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Derrocada do Clippers começou muito antes da virada do Rockets
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Giancarlo Giampietro

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

O Houston Rockets foi o primeiro time desde 2006 a sair vencedor de uma série depois de ficar em desvantagem por 3 a 1, tomando duas surras em Los Angeles e perdendo o primeiro jogo sem um tal de Chris Paul em quadra. O que a gente tira desse resultado?

Que foi um colapso homérico do Clippers, claro.

Mas como entender uma façanha, para os texanos, ou um vexame desses, para os californianos? Resumir a um termo até meio chulo como “amarelão” não cola. Afinal, dá para questionar a seriedade, a determinação ou força mental de um time que venceu agora há pouco o Spurs em San Antonio. Duas vezes. Por mais que tenham relaxado demais no Jogo 6, com a vitória praticamente garantida, fato é que perderam três partidas consecutivas para um rival aparentemente dominado, tendo imposto um saldo de 68 pontos nas primeiras quatro partidas.

O técnico David Thorpe, analista da ESPN e mentor de uma extensa lista de atletas da liga, entre eles o ala Corey Brewer e Kevin Martin (um atual jogador do Houston e outro ex-integrante), mandou a seguinte mensagem no Twitter após a virada improvável: “Pessoal, se vocês algum dia questionaram o quanto os executivos causam impacto em grandes times, agora já sabem. O Rockets venceu esta série na sala da diretoria”. Parece a melhor resposta, mesmo.

Banco? Qual banco?

Banco? Qual banco?

Não vamos perder tempo aqui discutindo quem é melhor em quadra: Harden, Howard, Paul, Griffin, Jordan… São todos talentos de ponta. Ambos os times fizeram campanhas excepcionais, empatados com 56 vitórias e 26 derrotas. Tudo podia acontecer na série. Em termos de técnico, o Clippers tinha uma presumida a vantagem, contando com Doc Rivers, um dos poucos campeões da liga ainda em atividade. Um excelente treinador, que comandou o ataque mais eficiente da temporada. Mas que foi sabotado pelas decisões do presidente o clube. No caso, ele próprio.

O Clippers tem a segunda folha salarial mais cara da liga e um dos quintetos iniciais mais fortes da liga, se não o mais forte. Concorre lá em cima com o time titular de Spurs, Warriors e Cavs em termos de rendimento. Mas essa galera não teve quase nenhuma ajuda durante uma maratona de temporada, que culminou com as duas séries mais desgastantes destes playoffs. O que fica mais claro, mesmo, é a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura dos texanos, mais inquietos, ativos na liga, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra.

estatisticas-banco-clippers-doc-rivers-2015No total, durante 14 jogos da fase decisiva, ou 3.360 minutos disponíveis, os reservas do Clippers receberam apenas 926 (27,5%). E aqui estamos contando toda a carga de Austin Rivers, o jovem ala-armador que começou duas partidas como titular no lugar de um Chris Paul lesionado. Confira nas tabelas ao lado a diferença de produção dos reservas entre os quatro semifinalistas do Oeste. A segunda unidade do Clippers não lidera nenhuma categoria, mesmo com os minutos a mais abertos pela lesão muscular de seu principal armador. Se nos números totais, o time aparece com destaque, isso se deve apenas pelo fato de terem feito duas séries de sete jogos. Em médias absolutas de quatro estatísticas básicas, os substitutos não aparecem não lideram nenhuma coluna. (Os asteriscos aqui: Memphis também perdeu Mike Conley Jr. por três partidas, dando mais minutos a Beno Udrih e, principalmente, Nick Calathes, enquanto, no Rockets, estou contando Terrence Jones como o reserva, por ter encerrado o duelo passado desta maneira).

Tá certo: o Clippers, mesmo com esse plantel limitado, ficou muito perto de eliminar o Houston. Tinha uma vantagem de 19 pontos no terceiro quarto do Jogo 6, em casa. Depois de ter batido o San Antonio Spurs, os atuais campeões, a equipe que é exemplo quando o assunto é explorar todas as peças disponíveis. Justamente, não? Isso só reforça o problema. A série contra os compadres de Tim Duncan já foi muito exigente. Mas era apenas a primeira etapa.

O que levou o mesmo David Thorpe a trocar mensagens de texto com Corey Brewer durante o sétimo jogo no Staples Center, cujo conteúdo agora foi revelado. “Nós dois pensávamos que acabaria o gás do Clippers. O importante era não deixar que abrissem 3 a 0”, escreveu. Quer dizer: está aqui um técnico muito bem conectado, que já trabalhou com dezenas de atletas profissionais de alto nível e recebeu/recusou diversas propostas da liga, falando com um de seus pupilos, e os dois meio que admitindo que, tivesse a equipe californiana um banco melhor, muito provavelmente o Rockets não teria a mínima chance de evitar uma varrida. Mas não era o caso, e o Rockets conseguiu um triunfo apertado no Jogo 2 por 115 a 109 para estender um pouco mais o confronto. Deu no que deu. Na verdade, não foi um colapso, não foi súbito – e, sim, um desmoronamento gradativo.

Uma sucessão de erros
E aí vale dissecar a formação de ambos os elencos. É aqui que se escancara a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura de Houston – tido nos bastidores da liga como “um clube grande” –, com lideranças irrequietas, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra. Algo difícil de entender considerando que a parte mais difícil já havia sido feita: quando Doc herdou o Clippers de Neil Olshey, já tinha um timaço, com as estrelas garantidas, com Paul, Griffin e Jordan sob contrato.

Dos atuais titulares, o único que chegou sob a chancela do novo manda-chuva foi JJ Redick. Um belo reforço, mas cujos desdobramentos já foram um tanto suspeitos. Para ter o ala, foi orquestrada uma troca tripla com Bucks e Suns, que custou ao clube um prodígio como Eric Bledsoe e mais uma escolha de segunda rodada do Draft. Bledsoe já não aguentava mais ser reserva de CP3 e estava prestes a virar agente livre. Precisava sair, mesmo. Mas ainda era uma excelente moeda de troca. Então não é que Redick tenha vindo de graça, numa barganha. Além disso, nessa mesma transação, o clube recebeu Jared Dudley. O ala fez uma péssima campanha inaugural em Los Angeles, é verdade, mas foi dispensado rapidamente por questão de economia, para escapar de multas pesadas em cima da folha salarial. Daí que, neste campeonato, foi um dos líderes do surpreendente Milwaukee Bucks. Para se desfazer dele, Doc pagou mais uma escolha de Draft, dessa vez de primeira rodada. Um desastre, fruto de impaciência e de um conflito de interesses quando você é o técnico e o dirigente. O treinador quer peças para agora. O dirigente precisa cuidar do que vem pela frente.

