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Arquivo : Lituânia

Magnano exigiu demais de Nenê na estreia
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Giancarlo Giampietro

Nenê: 11 pts, 4-8 nos arremessos, 3-6 nos lances livres, 8 reb e 2 ast em 29min49s na estreia

Nenê: 11 pts, 4-8 nos arremessos, 3-6 nos lances livres, 8 reb e 2 ast em 29min49s na estreia

Por Rafael Uehara*

Com o desfalque de Tiago Splitter, a expectativa era a de que Nenê fosse o jogador mais importante da seleção brasileira para a partida contra a Lituânia, pela primeira rodada do basquete olímpico do #Rio2016. Afinal, do outro lado estaria Jonas Valanciunas, que teve teve uma boa temporada com o Toronto, deu mais um passo a frente em seu desenvolvimento e também foi muito bem na fase preparatória para esses Jogos.

Augusto Lima, em tese, não tem porte físico para encarar o pivô de 2,11m e 116 kg, enquanto Cristiano Felício ainda não é calejado o suficiente para uma tarefa a esse nível. Iriaa sobrar, então, para o veterano o que parecia ser o confronto mais importante da partida que abriria o duríssimo Grupo B. O Brasil acabou derrotado por 82 a 76 num jogo maluco, de dois tempos muito diferentes.

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Qual não foi a surpresa quando Valanciunas pouco importou no plano tático da partida. O lituano teve de lidar com as faltas já no primeiro tempo e esteve em quadra só um pouco mais que a metade dos primeiros dois quartos. Ainda assim, seu time abriu o dobro de vantagem sobre o time da casa. Na segunda etapa, o atleta, que geralmente é a referência de sua equipe, esteve muito apagado, e a preocupação de ter Augusto e Felício o marcarem não se materializaram tanto assim. Sim, os jovens fizeram muitas faltas, mas batalharam. Valanciunas não dominou, e a seleção brasileira conseguiu as paradas defensivas que permitiram a tentativa de virada.

Nenê participou do ótimo segundo tempo da seleção, voltando à quadra quando Augusto e Felício lidaram com problemas de faltas, mas o saldo geral foi negativo. E serviu para encapsular as limitações que o veterano enfrenta nesta que deve ser a parte final de sua carreira bastante lucrativa.

No ataque, post ups

Brasil insistiu demais com o jogo de costas para a cesta

Brasil insistiu demais com um jogo ineficiente de costas para a cesta

O ataque brasileiro foi muito focado em Nenê no primeiro tempo. Talvez tentando cavar faltas em Valanciunas. Ou simplesmente porque Rubén Magnano realmente pense que o pivô ainda é aquele tipo de jogador capaz de criar bons lances de costas para a cesta, a ponto de forçar dobras e expor o oponente a correr atrás da bola ao redor do perímetro.

Na NBA, Nenê já não é esse jogador há anos. Logo, não causou muita surpresa quando o vimos com bastante dificuldade para criar algo contra Valanciunas, que não é dos mais velozes maracadores. Mas quando o pivô do Toronto passou grande parte do segundo quarto no banco, e Magnano manteve o paulista de São Carlos em quadra para ver se ele iria se impor contra Paulius Jankunas ou Antanas Kavaliauskas, foi aí que vimos que Nenê também não foi capaz de boas situações até contra o nível Fiba.

Suas estatísticas (11 pontos em oito tiros de quadra e seis lances livres) não contam toda a história. Nenê teve mais dificuldade do que as estatísticas mostram, e o fato de a seleção ter continuado tentando forçar a bola nele foi um dos motivos pelo péssimo segundo quarto, no qual marcou apenas 12 pontos. Foi evidente que quando Marcelinho Huertas tomou controle do ataque nos últimos três minutos do primeiro tempo e tentou a criação a partir do pick-and-roll, a seleção melhorou a qualidade dos arremessos que conseguia.

E o pick-and-roll?

Nenê tem sido mais efetivo com o jogo de média distância

Nenê tem sido mais efetivo com o jogo de média distância

O problema é que Nenê também não mais é das melhores opções no pick-and-roll. Ainda tem boas mãos para receber a bola em movimento e em quadra bem espaçada, consegue ir em direção à cesta com explosão. Mas aí que está: a seleção brasileira não oferece quadra espaçada ao seus pivôs, e Nenê não tem mais o arranque de antigamente para dar a opção da ponte área – o tipo de jogada difícil para o oponente marcar mesmo quando lota o garrafão.

Nenê ainda tem, porém, o tiro de meia distância em seu arsenal. Neste domingo, caiu apenas um dos três tiros que tentou de fora do garrafão, mas seus percentuais desta zona da quadra permaneceram fortes em suas últimas três temporadas na NBA.

Neste fim de carreira, Nenê deve ser um jogador mais de pick-and-pop do que de pick-and-roll, abrindo o garrafão para seu armador atacar a cesta ou para seus alas cortarem da zona morta. Nenê permanece um excelente passador para alguém com seu tamanho e pode prestar assistência nessas triangulações. Esta é uma opção que Magnano talvez devesse explorar mais daqui pra frente do que simplesmente isolá-lo de costas para a cesta e ver se o veterano consegue voltar o relógio cinco ou seis anos no tempo.

Na defesa…

O pivô ainda pode ser valioso na defesa centralizada no garrafão. Kalnietis o respeitou

O pivô ainda pode ser valioso na defesa centralizada no garrafão. Kalnietis o respeitou

Magnano também exigiu demais de Nenê no sistema defensivo. Mantas Kalnietis deu voltas ao redor de Huertas no início da partida. O argentino fez o ajuste requisitando que seus pivôs, dentre eles Nenê, dobrassem para cima do lituano no perímetro. O veterano não tem mais agilidade pra esse tipo de tarefa e não foi muito efetivo em suas blitzes. Kalnietis não teve muita dificuldade para fazer passes ao redor dessas dobras.

No segundo tempo, a seleção foi mais ativa com trocas de marcação. Nenê se encontrou marcando Kalnietis em quatro ocasiões. O lituano, com receio da reputação de superatleta do brasileiro, sequer tentou no um-contra-um e se desfez da bola em três delas. Na quarta vez, jogando contra o tempo, Kalneitis foi pra cima e passou com facilidade. Perdeu o floater, mas forçou Marquinhos a fazer a rotação, o que permitiu a Mindaugas Kuzminskas um tapinha fácil no rebote.

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Nenê, a este ponto da carreira, precisa defender mais próximo a cesta, onde sua inteligência de posicionamento faz mais a diferença do que sua movimentação. Segundo o site NBA.com/stats/, os adversários tiveram média de tiro de apenas 50,4% com ele defendendo o aro. Na estreia olímpica, ele deu um toco e ainda contribuiu com cinco rebotes defensivos. Magnano precisava tentar algo para tentar parar Kalnietis, mas agora sabemos que caso necessário de novo no futuro, sua solução não será tirar seu principal do garrafão.

Nenê ainda será peça-chave para a seleção nesse torneio, se o time tiver grandes aspirações. Porém, suas contribuições têm de ser mais voltadas para o teor tático e técnico do que baseadas no porte físico. Resta saber se Magnano fará os ajustes necessários para que a seleção sobreviva a esse grupo da morte, sendo o principal deles usar a maior estrela desse time da forma na qual ele possa render mais.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Após 1º tempo estarrecedor, seleção reage. O que se tira de um jogo maluco?
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Giancarlo Giampietro

Kalnietis tem muito talento, mas não é um Jasikevicius reencarnado, que fique claro

Kalnietis tem muito talento, mas não é um Jasikevicius reencarnado, que fique claro

Uma coisa era perder por 30 pontos. Outra, por seis, que foi o placar do triunfo da Lituânia sobre a seleção brasileira por 82 a 76, neste domingo, pela estreia pelos Jogos do Rio 2016. A reação no segundo tempo, com vitória por 47 a 24, resgatou o apoio da torcida e um senso de confiança para o time da casa. Só não pode apagar o assustador desempenho defensivo da etapa inicial.

De modo inexplicável, com uma defesa desbaratinada, o Brasil entrou com a guarda baixa no primeiro quarto, perdido já por dez pontos (27-17). O segundo período foi ainda pior, com parcial de 31 a 12 para os caras. A vantagem bateu em 30 pontos, e o ginásio olímpico estava mudo. Pudera: eles estavam assistindo angustiados e, quiçá, atenciosos a uma aula aplicada pelos lituanos.

O aproveitamento de quadra era superior a 70%. Em assistências, tinham o triplo dos anfitriões. Caía tudo dentro do garrafão e até mesmo no perímetro, para uma equipe que, a despeito da tradição de seus antecessores, não tem chute confiável de longa distância. Agora, em nenhum momento o que se passou no primeiro tempo foi uma questão de sorte. Tratava-se de competência na execução de suas jogadas e na leitura de jogo, aliada a uma estarrecedora incapacidade defensiva por parte dos comandados de Rubén Magnano.

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Ao que parece, se o amistoso em Mogi serviu para alguém, foi para a Lituânia – já que a derrota num jogo-teste, como vimos hoje, não representa absolutamente nada. Daquela partidinha, o que vimos que foi aplicado hoje, uma semana depois? A dominância de Mantas Kalnietis para cima de Marcelinho Huertas. Naquela ocasião, o camisa 5 báltico fez o que quis em quadra, em minutos reduzidos, tendo muito mais velocidade que o brasileiro, que era batido lateralmente com facilidade. Isso voltou a acontecer no quarto inicial, agora numa Olimpíada, gerando algumas situações de desequilíbrio defensivo, e a partir daí a seleção só fez correr atrás.

