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Jukebox NBA 2015-16: Houston Rockets, e essa coisa de química
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: já estamos nos playoffs e o blog vai tentando fazer uma ficha sobre as 30 franquias da liga, apelando ainda a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “I Am Chemistry”, Yeasayer

O Houston Rockets foi para a quadra nesta quarta-feira, em Oakland, sabendo que, de modo mais que improvável, uma grande porta lhe havia sido aberta. Podem até chamá-la de Porta da Esperança, se quiserem. O Golden State Warriors estaria sem Stephen Curry. Nesse quadrante dos playoffs, o cenário ficou ainda mais incerto (e interessante)  devido às desfiguração do Clippers, agora sem Chris Paul e Blake Griffin. Então que tal respirar fundo e tentar uma última vez colocar a casa em ordem? Estava bem em cima da hora, sim, mas dava tempo de reagir e tentar salvar uma temporada que avançou de modo turbulento, desde o training camp.

Qual foi a resposta, então, que eles deram? Contentar-se em apanhar do Warriors desde o tapinha inicial, mesmo. Com 12 minutos de jogo, o time da casa já vencia por 17 pontos, tendo anotado 37. Alguém aí falou em resistência, orgulho e seriedade? Nada: terminou 114 a 81, uma vergonha. E fim de papo, fim de suplício.

Aparentemente, só James Harden tinha interesse no jogo, na metade do jogo que lhe convém: o ataque, ao converter seis de seus primeiros sete arremessos. Àquela altura, seus companheiros haviam simplesmente errado todas suas 12 tentativas de cesta. Aí, meus amigos, com Shaun Livingston inspirado, Klay Thompson bombardeando, Draymond Green e Iguodala fazendo a bola girar, o estrago já era imenso. Foi um desfecho emblemático, aliás. Harden fazendo de tudo, mas por conta própria. E, mais tarde, nos últimos minutos, com a barba de molho, via Dwight Howard em ação, até os últimos segundos, sem a menor chance de reação. Algo até bizarro para a tradição da liga.

São vários pontos aqui:

1) Harden e Howard claramente não são os mais chegados, por mais que neguem publicamente. Diversas fontes, anônimas ou não, apontaram no decorer do ano que, no mínimo, os dois astros não se dão bem. Antes do All-Star Game, aliás, em conversas separadas com a diretoria, um teria pedido a cabeça do outro. Podemos citar aqui David Thorpe, analista do ESPN.com e, principalmente, treinador particular de Corey Brewer e alguém que tem longo relacionamento com a franquia, já que trabalha com Kevin Martin e Courtney Lee também. Outro que não fez muita questão de esconder esse trauma: Jason Terry, o tipo de veterano que sente que já não deve mais nada a ninguém e sai falando sem filtro nenhum. “Não tem química nenhuma neste grupo. É horrível para…”, esbravejou à frente de diversos jornalistas após uma derrota para o Portland, em fevereiro, sem que estivesse dando entrevista, marchando em em direção ao vestiário. Foi o último ano antes do intervalo para o All-Star Game. “Se você olhar bem, vai ver que a química do time não está do modo como gostaria, e espero que o descanso seja o que precisamos. Cada um indo para o seu lugar e se afastando. É como um casamento. Talvez você precise de um tempo distante para se acertar”, disse, pouco depois, mais calmo, mas ainda realista, pouco antes do jogo festivo em Toronto.

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2) Sobre Harden jogando sozinho: não foi assim desde sempre? Depois de fazer um ótimo campeonato em 2014-15, o Sr. Barba entregou novamente números aparentemente maravilhosos, mas em outro contexto, individualista demais, alienando os parceiros, Howard entre eles. Pode-se interpretar de duas formas essa vocação egoísta: o elenco não estava rendendo nada, mesmo, muito abaixo do esperado. Por outro lado, será que essa queda brusca não se deve justamente a uma falta de sintonia com Harden? Virou bola de neve.

Howard já não é mais a mesma figura imponente de cinco anos atrás. Vai ter seus espamos de quando em quando, mas não existe mais garantia de que possa dominar o garrafão diariamente. De todo jeito, é justificável que tenha sido diversas vezes ignorado por completo no ataque?

Harden ao ataque: não dá para resolver sozinho

Harden ao ataque: não dá para resolver sozinho

3) Ainda sobre Harden, recuperando também as informações passadas por Thorpe e que foram confirmadas em diversos relatos anônimos: o astro se apresentou ao training camp com Kevin McHale totalmente fora de forma. Pegou muito mal com boa parte do elenco, claro. Afinal, ele supostamente deveria liderá-los. Não só como um exemplo de conduta, mas essencialmente porque o sistema ofensivo do Rockets depende muito, mas muito mesmo de suas habilidades. Harden é o armador de fato do time e também seu principal cestinha.

Junte as peças: no ano anterior, Harden chegou voando ao time, depois de um papel de destaque pelo Team USA pela Copa do Mundo. Em 2015, ele ganhou as capas doa tablóides ao lado de sua namorada, Khloé Kardashian. Não vou eu julgar a moça, nem dar link para o TMZ, mas o que podemos dizer é que muita gente na NBA via nessas fotos um sinal de perigo. Fato é que, no início de campanha, ele não conseguiu render em alto nível. O time afundou junto. A crise era tão grande nos bastidores que o gerente geral Daryl Morey se sentiu obrigado a demitir McHale, que havia acabado de renovar seu contrato por três temporadas, com apenas 11 (!) partidas disputadas. Foi aquela tentativa básica de se gerar um fato novo e agitar as coisas. Ele se defende dizendo que, de esperasse um pouco mais, poderia ser muito tarde. Com a classificação obtida apenas na última noite da temporada regular, após 37 vitórias e 34 derrotas, pode ser o caso. Ou, numa outra trilha, com Harden recuperado, talvez o time pudesse ter reagido com McHale, mesmo, e jogado ainda mais. Vai saber.

Devido à demissão do to técnico de melhor aproveitamento na história da franquia, com 59,8%, à queda geral desempenho do elenco (alguém se lembra daquele tal de Terrence Jones, por acaso?) e ao desacerto com Ty Lawson, o dirigente foi duramente questionado. A principal linha foi a seguinte: taí o cara dos números se estrepando e aprendendo da pior forma que o basquete, que o esporte se faz na prática, na quadra, no vestiário.