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É aí que entram as escolhas de Draft. Mercadorias importantíssimas na NBA de hoje devido ao baixo salário que os calouros recebem. É a grande chance de se contratar jogadores bons, para compor a rotação, pagando pouco. Ainda mais no caso de um Clippers que já paga US$ 48 milhões para seus três principais atletas – e espera pagar ainda mais, na hora de renovar com Jordan. Acontece que não só o técnico-presidente saiu gastando picks por aí, como também não soube aproveitar as que tinha. Em 2013, optou pelo ala Reggie Bullock – um cara vindo de North Carolina, com fama de bom chutador e defensor, o tipo de operário que se encaixaria perfeitamente no atual sistema. Depois de 658 minutos em uma temporada e meia, aos 23 anos, Bullock foi repassado para o Phoenix Suns na transação por Austin Rivers. Neste ano, foi a vez do ala CJ Wilcox, de Washington. Um senior, supostamente pronto para contribuir. Pois o cara terminou a temporada regular com 24 anos (é cinco anos mais velho que Bruno Caboclo, para se ter uma ideia) e apenas 101 minutos de tempo de quadra, em 21 jogos. Inexplicável – a não ser que a diretoria já esteja pronta para considerá-lo um fracasso, o que pegaria muito mal.

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que...

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que…

Por estar acima do teto salarial, restava a Rivers outras duas alternativas além do Draft para reforçar seu time: as exceções (midlevel e biannual) que cada franquia recebe para efetuar contratações, desde que tenha flexibilidade econômica para tal – que não tenham extrapolado qualquer limite do bom senso de acordo com as regras da liga, basicamente. Os alvos foram Spencer Hawes e Jordan Farmar. Bons nomes. Hawes foi cobiçado por muita gente no mercado, enquanto Famar tinha experiência de playoff e vinha de excelente jornada pelo vizinho Lakers. Acontece que, aí, quem falhou foi o treinador. Em nenhum momento a dupla de agentes livres se sentiu confortável, com dificuldade para mesclar suas habilidades com as do núcleo já pré-estabelecido. Com o quinto maior salário do elenco (mais de US$ 5 milhões), Hawes participou de apenas oito das 14 partidas nos mata-matas e recebeu 57 minutos. Só entrava em caso de extrema emergência, ou com o placar resolvido. Uma bomba. Farmar? Foi dispensado no meio do campeonato após desavenças com o comandante. O que não vai impedi-lo de embolsar boa parte dos US$ 4,2 milhões de seu contrato, mesmo que já esteja em ação na Turquia.

Sem muito mais dinheiro ou alternativas para investir e sem confiar nos atletas mais jovens, restou a Rivers apelar a veteranos para compor seu elenco de apoio. Caras de salário mínimo, que estivessem sobrando no mercado. Acontece que, neste campeonato especificamente, não pintou nenhum PJ Brown ou Sam Cassell no mercado. Vieram nessa, então, Glen Davis, Hedo Turkoglu, Epke Udoh, Chris Douglas-Roberts, Nate Robinson, Lester Hudson, Jordan Hamilton e Danthay Jones. Só Big Bagy e o truco (pasme! já é um ex-jogador em atividade) foram aproveitados na rotação – o que é surreal da par. CDR saiu junto de Bullock. Robinson estava contundido e deu lugar a Hudson. Jones carregou o Gatorade, enquanto Hamilton, que vinha bem na D-League, teve o azar de sofrer uma lesão. Em suma: nada deu certo.

Do outro lado, o Rockets
Vocês sabiam que o finalista do este custa US$ 13 milhões a menos que o time que acabou de eliminar, mesmo contando com dois superastros e com um elenco capaz de suprir as lesões de seu armador titular e de um pivô lituano em franca evolução? Pois então. Para montar este grande time, o gerente geral Daryl Morey precisou mover mundos e fundos. Não foi uma herança.

Padrinho da comunidade nerd da NBA, Morey manipulou sua folha salarial com visão de longo prazo, sabendo também dosar agressividade e paciência, números e scout. Ao mesmo tempo. Cansado de ver um time medíocre morrer na praia, seja numa primeira rodada de playoff, ou mesmo já na temporada regular devido a uma forte concorrência no Oeste, o dirigente se envolveu em uma série de negociações disposto a acumular jogadores de potencial e relativamente baratos, além de ter acertado a mão na maioria de suas escolhas de Draft. O elenco seguia competitivo – para não desagradar ao departamento financeiro e torcedores –, ao mesmo tempo que se posicionava para uma eventual troca de impacto. Foi quando Sam Presti topou uma oferta hoje risível por James Harden (Kevin Martin, Steven Adams, Jeremy Lamb e Mitch McGary, mais os direitos sobre o ala Alejandro Abrines, do Barcelona).

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Com o Sr. Barba no elenco, ficou mais fácil de convencer Dwight Howard a virar as costas para o Lakers no mercado de agentes livres. Não dá para subestimar um movimento desses – qual foi o último craque a largar Hollywood desta maneira? Kobe pode ter dado uma boa força ao empurrar o pivô para fora de sua franquia, mas o fato é que o clube texano estava muito bem posicionado, técnica e financeiramente, para fechar o negócio.

E o que mais? Trevor Ariza veio praticamente pela metade do preço de Chandler Parsons, num negócio da China, de deixar Yao Ming todo pimpão. O ala campeão pelo Lakers em 2009 não só marca muito mais, como tem um estilo de jogo que casa melhor com Harden e Howard, dois jogadores que controlam a bola no ataque. Jason Terry e Pablo Prigioni chegaram em trocas periféricas, pouco discutidas, mas que hoje se mostram importantíssimas depois da lesão de Patrick Beverley (que veio, lembrem-se, do basquete russo, para vaga que um dia pertenceu a Scott Machado). Corey Brewer custou uns rocados, Troy Daniels e duas escolhas de segunda rodada de Draft, com restrições. Terrence Jones foi draftado, assim como o caçula Clint Capela, de apenas 20 anos e jogando minutos importantes contra o Mavs na primeira rodada. O suíço, o ala-armador Nick Johnson e o ala KJ McDaniels podem render para o futuro, ou serem envolvidos em futuras trocas. De negócios por ora mal-sucedidos, temos Kostas Papanikolau, ala da seleção grega e titular do Barça que não rendeu o esperado, e Joey Dorsey, alguém até decente para ter como o quinto na rotação de grandalhões – mas cujo contrato custou ao time o novato Tarik Black, outro achado no mercado do departamento de scouts. Ah, claro, e o Josh Smith: de graça e compadre de Dwight Howard. Valeu, Stan.

