sixers não é o primeiro clube a adotá-la. O problema é que Hinkie talvez esteja indo um pouco longe demais em seu descompromisso com o presente, pensando apenas no futuro. Quando o tal do futuro vai chegar? Se chegar.

Hoje, no plantel é o mais jovem da liga, com 23 anos de média. Até aí tudo bem, faz sentido. Agora, na hora de falar em qualidade, a coisa fica mais feia. A turma que vem jogando é a que tem menos escolhas de primeira rodada: Carter-Williams, Tony Wroten e Nerlens Noel. De resto, são sete atletas que nem mesmo foram selecionados no Draft, um recorde. O que não quer dizer que caras como Brandon Davies, Robert Covington, Alexey Shved e Henry Sims não possam evoluir e emplacar. Caras como Ben Wallace, José Juan Barea, Brad Miller e Bruce Bowen também passaram batido no recrutamento e foram figuras importantes em times que tiveram sucesso nos playoffs. Mas, historicamente, é um desenvolvimento bem mais raro. Vejam Jarvis Varnado, Chris Johnson, Casper Ware, Elliott Williams e outros talentos nos quais Hinkie apostou recentemente e já foram dispensados. Haja rotatividade e procura.

Brett Brown vai precisar de toda a diplomacia e lições do mundo

Brett Brown vai precisar de toda a diplomacia e lições do mundo

Aqui é a parte em que podemos perguntar: mas se a ideia é reconstruir usando o Draft, onde estão as escolhas? Bem, o pivô camaronês Joel Embiid está na enfermaria, bastante atuante no Twitter. O ala-pivô croata Dario Saric tem contrato milionário com o Anadolu Efes, da Turquia, e só deve se apresentar daqui a duas temporadas. Essas foram as duas escolhas principais do clube neste ano. Hinkie já sabia  que não poderia contar com eles, mas optou por essa rota ainda assim.

Assim como para os calouros de segunda rodada. No caso do Sixers, ao menos o ala KJ McDaniels vem se mostrando um achado. O jogador revelado por Clemson tinha cotação para as primeiras 30 posições, mas acabou derrapando num ano de forte concorrência. O ala Jerami Grant, filho de Harvey e sobrinho de Horace, lesionado, é outro que pode seguir nessa linha. Mas seria o suficiente para tornar a atual equipe mais competitiva? Dificilmente.

Mais duas observações: 1) McDaniels já vai virar um agente livre ao final do ano (leia mais abaixo); 2) de todas as escolhas do segundo round, o ala Jordan McRae foi aquele que teve o melhor verão com a camisa do Philadelphia. Mas cadê ele no elenco atual? Você não vai achar. McRae foi convencido pela diretoria a jogar na Austrália para ganhar cancha, que foi o mesmo procedimento adotado pelo Miami Heat com James Ennis, e deu certo. Por outro lado, é um prato cheio para aqueles vão acusar Hinkie de estar simplesmente entregando os pontos por ora.

Carter-Williams e Noel: dupla de aposta para o futuro, ou nem isso. Sixers no limbo por enquanto

Carter-Williams e Noel: dupla de aposta para o futuro, ou nem isso. Sixers no limbo por enquanto

Como Stan Van Gundy, que não tem papas na língua. “Não me importo se alguém diga que eles não estão perdendo de propósito. O que Philadelphia está fazendo agora é uma vergonha. Se você está usando botando um time desses em quadra, está fazendo todo o possível para perder”, afirmou o técnico durante a última Sloan Sports Conference, antes de assumir o Detroit Pistons, diga-se.

Esse tipo de revolta, aliás, levou a NBA a votar no encontro anual dos proprietários de cada clube uma possível mudança nas regras do Draft. A proposta era mais complexa, mas pode ser resumida basicamente desta forma: os piores times da liga teriam chances menores de ganhar as primeiras posições no recrutamento. A disputa ficaria mais equilibrada entre todos os participantes da loteria. Muitos esperavam que a reforma fosse aprovada, mas, de última hora, o Sixers ganhou aliados e venceu essa batalha. Não que esses novos aliados estivessem inteiramente ao lado de Sam Hinkie: pesou também toda a incerteza que ronda as franquias com a iminência de um novo contrato bilionário de TV, que vai influenciar drasticamente a condução dos negócios cotidianos.

