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Arquivo : Irmãos Morris

Jukebox NBA 2015-16: Phoenix Suns, Superchunk e alta velocidade
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA já está quase na metade, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “The Question Is How Fast”, por Superchunk. (Nem clipe tem)

Superquem?

O Superchunk, banda indie dos anos 90 que nunca foi um hit em paradas de sucesso, mas teve seu culto de seguidores a partir de Chapel Hill, que já foi casa de Michael Jordan, James Worthy, Rasheed Wallace, Vince Carter e, claro, Tyler Hansbrough, justamente por acolher a prestigiada UNC (Universidade da Carolina do Norte). Mas é preciso dizer que os caras da banda não estavam nem aí para os estimados Tar Heels. Envolvidos com música, ativismo social e mais música, fundaram a Merge Records, que lançaria anos depois o Arcade Fire e divulgaria também bandas como Teenage Fanclub, Spoon, entre outras atrações mais alternativas.

Mas, como eles próprios diriam com naturalidade, que se dane a vocação da banda, no caso. O que vale é que o título dessa canção e sua pegada contam muito sobre o estado de desarranjo em que se encontra o Phoenix Suns a poucos dias do intervalo do All-Star. O quão rápido eles queriam voltar aos playoffs? O quão rápido o trem saiu dos trilhos? O quão rápido acabou o respeito por Jeff Hornacek? O quão rápido Earl Watson foi promovido? O quão rápido o time queria jogar, mesmo quando não tinha bons armadores em quadra para conduzir os negócios? O quão rápido Markieff Morris vai conseguir virar a chave e tentar mostrar serviço nas próximas semanas para se mandar do time? O quão rápido o gerente geral Ryan McDonough vai conseguir limpar essa bagunça toda? Essas são algumas das questões pendentes.

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O próprio McDonough admite: a equipe e seu trabalho viraram reféns do próprio sucesso inesperado da primeira campanha, em 2013-14, quando conseguiram 48 vitórias e, numa das conferências mais fortes da história, ficou fora dos playoffs. Em julho de 2014, a franquia estava se sentindo tão bem, que até mesmo tentou se intrometer na disputa por LeBron James, se aproveitando do fato de Eric Bledsoe ter o mesmo agente do superastro. Sonhar não custava nada. Mesmo com o óbvio não, sem problemas, eles tinham um futuro auspicioso pela frente. Ou talvez estivessem empolgados demais, se distanciando um pouco da realidade que os cercava.

Goran Dragic havia sido eleito para o grupo dos 15 melhores da liga. Eric Bledsoe brilhou ao seu lado, assumindo mais responsabilidades no ataque do que nos tempos de Clippers, mas sem ser exigido demais (até que o esloveno se lesionou). Markieff Morris progredia, enquanto Channing Frye bombardeava. Gerald Green jogou o melhor basquete de sua carreira. Todos felizes que só, empolgados com o ritmo de jogo alucinante de Jeff Hornacek, o segundo técnico mais votado naquela temporada, atrás de Pop.

Com Dragic, o Suns corria com velocidade e um propósito. Miragem?

Com Dragic, o Suns corria com velocidade e um propósito. Miragem?

Passou tudo como uma miragem no deserto do Arizona. Quando chegaram a fevereiro do ano passado, Dragic já havia pedido para ser trocado. Pressionado, o gerente geral se envolveu em uma sequência alucinante de negociações que pode muito bem ter custado o seu cargo, mandando embora três armadores de uma só vez, para ter o direito de pagar US$ 70 milhões a Brandon Knight, abrindo mão de escolhas de Draft preciosas, recebendo outras mais longínquas. Foram tantos telefonemas, trocas de mensagem, boatos, confirmados ou não, que demorou uns dois ou três dias para jogadores, técnicos e torcedores entenderem qual era o elenco que o Suns levaria até o final do campeonato.

De lá para cá, só desarranjo, descendo a ladeira.

Bledsoe, e uma nova cirurgia no joelho: a terceira no menisco

Bledsoe, e uma nova cirurgia no joelho: a terceira no menisco

O flerte com LaMarcus Aldridge acabou sendo o melhor momento do clube. Tudo para ver o San Antonio Spurs (mais uma vez!) estragar a festa. Até o final de novembro, a equipe se segurou com oito vitórias e nove derrotas (desde então, são 6 triunfos e 27 reveses, com 18,1%, pior até que o Lakers). Mas o vestiário já estava fraturado, prontinho para virar as costas para Hornacek, sem controle algum sob a situação. Antes disso, o técnico não havia conseguido trabalhar variações ofensivas para um time que dependida tanto da criatividade de Dragic na transição, para abrir a quadra para os chutadores e cortes dos pivôs em meia quadra. O plano ainda era correr o mais rápido possível: o Suns ainda é o quarto que mais corre no campeonato,  mesmo sem as peças necessárias, com Eric Bledsoe precisando de mais uma cirurgia no joelho e Knight se atrapalhando com a bola antes de ser afastado por lesão.

