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Márcio Dornelles: longevidade e consistência em meio a tantas mudanças
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Giancarlo Giampietro

Márcio, 3º jogador mais velho do NBB, ajudando Macaé a subir na tabela

Márcio, 3º jogador mais velho do NBB, ajudando Macaé a subir na tabela

Num extremo, temos os caçulas do NBB, muito pouco aproveitados por suas equipes. Fazendo as contas aqui, chegamos a um número preocupante: apenas 11 jogadores sub-22 que recebam um mínimo de dez minutos por partida na temporada.

Desse dado ínfimo, a lógica nos empurraria para uma conclusão de que o campeonato nacional é dominado por veteranos, e é verdade. Mas existem jogadores experientes e existem aqueles que estão beirando os 40 anos, este um grupo ainda mais raro, que só inclui três personagens.

O Flamengo escala há tempos Marcelinho Machado, que vai inaugurar o clube dos quarentões do NBB 7 no dia 12 de abril – já pode ir comprando as velinhas. Precisamente um mês mais tarde será a vez de Helinho adquirir a carteirinha, no melhor lugar possível para a família: Franca. O terceiro integrante vai demorar um pouco mais, ganhando alguns dias para tirar um sarro de seus companheiros de, digamos, senado: Márcio Dornelles, que vai celebrar apenas no dia 29 de dezembro, quase na virada.

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Que Márcio tenha de esperar um pouco para celebrar não deixa de ser consistente com sua trajetória. Temos aqui um caso bastante peculiar: um jogador de capacidade atlética acima da média no auge, um cestinha muito regular – em que pese uma ou outra lesão e até mesmo a própria inconsistência do basquete nacional, que ele testemunhou de perto –, mas que talvez nunca tenha ganhado a atenção merecida.

marcio-dornelles-nbb-numerosEm termos de seleção brasileira, mesmo, ele não passou dos 20 jogos. Fico escondido ou esquecido numa troca de gerações no perímetro. Viu as convocações de Vanderlei, Rogério, Caio, seu próprio xará Márcio de Azevedo, até que seu contemporâneo Marcelinho assumiu a chave do carro para, depois ser acompanhado pela turma de Ribeirão Preto, o amadurecimento de Marquinhos, chegando a um estágio atual de escassez.

Mas isso não fez o gaúcho de Porto Alegre desanimar. É como se nada estivesse acontecendo. Disputando seu sétimo NBB, o ala começou a temporada 2014-2015 devagar, é verdade, mas vem pontuando bastante nas últimas rodadas, ajudando a colocar o clube fluminense na zona de classificação para os mata-matas.

Em um momento de ascensão, Macaé está na 11ª colocação, depois de vencer o Uberlândia num confronto direto nesta terça-feira, com 18 pontos de Márcio. Foi a terceira vitória nas últimas cinco rodadas para um time que, inclusive, já bateu os dois finalistas do ano passado, Flamengo e Paulistano. Nessa sequência, o veterano teve papel fundamental, com médias de 14,8 pontos e 3,8 rebotes e o aproveitamento de 42,8% nos arremessos de três pontos e 56,6% nos arremessos.

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Esse é o Marcio curtindo sua longevidade, numa competição que pode ter seus problemas estruturais ainda, mas que oferece um cenário muito mais estável do que os tempos pré-LNB, há nove anos, quando o campeonato nacional foi parar na Justiça e a aliança entre os clubes se fraturava. Foi um papo bacana com ele, antes dessa sequência de vitórias do Macaé, o terceiro clube de sua carreira de NBB e o 13º da carreira, cujo elenco tem na rotação o armador Pedrinho, 20 anos mais jovem e um dos poucos adolescentes que encontra espaço na competição. Confira:

21: Quando você estava saindo do juvenil para o profissional, na primeira metade da década de 90, imaginava que estaria jogando hoje, na temporada 2014-2015?
Márcio Dornelles:
Não imaginava, não. Conforme tu vai jogando, vai aprendendo a se cuidar. Acho que isso fica mais forte depois que constrói uma família também. As coisas mudam. A longevidade vem disso, de aprender a se cuidar, de estar bem disposto para treinar.