Mas nem tudo são críticas. O próprio comissário Adam Siler diz entender e avalizar o projeto de Philly. “Não concordo de modo algum com o técnico Van Gundy. Já visitei aquele vestiário, falei com o treinador Brett Brown. É um insulto para toda a liga sugerir que esses caras não estejam fazendo o melhor que podem para vencer”, afirma. “Se você for observar qualquer negócio, vai pensar em resultados a curto e longo prazo. E se te dissessem que, em um rumo específico, que a ideia era operar com base a cada trimestre, você diria que esse não é o caminho certo, que você precisa de uma estratégia e pensando longe. Acho que o que essa organização está fazendo é absolutamente a coisa certa: planejar para o futuro e construindo uma organização do térreo para cima. Pensando no que aconteceu na cidade nos últimos anos, era algo muito necessário.”

Na hora de fazer uma análise sobre cada negociação conduzida por Hinkie, o cartola na verdade sai ganhando, dependendo do quanto se vá valorizar Evan Turner e Thaddeus Young, que ainda eram jovens o suficiente para seguir no time (a que preço, porém?). Os dois alas e o armador Jrue Holiday e o pivô Spencer Hawes foram os atletas negociados. Em troca, o gerente geral conseguiu Nerlens Noel,  os direitos sobre Saric e muitas escolhas de Draft, de primeira ou segunda rodada. A equipe piora para agora, mas ganha uma base para amanhã.

As escolhas de Noel, Saric e Embiid foram todas oportunistas: se não houvesse restrições de lesão ou contratuais, os três não estariam disponíveis para a franquia. Mas é aíque  retomamos a pergunta inicial: o duro é que esse amanhã vai demorar para chegar, e muito. Noel está aparentemente 100% recuperado de sua cirurgia no joelho, mas ainda é bastante cru. Causa impacto na defesa, mas deixa a desejar no ataque. Carter-Williams? Nem eles estão certos se vai dar em algo, tanto que estavam dispostos a trocá-lo ao final da temporada, caso conseguissem mais uma escolha alta de Draft.  Tentaram vendê-lo na alta. Embiid, pelo que todo mundo indica, não vai jogar este ano, recuperando-se de uma operação no pé e também de complicações com as costas. O camaronês encantou a todos os olheiros durante seu ano de parceria com Andrew Wiggins em Kansas, mas também é inexperiente e tem esse histórico médico preocupante.

É um cenário bem diferente daquele que o Oklahoma City conduziu. Eles selecionaram Kevin Durant, Russell Westbrook e James Harden para jogar na hora. Serge Ibaka foi o único pelo qual tiveram de esperar por um ano. Ah, mas muito disso vem do fator chamado sorte? Certamente: o Portland Trail Blazers apostou nas articulações de Greg Oden e se deu mal. Por outro lado, Westbrook e Harden eram bem cotados quando saíram da universidade, mas não eram unanimidade. Poucos imaginavam que poderiam se tornar superestrelas desse nível. Valeu, aí, o faro do gerente geral Sam Presti e de sua equipe, além da competência de todos no trabalho com os garotos. No ano de calouro de KD, o time venceu 20 partidas, ainda em Seattle. Com Wess novato, foram 23 triunfos. Quando Harden chegou, eles já foram par 50 vitórias.

Demorou um pouco para vencer, mas OKC juntou muito mais talento, e de cara

Demorou um pouco para vencer, mas OKC juntou muito mais talento, e de cara

Em Philadelphia? No campeonato passado, foram 19 vitórias. Então, pera lá: qual a diferença? Bem, são muitas. Para começar, a equipe ainda contava com alguns veteranos competentes, que ajudaram num início de campanha surpreendente. Desde fevereiro de 2014, porém, a equipe perdeu 40 de suas 44 partidas. Para a atual campanha, não há sinal de evolução alguma. Muito pelo contrário: o Sixers não só perdeu suas nove primeiras partidas, mas vem com um saldo negativo de 16 pontos por rodada (o Lakers na sua pindaíba, vem com -10,5, e jogando no Oeste). Mesmo se descontarmos os 53 pontos da surra que tomaram naquela do MAvs (placar de 123 a 70, a maior vitória da história do adversário), o saldo ainda seria de -11,3.  Em 1972-73, aquele que viraria o pior time da história tinha perdido por 9,3 pontos nas primeiras nove rodadas. Obviamente as coisas aqui estão bem mais incertas.Mas Hinke tem sinal verde, respaldo total dos acionistas da franquia para seguira diante com seu plano. “Quanto mais eu converso com as pessoas sobre as coisas que vejo, elas me dizem que muito dos pilares já estão aqui: uma cidade com tradição no basquete, um mercado grande e um grupo de proprietários comprometidos com a ideia de vencer no nível mais alto possível e que são inteligentes, pacientes e estão dispostos a fazer os investimentos a longo prazo e tudo o que for necessário para conduzir nosso sucesso”, disse o cartola, que é daqueles que fala pouco. Não há metas declaradas, nem nada disso. Enquanto a liga não sabe o desfecho do plano, é bom que Carter-Williams, seus companheiros e torcedores vão ter de se preparar. Para alcançar o sucesso, será preciso passar por um suplício nesta temporada.