Faltou flexibilidade a Hornacek, mas também faltou jogador, por azar ou não. Para variar, sobrou para o técnico. Agora cabe a Earl Watson assumir essa, instruído a cobrar mais dos atletas, procurar algum sentido de união no clube e, ao mesmo tempo, desenvolver os mais jovens – excluindo desde já o ala TJ Warren, fora da temporada devido a maaais uma lesão grave no elenco. Boa sorte. “A primeira ordem para nós é construir confiança e um programa, e, não, apenas uma organização. Construir uma família. Temos de amar, temos de estimular, nutrir e ensinar”, disse. O quão rápido suas mensagens serão processadas?

A pedida? Eram os playoffs… Agora, bem, virou Ben Simmons (ou Brandon Ingram). Quando listei as músicas de pré-temporada, ao Suns estava endereçada uma pérola do U2 – “Stay (Far Away, So Close!)” –, para tratar justamente da pressão em cima de um time que parecia muito perto da briga pelos playoffs, mas sem garantia alguma, morrendo na praia nos últimos anos. Agora, quase três anos depois de McDonough assumir o clube, o Suns enfim se encaminha para ter uma escolha alta no Draft. Se, em 2014, a ideia era se aproximar de Andrew Wiggins, Jabari Parker ou Joel Embiid, agora os alvos são os alas Ben Simmons, Brandon Ingram e Dragan Bender, de preferência. Se, há dois anos, a bem-sucedida-e-frustrada campanha de 48 vitórias impossibilitou uma aposta mais promissora do que TJ Warren, agora o clube caminha em direção ao topo da lista de recrutamento. De acordo com projeção do “Basketball Power Index”, do ESPN.com, o Suns teria 34,5% de chances de ficar entre os três primeiros. Uma probabilidade menor que a de Sixers, Lakers, Nets e Timberwolves.

Ben Simmons: o prospecto da vez, dinâmico, mas sem chute

Ben Simmons: o prospecto da vez, dinâmico, mas sem chute

A gestão: McDonough chegou ao Arizona com a reputação de ser dos melhores scouts, avaliadores de talentos da liga, alguém da confiança de Danny Ainge, protagonistas em diversas boas escolhas do Celtics nos últimos anos. Ao Phoenix, levou Alex Len (quinta escolha em 2013), Archie Goodwin ( Warren (14º em 2014), Tyler Ennis (18º em 2014), Bogdan Bogdanovic (27º em 2014) e Devin Booker (13º em 2015).

É uma sólida coleção de jovens jogadores, embora uma ou outra escolha pode ser questionada – como é o caso da grande maioria das escolhas, na verdade. Nerlens Noel, CJ McCollum, Kentavious Caldwell-Pope, Giannis Antetokounmpo, Dennis Schröder e Rudy Gobert, todos hoje mais produtivos, estavam disponíveis para o lugar Len. Mas é inegável que o pivô ucraniano ainda tem muito potencial para se explorar. Ennis foi selecionado com o intuito de se encurralar o Toronto Raptors e acabou sendo uma furada – embora seja muito jovem ainda para se considerar um fiasco em Milwaukee. A ideia por trás de Bogdan-Bogdan era assegurar os direitos sobre um jovem europeu que não fosse ocupar espaço no elenco e teto salarial do clube por um tempo. Olhando em retrospectiva, sob as mesmas condições, o extraordinário pivô Nikola Jokic, seu compatriota, estava disponível. Até aí, outros 39 atletas foram selecionados antes do sérvio. E Bogdan-Bogdan segue progredindo sob a orientação de Zeljko Obradovic na Turquia. Sobre Devin Booker, ainda está muito cedo, mas os primeiros sinais mostram um talento imenso para aquele que é o jogador mais jovem em atividade na liga. Ironicamente, era venerado por Hornacek, com quem obviamente poderia aprender muito.

McDonough tem Watson como salvação?

McDonough tem Watson como salvação?

