Vinte Um

Arquivo : Dominique Wilkins

Jukebox NBA 2015-16: o carma chega para abalar o Clippers
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-clippers-instant-karma

Em frente: já estamos nos playoffs e o blog vai tentando fazer uma ficha sobre as 30 franquias da liga, apelando ainda a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Instant Karma (We All Shine On)”, por John Lennon

Então. O último post, sobre as consequências imediatas da lesão de Stephen Curry, terminou com a lembrança de que Doc Rivers, no ano passado, para provocar e mexer no vespeiro, afirmou que o título do Golden State Warriors poderia se explicar muito pelo fator sorte. De não terem sofrido nenhuma baixa mais séria durante a campanha e por ver seus principais oponentes caindo mais cedo. Com a expectativa de reencontrar os atuais campeões pela semifinal do Oeste, esse comentário ganhava um grifo irônico e perigoso, já que poderiam enfrentar um adversário, agora, ferido e também com irritado, querendo provar algo. Ainda assim, no contexto das 21h (do horário de Brasília), o Clippers não teria mais do que reclamar. Era aquela coisa: calar-se e jogar.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Bom… Esse contexto não durou nem cinco horas. Pelo Jogo 4 da série contra o Portland Trail Blazers, Chris Paul sofreu uma fratura na mão direita, que muito provavelmente vai afastá-lo do restante dos playoffs. Aí a observação impertinente de Rivers sobre o Warriors se tornou, digamos, cármica. Não se deve mexer jamais com essas coisas no esporte. Daí entra nosso amigo John, sempre mordaz, desconfiado e, também, sagaz. “O carma instantâneo, imediato vai vai te pegar. Vai te bater bem na cara. É melhor você ficar alerta, querido. Junte-se à raça humana”, escreve em um verso. Depois, você ainda vai encontrar estas linhas: “O carma instantâneo vai te pegar. Vai te tirar de derrubar. É melhor reconhecer seus irmãos. Todos que você encontrar.”

Ouch.

Por anos e anos, o Clippers cultivou duas imagens em Los Angeles. A primeira, otimista, de time do futuro na metrópole californiana. Uma hora chegaria a vez deles, preparadíssimos para desbancar o Lakers. A segunda, alvo de chacotas, veio como consequência dos constantes tropeços que o fortíssimo núcleo de Chris Paul, Blake Griffin, JJ Redick e DeAndre Jordan, gerido por Doc Rivers, não conseguiu evitar. Perder faz parte do jogo. Mas a choradeira insistente desses caras? Virou folclore. Agora, infelizmente, eles têm todos os motivos para resmungarem demais, ainda que, em seu protesto, só possam somente olhar para o céu, em vez de reclamar contra um trio de arbitragem qualquer, contra a liga etc.

Paul se lesionou em 'dividida' com Gerald Henderson

Paul se lesionou em ‘dividida’ com Gerald Henderson

Nesta campanha para tentar se afirmar como sério candidato ao título, que nunca foi tão mais forte como no ano passado, quando derrubaram o San Antonio Spurs num duelo épico, a equipe angelina até se habituou a jogar esporadicamente sem Chris Paul ou Blake Griffin. Mas nunca sem os dois ao mesmo tempo, por um longo período. É o que vai acontecer desta vez: no mesmo boletim médico que divulgou que o armador passou por uma cirurgia já nesta terça-feira, deixando-o afastado por tempo indeterminado, os assessores também informaram que o ala-pivô não jogará mais nesta temporada, devido à reincidência de sua lesão no quadril.