Brown, Embiid, Noel, MCW e Hinkie foram ver Saric jogar a Copa do Mundo. Time do futuro?

Brown, Embiid, Noel, MCW e Hinkie foram ver Saric jogar a Copa do Mundo. Time do futuro?

O time: Brett Brown tem alguns jogadores interessantes em sua equipe. Mas estamos falando da NBA, então essa é basicamente a norma.  No caso do Sixers, três dos seus atletas mais promissores têm uma deficiência grave: não sabem arremessar. Há um “detalhe” desses para ser solucionado, em meio a muitas outras carências.

Até mesmo o espigão Noel, jogando perto da cesta, tem dificuldades para finalizar. Tony Wroten até dá sinais de melhora em seu tiro de três pontos, mas numa amostra pequena de jogos – e sua média na carreira ainda é de 24,2%. Nos lances livres, como prova, tem convertido apenas 61%. O armador, de qualquer forma, vinha fazendo um excelente início de temporada, como substituto de MCW. Agora, com o titular de volta, fica a dúvida sobre o quanto os dois podem ser efetivos juntos. Afinal, possuem muitas das mesmas características, e seu companheiro talvez seja um finalizador ainda pior. Ambos cometem muitos turnovers também. Detalhe: embora esteja em seu terceiro campeonato, Wroten é dois anos mais jovem que o companheiro. KJ McDaniels já estrelou algumas enterradas e jogadas atléticas de tirar o fôlego, embora tenha dificuldade para criar por conta própria, se atrapalhando com a bola. E por aí vai.

Tony Wroten começou bem a temporada, mas ainda tem muito o que refinar em seu jogo

Tony Wroten começou bem a temporada, mas ainda tem muito o que refinar em seu jogo

Como eles podem evoluir, se ao redor deles não há quem lhes alivie a pressão? Tanto em termos de atletas experientes como em pura e simples eficiência, qualidade em quadra.

Se formos pegar o ranking aproveitamento geral nos arremessos,  por exemplo, contando tudo (chutes de quadra, três pontos e lances livres), o Philadephia é o pior da temporada até agora. O mesmo aconteceu na campanha passada. É complicado: o time é bem limitado, mesmo. Ainda assim, Brown quer que sua equipe jogue em velocidade, num dos ritmos mais acelerados da liga. Diz acreditar que essa é a melhor solução. Há quem suspeite que a tática sirva apenas para inflar os números dos atletas que Hinkie usaria em trocas. Vai saber. O consolo para o treinador é que ele não precisa ter pressa nenhuma para colher resultados significativos. Além do trabalho diário com os atletas, ele só espera que o mero fato de a rapaziada ir para quadra e encarar uma competição muito mais qualificada seja o suficiente para acelerar seu desenvolvimento.

A pedida: 10 vitórias, e só, para evitar o vexame e mais escândalo na liga.

Olho nele: Nerlens Noel. Um calouro em seu segundo ano de NBA, é verdade. Mas chegou a hora de ver o que Noel pode oferecer em quadra, lembrando que ele era o jogador mais cotado para ser a primeira escolha do Draft de 2013. Acabou caindo para sexto devido ao receio dos times com sua lesão no joelho. O jovem pivô não parece ter perdido nada de sua capacidade atlética. Vale a pena reparar na velocidade das mãos do jogador, que desarma armadores, em baixo, com facilidade. A expectativa de Brown é que ele cause grande impacto na defesa, mesmo. No ataque, ele ainda precisa de muito refinamento. Vai pontuar mais em lances de pick and roll, no aproveitamento de rebotes ofensivos ou em transição.

