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0% NBA, Sérvia bate França e encontra EUA na final da Copa
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Giancarlo Giampietro

Teodosic, Bogdan-Bogdan: são de NBA, só não estão lá. Há vida na Europa

Teodosic, Bogdan-Bogdan: são de NBA, só não estão lá. Há vida na Europa

Algoz do Brasil, a Sérvia fez mais uma partidaça nesta sexta-feira. Tomou um susto danado da França, é verdade, mas conseguiu se segurar acima no placar para se garantir na final da Copa do Mundo. Vão desafiar os Estados Unidos no domingo.

É um confronto muito interessante, do ponto do vista brasileiro. Por aqui, a impressão é de que, no mundo do basquete, só a NBA importa, não? Este blog, mesmo, sublinha a tese, provavelmente com 95% de seu conteúdo dedicado à liga americana no decorrer de sua temporada. Mas a modalidade tem muito mais que isso. Como os sérvios podem atestar: em seu elenco, não há ninguém com contrato assinado com uma franquia dos Estados Unidos ou com o Toronto Raptors. Na decisão, vão enfrentar o Team USA, que… Bem, vocês entenderam, né?

Então está aí a seleção balcânica, mostrando que existe todo um mundo lá fora para ser observado. Agora, uma coisa é dizer que a Sérvia não tem nenhum atleta na NBA hoje. Outra, bem diferente, e afirmar que a equipe não tem nenhum atleta de NBA. Boa parte de seu elenco poderia estar por lá. Por diversas circunstâncias, só não há ninguém em atividade nos Estados Unidos neste exato momento.

(Antes de mais nada, um clamor aos navegantes: por favor, ignorem o fato de que na ficha do pivô Miroslav Raduljica, no site oficial do torneio, apareça “Milwaukee Bucks”. Reforçando: por favor, ignorem isso. Primeiro que, antes de o Mundial começar, ele foi trocado para o Clippers. Durante a primeira fase, acabou dispensado pelo ex-primo pobre de Los Angeles. Seu contrato foi rescindido. Está desempregado. Dizer que ele é da NBA, é a mesma coisa que, na Copa de futebol, falar que o David Luiz era o zagueiro do Chelsea, quando todos sabiam que já havia sido negociado com o Paris Saint-Germain.)

Gobert está na NBA: são 4 na França

Gobert está na NBA: são 4 na França

Seus melhores atletas já ganham uma boa grana defendendo gigantes europeus ou times de Euroliga: Milos Teodosic, Nemanja Bjelica, Nenad Krstic, Stefan Markovic e Bogdan Bogdanovic – provavelmente o mesmo destino de Raduljica após um torneio excepcional. Outros são muito jovens, ainda com tempo pela frente: Nikola Kalinic e, mais uma vez, Bogdan-Bogdan, que já foi selecionado pelo Phoenix Suns no último Draft e sobre o qual já escrevemos muito aqui. O restante está todo espalhado pelo continente e talvez não possa sonhar alto. Apenas o pivô Rasko Katic, de 33 anos, joga em seu país, pelo Estrela Vermelha – e ele mal entra em quadra pela seleção.

Desse grupo, é de se pensar o que o genial e genioso Milos Teodosic  poderia fazer na liga americana, ainda mais quando ele se apresenta tão solto e confiante como vem fazendo no Mundial, sem aquela nuvenzinha na cabeça. Por um lado, é um dos jogadores mais perigosos nas situações de pick-and-roll, algo que sempre vai ser feito na NBA. Tem visão de jogo e um arremesso em movimento que é espetacular. Por outro, sua aversão pela defesa é até folclórica na Europa, combinando com o jeito, hã, boêmio de tocar a carreira.

Nesta sexta, na partida mais emocionante da competição, Teodosic e seus companheiros derrubaram uma França que, mesmo com todos os seus desfalques, jogou o Mundial com jogadores sob contrato com clubes da NBA: Boris Diaw (Spurs) e Nicolas Batum (Blazers), sensacionais e importantíssimos para seus times, e os promissores Rudy Gobert (Jazz) e Evan Fournier (Magic), que ainda estão no início de suas trajetórias. Desse quarteto, Batum foi instrumental para que os franceses chegassem muito perto de uma vitória histórica.

A série “Cada Jogo É Uma História”, alardeada durante todo o campeonato, correu sério risco,. As duas seleções se reencontraram 12 dias depois do confronto pela fase de grupos, o qual os Bleus venceram por 74 a 73. E de virada – os sérvios chegaram a abrir 11 pontos na liderança. Na semi, a vantagem chegou a ser de 18, e os caras voltaram a levar um susto danado. não que não tenham assustado: chegaram a apertar as coisas de modo dramático no quarto período, 64 a 60, com 4min30s restando no relógio. A Sérvia, porém, se segurou, aproveitando seus lances livres e criando algumas boas jogadas contra uma forte defesa  para vencer por 90 a 85.