Isso que mata. Pela temporada 2011-12, Paul ficou fora de 22 partidas, e o time conseguiu segurar as pontas, curtindo as habilidades diversas de Griffin como criador, como uma arma ofensiva praticamente completa – só faltava o tiro exterior, mesmo. Nas últimas temporadas, isso foi raro. O armador poderia até estar com um estiramento de virilha aqui, ou uma outra lesão muscular ali, mas ele ao menos conseguia estar em quadra, pelas campanhas, hã, fracassadas pelos playoffs, de 2012 até agora.  No caso de Griffin, a onda de problemas físicos começou na temporada passada, quando perdeu 15 jogos. Na atual jornada, piorou: só pôde ir à quadra em 35 rodadas, abalado não só por uma distensão no quadril como, depois, pela fratura na mão que sofreu ao esmurrar um dos roupeiros do time. Coisa de TMZ e TV Fama. Para deixar claro, ele ficou muito sentido pelo ocorrido. Ok, ok.

Durante esta prolongada ausência, Doc Rivers viu seu time responder muito bem. Sem Griffin, fortaleceu sua defesa, que foi a quarta mais eficiente da liga desde o dia 26 de dezembro, sem Griffin. Do outro lado, manteve um ataque poderoso que se concentra nos pick-and-rolls entre Chris Paul e DeAndre Jordan e a ameaça do tiro exterior ao seu redor, sendo o oitavo sistema ofensivo mais eficiente no mesmo período. Uma encrenca para qualquer adversário, mesmo para os grandes favoritos. Jogaram tão bem que o retorno de seu ala-pivô estelar apresentava até alguns dilemas, de como integrá-lo, especialmente quando estava claro que ele não estava nem a 60% de seu potencial, números à parte. Faltava ritmo e força. Da pior forma possível, o técnico-presidente nem precisará mais se preocupar com isso. A dor de cabeça ficou muito maior.

Griffin também sofreu uma fratura em sua mão direita. Em janeiro, durante passagem por Toronto, quando, agrediu um amigo -- e roupeiro do time. Estava prestes a retornar de uma lesão no quadril. A mesma lesão que o tira dos playoffs agora. Ele voltou a jogar, mas não estava totalmente curado

Griffin também sofreu uma fratura em sua mão direita. Em janeiro, durante passagem por Toronto, quando, agrediu um amigo — e roupeiro do time. Estava prestes a retornar de uma lesão no quadril. A mesma lesão que o tira dos playoffs agora. Ele voltou a jogar, mas não estava totalmente curado

Sem a dupla, é difícil imaginar que alternativas Doc pode encontrar para montar um conjunto ainda competitivo para o nível que os playoffs exigem. Jeff Green, Paul Pierce e Wesley Johnson, por comitê, vão ter de assimilar o volume ofensivo dedicado a Griffin. Acontece que é difícil encontrar jogadores mais irregulares que Green e Johnson, duas escolhas top 10 de Draft que frustraram vários treinadores. Já Pierce está nas últimas: só participou de 27 minutos da série contra o Blazers, de 192 possíveis. A não ser que Rivers esteja errando feio em sua avaliação, é sinal de que não se pode esperar mais 20,0 pontos por jogo do ídolo do Celtics em um longo mata-mata. Na melhor das hipóteses, o Clippers poderia ao menos contar com o melhor de cada um em noites distintas.

Ainda assim, seria o bastante? A vida de qualquer finalizador fica mais fácil quando a bola está nas mãos de Chris Paul, um dos melhores armadores da história. Agora, a mudança de estilo não poderia ser mais radical: o filhão Austin Rivers assume a condução do ataque, de cabeça baixa, pensando quase sempre na cesta. Figura nada querida em Portland, Jamal Crawford também vai ter de se mexer, ao sair de sexto homem de vida fácil para ponto de referência no ataque. Da parte desse chutador maluco, eleito pela terceira vez o melhor sexto homem da liga, também valeria um esforço para envolver seus companheiros, ainda mais com Austin ao seu lado. Pablo Prigioni viria do banco para tentar dar alguma firmeza ao time.