Agora… nos anos 60 e 70, talvez os gerentes gerais da liga só se preocupassem, mesmo, com o que se passava em quadra. A NBA de hoje é muito mais complexa que isso. Entre tantas outras nuanças, o jovem dirigente também se sai bem ao administrar a folha salarial do time, para a aquisição de novas peças, se permitindo a chance de flertar com grandes contratações como a de LaMarcus Aldridge (que passou perto…). Mais um ponto para ele.

Ao lidar com jovens e velhos astros, porém, as complicações vão além. Tem mais, muito mais. E aí David Blatt pode falar uma coisa ou outra a respeito. Pesa muito o modo como você se relaciona com o elenco, a comissão técnica e todos os adendos dessa turma. E esse ponto não parece ser um dos mais fortes de McDonough Entre tantos atletas negociados por ele, há um consenso: eles desembarcam no aeroporto soltando cobras e lagartos sobre a organização e a diretoria. Dizem que não são sinceros. Que quase não há comunicação e ninguém sabe ao certo o que se pensa sobre eles. Mais: as diversas trocas executadas nos últimos dois campeonatos quase sempre ignoraram a química do vestiário. Muitas peças se duplicaram e criaram confusão.

Em tese, por exemplo, fazia todo o sentido contratar Isaiah Thomas como terceiro armador numa rotação que usaria dois desta posição o tempo todo. Seriam 32 minutos para cada? Razoável, não? Claro que sim. Mas “claro que não”, ao mesmo tempo. Goran Dragic estava prestes a se tornar agente livre. Eric Bledsoe queria muito mais, depois de tanto tempo como reserva de Chris Paul. O mesmo vale para Thomas, que queria mais atenção vindo de Sacramento. Isso para não falar no rolo todo dos irmãos Morris: assinar um pacote em conjunto para os gêmeos foi algo inédito e que pareceu bonitinho na época e que se tornou uma armadilha. Os dois, segundo consta, aprontaram uma barbaridade na temporada 2014-15, no dia a dia do clube – isso para não falar na possibilidade de ambos serem presos. Markieff diz que o gerente geral o traiu ao mandar Marcus para Detroit. Agora, se defender a parceria era algo tão importante assim, talvez eles pudessem ter sido mais profissionais, não? Mais tranquilos? O ala-pivô não quis saber. Virou um encosto para o time, sem dar ouvidos a Chandler. Todos esses são sentimentos difíceis de se administrar.

Em meio a tanta incerteza, insegurança, sobrou para Hornacek. O curioso é que, mesmo no processo de sucessão do treinador, mais um processo bizarro foi conduzido. Em vez de nomear Watson prontamente – que era o movimento esperado por nove a cada dez observadores da franquia –, decidiram fazer entrevistas com os demais assistentes, fazendo dos únicos técnicos remanescentes concorrentes entre si. Se buscavam união, não parecia.

Porém, em sua coletiva para explicar a troca de técnico, o gerente geral também se mostrou fragilizado. Ele sabe que, se houver uma próxima queda, muito provavelmente sua gaveta será esvaziada. O que não seria de todo justo, aliás. Jogar toda a culpa em seu escritório seria tolice.

Cedo ou tarde, Robert Sarver, o proprietário do clube odiado pela torcida, daqueles que mete a mão na massa e interfere demais, vai ter de responder publicamente por tantos tropeços.

Olho nele: Devin Booker.

No período pré-Draft, o jovem ala era visto como o melhor arremessador em potencial daquela turma toda, mas não mais do que isso. Sim, o tiro de longa distância é uma habilidade altamente requisitada no mercado da NBA hoje e já explicaria uma escolha alta. Muitos o questionavam como um talento de ponta. Com apenas meia temporada como profissional, o garoto mostra que tem muito para onde crescer. A cada jogo, parece colocar em prática uma surpresinha, especialmente na criação de jogadas, aprendendo rapidamente como guiar um pick-and-roll, batendo para a cesta, indicando que pode se tornar uma arma completa. Em janeiro, com tempo de quadra generoso (33,6 minutos), respondeu com 17,3 pontos, 3,2 rebotes e 2,6 assistências, convertendo 35,2% nos chutes de fora. Aproveitamento fraco para um especialista, certo? Só leve em conta de que ele está trabalhando sem nenhum armador ao seu lado e também ficando mais visado – com o time completo, passava dos 50%. Booker é a única nota positiva do time em um campeonato caótico.

earl-watson-card-sonics-rookieUm card do passado: Earl Watson. Um dado um tanto assustador: Watson começou sua carreira já neste século, em 2001-2002, draftado pelo Seattle SuperSonics, via UCLA, para ser reserva de um veterano Gary Payton. Aquela seria a sétima temporada de Kevin Garnett e a sexta de Kobe Bryant. Paul Pierce, Jason Terry, Vince Carter, Dirk Nowitzki, Tim Duncan também tinham boa rodagem. E aqui estamos: 15 anos depois, aos 36 (dois mais velho que Tyronn Lue), o ex-armador se torna o técnico mais jovem da liga. Muito cedo?