O Helinho já anunciou que este vai ser seu último NBB. Para você, pelo visto, parar de jogar não é algo que nem passa por sua cabeça, não?
Acho que a gente tem muita coisa que oferecer ainda. Eu ainda não penso em parar de jogar, não. Fisicamente me sinto muito bem, mesmo. Pode perguntar para qualquer um dos atletas mais novos, e vão falar isso. Esse negócio de parar só vai acontecer quando perceber que estou correndo com os moleques e que estão me deixando para trás. Mas hoje corro do mesmo jeito, do lado deles, o que mostra que ainda tenho bastante tempo para jogar.

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Para chegar aqui, você viu muita coisa acontecer no basquete brasileiro. Houve um período bastante conturbado de 2006 para 2007, no qual vimos um racha na modalidade, campeonatos paralelos, inclusive uma competição só entre paulistas, a qual você jogou por Franca. Naqueles tempos, temia que não haveria volta?
Fiquei um ano sem jogar o campeonato nacional, quando estava em Franca e jogamos a Supercopa. Depois de jogar esse torneio, que foi mesmo um Paulista estendido, tínhamos esperança ainda de que poderia mudar, mas, ao mesmo tempo, era difícil acreditar. Falávamos muito com o Hélio (Rubens), que deixava a gente a par das discussões. Os dirigentes de hoje, porém, merecem os cumprimentos e estão fazendo a diferença, botando nosso basquete para cima.

Se for para pegar o basquete no qual você começou e o que viu agora, quais seriam as diferenças mais marcantes?
Está muito melhor, muito mais organizado. A liga deu outra cara para o nosso basquete, com mais organização. Ela cobra os clubes em questão de atraso salarial, de quadra, de estrutura. É um envolvimento maior dos dirigentes da liga pelos atletas. Por exemplo, o fato de soltar tabela antes, de estar fixo na grade da TV, de estar passando na internet também. Ajuda nos planos de todos. Parece pouco, mas faz muita diferença. Antes a gente não sabia nem mesmo quando teríamos jogo. Foi uma grande mudança. Da nossa parte, surgiu a associação de atletas. Mas, sim, tem muito o que crescer ainda.

Nos tempos de Pinheiros, pelo qual jogou o NBB 5

Nos tempos de Pinheiros, pelo qual jogou o NBB 5

Sobre o Macaé especificamente, como está a estrutura do clube, depois de alguns problemas na temporada passada?
Macaé tem melhorado muito. No ano passado, quando chegamos, a estrutura não era a ideal, e isso englobava tudo: fisioterapia, quadra, vestiário etc. Tudo. Para este ano, o clube deu uma guinada, melhorou na parte administrativa, de jogadores e estrutural. Isso também se deve pelo que os atletas necessitam. A gente vai aos poucos falando do que precisamos, e eles vão tentando fazer. Claro que as melhoras são aos poucos. Tem coisa que não sai de imediato, como a reforma do vestiário no ano passado. A tendência é só melhorar, pelo esforço tremendo que estão fazendo para que tenhamos tudo do bom e do melhor. Isso vale para os outros times. A liga está exigindo isso, para que cada vez mais tenhamos condições melhores.

Quando você fala na liga, é mais sobre uma pressão de bastidores ou o simples fato de que a competição em quadra exige o máximo de organização de seus clubes?
Quem não faz, fica para trás. Muito para trás. Tem de fazer. O Brasil está entrando na vitrine do basquete mundial, recebendo jogos da NBA, fechando uma parceria importante, mas temos de melhorar nosso nívelem geral. Seja com a molecada jogando uma LDB, seja reformando ginásios e mudando a estrutura para os adultos. A gente precisa tentar crescer o máximo, aproveitar este momento nosso, que é muito bom.

Como você vê essa parceria entre a LNB e a NBA, aliás? Qual a perspectiva para os jogadores?
Isso é maravilhoso. Essa parceria pode dar muitos frutos para nós. Não para mim, para mim, para o Marcelinho, o Helinho e os mais velhos da liga, mas para a molecada que está vindo agora. Fiquei muito contente pela nossa geração futura. A gente tem muito talento aqui no Brasil.

Quais as metas factíveis para o Macaé neste campeonato? Vemos um campeonato muito equilibrado:
A gente vai tentar o que não conseguimos no ano passado, que é ir para o playoff. Ficamos a uma vitória só, então montamos um time pensando nisso. Primeiramente entrar no playoff, e depois tentar dar sequência. Acho que a gente tem um time com mescla legal, de gente nova com peças importantes e americanos que reforçaram. A tendência é que consigamos a vaga para o playoff, mesmo, e, se tudo der certo, podemos passar pelo primeiro duelo. Você olha a tabela, porém, e não vê descanso. Os times vieram mais fortes. Tenho certeza de que os times olham para Macaé no calendário e pensam isso, que não vai ter jogo fácil, independentemente da colocação da temporada passada. Tem de estar concentrado e jogando no limite.