Para constar: JJ Redick também está lidando com um problema no calcanhar, algo bastante significativo para alguém que não pára de correr pelo ataque, em busca de uma boa oportunidade para subir para o arremesso. Se ele não conseguir se movimentar com rapidez de um lado para o outro de quadra, o espaçamento do ataque fica ainda mais comprometido.

Sobrou para eles. E o banco do Clippers fica ainda mais fraco, algo que era aparentemente impossível

Sobrou para eles. E o banco do Clippers fica ainda mais fraco, algo que era aparentemente impossível

O baque não se limita à tarefa de fazer cestas, claro. A forte defesa do Clippers conta com a presença mastodôntica de DeAndre ao centro do garrafão, mas começa pela pressão que CP3 ainda consegue colocar em cima da bola. Contra o Blazers de Damian Lillard e CJ McCollum, ele vinha sendo figura fundamental para limitá-los. Não que jogasse sozinho: contava com a ajuda de dobras acima da linha de três pontos para forçar que os cestinhas se livrassem da bola. De certa forma, vinha dando certo, com ambos pontuando menos em relação a suas médias pela temporada regular. Rivers vai ter a disciplina para continuar este abafa? Prigioni vai ter fôlego?

Imagine a lista de tarefas que Rivers e seu badalado estafe teriam de cuidar na primeira reunião que tiveram após serem informados de seus desfalques? Um jogo que provavelmente devem ter estudado com carinho foi a derrota apertada para OKC, sofrida no dia 31 de março, por apenas dois pontos, fora de casa. Naquela ocasião, o técnico poupou o trio Paul-Jordan-Redick, enquanto Griffin ainda não estava pronto para jogar. Austin Rivers e Crawford marcaram, cada um, 32 pontos, enquanto Jeff Green contribuiu com mais 19 saindo do banco. Foi um desempenho surpreendente e que só não rendeu uma grande vitória pelo fato de sua defesa ter tomado 119 pontos. Alguns dias depois, novamente preservando seus principais atletas, a equipe venceria o Utah Jazz por três pontos, na prorrogação, também como visitante. Crawford fez 30 pontos e Prigioni somou 13, com mais sete assistências. O quão realista seria esperar a reprodução de um desempenho desses pelos playoffs? Em busca de informações, Terry Stotts muito provavelmente também colocou scouts e assistentes para dissecar essas duas *fitas*.

Aí, galera, que o Trail Blazers, tendo igualado a série em casa, virou favorito para um confronto melhor-de-três a partir desta quarta-feira. Mesmo que tenha um elenco muito jovem. Mesmo que o Clippers ainda tenha o mando de quadra. Mas o momento agora é todo favorável a Portland, e caras como Damian Lillard e CJ McCollum, na real, curtem esse tipo de situação, de encarar qualquer vestígio de pressão. Para um time que não estava tão bem cotado assim no início do campeonato, uau. Uma baita história. Para uma franquia que já sofreu com lesões de Bill Walton, Sam Bowie e Greg Oden no decorrer de sua história, acabando com sonhos ambiciosos, não vão lamentar tanto assim os problemas do oponente. O carma deles já foi pago há tempos e com juros elevadíssimos.

PS: a música inicialmente planejada para o Clippers era “Wouldn’t It Be Nice?”, clássico dos Beach Boys, banda icônica da Califórnia, muito mais apropriada. A pergunta era básica: não seria legal que os antigos primos pobres de Los Angeles ficassem juntos e se dessem bem dessa vez? Até esta segunda-feira, estava mantida. Tivemos de mudar.

A pedida? Só um milagre, mesmo. Que Austin Rivers viva as melhores semanas de sua vida. Que DeAndre Jordan acerte 80% de seus lances livres. Que JJ Redick passe a pontuar não só com precisão nos arremessos e inteligência, mas com explosão física e dribles mortais.  Que Wesley Johnson ou Jeff Green possam fazer 20 pontos por jogo. Que Jamal Crawford tenha aproveitamento superior a 45% nos arremessos. Qualquer coisa nessa linha…

Doc fala como técnico ou presidente?