Sérvios comemoram com o técnico Sasha Djordjevic, que faz ótimo trabalho

Sérvios comemoram com o técnico Sasha Djordjevic, que faz ótimo trabalho

No primeiro tempo, os franceses simplesmente não conseguiram reproduzir a energia dos jogos anteriores contra Croácia e, principalmente, Espanha. Muito por conta da excelência de seu adversário, mas também por conta do forte componente emocional do triunfo contra os espanhóis, por tudo o que envolvia a partida: rivalidade entre as gerações, um favorito ao título e, ao mesmo tempo, o time da casa e o ginásio bombando.

O time chegou entre os quatro melhores do torneio com uma defesa sufocante, de muita envergadura, sem forçar muitos turnovers, mas contestando todo e qualquer arremesso, desde o semicírculo até a linha de três pontos. Nesta sexta, isso só aconteceu no quarto período. Os sérvios mataram 59% de dois pontos e 53% de três e conseguiram uma terceira vitória seguida impressionante. Recordem que, nas oitavas, haviam batido a Grécia por 90 a 72. Depois, aiaiai: 84 a 56 para cima do Brasil. Agora, o triunfo nem foi tão elástico, mas não deixa de ser convincente.

A Sérvia encontrou uma química perfeita em quadra, combinando força e leveza. Pode punir a defesa adversária tanto com o jogo físico de Raduljica e Nenad Krstic, como no jogo exterior ultralentoso de Teodosic e Bogdanovic, com a ajuda da consistência de Stefan Markovic e da explosão física de Nikola Kalinic. Claro que, no final das contas, num jogo de alto nível desses, foi o armador Teodosic quem mais desequilibrou. Tal como no duelo com o Brasil, destruiu no primeiro tempo com 18 pontos.

Outro de NBA, Batum jogou demais dos 2 lados da quadra

Outro de NBA, Batum jogou demais dos 2 lados da quadra

Embora o craque canalize muito do ataque, seu time tem se comportado de modo solto no setor ofensivo, com muita movimentação de bola, diversos passes extras e  saídas precisas e oportunistas no contragolpe. Agora, quando Batum praticamente tirou a estrela sérvia, de ação, as coisas engrossaram, mesmo. Teodosic só havia matado um arremesso em todo o segundo tempo, até converter um chute extremamente pressionado 2min55, para o fim (77 a 68). Ele usou muito bem os corta-luzes para se desmarcar. O duro é que, na sequência, Batum respondeu na medida, com mais uma bomba de três.

Os chutes de longa distância voltariam a cair com Diaw e Heurtel, diminuindo a vantagem para três, com menos de dois minutos. A pressão era extrema, mas Bogdan-Bogdan, Krstic e Kalinic fizeram o suficiente no ataque para estancar a hemorragia e marcar o encontro final com os Estados Unidos. Uma final de 12 astros da NBA contra o… Resto?

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Foi uma partidaça de Batum: 35 pontos (24 em bolas de 3!!!) e toda a defesa em cima de Teodosic. Incrível. E algo que muita gente esperava do ala francês. Seu talento não se contesta. Nos Estados Unidos, porém, muita gente estava esperando sentado para ver quando o francês ligaria o modo “matador” em seu jogo. Aconteceu nesta semi: 11/16

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Raduljica fez a cesta mais inusitada do Mundial, em uma situação delicada: a França havia encostado no placar, diminuindo a vantagem sérvia para apenas seis pontos. Restando 5min44s, Bogdan-Bogdan soltou uma bomba de passe na direção do seu pivô, que não conseguiu fazer o domínio. Era impossível, mesmo. Acontece que, involuntariamente, o grandalhão acabou espalmando a bola, que subiu o suficiente para bater no quadradinho e entrar para dois pontos. Ufa! Raduljica sorriu, enquanto, no banco, o capitão Nenad Krstic fez o sinal da cruz.

Na descrição do site da Fiba, foi computada como uma bandeja. No fim, não tem com descrever melhor que isso, mesmo:

raduljica-espalmada

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O técnico Aleksandar “Sasha” Djordjevic está de parabéns. Um armador cerebral e histórico nos tempos de Iugoslávia, ele faz apenas seu terceiro trabalho como treinador, depois de ter dirigido o Olimpia Milano em 2006-07 e o Benneton Treviso em 2011-12. Assumiu a seleção balcânica no ano passado, com um EuroBasket no currículo, ficando em sétimo. Para constar, seu currículo como jogador: tricampeão europeu, vice-campeão olímpico (Atlanta 1996) e campeão mundial em 1998 (sem NBA). Aos 47 anos, aposentado em 2005, parece ter excelente relação com seus comandados, falando a língua deles. Para quem preenche a folha corrida dessa equipe, sabe que não é das tarefas mais fáceis: os problemas de vestiário são uma constante por lá.

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Quem está adorando a capanha da seleção sérvia é este cara aqui:

Olha o que o tradutor do Google nos deu: “Que defesa, algumas duplas, que coragem! Bem feito. Teo, eu te amo na mão! Equipes contribuíram com um sorriso! O prazer é vê-los” (risos). Sem rodada de Copa Davis para disputar, o número um do mundo no tênis também vai se deleitando com sua seleção nacional. Ama o Teodosic e acha que o Raduljica faz todo mundo sorrir.

