Vinte Um

Arquivo : Tony Allen

Nos playoffs, não são apenas os superastros que brilham
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Giancarlo Giampietro

Matthew Dellavedova, aprovado por LeBron

Matthew Dellavedova, aprovado por LeBron

LeBron James, Derrick Rose, Stephen Curry, Blake Griffin, Chris Paul, Anthony Davis, Paul Pierce… É natural que, chegando os playoffs, o noticiário se concentre mais e mais nas grandes figuras da liga, aqueles que tendem a resolver a parada por suas equipes, naqueles momentos mais complicados. Os caras dos números arrebatadores, das bolas no estouro do cronômetro.

Na vitória do Cleveland Cavaliers sobre o Chicago Bulls nesta terça, para o Cavs abrir 3 a 2 na série, um lance que chamou muito a atenção foi este belíssimo toco de LeBron para cima de Rose, quando o armador tentava empatar o placar e completar uma reação assustadora dos visitantes no quarto período. Não só é um lance bastante plástico, como envolve duas estrelas:

Nesses lances de transição defensiva que tanto adora, LBJ foi lá no alto e deu a raquetada. Em slow, fica ainda mais bacana. Com a arrancada do armador e voo do bloqueador, é muito fácil ignorar o trabalho sutil de Matthew Dellavedova na jogada. O australiano, duro na queda, não se intimidou em ver o camisa 1 partindo em sua direção, a 100 por hora. Pelo contrário. Guardou posição e, no último momento, ainda se deslocou milimetricamente para a direita para forçar um ângulo  mais complicado no arremesso.  Desta forma, também retardou o movimento de Rose, permitindo a chegada de seu companheiro para a cobertura. Pimba.

São os pequenos detalhes igualmente relevantes num confronto tão equilibrado como esse, que tem toda a cara de sete jogos – isso, claro, desde que, em meio a tantas lesões, os dois times consigam listar o mínimo de jogadores exigido pela liga. Dellavedova, aliás, fez uma bela partida, que faz justiça ao papel que desempenhou durante o campeonato. Ele não vai produzir estatísticas, fazer cestas mirabolantes, mas o torcedor do Cavs e, principalmente, David Blatt sabe que pode contar com o australiano para o que der e vier.

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Não, não dá para esperar que ele vá fazer tuuuudo. Aquele tiro de três de LeBron, espremido na zona morta, com o Jimmy Butler vindo em sua direção? Melhor esquecer. Dificilmente o “Delly” refugaria na situação. Mas uma coisa é ter força de vontade, outra é a capacidade atlética e técnica para executar a jogada. Por outro  lado, se precisar que ele marque, ou torre a paciência de alguém, vai estar lá. A briga por um rebote ofensivo aparentemente perdido? Conte com essa também, mesmo que ele mal alcance no aro e que não seja nem o sétimo atleta mais veloz em quadra. Simplesmente encara. Alguém disposto a movimentar a bola ou para ficar de canto, sem reclamar se está tendo oportunidades que seu agente esperava? Mas, claro!

Durante a primeira metade caótica que foi a temporada do Cavs, Dellavedova foi importante justamente por isso, por sua entrega constante, ainda que seu rendimento estatístico em geral tenha sido inferior ao de sua campanha de novato. Foi alguém em quem tanto o contestado Blatt como o arredio LeBron poderiam confiar. Mesmo nesses mata-matas, em que seu aproveitamento de três pontos caiu de 40,7% para 36,5%, você vai ver em diversas ocasiões o Rei de Akron acionar o australiano em transição para um disparo de fora.

Contra o Bulls, obviamente não foi sua semi-interceptação de Rose que ganhou atenção.

Mas, sim, esse enrola-enrola com Taj Gibson, que resultou na exclusão do ala-pivô. Não dá para elogiar sua atuação nesse lance específico: um jogador de basquete presumidamente não precisa dar uma chave de perna no adversário. Ainda mais quando a bola já caiu na cesta. Por outro lado, rapaziada, são os mata-matas, né? Ou melhor: os playoffs. Os caras já se enfrentaram cinco vezes em menos de duas semanas. Essas coisas vão acontecer cedo ou tarde. Falou ao trio de arbitragem a perspicácia para também dar uma técnica no armador reserva do Cavs, ao passo que, se num primeiro momento a reação de Gibson parece indicar a exclusão como a melhor decisão, podendo rever o lance em quadra poderiam muito bem ter levado em consideração o fator “reação”. Enfim. Em sua estreia na fase decisiva, Dellavedova foi mais malandro que um veterano. “Delly é provavelmente o cara mais durão de nosso time”, comentou LeBron.

Pensando nesse, veja bem, valentão operário valente, que tal fugirmos um pouco da regra e listarmos, então, outros personagens periféricos das semifinais de conferência? Um exercício que o leitor corajoso de longa data do blog sabe ser recorrente por aqui. Não dá para escapar dele:

Mike Dunleavy Jr., Chicago Bulls: sim, pois o Jimmy Butler não conta. O ala já virou uma estrela e vai ser muito bem pago ao final do campeonato. Minha única preocupação com esse faz-tudo é a sua saúde. Ver Noah e Gibson se arrastando contra o Cavs traz ecos de Luol Deng para a quadra, e resta saber apenas como Butler estará daqui a quatro anos, mesmo que Thibs seja dispensado. Talvez boa parte do estrago já esteja feito. De todo modo, voltemos a Dunleavy, o ala que entrou na liga em 2002, também conhecido como o Draft de Yao, Amar’e e Nenê. Foi a terceira escolha, vindo de Duke já como campeão universitário e muita expectativa. Foi mais uma ser comparado a Larry Bird – hoje isso não está tão em moda, mas há 10, 15 anos qualquer ala branco minimamente talentoso que despontava nos Estados Unidos ouvia essa comparação. Obviamente o cara não chegou nem perto disso. Muitos questionam uma suposta falta de ambição e esperavam mais, se não, hã, top 10 da história, mas pelo menos algo mais consistente com os números que teve por Indiana em 2007-08 (19,1 pontos, 5,2 rebotes e 3,5 assistências, 42,4% de três pontos).

Dunleavy, discreto, eficiente e importante

Dunleavy, discreto, eficiente e importante

Pode ter frustrado alguns, mas é inegável que tenha talento: basta desviar os olhos de Rose e das caretas de Noah por alguns instantes e observá-lo em ação, mesmo aos 34 anos. No ataque, ele chuta que é uma beleza, se movimenta de modo muito inteligente pela quadra, é um excelente passador. Falta o arranque para a cesta, coisa que nunca fez parte de seu repertório, nem mesmo no auge. Ele não vai ser um cara para carregar um ataque, mas seu pacote de habilidades ofensivas é extremamente importante, para espaçar a quadra para as infiltrações de Rose e Butler, ainda mais quando a dupla de pivôs é Noah e Gibson, sem chute nenhum. “É uma das razões para eu ter vindo para cá: apenas fazer parte de um grupo que vença muitos jogos. Não ligo para o resto. Gosto de me apresentar, fazer meu trabalho e ir para a casa”, afirma o ala. Thibs adora: “Ele é o profissional exemplar. Joga para o time. É simplesmente um jogador de basquete. Tem horas que você apenas precisa mexer a bola de um lado para o outro. Ele vai lá e faz. Não se reflete em assistências, mas ele te dá movimento.”