Magnano solicitou, então, uma dobra dos pivôs para cima do talentoso, mas extremamente irregular Kalnietis (16 pontos e 8 assistências, contra 3 turnovers, em 36 minutos, com 5-11 nos arremessos). Acontece que essa dobra estava chegando muito atrasada. Para piorar, a rotação por trás dessa dobra foi um desastre completo, e o resultado foi uma sequência de bandejinhas incríveis debaixo da cesta. O despreparo ou a desatenção foram absurdos. Por exemplo: Paulius Jankunas, um jogador tático, se transformou num cestinha de repente, com 15 pontos em 10 arremessos e 22 minutos.

Leandro nem sempre toma a melhor decisão em quadra, mas ninguém vai dizer que lhe falta fibra

Leandro nem sempre toma a melhor decisão em quadra, mas ninguém vai dizer que lhe falta fibra

O estrago no garrafão, no primeiro tempo, foi enorme. Quando falamos isso, não quer dizer que nossos grandalhões tenham fracassado, contra uma linha de frente muito, mas muito física e também técnica. Não foi isso. É que a turma do perímetro não deu conta, inicialmente, de suas tarefas. Ninguém conseguia brecar Kalnietis. E aqui cabe uma explicação para quem talvez não esteja tão familiarizado com o armador lituano: não, ele não é a reencarnação de Sarunas Jasikevicius. A defesa brasileira que o fez parecer esse tipo de jogador. Historicamente, o cara tem alguns rompantes que te deixam embasbacado, mesmo. Mas consistência e lucidez não é algo que você pode esperar dele.

Se a Lituânia atingiu alguns índices de acerto nos arremessos – seja de dois, três pontos ou nos lances livres –, não é só porque estava inspirada ou com o aro largo. É que eles estavam aparecendo com liberdade realmente atordoante. Aí Kuzminskas e Maciulis também emularam Siskauskas ou Karnisovas. O que também não condiz com suas carreiras. Veja bem: não é que a Lituânia seja um time de segunda categoria que tenha se aproveitado de deslizes brasileiros. Muito pelo contrário: eles foram medalhistas nos últimos dois EuroBaskets e ainda chegaram a disputar medalhas pela Copa do Mundo dois anos atrás. Esse elenco, porém, no papel, só não é fantástico e matador assim para abrir o dobro de vantagem sobre os brasileiros. Tanto se esbaldaram que, mesmo depois de marcar apenas 24 pontos no segundo tempo, ainda saíram do ginásio com aproveitamento de 50% nos arremessos, com 59% de dois e 38% de três. Ao todo, deram 29 assistências.

No segundo tempo, tudo mudou. E aí que a gente não pode ignorar o contexto do que havia acontecido até ali também. Acho que é inevitável uma seleção sair do vestiário com quase 30 pontos de vantagem e não se permitir relaxar – pelo menos aqui e ali, em uma ou outra posse de bola. Não dá para fazer matemática aqui. Algo como: ah, se os lances livres tivessem caído mais no primeiro tempo e a vantagem não fosse tão grande assim, talvez o Brasil pudesse ter concretizado sua virada. Basquete e esporte não funcionam assim, com hipóteses numéricas. Na real, os números são apenas a manifestação factual daquilo que se passa em quadra.

Então não é que, de novo, “se a seleção nacional tivesse jogado assim o tempo todo, teria atropelado”. Teve um pouco de concessão do outro lado, naturalmente, assim como aconteceu da parte brasileira na primeira etapa. Ainda assim, há algumas coisas que a gente pode tirar desta reação impressionante, com uma rotação composta basicamente por Raulzinho, Leandrinho, Marquinhos, Augusto, Nenê e Felício:

Raul jogou muito no 2º tempo, agredindo dos dois lados da quadra

Raul jogou muito no 2º tempo, agredindo dos dois lados da quadra

1) o Brasil está, sim, muito bem fisicamente. Partiram para cima dos adversários, pressionaram a bola com muito mais eficácia e não tiraram o pé do acelerador até o final da partida. Foi com pulmão, perna e coração que o time batalhou no placar: estou com o Wlamir nessa (aliás, é bom ouvi-lo, de volta com o microfone e sem papas patrióticas ou políticas).

2) se o armador adversário for desse tipo agressivo, com bom chute e arranque, Magnano vai ter de pensar com carinho na hipótese de realmente limitar os minutos de Huertas, caso sua movimentação lateral esteja sendo explorada. Ou isso, ou, no mínimo, o capitão e Rafael Hettsheimeir não vão poder ficar muito tempo juntos. Pois a defesa fica muito vulnerável.

3) nesse sentido, se o ataque brasileiro não conseguir colocar Hettsheimeir ou Giovannoni em boas condições de arremesso, sua escalação passa a ser questionada. Aí os minutos devem ir para Augusto () e Felício, para a formação com Nenê de uma trinca enérgica, atlética e bastante física. Augusto (4 pontos, 6 rebotes e 5 faltas em 20 minutos, saldo de +10) e Felício (4 pontos, 4 rebotes e 4 faltas em 14 minutos, saldo +10) injetaram vitalidade na defesa interior da seleção na segunda etapa, trombando para valer com Valanciunas, Jankunas e Sabonis, tirando-os de uma zona de conforto. Você está sacrificando arremesso, mas pelo menos dá um jeito de ser combativo na zona pintada. Da sua parte, Nenê (11 pontos, 8 rebotes, 2 assistências em elevados 29 minutos) deu conta de Jonas Valanciunas (só 6 pontos e 3 rebotes em 19 minutos, limitado pelas 5 faltas que cometeu), conforme o esperado

Augusto ajudou a mudar a disputa no garrafão após o intervalo

Augusto ajudou a mudar a disputa no garrafão após o intervalo

4) mais importante, no entanto, foi a participação de Raulzinho. Não custa lembrar, de novo, que se o armador conseguiu espaço pelo Utah Jazz em sua temporada de novato, foi por causa de sua defesa. O jovem atleta fez um trabalho muito mais competente em cima de Kalnietis. Não por acaso, teve o melhor saldo de pontos entre os brasileiros, com +16, em 25 minutos. Ainda levou essa agressividade para o ataque para descolar lances livres e terminar, cheio de confiança em seu chute em flutuação, com 14 pontos em apenas seis arremessos.

5) ao defender bem, a seleção conseguiu enfim sair em transição para explorar as deficiências lituanas nesse sentido. Eles são muito lentos. Apenas no banco de reservas estão alguns caras mais atléticos, mas ninguém que consiga apostar corrida com boa parte do elenco brasileiro. E o jogo em transição se mostra novamente essencial para a equipe de Magnano. Em meia quadra, a movimentação voltou a sofrer um choque de realidade entre o que se passa em amistosos e nos jogos reais. Além disso, os lituanos não mostraram muito respeito pelos chutadores e congestionaram o garrafão numa boa.

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6) Em suma: o trabalho de meia quadra vai ter de melhorar demais. Não é justo exigir de Leandrinho (21 pontos em 17 arremessos,  um segundo tempo desses. O ligeirinho forçou algumas bolas, mas não tem muito o que se criticar em sua atuação. Ele estava com fome de bola em muitos sentidos, jogando com muita intensidade, provando por mais uma partida o quanto sua capacidade atlética ainda é fora do comum, mesmo como trintão e com o joelho operado. Se for para falar de abordagem individualista, é só reparar que o Brasil só deu 12 assistências na partida inteira.

Então é isso. A estreia passou, e deixa algumas lições, a despeito de toda a loucura que vimos em 40 minutos. Ao menos o time não sai totalmente cabisbaixo, como seria no caso de um revés por 30 pontos. Pois a tabela é um tanto ingrata, com a Espanha vindo por aí na terça-feira. O grupo é muito difícil para se deixar contagiar por depressão – ou mesmo por euforia. O que não dá, mesmo, é defender com tanta passividade e desorientação por 20 minutos, como aconteceu no primeiro tempo. Haja fôlego para buscar reação desse jeito.

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Rendimento nos amistosos deixa até Magnano feliz. Mas são só testes ainda
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos esquentou contra a Lituânia. Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Marquinhos esquentou contra a Lituânia. Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Os amistosos vão passando, e a seleção brasileira, vencendo. São cinco jogos-teste até o momento e cinco triunfos,  restando mais uma “pelada” contra a China antes de a coisa ficar séria, seríssima ao chegar o #Rio2016.

Até enfrentar dificuldades contra a Lituânia neste domingo, com uma vitória por 64 a 62 em Mogi das Cruzes, a equipe de Rubén Magnano vinha atropelando a concorrência, com placares de 90 a 45 e 96 a 50 contra a Romênia,  96 a 67 contra a Austrália e 91 a 50 contra a China. Podem fazer as contas aí, que vai dar 42,7 pontos de saldo. Num estalo, não tem como não se empolgar com esse rendimento, certo? Até que chegaram os bálticos, adversários da estreia olímpica, para complicar um pouco as coisas.

Agora, independentemente do que se passou neste penúltimo amistoso em Mogi, não é para se deixar levar por euforia ou preocupação. Sim, testes contra Romênia e China só servem para exercitar a seleção e não provam nada. Austrália e Lituânia são obviamente muito mais competitivas. Ainda assim, estamos falando apenas de partidas preparatórias. Amistosos podem ser traiçoeiros, dependendo do nível de concentração e dedicação dos adversários. Por um lado,  a equipe nacional não tirou o pé e fez jogaram o máximo e atropelaram, sem considerações maiores. Vale dizer que dois dos melhores jogadores chineses, o armador Ailun Guo e o pivô Jianlian Yi, mal jogaram. Ninguém é campeão antes de o torneio começar. Talvez só os Estados Unidos.