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Uma curtinha, para fechar. Ao comentar a barba de Raduljica, a dupla da ESPN – Cledi Oliveira e Wlamir Marques – chegou ao James Harden, claro, e a frase do verdadeiramente mítico Wlamir  para fechar o assunto foi:  “Aquele lá (Harden) acho que é o maior peladeiro que tenho visto hoje no basquete mundial”. Demais. : D


Bogdanovic: como construir uma jovem estrela sérvia
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Giancarlo Giampietro

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Este espaço vem batendo na tecla nos últimos dias contrapondo o impacto que a produção das categorias de base de Brasil e Sérvia tem na formação de suas respectivas seleções. O paralelo poderia ser feito com qualquer outro dos países que disputam as semifinais da Copa do Mundo, mas calhou de serem os balcânicos a surgirem no meio do caminho de um time nacional que realmente tinha esperança de brigar por medalha.

Dentre os muitos talentos sérvios lançados ano após ano, num ritmo muito mais acelerado que o Brasileiro, embora tenham população 20 vezes menor, o caso de Bogdan Bogdanovic me parece o mais interessante para ser investigado, envolvendo diversas facetas do basquete de lá que talvez ajudem alguma alma iluminada com poder de decisão no basquete brasileiro.

Com 22 anos, o ala-armador, uma das revelações a serem vigiadas no Mundial, aparece como o terceiro cestinha sérvio no torneio, atrás apenas de Miroslav Raduljica, um pivô que também nos conta uma lição, e Milos Teodosic, que andava deveras comportado até arrebentar com a defesa brasileira nesta quarta-feira. Em termos de eficiência, ele aparece em quarto na lista, superado também por Nemanja Bjelica. Todos eles mais velhos, diga-se. Agora, se formos ver o saldo de cestas de seu time nos minutos em que esteve em quadra, ele tem a melhor marca, com +7,9, batendo Teodosic, por exemplo, por 2,3 pontos. Número por número, acho que dá para eleger o rapaz já como um dos protagonistas da equipe.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan aqui errou a bandeja, acuado pela cobertura de Nenê: mas o garoto foi bem no geral, com 12 pontos, sendo assistido pelo gerente geral do Phoenix Suns na plateia

Algo que um ou dois anos antes não estava nada previsto. Bogdan-Bogdan é o protagonista de uma das ascensões mais significativas do basquete europeu em tempos recentes. Nesta escalada, boa parte do roteiro era planejada. Mas também não dá para negar que a interferência de umas pitadinhas de sorte.

Em maio de 2010, ele mostrou as caras para um bom contingente de olheiros nternacionais no tradicional Nike International Junior Tournament, em Paris. O sérvio foi inscrito como atleta do FMP, clube que revelou dos anos 90 para cá gente como Teodosic, Zoran Erceg, entre outros, mas, pelo que consta, estava apenas emprestado. A ideia era usar o torneio juvenil como vitrine para seus habilidades, neste tipo de combinação que agentes e equipes de menor orçamento podem realizar. Deu certo.

Segue um relato do DraftExpress, serviço de scouting dos mais prestigiados que você vai encontrar: “Bogdanovic tem um jogo bastante versátil ofensivamente. Ele pode criar seu próprio arremesso, cortando pela direita ou pela esquerda e também faz seus arremessos do perímetro, mesmo que seu lançamento precise ficar mais rápido e consistente. Ele também pode pontuar de costas para a cesta e dá sinais de que um jogo de meia distância está surgindo, especialmente com a cesta da vitória que fez contra o Málaga, garantindo uma vaga nas finais. Ele não estava completamente integrado ao time e, em algumas ocasiões, ele levou essa coisa de vitrine bem literalmente. Estava um pouco faminto cuidando de seu próprio arremesso, forçando algumas bolas bem ruins e arriscando infiltrações difíceis”.

Antes ser alistado pelo FMP, o garoto jogou pelo Zvezdara e pelo Žitko Basket. Ao final de sua participação naquela competição juvenil, conseguiu o que queria: um contrato profissional, e com o Partizan Belgrado, aos 18 anos. Em duas temporadas, foi aproveitado em apenas 23 jogos da liga local. Em 2012-13, porém, já estava mais preparado para entrar de vez na rotação dessa potência sérvia. Estreou na Euroliga e na Liga Adriática, com médias de 5 pontos no torneio continental, mas sentindo o peso da concorrência elevada (acertou, por exemplo, apenas 10 de 33 arremessos que tentou em seis jogos). No campeonato nacional, os números subiram para 9,8 pontos e aproveitamento superior a 42% nos chutes, com 39% de três. Alguns degraus foram escalados, mas ninguém imaginava o que viria a seguir.

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Aqui é importante explicar qual a realidade do Partizan hoje. Na Sérvia, os caras ganharam simplesmente os últimos 13 títulos. Sim, 13. No âmbito regional, ainda conquistaram seis das últimas oito Ligas Adriáticas, campeonato que reúne agremiações da antiga Iugoslávia. Nos Bálcãs, eles encaram concorrência chata – só foram campeões nacionais neste ano, por exemplo –, mas está claro que hoje são eles quem mandam por lá. Se for para olhar para o resto do continente, porém, a relativização deixa o clube pequeno. Seu orçamento é bem reduzido comparando com espanhóis, gregos e, especialmente, russos e turcos. Então o que eles fazem? Trabalham basicamente com atletas jovens, um ou outro americano disponível no mercado e veteranos sérvios, mas não os de elite: tanto que, na atual seleção nacional, não estão representados por nenhum atleta.