Não quer dizer que Houston também não erre feio. Pagou US$ 9,2 milhões em salários de jogadores que nem foram utilizados durante a temporada: Luis Scola (ainda!), Francisco Garcia, Jeff Adrien e Francisco Garcia. A maior bolada pertence a Scola, superior a US$ 6 milhões, no último ano de um contrato anistiado por Morey em 2012. Agora, se o dono Les Alexander libera sua diretoria para assinar cheques sem pestanejar, esse prejuízo deve ser relativizado. Além disso, o simples fato de o cartola ter se desfeito dessa para montar um elenco que julgava melhor já dispensa o uso de um eletroencefalograma. Se há algo que não se pode reclamar em relação ao gerente geral, é de esmorecimento ou passividade. Morey ouviu um não de Chris Bosh, contratou e trocou Jeremy Lin. Cedeu Kyle Lowry ao Toronto. Não fechou com Goran Dragic quando o preço era mais baixo. Mas fechou tantos, mas tantos negócios bons que chegou uma hora em que o zum-zum-zum nos corredores da liga era o de que seus pares se sentiam intimidados na hora de negociar com ele. Temiam tomar uma rasteira, sem nem perceber o que estava acontecendo.

Em Los Angeles, Doc já não tem nem muito o que discutir com a concorrência.  A não ser que esteja disposto a falar sobre Chris Paul e Blake Griffin. Ou isso, ou está de mãos atadas, num momento em que o que deveria predominar seria a tensão, suplantando a decepção por essa derrota histórica. DeAndre Jordan vai para o mercado de agentes livres em alta, despertando o interesse de muitos clubes. Se perder o pivô, vai fazer o quê? Sua folha salarial já está estourada. Aí teria de resgatar Spencer Hawes. Um jogador com o qual falharam ambos: técnico e dirigente.


A vingança de Austin Rivers – e família
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Giancarlo Giampietro

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Daquele tipo orgulhoso e bastante confiante em sua capacidade, Austin Rivers passou três anos e pouco ouvindo as piadas, sem poder responder do modo que julgava aproriado. Elas só se intensificaram em janeiro, quando o New Orleans Pelicans oficialmente desistiu do projeto para desenvolvê-lo e o enviou primeiro para Boston. Já era uma situação estranha: o garoto vestindo a camisa do time que teve seu pai como técnico por um longo e vencedor período, e do qual ele havia saído sem ser nos melhores termos. Mas, aí, três dias depois, veio mais uma negociação, meio que cantada por toda a mídia americana: o ala-armador enfim se reuniria com Doc em Los Angeles, para ser o reserva de Chris Paul Pela primeira vez a NBA teria uma dupla de pai treinador e filho jogador em quadra.

“Ah, mas o Austin não joga nada, então só assim, mesmo”, “Papai gostou, Austin”, “Tal pai, outro filho” etc. etc. etc.

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“A coisa de que não gosto é que os caras usam o nome para ganhar audiência. É tão gratuito, e eu odeio isso. Vem lá de trás, e isso sempre me deixou pê da vida. Os caras escrevem sobre mim só por saberem que vai dar audiência. Por causa disso, sinto por ele. Tem hora que isso me faz pensar que talvez fosse melhor não ser o pai dele. Ele tem sido um alvo durante sua vida toda”, diz o técnico e presidente do Clippers, o novo primo rico de de Los Angeles. Aí já era o progenitor, mesmo, defendendo a família.

Quem diria? O Doc?

Quem diria? O Doc?

É o tipo de situação que fez Rivers pensar seriamente em derrubar a negociação tripla que envolveu também o Phoenix Suns. Tinha receio da repercussão que a relação paternal poderia ter para sua equipe – e também para o jogador, no caso. Mas, segundo consta, foi convencido pelo grupo de dirigentes e confidentes que reuniu na franquia, para assessorá-lo no comando das operações de basquete. Fez a troca e, agora, quatro meses depois, deve estar se sentindo muito bem a respeito, tanto do ponto de vista profissional como pessoal. Negócio arriscado, ganho duplo.

O Rivers filho vai curtindo uma espécie de vingança em seu nome – e no de toda a família, convenhamos. Depois de brilhar no Jogo 4 contra o Spurs, a série clássica que derrubou os atuais campeões, o rapaz está com tudo e não está prosa na semifinal contra o Houston Rockets. Não só ajudou o time a sobreviver nos dois primeiros jogos sem Chris Paul, como ganhou confiança e vem fazendo precisamente o que o técnico e dirigente visualizava no momento de sua contratação, atacando de modo agressivo e com eficiência, tendo 16 pontos em média e 55,8% no aproveitamento de quadra e 55,5% de três pontos. Algo que… Hã… Veja bem… Pouquíssimos fora da do clube angelino imaginavam que pudesse acontecer.

“Sempre acreditei nele, mas não esperava que pudesse jogar tão bem assim”, afirma ao VinteUm um olheiro da NBA que acompanhou de perto sua trajetória. “Sabemos que ele sempre foi dos caras que mais deu duro em quadra e que realmente acha que é o melhor no que faz. Isso pode ser visto como falha. Mas também como uma vantagem”, completa. Realmente depende do ponto de vista.

Menino de ouro
O mais curioso antes de tudo?  De tanto que Austin já apanhou em menos de quatro temporadas completas como profissional, é fácil esquecer que, em 2011, ele era considerado um dos garotos mais promissores de sua geração. Nascido em 1992, ao concluir sua carreira no High School, foi considerado por alguns especialistas no recrutamento universitário como o melhor prospecto daquela fornada – era o caso do Rivals.com. Acima de um tal de Anthony Davis, inclusive, ou mesmo de Andre Drummond, Bradley Beal, Michael Kidd-Gilchrist, Cody Zeller, entre outros. Para a ESPN e o o Scout.com, Davis ficou no topo, com Rivers no top 3.