Doc fala como técnico ou presidente?

A gestão: sim, se o San Antonio perdesse Kawhi e LaMarcus, provavelmente diria adeus precocemente. Se Draymond Green se juntasse a Stephen Curry no banco, Golden State também diria que ficou para a próxima. Cleveland sem LeBron e Kyrie? O mesmo. OKC sem Durant e Wess? Vimos no ano passado: nem playoff dava. Então… Se o Clippers, completando sua quinta temporada de Chris Paul e Blake Griffin, não conseguir o título, dessa vez não haveria o que Doc Rivers pudesse ter feito no mercado para remediar a situação. O que não quer dizer que o trabalho do presidente não deva ser questionado.

Enquanto tiver Chris Paul e Blake Griffin, com DeAndre Jordan e JJ Redick dando suporte, a tendência é a de que os resultados em quadra desviem a atenção do que vem acontecendo no escritório. Vai chegar o momento em que as seguidas decisões (no mínimo)  questionáveis que tomou nos últimos anos cobrarão um preço. Não seria um exagero dizer que se trabalho de longo prazo beira o desastre. Ele já virou o pôster dos críticos que preferem a separação de Estado e Igreja, ou melhor, de dirigente e técnico. Qual o receio aqui?  Que o treinador esteja sempre muito mais preocupado com questões imediatistas. O futuro? Fica para depois, mesmo.

O último exemplo disso foi a troca por Jeff Green, em fevereiro. Você pode ser o maior fã deste ala. Até concedo isso. Mas não dá para justificar um negócio por Lance Stephenson e uma escolha de primeira rodada de Draft. Não só por Stephenson ser muito mais jogador (a despeito da insanidade latente) e ter se reencontrado em Memphis. Mas pelo fato de ter desperdiçado mais uma seleção de calouro, uma ferramenta muito valiosa para a montagem de elencos.

Sabe quem é este? Não? Sem problema: para ver CJ Wilcox com a camisa do Clippers, só em foto montada mesmo

Sabe quem é este? Não? Sem problema: para ver CJ Wilcox com a camisa do Clippers, só em foto montada mesmo

A piada aqui é que talvez o presidente Rivers nem se importe mais em trocar escolhas futuras. Afinal, o técnico Rivers não aprova nunca os jovens jogadores que recebe junho após junho, mesmo. Parece conversa de maluco? Os renegados discordam: o ala Reggie Bullock foi descartado rapidamente e teve bons momentos com Detroit neste ano;  CJ Wilcox é um chutador já de 25 anos que só joga pela D-League; Branden Dawson (cuja única manchete este ano foi um caso de polícia). Para um técnico renomado, que foi um armador condecorado, guiando diversos times rumo aos playoffs com os dois cargos, é surpreendente que, como diretor, tenha um aproveitamento pífio na hora do Draft.

A questão fica mais ampla quando vemos que, nem mesmo quando vai atrás de veteranos, Doc tem acertado — seja por problemas de avaliação do cartola ou do treinador. Spencer Hawes, Josh Smith, Glen Davis, Lance Stephenson, Jordan Formar, Chris Douglas-Roberts, Jared Dudley…  São vários os atletas que chegaram durante sua gestão e foram dispensados de modo apressado. Alguns deles passariam a render mais quase que imediatamente após trocas. É uma confusão que só, que fica mais grave quando notamos o estrangulamento de sua folha salarial.

Muitos de seus movimentos foram realizados com o intuito de livrar o clube de multas pesadas do chamado “hard cap”. Leia-se: livrar o clube das próprias armadilhas que ele mesmo arrumou. Como quando pagou mais uma escolha de primeira rodada de Draft ao Bucks para despachar o salário de US$ 4 milhões de Jared Dudley, um reserva de bom nível que durou apenas uma temporada em LA. Sua atuação foi fraca, é verdade, mas estava lesionado.