Para terem sucesso, dependem que esses garotos sejam realmente promissores e precocemente produtivos. O interessante é que, devido ao espaço e a visibilidade que acaba proporcionando, o time tem recebido também jogadores de outros países – na última Euroliga, contaram com três revelações francesas: o pivô Joffrey Lauvergne, outro semifinalista do Mundial e que já foi embora para a Rússia, e os armadores Leo Westermann e Boris Dallo. Todos saem ganhando: o Partizan ganha personagens talentosos para explorar, e os jovens recebem tempo de quadra para se desenvolverem e ganharem exposição.

Nesse contexto, Bogdanovic, em seu quarto ano de casa, foi alçado ao patamar de jogador-chave, sob a orientação do técnico Dusko Vujosevic. Esperavam dele uma produção consistente para conseguir, quiçá, uma campanha respeitável na Euroliga e manter a hegemonia balcânica. O ala-armador, do ponto de vista individual, superou todas as expectativas. Um fator que contribuiu para isso: uma grave lesão de joelho sofrida por Leo Westermann, que aumentou sensivelmente as responsabilidades de seu companheiro. Ele teve de ficar com a bola muito mais tempo em mãos – muito mais do que estava acostumado – e viu seu progresso ser bastante acelerado. Cometeu um caminhão de turnovers (3,4 por jogo), é verdade, mas teve liberdade para errar até se tornar também uma atacante mais confiante e com mais recursos ao final da jornada.

Ao analisá-lo quatro verões depois daquele torneio juvenil em Paris, Jonathan Givony viu um jogador formado. “O Bogdanovic se aproveitou da lesão para assumir  um papel muito mais proeminente no ataque como um condutor de bola primário e também como facilitador. Sua versatilidade é impressionante, liderando a equipe em pontos, assistências, tocos e taxa de uso, enquanto vai acertando 40% da linha de três”, afirma. “Não há dúvida de que, nesse meio tempo, ele emergiu como o prospecto mais intrigante da geração nascida em 1992 na Europa.”

Bogdanovic teve médias na Euroliga de 14,8 pontos, 3,7 assistências e 3,7 rebotes, além de 1,6 roubo de bola, em 31 minutos. Carregava uma carga pesada e conseguiu triplicar seus números em um ano, ajudando o Partizan a se classificar para a segunda fase do campeonato, o Top 16. Em sua melhor atuação, marcou 27 pontos em casa contra o CSKA, liderando uma rara vitória sobre um dos favoritos ao título, matando 10 de 16 arremessos. Fez também 24 pontos e 5 assistências contra o Bayern de Munique e o Zalgiris Kaunas e 25 pontos e 5 rebotes contra o Barcelona. No final, foi eleito a “estrela ascendente” do campeonato, entrando numa lista em que constam Ricky Rubio, Nikola Mirotic, Erazem Lorbek, Andrea Bargnani, Danilo Gallinari e Rudy Fernández.

Seu basquete, então, em uma temporada saiu de coadjuvante para algo muito acima do que o clube de Belgrado poderia pagar. Antes de ser selecionado pelo Phoenix Suns no Draft da NBA em 27º, foi transferido para o Fenerbahçe, no qual vai substituir seu xará Bojan Bogdanovic e será treinado pelo legendário Zeljko Obradovic (só precisa ver se Obrado estará com saco para aguentar mais um ano num elenco cheio de estrelas, mas que fracassou de modo retumbante no ano passado, causando ataques histéricos no técnico). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Passou a ser idolatrado pelos torcedores, a ponto de sua conta no Twitter ser: Líder da Horda. Então tá, né?

Pela seleção foi convocado pela primeira vez já para o EuroBasket do ano passado, com 21 anos. Teve médias de 9,4 pontos e 4,3 rebotes em 26 minutos, com 43,4% nos arremessos. Foi elogiado por Sasha Djordjevic, como uma das maiores promessas do basquete europeu. Na Copa do Mundo, depois de tudo, joga por 27,3 minutos, abaixo apenas de Bjelica, e soma 11,4 pontos, 2,7 rebotes e 2,6 assistências, com 49,2%, mantendo média próxima a 40% nos tiros de três em ambas as campanhas. Contra o Brasil, foram 12 pontos, 6 rebotes, 2 assistências, 2 tocos e 5/9 nos arremessos, em 26 minutos.

O gerente geral do Suns, Ryan McDonough, estava no ginásio em Madri e adorou o que viu. “Ele foi muito eficiente e conseguiu os arremessos que gosta de fazer, nos seus lugares preferidos. As cestas vieram com os pés plantados, a partir do drible e em infiltrações. Estou impressionado com sua capacidade para criar jogadas. Ele pode fazer um monte de jogadas que a maioria não consegue”, analisou em entrevista ao jornal AZ Central. “E o Bogdan tem essa atitude, e digo isso para o bem. Ele é competitivo, muito valente, confiante. Não vai recuar diante de ninguém.”