Desde os últimos jogos pelo Utah Jazz e o Portland Trail Blazers, entre 2013 e 2014, havia a expectativa em torno de Watson de que não demoraria muito para ele virar um treinador. Quando decidiu se aposentar aos 35, certamente ainda seria capaz de conseguir um contrato de salário mínimo para ajudar um time mais jovem ou compor um elenco de veteranos, atuando praticamente como um mediador entre os técnicos e os atletas. Basicamente, será esta a sua missão agora em Phoenix, mas com mais responsabilidades e o distanciamento inevitável e necessário que seu novo cargo pede. Fora o lado de relações institucionais, restam dúvidas sobre sua bagagem tática para guiar um time de NBA.

Para constar, Watson tem ascendência mexicana por parte de mãe, uma característica que, no Arizona, pode fazer dele alguém de apelo popular. Ele terá meia temporada, contudo, para mostrar do que é capaz.


Phoenix Suns: ser bom já não é o bastante
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

De fácil para o Suns no Oeste, só mesmo o Lakers. Afe

De fácil para o Suns no Oeste, só mesmo o Lakers. Afe

O Phoenix Suns 2013-2014 foi uma das histórias mais empolgantes da  NBA. Um time que 99,9% da liga projetava para disputar as primeiras posições do Draft acabou se colocando na briga pelos playoffs. No final, a rapaziada de Jeff Hornacek ficou fora. O que nos leva ao outro lado dessa história, bastante difícil de se assimilar: num Oeste selvagem que só, ser um bom time já não basta mais. Você tem de ser excelente, e esse é o desafio da franquia do Vale do Sol para uma nova jornada.

Quando o Suns conseguiu 48 vitórias e, ainda assim, não conseguiu entrar nos mata-matas, esse acabou virando o dado oficial para mostrar como sua conferência é inóspita. Pensem assim: se essa equipe estivesse no Leste, não só teria se garantido com tranquilidade na fase decisiva, como ainda teria mando de quadra ao lado de Pacers, Heat e Raptors. O Suns virou o pôster do desequilíbrio que há entre o lado do Atlântico e do o Pacífico neste momento.

Os gêmeos Morris: química e uma negociação de contrato singular

Os gêmeos Morris: química e uma negociação de contrato singular

Se o desfecho de dois jogos apertados tivesse resultado favorável a eles, esses caras teriam passado. Neste Oeste, porém, não dá para falar de “se”, de hipóteses. O nível de exigência é altíssimo, e os times têm de executar noite após noite. E noite após noite, mesmo, considerando a ascensão de DeMarcus Cousins e Anthony Davis para transformar Sacramento e New Orleans em escalas também indesejáveis na estrada. Hoje, só sobraram Timberwolves (mas só por causa das diversas lesões)e, gasp!, Lakers como oponentes que não despertem tanta preocupação assim. Até mesmo a jovem equipe de Utah exige respeito, até porque jogar em Salt Lake City nunca foi fácil.

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Para Phoenix, resta saber de onde tirar forças para elevar seu padrão de jogo e atingir a excelência. Um fator óbvio já pesa contra eles: ninguém vai mais ser pego de surpresa pela correria promovida por Hornacek. Toda a liga já teve uma temporada para se acostumar com seu sistema que põe dois armadores em quadra ao mesmo tempo, incentiva a definição individual de jogadas e enfatiza o combo da moda: infiltrações/tiros de três pontos.

Entre os reforços, se for julgar apenas por sua produção numérica, o baixinho Isaiah Thomas foi uma pechincha. Um dos jogadores mais eficientes da temporada passada fechou por menos de US$ 8 milhões anuais? Isso só se explica pela baixa estatura do armador, mesmo. Agora ficou aquela pergunta para todo mundo: e o clube realmente precisava dele?

Está certo que a negociação de Eric Bledsoe se arrastava de modo perigoso. Que Goran Dragic vai virar agente livre ao final da temporada. Então poderia ser um bom plano de precaução?

Acontece que, depois de tantos blefes e cartadas de ambos os lados, a diretoria comandada por Lon Babby e o matador gerente geral Ryan McDonough cedeu em praticamente tudo na hora h para renovar com Bledsoe. Thomas ficaria no banco, uma situação sobre a qual sempre reclamou em Sacramento. Haveria, então, uma disputa intensa por minutos, e Hornacek teria de controlar bem as coisas.