Mesmo optando pelo Monocelha, o Scout.com escreve: “Não foi de modo algum uma escolha fácil colocar Davis no topo. Na verdade, Austin Rivers apresentou um forte argumento para ficar nessa posição. O filho de Doc Rivers é uma máquina de fazer cestas e tem o pacote mais avançado de habilidade com a bola desde OJ Mayo. É um jogador para grandes partidas, Rivers parece crecer quando está em situação de alta pressão. Ele é um competidor que aceita e consegue converter arremessos difíceis”.

Que tal? Só um pouquinho diferente da percepção que se tem na grande liga a seu respeito, né?

Era tão badalado, e não só por causa do pai, que acabou recrutado por Duke, para passar um ano sobre a tutela do Coach K. Com 15,5 pontos, 2,1 assistências e 3,4 rebotes em média, mais 43,3% nos arremessos, 36,5% de três e 65,8% nos lances livres, não é que ele tenha atirado fogo em toda a NCAA. Sua versão dos Blue Devils não foi muito longe no torneio nacional, caindo na segunda rodada, mesmo acompanhado por Seth Curry e não só um, mas três dos irmãos Plumlee. Foi a partir da dificuldade que enfrentou neste nível que os olheiros passaram a questionar sua habilidade para virar o craque que esperava ser na NBA – os mais críticos o consideravam um fominha, com ego acima da conta e um arremesso nada confiável, enquanto alguns adoravam sua personalidade e o talento no drible.

“Ele é um macho alfa. Acho que vai dar certo na NBA por causa disso”, avaliou Krzyzewski, antes da ida do garoto para o Draft de 2012. “Ele acredita que vai ser um grande jogador. Prefiro ter um cara assim do que alguém que não acredita em si mesmo. Quando Austin chegou a Duke, disseque cada jogador era como uma casa: quanto mais habilidades você aprende, mais janelas você vai ter em sua casa. Quando chegou, tinha apenas uma grande janela. Era um cestinha fantástico. A meta era abrir mais janelas, e ele está nesse processo. Espero que ele encontre um treinador exigente na NBA, que force-o a continuar expandindo seu jogo. Se ele reverter apenas para as coisas que ele faz bem, suas chances vão diminuir para que ele vire um bom jogador na liga.”

Um tanto profético, hein?

Até tu, Jimmer?
Em New Orleans, Austin tinha uma situação aparentemente perfeita. Afinal, acompanharia Anthony Davis, seu amigo, desde o início. Com a diferença de que, agora, o Monocelha era a maior aposta de sua geração, sem dúvida nenhuma, o número um do Draft – tendo ele saído na décima posição. Toda a pressão e expectativa que despertava em Duke agora seria relativizada de acordo com o progresso do ala-pivô. Além disso, o técnico Monty Williams é um dos amigos mais próximos de Doc nos bastidores da NBA, conhecendo os talentos do garoto há tempos.

Austin Rivers, o futuro durou pouco pelo Hornets

Austin Rivers, o futuro durou pouco pelo Hornets/Pelicans

O plano era que ele virasse o armador titular da equipe por diversas temporadas. Dois anos e meio depois de sua seleção, foi trocado num pacote trouxe o ala Quincy Pondexter e uma escolha de segunda rodada para o Pelicans – na mesma negociação que colocaria Jeff Green no Grizzlies. O clube também tinha o intuito de limpar seu salário de US$ 3,1 milhões da folha de 2015-2016, para poder renovar com Omer Asik sem problemas.

A primeira campanha de Rivers em N’awlins foi um fiasco retumbante. Pode usar qualquer termo homérico aqui, que não há problema: índice de eficiência de apenas 5,9 (quando a média da liga é 15,0), além de paupérrimos 9,6 pontos, 3,2 assistências e 37,2% nos arremessos . Isso numa projeção por 36 minutos – no geral, em 61 partidas, recebeu apenas 23,2 minutos. Em 2013, o time contratou, então, Jrue Holiday e Tyreke Evans. Os dois se juntavam a Eric Gordon. Sabe aquele papo de que na NBA as coisas mudam rapidamente? Pois é.

Ainda assim, o rapaz trabalhou pesado durante as férias. Ganhou massa muscular, estudou muito suas fitas, aprimorou fundamentos e liderou o time de verão do Pelicans com 18,2 pontos em média. Estava pronto para competir com os reforços renomados. Mas não rolou. Seus números melhoraram de um modo geral, mas não o suficiente para afastar a fama de fracasso. No terceiro ano, mesmo com as lesões de Redick, já havia perdido tempo de quadra até para Jimmer Fredette (ironicamente, mais um jogador hiperbadalado que foi quase expulso da liga). O que levou um integrante da família Rivers a protestar em público. No caso, Jeremiah, seu irmão caçula: “O Pelicans continua a jogar com Fredette no lugar do meu irmão, mesmo que meu irmão seja melhor que ele em todas as categorias. Ah, e o Austin joga na defesa”. Não surtiu efeito a reclamação, e Austin seria despachado pouco depois.

Quando retornou a Nova Orleans já como jogador do Clippers, sabia que não haveria ceriônia: “Não vai ter um tributo em vídeo para mim, isso é certo. Sinto que não fui capaz de jogar da forma que gosto lá. Tive alguns bons jogos ainda, fui um jogador sólido de NBA, mas sentia que poderia fazer muito mais”, se auto avaliou. Mas não é que os números corroborassem sua opinião.

Uma roubada, ou quase
A linha estatística de Rivers em 41 jogos pelo Clippers, depois da troca: 7,1 pontos, 1,7 assistência (0,9 turnover), 2,0 rebotes, 42,7% nos arremessos, 30,9% de três pontos e 1,3 lance livre batido, em 19,3 minutos.  Por 36 minutos, 13,2 pontos, 3,1 assistências, 3,8 rebotes. De novo: embora representasse uma evolução em relação ao que andava fazendo pelo seu primeiro time, ainda tendo em mente que ele estava chegando no meio do campeonato, sem poder treinar tanto, não é nada que vá abalar o coração de muita gente, acho.