Certo.

Em 2015, o Rockets teve gana e conseguiu virada impossível contra o Clippers. E aí?

Em 2015, o Rockets teve gana e conseguiu virada impossível contra o Clippers. E aí?

Mas como explicar que, praticamente com uma base idêntica, o Houston Rockets tenha chegado à final do Oeste pela temporada passada? Ele não montou aquele belo time seguindo as mesmas práticas? Além disso, o que dizer dos times que quase não dão bola aos números, contratam técnicos boleiros e se dão mal do mesmo jeito? Pois é: não cola esse argumento simplista e, de certa forma, revanchista.

É óbvio que a situação escapou do controle de Morey, McHale e Harden/Howard. O difícil é entender exatamente o que aconteceu. Como é possível que a química de um time se desfazer de forma tão abrupta? Pois é. Pode parecer chavão esportivo para muitos. Mas a harmonia de vestiário vai ser, na maioria dos casos, tão preponderante como o talento de seus jogadores, com números, grana para egos e diferentes currículos para administrar. Pode achar bobagem, mas, mesmo sem Curry, o Warriors avançou com tranquilidade, um ano depois de eles terem se enfrentado em uma final de conferência mais competitiva.

Daí que, além do título óbvio, que Walter White adoraria, a faixa do Yeasayer se encaixa também por sua formação: é mais uma das tantas bandas estabelecidas na onda semi-novo-eletrônica-multicultural-étnica do Brooklyn. Sendo, na minha modesta opinião, mais talentosa e, hã, harmônica do que 90% de seus, hã, pares.

Mas, bem, de volta a Houston. Não dá para colocar tudo na conta de Lawson, a grande novidade, coitado, a despeito de seus problemas pessoais sérios e do fiasco que resultou sua contratação. Em teoria, o baixinho chegaria para aliviar a carga de Harden, como uma segunda opção de criação, também acelerando ainda mais o ataque. Na prática, foi um desastre. Como podemos notar agora que veste a camisa do Indiana, o ex-condutor do Denver não tem conseguido repetir suas melhores atuações. Parece ter virado um armador qualquer. Mesmo se estivesse voando, porém, sua parceria com Harden não funcionou taticamente, e não por um dilema inédito na história do esporte: ambos entregam mais quando estão com a bola. E, por mais que se esperneie, só há uma bola em jogo.

McHale demorou para enfrentar a questão. Poderia ter separado os dois o máximo possível, desde os primeiros jogos. Quando o barbudo fosse descansar, que Lawson fosse acionado para controlar o show. A questão é que, mesmo quando essa estratégia foi posta em prática, não funcionou tão bem. Como quase tudo o que foi tentado durante a campanha: a seleção de Sam Dekker, sabotado por lesões, a queda de McHale, a volta de Josh Smith, a troca vetada de Motijeunas e Thompson com o Detroit, entre outras cortadas. Ao menos, em seu retorno da China, Michael Beasley deu saudável contribuição ao ataque, mesmo que na defesa a história seja outra.

Quase ninguém entende exatamente o que rolou em Houston

Quase ninguém entende exatamente o que rolou em Houston

Foi uma espiral de desencontros. Agora o clube vai ter de juntar os cacos e ver quais as possíveis soluções. Daryl Morey está garantido pelo proprietário, Les Alexander. Mas parece pouco provável que Bickerstaff seja efetivado, mesmo que tenha cumprido sua missão numa situação muito desconfortável, como um interino de um time fragmentado. Jeff Van Gundy, técnico do time de 2003 a 2007, e Luke Walton já foram sondados e serão entrevistados.

Em relação ao vestiário, a primeira dúvida é a permanência de Howard, que vai exercer cláusula contratual e entrar no mercado. Aos 30 anos, não está tão velho assim. Mas não dá relevar seus problemas crônicos nas costas e joelhos, que são resultado de 12 anos de liga. Ou seja: são 30 anos de idade, mas com milhagem de veterano que pulou diretamente do high school para a NBA. Sem contar a reincidência no quesito disciplinar: lidar com Harden, pode não ser fácil, mas o pivô também acumula desafetos ou gente desconfiada desde Orlando. Kobe que o diga.

O Sr. Barba também vai ter de passar seu ano a limpo. Fechar o ano com 29,0 pontos, 7,5 assistências e 6,1 rebotes não é de se fazer desfeita. Com estas médias, veja quem lhe faz companhia. Bateu 837 lances livres, ou 174 a mais que o segundo, Boogie Cousins. Não dá para acusá-lo de omissão. O cestinha, que tanto quis sair da sombra se Durant e Westbrook, precisa entender que nem tudo é sua responsabilidade. Não precisa, nem deve tentar fazer tudo sozinho. Tampouco pode esperar que o controle de 100% das ações no ataque vire 10% de compromisso na defesa, sem achar que o desequilíbrio nessas ações vá gerar consequências. Acho que isso ficou claro na última partida do calendário. Daqui a alguns meses, ele poderá reencontrar os companheiros de seleção e se lembrar de como é que se faz.

“Já lido com isso há bastante tempo. Você vai enfrentar todos os tipos de adversidade. O modo como as enfrenta é o sinal de que tipo de time você tem. Nosso time não foi forte o bastante mentalmente para enfrentar essas adversidades e aprender. Fica uma lição para Harden. Como estrela da equipe, você tem de enfrentar certas questões e ainda ser capaz, mentalmente, de elevar seu jogo junto com seu time e levá-lo até onde você quiser que ele vá”, disse Terry, ainda em Oakland, nesta quarta.

São tantas coisas para o Rockets resolver que nem vai dar tempo de acompanhar o desfecho da temporada. O Trail Blazers vai se aproveitar dos desfalques dos concorrentes? O Warriors vai resistir? O Rockets poderia, mas se recusou a discutir e se envolver com as respostas. Melhor evitar. Antes de se meter em ponderações, nada como o Caribe. Ninguém é de ferro.