Há uma sensação de desconforto geral para aqueles que acompanham o time mais de perto – Dragic, por exemplo, não lembra em nada o jogador que foi eleito para o terceiro melhor time da liga. Thomas segue extremamente produtivo – é o jogador mais eficiente da equipe e aparece novamente no top 15 da liga. Vem fazendo uma dupla explosiva com Gerald Green e já foram vários os casos em que os dois terminaram a partida jogando, enquanto Bledsoe e Dragic, os xodós do ano passado, só assistiam.

Goran Dragic: sinais de infelicidade? Ou só cansaço mesmo?

Goran Dragic: sinais de infelicidade? Ou só cansaço mesmo?

Ah, mas que jogue quem estiver melhor, não? É o que Hornacek vem dizendo. Mas todo mundo sabe que um vestiário não funciona de modo tão simples. E que o basquete não se explica só por números. Thomas é o atleta que mais dá assistências no time, por exemplo, mas isso se explica também pelo fato de que ele em quadra, a bola tem um dono apenas.

A temporada é longa, lesões vão acontecer eventualmente, e o técnico e diretoria vão ter de realmente monitorar o desenrolar dessa história. Qualquer fragmentação que atrapalhe a incrível química que a equipe desenvolveu na última campanha seria mortal. Afinal, como as 48 vitórias vão sempre lembrar, com o time inteiro já era muito difícil.

O time: o Phoenix Suns é um time que joga duro, corre demais e exige preparo físico de seu adversário. Tudo começa com o ataque constante de Bledsoe, Dragic e Thomas. Esses caras são extremamente velozes com a bola e vão, sempre que possível, agredir as defesas em transição em busca de cestas fáceis. Atrás deles vêm os alas, abrindo para o chute de três pontos. Muitos arremessos de fora, sim.

Thomas: jogando muito, mas com um problema

Thomas: jogando muito, mas com um problema

Em situação de meia quadra, porém, Hornacek ainda insiste muito em jogadas individuais. O Suns progrediu um pouco nesse sentido: depois de terminar a temporada passada em penúltimo em média de assistências por posse de bola, acima apenas do Sacramento de Thomas, hoje é o 20º. De times de ponta, abaixo deles só aparecem Raptors e Rockets, o que não é uma coincidência. São dois times que regem muitos de seus princípios ofensivos com base em planilhas estatísticas, procurando os arremessos mais eficientes em quadra. O clube do Arizona segue o mesmo princípio. É um modelo, ok. E os três seguem entre os dez melhores ataques. Aqui no meu canto, porém, ainda prefiro um time que passe mais a bola, que peça mais movimentação, como Steve Kerr está tentando com o Golden State.

O que o Suns tem de imprevisível é o cestinha da vez. Veja a pontuação em média de seu elenco: são cinco jogadores entre 14,1 pontos e 15,5, algo bem raro. O oponente nunca sabe quem vai comandar o ataque, quem vai estar com a mão quente e isso requer ajustes para o decorrer da partida. A segunda unidade, com Thomas e Gerald Green (insano-para-o-bem-e-para-o-mal), virou um terror.

Gerald Green e suas insanidades

Gerald Green e suas insanidades

Na defesa, o time vai melhor do que a fama sugere. PJ Tucker é um dos marcadores mais chatos e físicos no perímetro, Miles Plumlee protege bem o garrafão ao lado de Markieff Morris – algo que Alex Len também deve fazer –, enquanto Bledsoe e Thomas põem pressão nas linhas de passe.

A pedida: voltar aos playoffs pela primeira vez desde 2010, quando Nash e Amar’e ainda estavam em plena forma e Steve Kerr era o gerente geral. Desde 1975, a franquia nunca havia ficado fora da fase decisiva por quatro anos seguidos.

Olho nele: Alex Len. O jovem pivô, de 21 anos, mal conseguiu ficar em pé em seu primeiro ano como profissional, tendo passado por duas cirurgias nos tornozelos – uma delas, no esquerdo, antes mesmo do Draft e outra, no direito, na pré-temporada. Isso, claro, atrasou o desenvolvimento do ucraniano, que foi limitado a apenas 42 jogos e 8,6 minutos. Para a segunda temporada, a torcida se assustou quando ele sofreu duas fraturas no dedinho da mão direita – uma na liga de verão de Las Vegas e outra no training camp. Dessa vez, porém, não era tão grave, e o garoto foi liberado para acompanhar o time desde o início da campanha. Como reserva de Miles Plumlee, vem tendo seus momentos de brilho que sugerem que pode ganhar mais e mais minutos e até mesmo uma promoção. Fica bem claro o apelo que Len despertava no ano passado: estamos falando de um cara gigante, bastante espichado, mesmo, e com muita mobilidade. Um potencial incrível a ser explorado e que pode ser um diferencial para o Suns em sua batalha. Desde que ele escape da enfermaria.