Helinho: “Quero terminar a carreira jogando bem”
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Giancarlo Giampietro

Helinho para o ataque: se aposentando nos seus termos

Helinho para o ataque: se aposentando nos seus termos. Crédito: Newton Nogueira

Aos 39 anos, pode ser que Hélio Rubens Garcia Filho esteja se preparando para se despedir das quadras – mas certamente não do basquete, pretendo estudar para virar treinador. Então falemos em aposentadoria pelo menos como atleta. Se optar por isso, mesmo, não havia lugar mais adequado para fazê-lo do que em Franca, .

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Por mais que tenha ganhado títulos em Uberlândia e no Rio de Janeiro, pelo Vasco, é inevitável associar Helinho à capital da basquete, a cidade aonde nasceu, na qual sua família criou algo que chega bem perto de uma dinastia brasileira. Foi por Franca, aliás, que ele conquistou seus três primeiros campeonatos nacionais, de 1997 a 1999, quando não havia chegado nem aos 25. Depois, ganharia mais três canecos ainda. Na fase de NBB, ainda seria vice-campeão em 2011 e 2013. Hoje, disputa o campeonato como seu segundo jogador mais velho – é exatamente um mês mais jovem que Marcelinho Machado.

Se em abril ele não falava em parar, agora, com o início de mais uma temporada pela frente, o discurso mudou. De modo que fica mais do que apropriado seu segundo retorno ao clube, que defendeu desde a saída das categorias de base nos anos 90 até 2000 e, depois, numa segunda passagem, de 2006 a 2012. “Acho que vai ser meu último ano de carreira jogando. Quero terminar a carreira me sentindo muito bem, jogando bem, dando minha parcela de contribuição”, afirmou ao VinteUm.

Em 2011, contra o Limeira de Ronald Ramon

Em 2011, contra o Limeira de Ronald Ramon

Está bem cedo ainda para falar de prognósticos, mas Helinho, por enquanto, vem cumprindo com suas expectativas – e o time também, com duas vitórias (sacolada para cima do Basquete Cearense e um jogo duro contra Brasília, ambas em casa). Nas duas primeiras rodadas, ele marcou 25 pontos e matou bolas de tudo que é lado da quadra, com 60% no aproveitamento dos arremessos, de dois ou três pontos. O chute que sempre foi a maior qualidade do atleta, um verdadeiro Steve Kerr brasileiro – a média na carreira apenas em NBBs nos tiros de longa distância é de 41,6%, com a diferença de que o integrante do clã Garcia já criou muito mais por conta própria, a partir do drible (média de 3,92 assistências). Sua liderança e intensidade em quadra também foram sempre subestimadas pelo público em geral.Agora, a bola vai ficar mais nas mãos de Juan Figueroa, um dos argentinos do time, ao lado de Marcos Mata, um grande reforço. A combinação do retorno do veterano e da chegada do ala da seleção argentina só vai inflar a esperança do torcedor francano, que anda sedento por uma conquista. “Estão todos muito, muito motivados para chegar mais longe do que nos últimos anos. Essa é a nossa expectativa”, afirma.

Helinho, vice-campeão do NBB em 2011 por Franca. Brasília venceu a final por 3-1

Helinho, vice-campeão do NBB em 2011 por Franca. Brasília venceu a final por 3-1

Bom, se for para levar em conta o retrospecto do clube apenas no NBB, temos as seguinte colocações: 7º, 3º, 2º, 10º e 5º. Então Helinho quer e espera ver seu clube brigando pelas primeiras posições. Não chega a falar em título, mas em vagas nas competições continentais, o mínimo que a exigente cidade espera. E algo que caberia bem para sua eventual saideira.