Otto Porter Jr., Washington Wizards. Nenê é um candidato eterno nessa categoria, enquanto sua carreira durar. Mas vamos virar o disco aqui, pegando alguém que ainda pode ser considerado um lançamento no mercado. Porter teve apenas 319 minutos de jogo em sua primeira temporada, o que não dá nem 7 jogos inteiros. Nos playoffs, então, foram apenas seis minutinhos. Espirrava em quadra e saía. Um ano depois, porém, as coisas estão mudando: em oito jogos pela fase decisiva, ele já recebeu 263 minutos de jogo (43 vezes mais). Não se trata de caridade do técnico Randy Wittman.  Ainda que possa dar aquela viajada em quadra, o ala aos poucos se integrou ao time, dando enfim provas do basquete que fez dele também uma terceira escolha de Draft (num recrutamento bem fraco, é verdade).  Quando o selecionou, o gerente geral Ernie Grunfeld não tinha em mente um futuro craque, mas um complemento para seus jovens destaques. Como se fosse um Tayshaun Prince para Chauncey Billups e Rip Hamilton. Demorou um pouco, mas está acontecendo.

“Sua presença no rebote, seu arremesso… Isso é o seu crescimento. Sabíamos do que ele era capaz quando o selecionamos. Ele cresce a cada vez que vai para a quadra agora”, afirma Beal. Num elenco abarrotado de veteranos, Porter oferece a mais companhia na hora de acelerar, abrindo para o tiro de três pontos, ou cortando com sua passada larga rumo ao aro. Perto da tabela sua influência cresce, devido aos braços compridos e sua energia. Características agora bem empregadas do outro lado da quadra, algo com que DeMar DeRozan certamente não contava. Além disso, seu crescimento permite que Paul Pierce jogue mais minutos como  um ala-pivô aberto e também poupa o veterano de correr atrás alas mais rápidos pelo perímetro.

Dennis Schröder, Atlanta Hawks. DeMarre Carroll ainda é bizarramente o cestinha da equipe nos playoffs. Então acaba tendo sua candidatura impugnada dessa vez, e também já passamos por sua trajetória singular aqui. Legal, pois aí sobra espaço para falar sobre um reserva que vai subindo com determinação a escadaria dos queridinhos do blog. Pode chamá-lo até de Schrödinho, que tudo bem. O armador foi vital em diversas vitórias do Hawks na temporada regular, e ainda assim tem gente que pode achar que é uma “surpresa” o que ele fez nos últimos dois jogos em Washington. É que os rapazes de Mike Budenholzer venceram tantas partidas, mesmo, no campeonato, que se corre o risco, sim, de que uma ou outra contribuição fique para trás. O sucesso fica diluído.

Sem John Wall, o Wizards perdeu não só o seu principal organizador como também uma presença física imponente na marcação. Ao lado de Jeff Teague, o alemão vai se esbaldando. Ramon Sessions e Will Bynum não conseguem acompanhá-lo. Seu perfil é diferente dos demais listados. Estamos falando de um cestinha agressivo. Quando consegue forçar a troca após o corta-luz, fica mais fácil ainda, dando voltas em torno de Marcin Gortat, Paul Pierce e mesmo de um pivô ágil como Nenê. “Fico dizendo para o Jeff: ‘Continue atacando’. E ele me diz a mesma coisa. Era uma motivação para nós. Vamos para a cesta, que eles não conseguem nos parar”, diz o armador que, vejam só, numa projeção por 36 minutos, aparece como o principal pontuador do time, com 20,1 por jogo, além das 7,8 assistências. Teague precisou esperar um tempinho até assumir o posto de titular em Atlanta. Para mim, é questão de tempo para Schrödinho ganhar o mesmo status. Mesmo que em outro clube.

Tony Allen, Memphis Grizzlies. Hã… Quer dizer… Periférico?! Por dois jogos esse sujeito tirou os Splash Brothers da linha, desarmando o ala do Golden State Warriors. Estrelou vines e clipes do YouTube sem parar ao invadir uma roda de dança das criancinhas em Oakland, desarmar Klay Thompson na maior, dizer que Curry é bonitinho, e tal, mas que não é nada que não tenha visto antes e lançado sua campanha fervorosa para o “Primeiro Time de Defesa” do Conselho de Segurança e…  Precisa de mais?

Já foi, Klay

Já foi, Klay #1stTeamAllDefense

Mas, sim, periférico. Nas vitórias do Grizzlies, Mike Conley foi o protagonista, e pudera. O sujeito mal abre o olho esquerdo direito. Acabou de passar por uma cirurgia facial, por conta de múltiplas fraturas, e ainda está disposto a encarar um Andrew Bogut e um Draymond Green lá embaixo. Eu, hein? No ataque, Gasol e Z-Bo também carregam a pecha de dupla que joga na contramão da liga, lá embaixo, com se fossem os anos 80, 90. O armador e os homens de garrafão, além do mais, jogam dos dois lados da quadra. Allen causa um impacto enorme na defesa – e sua ausência no Jogo 4, com surra do Warriors, evidenciou isso –, mas suas deficiências ofensivas foram novamente expostas por Steve Kerr no Jogo 4 contra o Warriors. Seguindo tática empregada por Gregg Popovich no ataque, o técnico ordenou que seus atletas não se incomodassem que o ala ficasse livre no perímetro. Livre, mesmo, para arremessar enquanto bem entendesse. Se consultarmos o aproveitamento de arremessos em sua carreira, faz sentido. Nos playoffs, tem acertado apenas 33,3% dos arremessos de média distância e 10% de fora.


Nós precisamos falar sobre o Kawhi Leonard (e o Spurs)
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Giancarlo Giampietro

Sim, nós precisamos falar sobre o Kawhi Leonard.

Pois, no que depender do silencioso ala do San Antonio Spurs, não vamos ouvir nenhum pio.

A expressão característica de Kawhi

A expressão característica de Kawhi. De quem não quer badalação nenhuma

Definitivamente não é uma coincidência que os atuais campeões estejam praticando seu melhor basquete da temporada justamente quando o MVP das finais de 2014 deixou as lesões para trás e entrou em ritmo.

Sim, a recuperação (agora ameaçada) de Tiago Splitter também conta. Claro que conta. Assim como ajuda um Tony Parker se movimentando sem limitações, sendo o primeiro agredir, a incomodar muito as defesas adversárias. Mas o próprio francês admitiu há pouco, numa das coletivas mais inspiradas da temporada, que é hora de o bastão já ser entregue ao caçula do quinteto inicial do Spurs.