Alex Len é grande, gente

Alex Len é grande, gente

Abre o jogo: “A vontade de vencer e a intensidade do Zoran se destacam toda vez que ele entra em quadra. Ele tem sido um jogador produtivo na Euroliga, na Liga ACB e em competições Fiba. Ele vai bem defensivamente e em transição, e acho que nossos torcedores vão reconhecer rapidamente sua paixão pelo jogo”, Ryan McDonough, explicando a contratação do caçula esloveno. Obviamente a transação não teve nada a ver com uma tentativa de agrado a Goran, que vai muito provavelmente virar um agente livre ao final da temporada… A negociação por Zoran acabou se estendendo bastante e ele perdeu parte do training camp do time. Até o momento ele só fez uma partida pelo calendário oficial, ganhando dois minutos numa derrota para o Clippers.

Você não perguntou, mas… a renovação de contrato dos gêmeos Morris foi das coisas mais engraçadas e curiosas da pré-temporada. Em vez de cada um negociar seu contrato, Markieff e Marcus trataram de valores sempre lado a lado, com a assessoria do superagente Leon Rose. No final, a diretoria ofereceu um total de US$ 52 milhões para eles, por quatro anos. A divisão? Eles que se acertassem. Markieff ficou com 32 (média de US$ 8 milhões) e Marcus, com 20 (média de US$ 5 mi). Não tem confusão nenhuma, aliás, já que os irmãos garantem operar a mesma conta bancária. “Eles queriam resolver isso e continuar juntos. E sabiam que, se entrassem no mercado, dificilmente conseguiriam. Eles são muito próximos, então foi melhor negociar a quantia total e depois deixar que eles dividissem. Eles queriam desesperadamente ficar juntos. E jogam melhor juntos também. Um motiva o outro, e tem sido divertido assistir ao amadurecimento deles”, disse o presidente do clube, Lon Babby. “Dissemos para eles que não importava”, assegura Markieff. “Se eles simplesmente pudessem colocar US$ 13 milhões por ano para os gêmeos Morris, já seria ótimo. Não precisava nem dizer nossos nomes. Somos jogadores de US$ 52 milhões.”

2581-87FrUm card do passado: Steve Nash. Na temporada 1996-97, o Phoenix também contou com três armadores de ponta em sua rotação: Jason Kidd, Kevin Johnson e o brilhante canadense. Todos eles de carreiras estelares. A diferença é que Nash, na ocasião, era apenas um calouro, vindo da modestíssima Universidade de Santa Clara, ainda sem condições de brigar para valer com tempo de quadra com os demais astros. Kidd havia acabado de chegar de Dallas depois de uma supertroca. Johnson, hoje prefeito de Sacramento, conseguiu se manter saudável por grande parte do campeonato. Os dois começavam o jogo em situação de dupla armação num time que acabou apelando de verdade ao small ball, com Rex Chapman, Wesley Person e Cedric Ceballos se revezando nas posições 3 e 4. Nash disputou 60 partidas em seu ano de novato, com média de 10,5 minutos, 2,3 pontos e 2,1 assistências, acertando já 41,8% de seus chutes de longa distância. Guiado por Danny Ainge, o Suns se recuperou durante o campeonato e conseguiu chegar aos playoffs como o 8º colocado. E aí vinha outra diferença: naquele ano, eles mais perderam (42) do que venceram (40), e ainda assim entraram nos mata-matas.


Semana final de trocas da NBA envolve Leandrinho e jogadores periféricos
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Giancarlo Giampietro

Na temporada passada, ainda estava tudo muito recente. As franquias sangraram um bocado durante o lo(uc)caute e ainda não haviam assimilado exatamente do que se tratavam as novas regras da liga, depois de longas e desgastantes discussões e as decorrentes e consideráveis mudanças na relação trabalhista com os jogadores e também na limitação da condução de transações entre as próprias franquias.

