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Ex-pivô da NBA é preso com um arsenal em casa
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Giancarlo Giampietro

Swift foi companheiro de Durant e Westbrook em OKC. Por pouco tempo

Swift foi companheiro de Durant e Westbrook em OKC. Por pouco tempo

Toda vez que for defender a ideia de que um limite de idade é necessário um limite de idade para a inscrição no Draft, pode ter certeza de que a direção da NBA vai usar o nome de Robert Swift como um exemplo fundamental em sua apresentação de defesa, enquanto o outro lado tem um LeBron ou um Kobe como contrapeso. Todos atletas que saíram do colegial direto para a grande liga e tiveram caminhos distintos, claro. Justo? Claro que não. Afinal, há diferenciação também entre formandos, segundanistas, estrangeiros etc. Toda categoria tem seus sucessos e fracassos.

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Mas é que, no caso do magricela, branquelo e ruivo, a história é realmente forte e alarmante. Daquele tipo de trunfo que, nos filmes de tribunal, vai aparecer na última hora para salvar toda uma tese. O ex-pivô tornou a ocupar os noticiários policiais nesta sexta-feira, como personagem de causo realmente escabroso.

A imprensa norte-americana teve acesso a um inquérito em que Swift aparece como suspeito de envolvimento com tráfico de drogas. Uma investigação na pequena cidade de Kirkland, interior do estado de Washington, levou os oficiais a invadirem uma residência em que o gigante de 2,13 m e 28 anos dividia com Trygve Bjorkstam, 54. Os dois foram presos.

O arsenal assustador de Swift

O arsenal assustador de Swift

Na casa, além de drogas e utensílios para uso, foram encontradas armas. Muitas armas, como pistolas, espingardas, espadas katana e até mesmo um lançador de granadas. Em depoimento, Swift se assumiu como dono desse verdadeiro arsenal. Ele atuava como uma espécie de segurança de Bjorkstam, que lhe fornecia heroína diariamente. Ajudava na cobrança de dívidas e na proteção do estoque de entorpecentes.

O ex-jogador do Seattle Supersonics/Oklahoma City Thunder e o traficante dividem domicílio desde abril. No ano passado, ele foi despejado de uma mansão de mais de US$ 1 milhão por dívidas. Depois de muito relutar, deixou a residência, que se encontrava em estado precário, com fezes de cachorro, latas de cerveja vazia, caixas de pizza e buracos de bala. Tudo lamentável. Mas talvez o item que mais chamasse a atenção fosse uma caixa fechada com cartas com ofertas de diversas universidade, na tentativa de seu recrutamento.

Isso foi em 2004, quando Swift era um promissor pivô de 18 anos saído do high school em Bakersfield, na Califórnia. Ele chegou a acertar verbalmente com a Universidade de Southern California, mas optou pela rota profissional depois de impressionar os olheiros da NBA. Acabou escolhido pelo Sonics na 12ª posição da quele ano.

Obviamente o clubeSeattle sabia que estava lidando com um projeto de longo prazo. Na primeira temporada, ele participou de apenas 16 partidas, com 4,5 minutos em média. Em 2005-2006, os números subiram para 47 partidas e 21 minutos, acompanhados também de um salto qualitativo. Ao iniciar o terceiro ano, veio o baque: sofreu uma ruptura de ligamento cruzado anterior logo na estreia na pré-temporada. Perdeu todo o campeonato. Quando retornou, mal havia esquentado e sofreu outra lesão, dessa vez no menisco. Em dezembro de 2009, já com a franquia deslocada para Oklahoma City, acabou dispensado, aos 23 anos.

Robert Swift, antes e depois: transformação no visual ainda em tempos de NBA

Robert Swift, antes e depois: transformação no visual ainda em tempos de NBA

Swift ainda procurou a D-League, mas não tinha forma física, nem condições emocionais de retomar a carreira de imediato, já enfrentando problemas legais, tendo sido preso por dirigir embriagado, com condução de risco. Na temporada 2010-2011, chegou a encarar uma aventura no Japão, sob o comando de seu ex-treinador em Seattle, o veterano Bob Hill. Estava jogando bem, quando seu clube, o Tóquio Apache, encerrou suas atividades depois do tsunami que abalou o país em 2011. O pivô ainda fez um teste pelo Portland Trail Blazers e não foi aprovado.