Importante dizer que, se no Partizan era o dono da bola, pela Sérvia ele só vai recuar em relação aos seus companheiros mais tarimbados. Na equipe semifinalista, a prioridade ainda fica para Teodosic e o jogo interno com Raduljica e Nenad Krstic. Aos 22 anos, há tempo pra tudo. Bogdanovic tem a idade de revelações brasileiras como Raulzinho, Lucas Bebê e Cristiano Felício. Porém, sem discutir a questão de quem seria mais talentoso que o outro, é fácil constatar que está num estágio de desenvolvimento muito mais avançado, já voando alto na carreira. É preciso apenas entender em que condições ele cresceu, qual foi o cenário para que ele pudesse chegar lá antes da maioria.


Sérvia se aproveita de destempero brasileiro, atropela e está na semifinal
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Giancarlo Giampietro

O jogo de contato de Raduljica incomoda. Uma falta nele, muita reclamação, e lá se foi o placar

O jogo de contato de Raduljica incomoda. Uma falta nele, muita reclamação, e lá se foi o placar

O jogo já estava complicado, duro, conforme o esperado. Até que, no início do terceiro período, um momento de destempero da seleção brasileira, a equipe mais velha da Copa do Mundo, foi praticamente mortal. Do seu lado, cheia de confiança, a Sérvia, num jogo de quartas de final, não ia permitir reação nenhuma. Não só administrou, como aumentou, e muito, a diferença, eliminou seu adversário e avançou para a semifinal – e a consequente disputa de medalhas. A equipe balcânica venceu por 84 a 56 e agora enfrenta a França, que surpreendentemente eliminou a Espanha.

O Brasil começou a terceira parcial de guarda baixa, permitindo que o adversário abrisse nove pontos de vantagem, após um primeiro tempo muito parelho. Depois de uma falta de Anderson Varejão sobre Miroslav Raduljica, a arbitragem sinalizou mais duas faltas técnicas contra Tiago Splitter e Marquinhos, com 7min19s no cronômetro. Os europeus fizeram cinco pontos nos lances livres e mais dois numa bandeja de Stefan Markovic, de modo que, com 7min10s, os brasileiros tinham novamente a posse de bola, mas com 16 pontos de desvantagem.

Um instante de descontrole emocional que acabou abalando um grupo com 31 anos em média (bem superior que a idade média dos sérvios, de 26). O técnico Rubén Magnano chegou a pedir um tempo de imediato, mas não foi o suficiente para acalmar sua equipe. O técnico argentino não viria a interferir na partida novamente, mesmo com a seleção ficando quatro minutos sem pontuar. Quando Raulzinho acertou um tiro de três a 1min18s do fim, ele estava apenas reduzindo um placar que já apontava 20 pontos de desvantagem. O quarto período começou com 66 a 44.

Bjelica faz a falta e pára o contra-ataque brasileiro: algo recorrente no primeiro tempo, em jogo tático dos sérvios

Bjelica faz a falta e pára o contra-ataque brasileiro: algo recorrente no primeiro tempo, em jogo tático dos sérvios

Cada jogo é uma história, mesmo. Esse duelo pelas quartas foi  completamente diferente do primeiro embate entre os times. Ainda pela fase de grupos, foi o Brasil que primeiro abriu uma larga vantagem no placar, de até 18 pontos, para depois sofrer uma virada preocupante. Ainda assim, a equipe nacional conseguiu se acertar no quarto período e triunfou.

Na primeira fase, os sérvios haviam vencido apenas os frágeis Irã e Egito, tendo perdido também para Espanha e França. Nos mata-matas, porém, o time elevou sua produção de modo impressionante. Nas oitavas, derrubou a Grécia, até então invicta, por 90 a 72, chegando muito mais preparada para uma revanche com os brasileiros.

Depois de comer poeira contra o Brasil no primeiro jogo, especialmente na etapa inicial, os sérvios praticamente abriram mão da disputa pelos rebotes ofensivos para recomporem sua defesa com mais agilidade. Na mínima chance de escapada dos adversários, não hesitavam em fazer faltas táticas, para frear o jogo. Deu certo.

Em meia quadra, a seleção nacional seguiu com dificuldades de execução, problema detectado desde a fase de amistosos. Se contra a Argentina os pivôs conseguiam se impor fisicamente, dessa vez a disputa, digamos, corporal era muito muito mais equilibrada. Os sérvios conseguiram proteger sua cesta com autoridade, limitando seu oponente com apenas 38% nos chutes de dois pontos (9/24) nos primeiros 20 minutos.  Os únicos que conseguiram ser produtivos lá dentro foram Varejão e Marquinhos. Varejão acertou apenas 2/7 nos arremessos, mas seguia firme no lance, em posição favorável para o rebote, cavando faltas, convertendo seus lances livres e, ufa!, chegando a oito pontos no primeiro tempo – a média no torneio era de 8,2.