Confira a breve entrevista, na qual o armador relembra bons tempos com Demétrius, avalia o progresso de Leo Meindl e Lucas Mariano e fala sobre o primeiro trabalho com Lula Ferreira em um clube:

21: Como tem sido este novo retorno a Franca e quais os planos daqui para a frente? Ficará na cidade até o fim agora?
Helinho: Estou muito feliz, cara, um momento muito legal, importante. Acho que vai ser meu último ano de carreira jogando. Estou me sentindo muito bem. Quero terminar a carreira jogando bem, dando minha parcela de contribuição. A equipe é boa e já mostrou que tem qualidades. Estão todos muito, muito motivados para chegar mais longe do que nos últimos anos. Essa é a nossa expectativa. Uma vaga na Liga Sul-Americana ou na Liga das Américas tem de ser um objetivo. Mas é claro que outras equipes também estão pensando nisso. Estamos focados nisso, e eu, focado em poder fazer minha parte para alcançar isso.

Se for sua última temporada, mesmo, como imagina que vai ser? Seu papel, a média de minutos, envolvimento com o time etc.
No Campeonato Paulista eu me senti muito bem, joguei bastante tempo e até muitas vezes jogando de 2, uma posição que eu gosto de jogar. Quando tinha um armador que me passava bastante bola igual o Demétrius (risos), ficava mais fácil. Mas é um papel que gosto de fazer também. Neste momento, como disse, eu quero contribuir da forma que puder, dentro e fora da quadra, para que as coisas possam fluir da melhor maneira possível. Estou me sentindo bem, podendo ajudar, mesmo, nesse início de temporada.

Em 2001, aos 26, na melhor fase pela seleção. Partida contra Colômbia pelo Sul-Americano, com o pai ao fundo

Em 2001, aos 26, na melhor fase pela seleção. Partida contra Colômbia pelo Sul-Americano, com o pai ao fundo

(Aqui, uma breve interrupção: a menção a Demétrius Ferraciú não foi gratuita, mas, sim, pela aproximação de seu ex-companheiro de tantas jornadas, seja por clubes ou seleção nacional, hoje treinador do Limeira, aos 41 anos – dois mais velho que Helinho. Demétrius jogou até os 33. Quando ouviu o comentário de mais um representante da família Garcia, Demétrius disse: “Difícil é achar um desses hoje, né?”, com Helinho consentindo. O repórter, bobão, lembro que aquela era a “dupla do Goodwill Games”, ao que o armador respondeu: “É, aquele torneio foi bom”.

E aí vale aquela digressão: estamos falando dos extintos Jogos de Amizade, quando o calendário do esporte mundial ainda permitia eventos do tipo. Em 2001, em Brisbane, na Austrália, o Brasil deu um calor danado numa seleção dos Estados Unidos composta por atletas de NBA. O elenco tinha Baron Davis, Andre Miller, Jason Terry, Mike Miller, Shane Battier, Wally Szczerbiak, Rashard Lewis, Shawn Marion, Marcus Fizer, Kenyon Martin, Calvin Booth (!?) e Jermaine O’Neal. Os dois times se enfrentaram pelas semifinais, e os EUA venceram apenas na prorrogação, por 106 a 98.

Demétrius chegou a ter a bola do jogo nas mãos no tempo regulamentar, mas Baron Davis não o permitiu arremessá-la. A dupla de armadores brasileiros causou estragos naquela partida, acreditem. Foram 24 pontos para cada. Outra anedota: foi nessa competição que um jovem pivô chamado Nenê Hilário primeiro chamou a atenção dos olheiros internacionais, tendo sido bastante elogiado por Jermaine O’Neal, o cestinha deles na partida com 22 pontos e já uma estrela em ascensão pelo Pacers. Em geral, acho que esse é um dos episódios mais interessantes e talvez menos comentados do basquete brasileiro recente. Agora, de volta ao mundo de hoje…)

Sabemos da paixão genuína de Franca pelo basquete. O clube ainda não ganhou um NBB e não conquista um Paulista desde 2007.  Ao mesmo entendem que o time passou por uma renovação nos últimos anos. Para este campeonato, porém, você voltou, tem um cara do nível do Mata chegando. Como anda a cabeça do torcedor nesses dias? Como está a cobrança?
Na cidade sempre teve cobrança, e nada melhor do que ter cobrança para se ter motivação. Quanto mais você é cobrado, mais vai ter força para fazer. Isso acontece muito em Franca, e acho que é um dos nossos segredos. Estamos num momento importante, tentando fechar alguns patrocínios que ainda não estão acertados. Mas estamos empenhados, com um elenco de jogadores de cabeça boa, que sabem das dificuldades que existem no basquete tanto dentro como fora da quadra. O torcedor entende e abraça a equipe mais uma vez.