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Neste domingo, também vimos claramente a seleção do Leste europeu medindo esforços. Onde estavam Jonas Valanciunas e Mantas Kalnietis no quarto período? E desde quando Jonas Maciulis se transformou num Linas Kleiza para querer arremessar e partir para a cesta toda vez que pegava na bola? Enfim. Naturalmente, Magnano também não mostrou  todas as suas cartas. E por que ele e Kazlauskas o fariam, a poucos dias de se enfrentarem pelas Olimpíadas, num grupo em que cada rodada será basicamente uma decisão? Não é querer ser chato ou desconfiado demais, embora esse seja mais ou menos um pré-requisito jornalístico.

O time tem se apresentado bem. A dúvida que fica é apenas sobre o nível de seriedade que a seleção teve em seus amistosos, comparando com o que os australianos e lituanos mostraram, mesmo que, contra estes, o pau tenha quebrado nas disputas do garrafão. O placar contra o  time da Oceania, por outro lado, impressiona bastante, por mais que não estivessem a todo o vapor.

Os sinais positivos? A pegada defensiva ainda está ali, algo que Magnano reforçou no momento em que chegou. O mais importante também é ver que o elenco, no geral, está muito bem fisicamente, mesmo, voando em quadra, pressionando a bola, saindo em velocidade. No ataque, como aponta Magnano, estamos vendo poucos arremessos forçados e a bola compartilhada. Existe todo um mistério, ou até mesmo drama em torno de quem seria o “go-to guy” da equipe, aquele cara de referência. Como Gasol na Espanha, Bojan Bogdanovic na Croácia, Nando De Colo/Tony Parker na França etc. Se essa fosse uma condição obrigatória, Marquinhos seria meu candidato. Mas, se o Brasil mantiver essa abordagem que vem mostrando nos amistosos, talvez simplesmente não seja necessário. A equipe conta com diversos jogadores talentosos em diferentes posições, que podem partir para o ataque quando chamados, dependendo de quem é o marcador do outro lado. E eles não têm forçado a barra. No final, o arremesso de três está irregular, então também foi bom ver o ala flamenguista despertar em Mogi.

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“Como treinador, tenho que tentar fazer com que os jogadores atinjam a excelência. Alguma coisa sempre falta, mas vimos, por exemplo, 14 assistências, o que quer dizer que a bola rodou, que os jogadores passaram a bola. A solidariedade está presente no jogo, tanto no aspecto ofensivo, quanto no defensivo. Estou muito contente”, afirmou o treinador da seleção, após o triunfo de domingo.

Agora, precisa ver como tudo isso vai ser aplicado quando o jogo estiver valendo. E valendo muito. Magnano, da sua parte, acredita que a partida contra os lituanos serviu para se avaliar isso também.  “Foi um jogo muito interessante porque nos colocou em situações de adversidade. Quatro pontos atrás, três pontos, quatro de novo. E recuperamos. Isso nos dá confiança. Alguns acham que, quando o Brasil cai no buraco, não é capaz de sair. Não é assim. Já mostramos isso em outras situações, e neste jogo aconteceu novamente. Parecia que a Lituânia ia disparar, mas fomos capazes de suportar isso, continuar jogando e passar à frente. Então isso não me preocupa muito porque acho que estamos bem.”

É difícil ver o argentino solto deste jeito. Ainda assim, é mais recomendável ainda evitar o termo “empolgar” ao falar sobre os amistosos e os placares obtidos pela seleção. Se quiser usar “animar”, com o aval do costumeiramente exigente treinador brasileiro, acho que aí fica tudo bem.

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Guia olímpico 21: Sérvia e Lituânia, num segundo escalão
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Giancarlo Giampietro

Devido ao adiantado da hora, não dá para escrever tanto sobre cada um dos 12 participantes do torneio masculino do #Rio2016, pelo menos não da forma como foi feito com o Brasil e os Estados Unidos, comentando jogador por jogador, ou mesmo como Argentina, Espanha e França. Por que a atenção maior dada a estes times? Bem, os dois primeiros têm razões óbvias. O trio seguinte eu tento explicar assim: Espanha e França são, devido aos resultados recentes, aqueles mais cotados para subir ao pódio ao lado dos norte-americanos. A Argentina não está nesse patamar, mas tem velhos conhecidos nossos e fez parte da trajetória da seleção brasileira.

lituania-serbia-maciulis-kalinic-fiba

Lituanos levaram a melhor em dramática semifinal no ano passado

Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?

Reposta: Sim, vaaaaamos!

Então aqui estão:

1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China

Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.

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Festa essa ressalva, a ideia agora é publicar um post abordando os times restantes em cada um desses grupos, botando nigerianos, venezuelanos e chineses no mesmo balaio final. Aqui, chegou a vez de sérvios e lituanos:

SÉRVIA

Armadores: Milost Teodosic, Stefan Markovic, Stefan Jovic e Nemanja Nedovic.
Alas: Bogdan Bogdanovic, Nikola Kalinic e Marko Simonovic.
Pivôs: Nikola Jokic, Miroslav Raduljica, Milan Macvan, Vladimir Stimac e Stefan Bircevic.

– O grupo: Entre os elencos mais fortes dos Jogos do Rio, a Sérvia é a que tem menos jogadores de NBA. Apenas um, na verdade: o pivô Nikola Jokic, que, pela maturidade e fundamentos que mostra em quadra, jamais poderíamos supor que tenha apenas 21 anos. Poderiam ser três, com Nemanja Bjelica e Boban Marjanovic. Se tivesse montado esse trio, o técnico Aleksandar Djordjevic teria uma linha de frente assustadora. Mas diferentes motivos os tiraram do evento.

Boban virou um agente livre em julho e estava na categoria dos “restritos”, ainda vinculado de certa forma ao Spurs, que poderia cobrir qualquer oferta. O problema é que isso impediu que o gigantesco e carismático atleta resolvesse rapidamente sua situação. Estava fora de sua alçada. De modo que pediu dispensa, algo que desagradou, e muito, o durão Djordjevic. Passado o pré-olímpico mundial em Belgrado, Boban, já de contrato fechado com o Detroit Pistons, se colocou à disposição da seleção. Foi recusado, mesmo que seja 20 vezes mais jogador que o limitado Vladimir Stimac.

Já a baixa de Bjelica deixou o treinador sérvio bastante chateado e frustrado, e foi por conta da inflamação num nervo do pé direito. A previsão do departamento médico do Minnesota Timberwolves é a de que o ala-pivô só se recuperaria durante as Olimpíadas. Estaria sem ritmo nenhum de jogo. É uma perda enorme para a seleção balcânica, devido a toda a sua versatilidade. Bjelica é dos grandalhões mais flexíveis que você vai encontrar por aí. Na bem-sucedida campanha pela Copa do Mundo, nós o vimos colaborar com rebotes, chute, passe e até mesmo com a articulação da equipe e a partida em transição. Desconfio, inclusive, que, se fosse para escolher, Djordjevic até mesmo o priorizaria a Jokic, por mais que o jovem pivô tenha feito uma excepcional primeira temporada pelo Denver e tenha enorme potencial.

Jokic foi dominante no Pré-Olímpico de Belgrado

Jokic foi dominante no Pré-Olímpico de Belgrado

– Rodagem: é uma seleção bastante jovem, mas que com diversos atletas que estão acostumada a jogar junto há um bom tempo, desde a base; os jogadores também têm muita cancha de Euroliga, habituados a grandes partidas; no Pré-Olímpico em casa, atropelou, ajudada por um sorteio bastante camarada.

– Para acreditar: o conjunto de armadores sérvios é muito forte. Só perde para o espanhol neste torneio, com o genial (e genioso) Milos Teodosic sendo a referência. A presença de Stefan Markovic e Stefan Jovic lhes dão mais liberdade em quadra para olhar para a cesta, enquanto ambos também teriam a incumbência de marcar o jogador de perímetro mais agressivo do outro lado; Jokic é um jovem craque; Bogdan Bogdanovic é uma das estrelas da jovem geração europeia, sem medo nenhum de tentar o arremesso da vitória, evoluindo bastante sob a orientação do mítico Obradovic pelo Fenerbahçe – até recusou o Phoenix Suns neste ano para seguir nessa trilha; Miroslav Raduljica, um verdadeiro bisnagão, não deixará o time seguir tanta falta de Boban, ocupando já muito espaço dentro do garrafão na defesa, enquanto, no ataque, precisa converter seus semiganchos e atacar a tábua.

Questões: na Copa do Mundo, surpreendeu e conquistou a prata (digo “surpreender” pelo fato de ser uma base jovem e de o país ter vindo de resultados muito fracos nas competições). Um ano depois, já como favoritos, quando valia a vaga, sentiram a pressão na semifinal contra a Lituânia. Além disso, não há ninguém no elenco capaz de dar conta nem de 50% das tarefas que cabiam a Bjelica. Milan Macvan herdou sua vaga. Ele é um tremendo reboteiro, mas é pesadão e só acha que pode chutar de longa distância. Se o time estiver desesperado por arremesso de fora, Stefan Bircevic será chamado, a despeito de sua fragilidade física e irregularidade. Dependendo do adversário, contra equipes mais baixas, Nikola Kalinic até pode assumir suas funções.

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LITUÂNIA

Valanciunas, Valanciunas e mais Valanciunas pelos bálticos

Valanciunas, Valanciunas e mais Valanciunas pelos bálticos

Armadores: Mantas Kalnietis, Adas Juskevicius e Renaldas Seibutis.
Alas: Jonas Maciulis, Mindaugas Kuzminskas, Marius Grigonis e Edgaras Ulanovas.
Pivôs: Jonas Valanciunas, Paulius Jankunas, Domantas Sabonis, Robertas Javtokas e Antanas Kavaliauskas.