Entrando em reclusão, o pivô só reapareceu quando veio a pública o fato de sua casa ter sido hipotecada em 2013. Agora reaparece preso prisão por posse ilegal de armas, pouco mais de dez anos depois de ter sido selecionado pelo Sonics. Uma sucessão de fatos deprimentes para um garoto, que parecia com a vida encaminhada após tempos difíceis durante a infância, encarando dias em que não havia garantia de uma refeição adequada. Em cinco anos de NBA, ganhou mais de US$ 11 milhões em salário.

Olhando em retrospecto, seria fácil dizer que Swift cometeu um erro ao pular diretamente para a NBA. Do ponto de vista psicológico, principalmente, a julgar pela descarrilada que teve a partir das lesões que o afastaram da quadra. Tecnicamente, após um ano de adaptação, estava começando a deslanchar. Qualquer julgamento, porém, é no mínimo precipitado.

Swift, na fase japonesa

Swift, na fase japonesa

É só recuperar o Draft beeem peculiar em que foi recrutado, especialmente para pivôs. Em primeiro, por exemplo, saiu Dwight Howard, outro colegial, logo acima de Emeka Okafor, um junior. O próximo grandalhão a entrar na lista foi ninguém menos que  Rafael “Baby” Araújo, um senior, em oitavo. Andris Biedrins foi chamado em 11º. Em 15º, lá estava Al Jefferson, também adolescente. Josh Smith, em 17º. O gigante russo Pavel Podkolzin saiu em 21º. Anderson Varejão caiu para 31º, dois postos antes de Peter John Ramos, o gigante porto-riquenho. Que gangorra, hein? Uma loteria.

E sabem do que mais? Não é segredo algum que, naquele ano, Danny Ainge fez das tripas coração para selecionar Swift para o Boston Celtics. Era seu alvo primordial. Acima de Al Jefferson. Ele, na verdade, tinha certeza de que contrataria o pivô, até o Seattle frustrar seus planos. Tivessem as coisas acontecido de outra maneira, como estariam os dois? Seria Jefferson um companheiro de Kevin Durant até hoje? Vai saber. Nessa realidade paralela, porém, é certo que todos esperassem um final bem diferente para o outro pivô.


Milwaukee Bucks, um time de futuro. Mas para quem?
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas para a NBA 2014-2015

Jabari, Jabari e o futuro do Bucks. Em Milwaukee, por enquanto

Giannis, Jabari e o futuro do Bucks. Em Milwaukee, por enquanto

Enquanto o Philadelphia 76ers não escondia de ninguém que mais queria perder do que qualquer outra coisa na temporada passada, o Milwaukee Bucks conseguiu superá-los nesse sentido, mesmo quando sua intenção era ser competitivo. Com muitas contratações redundantes e/ou furadas, o gerente geral John Hammond se viu obrigado a entrar na dança do entrega-entrega, desencanando dos playoffs no meio do caminho e mergulhando profundamente rumo ao Draft. Deu… hã… certo. Terminaram com a pior campanha.

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Para uma torcida que teve de aturar uma temporada deprimente dessas, porém, só fica um alerta: enquanto a franquia e a cidade não chegarem a um acordo para construir um novo ginásio, é melhor não se apegar muito a esta base de jogadores extremamente promissores. Quando Wes Edens e Marc Lasry compraram o clube no ano passado por US$ 550 milhões, a NBA impôs uma cláusula no contrato: se em 2017 não houvesse um avanço significativo na construção da arena, a liga teria o direito de comprá-lo de volta para realocação. Isto é: mudança de caixa postal.

Recentes reportagens de Milwaukee, embora sem nenhuma fonte citada, dão a entender que Edens e Lasry estariam bem perto de comprar um quarteirão inteiro de prédios no centro para demoli-los e abrir espaço para a prometida obra. Seria um indício de que os novos proprietários falavam sério quando fecharam o negócio e anunciaram que haviam chegado para ficar.

O Bradley Center já é considerado muito datado para os padrões da NBA

O Bradley Center já é considerado muito datado para os padrões da NBA

Enquanto o martelo não for batido, qualquer desconfiança se justifica, gente. Foi assim com Michael Heisley e o Vancouver Memphis Grizzlies e com Clay Bennett e o Seattle SuperSonics Oklahoma City Thunder. Os dois magnatas fizeram juras de amor para as cidades originais e não demoraram nem um ano para lhes tirar a franquia.