Ronnie Brewer x Dwyane Wade

Ronnie Brewer (e) foi um dos poucos jogadores contratados por times de ponta em um mercado mais restrito. Agora vai ter de combater Wade ao lado de Durant

Agora, a julgar por uma semana de trocas bem tímida, parece que ou os clubes enfim conseguiram fazer a lição de casa e se assustaram, ou ainda não entenderam bem quais são as regras que estão na mesa e tiraram o pé. De todo modo, o que predominou, mesmo, foi uma extrema precaução nas conversações entre os clubes. Prova mais clara desse cuidado todo foi a escassa quantidade de escolhas de Draft .

Geralmente, essas escolhas funcionam como fator decisivo para o fechamento de um negócio, como uma medida de convencimento: “Escuta, se você não adora tanto assim esse jogador aqui, eu te dou mais, e não se fala mais nisso”. Hoje, elas viraram commodities muito valiosas, devido ao baixo salários que os calouros recebem em seus contratos – ou, pelo menos, baixos quando comparados com a produção em quadra que oferecem.

De todas as trocas acertadas nesta temporada, apenas o Memphis Grizzlies cedeu um pick, para convencer o Cleveland Cavaliers a receber um punhado de reservas, livrando-se assim de alguns salários indesejados. E mais nada. O mesmo Grizzlies que depois despachou Rudy Gay algumas semanas atrás na movimentação de maior destaque.

Relembremos, então, o que aconteceu nesta semana, com alguns pitacos sobre as trocas mais significantes:

Boston Celtics recebe Jordan Crawford, Washington Wizards recebe Leandrinho e Jason Collins.

Jordan Crawford x Jason Terry x Leandrinho?

Crawford assume o papel de Leandrinho em Boston. Jason Terry vai gostar?

– O que o Celtics ganha: um reforço pontual para Doc Rivers no perímetro, ocupando a vaga que era do brasileiro. Crawford é um dos atletas que consegue criar jogadas por conta própria contra qualquer marcador, com muita habilidade no drible e um destemor que muitas vezes pode lhe colocar em situações embaraçosas (pedradas e airballs, leia-se). Pode ser um fominha exagerado e não marca muito bem. Fica a expectativa para ver como vai se comportar ao lado de veteranos como Garnett e Pierce e como responde aos comandos de Doc Rivers. Pode ser uma boa pedida ou dor-de-cabeça.

– O que o Wizards ganha: adição por subtração, saca? Mesmo que Leandrinho não possa jogar mais nesta temporada, o clube ao menos se livrou de Crawford, que estava chiando demais na capital norte-americana desde que o novato Brad Beal tomou conta de sua posição e John Wall retornou de lesão. Jason Collins, pelo contrário, é um veterano bom-moço, que não apontar o dedo para ninguém. E quanto a Leandrinho? Quem se lembra da declaração de Danny Ainge de que gostaria de renovar com o brasileiro? Não durou muito. Negócios são negócios.

Milwaukee Bucks recebe JJ Redick, Gustavo Ayón e Ish Smith. Orlando Magic recebe Tobias Harris, Doron Lamb e Beno Udrih.

JJ Redick

JJ Redick deixa o Bucks mais forte para os playoffs

– O que o Bucks ganha: O gerente geral John Hammond prova que leva sua temporada a sério – acredite, nem todos os cartolas avaliam a situação desta maneira – e tenta desafiar os cabeças-de-chave nos playoffs do Leste, fortalecendo, e muito, sua rotação de perímetro com  Redick, um jogador sobre o qual já foi publicado um manifesto na encarnação passada do Vinte Um. Para os preguiçosos de fim de semana, resumimos: o ala é um dos caras mais eficientes da liga e também dos mais conscientes. Vamos falar mais a respeito em breve. Ayón é outro jogador bastante inteligente, indicado por algum sabichão como um possível reforço barato neste ano, mas que tem um problema pela frente: chega a um clube com rotação completamente congestionada no garrafão. Ish Smith? Se Jim Boylan precisar usar o baixinho em jogos decisivos neste ano, seria um péssimo sinal para suas pretensões.

– O que o Magic ganha: Tobias Harris e Doron Lamb foram muito pouco aproveitados em Milwaukee, mas são bem avaliados pelos scouts da liga. Harris está em sua segunda temporada na liga, mas tem apenas 20 anos e é conhecido por sua força física e firme presença próximo da cesta.  Lamb foi campeão universitário por Kentucky. Embora não seja o jogador mais atlético, tem fundamentos sólidos  no ataque e um belo arremesso de longa distância. São mais dois prospectos para Jacque Vaughn trabalhar em um elenco que carece de jovens talentos. Antes de retornar ao mercado de agentes livres, Beno Udrih pode quebrar um galho no caso de a lesão de Jameer Nelson ser grave.