O grupo: um ano atrás, entre a elite europeia, a Lituânia poderia ser considerada aquela seleção com menos, hã, grife. Só o trator Valanciunas estava na NBA. Boa parte de seu elenco jogava em clubes locais, do país em que o basquete é uma religião. Conseguiram, ainda assim, a prata no EuroBasket e a classificação direta, evitando qualquer possível armadilha nos pré-olímpicos mundiais. Agora, eles chegam com uma trinca de profissionais da liga americana, com Sabonis, draftado por OKC, e Kuzminskas, contratdo pelo Knicks, fazendo companhia ao pivozão. E sabe do que mais? Não muda nada isso. Com ou sem este selo, a Lituânia seria o mesmo time a ser respeitado.

O técnico Jonas Kazlauskas tem um elenco muito limitado atleticamente. Um torneio de enterradas interno seria tão emocionante quanto uma partida de xadrez. Mas sua experiente base sabe muito bem dessas limitações e dá um duro danado em quadra para compensá-las com muita força física, garra, senso de posicionamento e inteligência em geral. Eles vão ralar na defesa e esperar que Valanciunas resolva as coisas no ataque.

Enquanto isso, Kazlauskas vai formando um novo núcleo em torno de Valanciunas, contando com cinco jogadores estreantes em Jogos Olímpicos, adicionando alas voluntariosos como Ulanovas e Grigonis, que não terão prioridade em termos de rotação, mas já vão viver uma grande experiência.

Entre os mais jovens, de todo modo, fica a expectativa para ver como vai se comportar o jovem Saboninhos, que soube aproveitar bem a passagem pelo basquete universitário americano para expandir seu jogo – deixando o Unicaja Málaga, clube de forte base, mas que nem sempre aproveita bem sua revelações. Ele tem tudo para formar uma grande dupla com Valanciunas por anos e anos e já deve ser produtivo no Rio.

– Rodagem: veja abaixo.

– Para acreditar: talvez não haja grupo mais entrosado que o lituano. Kalnietis, Seibutis, Maciulis, Kuzminkas, Jankunas, Valanciunas e Javtokas jogam juntos há muito tempo e estiveram presentes praticamente em todos os torneios deste ciclo olímpico. Isso lhes dá uma vantagem imensa. Se for pensar em consistência, esse é o seu time também: o jogo dos caras não empolga, como nos bons tempos, mas eles não largam o osso. A prata no último EuroBasket foi uma repetição de seu resultado em 2013. Entre um torneio continental e o outro, ficaram em quarto no Mundial. O núcleo central da equipe tem muita experiência. Mais: é difícil demais remover Valanciunas dos arredores do garrafão e da tabela, e, uma vez posicionado ali, o pivô, muito forte e técnico, vai castigar a maioria de seus adversários.

 – Questões: a Lituânia depende demais de Valanciunas. O pivô é referência para tudo. Quando o assunto é Lituânia, parece até heresia perguntar, mas lá vai: eles vão acertar o suficiente nos tiros de três pontos para seu grandalhão ter espaço no garrafão e ativar seus movimentos um tanto mecânicos?

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Seleção masculina conhece seu grupo olímpico. Está difícil
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Giancarlo Giampietro

Grupos - basquete olímpico

Um grupo de olímpico nunca será exatamente uma moleza. Mas dá para ficar mais complicado também do que Rubén Magnano gostaria. Foi o que aconteceu nesta sexta-feira, quando a Fiba sorteou as chaves do torneio masculino e já reservou ao time anfitrião um senhor desafio logo de cara: conseguir a mera classificação para as quartas de final.

Pois a seleção brasileira vai ter de se virar com Argentina, Espanha, Lituânia, Nigéria e mais um dos vencedores dos três pré-olímpicos mundiais que serão disputados às vésperas da grande competição. E aí você pergunta: quais são as possibilidades? Por cerca de uma hora, ninguém sabia dizer, até que o repórter David Hein, fonte bastante confiável para assuntos europeus do tipo, esclarecer: os três times classificados nessa última peneira serão alocados em um novo sorteio.

Genial, né? Ainda estou para ver um procedimento da federação internacional que não seja confuso. Já não poderiam ter numerado os torneios? Mas, não: tem de fazer mais um evento. Pelo menos precisamos admitir que eles são bons nisso de enrolar e encher linguiça.  De qualquer forma, os três torneios serão disputados em Manila, nas Filipinas, Belgrado, na Sérvia, e Turim, na Itália. Podem vir equipes como França, Canadá, Sérvia, Itália, Grécia, Sérvia… Enfim, será mais uma pedreira, certamente.

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Levando em conta o retrospecto brasileiro na última Olimpíada e na Copa do Mundo de 2014, com vitórias sobre seleções como Austrália, Espanha (*sim, foi polêmica), França, Sérvia e Argentina, não há razão para se desesperar. Se a preparação for a que Magnano julga ideal, o time chegará em condições de enfrentar qualquer um de seus primeiros cinco oponentes, com estreia marcada contra a Lituânia, no dia 7 de agosto.

Mas seria melhor ficar numa chave com Venezuela e China, com o Grupo A? Sim, seria, por mais que os venezuelanos tenham surpreendido o Canadá pela Copa América e que os chineses estejam lançando uma nova geração talentosa e tenham vencido seu torneio continental tranquilamente. Em tese, a Nigéria é mais forte que os asiáticos – mais experiente, certamente.

Do outro lado, é bem possível o Brasil vencer o grupo, bem como ser eliminado de cara, sem avançar aos mata-matas – tem de batalhar, não tem jeito. Mas pensemos assim: do ponto de vista de um time anfitrião, com muitos veteranos em reta final de carreira, faria diferença cair na primeira fase ou nas quartas? Acho que não. Para eles, a essa altura, é medalha, ou medalha. (Veja bem: não estou dizendo que são obrigados a subir ao pódio, mas, sim, que, para os atletas, qualquer resultado diferente será decepcionante igual, independentemente do basquete apresentado no evento).

Tá, e se passar de fase, melhor que não sem em quarto, né? Para evitar os Estados Unidos, que são os favoritos absolutos, indiscutíveis. Depois de tanto penarem, os norte-americanos recuperaram este status. De resto, segue a linha do equilíbrio: Austrália e mais dois campeões de pré-olímpico. Seria chumbo grosso, mas para os dois lados.

Só não dá para avançar muito na análise aqui. Ainda está cedo. São cinco meses até o início dos Jogos, com playoffs de NBA, Euroliga, ACB, NBB e tantas outras ligas. Então tem de ver quais equipes vão exatamente desembarcar no Rio de Janeiro. Quantos Gasols vão jogar pela Espanha? Motiejunas vai fazer companhia a Valanciunas? Ezeli vai aceitar uma convocação? Uma Argentina com Prigioni e, especialmente, Ginóbili é outra história. Quis o sorteio, aliás, que a possível competição de despedida da geração dourada inclua mais um duelo com o Brasil. Não podia faltar. Para Magnano, mesmo que desafiador, seria especial.

A tabela, por ora:

Tabela, basquete olímpico


Seria Jonas Valanciunas a próxima superestrela europeia?
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Valanciunas, no quinteto ideal do EuroBasket

Na NBA existe essa regra não-oficial amplamente divulgada de que, para ganhar o título, você precisa de uma superestrela. E o histórico de campeões da liga certamente corrobora a tese. O Detroit Pistons de 2004 acaba sendo a exceção que confirma a regra, embora tivesse um conjunto de excelentes jogadores, sendo que um deles tinha tudo para estar no grupo dos transcendentais (Cut that check!), não fossem os problemas de concentração. De resto, por mais que romantizemos sobre o sistema belíssimo que Gregg Popovich construiu em San Antonio, o técnico é sempre o primeiro a dizer que, sem Duncan, ele muito provavelmente seria considerado apenas mais uma besta quadrada. Isso para não falar de alguns atos heroicos de Ginóbili ou Parker.

Ok. Grandes jogadores podem até vencer partidas por conta própria, e por isso contam muito num ambiente extremamente competitivo. Mas, sozinhos, esses caras não vão conquistar um campeonato, e LeBron James e Stephen Curry podem falar algumas coisas a respeito com base no que vimos na última final da NBA. De todo modo, é isto: você precisa de talento e de um time bem preparado para chegar lá. E esse conceito ultrapassa as fronteiras da liga, como pudemos ver Copa América (hola, Luis Scola!), ainda que a Venezuela tenha sido exatamente o oposto disso. De todo modo, o time de Nestor Garcia também lembra o Pistons de Larry Brown nesse sentido, como um caso excepcional, uma vez que o torneio tinha o México de Ayón e o estrelado Canadá completando as semifinais. A tese se estende também ao EuroBasket, como o esplendoroso Pau Gasol nos mostrou.

A outra vaga olímpica ficou com a Lituânia, que prontamente apontaria para Jonas Valanciunas como um desses talentos que fazem a diferença em quadra, carregando sua seleção até a final, eleito para o quinteto ideal da competição. Seria a confirmação de uma expectativa de longa data de que o pivô seria um dos próximos grandes craques do continente. Não estou tão certo assim — pelo menos não de que vá atingir essa condição transcendental.

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Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não tenham dúvida: Valanciunas já é reverenciado na Lituânia e, segundo todos os relatos em Toronto, é um rapaz muito bacana, humilde e que sente imenso prazer em jogar por sua seleção nacional. Merece todo esse carinho do retorno para casa após o EuroBasket

Não há dúvidas de que Valanciunas já é muito produtivo no mais alto nível europeu: terminou o EuroBasket com 16,0 pontos, 8,4 rebotes, 1,4 toco, 59,1% nos arremessos e 85,7% nos lances livres. Em Toronto, em sua terceira temporada de NBA, também fez sua melhor campanha, atingindo seu maior índice de eficiência, somando com 12,0 pontos, 8.7 rebotes e 1,2 toco, mais 57,2% nos chutes de quadra e 78,6% na linha. Estamos falando de um jogador de apenas 23 anos. Embora já bastante rodado, o lituano é ainda  jovem, da mesma geração de Lucas Bebê, mas num estágio de desenvolvimento que nem se pode comparar. A pouca idade sugeriria que ainda há muito mais por vir. Será?