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“Foi o mesmo que aconteceu comigo e Manu lá atrás. Você tem de compartilhar a bola e esperar sua vez. Há vezes que eu não vejo a bola por um tempo, mas o Kawhi está jogando de modo incrível – e este time vai se tornar o do Kawhi, de qualquer forma. Assim como Timmy fez a transição para o Manu, que fez a transição para mim, agora vai ter essa transição para o Kawhi”, afirmou.

O futuro já chegou para Kawhi

O futuro já chegou para Kawhi

“Vou fazer meu melhor para seguir agressivo e ficar envolvido. Mas Kawhi vai ser o cara em quadra. Vai haver noites como em que eu terei a bola, mas, na maior pare do tempo, será com o Kawhi. Temos de fazer a transição para isso. Ele é jovem, está jogando demais e vai chamar marcações duplas. Então vou jogar na sobra dele, como em todos estes anos que fiz isso com Timmy. Ficava no canto e esperava Timmy fazer o que sabia. Sempre fazíamos um belo trabalho compartilhando a bola, apenas esperando nossa vez. Agora não será diferente.”

Demais, né?

É o nível de consciência coletiva que apenas anos e anos de entrosamento e convívio pode proporcionar – desde que, claro, se conte com os personagens certos.

(O próprio armador francês já teve seus momentos de crise em San Antonio, pensando como seria a vida fora de lá, longe das cobranças de Gregg Popovich e talvez num mercado mais glamoroso. No fim, porém, percebeu que o nível de conforto de que desfruta dentro da franquia era o melhor trunfo que tinha para a sua carreira.)

Leonard parece se encaixar perfeitamente neste ambiente. Um cara meio avesso a entrevistas. Quando fala, o tom de voz é baixo, e saem poucas palavras. Deem uma espiada em sua conta no Twitter, por exemplo. Sabm quantas mensagens ele postou no ano? Duas, e só. Nem bem começou e já se cansou da brincadeira.

Ele pode ser um escoteiro no vestiário ou a pessoa mais reclusa fora do ginásio, mas o que atrai, mesmo, seus companheiros e treinadores são suas habilidades em quadra, claro. Habilidades em constante evolução, a começar pelo que apronta na defesa. A cada jogo do Spurs, seus oponentes podem imprimir uma dezena de boletins de ocorrência. O que Kawhi tem feito é algo assustador. A combinação de agilidade, reflexo e braços largos, sem contar as mãos mais largas já medidas pelo estafe técnico da liga, realmente atormenta. É como se realmente não houvesse segurança alguma, estejam os jogadores meramente driblando a bola ou tentando passá-la. Estão sempre sob o risco de vê-la tomada ou, no mínimo, desviada. Veja no vídeo abaixo o que acontece com um sujeito pouco habilidoso como Stephen Curry na marca de 35s e 2minn47s, com os melhores momentos de Kawhi na demolição do melhor time da temporada (107 a 92):

O camisa 2 lidera a temporada com 2,3 roubos por partida – em termos de roubos por posse de bola, apenas Tony Allen o supera. É engraçado até: com ele jogando, o Spurs consegue mais roubos de bola, mais tocos e força mais turnovers a cada posse de bola do adversário. No geral, a defesa texana toma 5,3 pontos por 100 posses quando o ala está descansando no banco de reservas.

No ataque, também vemos o ala cada vez mais confiante. Naturalmente, o sistema do Spurs não abre muitas brechas para arroubos individuais. Mas está acontecendo mais e mais situações em que o atleta recebe a bola na ala e tem liberdade para partir para cima das defesas.

Seu drible está bem mais azeitado, facilitando sua explosão rumo ao aro – o que fica mais fácil ainda quando a rapaziada está mexendo a bola, chacoalhando a defesa, abrindo mais corredores para suas infiltrações. Mais um trunfo: como voltou a acertar seus arremessos de média e longa distância, atrai os defensores e ganha espaço para o arranque.

Pense bem, Klay: o arremesso está seguro, mesmo?

Pense bem, Klay: o arremesso está seguro, mesmo?

O resultado disso é um equilíbrio interessante entre o impacto que Leonard causa dos dois lados da quadra. Sem ele, o sistema ofensivo de Pop cai de 111,2 pontos por 100 posses para 106,2. (Em números gerais de vitórias e derrotas, foram nove reveses nos 17 jogos que ele perdeu até agora).

Se você soma, então, o que ele oferece para a defesa e para o ataque e chega a uma conta interessante: com Kawhi, o Spurs vence os adversários por 10,4 pontos. Para relativizar, a segunda melhor marca neste saldo de pontos é de Tiago Splitter, com 6,8 a cada 100 posses. Manu Ginóbili aparece em segundo, com 5,9, num empate técnico com Danny Green (5,8). Tim Duncan? Só 0,1. Parker? Surpresa: -1,5. Sim, negativo.

O ganho estatístico, galera, é geral. Em números absolutos, ele vem com suas melhores marcas de sua carreira em médias de pontos, rebotes, assistências e tocos. Essa guinada também vale para todos estes fundamentos numa projeção por minutos. Então, mesmo que tenha perdido um pouco de rendimento nos arremessos de quadra e nos tiros de três pontos, o fato é que o ala também faz a melhor temporada em termos de índice de eficiência.

Merece os holofotes

Merece os holofotes

A questão é que toda essa evolução pode realmente passar despercebida quando chega a hora de discutir os grandes nomes da liga, mesmo que ele tenha sido eleito o MVP das finais do ano passado. Esse distanciamento tem a ver muito mais com o simples acúmulo de jogos do que com sua timidez. A temporada é loooonga temporada, sabemos, gerando mais e mais histórias. Fica bem fácil esquecer o alvoroço que Leonard já havia causado.

Especialmente quando ele está inserido num sistema igualitário e também não escapa da precaução de Popovich em preservar suas peças. Em termos absolutos, raramente os números dos craques do Spurs vão bombar. Para finalizar, o ala também teve uma pré-temporada toda atrapalhada por uma infecção ocular. Quando começou a se recuperar, sofreu uma lesão na mão que o tirou de quadra por cerca de um mês, entre dezembro e janeiro.

Justamente quando Kawhi estava entrando em forma e o treinador tomava notas, dizendo que precisava arrumar um jeito de envolvê-lo mais no ataque. “Temos de começar a dar mais a bola para ele. Ele é o futuro”, disse, em meados de novembro, antes de soltar uma de suas piadinhas tradicionais. “Não acho que Timmy e Manu vão jogar mais do que seis ou sete anos a mais.”

Na ocasião, num incomum arroubo de confiança, o jogador afirmou que apreciava o discurso de Pop. “É muito melhor executar na prática isso do que apenas escutar o plano”, disse. “Da minha parte, só tenho de continuar melhorando enquanto sigo em frente. Tenho de me tornar um jogador melhor e me antecipar a este momento (de aposentadoria dos craques). Se não, chega essa hora como um tapa na cara, sem que eu saiba o que fazer, ou como lidar com isso.”