Enfim. Não dá nem para listar todas as bobagens feitas. O que deveria preocupar o torcedor do Clippers é que Doc pode muito bem decidir que chegou a hora de reformulação para o time, independentemente da azarada fratura sofrida por Chris Paul. Se for o caso, saberá por que caminho seguir?

Olho nele: Jamal Crawford

Sem CP3, sem Blake, o principal criador de jogadas de Clippers acaba sendo Jamal Crawford, mesmo, aos 36 anos, com seus crossovers indecifráveis no perímetro seguidos por arremessos-relâmpago. O problema: uma coisa é produzir contra as segundas unidades dos oponentes, tendo duas superestrelas ao seu lado. Agora, como referência, como vai ficar a vida do veterano? A gente sabe que coragem não falta. Arremessos também estarão mais do que disponíveis e, convenhamos, Crawford nunca viu um chute que ele achasse impossível de matar. Conforme citado acima, ele ainda pode ser explosivo na noite certa, ultrapassando a marca dos 30 pontos, com bolas heróicas que, sozinhas, lhes renderam o prêmio de melhor reserva do ano. Volume não é problema para ele. Duro é atingir essas marcas com um mínimo de eficiência. Sua média foid e 13,8 pontos e 41,8% nos arremessos em 29 minutos, com apenas 23,1% nos chutes de longa distância.

dominique-wilkins-trading-card-clippersUm card do passado: Dominique Wilkins. A atual versão do Los Angeles Clippers é certamente a mais promissora da franquia desde que ela adotou este nome. Numa história de muitas derrotas e derrapadas, todavia, o clube já teve seus momentos em que tudo parecia estar caminhando bem, que havia chegado a hora da virada. Voltando no tempo, temos o time de Elton Brand e Sam Cassell em meados da década passada. Um pouco antes, em 2002-03, a base formada por Andre Miller, Marko Jaric, Keyon Dooling, Corey Maggette, Quentin Richardson, Lamar Odom, Chris Wilcox e Michael Olowokandi prometia demais. Tá. Mas o time que mais empolgou Billy Cristal deve ser aquele do início dos anos 90, com Mark Jackson, Danny Manning, Ron Harper, Charles Smith, Ken Norman, entre outros. Sob o comando de Larry Brown, eles se classificaram para os playoffs tanto em 1992 como em 1993, o que era um estouro, já que não acontecia desde a época de Buffalo Braves, em 1976. Tá.

Em 1993, o time já contava com Dominique Wilkins como seu cestinha. O veterano de 34 anos havia chegado em troca por Manning. Nome por nome, parecia um tremendo negócio, né? Estavam recebendoum Hall da Fama, que iria anotar 29,1 pontos e 7,0 rebotes por sua nova equipe. Jogava bola o suficiente para ser convocado para a segunda seleção profissional norte-americana, que seria campeã em 1994. Mas aquele era o último ano de contrato de Wilkins. E você acha que ele renovaria com o Clippers?! Claro que não. Na temporada seguinte, assinou com o Boston Celtics. Manning também estava em vias de se tornar agente livre. Era mais jovem, de todo modo, uma estrela em ascensão, que havia sido selecionado pela franquia como a primeira escolha do Draft de 1988. Será que Manning renovaria em Los Angeles? Imagino que a chance era maior. De Atlanta, foi para Phoenix, onde faria parceria com Charles Barkley. Sua carreira nunca seria a mesma, porém, devido a diversas lesões no joelho. Manning era um ala-pivô versátil com muito talento. Mas Blake Griffin causou mais impacto em L.A. Se Doc achar que é a hora de trocá-lo, o retorno será mais duradouro?