Essa é a primeira vez que você vai trabalhar com o Lula Ferreira, não? Pelo menos em clubes. Como tem sido a relação, lembrando sempre da rivalidade com Ribeirão Preto na década passada?
Sim, já joguei com ele na seleção, mas em clube é a primeira. Joguei mais contra aquele time do Lula quando estava no Vasco, e, não, por Franca. Mas muita gente na cidade ainda me aborda e fala disso: ‘Pô, como perdeu aquele Paulista?!’ (Risos) Mas a verdade é que eu não estava naquele time, né?  O Lula é um cara trabalhador, que tem credibilidade e conhecimento da causa. Tem sido um convívio tranquilo. Estou muito feliz, e ele dá liberdade para falar no dia-a-dia. Acho que ele também está sentindo a mesma coisa. Quando você quer ajudar, fazer o bem, naturalmente o bem volta para nós mesmos. A gente se encaixou muito bem.

Helinho, Franca, família Garcia, basquete

Tá em casa

Do ponto de vista nacional, na hora de olhar para o time francano, a curiosidade sempre aguça em relação ao Leo Meindl e o Lucas Mariano. O que você pode nos contar a respeito do progresso deles? O que tem sentido?
São dois jogadores talentosíssimos, que vieram da nossa categoria de base e têm muita confiança no jogo deles. Eu particularmente também aposto muito neles. Acho que no futuro próximo os dois vão estar pegando seleção brasileira. Sinto ainda um crescimento deles nos treinamentos, nos jogos, isso fica nítido. Estamos dando muita força para eles, que serão muito importantes para o clube. Estou sempre falando para eles que os chamo os chamo de ‘galudos’. Estão sempre perguntando, pedindo conselhos, querendo melhorar. Isso, acredito,  é a característica de grandes talentos que querem chegar a algum lugar. Eles têm isso.

E o pai, como está?

Está bem, está bem. Quase que ele veio hoje. Deveria ter vindo, aí ficava completo.


Como não? Brasil reencontra Argentina; veja o retrospecto
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Giancarlo Giampietro

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Sí, sí. É isso, mesmo. Deu Brasil x Argentina novamente.

Para que o clássico sul-americano se repetisse logo de cara nos mata-matas da Copa do Mundo de basquete, era necessária pelo menos uma combinação de três resultados no Grupo B: que as Filipinas lavassem a alma com pelo menos uma vitória sobre a outra zebra do torneio, Senegal; que a Croácia afastasse os rumores sobre autocombustão (mais uma!?) e vencesse Porto Rico; e que a Grécia provasse sua consistência redescoberta para derrotar nossos vizinhos do Sul, para que  eles terminassem em terceiro. Check, check, check. Confere, e cá estamos em mais um jogo decisivo entre os dois rivais.

Em competições intercontinentais, o confronto acontece pelo terceiro evento consecutivo. Sem brincadeira: rolou no Mundial passado, em 2010, e também nas Olimpíadas de Londres 2012. Vocês me deem licença, então, para resgatar e editar um texto de dois anos atrás, recuperando o retrospecto – já nem mais tão recente assim – entre as duas gerações que vão se reencontrar no domingo (17h, horário de Brasília). Uma experiência dolorosa para muita gente, eu sei. Mas esse histórico, que vem de 2002 para cá, é um componente emocional inegável, que tem de ser enfrentado nas próximas 40 e poucas horas.

Desde o torneio de Indianápolis, 12 anos atrás, muitas figuras fundamentais se despediram das quadras. Deu tempo de Marcelinho Machado, por exemplo, anunciar em duas ocasiões que não jogaria mais pela seleção brasileira, para reconsiderar prontamente. Do outro lado, Walter Herrmann também alternou bastante: foi, voltou, foi, voltou. De constantes, mesmo, temos Luis Scola e seu vasto arsenal ofensivo, que continua superprodutivo e eficiente (21,6 pontos por jogo no atual campeonato, mais 8,8 rebotes, 2,2 assistências e 52% nos arremessos).