A pedida? A essa altura, o clube só espera que possa contratar um técnico que consiga se comunicar com Harden (e Howard?) e tirar o máximo de um dos jogadores que é um dos cinco melhores da liga

A gestão: é… Depois de tanto tempo em que Daryl Morey tripudiou em cima da concorrência — sem tantas provocações, que fique claro, mas rapelando praticamente todo mundo em uma mesa de negociação da liga. Basta revisitar a troca por James Harden. Que tenha pago Kevin Martin, Jeremy Lamb e duas escolhas de Draft (que se transformaram em Steven Adams e Mitch McGary) e uma de segunda, é uma das maiores barganhas que podemos listar aqui.

Morey, dos cartolas mais inquietos da NBA

Morey, dos cartolas mais inquietos da NBA

Mas teve muito mais:

– em 2007, sabendo que Vassilis Spanoulis não queria saber mais dessa brincadeira, mandou seus direitos e uma escolha de segunda rodada e acolheu Luis Scola, quando a lenda argentina enfim deixou o basquete espanhol para se testar contra os melhores atletas do mundo;

– em fevereiro de 2009, em mais uma troca tripla, mandou Rafer Alston para Orlando e recebeu, de Memphis, o ala-pivô Brian Cook e Kyle Lowry.

– em fevereiro de 2010, sabendo a ânsia que o Knicks tinha para limpar salário e correr atrás de LeBron James, Chris Bosh e Dwyane Wade no mercado, conseguiu extorquir Donnie Walsh: mandou o restinho de contrato de um quebrado Tracy McGrady para NYC e recebeu Jordan Hill (ainda visto como um pivô promissor e que renderia dividendos no futuro), Jared Jeffries e uma escolha de primeira rodada (desperdiçada em Royce White, é verdade). Além disso, ainda arrastou o Sacramento Kings para a troca tripla e recebeu Kevin Martin, que era muito mais produtivo que T-Mac àquela época e, depois, seria peça central para receber Harden;

Seu retrospecto na segunda rodada do recrutamento de calouros também é invejável: Steve Novak (número 32, em 2006), Carl Landry (31 em 2007), Chase Budinger (44 em 2009) e Chandler Parsons (38 em 2011), e ainda precisa ver se Sergio Llull (34 em 2009) vai aceitar um dia se despedir de Madri. Se você acha pouco, basta fazer uma pesquisa, ano a ano, para ver o quanto se aproveita na segunda metade dos Drafts… Em relação à primeira rodada, Aaron Brooks (26 em 2007 e que, mais tarde, renderia Goran Dragic e uma escolha de Draft), Patrick Patterson (14 em 2010) e Clint Capela (25 em 2010) foram alguns sucessos. Terrence Jones ainda é uma incógnita, enquanto Marcus Morris não foi bem aproveitado.

(Agora, claro que o cara não é infalível. Uma troca equivocada em 2010 foi quando mandou uma escolha de primeira rodada para o Nw Jersey Nets para apostar em mais um cabeça-de-vento como o ala Terrence Williams. No mesmo ano, trocou Trevor Ariza por Courtney Lee. Depois, mandou Courtney Lee para Boston sem receber nada de valor em troca, a não ser uma escolha de segunda rodada – que, de todo modo, também foi no pacote por Harden e se transformou em Alejandro Abrines. O fato de ter ido atrás de Ariza depois mostra arrependimento. A aquisição dos direitos de Jermaine Taylor e Joey Dorsey pela segunda rodada do Draft também não colou. Royce White foi um fiasco no Draft de 2012.)

Se for para filtrar toda essa enxurrada de transações, o saldo é bem positivo. Tudo parecia correr direitinho. No ano passado, o projeto com Harden-Howard rendeu ao time sua primeira final de conferência desde a era Olajuwon. Um ano depois, porém, está à procura de novas respostas.  Vamos ver no que dá. Não esperem que ele fique parado.

Olho nele: Patrick Beverley

Beverley, de novo

Beverley, de novo

Temos aqui um caso que desafia qualquer nomenclatura: na defesa, o camisa 2 vai defender armadores de um lado e, do outro, vocês sabem, se desloca para o lado, sendo mais um chutador à espera de definições do barbudo. Já que Harden domina a bola, ao seu lado, na backourt, Beverley acaba sendo um complemento perfeito, ainda mais agora que atingiu o aproveitamento de 40% nos tiros de três pontos, ajudando a espaçar a quadra para as infiltrações do craque do time.  Funciona melhor em comparação com Ty Lawson. O que não quer dizer que seja um jogador superior.

Mas seu ganha-pão ainda é a defesa, o que deixa a parceria com Harden ainda mais conveniente em termos táticos. Contumaz, ágil com os pés e as mãos, desperta a ira dos mais esquentadinhos e recebe elogios e respeito daqueles que sabe como essas coisas funcionam para aqueles que nem sempre foram vistos como estrela, como Draymond Green, que foi fazer a escolta de Steph Curry depois de ele e Beverley terem se enroscado no primeiro tempo do Jogo 1. “Você meio que espera isso de um cara como Pat. Foi o modo como ele construiu sua carreira na liga. Agora ele ganhou seu contrato, mas ainda joga do mesmo jeito. E eu o respeito que ele se mantenha fiel ao seu estilo. Ele não foge disso”, disse o ala-pivô.

trading-card-pippen-rockets-1999Um card do passado: Scottie Pippen. Sabe essa história de se montar supertimes, com múltiplos candidatos certeiros ao Hall da Fama? Definitivamente não começou com os superamigos de Miami. nem com o Los Angeles Lakers de Kobe, Gasol, Nash & Howard, aquele fiasco retumbante. São várias as tentativas no decorrer da história da NBA, e o Houston Rockets da temporada 1998-99 (que, na verdade, só foi disputada em 99, mesmo, devido a estes lo(u)cautes da vida…) é um desses casos, lembrando bastante o caos vivido por L.A. em 2012-13.

Pippen não queria ver a diretoria do Chicago Bulls nem mesmo se o gerente geral Jerry Krause estivesse dirigindo um carro-forte cheio de barras de ouro. O ala era a frustração encarnada devido ao seu contrato realmente pífio — e à recusa do clube de renová-lo — e só não havia forçado sua saída da franquia anos antes graças aos apelos de Michael Jordan e Phil Jackson. Quando os dois partiram, o ala foi junto, aceitando uma proposta do Rockets. Lá, jogaria ao lado de Hakeem Olajuwon e Charles Barkley, assumindo a vaga aberta pela aposentadoria de Clyde Drexler. A negociação despertou tanto interesse que rendeu a Pippen uma capa da Sports Illustrated, a única de sua carreira para a qual posou solitário. O time nunca rendeu aquilo que o técnico Rudy Tomjanovich esperava, a despeito das 31 vitórias e 19 derrotas, que renderam apenas o quinto lugar na conferência. Nos playoffs, o Rockets foi eliminado já na primeira rodada por um Lakers ainda pré-Phil Jackson, por 3 a 1. Só não foram varridos devido à melhor atuação de Pippen pelo time, somando 37 pontos e 13 rebotes no Jogo 3.