No caso de Milwaukee, o golpe poderia ser tão duro como aquele que sofreu Seattle. O torcedor da metrópole do noroeste americano viu seu time ser campeão nos anos 70 e alternar bons e maus momentos até adquirir um jovem Kevin Durant no Draft de 2007, vê-lo em ação por apenas uma temporada e depois entrar em fase de reclusão quando o astro e a equipe foram levados para bem longe dali. Seria um roteiro bem semelhante no Winsconsin.

Giannis, o Greek Freak

Giannis, o Greek Freak

Os fãs do Bucks podem ter aturado 67 derrotas na campanha passada, mas ao menos puderam se divertir com as estripulias de Giannis Antetokounmpo, o menino de 19 anos que estava na segunda divisão grega em 2013 e encanta a todos que o observam em ação, até mesmo os adversários. Para este ano, ganharam de presente um Jabari Parker, ainda em fase de adaptação, mas cotado como um cestinha versátil e futuro All-Star. O armador Brandon Knight vai progredindo a passos largos, tendo ainda apenas 22 anos. Seriam as três principais apostas, mas a verdade é que o elenco tem uma extensa lista de atletas interessantes para acompanhar – de preferência in loco.

O time: a contratação de Jason Kidd foi surpreendente, mas parece bastante apropriada. Um treinador igualmente jovem e que vai se testando na liga. Em seu primeiro ano na profissão, começou bem mal pelo Nets, mas desenvolveu um estilo de jogo criativo que elevou o potencial das peças que tinha em mãos e rendeu bons resultados a partir de janeiro. Paul Pierce, Mirza Teletovic, Andrei Kirilenko, Joe Johnson, Andray Blatche… Eram muitos atletas que podiam executar diversas funções para ficarem presos a “posições”. Seu plantel em Milwaukee sugere a mesma abordagem.

É o que ele mesmo afirma ao comentar sobre o potencial de Jabari Parker numa rara longa entrevista: “Ele é um jogador de basquete, então podemos jogar fora estes números todos: 3, 4… O que importa é colocar seus cinco melhores jogadores na quadra e encontrar um meio para vencer”. Depois, ao falar sobre a recente desaparição do ala Kris Middleton de sua rotação, deu mais pistas de que todos ali podem ser intercambiáveis: “Vamos ver o que o jogo pede. Temos muitos caras no perímetro e entre os guards. O Nate (Wolters) provavelmente já mostrou que pode jogar por nós também. Estamos usando 11 e quase 12 atletas por partida. Vamos usar os caras que sintamos que se encaixam em determinado momento e placar do jogo”. Isso para não falar de Antetokounmpo: é impossível defini-lo como jogador neste momento.

Uma escalação com Knight, Antetokounmpo, Parker, Ilyasova e Sanders, por exemplo, seria das mais atléticas e de maior envergadura da liga. A aparente recuperação de Sanders, aliás, vem em ótima hora: o pivô é dos mais ágeis e explosivos que se vai achar por aí. O mesmo vale para John Henson, que merece mais tempo de quadra, a despeito do físico franzino.

Brandon Knight: excelente começo de temporada, no último ano de contrato

Brandon Knight: excelente começo de temporada, no último ano de contrato

Só fica a dúvida se o treinador pretende realmente caminhar na temporada com 11 atletas firmes na rotação, como aconteceu nas primeiras sete partidas. Mesmo os mais jovens não estão habituados a uma divisão de minutos assim na NBA, o que pode gerar alguma fricção entre eles, chiadeira com técnico e direção etc.

Olho nele: OJ Mayo. Não tem muito jeito. OJ já vai ficar marcado em sua carreira por pelo menos dois pontos: 1) na época de colegial, foi badalado de um jeito em que os scouts americanos acreditavam estar diante do próximo grande astro pós-LeBron; 2) foi o cara pelo qual o Memphis Grizzlies abriu mão de Kevin Love no draft de 2008. Ouch. Mesmo não tendo virado o jogador que muitos esperavam, Mayo ainda pode ser um minimamente decente ao lado dos garotos de Milwaukee. Depois de uma campanha razoável pelo Dallas Mavericks em 2012-2013, ele foi contratado pelo Bucks como um eventual substituto para Monta Ellis, mas fez uma campanha horrorosa, se apresentando muito acima do peso. Neste ano, com alguns quilos a menos e mais motivado, teve boas partidas na pré-temporada, prometendo deixar o passado para trás. A ver.