Não dá para dizer que era necessariamente isso que o Doc tinha em mente quando o contratou. A ideia era que Austin fosse uma figura agressiva saindo do banco de reservas, um setor calamitoso quando se fala da equipe angelina nesta temporada. Era para ele descer a ladeira, nas palavras do pai, atacando em transição, oferecendo uma outra opção no ataque, além de Jamal Crawford. Para contratá-lo, aliás, o técnico inclusive dispensou um veterano como Jordan Farmar.

Técnico e jogador, pai e filho

Técnico e jogador, pai e filho

“Se eu não estiver jogando bem, ele simplesmente vai me deixar sentado. Estou sentado no banco, não tem muito que dizer. Ele quer vencer. Meu pai é o tipo de cara que, quando eu tinha cinco anos, se jogássemos dama, ele nunca iria me deixar ganahr. Não vai fazer nenhum favor para mim aqui. Tenho de fazer por merecer qualquer coisa que queira no time”, afirmou o ala-armador.

O lance é que Doc não tinha muito o que fazer. Ou ia de Austin, ou ia de Chris Paul jogando por todos os 48 minutos. Não havia opções, alternativas, ainda mais quando Nate Robinson se apresentou ao clube contundido. Da sua parte, o treinador defendia o filho quando considerava as críticas injustas. “É o banco inteiro que está mal, na verdade, mas só falam de Austin”, disse. “Acho que falo mais com Chris, Blake e DJ, não? Não sei, talvez eu esteja apenas sendo um pai ruim. No final, ele é só mais um dos jogadores que não me escutam”, completou, com a ironia devida.

(Outra declaração divertida do técnico a respeito foi após um duelo com o Minnesota Timberwolves, de… Kevin Garnett. O pimpolho e o veterano se trombaram em quadra na saída para um pedido de tempo. KG o acertou com o cotovelo, Rivers foi para cima, e os dois receberam falta técnica. “Pessoalmente, acho que Austin deveria ter dado um soco nele”, afirmou.)

Antes tarde
A despeito do mau início como suplente de CP3, o garoto não perdeu a confiança, porém. Aliás, esse é um traço indelével da personalidade de Austin: sua confiança e sua dedicação aos treinos. “Ele por vezes é muito do basquete, muito bitolado, e a razão para seus altos e baixos é essa. É como se el fosse o Tom Thibodeau dos jogadores. Conversava com ele quando estava fora, e ele só queria saber de falar sobre seu jogo, outros jogos, e eu perguntava se ele havia feito algo de diferente. Ele respondia que não queria fazer nada de diferente, que só queria viver de basquete”, lembra Doc. “Essas mudanças para ele são um ponto de aprendizado importante.”

Em Los Angeles, havia o desconforto claro que jogar pelo pai proporcionaria, e todas as perguntas subsequentes. Além disso, era um time de ponta, com pretensão de título. Por outro lado, havia uma ou outra vantagem: o tempo de quadra disponível já mencionados aqui e o fato de não precisar ser o salvador da pátria, nem nada perto disso. Havia gente renomada o suficiente ali para arcar com consequências mais graves. Além do mais, quando dividisse a quadra com Paul e/ou Griffin, tinha menos pressão para organizar o jogo e mais liberdade para atacar. “É empolgante porque agora estou no ponto em que não preciso ficar pensando demais em tudo o que fazer. Só vou lá e jogo. Digo a eles que não estava mais acostumado a jogar tão livre assim desde Duke, ou desde o colegial, e as pessoas sabem o que fiz nessa época”, diz. “Meu pai só quis aqui por ter pensado que poderia ajudar. Estar numa equipe com atletas desse calibre só vai me beneficiar.”

Aí que Rivers fala sobre suas predileções, aquelas que o Coach K afirmava que poderiam ser, de alguma forma, um fator limitador para o jovem. “Fui um cestinha a minha vida toda. É por isso que entrei na liga. Não fui uma escolha de loteria por ter feito uma grande defesa em Duke. Fui selecionado porque faço cestas. É para isso que estou aqui”, deu o recado.

Nas últimas semanas, para surpresa geral – menos a dele –, o discurso assertivo do ala-armador enfim encontrou respaldo em quadra. Depois de anotar apenas seis pontos, no total, nas duas primeiras partidas contra o Spurs, no Staples Center, anotou 11 no Jogo 3, boa parte deles no sempre desagradável garbage time. No quarto confronto, porém, fez 14 pontos importantíssimos para devolver a derrota sofrida em casa. “Ele foi uma arma no ataque que nós não esperávamos e deu uma enorme força para eles”, admitiu Manu Ginóbili. “Acho que ele foi o cara que realmente mudou o jogo para nós”, disse Griffin. Chris Paul deu a bola do jogo para o suplente. “Por um momento, talvez por meio segundo, me tornei um pai ali”, disse Doc, ao Yahoo Sports, enfim emocionado. “É algo que sei que posso fazer”, assegurou Austin.

O papel relevante no Jogo 4 foi o suficiente para compensar as jornadas inexpressivas nos três duelos seguintes, nos quais não recebeu nem 35 minutos de ação, com cinco pontos e duas cestas em 13 tentativas. Foi quando, ao mesmo tempo em que comemorava um triunfo histórico sobre o Spurs de volta a Los Angeles, teve de lidar com a expectativa de eventualmente abrir a série contra o Rockets como titular, enquanto um dos melhores armadores da liga se recuperava de um estiramento. Uma tremenda de uma fria. Mas foi aí que ele provavelmente engatou a melhor sequência de sua carreira.

De maneira chocante, o Clippers venceu o primeiro jogo em Houston com um triple-double de Griffin e 17 pontos em 28 minutos para o jovem Rivers, que matou meio que inexplicáveis 4 de seis arremessos de fora. É como se ele tivesse sido possuído por JJ Redick, convertendo, então, seis dos próximos 12 arremessos de três pontos, ajudando o time a abrir uma vantagem de 3 a 1. O Jogo 3 foi algo especial, com 25 pontos em 23 minutos e espantoso aproveitamento de 10-13 nos chutes de quadra. A torcida aí já gritava seu nome. Incrível virada, incrível persistência. O próprio Redick avaliou a situação da seguinte maneira ao avaliar a confiança de seus companheiro, diante de tantas dificuldades. “Não sei como colocar isso sem usar um palavrão, mas você tem de ser um filho da p…”.

Opa, peraí. Aí nem o pai, nem o filho vão gostar.