Pois o hexacampeão nem perdeu tempo. Dias depois da eliminação, comunicou ao clube que não havia mais clima para ele ficar lá. Queria ser trocado, afinal de contas. Barkley não perdoou: “Ele querer sair depois de uma temporada é uma grande decepção. O clube fez de tudo para contratá-lo, os torcedores o trataram tão bem”. Acontece que o que Chuckster não contou foi que ele era justamente a principal razão para o descontentamento de Pippen, que diria: “Não pediria desculpas a Charles Barkley nem mesmo sob a mira de uma arma. Ele jamais poderia esperar desculpas de mim. Na verdade, acho que ele me deve desculpas por ter se apresentado para jogar com sua bunda gorda”. Ouch. Problemas de quê? Relacionamento… Química, claro. Além de gordura localizada, no caso.

Naquele ano, a temporada começou muito tarde. Não foi só Barkley que chegou fora de forma para jogar o campeonato. Foram dezenas de atletas nessas condições, o que arranhou, e muito, a imagem do sindicato, que havia se metido numa briga ferrenha com os proprietários pela divisão de lucros da liga. Por outro lado, segundo dizem por aí, os jogadores do San Antonio, time que ganharia seu primeiro título, chegaram voando. Eles teriam se reunido na cidade mesmo semanas antes da resolução do lo(u)caute, de modo informal — ou “pirata”, mesmo, como você preferir — para treinar com Gregg Popovich. As atividades estavam proibidas.

Pressionado, o Rockets mandou Pippen para Portland, em troca de um pacote que não empolgou muito: Stacey Augmon, Kelvin Cato, Ed Gray, Carlos Rogers, Brian Shaw e Walt Williams. Cato, pelo menos, faria parte do pacote futuro que levaria Tracy McGrady à equipe.

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Jukebox NBA 2015-15: OKC e a estrada trovejante dos playoffs
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Thunder Road”, por Bruce Springsteen.

Kevin Durant se preparava para enfrentar o Clippers no início de março. Foi quando, numa entrevista para o Orange County Register, admitiu uma leve surpresa pela forma como conseguiu encaminhar sua temporada, podendo se tornar um agente livre ao final do campeonato. “Não diria que estava tudo quieto, mas foi numa boa. Tem sido diferente. Estava esperando muito mais em todas as cidades que visitaria, que todo mundo ia perguntar sobre isso, mas tem sido bastante tranquilo”, afirmou.

É bom que ele tenha curtido essa calmaria. Pois não deve durar muito: com os playoffs se aproximando, Durant e o Okahoma City Thunder vão entrar numa estrada trovejante (vrum-vrum!).

Pegamos carona, então, ouvindo um dos clássicos de Springsteen, numa letra enorme que fala, entre tantos assuntos, sobre carros, garotas, afirmação e também a redenção. Para falar de NBA vida de atleta, os dois primeiros tópicos sempre valem, né?  Mas, para esta equipe especificamente, fiquemos os outros demais.  Tem muita coisa em jogo para o time, graças a está cláusula contratual que permite ao craque encerrar seu vínculo para entrar no mercado.

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Com a possibilidade de um jogador dessa grandeza entrar no mercado, era de se esperar um ba-fa-fá muito maior.  Muitas teorias malucas, especulações envolvendo até mesmo o Philadelphia 76ers. Esse tipo de loucura. LeBron James não deve ter entendido nada.

Rolou só o papo sobre o Golden State Warriors. Quer dizer, são vários os bate-papos que os atuais campeões instigam, pela campanha maravilhosa, pela ascensão de Curry, a volta de Steve Kerr, e tal. Mas teve também aquela história de um flerte à distância com o cestinha. De qualquer forma, não durou muito a discussão, e nem tinha como, devido ao embasbacamento geral da nação com o ritmo do time californiano. Mas não ficou só nisso. A postura um tanto arredia do ala no início da campanha, disparando sem parar contra o jornalismo em geral (essa entidade diabólica), e também o fato de que estava se recuperando de uma sucessão de cirurgias também abafaram a história.

A dupla vai durar até... a) 2016? b) 2017? c) apoentadoria?

A dupla vai durar até… a) 2016? b) 2017? c) apoentadoria?

Agora: se o Thunder por ventura chegar a um confronto com o Warriors na final do Oeste, será impossível segurar. Se a equipe nem chegar até lá, pior ainda. Aí é sinal de férias antecipadas, e Durant, mesmo que apenas entre seus confidentes e Jay-Z, não poderia mais fugir do assunto.

O mais cruel de tudo isso é que um novo insucesso, neste campeonato em específico, seria totalmente aceitável. Golden State e San Antonio estão em outro patamar. São times que olham apenas para os melhores da história se for para encontrar adversário à altura, segundo os números da temporada regular. Ainda assim, cada um com o seu motivo, Thunder e Cavs precisam vencer ou vencer. E aí como faz?  Não é fácil encontrar a equação aqui.

O Thunder de Billy Donovan parte rumo aos mata-matas com o segundo melhor ataque. Seu sistema ofensivo é realmente aterrorizante, impulsionado por dois dos maiores cestinhas da atualidade, mesmo que não tenha passado por nenhuma transformação após a demissão de Scott Brooks. Em seus últimos 13 jogos, a equipe só não passou dos 110 pontos em uma derrota para o Detroit Pistons por 88 a 82, num milagre operado por Stan Van Gundy. Contra Portland, Boston e Denver, passou dos 120 pontos. Mesmo preservando seus principais atletas numa segunda partida contra o Blazers, anotou 115 pontos.

