Warriors levou 44 pontos de LeBron. Mas com estratégia correta
Giancarlo Giampietro
“Sabe, quando um cara marca 44 pontos, é engraçado dizer que o defensor fez realmente um bom trabalho, mas acho que Andre foi extremamente bem contra LeBron”, afirmou Steve Kerr, em sua entrevista pós-Jogo 1 das #NBAFinals, aliviado pela vitória suada, na prorrogação, do Golden State Warriors. Não dá para saber se o técnico já havia dado uma espiada em estatísticas mais detalhadas da partida, que apontam que Iguodala foi de fato um defensor incômodo para o astro do Cleveland. Os números estão na crônica do primeiro confronto, mas não custa repeti-los: quando confrontado pelo sexto homem do time da casa, James acertou apenas 9 de 22 arremessos (40,9%). Em situações de meia quadra, foi ainda melhor: apenas 4 cestas em 14 arremessos (28,5%).
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Agora, o que o treinador não precisava nem dizer era que o Warriors vai conviver muito bem com a ideia de ver LeBron arriscar 38 arremessos por jogo, tal como aconteceu nesta quinta-feira, correspondendo a 40% das tentativas de cesta do Cavs. Foi essa a estratégia adotada pelo clube californiano, sem sofrer nenhuma alteração, mesmo que o astro tivesse, no terceiro quarto, média de um ponto por minuto. A tática tinha, claro, o objetivo da vitória no primeiro jogo, mas também trabalha com a ideia de desgastar a principal arma do oponente, pensando na continuidade da série.
“Vamos continuar tentando cansá-lo”, afirma Draymond Green. “Por isso, você tem de dar o crédito ao Andre e ao Harrison (Barnes). Eles continuaram lutando, colocando o corpo contra o dele, fazendo com o que ele trabalhasse para conquistar qualquer coisa. Ele jogou 47 minutos e começou a se cansar um pouco. Acho que isso nos ajudou um pouco na prorrogação.”
Green e seus companheiros estavam orientados a impedir de qualquer maneira que ele ganhe o garrafão. Forçar que ele vá para o chute de média para longa distância. E vários arremessos nessa condição, contestados. Por muitos e muitos minutos. Porém, se o craque começa a acertar tudo em quadra, como aconteceu no primeiro quarto, fazendo o Cavs abrir até 14 pontos, como fazer? Você tem um plano de jogo, estudado, preparado com cuidado. Até que ponto você o mantém, consciente de que é a melhor decisão? Não seria um quarto de jogo que faria Steve Kerr mudar de ideia. O LeBron vai ter de jogar muito a cada noite. Se ele nos derrotar assim, paciência, aceitamos isso. Mas a chance maior é que dê tudo certo para nós”, disse Harrison Barnes.
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Se formos pensar que LeBron acertou 18 de 38 arremessos para marcar 44 pontos, a princípio a propensão é acreditar que a equipe da casa tenha fracassado nesta missão. Nos últimos sete minutos de jogo, no entanto, ele marcou apenas dois pontos, com uma bandeja a nove segundos do fim da prorrogação, quando o jogo já havia acabado. Além do mais, não é que ele tenha passeado em quadra nos três primeiros períodos. Fato é que o jogador teve de usar de toda a sua categoria, com uma variedade de movimentos impressionante. “O LeBron vai dominar e a bola e fazer suas jogadas. Só temos de nos esforçar para dificultar sua vida a cada posse de bola”, disse Steph Curry.