*    *    *

No dia 26 de junho de 2014, data do Draft passado da liga, perto  já se especulava uma troca do Clippers por Austin. Doc refutava: “Não acredito muito nessa história de pais treinarem seus filhos. Não acho que isso seja uma boa coisa”, afirmou. Austin continuou: “Não quero arruinar nosso relacionamento. Não acho que isso vá acontecer um dia, para ser honesto”.

*    *    *

Austin Rivers vai virar um agente livre ao final da temporada. Sua opção de um quarto ano contratual não foi solicitada pelo New Orleans Pelicans. Por ter adquirido o atleta enquanto seu vínculo de novato ainda estava vigente, porém, o Clippers não poderá pagar mais que os US$ 3,1 milhões inicialmente previstos em sua projeção salarial. Trata-se de um desses buracos bizarros do acordo trabalhsita da liga. Será que ele vai receber algo a mais que isso no mercado, depois de exibições mais promissoras nos playoffs? Um detalhe: no momento, o jogador não tem agente, depois de ter rompido com David Falk, cara que conduziu os negócios de Michael Jordan no auge. Será que esse tipo de rendimento é sustentável?


Espetáculo não é o bastante para o Clippers em Los Angeles
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Giancarlo Giampietro

Rivers e Paul: eles sabem que o time precisa de mais

Rivers e Paul: eles sabem que o time precisa de mais

Espetáculo por espetáculo, a turma Hollywood ainda prefere ver Kobe Bryant. Então, se for para o Clippers tomar conta de Los Angeles para valer, nessa geração, eles só podem fazer isso com um resultado expressivo. No caso da metrópole californiana, meus amigos, isso só significa uma coisa: título.

Chris Paul bem sabe disso. “Não quero nem dizer por que vamos ser o time. Nós temos de jogar, de fazer. Já tem muito falatório”, afirmou o veterano. Desde que o armador foi trocado para Los Angeles – pela segunda vez, já que não podemos esquecer o primeiro negócio vetado por David Stern, que o mandaria para o Lakers –, o ex-primo pobre da cidade foi elevado a superpotência e candidato natural ao título. Era o resultado de ter um dos melhores armadores da história da liga ao lado de uma estrela em ascensão como Blake Griffin.

Isso aconteceu em 2011. Desde então, o time teve campanhas de 60,6%, 68,3% e 69,5% de seus jogos, dando pequenos e consistentes passos rumo ao topo. As expectativas só aumentaram na temporada passada com a chegada de Doc Rivers, a evolução de DeAndre Jordan e a contratação de JJ Redick. No geral, porém, o time conseguiu apenas uma vitória a mais na temporada regular, subindo de 56 para 57 (ainda que com oito partidas a menos de CP3). Nos mata-matas, o time alcançou as semifinais da Conferência Oeste, como havia feito em 2012, perdendo para o Oklahoma City Thunder por 4 a 2.

DeAndre foi o terceiro melhor reboteiro da temporda passada, mas não conseguiu livrar ou influenciar o Clippers no geral

DeAndre foi o terceiro melhor reboteiro da temporda passada, mas não conseguiu livrar ou influenciar o Clippers no geral

Essa trajetória nos playoffs, porém, é bem mais complexa. Quando enfrentavam um time complicado como o Golden State Warriors na primeira rodada, Rivers e seus jogadores foram torpedeados pelo vazamento dos comentários ignóbeis e racistas, via TMZ, do ex-proprietário do clube, Donald Sterling. Houve um turbilhão de emoções, incluindo a ameaça de boicote por parte dos atletas de ambos os lados, até que o recém-empossado comissário Adam Silver agiu com firmeza. Depois, contra o Thunder, a lembrança obrigatória fica para o Jogo 5, no qual o Clippers teve uma grande chance de assumir a dianteira da série, com a oportunidade de fechá-la em casa.

Além da série de trapalhadas da arbitragem, que despertou a ira de Rivers na entrevista coletiva, aquela partida ficou marcada por uma exibição completamente desastrosa por parte de Paul, justo ele, o capitão, da mão firme com a bola. Depois de o time abrir uma bela vantagem, tomou uma virada que não poderia ser explicada por uma ou outra decisão equivocada dos homens do apito. O próprio Chris Paul fugiu disso, assumindo a culpa. “Perdemos, e está na minha conta. Eles fizeram a cesta, e tivemos a chance de vencer na última jogada, e eu nem consegui arremessar. Foi muito tonto. Era sou supostamente o líder da equipe. Isso não pode acontecer. A liga pode divulgar algum comunicado sobre a marcação, mas quem se importa? Perdemos”, afirmou.

Acontece. Agora, a NBA é uma liga cruel, extremamente competitiva. O Clippers obviamente ainda está no páreo, produz um clipe imenso de melhores momentos a cada rodada – haja ponte aérea! –, mas o cenário pode ser alterado drasticamente e de modo rápido. Por isso o armador sabe: chegou a hora de ir longe nos playoffs. Bem longe.

O time: ataque não é problema. Com o pulso firme e talentoso de Paul, as habilidades ainda em expansão de Blake Griffin – que é muito, mas muito mais que um pôster –, e excelentes arremessadores ao redor deles, Rivers tem elementos de sobra para coordenar um dos três ataques mais eficientes da liga mais uma vez. Em termos de defesa, o impacto do treinador, porém, não foi tão dramático conseguiu elevar o time de nono para sétimo na temporada passada, e com um número maior de pontos por posse de bola. Quando questionado sobre quais pontos mais o preocupavam, o estrategista não hesitou em apontar os rebotes. “Não sei quais seriam além do rebote. Era isso chegando a esta temporada, e permanece. Pessoalmente, achei que foi um milagre que tenhamos feito o que que fizemos no ano passado do modo como reboteamos. Estava preocupado com isso o ano todo, preocupado nos playoffs. É duro vencer jogos quando as outras pessoas continuam conseguindo arremessos extra”, disse. O Clippers foi o 20º nesse fundamento. De seus principais adversários, o Spurs foi quem ficou mais próximo, em 13º.

A pedida: sucesso nos playoffs e, quem sabe, o título. Estamos combinados.