Abre o jogo: “Para nós, é um processo de entender o que é necessário para vencer, e os caras já começaram esse processo ao chegar mais cedo, trabalhando durante o dia e depois voltando de noite para trabalhar mais um pouco. Quando você olha ao redor da liga para os times que fazem isso, vai ver que as equipes que venceram consistentemente 50 jogos por ano são as que fazem disso um trabalho, que evoluem em seu ofício e se tornam consistente. Quanto maior tempo que você passa no ginásio, maiores as chances de isso acontecer”, Kidd, sobre a diferença de trabalhar com um elenco noviço, muito mais inexperiente se comparado com o do Nets.

Kidd, Lasry, o banner do título e confusões em Milwaukee

Kidd, Lasry, o banner do título e confusões em Milwaukee

Você não perguntou, mas… a chegada de Kidd a Milwaukee não foi das mais tranquilas e deixou muita gente atônita. O que aconteceu foi que o treinador simplesmente tentou dar um golpe em Brooklyn para destronar o gerente geral Billy King e assumir toda a gestão do departamento de basquete. Pois o russo Mikhail Prokhorov e seus homens de confiança se mantiveram leais a King, recusando as investidas de o pretenso usurpador. Sem clima, o ex-armador buscou alternativas e logo encontrou o Milwaukee de Marc Lasry, que já foi seu conselheiro em investimentos financeiros. Tsc, tsc. Parecia claro que Kidd já tinha o Bucks como um plano B. Mesmo que Larry Drew ainda estivesse sob contrato. Esse, sim, ele conseguiu derrubar. O cartola John Hammond que se cuide.

Glenn Robinson, Big Dog, Bucks, MilwaukeeUm card do passado: Glenn Robinson. O Cachorrão fez parte de um núcleo também jovem-promissor-e-tal que o Bucks montou em meados dos anos 90. O cara foi, inclusive, a primeira escolha do Draft de 1994, logo acima de Jason Kidd (e Grant Hill, para constar) – o que, na história revisada, vale como um baita de um erro. Robinson foi um cestinha profícuo, com média de 20 pontos por jogo na carreira, mas pouco eficiente. De qualquer forma, quando ganhou a companhia de um jovem Ray Allen e do já tarimbado Sam Cassell, sob a orientação de George Karl, disputou três playoffs em sequência entre 1999 e 2001, tendo alcançado inclusive as finais de conferência no último ano. Além disso, o ala é daqueles que faz o blogueiro se sentir velho, uma vez que seu filho, Glenn Robinson III, acabou de ser draftado pelo Minnesota Timberwolves, aos 20 anos. Para acomodá-lo no elenco, o time dispensou José Juan Barea, com um contrato de US$ 4 milhões garantidos.


As estranhas relações entre duas atrações imperdíveis do Lollapalooza e a NBA
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Giancarlo Giampietro

Shaq Fu

Shaq Fu! Aaaargh

É muito mais fácil ligar o basquete ao rap, ainda mais depois da geração gansta. Existem até mesmo aqueles cestinhas que se meteram a besta como artistas fora de quadra também, e a gente sabe que quase nunca isso vai dar certo. Shaquille O’Neal, Allen Iverson e o nosso lunático anti-herói Ron Artest, justo ele, podem rimar alguma coisa a respeito.

Por outro lado, tem gente que, em outro estilo, mandou muito bem, como o finado Wayman Tisdale, que talvez tenha sido um melhor baixista de funk/jazz do que ala-pivô, embora fosse um habilidoso jogador para pontuar no garrafão – e não muito mais que isso.

Agora, com o festival Lollapalooza chegando a São Paulo com sua edição 2013 neste fim de semana de Páscoa, o blogueiro tem a chance de roubar um pouquinho e falar sobre outra coisa que lhe apetece. Mas, ok, para não soar ofensivo ao batalhador leitor que já podia reclamar do cansaço e da  perda tempo neste espaço, a gente dá um jeito de jogar o basquete no meio dessa história.