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 (11) 99006-9654 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


Chegou a hora de aceitar o Atlanta Hawks como sério candidato
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Estão aí para ficar

Estão aí para ficar

Há alguns caminhos básicos para aceitar um time qualquer como favorito, ou forte candidato ao título. Cada vez mais se valoriza números e números, dentre os quais o saldo de pontos acumulado durante a campanha se destaca como um grande indicador para além da óbvia comparação entre vitórias e derrotas. O seguidor mais conservador pode se apegar a outros fatores como a quantidade de superestrelas em um elenco e o retrospecto, histórico recente dessa equipe nos mata-matas. Ainda assim, essa abordagem também tem uma base empírica, já que são raríssimos os casos de clubes que conquistaram a NBA sem contar com um craque transcendental em sua formação.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Tanto que o Detroit Pistons virou a menção obrigatória de exceção dessa regra, com os Wallace que não eram irmãos e a dupla entrosadíssima de Billups e Hamilton. Todos All-Stars, bem acima da média, que se entenderam muito bem e entraram para os livros históricos. Mas nenhum deles vai entrar no panteão. O Spurs de 2014 poderia até entrar nessa lista também, mas vai depender de como você avalia o fato de a equipe contar com Parker, Duncan e Ginóbili, que já não estavam no auge mais, mas cujo currículos causam, de qualquer forma, inveja em muita gente.

Deixemos os atuais campeões de lado, todavia. Ou melhor: nem tanto, já que, para falar sobre o Atlanta Hawks, não dá para ignorar o fator #SpursDoLeste, com um time armado sob os mesmos princípios saudáveis que Gregg Popovich consolidou em San Antonio. Em seu segundo ano de trabalho na Geórgia, Mike Budenholzer vai obtendo resultados incríveis. Nesta quarta, por exemplo, ele já se assegurou como o técnico da seleção do Leste no All-Star Game, com a melhor campanha da conferência, por ora inatingível. Seus atletas venceram 28 das últimas 30 partidas que disputaram, vindo de 14 vitórias seguidas, igualando o recorde da temporada 1993-94. Os falcões estão voando, mesmo, como nunca antes na história da franquia. Ainda assim, guiada por princípios históricos – resumidos na marcante frase de Jordan sobre crianças, homens e playoffs –, a crítica demorou a reconhecê-los como séria ameaça na liga americana. Pode incluir esta besta quadrada aqui nesse pacote. Pode, também, esquecer qualquer preconceito. O Atlanta veio para ficar.

Não quer dizer que o título é deles já, de modo antecipado. Que seja impossível de perder. Qualquer lesão de Al Horford, Jeff Teague, Kyle Korver e Paul Millsap já os deixariam em maus lençóis. O Washington segue jogando de igual para igual com a maioria dos grandes. Mesmo em espiral, Toronto não pode ser desrespeitado. Para não falar de Chicago e Cleveland, esses, sim, os conjuntos estelares, que vão chegar aos mata-matas, independentemente da histeria ao redor de ambos. Importante dizer que todos esses times já foram surrados pelo Hawks. De qualquer modo, muita coisa pode acontecer em 40 partidas, em três meses de temporada regular até a chegada aos mata-matas.

Se tivéssemos, no entanto, a chance de congelar o tempo e deslocar esse Hawks de hoje, 22 de janeiro de 2014, e descolá-lo para os primeiros dias de abril, teríamos no páreo um favorito, e tanto. Favorito e encantador, ainda que sem o sex appeal de um Golden State Warriors comandado por um técnico tão carismático e vitorioso e liderado em quadra por um talento precioso como o de Stephen Curry.

O irônico é que o gerente geral Danny Ferry, ainda afastado por uma gafe-ou-comentário racista, fez de tudo para contratar a chamada superestrela. Alguém da estirpe de Curry – ou do ala-pivô Bob Pettit, que guiou a equipe nos tempos de St. Louis ao título em 1958, desbancando Bill Russell, Red Auerbach e o Celtics. Foi atrás de Chris Paul e Dwight Howard, nativos da Geórgia, quis também se reunir com Carmelo e LeBron. Dikembe Mutombo, Joe Johnson e Isaiah Rider (risos) que nos desculpem, mas o clube não conta com ninguém desse porte desde as cravadas inigualáveis de Dominique Wilkins nos anos 80.