Meses depois, parece que ele já entendeu exatamente como se faz. Seus companheiros também.

*   *   *

A ascensão de Leonard também acontece num momento apropriado para sua conta bancária. O ala vai se tornar agente livre restrito ao final do campeonato. Será que alguém vai ser dar ao trabalho de fazer uma proposta? Creio que muitos julgam uma perda de tempo, considerando o apreço que Popovich tem pelo jogador.

Mas será que o Spurs vai tentar barganhar algum desconto, tal como aconteceu com Tim Duncan seguidas vezes? O ala ai aceitar? Tenham em mente que esse vai ser o primeiro grande contrato do ala. Não que os mais de US$ 8 milhões que ele ganhou até esta temporada sejam dinheiro de pinga, mas seu próximo vínculo está na casa de dezenas, dezenas e dezenas de milhões.

Por que San Antonio não lhe deu já uma extensão contratual no ano passado? Para ter flexibilidade ao final da temporada. Se Duncan e Ginóbili disserem chega, a franquia terá espaço salarial para renovar com o ala e partir na direção de substitutos com alto valor de mercado. Limparia salário, assinaria com eles e depois cuidaria do ala.

*   *   *

Desde o All-Star Game, o San Antonio Spurs tem o ataque mais eficiente e a terceira defesa mais competente da NBA. Daí sai o melhor saldo de pontos na conta por 100 posses de bola, critério que o Golden State Warriors havia liderado durante toda a campanha. Sim, eles voltaram.

*   *   *

Tudo depende de um pouco de sorte, ou falta de, como quando Marc Gasol torce o tornozelo em jogo contra o Los Angeles Clippers. O Memphis também vê seu armador Mike Conley Jr. estourado. Tony Allen é outro que está distante da melhor forma. O Houston Rockets já não tem Patrick Beverley e Donatas Motiejunas. Portland perdeu Wesley Matthews e até mesmo aquele que é seu substituto, Arron Afflalo, pode ficar até duas semanas no estaleiro por conta de uma contusão no ombro. O topo do Oeste está se esfacelando, enquanto o Spurs sobe. Tiago Splitter é a única baixa, no momento, sentindo novamente sua panturrilha. A boa notícia é que, de acordo com as palavras de Popovich, o brasileiro, essencial para a defesa, não tem nada grave e não preocuparia para os playoffs. Lesões e contusões acontecem. Mas é possível trabalhar para limitá-las. Creio que, a essa altura, ninguém vá mais questionar o tática do técnico de controlar os minutos de seus atletas e de afastá-los de uma ou outra partida.


Memphis Grizzlies: moendo carne, batendo bife
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Giancarlo Giampietro

A torcida também vai tentar moer o adversário

A torcida também vai tentar moer o adversário

Lá pelos idos de maio de 2013, o que na era da Internet já é mais que um século atrás, havia o temor de que a cultura de “Grit & Grind” – praticamente impossível de se traduzir ao pé da letra, mas que tem a ver com a bravura do estilo de jogo do Grizzlies – estivesse seriamente ameaçada em Memphis. O técnico Lionel Hollins estava de saída, Tony Allen era agente livre, Zach Randolph também tinha futuro incerto. Mas o assistente Dave Joerger segurou muito bem as pontas desde que foi promovido,  o pitbull preferido da cidade tinha ganhado um novo contrato, e tudo caminhou bem. Mesmo com a lesão  de Marc Gasol, o time chegou aos playoffs e incomodou bastante. Ponto.

Aí que, ao final do campeonato, as coisas novamente ficaram tensas, de modo chocante. Subitamente, o CEO Jason Levien, que mal havia acabado de assumir a posição, foi derrubado pelo proprietário Robert Pera. Ao mesmo tempo, Joerger foi liberado para conversar com o Minnesota Timberwolves, de sua terra natal. No fim, o magnata tirou o antigo gerente geral Chris Wallace do ostracismo, para lhe reempossar, e decidiu segurar Joerger. Z-Bo ganhou sua extensão contratual. A estrutura, então, foi mantida.

Fora da cidade, pode ter certeza que caras como Blake Griffin, Kevin Durant, Tim Duncan e Dirk Nowitzki acompanhavam tudo com muita atenção. Qualquer passo em falso, qualquer sinal de derrocada do time poderia ser um alívio danado para eles. Afinal, estamos falando do time mais casca grossa da Conferência Oeste. Ou melhor: com a iminente derrocada do Indiana Pacers, já dá para falar no time mais pesado, aquele que a liga toda vai querer evitar. Ainda mais numa série de mata-mata.

Vai encarar? Ninguém quer

Vai encarar? Ninguém quer

Já escrevemos aqui qual a dificuldade de escolher os termos apropriados para explicar do que se trata o lema oficial desta geração do Grizzlies, elaborado num estalo de genialidade por Allen.  No final das contas, o melhor a ser feito é apelar ao populacho: trata-se do famoso moedor de carne. Esses caras fazem isso, como se o FedExForum representasse um grande açougue humano. Não é nem um pouco bacana bater de frente, de lado, ou de costas com gente com Randolph e, especialmente, Marc Gasol, por mais magro que o espanhol esteja esses dias. E aí você põe mais um corpanzil de Kosta Koufos na jogada e alguns alas que aporrinham a vida de qualquer um, e o que temos daí é uma das defesas mais sólidas e nocivas que se pode encontrar.

Tom Thibodeau tem o esquema e excepcionais marcadores em Chicago. Roy Hibbert e David West ainda vão tentar proteger uma fortaleza em Indianápolis. Mas o desgaste físico causado por essa galera encrespada de Memphis deve ser o maior tormento no longo e cansativo calendário de cada equipe.

De estrela a operário, Vince Carter segue relevante

De estrela a operário, Vince Carter segue relevante

O time: Z-Bo já não é mais o mesmo de sua primeira temporada de All-Star, justamente a primeira em Memphis. Mas seu jogo nunca dependeu de impulsão, explosão física ou elasticidade. Enquanto chega aos 33 anos, sua técnica e força física ainda causam estrago perto da cesta o mantêm produtivo. Suas características combinam perfeitamente com as de Gasol, que tem uma visão de quadra privilegiada encarando a cesta como um maestro na cabeça do garrafão, também matando bolas dali. Além do mais, o posicionamento dos dois pode ser facilmente intercambiável. Não sabemos muito bem o quão consciente Wallace foi ao montar essa dupla em 2010, mas deu muito certo. Para assessorar esse núcleo, quietinho da silva, Mike Conley se tornou um dos principais armadores da liga, vindo também sua melhor temporada.

O que sempre falta em torno dessa trinca foram arremessadores que metessem medo. Já não é um problema tão grave assim. Mike Miller fez o serviço em 2013-2014, mas preferiu seguir os passos de LeBron em Cleveland. Para seu lugar, todavia, chegou Vince Carter, que se reinventou em Dallas como atirador de três pontos e marcador e, aos 37,  chega com moral a Memphis. E o veterano não está solitário nessa.