A questão é saber há muito o que desenvolver em seu jogo atual. Quer dizer: há, sim. Só não está claro se vai acontecer. Talvez o pivô possa melhorar no reconhecimento das dobras defensivas, para devolver a bola, com mais rapidez e precisão, aos companheiros de perímetro que tendem a ficar livres. Para alguém que consegue atrair marcação dupla, é alarmante que tenha apenas 143 assistências em 223 partidas pelo Raptors. No campeonato passado, apenas 3,1% das cestas de seus companheiros aconteceram depois de passes dele. Esse foi o mesmo padrão do campeonato europeu de seleções, competição em que sua presença no garrafão chama ainda mais atenção dos marcadores.

No momento, Valanciunas é estritamente um finalizador. Um ótimo finalizador, é verdade, tanto dentro do garrafão como no chute de média distância, mas que não cria tantos problemas assim para um sistema defensivo bem armado, devido a suas limitações atléticas e técnicas. Desde a ida para a NBA, parece ter seguido a trilha ‘errada’, ou ao menos a trilha menos comum do basquete de hoje. Em Toronto, passou de garotão lânguido e ágil para este massa-bruta-pancadão.

Quando enfrenta adversários peso pena ou molengas, domina. Que o diga Andrea Bargnani, contra quem se esbaldou nas quartas de final, com 26 pontos e 15 rebotes, acertando 11 de 13 arremessos. Quando a oposição é mais qualificada, seja pela força física e/ou capacidade atlética, seu jogo fica muito mais complicado. Abaixo, veja um clipe com algumas de suas jogadas contra a Itália e perceba com os números dificilmente contam toda a história. A defesa interior azzurra foi uma verdadeira piada, e o mérito de Valanciunas foi saber aproveitar tantos buracos:

Ainda assim, não salta aos olhos o quanto ele precisa batalhar para pontuar em situações de mano a mano? Bandejas livres debaixo do aro não contam. Não sei bem se “dificuldade”, na verdade, é o melhor termo, levando em conta seu aproveitamento de quadra. Mas é que parece tudo muito custoso, mesmo, para alguém que hoje tem movimentos muito robóticos, com um jogo de pés bem fundamentado, mas muito lento. É o tipo de ação que podem muito bem ser contestadas por gente de maior envergadura ou coração. Se você deixá-lo trabalhar próximo da cesta, contra um pivô lento ou mais baixo, vai ter problemas, porque ele consegue se impor fisicamente, de costas para a cesta.Se abrir um corredor para ele no pick-and-roll, dãr, é óbvio que ele vai pontuar.

Agora, se a defesa mandar dobras velozes vindas do lado da bola, para forçar que se livre dela. Se, na cobertura da jogada em dupla, você puxar um defensor do lado contrário e desviá-lo de sua rota, ele, hoje, fica em xeque, por dois fatores: a visão de quadra pouco privilegiada e a mobilidade reduzida, com deslocamentos laterais praticamente inexistentes. Um corpo qualquer em seu caminho é um tremendo obstáculo. Para os lituanos mais críticos que o acompanham há mais tempo, o sentimento é de potencial desperdiçado, ou subaproveitado.

“Gostava mais de Jonas quando o dirigia em Rytas. Ele era mais flexível, mais magro, mais rápido e mais ágil. Simplesmente me lembrava de um jovem Sabonis em sua idade. Agora na NBA ganhou massa e ficou mais forte. Pediram um jogo mais físico e de um contra um para ele”, afirmou Rimas Kurtinaitis, seu ex-treinador no Lietuvos Rytas e um dos grandes jogadores lituanos que esteve a serviço da União Soviética no começo de carreira, mas teve tempo de defender seu país novamente independente por dois ciclos olímpicos, subindo ao pódio em 1992 e 1996. Era tão talentoso como jogador que se tornou o único atleta de fora da NBA a participar do torneio de três pontos do All-Star, em 1989. Também virou um ótimo treinador. É uma opinião que pede respeito.

Ainda mais quando ele traz um nome sagrado como “Sabonis” para a discussão. Talvez seja exagero. Mas o ex-ala ao menos fala na condição de quem realmente viu o jovem Arvydas em ação. Se pegarmos os seus lances da época de Lietuvos Rytas, vamos ver um atleta de verdade, com outro biótipo (e não o de um magrelo, gente), leve, atacando a cesta de fora do garrafão, ganhando na corrida de ponta a ponta da quadra etc.

Agora, posto tudo isso, não vamos nos esquecer que um jogo se joga dois lados da quadra, né? Na defesa, a despeito de um toco aqui e ali, Valanciunas realmente deixa a desejar, se tornando uma peça muito vulnerável justamente devido à lentidão e também à confusão sobre onde está a bola e onde está o jogador que tem de frear. Não é um protetor de cesta como se esperaria de alguém de seu porte físico, pois não costuma se posicionar bem. Mas é longe da cesta, quando envolvido em jogadas de pick-and-roll ou pick-and-pop, que as coisas ficam graves. Contra a mesma Itália, abrindo para o chute, o próprio Bargnani marcou 21 pontos, e o estrago poderia ter sido muito maior se o pivô do Nets estivesse com a pontaria mais precisa, tendo errado um de sete arremessos de longa distância. Podem ter certeza: as falhas nos disparos não aconteceram por contestação do oponente.

De novo: a despeito de suas limitações, que lhe foram impostas, Valanciunas ainda é jovem e pode se desvencilhar, ou aprender a lidar com elas. Registrá-las aqui não se trata de uma sentença. Nesse ponto, vale lembrar que duas apostas brasileiras (Bruno Caboclo e Lucas Bebê) estão sendo bombadas por Toronto neste exato momento, ainda que sob gestão de Masai Ujiri, enquanto o lituano trabalhou no primeiro ano ainda com Bryan Colangelo como mandachuva. O desenvolvimento físico dos dois era necessário, mas é bom que também não se passe do ponto. Para o futuro da seleção brasileira, são dois talentos hoje estratégicos, como fazedores de diferença ou não. Afinal, a formação de talentos por estas bandas anda cada vez mais desacelerada.

O curioso é que na Lituânia existem queixas semelhantes. Mas que têm seu próprio contexto: eles estão acostumados com outros padrões de produção de jogadores qualificados, mesmo que sejam um país com população de menos de 3 milhões de habitantes. Basta ver a seleção que passou pela Itália e, surpreendentemente, pela Sérvia para assegurar mais uma participação olímpica.

Seibutis, Maciulis, Jankunas, Kuzminskas, Javtokas, Milaknis e afins podem não ter o apelo dos prospectos sérvios, mas são, ao seu modo, jogadores muito bem burilados, preparados e intensos, além de experientes e entrosados (seis jogadores da seleção jogaram pelo Zalgiris Kaunas na última temporada). Essa mesma base já havia chegado às semifinais da Copa do Mundo no ano passado. Formam um elenco de apoio e um conjunto muito forte em torno de Valanciunas, confiando que o jovem pivô vá levá-los longe. Ou pelo menos até onde seus músculos consigam carregá-los.


Notas sobre o EuroBasket: a era espanhola e outras seleções
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Giancarlo Giampietro

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Três dos últimos quatro EuroBaskets terminaram assim

Depois de duas grandes semifinais, a disputa pelo título teve um pouco de anticlímax, né? A Lituânia perdeu o jogo já nos primeiros minutos.Mas claro que os espanhóis não estão nem aí para isso. Em seu período (quase) hegemônico no continente, a seleção talvez nunca tenha sido tão contestada como aconteceu neste torneio. Os caras penaram na primeira fase e poderiam muito bem ter sido eliminados pela Alemanha. Mas passaram e foram ganhando corpo. A defesa cresceu, os Sergios se soltaram e Pau Gasol foi enorme.

O título deste ano teve o prazer da reação em questão de dias e da revanche contra os franceses, na casa do adversário, com público enorme presente. Em termos de relevância de símbolo, contudo, nada supera o torneio que fez o seu MVP, com um dos melhores torneios individuais de que se tem nota no mundo Fiba: 23,0 pontos, 8,8 rebotes, 2,9 assistências, 2,3 tocos e aproveitamento inspiradíssimo nos arremessos (57,5% no geral, 66,7% de três e 80,5% dos lances livres), em 30 minutos, com apenas 1,2 turnover. Como bem constatou a conta da Synergy no Twitter, ele teve volume de jogo de LaMarcus Aldridge com a eficiência de um Kyle Korver. Só acrescentaria que, além disso, teve ainda de proteger o garrafão e a cesta de seu time como se fosse um Roy Hibbert.

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Da frustração por sua primeira derrota numa final de EuroBasket em 2003, contra os próprios lituanos, à dominância 12 anos depois, Gasol encaminha com naturalidade sua segura candidatura ao Hall da Fama. Dentro desse seleto grupo, também há filtros. Não vou aqui me meter a besta e comparar quem foi o maior jogador europeu de todos os tempos, uma discussão que ganhou força nos últimos dias, muito por conta da exibição histórica do pivô espanhol, aos 35 anos. É uma discussão divertida para muitos, irritante para outros e que tende a ser interminável. Há quem se apegue demais ao passado, há quem desconheça o que foi feito até mesmo antes de Pequim 2008. Prefiro me abster dessa,  mas uma coisa dá para cravar: o craque está no pacote. Levantamento feito pelo HoopsHype nos mostra que ele tem mais prêmios de MVP (3) e foi mais vezes eleito a uma seleção de um torneio Fiba (8) do qualquer atleta.