Olho nele: Spencer Hawes. O pivô tem a oportunidade em Los Angeles de mostrar que é muito mais que o atleta da NBA mais apaixonado pelo Partido Republicano. Hawes foi o primeiro alvo de Rivers no mercado de agente livre, contratado para reforçar sua rotação de garrafão atrás de Griffin e Jordan, para oferecer arremesso de média e longa distância, passe e também reforçar justamente o rebote pedido por Rivers. Nos mata-matas do ano passado, o técnico tinha apenas Big Baby para dar um respiro aos titulares. Como ele vai responder a esse desafio? Em sua carreira, o pivô de 26 anos disputou dois playoffs, pelo Sixers. O que, veja bem, não conta para muito. Era um time café-com-leite, num Leste esvaziado. Não havia pressão alguma. Agora a coisa muda de figura.

Spencer Hawes, reforço no garrafão por US$ 6 mi anuais

Spencer Hawes, reforço no garrafão por US$ 6 mi anuais

Abre o jogo: “Baron estava se preparando, e Sterling começou a balançar os braços, gritando para ninguém em particular.”Por que vocês estão deixando ele cobrar o lance livre? Ele é péssimo! Ele é o pior cobrador de lances livres da história!”, berrava. O Baron estava acertando algo como 87% naquela temporada. Eu estava de pé no meio da quadra, bem perto dos assentos do Sterling, olhando isso de canto, tentando não rir. Olhei para os caras do outro time, tipo, pensando que aquilo não poderia estar acontecendo”, Blake Griffin, em depoimento extenso sobre como era ser um jogador do Clippers sob o amalucado, inconsequente, mas… lucrativo controle de Sterling.

Você não perguntou, mas… o novo dono do Clippers, o bilionário Steve Ballmer, ex-CEO e ainda maior acionista da Microsoft, não vai permitir que seus técnicos e jogadores usem – ou, vá lá, que pelo menos não sejam flagrados em público usando – produtos eletrônicos da Apple. O homem pagou US$ 2 bilhões por seu novo brinquedinho. Então fica assim.

doc-rivers-clippers-cardUm card do passado: Glenn “Doc” Rivers. Primeiro uma pergunta séria: quem aí reconhecia o ex-armador e hoje técnico do Clippers como Glenn? Dr. Glenn Rivers? Um baita ganho em estilo, gente. Mas deixemos de bobagem. O legal desse card é mostrar o jovem Rivers, claro. Mas também para falar daquela temporada: 1991-92, a primeira na qual a franquia foi aos playoffs quando baseada em Los Angeles – em sua primeira encarnação, como Buffalo Braves, com Bob McAdoo, já havia acontecido. No princípio dos anos 90, o clube viva um grande momento, com uma base bastante promissora, na qual constavam também Ron Harper (antes de estourar o joelho), Charles Smith (que migraria para o Knicks), e, principalmente, Danny Manning. O ala-pivô era bem diferente de Blake Griffin, um cara muito mais vigoroso e atlético, mas também foi uma grande aposta técnica e comercial da liga,  até que seguidas lesões o derrubaram. Aos 30 anos, Rivers disputava sua primeira campanha fora de Atlanta e a única em L.A., com 10,9 pontos e 3,9 assistências em 28,1 minutos. Em 1992, seria envolvido numa troca tripla que o mandaria para o Knicks de Pat Riley, com Mark Jackson chegando ao time californiano.


Semana final de trocas da NBA envolve Leandrinho e jogadores periféricos
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Giancarlo Giampietro

Na temporada passada, ainda estava tudo muito recente. As franquias sangraram um bocado durante o lo(uc)caute e ainda não haviam assimilado exatamente do que se tratavam as novas regras da liga, depois de longas e desgastantes discussões e as decorrentes e consideráveis mudanças na relação trabalhista com os jogadores e também na limitação da condução de transações entre as próprias franquias.

Ronnie Brewer x Dwyane Wade

Ronnie Brewer (e) foi um dos poucos jogadores contratados por times de ponta em um mercado mais restrito. Agora vai ter de combater Wade ao lado de Durant

Agora, a julgar por uma semana de trocas bem tímida, parece que ou os clubes enfim conseguiram fazer a lição de casa e se assustaram, ou ainda não entenderam bem quais são as regras que estão na mesa e tiraram o pé. De todo modo, o que predominou, mesmo, foi uma extrema precaução nas conversações entre os clubes. Prova mais clara desse cuidado todo foi a escassa quantidade de escolhas de Draft .

Geralmente, essas escolhas funcionam como fator decisivo para o fechamento de um negócio, como uma medida de convencimento: “Escuta, se você não adora tanto assim esse jogador aqui, eu te dou mais, e não se fala mais nisso”. Hoje, elas viraram commodities muito valiosas, devido ao baixo salários que os calouros recebem em seus contratos – ou, pelo menos, baixos quando comparados com a produção em quadra que oferecem.

De todas as trocas acertadas nesta temporada, apenas o Memphis Grizzlies cedeu um pick, para convencer o Cleveland Cavaliers a receber um punhado de reservas, livrando-se assim de alguns salários indesejados. E mais nada. O mesmo Grizzlies que depois despachou Rudy Gay algumas semanas atrás na movimentação de maior destaque.

Relembremos, então, o que aconteceu nesta semana, com alguns pitacos sobre as trocas mais significantes:

Boston Celtics recebe Jordan Crawford, Washington Wizards recebe Leandrinho e Jason Collins.

Jordan Crawford x Jason Terry x Leandrinho?

Crawford assume o papel de Leandrinho em Boston. Jason Terry vai gostar?

– O que o Celtics ganha: um reforço pontual para Doc Rivers no perímetro, ocupando a vaga que era do brasileiro. Crawford é um dos atletas que consegue criar jogadas por conta própria contra qualquer marcador, com muita habilidade no drible e um destemor que muitas vezes pode lhe colocar em situações embaraçosas (pedradas e airballs, leia-se). Pode ser um fominha exagerado e não marca muito bem. Fica a expectativa para ver como vai se comportar ao lado de veteranos como Garnett e Pierce e como responde aos comandos de Doc Rivers. Pode ser uma boa pedida ou dor-de-cabeça.

– O que o Wizards ganha: adição por subtração, saca? Mesmo que Leandrinho não possa jogar mais nesta temporada, o clube ao menos se livrou de Crawford, que estava chiando demais na capital norte-americana desde que o novato Brad Beal tomou conta de sua posição e John Wall retornou de lesão. Jason Collins, pelo contrário, é um veterano bom-moço, que não apontar o dedo para ninguém. E quanto a Leandrinho? Quem se lembra da declaração de Danny Ainge de que gostaria de renovar com o brasileiro? Não durou muito. Negócios são negócios.