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Não rolou, claro. Fechou, então, com Millsap, Korver, DeMarre Carroll, Mike Scott, Pero Antic, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore. E não é que deu certo? Com um basquete eficiente, consistente, de movimentação de bola totalmente solidária e arremessadores perigosos para quebrar qualquer sistema defensivo, de Thibs a marcação por zona, a turma de Al Horford está arrebentando. Ênfase em solidariedade, por favor. É um conceito que pode ser banalizado se usado a cada crônica de jogo, a cada análise de uma equipe. Neste caso, contudo, não precisa se preocupar, pois o termo cabe ferfeitamente.

O Atlanta é o segundo time em assistências por jogo, atrás do Golden State. Mas acho que já aprendemos que se basear apenas em números absolutos não cola mais, né? Cada equipe joga num ritmo, produzindo mais ou menos números. O melhor, sempre, é saber o quão eficiente o conjunto se apresenta. Então que tal conferir o ranking de assistências por posse de bola e ver que, nessa medição, eles aparecem em primeiro? Lideram também a coluna de percentual de cestas de quadra que são assistidas – o Spurs, observem, está em terceiro. Esse padrão se mantém para seus chutes de três pontos: apenas 7,1% dos tiros de longa distância decorrem de jogadas individuais, em vez de um passe, contra 9,2% do Spurs. Istoé, Jamal Crawford, Nick Young e JR Smith não teriamm espaço por lá. Nas bolas de dois pontos sem assistências, o percentual sem assistências é maior (39,9%, e aqui entram as infiltrações de Jeff Teague e Dennis Schröder), mas ainda é o menor da liga.  Por fim, na média de assistências para cada turnover, estão em terceiro. Nas últimas sete vitórias, em seis ocasiões eles bateram a marca de 30 assistências. Vamos todos juntos, então, repetir: jo-go so-li-dá-rio. Pode soletrar também, se achar necessário.

A excelente visão de quadra e a predisposição para passar a bola resultam, obviamente, numa bola seleção de arremessos. A equipe é a terceira no aproveitamento efetivo de arremessos, a medição que dá um pouco mais de valor para os arremessos de três pontos, já que… segundo minhas contas, três é maior que dois. Sim, Budenholzer também é um adepto dos arremessos de três como peça integral de uma ofensiva, tendo o segundo melhor aproveitamento da liga nesse quesito (atrás apenas do Golden State). O sistema do ex-assistente do Coach Pop enfatiza o chute de fora, mas não chega a ser obcecado como o Houston Rockets, sendo o nono que mais arrisca, mas com oito tentativas a menos que os texanos). Por ter um excelente rendimento, no entanto, é o quarto time que mais depende da bola de longa distância para gerar pontos.

Parêntese obrigatório aqui para o Sr. Kyle Elliot Korver, nascido no dia 17 de março de 1981, natural de Lakewood, na Califórnia. O que ele está fazendo nesta temporada não existe. Quer dizer: existe, mas é inédito – nunca um atleta terminou a temporada regular com mais de 50% tanto nos arremessos de dois como de dois e 90% nos lances livres. Seus números, respectivamente: 51,8%, 53,5% e 92,2%. Ele lidera a liga no aproveitamento do perímetro pelo segundo campeonato seguido. Sua habilidade neste fundamento faz com que seus companheiros ataquem com 4 contra 4, já que ele não pode ficar livre de modo algum. Ele transformou um chute de três em bandeja, gente. E aí que foi engraçado ver o cara enterrar nesta quarta contra o Indiana Pacers, em transição. Foi sua primeira cravada desde desde 16 de novembro de 2012, contra o Kings! No meio do caminho, ele matou 484 chutes de fora em 198 jogos. Vejam abaixo e, logo depois, seu esmeraldino gráfico de arremessos:

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

Korver merece estar no All-Star. Mas este também é o caso de Teague, jogando seu melhor basquete, Millsap, que vai receber uma bolada no mercado de agentes livres, e Horford, o faz-tudo perfilado por Zach Lowe com a maestria de sempre e que só não tem o status de superestrela por jogar em Atlanta e pelas lesões peitorais bizarras. Dificilmente os técnicos vão encontrar espaço no banco da seleção do Leste para fazer justiça a todos eles.