O MVP histórico

O MVP histórico

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Em termos de equipe, a seleção espanhola também já tem seu lugar assegurado na história, obviamente. De 2009 para cá, ganharam três de quatro EuroBaskets. Só falharam, mesmo, em 2013, na Eslovênia, quando foram superados pela França. Do título na Polônia, o primeiro do país, cinco chegaram ao tri em Lille: Gasol, Rudy Fernández, Sergio Llull, Felipe Reyes, Victor Claver, além do técnico Sergio Scariolo. É um núcleo que tem consistentemente chegado ao pódio em cada competição que disputa, também contando com Sergio Rodríguez e alguns desfalques deste ano como Calderón, Navarro, Marc Gasol e Ricky Rubio. Se formos mais generosos, podemos falar que, desde 1999, a Espanha só não esteve no pódio em 2005, quando Grécia, Alemanha e França foram premiadas. Em um intervalo de 16 anos, só mesmo superpotências como a União Soviética e a Iugoslávia podem superar isso, mas essa não seria uma comparação justa, devido à união de diversos países sob uma bandeira.

*   *   *

Que ano o dos madridistas Llull, Rodríguez, Reyes e Fernández, hein? Campeões da Supercopa, da Copa do Rei, da Liga ACB, da Euroliga e, agora, o do EuroBasket. Se suas residências já não tinham um espaço só para troféus, chegou a hora de rever a planta de casa. Agora, depois de um torneio desgastante, resta saber qual será o envolvimento do quarteto na Copa Intercontinental de logo mais contra o Bauru.

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

Selfie de campeão oficial? Sempre com Sergio Llull

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A França conseguiu um prêmio de consolação com o bronze em Lille. Para quem jogava em casa e com um timaço, pode parecer pouco. Do ponto de vista histórico, porém, é muito valioso. É o que Tony Parker disse: o país não ganhou tantas medalhas assim em grandes eventos. Em 37 aparições no EuroBasket, a seleção tem agora seis bronzes. Quatro deles, porém, foram conquistados antes dos anos 60. Então tem isso. O maior consolo, porém, é saber que Gasol não vai mais tão longe assim em sua carreira. A Espanha seguirá competitiva, mas não será a mesma sem ele. Do seu lado, ainda que Parker e Diaw não tenham jogado nada, os franceses contam hoje com a produção mais profícua de talentos na Europa. De Colo tem 28 anos. Batum, 26. Lauvergne, 24. Gobert e Fournier, 23. Todos com longa estrada pela frente. A eles vão se juntar muitos garotos que estão fazendo a transição do juvenil para o profissional e são considerados prospectos de NBA. O DrafExpress, por exemplo, já lista mais quatro atletas que podem se candidatar com sucesso no ano que vem.

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O que dizer da Lituânia? Bem… Não dá para criticar um time que conseguiu uma dificílima vaga olímpica na Europa. É algo com o que Alemanha, Croácia, França, Grécia, Itália e Sérvia sonhavam para valer. Mas também não dá para deixar de registrar que, se pelo segundo torneio seguido eles deram um jeito de chegar à decisão, pela segunda vez tomaram uma surra na disputa pelo ouro. Há um relaxamento, claro, depois de assegurar o primeiro objetivo que era a vaga direta para o Rio 2016. Agora, contra os espanhóis, creio que o que pesou, mesmo, foi o desnível técnico de um time para o outro. A equipe lituana possui uma série de sólidos jogadores e um talento acima da média em Jonas Valanciunas, mas tende a avançar nas competições com a força de seu conjunto, com caras que jogam juntos há muito tempo. Jonas Kazlauskas, um cara de certa forma subestimado, também merece muitos elogios, ajudando a fazer desse todo algo maior que a soma de suas partes.

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A Sérvia chegou com expectativa de título. Acabou saindo sem medalhas. Talvez tenham sido derrotas importantes para o amadurecimento do time vice-campeão mundial. Aleksandar Djordjevic tem falado todas as coisas certas e exerce forte influência sobre seus atletas para usar a decepção deste ano para o bem. É muito mais time que a Lituânia, apesar da derrota na semi e creio que teria feito uma grande final contra Espanha ou França. Mas acontece. Eles foram os primeiros a admitir que sentiram o peso do favoritismo, contra um adversário muito bem preparado, pouco badalado e de ombros leves. Kazlauskas dobrou sempre que pôde para cima de Teodosic depois de corta-luzes e tirou a bola das mãos do genial armador. Além disso, com Valanciunas, Javtokas e Kavaliauskas, não precisou fazer dobras em cima de Raduljica, podendo manter a turma do perímetro grudada nos chutadores sérvios. Outra boa sacada foi colocar Mindaugas Kuzminskas para marcar Nemanja Bjelica, eliminando o mismatch tático que o ala-pivô geralmente representa.

*    *    *

Como bem escreveu Austin Green, do blog Los Crossovers, a Itália que vimos no EuroBasket é afeita ao anarquismo — ideologia, aliás, que teve fôlego mais longo do que o habitual no país. Era, desde sempre, o grande desafio de Simone Pianigiani. Pegar um monte de cestinhas e conseguir alguma coesão entre eles. Não aconteceu. Ainda assim, o time conquistou a vaga, terminando com a sexta posição, de tanto talento ofensivo que tinha. Gallinari fez uma grande competição e é aquele que tem o senso coletivo mais apurado. A bola, porém, ficava a maior parte do tempo nas mãos de Marco Belinelli, alguém que foi promovido a principal play-maker, mas que, embora mate bolas de fora, não é tão criativo assim. Andrea Bargnani, para variar, jogou estourado, foi um fiasco nos rebotes. Chega a ser até cômico o quão fominha é o ex-número um do Draft. O dia em que Bargs receber um passe na cabeça do garrafão e não arremessar já estará  em sua aposentadoria. Alessandro Gentile é mais jovem que todos eles, mas talvez seja o de personalidade mais forte, de modo que foi aquele com a maior média de arremessos por partida, batendo Belinelli por pouco. Em suma: um bando de free-lancers que ainda precisam crescer muito como equipe para lutar por medalhas na Europa.

*    *    *

Devido à dupla Vesely-Satoransky e à vitória sobre a Croácia, a República Tcheca foi o azarão que fez mais barulho no torneio. Em sétimo, a seleção se garantiu ao menos no Pré-Olímpico mundial. Para o futuro, porém, quem merece mais atenção é a Letônia, que terminou em oitavo com seus veteranos e tem uma fornada bem quente vindo por aí, liderada por Kristaps Porzingis e Davis Bertans, mas que também aposta em Timma, os irmãos Kurucs, Pasecniks, Kohs, Smits, Gromovs e Silins.


Sobrando, EUA vencem 1ª semi e vão atrás do 4º ouro seguido
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Giancarlo Giampietro

O Manimal Faried somou só 9 pontos e 6 rebotes na semi. Irving foi o cestinha com 18

O Manimal Faried somou só 9 pontos e 6 rebotes na semi. Irving foi o cestinha com 18

A Turquia venceu o primeiro tempo, enquanto a Eslovênia pelo menos se manteve perto. A Ucrânia estava acima no placar no início do segundo período. A concorrência faz o que dá, mas os Estados Unidos não se incomodam muito. Nesta quinta-feira, eles viram a Lituânia terminar o primeiro tempo apenas oito pontos atrás, mas fizeram mais um segundo tempo demolidor para assegurar vitória tranquila (96 a 68) e se classificar para a final da Copa do Mundo

Mesmo com todos seus desfalques, praticamente um time inteiro que Mike Krzyzewski poderia ter escalado para o torneio, o Team USA segue em frente, muito bem, obrigado, com 62 vitórias seguidas. Sob o comando do Coach K, são 74 triunfos, em jogos oficiais ou amistosos, e apenas um revés – a semifinal do Mundial de 2006 no Japão, contra a Grécia de Theo Papaloukas. Pense bem nisso: 62 vitórias seguidas. Isso vale lugar em alguma edição do Guinness Book, certamente.

Curry: 13 pontos em 13 minutos, com quatro faltas, e foi tudo bem até aqui

Curry: 13 pontos em 13 minutos, com quatro faltas, e foi tudo bem até aqui

LeBron, Durant, Melo, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge, Paul, Kobe e George estão fora (apesar que é preciso levar em conta que outros times também estão sem alguns de seus principais nomes). No primeiro quarto da semi, Davis, Harden e Curry cometeram muitas faltas e foram sacados. E nem isso influenciou de modo decisivo o jogo. O elenco ainda é muito talentoso e atlético, oprimindo seus adversários até o momento.

Alguns times conseguiram complicar o ataque norte-americano com marcação por zona, alternando com mista e individual. O pesado garrafão da Turquia, com Omer Asik e Oguz Savas, assessorados por ótimos reboteiros como Furkan Aldemir e Keren Gonlum, também deu um baita trabalho, conseguindo empatar a disputa nas duas tábuas, ajudando seus times a desacelerar o jogo. Mas ainda não apareceu na Espanha quem pudesse sustentar qualquer sustentar um equilíbrio por mais de 30 minutos, que foi o caso dos turcos. Perdiam só por seis pontos quando o quarto período começou, até levarem 32 a 17 naquela parcial.

A Lituânia, na semifinal, arrefeceu na volta do intervalo, tomando 33 a 14 de cara. Foi a oitava parcial em que os norte-americanos bateram a marca de 30 pontos. Na verdade, até agora, dos 32 quartos que jogaram, eles ficaram abaixo dos 20 pontos em apenas em cinco ocasiões, incluindo os dois primeiros contra Asik & Cia.  Em termos defensivos, o melhor desempenho aconteceu na estreia contra a Finlândia, quando venceram o segundo período por 29 a 2.