De volta de lesão, Pondexter está preparado para enfrentar os alas mais fortes da liga

De volta de lesão, Pondexter está preparado para enfrentar os alas mais fortes da liga

Courtney Lee foi fruto de outra bela negociação incentivada pelo supernerd John Hollinger que deu certo. Ele liderou a NBA no aproveitamento de arremessos movimento na temporada passada e também consegue incomodar bastante os alas mais baixos, fazendo ótima dupla com Allen, um atacante arrojado, mas, no mínimo, inconstante. Por fim, em seu último sopro, Tayshaun Prince ainda tem envergadura para deixar as linhas defensivas mais rígidas esporadicamente. Em resumo: por mais que não sejam tão discutidos assim na grandes plataformas, este pode ser o elenco mais forte que o Grizzlies já teve.

Olho nele: Quincy Pondexter. O ala, que retorna de uma fratura na perna que o tirou por mais de 60 partidas da última temporada, foi esquecido deixado de fora do parágrafo acima propositalmente. Quando comparado a Allen, Lee, Carter e Prince, tem ainda menos fama, mas pode ser tão ou mais relevante que eles durante a jornada, desde que consiga sustentar um aproveitamento de três pontos próximo aos 39,5% que teve na temporada retrasada. Pondexter é mais alto e forte que Lee e Allen e mais forte e ágil que Prince, oferecendo um meio termo interessante.

Abre o jogo: “Tem tanto chão para isso, que não passa pela minha cabeça. Apenas quero fazer a porcaria do meu trabalho diariamente. Você nunca sabe o que pode acontecer em sete ou oito meses. A franquia pode decidir seguir em outra direção. Vamos ver como todos nos sentimos em julho. Toda essa conversa de agora não vai mudar isso”, Marc Gasol, sobre sua entrada no mercado de agentes livres ao final da temporada, sem firula alguma. Os bastidores da liga já dão como certa a investida de Phil Jackson e o Knicks pelo pivô em 2015.

Você não perguntou, mas… ao lado de San Antonio Spurs, Miami Heat, Oklahoma City Thunder e Los Angeles Clippers, apenas um clube venceu mais de 50 jogos nas últimas duas temporadas, não importando que desfalque tinha. Justamente a franquia que tem a ver com ursos-pardos, mesmo que eles não sejam encontrados tão facilmente assim em Memphis.

kevin-pritchard-grizzlies-cardUm card do passado. Kevin Prichard. Ele, mesmo, o ex-dirigente do Portland Trail Blazers e gerente geral de Larry Bird no Pacers, hoje. Se formos pensar em gente do passado da franquia, ainda em sua encarnação na Costa Oeste do Canadá, dá para lembrar da figura pastosa de Bryant Reeves, além de Anthony Peeler, Blue Edwards, Shareef Abdur-Rahim, Felipe López, entre outros. Mas está nos livros históricos – uns três, pelo menos – que foi Pritchard foi o primeiro jogador a assinar contrato com o clube. Assinou, mas não brilhou. Cortado antes de a temporada 1995-96 começar, não disputou uma partida sequer pela franquia. Naquele ano, faria dois joguinhos pelo Washington Bullets. Depois, adeus, NBA. Formado em Kansas, Pritchard chegou a ser, antes, reserva de Tim Hardaway e Sarunas Marciulionis no Golden State Warriors de Don Nelson. Jogou na Itália, na Espanha e na Alemanha. Mas foi como cartola, mesmo, que ele deixou sua marca. Foi o grande arquiteto da reconstrução do Blazers na década passada, depois dos anos de Jail Blazers, nos quais ganharam mais manchetes policiais do que esportivas. Seu relacionamento com o bilionário Paul Allen e sua trupe, porém, desandou a ponto de ele ser demitido do cargo de gerente geral cerca de uma hora antes do draft de 2010. Cruel. Ele ainda fez uma troca e selecionou Luke Babbitt e Elliot Williams. Vingança em prato frio de carne moída.

 


Fla conclui giro pelos EUA com sua pior derrota
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Giancarlo Giampietro

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

A turnê de NBA do Flamengo não terminou da mesma forma que começou. Depois de fazer dois bons jogos, competitivos, contra Phoenix Suns e Orlando Magic, o time carioca levou uma surra nesta sexta-feira do Memphis Grizzlies: 112 a 72.

O atual campeão intercontinental conseguiu equilibrar as coisas no primeiro quarto, mas teve muita dificuldade para lidar com o time titular do Grizzlies em geral. Com Mike Conley e Marc Gasol em quadra, o adversário tem uma das defesas mais fortes da liga norte-americana. Uma retaguarda muito mais forte que as de Phoenix e Orlando. Isso faz diferença.

Conley, por exemplo, azucrinou com a cabeça de um já desligado Nico Laprovíttola. Além do mais, pode colar no adversário sabendo que, na sua cobertura, está um dos pivôs mais inteligentes – e imponentes – do mundo, o ex-Big Marc Gasol. Impressionante como está afinado o gigante espanhol. Sua temporada regular promete, e muito.

Além disso, Tony Allen é um animal na pressão em cima da bola e na perseguição de seus alvos do lado contrário. Courtney Lee dosa um pouco da velocidade de Allen, mas sem se arriscar muito atrás de roubadas ou tocos. É uma combinação ingrata, que o ataque do Fla sentiu logo de cara, depois de ter aberto de modo surpreendente uma vantagem de 10 a 2 em menos de três minutos.

Aí o técnico Dave Joerger pediu tempo, e a coisa mudou de figura. Embora de um modo curioso. Ainda com seus titulares, empatou o jogo rapidamente em 12 a 12 e chegou a abrir 27 a 12. Já com os reservas em quadra, os brasileiros voltaram a apertar, empatando em 36 a 36. A partir desse ponto, porém, desandou: o Grizzlies já voltaria para o vestiário com uma vantagem de 62 a 41. Fim de jogo.

Ainda mais que Laprovíttola estava numa jornada completamente desastrada. O armador cometeu sete turnovers apenas na primeira metade da partida. Além do mais, o argentino precisa tirar de seu arsenal – ou reduzir drasticamente o volume de tentantivas –  esse tiro de três pontos depois do drible. Essa é uma bola para poucos, em qualquer nível, seja em amistoso contra time de NBA, ou em playoff do NBB. Ainda mais quando se está pregado em quadra. Não havia explosão nenhuma em seu jogo nesta sexta. Já que foi até Memphis, todavia, o armador ao menos tem a chance de visitar a antiga residência do Elvis Presley. Graceland é logo ali.

O jovem Gegê foi bem melhor nesta sexta. Por outro lado, encarou por muito mais tempo o esloveno Beno Udrih, em vez de uma peste como Conley. Udrih está há 10 anos na NBA, mas muito mais por sua habilidade e visão de quadra no ataque do que pelo empenho ou agilidade na defesa, sabemos.