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

A diferença é que dessa vez são os argentinos que entram com desfalques. Manu Ginóbili e Carlos Delfino fazem uma falta danada no perímetro: não só como pontuadores, mas também como criadores e defensores. Já o Brasil surge com força máxima. A primeira vez em muito, muito tempo, com todos os seus atletas apresentados, fisicamente bem (ao menos segundo as aparências e os relatos oficiais). Esse é um fator que deve passar obrigatoriamente mais confiança para os rapazes de Rubén Magnano – algo que compense de alguma forma o desequilíbrio emocional gerado por tantas derrotas no decorrer da última década (pensando apenas em grandes competições, ok? Sul-Americano, isto é, excluído). Vamos lá, passo a passo:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Os argentinos conseguiram sua primeira grande vitória em clássico pelo Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora (havia acabado de ser draftado pelo Nuggets), e a armação era dividida por Helinho e Demétrius, hoje assistente de Rubén Magnano. Que, na época, trabalhava para seu país natal. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção braileira, agora com Lula Ferreira no comando e bastante renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: o Brasil sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e a Argentina sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann. Foram duas derrotas para os campeões olímpicos: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga nos Jogos de Pequim, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, em uma cobertura de ambiente tumultuado, extremamente tenso. Luis Scola jogou uma barbaridade, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

– Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Das principais peças, eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni, enquanto o Brasil jogou com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda. Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen (lembra dele!?) mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

– Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando os arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que fez a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente, não importando que os grandes ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Foi um triunfo que encaminhou a equipe nacional para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das brabas, a trupe tupiniquim perdeu por cinco pontos.

– Em Londres 2012, depois de a Espanha supostamente manipular a tabela, o Brasil terminou em segundo em seu Grupo A. E quem estava em terceiro no B? Sim, a Argentina, numa repetição do atual cenário. As duas equipes contavam com seus grandes nomes, e isso pesou a favor do time que já tinha duas medalhas olímpicas (o ouro de Atenas e um Bronze em Pequim). Os argentinos abriram vantagem de até 15 pontos, viram os brasileiros reagirem, mas ganharam no final. Um drama particular daquele jogo? Os lances livres…

Passando por tantas derrotas assim, não dá para dizer, mais uma vez, que o jogo deste domingo sirva de tira-teima, né? Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos deste ano, em que já se enfrentaram em dois amistosos, com uma vitória para cada lado, cada um vencendo em casa. Mas eram apenas amistosos, bem no início da fase de preparação. No primeiro, no Rio, o Brasil venceu bem, explorando seus pivôs, mas Luis Scola não estava do outro lado. No segundo, em Buenos Aires, um bombardeio de três pontos desarmou a defesa de Magnano. Dois jogos que provavelmente não dizem nada.

Agora, com tanta história envolvendo os rivais, é impossível relevar o retrospecto geral. Os brasileiros vão precisar de toda a maturidade que puderem acessar para encarar esses diversos tropeços, erguerem a cabeça e partirem para mais um clássico para se acrescentar neste relato. Em 2016, vai ter mais?


Adaptado, Flamengo domina Uberlândia no garrafão e é campeão do NBB
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Giancarlo Giampietro

Título rubro-negro

O Flamengo abriu o NBB 5 como um trovão, com um basquete extremamente veloz, atlético e agressivo. Venceu seus primeiros 20 segundos desta maneira. Na final do campeonato em jogo único, com dois desfalques importantes, se adaptou: parecia outro time, superando o Uberlândia na base de tamanho e força física. Vitória por 77 a 70.

Sem poder contar com Vitor Benite, de ultima hora, e Marcelinho, durante todo o ano, o técnico José Neto teve de mudar por completo sua proposta de jogo para a decisão, apostando numa equipe de maior estatura, a começar pela presença do paraguaio Bruno Zanotti na escalação titular, mas passando muito pela dominância de Caio no garrafão. A equipe mineira não soube como lidar com isso.

Lucas Cipolini e Luis Gruber, carregado precocemente com faltas, tiveram muita dificuldade para conter o jogo interior, especialmente no embate dos ex-pinheirenses Cipolini e Caio. Lucas é mais baixo e mais fraco, mas bem mais atlético e explosivo. Decidiu marcar seu oponente, porém, pelas costas, em vez de tentar se posicionar pela frente, para cortar a linha de passe. Cliquem aqui para ler uma explanação sempre elucidativa do professor Paulo Murilo a respeito dessa técnica, relembrando a marcação do francano Douglas Kurtz sobre Paulão, do Brasília.