Agora, se alcançou uma marca dessas e saiu derrotado, é porque sua defesa não incomoda tanto assim. É a mesma peneira que permitiu 117 pontos aos reservas do Clippers, com direito a 64 pontos de Austin Rivers e Jamal Crawford, 55,3% nos arremessos e 16 cestas de fora. No geral, o time tem o 12o. melhor sistema defensivo, o que não costuma ser um bom indício na luta pelo título. Especialmente quando o San Antonio Spurs lidera esse ranking e o Golden State Warriors aparece em quinto. Ambos estão no top 3 ofensivo. Na temporada regular, até fizeram jogo duro. Ganharam duas dos texanos. Fizeram dois jogos memoráveis contra os californianos, com direito a cesta inacreditável de Curry. Nos playoffs, o cenário muda, o bicho pega.

MVP e MVP juntos? OKC tem de superar Golden State em diversas frentes

MVP e MVP juntos? OKC tem de superar Golden State em diversas frentes

Para OKC, além se seus próprios resultados e do aspecto emocional, sua maior esperança talvez seja o aspecto financeiro. Se o astro priorizar seus rendimentos, a decisão que faz mais sentido é a de postergar toda essa discussão, ao menos por um ano. Bastaria dizer que vai até o fim de seu atual contrato,.virando agente live ao mesmo tempo que Westbrook e Serge Ibaka.

A expectativa é que ele receba um salário máximo quando virar agente livre, a não ser que, tal como Wade e LeBron fizeram em Miami, aceite dar um desconto para formar um novo supertime. Se der a lógica, todavia, ele receberia um salário equivalente a 30% do teto. Em 2016, a projeção é que o teto seja de US$ 90 milhões. Em 2017, US$ 108 milhões. Só não precisa calcular ainda a diferença. Pois tem mais um detalhe: se deixar para assinar após seu décimo ano de NBA, o cestinha terá direito a 35% do teto. Seu salário poderia começar na casa de US$ 38 milhões. No total, poderia ganhar algo em torno se US$ 40 milhões a mais.

Praticamente a NBA inteira estará prepararada para fazer uma proposta a Durant, se ele assim desejar. Até mesmo o Warriors, mesmo se bicampeões. O que o astro procuraria? Não há nenhuma reportagem que tenha dado conta disso ainda. Tudo muito silencioso ainda. Prenúncio de tempestade?

A pedida? O título, derrubando em sequência, Spurs, Warriors e Cavs. Imaginem só? Aí quero ver jogador cair na estrada.

A gestão: pela primeira vez desde que chegou ao clube, lembrando que o projeto se iniciou ainda em Seattle, vimos Sam Presti agir sob forte pressão com preocupações mais imediatistas, e os resultados são questionáveis. Quando as preocupações se tornaram mais imediatistas, . Numa primeira etapa,  seu trabalho de reconstrução foi aclamado em toda, servindo como exemplo para muita gente. Muito antes de Sam Hinkie ser apedrejado em Philly, Presti entendeu que, partindo do zero, precisaria de muita paciência para colocar sua equipe nos trilhos. Já faz tanto tempo que OKC se situa no topo da liga, que não podemos nos esquecer de como tudo começou.

Durant foi escolhido em 2007. Russell Westbrook veio em 2008. Por fim, em 2009, James Harden completou uma trinca de futuros All-Stars, Dream-Teamers, candidatos a MVP. Foram, respectivamente, os segundo, quarto e terceiro colocados em seus respectivos Drafts. Para ter direito a uma seleção alta dessas, é claro que o Thunder não poderia render lá muito bem em quadra. Nos dois primeiros anos de Durant, venceram, respectivamente, 20 e 23 partidas apenas.

Presti conseguiu tirar Donovan da Flórida. OKC só não mudou muito assim

Presti conseguiu tirar Donovan da Flórida. OKC só não mudou muito assim em quadra

A diferença é que, na hora de detectar talentos, Presti teve muito mais sorte e competência que Hinkie, que acaba de se demitir de um time que tem apenas dez triunfos a poucos dias do fim do campeonato. A sorte pesou para a escolha de Durant, com o time entrando no top 3 de modo inesperado e vendo o Portland Trail Blazers apontar Greg Oden como o calouro número um. Essa é uma das grandes interrogações para a torcida do Blazers: e se eles tivessem ido de Durant? De qualquer forma, Westbrook e Harden não eram vistos como unanimidades em seus processos seletivos, ao passo que a lista de sucessos de sua gestão também se estende a Serge Ibaka e Reggie Jackson, que foram escolhidos em número 24. Steve Adams cumpre bem seu papel de lenhador atlético, tem evoluído de pingo em pingo e ainda não completou nem 23 anos. Andre Roberson já é um marcador enjoado. Sobre Cameron Payne, Mitch McGary e Josh Huestis, está muito cedo ainda. Dá para dizer que o armador tem muito talento.

Presti foi tão bem na hora de draftar que teve a vida ligeiramente complicada pouco depois, quando chegou a hora de tratar do segundo contrato de muitos desses. Como no caso do Sr. Barba, eleito melhor sexto homem da liga em 2012, e tal. Entre ele e Ibaka, a franquia preferiu o pivô, deixando o ala-armador escapar para poupar alguns caraminguás. Fazendo todas as contas do que guardaram então, comparando com o que estão gastando agora com Kanter, ainda é complicado assimilar essa. Faltou visão ao dirigente. Por menor que seja o mercado de OKC, por mais que os proprietários tenham ordenado a contenção de gastos, o teto salarial da liga viria a subir consideravelmente nos anos seguintes, e seria possível assimilar este contrato sem muito esforço. Multa por multa, estão pagando pelo jovem turco.

O outro lado da questão é que as pessoas mais próximas de Harden garantem que ele não iria aceitar a condição de coadjuvante de Durant e Westbrook por muito tempo. Que cedo ou tarde, forçaria uma troca, mesmo de contrato renovado. Por tudo o que se noticia em Houston hoje sobre seu comportamento, essa tese tem lastro bastante razoável. Ainda assim, numa ressalva final, Presti poderia ao menos ter recebido mais em troca por um jogador desse quilate. Num de seus atos raros precipitados, pode ter deixado pacotes melhores na mesa. Mesmo sem Harden, OKC se manteria como candidato ao título. Seu alcance, porém, foi limitado quando as lesões começaram a aparecer, e Kevin Martin não estava mais por lá, enquanto Jeremy Lamb empacava.