Marquinhos teve sua melhor atuação individual neste giro, combatendo na defesa, matando seus chutes de fora e correndo bem a quadra. Cristiano Felício voltou a bater de frente com pivôs de ponta, como Kostas Koufos, e segurou a bronca.

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Bem, agora é ouvir diretoria, comissão técnica e jogadores do Flamengo na volta para saber que tipo de lição, experiência eles tiram dessa viagem marcante. Com a relação de NBA e LNB se estreitando, é de se imaginar que esse tipo de oportunidade vá se repetir no futuro para outras equipes daqui.

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Um lance engraçado aconteceu logo no início de partida, quando Marcelinho Machado matou uma bola de três na zona morta na cara de Tony Allen. Foi ali que Joerger parou o jogo. E ficou aquele medo na massa rubro-negra: seria um verdadeiro teste de imortalidade para o camisa 4 flamenguista, uma vez que o pitbull do Memphis certamente voltaria para quadra querendo devorá-lo vivo. Felizmente nada de mais grave aconteceu.*   *   *

E Marcelinho, aos 39 anos, terminou sua turnê de NBA com 13-27 nos seus chutes de três pontos, ou 48% de aproveitamento. Contra o Grizzlies, foi de 4-7, depois de 6-12 contra o Suns.

 


Cultura “batalhadora” do Memphis Grizzlies fica sob ameaça após derrota no Oeste
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Giancarlo Giampietro

Tony Allen, the grit

“Grit & grind”.

Estou pensando até agora em qual seria a melhor tradução para a expressão eternizada por Tony Allen em Memphis. Virou sinônimo do basquete apresentado pelo Grizzlies nos últimos anos. Seria algo como “na raça” em português, essa coisa de “dar o sangue”, mas não sei bem se tem uma combinação desses termos que dê conta do que Allen quis dizer numa entrevista célebre em 8 fevereiro de 2011, após uma vitória na prorrogação sobre o Oklahoma City Thunder, por 105 a 101.

Nessa partida, o ala contribuiu com 27 pontos, cinco roubos de bola e três tocos, jogando por 40 minutos. Uma explosão estatística, porque era como estivesse tudo represado, mesmo. O veterano campeão pelo Boston Celtics não tinha um papel tão certo na rotação de Lionel Hollins, mas ganhou tempo de quadra considerável devido a uma lesão de Rudy Gay e uma suspensão para OJ Mayo.

“Só coração, afirmou naquelas entrevistas na saída de quadra. “Grit. Grind.”

E aqui estamos de novo. Ao pé da letra, isso poderia ser: “Grão. Moagem.” : )

Mas é claro que ele não estava falando sobre fazer café, né? Coloquialmente, tem algo a ver como “coragem, bravura” para um, “triturar, desgastar, encher o saco” para o outro. Aí as coisas começam a fazer mais sentido.

No fim, porém, a tradução exata nem importa. Basta assistir a Allen e seus companheiros em quadra, que você entende rapidinho. O ala é um dos defensores mais insuportáveis – para os atacantes, diga-se – de toda a NBA. Isso se não for o mais impertinente, mesmo. Com mãos e pés extremamente ágeis, adora colar nos componentes, fungando no cangote a toda hora, em busca da bola ou de um desequilíbrio. Um pitbull babando para todos os lados. Jogando com o coração.

Aos poucos, esse comportamento foi conquistando Memphis, uma cidade conhecida por seu espírito operário, brigador, raçudo. Saca?

Quando Allen usou essas palavras, consciente ou involuntariamente, deu o passo definitivo para se tornar uma figura cult para os torcedores do Grizzlies – sim, eles existem –, que vestem camisetas personalizadas com a face do jogador, gritam seu nome sem parar durante as partidas e se matam de rir com entrevistas malucas e tweets crípticos na conta aa000g9 –, de “Anthony Allen”  e o número 9, enquanto o excesso de zeros significariam para… Vai saber. A atitude do atleta também influenciou seus companheiros de time e se enquadrou perfeitamente com o modo como Hollins imaginava sua equipe. As coisas se encaixaram: plano tático, dedicação do elenco, apoio do público.

Uma sinergia que muitas vezes corremos o risco de ignorar, seja pelo distanciamento, de não viver exatamente o que se passa em uma determinada cidade, seja pela realidade ainda bastante incipiente do NBB, ou pela concentração apenas no que se passa em quadra. Mas não se pode ignorar de modo algum que, na liga norte-americana, há duas facetas para se avaliar, tanto o clube (esportivo), como a franquia (negócios). São raros os caros que combinam ambos com sucesso. O Memphis Grizzlies conseguiu: seu produto tem uma identidade competitiva e mercadológica.

Grit & Grind, Mephis, Grit & Grind

“Nós não blefamos”, também virou campanha durante os playoffs para o Grizzlies

Conseguiu e agora encara um período de férias que pode ser crucial para sua prosperidade.

O proprietário anterior, Michael Heisley, fazia de tudo para fingir que não era muquirana, mas cortava gastos sempre quando podia, na estrutura da franquia. O novo dono, Robert Pera, não esconde de ninguém que pretende instituir um modelo de administração rentável. Seu estafe não vai cometer nenhuma loucura financeira, confiando que, com a visão analítica de John Hollinger a alguns bons caçadores de talentos, poderá formar um time barato e, ao mesmo tempo, na ponta, sem jogar todo esse trabalho fora.

Essa visão será duramente testada agora: o xodó Tony Allen e o técnico Hollins são agentes livres; ao mesmo tempo, a diretoria do clube não tem intenção alguma de levar sua folha salarial para além do aceitável – leia-se, a folha salaria pode até exceder o teto estabelecido pela NBA, mas não pode subir tanto assim a ponto de ultrapassar a linha da chamada “luxury tax”. Se fizerem isso, não só teriam de pagar impostos, taxas para a liga, como deixariam de receber o dinheiro recolhido de outros gastões como Lakers, Nets e Knicks. Para não ter perigo, hoje bancam apenas a 25ª folha da liga – ou a sexta mais barata.

Depois da campanha que a equipe cumpriu no Oeste, com uma defesa fortíssima e um elenco que acabou enfraquecido devido a trocas para se livrar de salários, Hollins está em alta, no topo da lista de Clippers e Nets, dois times que sonham com o título e que podem inflacionar seu preço. Sabe-se que o treinador não desfruta da melhor relação com a nova administração, questionando publicamente sua fixação por estatísticas. Há quem diga também que seu estilo confrontador, contestador pode ser difícil de ser controlado internamente, criando problemas de relacionamento com seus jogadores – Zach Randolph, outro que não tem sua permanência garantida devido ao volumoso salário, já não teria tanta paciência assim. Mas a torcida (“a comunidade”) o adora. É uma situação delicada.

Keep calm como?

Vão ficar calmos como agora, com tantas incertezas?