Com a Espanha vendo tudo de fora agora, o favoritismo dos Estados Unidos fica mais acentuado. A França tem capacidade atlética e possibilidades defensivas para complicar. A Sérvia tem mais balanço: pode jogar de modo físico na defesa e atacar com leveza, dentro e fora. A certeza é que, quem sair da segunda semi, nesta sexta-feira, vai precisar fazer um jogo praticamente perfeito para evitar o quarto ouro em quatro grandes competições seguidas para os Estados Unidos.

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Ao se recusar a levar adiante as negociações com o Minnesota Timberwolves por Kevin Love, a gestão do Golden State Warriors deu prova do quanto eles gostam de Klay Thompson. Flip Saunders exigia a presença do ala em um pacote por seu astro e ouviu não atrás de não (de Steve Kerr, Bob Myers, Jerry West e Stephen Curry). Então não é que Thompson vá precisar de um forte lobby para a hora que iniciar as negociações de renovação de seu contrato. Se as conversas se estagnarem, por algum motivo, ele certamente terá o apoio do Coach K. Thompson fez um primeiro tempo sensacional contra os lituanos, carregando o ataque sem Harden e seu parceiro Stephen Curry ao lado. Os dois estavam com problemas de falta. Durante o torneio, o ala tem sido o jogador com mais tempo de quadra, agradando não somente pelo arremesso de três pontos que é uma pintura, mas também pelo seu poderio defensivo (16 pontos, 2 tocos, 3 rebotes e 3 assistências em 25 minutos).

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Um dado apresentado pelo estatístico Mr. Chip, bastante interessante para se por em perspectiva esta equipe americana:

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Mindaugas Kuzminkas, ala do Unicaja Málaga, foi um dos destaques do primeiro tempo, conseguindo 12 pontos em 11 minutos, naquele que talvez seja o melhor momento de sua carreira. Acompanhei o lituano durante a temporada da Euroliga e foi difícil ver algo mais que cinco minutos consistentes do lateral, que é bastante alto e magro. Sem querer pegar no pé: Kuzminskas tem seu apelo, sim. Joga bem fora da bola, se posiciona bem para receber os passes e tem bons instintos na tábua ofensiva, mas, aos 24 anos e 11 meses, ainda está tomado por altos e baixos. Nas Olimpíadas, já ficou fora de duas partidas e recebeu 9 minutos em média, apenas. Contra os americanos, somou 15 pontos e 9 rebotes. O agente gostou.

*    *   *

Tá certo que, em boa parte de suas investidas, o lituano estava marcado por ninguém menos que o Mr. Barba. Saco de pancadas da mídia americana durante toda a temporada, James Harden conseguiu expandir a zoação para a Europa com seu primeiro tempo pavoroso na defesa. Foi levado para passear no parque um ataque atrás do outro, até ser sacado pelo Coach K. Daí que…

 


Este é o Tyrece Rice, armador americano que foi MVP do Final Four e campeão da Euroliga 2013-14 pelo Maccabi Tel Aviv. Dizendo que, basicamente, a mãe dele consegue fazer cesta contra o Harden, e que não é piada. Além disso, ele fala que a única razão pela qual sua avó não conseguiria é porque a pobre velhinha está com alguns problemas no pé. Agora. Saudável, também faria a cesta. Afe, hein?

Curioso o jeito desbocado de Rice. Ele acabou de assinar com o Kimkhi Moscou, e não deve ir para a NBA tão cedo. Aí também fica fácil para aloprar. Bem, no segundo tempo, Harden voltou disposto a calar tudo e todos. Segurou bem Jonas Maciulis, que é um ala muito mais gabaritado que Kuzminskas, e deslanchou no ataque, para terminar com 16 pontos. Deve ter conferido o celular no intervalo.

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Boogie não gostou do modo como Valanciunas usa os cotovelos

Boogie não gostou do modo como Valanciunas usa os cotovelos

DeMarcus Cousins não vai ter a chance de brigar por rebotes e pontos contra os irmãos Gasol neste Mundial, mas ao menos foi bastante útil na semi. Jonas Valanciunas deixou Anthony Davis pendurado de faltas no primeiro período, e aí o Boogie veio para a quadra para oferecer mais músculos ao Team USA e, digamos, administrar essa situação. Na medida do possível, né? Difícil falar em Cousins e “administrar” na mesma frase.  No primeiro tempo, ele foi punido com uma falta técnica ao partir em direção de Valanciunas (ele havia tomado um safanão do lituano no gogó). Ao final do jogo, alguns jogadores se estranharam em quadra na hora de se cumprimentarem, talvez com resquício desse entrevero. Vou checar e atualizo aqui. Tanto Davis como DeMarcus foram excluídos com cinco faltas.


As semifinais da Copa do Mundo em números
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Giancarlo Giampietro

Gente, vocês querem números? Faltam apenas quatro jogos para o sonho de uma Copa do Mundo de basquete de verão terminar. Com quatro times em disputa, sendo que um vai sair de mãos abanando, assim como aconteceu com Brasil e Espanha. Mas, isso, claro, vocês já sabiam. Vamos com outros dados, então:

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

102,3 – Os EUA têm o melhor ataque da Copa, e o restante não chega nem perto. Com 102,3 pontos por jogo, abriram quase 20 de vantagem para a Espanha, que agonizou diante da defesa sufocante dos franceses nesta quarta. Entre os que ainda estão no páreo, a Sérvia aparece em segundo, com 80,1, ajudada pela sacolada que deram no Brasil. A Lituânia anotou 76 pontos em média, enquanto a França tem 72,9 (apenas a 14ª no geral).

68,8% – Sérvia e França estão empatados com este fraco aproveitamento em seus lances livres, valendo as 17ª e 18ª posições no ranking geral. Os EUA, com 71,3%, aparecem em 13º. A Lituânia tem 75,2%, em quarto. Por curiosidade, as Filipinas lideraram o quesito, com 79,6%.

44 – Este a gente colocou no primeiro dessa texto dessa série estatística, mas, depois da tragédia espanhola, vale o reforço: foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, sendo que três deles disputaram a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia.

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

28 – É a média de idade da Lituânia, o time mais velho entre os semifinalistas. O restante? França e Sérvia empatam com 26 anos, enquanto os Estados Unidos têm 24. Este talvez seja o dado mais relevante para colocar em perspectiva a campanha brasileira, com uma seleção de 31 anos. Todas essas quatro potências já têm uma base armada para o próximo ciclo olímpico.

23,8 – Surpreendentemente, o ala Klay Thompson é o jogador americano que mais tempo fica em quadra no Mundial, com 23,4 minutos, contra os 23 cravados de Kyrie Irving. No total, isso representa apenas três minutos a mais (164 a 161). O pivô Andre Drummond, convocado basicamente como apólice de seguro num eventual embate com a Espanha que agora jamais vai acontecer, somou 38 minutos, quase uma partida de Fiba inteira (6,3 por partida).

22,1 – O quanto a França arremessa de três pontos por jogo, o maior número entre os quatro semifinalistas, mesmo que eles tenham, de longe, o pior aproveitamento (ridículos 31,6%). EUA, Lituânia e Sérvia estão todos na casa de 19 chutes de longa distância por rodada, com os lituanos, claro, tendo a melhor pontaria: 40%. Culpa do pivô Darjus Lavrinovic, que tem acertado surreais 62,5% de seus arremessos, e do armador Adas Juskevicius (57,1%). O Brasil se despediu do torneio com 16,9 tentativas e 37,3% de acerto.

20 – Erros para a Espanha em arremessos de três pontos em sua derrota para a França, tendo tentado 22 disparos. Ok, é um número que pertence muito mais fase anterior, mas, nestes tempos de redes sociais em ebulição por conta desse processo chamado “Festa da Democracia”, todo mundo parece acreditar que jornalismo é manipulação, né? Então tomem aqui a prova mais clara. (Na verdade, o número é fundamental para explicar a classificação francesa, com uma linha defensiva assustadora, que arrepiou os espanhóis: um time desse nível acertar apenas 9,1% de seus chutes de fora? #sacrebleu).

13,9 – Dos 48 jogadores que ainda podem jogar o Mundial nesta reta final, Miroslav Raduljica, quem diria, é o cestinha, com 13,9 pontos. Logo em sua cola vem o Anthony Davis, mas pode chamar de Monocelha, com 13,7. Passaram quatro equipes que não dependem tanto assim de um jogador para carregar o ataque. Verdade seja dita: era o mesmo caso do Brasil. Entre os 20 principais pontuadores, em média, do torneio, apenas Kenneth Faried, com 13,0, se junta ao sérvio e a seu compatriota nessa. Desta forma, José Juan Barea ao menos pode acrescentar esta linha em seu currículo: “*Cestinha da Copa do Mundo de basquete 2014, com 22,0 pontos – só não perguntem, por favor, qual foi a campanha do meu time”.

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai...

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai…

9,9 – Por falar em cestinhas, esta é a média de pontos de Nicolas Batum no torneio. O ala do Blazers, acreditem, lidera a seleção francesa nesse quesito. Joffrey Lauvergne tem 9,4, Thomas Heurte, 8,4, Boris Diaw, 7,9, e por aí vamos… Incrível.

4 – A França falhou em marcar que 70 pontos em quatro de seus sete jogos na competição. Se formos descartar os dados computados contra Egito e Irã, restaria apenas uma partida, então, em que cruzaram essa… Nada fantástica marca. E foi contra quem? Justamente a Sérvia, seu adversário das semis, vencendo por 74 a 73. Mas, ‘bora lá repetir todo mundo: “Cada jooooogo é uma históooooria”.