*  *  *

OS PIONEIROS CULTS DE OKLAHOMA CITY

Wayne Coyne

Flaming Lips, de Wayne Coyne, e seu ritual estão prestes a voltar ao Brasil

Kobe Bryant deve ter feito das suas. Alguma bandeja reversa por baixo do aro. Alguma mudança brusca de direção seguida de enterrada. Um arremesso em flutuação na zona morta, com o corpo já atrás da linha da tabela. Qualquer coisa desse tipo que tenha feito o esquisitão Wayne Coyne vibrar na plateia. Atitude que foi imediatamente repreendida.

“Mas aquilo foi maluco! Quem é aquele?”, perguntou o músico. Explicaram de quem se tratava e completaram que ali, na cidade deles, meu chapa, ninguém vai aplaudir alguém que jogue do outro lado, não importa quem ou o que o sujeito tenha feito.

Wayne Coyne, o líder do Flaming Lips, atração do festival paulistano na sexta-feira, é do tipo de pessoa que realmente não sabe quem seja esse tal de Kobe. Sua cabeça já anda bastante ocupada com muita coisa: as trezentas parcerias musicais que podem ser engatilhadas nas próximas semanas, com robôs que aterrorizem a pequena Yoshimi, sobre como os efeitos do ácido podem ser positivos para um ser-humano antes do almoço e de como poderia usar a próxima representação de vagina e/ou bichos de pelúcia em um palco, galeria ou kit para imprensa. É maluco, mas, no universo criado pela banda, acontece tudo de modo muito pueril, acreditem.

(Já entrei nessa isso em duas ocasiões, em 2005 aqui em Sampa, em 2011 em Santiago. É um ritual especial. O sujeito vai entrar em uma bolha de plástico e andar/rolar por cima de centenas no público. O telão sempre trazendo algo surpreendente para a apresentação. Eles vão estourar muitos confetes, serpentinas e balões de plástico. A banda emenda alguns refrões cativantes em sequência. O plano é fazer de tudo para que o show de sexta-feira seja inesquecível. Lendo assim, pode parecer apenas uma festinha tonta para a criançada mal-crescida, e talvez seja isso mesmo. Mas só vendo ao vivo para saber.)

Calha que a banda tem como base a mesma Oklahoma City do Thunder. Muito antes de Kevin Durant tomar conta dos outdoors e ser cultuado – junto com Westbrook e a barba de James Harden –,  Coyne, de 51 anos, e seu grupo eram os que mais chegavam perto de celebridades locais.

"Thunder Up", Coyne!

Wayne Coyne comemora. Resta saber apenas se foi cesta do Thunder

Ao contrário do Thunder com seus jovens superastros, o Flaming Lips nunca foi necessariamente um arrasa-quarteirão de vendas, embora tenham ganhado fama mundial no mesmo período em que sua cidade floresceu. Eles deram uma piscadela para o estrelado com a trilogia “The Soft Bulletin”(1999), “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002) e “At War with the Mystics” (2006), ganhando três Grammys, mas não tardaram em recuar para suas trincheiras obscuras.

Antes desse flerte com o mainstream, por exemplo, haviam gravado um disco quádruplo – “Zaireeka”, de 1997 – cujas partes deveriam ser tocadas simultaneamente numa orquestra do barulho (leiam com a voz do locutor global na cabeça, por favor, anunciando a próxima atração da “Sessão da Tarde”). Você pode entender como uma “coisa-de-lôco”, um lixo irrecuperável, mas eles sinceramente não se importam. Em um projeto mais recente, lançado no ano passado, fizeram um álbum coletivo – “The Flaming Lips and Heady Fwends” –, trocando arquivos de músicas com colaboradores espalhados pelo mundo todo, apresentando gente como Chris Martin, do Coldplay, e Bon Iver, para depois costurar tudo.

Enfim, antes da migração do Supersonics para Okahoma City, quais as referências possíveis da cidade para aqueles fora dos Estados Unidos? Para a maioria, provavelmente apenas o lamentável atendado de 1995,  que resultou na morte de 168 pessoas e em outras 684 feridas. Mas, pelas razões citadas acima, para um pequeno grupo de seguidores, havia também os Lábios Flamejantes.

Hoje, a coisa mudou. Quando o líder do grupo é abordado em turnês pela Europa, Austrália e, de repente, aqui no Brasil, o que ele mais ouve é sobre os fedelhos do Thunder, como as pessoas gostam de assistir aos jogos deles. Durant, Westbrook e, snif! snif!, James Harden haviam ultrapassado sua popularidade.