A munheca certeira de Teodosic fez estragos: 10 lances livres convertidos também

A munheca certeira de Teodosic fez estragos: 10 lances livres convertidos também

Do outro lado, o time de Magnano simplesmente não conseguia segurar o genial e genioso Milos Teodosic. O experiente armador chamou muito o jogo na linha de três pontos e usou a largura de seus pivôs, especialmente Nenad Krstic, pivô que estava em forma muito melhor, se compararmos com sua exibição na primeira partida. O veterano, largo toda a vida, estabeleceu corta-luzes fortes, daqueles que castigam, mesmo, e liberou seu companheiro. Teodosic  teve espaço para chutar e criar – soube também explorar a recuperação tardia de marcadores para forçar a falta e infiltrar. Faltou comunicação entre seus marcadores. Se era para deixar algum rival livre, poderiam escolher qualquer um dos outros quatro, menos o armador. E ele fez a equipe pagar por essas falhas e hesitações, anotando 16 pontos dos primeiros 37 dos balcânicos.

Outro problema foi a contenção do talentosíssimo Nemanja Bjelica. O ala-pivô tem 2,08m, longas pernas e joga bem afastado da cesta. Tirava Anderson do garrafão e abria espaços. Quando precisou atacar no mano-a-mano, bateu o pivô capixaba com certa facilidade, invadiu o garrafão e pontuou. Faltou alguém fechar esse corredor na cobertura. As coisas só melhoraram nesse sentido quando Nenê veio para a quadra. O são-carlense tem recuperação muito mais ágil, cercando a turma do perímetro com mais controle.

No segundo tempo, a Sérvia variou sua abordagem, pingando bolinhas no pivô Raduljica. Uma opção que havia sido sua prioridade no primeiro confronto, lembrem-se, mas que havia sido descartada até então nesta quarta-feira. O sérvio marcou quatro pontos em menos de dois minutos. No ataque seguinte em que foi acionado, sofreu a falta de Varejão, e o resto foi história.

A seleção brasileira simplesmente saiu dos trilhos a partir daí, e seu adversário não teve piedade, nem oscilação, nem nada. Matou, no geral, 50% dos seus arremessos, ao passo que limitou seu adversário a 34%. Teodosic terminou com 23 pontos. Krstic, impressionante no terceiro período, fez 10 pontos, matando 5 de suas 7 tentativas de cesta. Mas os números, no fim, nem importam. A partir do momento em que as faltas técnicas foram marcadas, era como se Brasil e Sérvia tivessem entrado num terceiro jogo nesta Copa do Mundo, para o qual apenas os balcânicos pareceram preparados.


Brasil vence 75% de um jogo de xadrez e se posiciona bem para playoffs
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

OK, vamos estourar de cara: o fato e o nome do jogo foi Marquinhos. O ala se sentiu como se estivesse no ginásio da Gávea, tranquilão para matar 21 pontos e liderar o ataque brasileiro numa dura e importantíssima vitória sobre a Sérvia pela Copa do Mundo.

Foi 81 a 73, mas poderia ter sido mais. Ou pior, com triunfo para os próprios sérvios, dependendo de uma série de detalhes, que vamos destrinchar logo mais. Antes, explica-se o valor deste triunfo.

Não só significa que os brasileiros venceram dois times europeus nesta primeira fase, como também garante o segundo lugar e assegura um posicionamento, digamos, confortável nos playoffs, pensando longe. Basicamente: evita que eles se deparem com a poderosa Espanha numa eventual quartas de final. Isto é, se chegarem a esta etapa, vão ter, em teoria, um adversário mais fraco para entrar na disputa por medalhas.

Para garantir esse posto, foi preciso passar por um jogo de xadrez. Ou, num populacho, o jogo de gato-e-rato. Partidas de basquete no mais alto nível tendem a ser encaradas deste modo – a não ser no caso em que o adversário é tão superior, que não há artimanhas para desbancá-los. Não era o caso nesta quarta-feira.

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

A Sérvia, vejam só, veio para a quadra com uma formação monstruosa de grande. Três pivôs de 2,08m para cima, dois deles pesos pesados, procurando minar o garrafão brasileiro: o inigualável Miroslav Raduljica e o esforçado, mas limitado Vladimir Stimac. Quis descer a marreta no jogo interior e mastigar o aro. No primeiro tempo, deu certo: 9 rebotes ofensivos e 13 lances livres descolados!

Sucesso, né?

Necas. Nada disso: o Brasil venceu por 48 a 32 antes do intervalo. Seria o suficiente para dizer que o jogo estava ganho? Como vocês podem perceber pelo placar final, também não.

Para a segunda etapa, os adversários voltaram do intervalo com uma formação bem mais baixa, leve e técnica, com três armadores – em vez de três armários. Esse time fez a vantagem brasileira se evaporar em cinco minutos (foi 16 a 6 de cara). Rubén Magnano não intercedeu, eles foram pontuando, pontuando, pontuando, até que viraram o placar e chegaram a abrir sete. Os balcânicos começaram a se movimentar muito bem sem a bola, exigindo atenção e agilidade dos brasileiros – o que não acontecia. Foram quebras e quebras defensivas sucessivas, com Huertas envolvido em muitas dessas. É um problema constante no jogo do brasileiro, sabemos.