Rick Carlisle e Gregg Popovich já provaram isso em 2011 e no ano passado: a melhor maneira de (tentar) atrapalhar o astro é impedir que ele infiltre, é forçar que ele vá para o chute de média para longa distância. Ainda mais com a boa fase que Iman Shumpert vive no chute de longa distância – 33,8% na temporada regular, subindo para 37,5% nos playoffs – dando mais uma arma ao lado de Kyrie Irving e do pirado JR Smith. O que os clubes texanos prepararam e deu certo foi uma espécie de barricada para congestionar a zona pintada. O Warriors foi mais disciplinado em não vai dobrar em cima de LBJ no perímetro, preocupado em diminuir o espaço dos chutadores. Ainda mais agora que o armador está fora do restante da série, devido a uma fratura na rótula esquerda. Matthew Dellavedova é valente, mas não consegue criar jogadas por conta própria e pode ser vigiado por Steph Curry sem problema. Sem Irving, Klay Thompson poderá ser deslocado para a marcação de JR Smith, deixando a vida do ala ainda mais complicada.
Só no caso de o craque conseguir bater o primeiro defensor rumo ao garrafão, que o Warriors deslocava alguém para a ajuda, com Andrew Bogut de preferência, para proteger o aro. É aí que entra Andre Iguodala, tentando repetir o que Shawn Marion e Kawhi Leonard fizeram no ano passado. A missão do camisa 9 é, antes de tudo, ficar à frente de LeBron e encaminhá-lo para arremessos de menor probabilidade de acerto – tendo elasticidade e envergadura para ainda incomodar seu movimento. No geral, o Warriors permitiu ao craque apenas quatro tentativas de cesta foram na zona do semicírculo,. Nos playoffs, até então, sua média era de 9 chutes na preciosa área restrita. Fora do garrafão, ele converteu apenas 7 de 22 chutes – sendo que este foi o máximo de arremessos que ele já tentou em sua carreira nos playoffs.
Na média, historicamente, independentemente do marcador, o aproveitamento de James é sensivelmente inferior as bolas de média distância, e os percentuais só caíram neste ano. Veja na tabela abaixo, uma cortesia do Basketball Reference, primeiro o percentual das tentativas dele pela quadra e, depois, os índices de conversão do craque nestas respectivas áreas:
Outro fator que deu muito certo e também fazia parte do pacote defensivo orientado pelo assistente Ron Adams: alienar os demais atacantes do Cavs. Se LeBron estava exausto ou não no final da partida, também não vai dizer. Mas, quando seus arremessos pararam de cair, estava muito tarde para o adversário buscar outras alternativas. Pois só mesmo Irving e Timofey Mozgov haviam feito ao menos uma cesta durante todo o segundo tempo. JR Smith, Iman Shumpert e Tristan Thompson estavam fora de sintonia. A equipe não rodava mais a bola, ao contrário do que aconteceu na etapa inicial. “Ele fez um monte de arremessos complicados, que estavam contestados, e podemos viver com isso: ele tentando vários arremessos e chegando a 40 pontos, porque sentimos que muitos dos caras que são fundamentais para eles acabam pouco acionados e não entram no ritmo”, afirmou Andrew Bogut. Vejam nesta foto:
Percebam, então, que não se trata de um capricho de LeBron quando arrisca 38 arremessos. Existe um do outro lado da quadra, tentando influenciar nessas contas. Na final do Leste contra o Atlanta Hawks, o astro do Cavs teve média de 9,3 assistências em 38,5 minutos. Nos playoffs como um tudo, são 8,1 assistências em 41,1 minutos. No Jogo 1 das finais, apenas 6 assistências em 47 minutos. Os dois pontos que sua equipe somou na prorrogação equivalem à pior marca da história das finais. Mais: nos minutos decisivos, o Cleveland tinha o segundo melhor aproveitamento de quadra nestes playoffs, com 45% de acerto. Na abertura decisão, foram apenas duas cestas em 15 chutes (13,3%).
São diversos os números para além dos 44 pontos de LeBron, então, que apontam uma estratégia acertada. Mas, sim, dá para dizer que, se cai o último arremesso de LeBron no quarto período, toda essa narrativa, esse discurso poderia mudar. Eles ficaram claramente a perigo. De qualquer forma, neste loooongo jogo de xadrez com David Blatt, Steve Kerr já tem uma convicção, mesmo que ser torturado pelo camisa 23 não seja lá assim tão, segundo suas palavras, “engraçado”.