O time se tornou o símbolo perfeito para a revitalização por qual passou Oklahoma City da década de 90 para cá. De uma terra perdida no meio dos Estados Unidos, onde se encontram diversas formações vegetais, uma área de confluência climática e também de diversas culturas das diferentes regiões que a rodeiam, a cidade se tornou um pólo econômico e criativo.

Embora o grupo de Coyne tenha feito uma música que virou o hino oficial de rock da cidade – a encantadora “Do You Realize???”, do vídeo acima –, o Flaming Lips, com sua psicodelia e provações constantes, nunca seria mesmo um símbolo de nada institucional, muito menos em um território ainda bastante conservador. Um nativo que nunca deixou o local, por mais que Nova York ou Los Angeles pudessem ser muito mais convidativas e cômodas para sua carreira, Coyne reconhece a importância do clube nesse sentido, diante do ressurgimento de Oklahoma City. “Acho que as pessoas gostam da ideia de que, seja o roqueiro malucão ou o jogador de basquete, nós todos temos este espírito da cidade. É algo que eu realmente não acho que existe. Mas o Thunder provavelmente conseguiu unir isso mais do que qualquer um”, disse em entrevista ao New York Times, em abrangente reportagem sobre a relação da equipe e a cidade.

No ano passado, durante os playoffs, o Flaming Lips até regravou um de seus hits – acho que dá para ser classificado como um hit –, “Race for the Prize” como um hino para o time: “Thunder Up!”, sendo tocado minutos antes dos jogos. ‘”Kevin Durant / don’t say he can’t!”, diz um trecho da letra. Veja abaixo a versão atualizada, seguida pela original ao vivo:


Só não peçam que Wayne Coyne entenda alguma coisa de basquete. “Quando você está lá, não é que um jogo seja um evento que siga um script de Steven Spielberg. Fico meio confuso. Será que nós vencemos? Eles venceram? E, quando você olha para o placar, bem, será que o jogo acabou?”, disse ao NYT, se autodescrevendo como o torcedor mais perdido do ginásio e do planeta.

O negócio deles é no palco mesmo, território em que consegue encontrar as similaridades entre o jogo e um show. “É aquela ideia de que está todo mundo focado na mesma coisa, ao mesmo tempo, ficando juntos e fazendo da experiência algo maior. É uma tolice, mas todas as coisas são tolas assim.”

Com o Flaming Lips, é isso aí.

*  *  *

OS RENEGADOS DO GRUNGE

Fundada em meados dos anos 80, mapeada pela indústria musical americana apenas em 1993 com a entrada de “Transmissions from the Satellite Heart” nas paradas, o Flaming Lips poderia ter embarcado na onda grunge que dominava as rádios naqueles tempos, mas seguiram por um caminho absurdo, completamente distante do chamado “som de Seattle”. Ironicamente, Kevin Durant poderia ter sido uma figura totalmente ligada a essa cidade do Noroeste dos Estados Unidos, mas acabou jogando lá por apenas um ano, antes do polêmico deslocamento de sua franquia para Oklahoma City.

Shawn Kemp x Jeff Ament

Jeff Ament em peça publicitária com Shawn Kemp, seu ídolo em Seattle

Foi um movimento amaldiçoado por Jeff Ament, baixista do Pearl Jam e fanático pelo Supersonics, daqueles que compravam carnês de ingressos temporada após temporada junto com o guitarrista Stone Gossard. Os dois são outros que tocam no Lollapalooza, mas no domingo.

Muito antes de conhecer Chris Cornell ou Eddie Vedder, Ament era um armador talentoso no colegial em Montana, interiorzão da América profunda. Foi eleito para seleções estaduais e tudo, a ponto de ser recrutado pela universidade de… Montana (dãr!) como jogador. Entrou para a equipe dirigida por Mike Montgomery, futuro técnico de Stanford, do Golden State Warriors e hoje da universidade de California e, rapidamente, descobriu que, como aspirante a uma carreira no basquete universitário, ele provavelmente tinha mais jeito, mesmo, para o rock. “Os mundos de esportes e música não combinavam, realmente. Onde eu cresci, eu podia ser um esportista e um punk rocker. Quando fui para a universidade, ficou aparente que eu tinha de pertencer somente a um desses grupos”, disse em entrevista interessante à ESPN americana.