Esse ganchinho de Kanter vai cair sempre. Mas há mais tarefas para administrar

Esse ganchinho de Kanter vai cair sempre. Mas há mais tarefas para ele tocar

Se o retorno por Jackson foi, relativamente, melhor, também foi a um custo financeiro alto, devido a iminentes negociações que deveria ter com Kanter e Singler, a mais de US$ 21 milhões ao ano — valor, que, verdade, será amenizado pela nova realidade financeira da liga. A troca pelo turco foi um ato de semidesespero de Presti. Sem Durant em quadra, no ano passado, enfim o gerente geral se mexer durante um campeonato, tentando de tudo para chegar aos playoffs. O New Orleans Pelicans fechou a porta na última rodada. O jovem pivô virou agente livre restrito e foi um dos raros casos recentes a ter uma proposta nessas condições. Veio de Portland, ao que tudo indica num ato deliberado de Neil Olshey para sacanear um concorrente da Divisão Noroeste.

Kanter tem uma das munhecas mais habilidosas da liga. Quando acionado no garrafão, no mano a mano, a chance de cesta é grande. Westbrook o adora, por lhe render assistências praticamente automáticas. Ele tem uma das munhecas mais habilidosas da liga.  Numa projeção por 36 minutos, tem médias de 22,1 pontos, 14,0 rebotes (5,3 na tábua ofensiva). O tipo de cestinha que poderia dar um alívio aos astros, já que Dion Waiters parece um caso perdido, mesmo. Aos 23 anos, valeria o investimento, mas talvez para um clube com pretensões mais amenas. Pois, se precisamos fazer uma projeção por 36 minutos para valorizar seus números, é porque joga pouco (20,8 por partida). Pode isso? Não só pode, como precisa. Pois a defesa, num jogo de alto nível, vai ser difícil de ser sustentada com ele. Aos poucos, o turco vai evoluindo nesse sentido. Mas não está pronto para lidar com ataques poderosos como o de Warriors e Spurs. A dúvida que fica: quando estiver pronto — se isso acontecer, claro –, Durant ainda estará por lá?

Olho nele: Serge Ibaka

Os playoffs estão chegando, e Ibaka ainda não acertou a mão

Os playoffs estão chegando, e Ibaka ainda não acertou a mão

Se Durant e Westbrook estão fazendo campanhas extraordinárias, o mesmo não pode ser dito sobre o pivô congolês, que, discretamente, ajudado pelo desempenho incrível de seus companheiros estrelados, vive talvez a pior temporada de sua carreira. Ou pelo menos a menos e produtiva. Pior: a queda de rendimento deste superatleta acontece dos dois lados da quadra.

Em tese, sua capacidade como o defensor seria sua contribuição mais relevante para a equipe, como um caso raro de marcador que pode executar tão bem a parede numa situação de pick-and-roll como a cobertura vindo do lado contrário para proteção do aro. Acontece que essas habilidades e sua envergadura intimidadora não estão surtindo tanto efeito assim neste ano. Você pode até não botar muita fé na medição “Real Plus-Minus” do ESPN.com, como medição exata do valor de um jogador, mas quando esse atleta despenca do número 15 para o 113 no ranking de defensores, de um ano para o outro, acho que é algo digno de registro. E OKC precisa de um Ibaka em sua melhor forma, para derrubar eventualmente San Antonio (LaMarcus, Diaw, West) e Golden State (Draymond Green).

Especialmente quando ele não está mais convertendo com regularidade seus arremessos de longa distância. Depois de alcançar a marca de 38,3% nos tiros de fora em 2013-14, Ibaka regrediu para os mesmos 33,3% de quatro anos atrás, com a diferença de que hoje arrisca 2,6 chutes por partida, contra 0,1 daquela época. No ano passado, este número estava na casa de 3,5. Olhando sua tabela de arremessos, percebe-se que o congolês está priorizando os tiros médios agora, com 34,6% de suas tentativas saindo do perímetro interno mais próximo à linha exterior, contra 29,1% em 2014-15. Seria um pedido de Donovan? Difícil de entender. Pensando nos playoffs, contra defesas mais preparadas, é uma boa estratégia, mesmo que ele esteja convertendo 45,1% desses disparos? Para alguém que definitivamente não consegue criar nada para seus companheiros, Ibaka precisa matar essas bolas. Do contrário, será apenas mais um jogador a encurtar a quadra para Durant e Westbrook, ao lado de Andre Roberson, Enes Kanter ou Steven Adams.

jeff-green-okc-trading-cardUm card do passado: Jeff Green. O cara já passou por tantas equipes que talvez hoje seja fácil esquecer que, em seus primeiros anos de liga, foi o primeiro parceiro escolhido por Presti para fazer a escolta de Durant. Com o tempo, a base ganhou muito mais talento… A ponto de o ala, inconsistente desde sempre, virar um item supérfluo no elenco. E a primeira troca de sua carreira teve o Boston Celtics envolvido, com Kendrick Perkins.

Obviamente que a saída de Green não é tão lamentada pelo torcedor de OKC como a de James Harden. Mas o que os dois têm em comum é a constante busca de Presti por uma peça complementar ideal e duradoura para o trio Durant-Westbrook-Ibaka. A lista se estende a Kevin Martin, Jeremy Lamb, Caron Butler e, agora, Dion Waiters. Foram todas tentativas frustradas, por um motivo ou outro, de preencher essa lacuna no perímetro – de um terceiro cestinha de preço médio que possa ajudar seus craques e se contentar com esse status. Mesmo os que deram certo se tornaram problemas, por terem se valorizado demais.

No caso de Green, o ala recebeu um bom segundo contrato em Boston, mesmo depois de ter perdido um campeonato inteiro devido a um problema no coração. Mas ele nunca justificaria o investimento. Estamos falando de um dos atletas mais inconsistentes da liga, parado no tempo, que tem sua dedicação bastante questionada. Os números não contribuem muito para sua defesa. Pode-se fuçar bastante em qualquer métrica disponível por aí: vai ser difícil encontrar algum dado que indique evolução em seu jogo.

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Deu Warriors x Cavs. Notas sobre os desfecho das finais de conferência
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Giancarlo Giampietro

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

As finais de conferência já são história, definindo que o Golden State Warriors vai jogar sua primeira decisão da NBA após 40 anos e que LeBron James chega a sua quinta em cinco anos – um aproveitamento de 100% nesta década. Para o seu Cavs, vale como o retorno após a varrida sofrida em 2007 contra o Spurs.