(Paralelamente, o Orlando Magic mandou o ala-pivô Josh McRoberts para o Charlotte Bobcats, em troca de Hakim Warrick, que deve ser dispensado. Provavelmente, então, Michael Jordan concordou em dar alguma graninha para a franquia da flórida, ou alguma escolha de segunda rodada. Agora: o que McRoberts vai fazer em Charlotte também fica no ar. É um jogador esforçado, que gosta de dar pancadas, tem boa impulsão e agilidade, mas não acrescenta muita coisa para um time que já tem bons operários em seu elenco, mas precisa desesperadamente de um astro).

Oklahoma City Thunder recebe Ronnie Brewer, New York Knicks ganha uma escolha de segunda rodada.
O que o Thunder ganha: Brewer foi mais um reforço bom e barato apontado aqui a mudar de ares. Valeu, Sam Presti, amigo de fé, meu irmão camarada. 🙂 O ala começou a bela temporada do Knicks como titular, mas foi afastado bruscamente da rotação por Mike Woodson, num movimento muito difícil de se entender. Ótimo defensor, experiente e atlético, pode ser útil por 10 a 15 minutos em média nos playoffs, ainda mais se o Thunder cruzar com o Miami Heat novamente na final – em seus tempo de Bulls, sempre fez um bom rabalho contra Wade.

– O que o Knicks ganha: alívio na folha salarial, mas fútil para um time que não tem preocupação alguma em economizar, além de uma escolha de segunda rodada no Draft, que deve ser insiginificante, entre os últimos lugares.

(Para abrir espaço a Brewer, o Thunder cedeu o armador reserva Eric Maynor para o Portland Trail Blazers, também em troca de um pick de segunda ronda. Maynor perdeu espaço para Reggie Jackson na reserva de Westbrook e ainda se recuper de uma cirurgia no joelho. De qualquer forma, o banco do Blazers é tão ruim que ele deve chegar ao Oregon com status de salvador, em seu último ano de contrato. Isto é: não representa impacto para as finanças do time.)

Houston Rockets recebe Thomas Robinson, Francisco Garcia e Tyler Honeycutt, Sacramento Kings recebe Patrick Patterson, Cole Aldrich e Toney Douglas.

Meu nome é Morris

Marcus Morris e Markieff Morris. Ou Markieff e Marcus Morris?

– O que o Rockets ganha: o quinto selecionado no último Draft em mais um ataque sorrateiro de Daryl Morey, o padrinho dos nerds. Com dezenas de jornalistas cobrindo a liga minuto a minuto, contectados ao Twitter, com celulares nas mãos, esperando o assobio do passarinho mais próximo, o gerente geral conseguiu fechar um negócio que ninguém havia especulado. Coisa que nem a CIA consegue hoje mais. Robinson não teve um bom início de carreira na NBA, mas estava cedo, mas muito cedo mesmo para se abrir mão. Tem coisas que só Sacramento Kings faz por você, mesmo. E mais: Garcia está em seu último ano de contrato, dando ao Rockets a chance de cortar mais um punhado de dólares de sua folha de pagamento ao final do campeonato. Para ir, então, em direção a Dwight Howard ou Josh Smith. Segura. Além disso, Garcia é um bom arremessador de três pontos, um sujeito que não complica as coisas no vestiário e pode entrar na rotação de Kevin McHale ao lado de Carlos Delfino.

O que o Kings ganha: grana. O time poupa US$ 4 milhões em salários neste ano com um só objetivo: fazer do time mais barato e mais atraente para um novo comprador. Por mais que publicamente a diretoria vá alegar que Patterson é amigo de DeMarcus Cousins (jogaram juntos em Kentucky) e que ele se encaixa melhor com seu talentoso e irritadiço pivô, abrindo a quadra com seus disparos de longa distância, não há explicação para trocar um pick 5 de Draft além desses tempos miseráveis por que passa a franquia. Douglas e Aldrich não devem ficar perdidos nessa situação por muito tempo.

(O Rockets também prestou um serviço público ao encaminhar o ala Marcus Morris para o Phoenix Suns, em troca de uma escolha de segunda rodada. Marcus agora volta a atuar ao lado de seu irmão gêmeo, Markieff. O problema é que os dois jogam hoje na mesma posição. Xi. Ah, e o Suns ainda acertou outro negócio menor, ao enviar o armador Sebastian Telfair para Toronto, em troca do pivô iraniano Hamed Haddadi e de – adivinha o quê??? – outra escolha de segunda rodada do Draft. Tcha-ram.)


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