Bem, a gente já sabe hoje no que deu isso tudo. O cara se mudou para Seattle, conheceu certas pessoas, as coisas demoraram para se encaixarem, mas de repente ele fazia parte de uma das bandas que se tornaria das mais populares do mundo. No início, na condição de estrela emergente do rock, Ament era obrigado a esconder do público sua outra metade. Afinal, tinha sempre quem importunasse. “Kurt Cobain e Coutrney Love sempre zoaram o fato de que eu jogava basquete. Uma vez eu parei para dizer oi antes de um show e, quando estava indo embora, Courtney gritou: ‘Vá jogar basquete com Dave Grohl!'”, recordou o baixista. Os roqueiros que foram etiquetados como grunge já eram aqueles que a sociedade não queria. Ament conseguiu ser um rejeitado dentro desse universo. 🙂

Jeff Ament, versão basqueteiro

Jeff Ament não tinha a maior pinta de basqueteiro do mundo, de todo modo

Nas turnês, porém, ele confessa que sempre havia uma bola de basquete ou futebol americano por perto. Vedder, segundo seu companheiro, era mais ligado ao beisebol. Hoje, mais maduro e consagrado, não há restrição alguma, claro, em se assumir um basqueteiro – que realmente acompanha a NBA em detalhes, ainda que em Seattle ele não tenha mais nenhum clube profissional pelo qual torcer. “(Se um novo time chegasse,) Acho que teria de namorá-lo por um tempo. Se as coisas dessem certo, poderia checar se alguém gostaria de dividir o carnê de ingressos por alguns anos”, afirma.

Avaliando a possível transferência do Sacramento Kings para Seattle, fica difícil de avaliar qual o comportamento adequado. “Seria a melhor e a pior opção ao mesmo tempo. É a melhor porque eles têm provavelmente o melhor potencial como time de playoff, se o DeMarcus Cousins conseguir entender seu cérebro de alguma forma, ou se eles conseguirem um técnico que possa treiná-lo, ou se o Tyreke Evans der as caras. Mas Sacramento é uma cidade pequena. Se você tira o Kings deles, vão ficar com o quê? Só um time menor de beisebol, algo assim”, diz.

A ligação do Pearl Jam com o basquete, desta forma, é muito mais intensa do que o normal entre os roqueiros, certamente maior que a do Flaming Lips com o Thuder. Desse vínculo, se  destacam duas histórias:

– Ament já escreveu uma canção para citando Kareem Abdul-Jabbar, chamada “Sweet Lew”, do álbum “Lost Dogs” (2003), em referência ao nome de batismo do legendário pivô, Lew Alcindor. Não foi bem uma homenagem: Jabbar foi seu técnico em um jogo de celebridades e o teria ignorado quando foi tentou puxar um papo – a propósito, ele identifica os bateristas Chad Smith, do Red Hot Chilli Peppers, e Steve Gordon, do Black Crowes, como os melhores músicos-jogadores que conheceu.

Mookie Blaylock, ex-Pearl Jam

Mookie Blaylock, ex-armador do Nets e ex-Pearl Jam. Seu número? Dez, ou “Ten”, primeiro álbum da banda que vendeu mais que água nos anos 90

– Um dos primeiros nomes da banda foi “Mookie Blaylock”, aquele armador que defendeu New Jersey Nets, Golden State Warriors, mas teve seu  melhor momento pelo Atlanta Hawks nos anos 90. Como isso aconteceu? O grupo estava em uma lanchonete para fazer sua primeira gravação em um estúdio, com uma diária de uns US$ 10. Ainda assim, conseguiam comprar alguns pacotes de cards. Em um deles, saiu o armador. Ainda não haviam decidido um um nome para o conjunto e colocaram a “figurinha” de Blaylock na capa da fita que gravaram. Depois, saíram em uma turnê de dez dias com o Alice in Chains usando esse nome. Só mais tarde que veio a combinação a ser consagrada.

Há diversas explicações para “Pearl Jam”. Uma fictícia, inventada por Vedder em uma entrevista é de que ele teria uma avó chamada Pearl, que fazia uma geleia inigualável. Outra teoria, que tem seus defensores entre biógrafos e velhos amigos, é de que “Pearl” seria uma referência ao apelido de Earl “The Pearl” Monroe, craque do Knicks e do Bullets nos anos 70, e fantástico nas enterradas. O “Jam” também teria sido unido a “Pearl” depois que os amigos compareceram a um show de Neil Young, e o figurão canadense não parava de esticar suas músicas, em “jam sessions” com os companheiros de palco.