Milwaukee Bucks recebe JJ Redick, Gustavo Ayón e Ish Smith. Orlando Magic recebe Tobias Harris, Doron Lamb e Beno Udrih.

JJ Redick

JJ Redick deixa o Bucks mais forte para os playoffs

– O que o Bucks ganha: O gerente geral John Hammond prova que leva sua temporada a sério – acredite, nem todos os cartolas avaliam a situação desta maneira – e tenta desafiar os cabeças-de-chave nos playoffs do Leste, fortalecendo, e muito, sua rotação de perímetro com  Redick, um jogador sobre o qual já foi publicado um manifesto na encarnação passada do Vinte Um. Para os preguiçosos de fim de semana, resumimos: o ala é um dos caras mais eficientes da liga e também dos mais conscientes. Vamos falar mais a respeito em breve. Ayón é outro jogador bastante inteligente, indicado por algum sabichão como um possível reforço barato neste ano, mas que tem um problema pela frente: chega a um clube com rotação completamente congestionada no garrafão. Ish Smith? Se Jim Boylan precisar usar o baixinho em jogos decisivos neste ano, seria um péssimo sinal para suas pretensões.

– O que o Magic ganha: Tobias Harris e Doron Lamb foram muito pouco aproveitados em Milwaukee, mas são bem avaliados pelos scouts da liga. Harris está em sua segunda temporada na liga, mas tem apenas 20 anos e é conhecido por sua força física e firme presença próximo da cesta.  Lamb foi campeão universitário por Kentucky. Embora não seja o jogador mais atlético, tem fundamentos sólidos  no ataque e um belo arremesso de longa distância. São mais dois prospectos para Jacque Vaughn trabalhar em um elenco que carece de jovens talentos. Antes de retornar ao mercado de agentes livres, Beno Udrih pode quebrar um galho no caso de a lesão de Jameer Nelson ser grave.

(Paralelamente, o Orlando Magic mandou o ala-pivô Josh McRoberts para o Charlotte Bobcats, em troca de Hakim Warrick, que deve ser dispensado. Provavelmente, então, Michael Jordan concordou em dar alguma graninha para a franquia da flórida, ou alguma escolha de segunda rodada. Agora: o que McRoberts vai fazer em Charlotte também fica no ar. É um jogador esforçado, que gosta de dar pancadas, tem boa impulsão e agilidade, mas não acrescenta muita coisa para um time que já tem bons operários em seu elenco, mas precisa desesperadamente de um astro).

Oklahoma City Thunder recebe Ronnie Brewer, New York Knicks ganha uma escolha de segunda rodada.
O que o Thunder ganha: Brewer foi mais um reforço bom e barato apontado aqui a mudar de ares. Valeu, Sam Presti, amigo de fé, meu irmão camarada. 🙂 O ala começou a bela temporada do Knicks como titular, mas foi afastado bruscamente da rotação por Mike Woodson, num movimento muito difícil de se entender. Ótimo defensor, experiente e atlético, pode ser útil por 10 a 15 minutos em média nos playoffs, ainda mais se o Thunder cruzar com o Miami Heat novamente na final – em seus tempo de Bulls, sempre fez um bom rabalho contra Wade.

– O que o Knicks ganha: alívio na folha salarial, mas fútil para um time que não tem preocupação alguma em economizar, além de uma escolha de segunda rodada no Draft, que deve ser insiginificante, entre os últimos lugares.

(Para abrir espaço a Brewer, o Thunder cedeu o armador reserva Eric Maynor para o Portland Trail Blazers, também em troca de um pick de segunda ronda. Maynor perdeu espaço para Reggie Jackson na reserva de Westbrook e ainda se recuper de uma cirurgia no joelho. De qualquer forma, o banco do Blazers é tão ruim que ele deve chegar ao Oregon com status de salvador, em seu último ano de contrato. Isto é: não representa impacto para as finanças do time.)

Houston Rockets recebe Thomas Robinson, Francisco Garcia e Tyler Honeycutt, Sacramento Kings recebe Patrick Patterson, Cole Aldrich e Toney Douglas.

Meu nome é Morris

Marcus Morris e Markieff Morris. Ou Markieff e Marcus Morris?

– O que o Rockets ganha: o quinto selecionado no último Draft em mais um ataque sorrateiro de Daryl Morey, o padrinho dos nerds. Com dezenas de jornalistas cobrindo a liga minuto a minuto, contectados ao Twitter, com celulares nas mãos, esperando o assobio do passarinho mais próximo, o gerente geral conseguiu fechar um negócio que ninguém havia especulado. Coisa que nem a CIA consegue hoje mais. Robinson não teve um bom início de carreira na NBA, mas estava cedo, mas muito cedo mesmo para se abrir mão. Tem coisas que só Sacramento Kings faz por você, mesmo. E mais: Garcia está em seu último ano de contrato, dando ao Rockets a chance de cortar mais um punhado de dólares de sua folha de pagamento ao final do campeonato. Para ir, então, em direção a Dwight Howard ou Josh Smith. Segura. Além disso, Garcia é um bom arremessador de três pontos, um sujeito que não complica as coisas no vestiário e pode entrar na rotação de Kevin McHale ao lado de Carlos Delfino.

O que o Kings ganha: grana. O time poupa US$ 4 milhões em salários neste ano com um só objetivo: fazer do time mais barato e mais atraente para um novo comprador. Por mais que publicamente a diretoria vá alegar que Patterson é amigo de DeMarcus Cousins (jogaram juntos em Kentucky) e que ele se encaixa melhor com seu talentoso e irritadiço pivô, abrindo a quadra com seus disparos de longa distância, não há explicação para trocar um pick 5 de Draft além desses tempos miseráveis por que passa a franquia. Douglas e Aldrich não devem ficar perdidos nessa situação por muito tempo.

(O Rockets também prestou um serviço público ao encaminhar o ala Marcus Morris para o Phoenix Suns, em troca de uma escolha de segunda rodada. Marcus agora volta a atuar ao lado de seu irmão gêmeo, Markieff. O problema é que os dois jogam hoje na mesma posição. Xi. Ah, e o Suns ainda acertou outro negócio menor, ao enviar o armador Sebastian Telfair para Toronto, em troca do pivô iraniano Hamed Haddadi e de – adivinha o quê??? – outra escolha de segunda rodada do Draft. Tcha-ram.)


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