Como destac0u no twitter o técnico Gustavo de Conti, do Paulistano e da seleção brasileira, o Uberlândia só equilibrou a partida quando teve em quadra seus postes, como Estevam e Léo, no segundo período. Porque essa dupla, ao menos no físico, dava conta do grandalhão adversário. Eles ficaram em quadra por apenas 17 minutos. Sem esse combate e adotando uma estratégia de marcação simples, básica com pivôs menores, o time de Hélio Rubens foi destroçado no garrafão. (Para piorar, do outro lado, não conseguiram explorar a maior mobilidade, perdendo por completo o jogo de xadrez.)

Caio Terminou com 23 pontos e 10 rebotes, um estrago danado. Matou oito de dez arremessos, com tranquilidade e eficiência incrível, e ainda bateu oito lances livres, convertendo sete deles. Para somar, Olivinha, com a garra de sempre,  somou 10 pontos e 12 rebotes. No total, o Flamengo converteu 22 de 29 bolas de dois pontos, para um aproveitamento de 75,9% – contra 14/36 e horrendos 38,9% de aproveitamento dos mineiros. Uma diferença brutal.

Daria para dizer aqui, olhando os números finais, que “o Uberlândia só conseguiu se manter relativamente próximo no placar graças ao seu bom rendimento na linha de três pontos: 11/27 e 40,7%”. Porém… Se você for descontar o excelente primeiro tempo de Gruber (5/7, 71,4%!!!), a pontaria dos vice-campeões despencaria para 30%.

Mérito aqui para a contestação dos defensores do Flamengo, que ficaram grudados em seus alvos, com pegada forte, se aproveitando também da energia de um ginásio cheio e entusiasmado. Vale aqui o destaque para o próprio Zanotti, uma revelação nesse quesito. Lidando de modo alternado com um dos Roberts – Day ou Collum –, foi muito bem, disciplinado, com postura exemplar. Os dois gringos tiveram uma manhã para ser esquecida: cada um converteu apenas dois chutes em oito de longa distância. Fica, então, uma provocação: precisa vir um paraguaio a nos ensinar a marcar no perímetro?

No fim, a vitória rubro-negra só não foi mais elástica devido a sua própria insistência nos disparos de fora (6/26, 23,1%) – com o garrafão escancarado? Precisava, mesmo? Duda (1/6, o de sempre) e Marquinhos (1/5, uma bobagem, quando é muito, mas muito mais efetivo quando parte para a cesta – vide os 6/6 em dois pontos) não foram nada bem aqui. Seu ataque, apenas com Kojo na armação e o jovem Gegê para dar algum descanso ao titular, também se apresentou de modo destrambelhado em algumas sequências.

Mas isso não foi uma exclusividade dos rubro-negros. No segundo quarto em especial, vimos o caos em quadra, ainda que, na estatística oficial, apenas 11 turnovers tenham sido computados – algo em que realmente é bem difícil de acreditar. A partida se perdeu em diversos momentos, com várias posses de bola que terminavam, basicamente, em nada, sem arremessos de dentro ou fora.

Quando conseguiu se assentar em quadra, porém, invadindo o garrafão com força e volúpia, o Flamengo se impôs. E, no fim, venceu a melhor equipe do campeonato. Ainda que não tenha sido exatamente aquela que dominou a temporada regular.

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Uberlândia não teve pernas também. Valtinho (37min09s) e Collum (36min08s), estavam exaustos e não conseguiam bater nem mesmo os pivôs do Fla quando havia uma inversão na marcação. Fizeram falta aqui os minutos que seriam destinados a Helinho, aparentemente sem condições de jogo depois de ter sofrido uma cotovelada na face durante um treino em abril.

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Hélio Rubens segurou Gruber por muito tempo no banco de reservas, depois de seu ala-pivô cometer a terceira falta no segundo quarto. Voltou para o segundo tempo com Leo em quadra e demorou para acionar o titular, que, quando voltou, estava completamente frio, fora do jogo. Ele marcou 18 pontos em uma atuação brilhante na etapa inicial, mas somou apenas dois depois do intervalo.

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A final com o ginásio lotado, o Flamengo comemorando título em rede nacional, no plim-plim… Certamente foi o melhor momento do NBB em termos de exposição e marketing. Vamos aguardar a audiência. A Globo ter segurado a transmissão ao final por alguns minutos preciosos pode é um bom indício.

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Lula Ferreira falou e disse: a arbitragem foi boa na decisão, discreta, sem aparecer. Como assim deve ser. Ufa.