1 – Apenas um time não tem sequer um atleta com contrato de NBA em seu elenco: a Sérvia. Raduljica jogou o campeonato passado pelo Bucks, foi trocado para o Clippers e acabou dispensado, como já foi amplamente divulgado, embora a turma em geral insista em ignorar isso. O ala Bogdan Bogdanovic foi draftado pelo Phoenis Suns neste ano, em 27º, mas vai seguir sua carreira na Europa, pelo Fenerbahçe, talvez por mais dois anos, antes de pensar numa transferência. No clube turco, terá a companhia de Nemanja Bjelica, jogador já selecionado pelo Minnesota Timberwolves. Quem sabe Flip Saunders não decide dar uma chance para o ultratalentoso ala-pivô num futuro próximo? Sem Kevin Love, há vagas. E aqui vale um destaque importante: é muito tentador escrever que a Sérvia não tem sequer um jogador de NBA. Porque, a julgar pela cobertura geral do Mundial, só importa quem joga nela, né? Só o selo de aprovação da liga atestaria a qualidade de um atleta. Aí vem a Sérvia, e… Pumba.

0 – Nenhum jogador naturalizado vai disputar as semifinais. Quem chega mais perto disso é o Kyrie Irving, que nasceu na Austrália, mas se mudou com o pai, mais um desses ciganos e jogadores americanos, aos dois anos de idade. Sábia decisão a dele, já que os Boomers têm dono: Patty Mills, e ninguém tasca. Sem contar que, em 2020, será a vez de Dante Exum. Ah, a França tem suas importações também, mas em outras circunstâncias. Tanto Florent Pietrus como Mickael Gelabale procedem de Guadalupe, que fica no Caribe, mas ainda é território francês. O ala reserva Charles Kahudi é de Kinshasa, no Congo, mas fez toda a sua carreira no país latino, algo mais que recorrente.


Semifinalista, Lituânia usou até Frankenstein pra ser o país do basquete
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, o futuro do país do basquete

Valanciunas, o futuro do país do basquete

O basquete comemora: a Lituânia está na semifinal da Copa do Mundo, pela segunda edição consecutiva, depois de ter batido a Turquia por 73 a 61 nesta terça-feira, num jogo que estava enroscado por três períodos, mas foi resolvido pela maior versatilidade – e talento puro, mesmo – dos bálticos no quarto final, em Barcelona.

Não foi a apresentação mais encantadora do torneio, uma que fique para a história, as a modalidade comemora, sim. Não deixa de ser gratificante testemunhar o sucesso alcançado por uma nação de estimados 3 milhões de habitantes (praticamente a mesma de Salvador) e área total de 65,300 km2 (três vezes menor que o Paraná) e que, com esses números relativamente tímidos, constitui um autêntico país do basquete.

Uma seleção com currículo de fazer inveja a qualquer país que não se chame Estados Unidos. O mesmo Team USA que bateu a Eslovênia nesta e que vão enfrentar na semifinal de quinta-feira, um adversário ao qual devem muito de seu apego religioso pela modalidade.

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Sim, eu sei: direta ou indiretamente, todo basqueteiro deve reportar aos Estados Unidos, por intermédio de James Naismith. Ainda que tenha nascido no Canadá, foi em Springfield, no Estado de Massachusetts, que ele inventou essa brincadeira de bola ao cesto. Para os lituanos, porém, um dos patriarcas de fato tem outro nome: Frank Lubin.

Nascido em Los Angeles, filho de lituanos, Lubin era um pivô de pouco mais de 2,00 m de altura, que se formou pela UCLA – instituição que, nos anos 60 e 70, contaria com os jovens célebres Lew Alcindor e Bill Walton, vocês sabem. Lubin não fez nome como o futuro Kareem Abdul-Jabbar, mas pôde celebrar como campeão olímpico pelos Estados Unidos em Berlim 1936, a primeira edição do torneio olímpico – por aquele que teria sido o primeiro Dream Team, recebendo sua medalha dourada de ninguém menos que o próprio Dr. Naismith.

Depois da famigerada competição disputada no quintal de Adolf Hitler, Lubin aceitou um convite para conhecer e trabalhar como treinador na Lituânia, aonde seria como Pranas Lubinas – o que é muito mais legal, claro. Ele ainda veria, em 1937, o selecionado báltico conquistar seu primeiro EuroBasket, em Riga, na Letônia. Como jogador e técnico, ajudou a conquistar o torneio continental seguinte, em 1939, sendo MVP de uma competição em seu time fazia as vezes de anfitrião. Ele morreu aos 89 anos, de volta à Califórnia, em 1999, dois anos depois de entrar no Hall da Fama de sua universidade.

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

Se isso já não fosse instigante o bastante, saibam que Lubinas também poderia ser identificado como Frankenstein Lubin pelos seus compatriotas norte-americanos, num trocadilho óbvio com seu nome natural, mas que que também envolvia o time e o técnico pelo qual jogava nos Estados Unidos. Acreditem: ele defendia uma equipe amadora bancada pela… Universal Pictures, um dos pilares hollywoodianos. O treinador Jack Pierce fazia seus bicos como maquiador do estúdio. Quer dizer, mais provável que o basquete fosse o bico, né? Mas vamos lá: um de seus trabalhos foi a produção “The Bride of Frankenstein”, estrelada por Boris Karloff, o verdadeiro e único Frankenstein dos cinemas – Robert De Niro que nos perdoe. Segundo esse texto fantástico de Luke Winn para a Sports Illustrated, Lubin vestia fantasia e partia em direção aos torcedores antes dos jogos, em muitas das ações promocionais que faziam para os filmes da Univesal.

Sem maquiagem ou roupas estranhas, Lubinas ser um astro, mesmo, na Lituânia, aonde passou a ser conhecido como o “Avô do Basquete”. De qualquer forma, outros americanos, entre eles Konstantinas Savickas (que nasceu em Punsk, mas emigrou para a América do Norte quando criança), também foram instrumentais para ensinar e, naturalmente, popularizar o basquete por lá. Savickas, por exemplo, foi o treinador da seleção nacional até pouco antes do Europeu de 37.

Na equipe campeã naquele ano e em 1939, os grandes nomes ainda eram descendentes diretos como Juozas Jurgela,  Vytautas Budriunas,  Feliksas Kriauciunas e Pranas Talzunas, boa parte da região de Chicago. Depois do primeiro título, a Lituânia ganhou o direito de sediar a edição seguinte. Para tanto, o governo autorizou a construção do Kauno Sporto Hal (o hall dos esportes de Kaunas), que, na verdade, recebia só jogos de basquete. Teria sido o primeiro, digamos, templo construído apenas para a prática do bola ao cesto, algo que viraria realmente um culto por lá.

A esperança de sediar mais uma vez o torneio em 1941 e de lutar pelo tricampeonato acabou da pior forma, com o estouro da Segunda Guerra Mundial. A Lituânia se viu disputada por russos e alemães no início dos anos 40 e acabou anexada novamente na composição da União Soviética. Lubinas conseguiu escapar com sua família saindo de um navio da Estônia. A reconstituição desses fatos ajuda a entender bem a paixão do país pelo basquete, não? Era como se a modalidade representasse o sonho de independência, prosperidade e glórias.

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

A ponto de o time de 1992, a primeira seleção lituana constituída após a corrosão do antigo império comunista, ganhar a aura de um conjunto secular, sob a liderança do gigantesco Arvydas Sabonis. É uma grande história que envolve grandes craques de basquete, orgulho nacional, redenção e até mesmo o Grateful Dead. Virou imperdível documentário, já abordado por estas bandas.

Desde então, o mundo do basquete se habituou a dividir o pódio com os lituanos. Eles foram semifinalistas simplesmente por cinco torneios olímpicos em sequência, levando o bronze de Barcelona 1992 a Sydney 2000 – em Atenas e Pequim, terminaram em quarto. Sem contar que o ouro soviético de 1988, sabemos todos, é, no mínimo, 85% lituano, com seus jogadores atuando por um país que, de unido, só tinha o nome – se não bastasse o talento inigualável de um Saboni, com algumas cirurgias a menos, ainda contavam com Kurtinaitis, Marciulionis e Chomicius. Na Europa, também ganharam duas pratas, incluindo a do último campeonato, mais um ouro em 2003 e um bronze em 2007. Curiosamente, em termos de Mundial, têm menos sucesso que os russos, com apenas um bronze na última edição, contra duas pratas conquistadas pelos rivais.

Como eles fazem isso? Basta paixão e dedicação?

Claro que não.

No texto de Luke Winn para a SI, o secretário geral (ou: generalinis sekretorius) da federação Mindaugas Balciunas enfatiza o trabalho de formação de seus professores. “A razão para que a Lituânia seja tão forte é nosso sistema de preparação dos treinadores”, afirma o dirigente que ajudou a criar em 2010 até mesmo um programa de mestrado para técnicos, em parceria com a Universidade de Worcester, na Inglaterra (!?) e a Academia Lituana de Edudação Física, pela qual se formou. “Desde então, ele têm persuadido membros da atual seleção, incluindo o ala Linas Kleiza, a se inscreverem nesse curso”, relata Winn. Os estudos podem ser feitos  à distância. Mas o fato é que, nas escolas do país, já são diversos os bacharéis ensinando a molecada.

Acho que isso ajuda a entender um pouco, né?

A atual seleção lituana não conta com ninguém do porte de seus grandes nomes dos anos 80, ou de um Sarunas Jasikevicius, que se despediu da equipe após Londres 2012 e se aposentou nesta temporada – hoje é assistente do Zalgiris. Mas há uma combinação interessante de veteranos como os gêmeos Lavrinovic, o ala Simas Jasaitis e o pivô Paulius Jankunas com uma nova geração liderada por Jonas Valanciunas, o xodó do Toronto Raptors, que, aos 22, é um dos cinco atletas de 25 anos para baixo do elenco. A tradição vai seguindo adiante, como não pode deixar de ser.

“Nós somos um país pequeno”, admite Sabonis. “E o basquete é o melhor caminho para mostrarmos ao mundo quem nós somos.”