Assunto é o que não falta. Seguem, então, algumas notinhas sobre os desdobramentos dos últimos dias e outras pílulas sobre o que vem por aí. Alguns desses tópicos provavelmente mereçam ser explorados com mais atenção até a próxima quinta-feira, quando começa o embate. Foi apenas a segunda vez em 29 anos em que as conferências consagraram seus campeões em um máximo de cinco jogos. Ambos terão uma semana de descanso, então, para regenerar James, preservar o joelho de Kyrie Irving e cuidar de uma eventual concussão de Klay Thompson.

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Os relatos de Oakland afirmam que não houve comemoração mais tímida como a do Warriors nesta quarta, no vestiário. Nada de champanhe, choro e exaltação. “Alguns jogadores tiraram selfies com o troféu da Conferência Oeste, e ficou nisso”, escreve o veterano jornalista Tim Kawakami, do San Jose Mercury News. “Já estão claramente concentrados nas próximas quatro vitórias.”

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Poxa, mas nenhuma tacinha?

Dá pra entender a sobriedade. melhor time o ano todo. Só o título vale como desfecho de uma das melhores campanhas da história. Com 79 vitórias e 19 derrotas até agora, são os favoritos. Em que pese o fator LBJ.

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Varejão e Leandrinho, mais de 10 anos na liga

Varejão e Leandrinho, mais de 10 anos na liga

Vamos ter um segundo brasileiro campeão, para se juntar a Tiago Splitter. E pelo segundo ano consecutivo. Se Leandrinho tem jogado muito bem como substituto eventual de Chef Curry ou Klay Thompson, com média de 11 minutos em 15 partidas, Anderson Varejão é praticamente um assistente do Cleveland, depois de ter sofrido uma ruptura de tendão de Aquiles em dezembro. Se a equipe desbancar o Warriors, porém, o pivô merece tão ou mais o anel de campeão do que qualquer um de seus companheiros. Afinal, é o cara que está no clube desde 2004, viu LeBron crescer e partir com os seus talentos para South Beach, sofreu com tantas derrotas nos últimos anos e se tornou um patrimônio da cidade. Quando seu corpo não lhe trai, não há quem entregue mais.suor em quadra.

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“Nós somos um time de arremesso e que não chutou bem hoje. Pelo menos fizemos uma ótima defesa.”

Foi uma das frases de Draymond Green nas entrevistas após a vitória final sobre o Rockets. Sem a eloquência costumeira, mas resumindo sua equipe. De novo: o Warriors não é especial só por causa do talento dos Splash Brothers. No Jogo 5, acertaram apenas 9 de 29 tentativas de longe, com Curry em desarranjo, mas acabaram com James Harden e souberam proteger a cesta depois de um primeiro quarto dominante e preocupante de Dwight Howard.

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Sobre Curry: o que houve? O MVP matou apenas 7 de 21 arremessos, sendo 3 em 11 de três pontos. Ainda perdeu 3 de 12 lance livres. Sem dúvida que foi um reflexo do tombo que levou em Houston. Ele sentia leve dor no lado direito de seu corpo. Decidiu até mesmo jogar com a proteção eternizada por Allen Iverson no braço. Mas a bola não caía com a frequência desejada. Tirou a braçadeira, e não deu em nada. Faço um paralelo com um carro de Fórmula 1, se me permitirem. A forma de arremesso do armador é tão especial, tão sofisticada que qualquer componente desalinhado pode fazer toda a diferença. Com uma semana de treinamento e respiro, tem tempo suficiente para restaurar a configuração original.

Agora é descansar o braço. Se a pequena Riley permitir

Agora é descansar o braço. Se a pequena Riley permitir

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É,  James Harden…  13 turnovers, recorde individual em um jogo de playoff. Só fez um pontinho a mais que isso. Se o Sr. Barba conseguiu evitar a varrida em Houston, acabou vivendo um pesadelo em Oakland. Fica a dúvida agora sobre qual desfecho seria menos indigno para a sua temporada.

Mas o Houston Rockets como um todo deve se despedir de cabeça erguida. Ser o segundo colocado numa conferência dessas não é pouco. Ainda mais com Howard perdendo exatamente a metade da campanha e Terrence Jones, Patrick Beverley e Donatas Motijeunas fora por muito tempo. E com Josh Smith, Corey Brewer e Pablo Prigioni chegando no meio do caminho.

Lembrem-se que o time texano caiu na primeira rodada dos playoffs do ano passado. Voltou, então, com uma defesa top 10, num progresso sensacional, mesmo sem Howard. O próximo desafio agora é procurar diversificar o ataque encontrar outros planos para além da correria e das investidas de Harden. O craque precisa da ajuda de outra força criativa no perímetro. Beverley, Brewer e Ariza são peças complementares excelentes, mas contribuem muito mais com defesa e energia. Não são caras que desafoguem a vida na hora de buscar a cesta.

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Para ficar no tema dos eliminados, o Hawks encerra a melhor campanha da franquia desde que se estabeleceu em Atlanta. Foi um ano maravilhoso, mas que terminou como um suplício. Começou com a fratura na perna de Thabo Sefolosha, causada pela polícia nova-iorquina. Depois foi a vez de DeMarre Carroll quase estourar o joelho. Al Horford foi expulso. Kyle Korver acabou de passar por uma cirurgia no tornozelo direito. Shelvin Mack sofreu uma ruptura no ombro e também vai ser operado. Afe. O futuro do time fica no ar agora, devido à entrada de Paul Millsap e Carroll no mercado, com a cotação elevadíssima. Danny Ferry, um dos dirigentes que melhor contratou nos últimos anos, segue afastado. E o clube tem novos proprietários. Seria um pecado que esse núcleo não tivesse mais uma chance.

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Steve Kerr, Cleveland Cavaliers, player, cardE este card? Ainda iniciando sua carreira na liga, depois de uma temporada com o Phoenix Suns, o chutador Steve Kerr jogou pelo Cavs de setembro de 1989 a dezembro de 1992, quando foi trocado para o Orlando Magic por uma escolha de segunda rodada do Draft de 1996, que resultaria em… Reggie Geary (quem?). Depois, acertaria com o Chicago Bulls. O resto da história vocês conhecem. Cinco títulos como atleta, comentarista brilhante, dirigente competente e agora um técnico de sucesso. Não apostem contra ele.