(Olho nele 2? Joel Embiid, mesmo que ele não vá jogar. Para os que estão no Twitter, taí uma conta obrigatória para se seguir. Na rede de microblog, ele já sondou LeBron James sobre a possibilidade de jogar pelo Philadelphia, flertou com Kim Kardashian, a ‘célebre’ ex-esposa de Kris Kumprhies e atual Sra. Kanye West, e já arrastou asa para a popstar Rihanna também. O quanto disso era sério ou brincadeira? Ninguém precisa saber, fica melhor assim.)

Abre o jogo: “Sim, tenho um trabalho complicado. Mas acho que as recompensas superam os riscos para mim, nessa altura da minha carreira. Está tudo bem. Ninguém iria aceitar esse cargo se a intenção fosse melhorar seu currículo, se preocupando com o número de vitórias ou derrotas, na hora de avaliar sua carreira no futuro. Já passei dessa fase. Vejo apenas uma oportunidade incrível, que eu abraço para valer. É difícil em muitos níveis, mas a empolgação do que o projeto pode vir a ser pesa mais que as dificuldades. Nem me importo com um primeiro jogo da pré-temporada. E nem me importo com muitas coisas, para falar a verdade. Em vez disso, olho para o futuro. Quero realmente uma abordagem muito dedicada e muito devagar, para que façamos as coisas direito”, Brett Brown, quase num manifesto ao falar ao NBA.com sobre os desafios de seu cargo: pegar um elenco horroroso e tentar extrair daí algo positivo para o futuro, sem se importar com tantas surras que tem tomado.

KJ McDaniels decidiu usar a draga do Sixers a seu favor. Vai dando certo

KJ McDaniels decidiu usar a draga do Sixers a seu favor. Vai dando certo

Você não perguntou, mas...  o ala KJ McDaniels, um dos calouros da equipe, desafiou a lógica vigente ao negociar seu contrato com o Philadelphia. Em geral, para os atletas selecionados na segunda rodada do Draft, o padrão vinha sendo a assinatura de um vínculo de quatro anos, os dois últimos sendo opcionais – com o time podendo exercer a cláusula, claro. McDaniels simplesmente optou por um contrato de apenas um ano, sem garantias. Pode ser dispensado a qualquer momento pelo Sixers. Sua aposta, porém, é que a equipe não vai poder abrir mão de seu talento – imaginem? – e que terá tempo de quadra para vender o peixe. Ao final do ano, vira a gente livre e espera receber uma oferta mais rentável.

Hal Greer,1972-73, Sixers, Trading CardCard do passado: Hal Greer. Nessa preciosidade de 1972-73, vemos que ao menos aquela versão vexatória do Sixers contava com um membro do Hall da Fama em seu elenco. Pena que era justamente em sua última temporada na liga. : ) Greer entrou na NBA em 1958 e jogou toda sua carreira pela mesma franquia – com a diferença de que, até 1963, ela se chamava Syracuse Nationals. Campeão em 1967, foi um dos principais companheiros do legendário Wilt Chamberlain. No ano do título, ele marcou 27,7 pontos por jogo nos playoffs, por exemplo. De 1961 a 70, foi eleito para o All-Star Game. O ala-armador também ficou famoso por cobrar seus lances livres pulando. Sua camisa 15 está aposentada pelo clube.

 


Com paridade em destaque, mata-matas da NCAA começam nesta terça
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Giancarlo Giampietro

Por Rafael Uehara*

O NCAA Tournament, competição que decide o campeão universitário do basquete americano, se inicia nesta terça-feira com a paridade entre os times como seu maior destaque. Nenhuma equipe foi indisputavelmente dominante durante a temporada, caso oposto ao ano passado quando o Kentucky Wildcats atropelou a concorrência a caminho do primeiro título nacional da carreira do técnico John Calipari, que serviu de validação ao seu modelo de recrutamento com foco em jogadores que passam apenas um ano jogando basquete colegial e seguem em frente para a NBA.

Mr. Pitino, nem sempre bem lembrado pelos torcedores do Celtics

Pitino e seu terno tentam confirmar posto de cabeça-de-chave número 1 para Lousville

Ma se a fórmula pagou dividendos no ano passado, o tiro saiu pela culatra este ano. Com o time todo reformulado, Kentucky surpreendentemente falhou em se classificar para o torneio, sendo mandado invés para o NIT – competição secundária e considerada humilhante para times do status de Kentucky. Vale a pena mencionar que a lesão do pivô Nerlens Noel – possível primeira escolha no próximo Draft – atrapalhou demais na arrancada final. Porém, o time já decepcionava antes de sofrer com a ausência de Noel.