Nas quartas de final, Argentina e o carma. E dava para ser diferente?
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Giancarlo Giampietro

Deu Brasil x Argentina nas quartas de final de Londres-2012. Mesmo.

E… Dava para ser de outro jeito?

Se é para conseguir sua redenção olímpica, para tentar redimir uma geração esculhambada durante toda a década passada, talvez todo o carma do mundo exigisse que tivéssemos esse clássico sul-americano pela frente, como vamos relembrar agora.

Não curto muito escrever em primeira pessoa: nós (nós quem, cara pálida?) contra eles. Mas vocês deem um passe-livre nesta ocasião, por favor:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Eles nos derrotaram no Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora, e dividiam a armação Helinho e Demétrius, hoje assistente do técnico, então deles, Rubén Magnano. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção, agora com Lula Ferreira e renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: nós sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e eles sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann, mas foram duas derrotas: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga olímpica, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, num ambiente tumultuado e extremamente tenso. Luis Scola jogou demais, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

(- Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni de suas principais peças, enquanto jogamos com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda! Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.)

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

–  Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando nossos arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente fez, não importando que os ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Um triunfo que encaminhou nossa equipe para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das boas, a trupe perdeu por cinco pontos.

Não dá para dizer que é um tira-teima, né? Não depois de tantas derrotas assim. Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos do ano passado para cá, incluindo os dois (nada) amistosos deste ano, com acusação de roubalheira em Buenos Aires, mãos no vácuo na hora de cumprimentar por lá, empurra-empurra e dedos em riste em Foz do Iguaçu. Foram duas vitórias para cada lado.

Neste confronto, não precisa nem de análise de vídeo: nossos pivôs já estão cansados de enfrentar Scola. Ginóbili sabe muito bem como Alex é um pé na sacola na marcação. E por aí vai. São personagens que se enfrentam há dez anos – Marcelinho Machado, por exemplo, estava em todos os jogos listados acima.

Desta vez os times se enfrentam com o que têm de melhor, ou quase. Prigioni ainda não se recuperou de cólicas renais. Nenê sofre com dores crônicas no pé e, segundo Magnano, é dúvida.  Quem perde mais nesta? O Brasil perde um ótimo defensor contra Scola. A Argentina fica sem seu jogador mais cerebral.

Nas próximas horas, esses protagonistas todos podem tentar minimizar qualquer noção de rancor e tal. Splitter e Scola são muito amigos, por exemplo. O catarinense se dá bem pacas com Ginóbili em San Antonio. Magnano tem o respeito de todos do outro lado. Quando a bola subir, porém, lembre que há fortes recordações em jogo.


Quando Nenê e Varejão surgiram
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Giancarlo Giampietro

São lembranças remotas, mas que acho que valem resgatar agora, vendo Nenê e Anderson Varejão dividindo o garrafão brasileiro pela primeira vez – de verdade – desde 2003. De lá para cá, quando um pôde, o outro não estava.

Em 2001, os jovens pivôs estavam basicamente sendo apresentados ao basquete internacional na disputa do Sul-Americano masculino. Hélio Rubens era o técnico, iniciando um processo de troca de guarda no time que mesclava Helinho, Demétrius, Vanderlei, Sandro Varejão com gente mais nova.

Anderson e Nenê era duas quase-varetas, bem crus ofensivamente, mas já com muito potencial físico e energia, já conseguindo causar impacto por isso. A seleção foi até a final, sendo derrotada pela Argentina por 76 a 69 na final. Na época, Luis Scola nem cabeludo ainda era – no encerramento da fase regular, os comandados de Magnano já haviam vencido por 64 a 60, num jogo bem parelho.

A despeito de o resultado ter apresentado mais do mesmo – vitória argentina, no caso –, foi ali na cidade de Valdivia, no Chile, que começou o sonho de toda uma geração. Pela primeira vez garotos brasileiros eram discutidos por scouts da NBA, começando a pipocar em lista de sites especializados e a serem descobertos. O adolescente Tiago Splitter, 16, ainda estava num grupo de “próximos-Dirk-Nowitzkis”, por exemplo.

Após um longo período separados, eles agora enfim se unem, já bem mais encorpados, realizados financeiramente, conhecidos por todos no meio. No que vai dar isso?

PS: Veja o que o blogueiro já publicou sobre a seleção brasileira em sua encarnação passada


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