E o que acontece? Aparentemente senhora de si, a Sérvia voltou a concentrar, canalizar o ataque em seus pivôs. Foi um ajuste bem camarada do técnico Sasha Djordjevic, um dos grandes armadores dos anos 90, mas que priorizou as bolas previsíveis no mano-a-mano para um ancião o trombador Raduljica e um Nenad Krstic irreconhecível de tão lerdo.

Splitter, por conta própria, colocou no bolso o gigante Raduljica. O pivô, que vinha atacando com eficiência nesta Copa, com média de 15 pontos e 59,4% nos arremessos, produziu bem pouco (11 pontos e 5 rebotes, mais quatro turnovers). Seu repertório é feito basicamente de tranco, intimidação físicos e semi-ganchos lentos e mecânicos que só.

O único problema que essas investidas forçaram foi o acúmulo de faltas por parte dos pivôs brasileiros. Nenê ficou pendurado com quatro. Splitter chegou a cometer duas no primeiro período, mas teve sua situação muito bem monitorada pelo técnico argentino. Quando voltou para a quadra no quarto final, estava suficientemente resguardado para contestar o sérvio com vigor, coragem e, muito mais relevante, inteligência. Guardou posição, sem partir para o roubo ou o toco, cavou duas faltas ofensivas e deixou que o oponente se atrapalhasse sozinho. A retaguarda estava resolvida, também com boa participação de Larry para fiscalizar Milos Teodosic (14 pontos e 5 assistências em 25 minutos, saindo do banco).

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

Do outro lado, Marquinhos estava em tarde inspirada. Ele já havia matado suas duas primeiras bolas de longa distância no quarto inicial e carregou essa confiança para os momentos decisivos. Puniu a defesa sérvia nos instantes em que ficou desmarcado e teve a melhor pontuação individual de um brasileiro neste torneio.

O ala foi bem assessorado por Leandrinho no primeiro tempo (11 pontos em 16 minutos, terminando com 16 em 28, sem jogar nos minutos derradeiros) e pelo próprio Splitter no quarto final (10 pontos, 7 rebotes e 6 assistências, com seus deslocamentos irrevogáveis fora da bola e muita visão de quadra – foram deles os dois passes para bombas de três de Marquinhos que diminuiriam o placar de 67 a 60 para 67 a 66). É o tipo de rendimento que o Brasil vai precisar nessa campanha e muito mais sustentável que os tiros de fora de Marquinhos (não dá para esperar que ele vá desafogar o jogo com 6 acertos a cada 9 tentativas, convenhamos).

A combinação dos tiros de fora com o jogo interior é sempre a mais adequada para o jogo de meia quadra e funcionou muito bem, enfim, no quarto período. Se der para atacar em velocidade, em transição, tanto melhor, como aconteceu no primeiro tempo impecável.

O desafio agora é atingir a consistência. Dessa vez o que descambou foi a defesa numa parcial. Somando os primeiro, segundo e quarto períodos, o Brasil teria permitido apenas 41 pontos ao adversário. Excelente. Mas acabou tomando 32 no terceiro, com falhas que não vinham acontecendo.

De qualquer forma, o Brasil, que foi mais time em 75% do jogo, escapou com sua preciosa vitória. Nesta quinta, vai treinar contra o Egito. Depois, é hora de voltar jogar xadrez, mas com a pressão de que cada jogada em falso pode valer a eliminação.


Retorno de astros e impacto balcânico marcam início de pré-temporada da NBA
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, o Retorno de Verdade

A fase de pré-temporada nem sempre vale para prever o sucesso deste ou daquele jogador na NBA de verdade. Mas, ao menos, já se apresenta como um estágio muito mais avançado na linha de avaliação de um atleta se comparado com o que vemos em julho durante as peladas das ligas de verão: 1) os atletas estão trajando uniformes oficiais e 2) são orientados pelos treinadores principais de cada clube; 3) em quadra estarão concorrentes que, em grande maioria, têm contrato garantido para todo o campeonato, ou múltiplos campeonatos; 4) os treinadores começam a definir suas rotações, então há uma boa chance de que os sistemas usados e as combinações de atletas se repitam nos meses seguintes ­– claro que com melhor execução; 5)seis faltas representam a exclusão, em vez de dez; entre outros fatores.

Até esta terça-feira, após uma dessas rodadas malucas com oito partidas de uma vez, tivemos já/só () 14 jogos preliminares computados. Pode parecer pouco – depende do quão faminto você estava –, mas algumas notinhas podem ser destacadas:

– Derrick Rose, a mais óbvia e provavelmente a mais aguardada. Como quase todo o seu jogo é baseado em atributos físicos anormais, havia uma tensão daquelas no ar em Chicago sobre como o astro retornaria de uma cirurgia no joelho que o tirou de toda a temporada passada. Estaria explosivo como antes?  Segundo todos os relatos após as duas partidas, contra Pacers e Grizzlies, antes de sua viagem rumo ao Rio de Janeiro, o armador voltou com tudo, alegando ter até mesmo ganhado alguns centímetros em sua impulsão. “Era só que faltava”, pensou um Mario Chalmers. Tom Thibodeau está feliz da vida – acreditem é possível –, enquanto os jogadores do Bulls acreditam que o time encontrou sua versão mais forte nesta era. As expectativas só crescem para a franquia.