 Por mais fanáticos que sejam, música para o Sonics Jeff Ament e Stone Gossard nunca fizeram. 🙁

*  *  *

Atração do Lollapalooza paulistano de 2012, a Band of Horses, também de Seattle, chegou a gravar uma música intitulada “Detelf Schrempf”. Mas eles juram que não tem inspiração alguma no ex-craque alemão. Investigamos isso na encarnação passada.

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#NBAbands

De vez em quando tem dessas brincadeiras no Twitter que divertem, né? Demora, mas acontece. Ótima oportunidade, então, para resgatar alguns dos trocadilhos na fusão de nomes de bandas com jogadores da NBA, a #NBAbands, que foi trending topic há algumas semanas.

– “Durant Durant” = para ficar no tema.

– “Garret Temple of Dog” = o Temple of Dog uniu os integrantes de Pearl Jam e Soundgarden, vizinhos de Seattle. Garret Temple ainda busca se firmar na NBA, fazendo dupla armação com John Wall no Wizards.

– “Rajon Against the Machine” = A fama de esquentadinho de Rajon Rondo poderia ser direcionada contra o sistema, como fez nos anos 90 os revolucionários do Rage Against?

– “30 Seconds Dumars” = Quando Joe Dumars contratou Charlie Villanueva e Ben Gordon de uma só vez, quebranco a banca, muitos torcedores do Pistons se perguntaram certamente se ele estava com a cabeça a “30 Seconds to Mars”, banda do ator Jared Leto.

– “John, Paul George, and Ringo” = Eu realmente nunca havia pensado que o prodígio do Indiana Pacers reunia dois daquele quarteto de Liverpool em um só nome.

– “The Jimmer Fredette Experience” = A experiência de Jimi Hendrix não durou muito, mas deixou um baita legado para a música. Jimmer Fredette, fenômeno univeristário, ainda batalha para deixar sua marca na liga.

– “Bryant Adams” = uma combinação insólita de um dos maiores assassinos em quadra, Kobe Bryant, com um astro pop canadense de letras bem melosas, Bryan Adams.

– “My Darnell Valentine”, “My Bloody Valanciunas” = a banda shoegaze viajandona My Bloody Valentine voltou a lancar um álbum neste ano e serviu de inspiração para dois dos melhores nomes, seja com o ex-armador de Portland Trail Blazers, Cleveland Cavaliers e que terminou a carreira na Itália, ou com o jovem pivô lituano Jonas Valanciunas, aposta do Raptors.

– “Lillard Skynyrd” = Damien Lillard pode ter vindo do interior dos Estados Unidos, mas imagino ser pouco provável que a sensação do Blazers toque em seu iPod algum sucesso setentista do Lynyrd Skynyrd.

–  “Simon & Garnett” = Se Paul Simon já brigava com alguém de voz tão bonita como Art Garfunkel, o que aconteceria se ele fizesse dupla com um psicopata feito Kevin Garnett?

– “The Artist Formally Known as Tayshaun Prince” = hoje no Grizzlies, Tayshaun ao menos quer provar que ainda pode ser uma peça útil nos playoffs, enquanto Prince pirou por completo.

– “Bon Iverson” = Iverson chegou tarde. Bon Iver já tem em Kanye West seu rapper preferido.

– “Ol’ Dirk Bastard” = Nowitzki já é praticamente um texano de Dallas, mas parece estar longe do rap nervoso (e dos pileques) de Ol’ Dirty Bastard, um dos integrantes do histórico grupo de rap Wu Tang Clan.

– “Al Jefferson Airplane” = Os movimentos de costas para a cesta de Al Jefferson são tão criativos como o som psicodélico do Jefferson Airplane? Não chega a tanto.

– “Earth, Wind & Fire Isiah” = nesta versão, a banda favorita de qualquer torcedor radical do New York Knicks que tenha vivido um pesadelo na era Isiah Thomas em Manhattan.

– “Brad Lohaus of Pain” = É do House of Pain uma das músicas mais tocadas na história dos jogos de basquete, “Jump Around”. Para Brad Lohaus, um branquelo pouco atlético, ficar saltando muito por aí, apenas na primeira versão do NBA Jam, pelo Milwaukee Bucks, mesmo.


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