Ao menos eles não dão a mínima para isso. Millsap ficou todo orgulhoso ao ser selecionado no ano passado, mas vai sobreviver se a façanha não se repetir. O mesmo vale para os outros. Afinal, numa unidade dessas, é muito complicado separar o sucesso de um e o do outro. “Sentimos que temos peças realmente boas que combinam bem, e entendemos que temos de jogar juntos para ter sucesso”, diz o atirador de elite.

Korver e seu arremesso perfeito

Korver e seu arremesso perfeito

Depois de longa consulta nos números, são poucos os pontos fracos a serem apontados para um raro caso de time que está entre os dez melhores no ranking de eficiência ofensiva e defensiva (Golden State, soberano, e Portland são os outros). O máximo que dá para falar é de uma fragilidade nos rebotes. Na tábua defensiva, ocupa apenas a 18ª posição na coleta de rebotes disponíveis, situação da qual Greg Monroe e Andre Drummond tiraram proveito na segunda-feira (juntos, somaram 12 rebotes ofensivos). Além disso, o Hawks é o 19º em contra-ataques: apenas 11,6% de seus pontos saem em transição, contra 18,6% do Warriors, e também o 18º em lances livres (17,1%). Esses pontos, porém, não preocupam tanto, devido a sua excelência na execução em meia quadra. Para os mata-matas, porém, podem fazer falta.

Ah, claro, se for para falar de números, o pior de todos é o de público, o sétimo pior da liga, com 16.327 espectadores em média – 2.500 a mais que o lanterna Timberwolves. O torcedor de Atlanta tem demorado para se interessar pela excelente fase. A despeito do incidente com Ferry, passar os dias sem prestigiar essa equipe é um pecado. Contra o Pistons, no feriado em homenagem a Martlin Luther King, a arena teve capacidade esgotada (19.108). Contra o modorrento time do Pacers, nesta quarta, só 15.045 foram ao ginásio. A baixa audiência só não impede que o valor da franquia tenha subido quase 100% no último ranking divulgado pela Forbes.

Vale mencionar também que o Hawks encarou até o momento a quinta tabela mais fraca da liga. Juntos, seus adversários têm aproveitamento de 48,9,%. Por outro lado, estão empatados com o Bulls nesse quesito. O Wizards, concorrente direto, teve a segunda jornada mais fácil, com 48%. O time de Budenholzer também fez mais jogos fora do que em casa (22 x 21, é verdade).

Então é isso: você precisa se esforçar para encontrar algum senão nessa jornada do Hawks, que se tornou apenas o terceiro time da história do Leste a somar 28 vitórias em um intervalo de 30 jogos. Os outros dois? Miami em 2012-2013 e Chicago em 1995-96, e ambos levaram o título.  Bastam mais três triunfos para que eles igualem as 38 da temporada passada (38). Com aproveitamento de 81,3% na atual campanha, a equipe cresceu até o momento 34,7%, o maior salto.

Recordes? All-Star? Favoritismo? Não que isso tudo valha algo para eles. “Todos nós sabemos de verdade que ainda não conquistamos nada”, disse Korver. “Eu amo quando a melhor equipe vence os melhores jogadores. Foi o que aconteceu nas finais do ano passado para mim.”

A final vencida pelo Spurs. Vocês sabem, o Hawks do Oeste.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>