– Há muito mais gente retornando de cirurgias graves além de Rose. Na primeira rodada da pré-temporada, enquanto os torcedores do Bulls examinavam o armador nos mínimos detalhes, os fãs do Pacers deveriam estar ligados na forma física de Danny Granger, também operado no joelho. Granger pareceu um pouco “enferrujado”, de acordo com Frank Vogel, contra o Bulls, sem surpresa nenhuma. Talvez por isso tenha ficado 29 minutos em quadra, para ver se pega no tranco – e o time de Indiana precisa checar desde já se pode contar realmente, ou não, com seu ex-cestinha para tentar o titulo em junho.

– Em Los Angeles, enquanto Kobe Bryant curte alguns dias na Alemanha depois injetar mais plasma em seu moído joelho, ainda sem saber quando poderá estrear na temporada, Pau Gasol se torna uma figura fundamental para qualquer plano competitivo que o técnico Mike D’Antoni possa ter. Então até mesmo o treinador, conhecido por ignorar algumas precauções médicas, vem sendo cuidadoso com a reinserção do espanhol em seu time, maneirando na carga de treinos e em minutos da pré-temporada. Mais um a sofrer cirurgia no joelho, por conta de suas crônicas tendinites, o pivô ficou fora da vitória contra o Golden State Warriors no sábado, mas ficou em quadra por 23 minutos contra o Denver Nuggets. Steve Nash também ganhou o mesmo tratamento. No caso do armador, o jogador mais velho da NBA, prestes a completar 40 anos, o controle de minutos vai valer para todo o campeonato.

– A NBA dá sequência ao crossovers com os clubes europeus. Se a abertura da pré-temporada foi reservada ao um duelo de potências dos dois lados do Atlântico, entre Oklahoma City Thunder e o turbinado Fenerbahçe, dois confrontos entre pesos penas também tiveram sua vez, com o Philadelphia 76ers e o Phoenix Suns, dois candidatos seriíssimos a saco de pancada no campeonato, envolvidos. Coincidência?

No País Basco, o Philadelphia 76ers enfrentou o Bilbao e venceu no finalzinho, por dois pontos de diferença. Evan Turner, ala que entra possivelmente em sua campanha de agora-ou-nunca, enfim tem o time todinho só para ele: foi o cestinha (25 pontos), o segundo a ficar mais minutos em quadra (31, um a menos que o comparsa Thaddeus Young), quem mais arremessou (15) e também quem mais cometeu turnovers… Vem tudo num pacote. O clube espanhol conta com um velho conhecido do Utah Jazz, o armador Raúl López, que já foi considerado o sucessor de John Stockton por lá e era muito mais bem cotado que Tony Parker no início da década passada. Na segunda, em Phoenix, o Suns recebeu o Maccabi Haifa e promoveu um espancamento, vencendo por 130 a 89. Seis de seus jovens jogadores anotaram 10 ou mais pontos.  Este é o segundo ano seguido que o time israelense visita times nos Estados Unidos, num arrojo um tanto masoquista. São campeões israelenses e tal, mas não estariam nem entre os 20 – ou 30? – melhores clubes do Velho Continente. De qualquer forma, levando em conta a imensa colônia judaica ianque, ao menos vendem melhor sua marca. Ao menos ambos os clubes começaram suas campanhas com vitória. Que comemorem enquanto podem.

– Por sorte, nem Suns, nem Sixers enfrentarão o CSKA Moscou, que bateu o Minnesota Timberwolves por 108 a 106, na prorrogação, para somar seu segundo triunfo em solo norte-americano. A equipe russa contou com uma atuação magistral do armador Milos Teodosic. Um dos jogadores mais marrentos, boêmios, tinhosos, displicentes do mundo, mas extremamente talentoso, o sérvio arrebentou com Rubio, Shved e AJ Price. Recuperado de uma lesão muscular na panturrilha que o tirou do Eurobasket, ele saiu do banco e marcou 26 pontos em 29 minutos, de modo balanceado: 12 em tiros de três, seis em lances livres e oito em bolas de dois. Some aí nove assistências e cinco rebotes, e temos uma das melhores atuações de um jogador europeu contra os “profissionais da NBA”. Incrível? Nah. Só uma amostra do que Teodosic é capaz, quando joga motivado em provar que é dos melhores na posição, sem querer atirar tudo da metade da quadra. Fez de Ettore Messina um treinador feliz.

– Outra jovem estrela dos Bálcãs a deixar sua marca contra os norte-americanos foi o ala croata Bojan Bodganovic, na derrota do Fenerbahçe para o Thunder, com 19 pontos em 31 minutos. É um jogador de 24 anos e estilo clássico (um jogo limpo, sem muita firula com a bola, mas bastante produtivo), bem fundamentado, com tino para conseguir cestas quando bem entende. Por outro lado, precisa desenvolver seu passe e a defesa. Seus direitos pertencem ao Brooklyn Nets, e, no momento, tudo leva a crer que se apresentará na próxima temporada ao clube nova-iorquino ­– a negociação para renovar com o Fener está enroscada­ –, para jogar ao lado de Paul Pierce e Joe Johnson no perímetro.