E há o caso de Allen. O ala ganhou em média US$ 3,15 milhões nas últimas três temporadas. Uma bolada para qualquer profissional, mas bem abaixo de seu valor de mercado. Pensem que seu companheiro Tayshaun Prince levou US$ 6,7 milhões neste ano (e vai levar mais US$ 15 milhões nos próximos dois anos). Em Boston, seu ex-time, Courtney Lee foi pago com US$ 5 milhões. Caron Butler ganhou US$ 8 milhões. Rip Hamilton embolsou US$ 6 milhões. Dá para ter uma ideia. Imagina-se que ele e seus agentes estejam prontos para pedir um aumento para ele ficar no clube, que tem cerca de US$ 57 milhões comprometidos já para 2013-2014 – é o que está aqui, descontando a grana de Jerryd Bayless, que também deve se tornar agente livre, com a luxury tax prevista para algo em torno de US$ 70 milhões. Assinar com Allen e reforçar o ataque exterior com arremessadores, uma carência evidente nos mata-matas, cuidando para que os gastos no futuro também não saiam do controle.

“Eu nem entendo o lado dos negócios”, disse o ala em meio ao confronto com o Spurs. “Quando chegar julho, alguém vai ter de se sentar comigo e explicar. Tudo o que sei é que sou um Grizzly e acredito que vou ser um Grizzly no final. Eu sangro azul. Acho que eles vão me manter aqui. Se não fizerem, entendo. Mas eu nem penso sobre isso. Eu apenas jogo. Eu amo estar em Memphis. Amo a cidade. Espero ficar.”

Será que correriam o risco de desagradar aos seus torcedores permitindo a saída de Allen e Hollins? Será que o Grizzlies seria o mesmo time sem eles ou um deles? Essa seria apenas uma decisão romântica ou de negócios? Em Memphis, já temos prova de que os dois aspectos estão interligados. “

Eu já vi nosso time de dois modos. Nós éramos terríveis, e o apoio dos torcedores era bem ruim. E agora está no auge, nunca foi assim. Não quero voltar ao que era antes”, disse Mike Conley Jr., um dos preferidos e intocáveis da nova gestão – quando assumiu, Pera e alguns de seus principais dirigentes convidaram o armador, Marc Gasol e só para um jantar. “Acho que seria fantástico se pudermos estabilizar o que temos e apenas seguir em frente. Obviamente com Lionel e o que ele já fez, todos os rumores envolvendo Zach… Zach é uma parte desta cidade, Tony é uma parte da cidade. Não seria a mesma coisa sem eles aqui.”

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Leitura imperdível para compreender em detalhes a mudança por que passou a franquia nos últimos anos: o glossário do Grizzlies (em inglês),  para aqueles que estavam chegando a Memphis de última hora nestes playoffs, assinado por Chris Herrington. É bem engraçado. O jornalista conta que ainda hoje é possível ver os torcedores usando uniformes de Allen Iverson, cara que disputou apenas (!) três partidas por lá até ser dispensado, embora ainda pudesse fazer isto:

 Tarantino e RodríguezOutros destaques são o iraniano Hamed Haddadi, que foi despachado para Toronto este ano e depois repassado para Phoenix (“I drop-step. I go around Shaq. I dunk that shit”) e o apelido que o ginásio do Memphis ganhou: The Grindhouse, apelido sugerido por um torcedor a Tony Allen no Twitter.

Grindhouse foi como se tornaram conhecidos os cinemas norte-americanos que rodavam os exploitation films em suas sessões, aqueles filmes apelativos, que nem toda família pode se reunir para ver – até por isso também foi o título do projeto nerd conduzido por Quentin Tarantino e Robert Rodríguez, que lançaram em 2007 dois-filmes-em-um, embora ao Brasil eles tenham chegado separados.

Neste caso, pensando no ginásio, a despeito da fisionomia de Haddadi ou das entrevistas bizarras de Allen, não há nada muito bizarro desta maneira, como a mulher com uma metralhadora no lugar de uma perna. Dá para voltar até mesmo ao sentido literal, de que seria a casa em que os oponentes são triturados. Certamente nenhuma equipe olhou sua tabela deste ano e acreditou que uma visita a Memphis seria tranquila e acolhedora.

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Este aqui seria o hino preferido de Tony Allen para os jogos do Grizzlies:


Prévia dos playoffs da Conferência Oeste da NBA: Parte 2
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Giancarlo Giampietro

3-DENVER NUGGETS X 6-GOLDEN STATE WARRIORS

A história: será que o Denver Nuggets consegue contrariar a tese de que um time não pode ir longe nos playoffs sem uma superestrela? Desde que trocou Carmelo Anthony por um pacote de ótimos jogadores para construir um dos elencos mais completos da NBA, George Karl e o gerente geral Masai Ujiri precisam responder essa questão, que é considerada um dogma na liga. Agora, pode ser apenas uma questão de tempo para que Ty Lawson ingresse nesse grupo especial. E quanto a Stephen Curry? Ele já foi promovido? Os dois vão ter um duelo espetacular nesta primeira fase, e, dependendo do desfecho da série, ambos têm a chance de resolver qualquer dúvida quanto a seu status. (Paralelamente, o embate entre os velhacos Andre Miller e Jarrett Jack também é bastante intrigante.)

O jogo: pisa fundo, acelera, sai da frente! Aqui a ordem é correr demais, sem freio. Esperem jogos decididos na casa de 11o pontos, muitos contra-ataques, cestas rápidas, alguns turnovers, seja na baía californiana ou na altitude de Denver. Vamos torcer apenas para que Stu Jackson não escale o velhinho Dick Bavetta para apitar – e, se o diretor estiver biruta e o fizer, ao menos ele terá o quebradiço Andrew Bogut como companhia. De um lado, o Nuggets procura as infiltrações de modo agressivo, com a velocidade de Lawson, Iguodala, Brewer, Wilson Chandler, Faried, McGee & cia., além dos movimentos matreiros de Miller. Do outro, o Warriors depende muito da avalanche de três pontos desencadeada por Curry e Klay Thompson.

De dar nos nervos: quando o apelido do cara é “Manimal”, você já sabe que vem chumbo grosso pela frente. Kenneth Faried precisa se recuperar de uma torção no tornozelo, sofrida no finzinho da temorada regular, mas, se estiver a 75% – ou, vá lá, a 60% –, David Lee e Carl Landry saberão que será necessária muita paciência durante a série. Porque Faried simplesmente não consegue parar: ele se movimenta de modo alucinado de ponta a ponta da quadra, de cima para baixo, atacando rebotes ofensivos e defensivos e perseguindo qualquer adversário que ouse pensar em concluir uma bandeja no contra-ataque.

Olho nele: são tantos os jogadores interessantes no elenco do Denver Nuggets, que fica difícil escolher um. Desde a lesão de Danilo Gallinari, fora da temporada, a importância de Wilson Chandler só cresceu para o time do Colorado. Um jogador muito versátil e atlético, cobre espaços na defesa com tempo de bola preciso na ajuda e, na ofensiva, sabe se esgueirar entre os marcadores com facilidade. Sua presença é fundamental para que o criativo ataque de Karl funcione.