O Gonzaga Bulldogs chega ao torneio rankeado como o número um em pesquisas da imprensa americana, com 31 vitórias em 33 jogos. Mas o Louisville Cardinals, oitavo nos votos dos jornalistas, é que será o nominal cabeça de chave geral, jogando a primeira fase mais próximo de casa que qualquer outro time. Isso é reflexo de um algoritmo antiquado usado pelo comitê que decide os qualificados e constrói a tabela. A fórmula julga a tabela das conferências chamadas “Power 6” com maior força do que aquela de conferências de menor representação, mesmo que isso não seja verdade absoluta nos tempos de hoje em dia. Por isso o título de campeão da Big East vale mais para Louisville do que da WCC para Gonzaga, nos olhos daqueles que tomam as decisões.

Por outro lado, o Indiana Hoosiers é o clube visto como o principal favorito entre os cabeças de chave. Indiana começou o ano número um na pesquisa entre os jornalistas. O time que chegou ao round das oitavas de final na temporada passada contou com o retorno de Cody Zeller e Victor Oladipo, projetados como top 10 escolhas no próximo Draft, e trouxe uma classe de novatos que preencheu algum dos buracos que o time do ano passado tinha. Os Hoosiers jogam o basquete universitário mais agradável, com um ataque veloz que toma vantagem da capacidade de Zeller de arrancar em contra-ataques, qualidade incomum para pivôs de sua estatura. Para mais detalhes sobre os Hoosiers, aqui segue uma prévia completa sobre eles.

Cody, irmão de Tyler Zeller. E do Luke

Cody Zeller: pivô extremamente veloz de Indiana, lutando pelo título

Não se deve esquecer também do imortal Kansas Jayhawks, de Bill Self, não importando o quão forte a classe anterior foi, se as expectativas para o time  deste ano eram menores, ou se alguém sequer está prestando atenção. Kansas sempre ganhará sua conferência e chegará ao torneio como concorrente a ser levado a sério, e esse é o caso mais uma vez nesta temporada. O grupo que jogou a final do ano passado perdeu seu maior anotador em Tyshawn Taylor e o superatlético Thomas Robinson, mas – como é de regra em Kansas – não perdeu o sono, trocando facilmente suas peças. Liderados pela revelação Ben McLemore, ala que é projetado como top 5 no próximo draft, venceu 29 de seus 34 jogos a caminho da cabeça de chave no lado Sul da tabela.

O Duke Blue Devils, de Mike Kzryzweski, técnico da seleção americana nas últimas duas Olimpíadas, não será cabeça de chave, mas é visto por muitos como o time que mais impressionou quando completo. Devido a lesões do ala-pivô Ryan Kelly e do atirador Seth Curry, Duke tropeçou algumas vezes durante a temporada, mas, quando contaram com força máxima, os Blue Devils perderam apenas para o rival Maryland no torneio da conferência. Um ponto contra é que o time de Kzryzewski é um tanto quanto dependente do tiro de três pontos e pode ser derrubado por qualquer um naquele dia em que nada está caindo de longa distância, como aconteceu no ano passado quando Lehigh mandou os Blue Devils pra casa.

Outros times que merecem atenção: o Saint Louis Billikens é um time muito físico que tem jogado com motivação extra; o técnico do time na temporada passada faleceu pouco antes do início do ano e esse grupo tem jogado em sua honra. Tom Izzo sabe como levar seu Michigan State Spartans o mais longe possível. Bo Ryan e Wisconsin, com seu jeito monolítico, lento que só, procurando limitar o número de posses, bateram Indiana duas vezes esse ano. Porte atlético é que não falta ao New Mexico Lobos e o UNLV Running Rebels. VCU e Butler são programas conhecidos por fazerem as finais em anos recentes com técnicos progressivos. Trey Burke e Ottor Porter podem carregar Michigan e Georgetown nas costas. Florida é letal de fora de arco e protege seu garrafão extremamente bem. Muitos ainda esperam que Shabbaz Muhammed exploda com o UCLA Bruins pelo menos uma vez antes de seguir em frente para a NBA. E o Miami Hurricanes tem o time mais velho do basquete universitário, e nesse nível de competição, idade importa bastante; basta olhar os homens feitos que o Miami põe em quadra e o quão franzino Kyle Anderson do UCLA é, por exemplo.

Mas a melhor parte de “March Madness” é que tudo pode acontecer e todos os 68 times, não os favoritos ou os que chamam maior atenção, tem condições de pegar fogo e fazer história nessas próximas três semanas.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


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