Palpite: Nuggets em seis (4-2).

4-LOS ANGELES CLIPPERS x 5-MEMPHIS GRIZZLIES

A história: é guerra. Desde o confronto pelos playofs do ano passado, esses times adquiriram um sentimento bonito e enobrecedor: um odeia o outro. É o que dá quando você coloca em quadra por quatro, cinco, sete partidas seguidas gente com a intensidade de Chris Paul, Tony Allen, Blake Griffin, Zach Randolph, Caron Butler ou Marc Gasol. Sai faísca. Nesta conferência, este é o jogo com maior pegada de Leste, com pancada para tod0s os lados,e sem nenhum inocente. Quer dizer, tirando o Mike Conley Jr. Em tempo: em 2012, deu Clippers por 4-3.

O jogo: sempre que puder, o Clippers vai tentar sair no contra-ataque com a explosão física devastadora de Griffin ou mesmo de DeAndre Jordan. Isso, claro, se o pivô gigante do ex-primo pobre de LA conseguir ficar em quadra, sendo sacado constantemente por Vinny Del Negro devido a suas panes defensivas e ao péssimo aproveitamento nos lances livres. Em um jogo mais lento, de posses de bola trabalhadas, todas as fichas do treinador são depositadas em Chris Paul, que age quase como um técnico independente em quadra e vai ter de se desdobrar, mesmo, diante da segunda defesa mais forte do campeonato. Esse tipo de jogo mais arrastado favoreceria ao Grizzlies, com a inteligência e diversos recursos técnicos de Marc Gasol.

De dar nos nervos: Tony Allen, cedo ou tarde, vai tirar alguém do sério. Não tem jeito. Em forma – coisa que não aconteceu nos mata-matas de 2012 –, Allen é um dos melhores defensores de perímetro da liga, ou o melhor, mesmo, com pés e mãos extremamente ágeis. Sim, ele vai bater de frente com Chris Paul nos momentos críticos da série, e essa vai ser uma batalha imperdível.

Olho nele: no banco do Clippers, a dupla Eric Bledsoe e Jamal Crawford já tem um chamariz, e tanto. Impossível assistir a Bledsoe e não lembrar de Westbrook, quando ele explode rumo ao garrafão e deixa múltiplos defensores comendo poeira. Um, dois, ninguém viu, já colocou na redinha. E Crawford pode ser hoje o melhor jogador de playground na NBA, colocando a bola no chão, atacando no um-contra-um e matando bolas pela direita, pela esquerda, e o defensor nem viu por onde ele passou. Mas, se você conseguir desviar o olho dessas duas peças, poderá notar todo o trabalho de Matt Barnes fora da bola. O ala é um dos caras que mais joga duro na liga e para o qual pouca gente dá muita ou sequer uma bola. Cortando para a cesta de modo incessante, passando a bola confortavelmente, atacando a tábua ofensiva em busca de rebotes, peitando quem quer que seja do outro lado na defesa, é um operário perfeito para qualquer time que se pretneda vencedor.

Palpite: sinceramente, não dá para arriscar nada aqui. Depende muito de jogo para jogo.


James Harden conta o seu lado da história e revela mágoa com ultimato do Thunder
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Giancarlo Giampietro

James Harden em foco

Muitas vezes é bem fácil tomar um lado, especialmente o do clube, e tacar uns bons xingos em direção ao atleta, né? Você não sabe as particularidades da negociação, apenas se perde nos números de seus salários e vai achar que tudo o que eles fazem, ou deixam de fazer, é um absurdo.

James Harden se recusou a continuar no Oklahoma City Thunder por causa de US$ 7 milhões? Mercenário.

James Harden preferiu trocar um candidato perene ao título por uma equipe em reconstrução? Não liga para vitórias, só qué sabê de grana.

Normal. Em todas as modalidades há muitos exemplos, mesmo, de jogadores que parecem não ligar para muitas coisas além da conta bancária, patrocínio, fama e outras amenidades. Na NBA, então? Tá cheio. Só não quer dizer que esse é o padrão, que todos sigam de acordo com essas regras.

Enquanto vai se adaptando a Houston, se sentindo mais confortável, o barbudo aos poucos vai abrindo o jogo sobre sua saída do Thunder. Contou seu lado da história na fracassada negociação para renovar o contrato, culminando em sua transferência para o Houston Rockets. Em entrevista ao Yahoo Sports, disse que recebeu um ultimato: que teria apenas uma hora para decidir se topava a última oferta da franquia. Se não, seria trocado.

“Depois de tudo que construímos, você me dá uma hora? Essa era uma das maiores decisões da minha vida. Queria ir para casa e rezar por isso. Isso me feriu. Feriu”, afirmou. “Quem sabe (o que iria acontecer se tivessem dado um prazo maior)? Outro dia, quem sabe o que outro dia teria feito?”, indagou.

Deixem o ala falar mais: “Ouvi muitas coisas. Ouvi que era ganancioso, que não me importava em vencer. Ouvi duvidarem de minha lealdade. E fiquei pensando: ‘É claro que quero vencer. Tenho vencido na minha vida toda’. Qualquer um tem sua própria opinião sobre mim. (Em Oklahoma) Fui para o banco de trás e fiz o que fosse necessário para o time vencer. Algumas noites eu pontuei. Em outras eu passei. O que fosse preciso para vencer. Agora estou de volta aos velhos tempos. Precisando ser o líder, precisando fazer cestas. Em qualquer situação, vou me dar bem”.

Deu para sacar que Harden precisava realmente desabafar, né?

Com esse espírito ele começou sua trajetória pelo Rockets avacalhando com a oposição. Foram 82 pontos e 19 assistências nos dois primeiros jogos. Isso rendeu, claro, muitas manchetes. Foi um chamariz danado. Vieram, então, as defesas mais apertadas, mais determinadas em parar o talentoso barbudo. Nas três partidas seguintes, três derrotas, ele foi limitado a apenas 17 chutes de quadra convertidos em 57 tentados (aproveitamento pífio de 29%). Ele também cometeu 16 desperdícios de bola. Aumentou a pressão. Na penúltima partida, foram apenas 4 em 18 arremessos. Cortesia da marcação de Tony Allen.

“Sabia que ele era capaz de conseguir algo em torno de 30 pontos. Ele tem jogado com um ar de vingança. Apenas quis ir para a quadra e competir e não ser um dos caras acertados por 30 pontos. Assumi isso como um desafio. E ainda tive a ajuda de muitos caras para marcá-lo”, afirmou o ala do Grizzlies, um voraz defensor.

Harden não é nem o jogador espetacular das primeiras duas rodadas, nem esse desastre ofensivo que os números das três derrotas podem indicar (mesmo porque ele sempre dá um jeito de contribuir se o arremesso não está caindo: cava muitas faltas, converte seus lances livres e ainda pode criar para os parceiros).

O que ele vai ser pelo Hoston a gente ainda não sabe.

Só dá para falar que magoado com o ex-clube ele está.


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