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Ao assumir o Golden State, um dos primeiros nomes contatados pelo treinador para compor sua comissão técnica foi… David Blatt. E pensar que o comandante do Cavs ficou muito perto de aceitar a proposta. Meio que já tinham um acordo informal, até que o Cavs (antes do Retorno) entrou na parada. Kerr nem tinha muito do que reclamar, pois havia feito a mesma coisa com Phil Jackson e o New York Knicks. Se o Mestre Zen tivesse feito a proposta dias antes, talvez tivesse assinado um contrato com o ex-pupilo. Pequenos desvios no rumo da história que nos colocam aqui, diante da final Warriors x Cavs. Agora Kerr e Blatt se enfrentam: é o primeiro par de treinadores (coff! coff!) novatos. Tecnicamente, é a segunda vez, mas isso porque houve uma primeira temporada, com dois treinadores que, dãr, estreavam em seus postos. Em 1947,  Eddie Gottlieb, do Philadelphia Warriors, levou a melhor sobre Harold Olsen, do Chicago Stags, por 4 a 1.


Harden evita varrida, Howard em suspense e mais notas de um jogo maluco
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Giancarlo Giampietro

James Harden também tem coração

James Harden também tem coração

Algumas notas sobre o jogo maluco que foi a vitória do Houston Rockets sobre o Golden State Warriors nesta segunda-feira, por 128 a 115, evitando uma varrida?

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James Harden simplesmente não merecia se despedir de uma partida desta maneira e fez questão de prolongar a temporada do clube texano por conta própria, com 45 pontos, 9 rebotes, 5 assistências, 2 tocos, 2 roubos de bola e 7 bolas de três pontos, em 40 minutos, convertendo 13 de 22 arremessos. Foram 33 pontos no segundo tempo. Tudo verdinho:

James Harden, shot chart, Game 4, Warriors

Uma atuação digna de um franchise player, de um dos cestinhas mais mortais que se vai encontrar por aí. Qualidades que lhe valeram a segunda colocação na votação para MVP. Ainda assim, tenho essa incômoda sensação de que, de modo geral, não se respeite tanto assim o que o Sr. Barba faz em quadra. Talvez por sua capacidade para buscar o contato e sofrer faltas… Talvez pela aparente falta de expressão (afinal, a massa capilar meio que cobre tudo, mesmo)… Enfim. Ou, de repente, ele já é venerado, e esse parágrafo todo foi um desperdício de tempo.

De qualquer forma, David Hardisty, do blog Clutch Fans (dedicado ao Rockets), fez um exercício interessante. Cronometrou o quanto durou a sessão de perguntas e respostas tanto de Harden como de Curry no pós-jogo. O armador do Warriors falou por sete minutos. A entrevista do ídolo local durou 1min35s. “O tombo será a história de veiculação nacional para este jogo”, registrou.

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Resumo dos acontecimentos: 1) Josh Smith desembestado; 2) 45 pontos no primeiro quarto para o Rockets (depois de terem marcado 37 no primeiro tempo do Jogo 3… Se tivessem mantido o ritmo, teriam marcado 180 pontos na partida; 3) 22 pontos de vantagem abertos no início do segundo período; 4) Steph Curry busca o toco, passa por cima de Ariza, cai de modo assustador em quadra, batendo a cabeça e deixando todos, absolutamente todos aflitos; 5) Golden State baixa para até sete pontos o placar já nesta parcial; 6) Harden acerta um arremesso de seu garrafão, logo após um rebote ofensivo (abaixo). Tudo isso em 24 minutos. Ok, o que mais faltava? Claro que era uma tempestade em Houston, segurando muitos torcedores no Toyota Center, para que eles pudessem ponderar sobre o quão aleatórios podem ser os acontecimentos da vida. : O

(Como Jeff Van Gundy disse, um chute desses deveria ser validado, não importando que o cronômetro já tivesse zerado. E digo mais: não só deveria valer, como deveria contar cinco pontos no mínimo. Que absurdo.)

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O Houston Rockets agora tem quatro vitórias em partidas nas quais precisava evitar a eliminação. Qualquer perspectiva de uma virada miraculosa contra o poderoso Golden State Warriors, porém, passa pela decisão do departamento técnico da NBA sobre Dwight Howard. O irritadiço pivô pode ser suspenso.

Os oponentes sabem o quanto ele pode perder a compostura facilmente. Tyson Chandler já o deixou no limite na primeira rodada. Agora foi a vez de Andrew Bogut. No empurra-empurra tradicional do garrafão, o australiano primeiro empurrou o pivô da casa, que, ao se virar para a bola e a transição defensiva, soltou o braço na direção do adversário. A arbitragem deu falta flagrante 1.

Se você for comparar este lance com dois episódios recentes dos playoffs, fica bem clara uma incoerência na marcação. É quando a famigerada interpretação entra para causar discórdia.

Vejamos a agressão de JR Smith em Jae Crowder, no último jogo da série Cavs x Celtics, que resultou na suspensão do ala por duas partidas:

(Smith acerta o adversário em cheio, com mais força, mas o movimento é parecido.)

E agora o ato de quase-fúria de Al Horford para cima de Matthew Dellavedova, hoje o jogador mais odiado em toda a Conferência Leste, que causou sua expulsão do Jogo 3:

A NBA vai certamente revisar o rolo entre Howard e Bogut. Caso cedida elevar a falta para flagrante 2, o pivô do Rockets será suspenso automaticamente do Jogo 5 em Oakland, por ter acumulado quatro pontos nesse tipo de incidente.  As regras são as seguintes: cada falta flagrante gera um ou dois pontos de penalização para um atleta, dependendo de seu grau. A partir do momento que o jogador passar dos três pontos, receberá um gancho de uma partida, independentemente de já ter sido excluído em quadra.

Ex-vice-presidente da NBA e chefe do departamento técnico, o treinador Stu Jackson afirmou acreditar em uma suspensão para Howard. “A falta flagrante provavelmente vai ser elevada. Foi uma ação temerária e fez contato com a cabeça. Foi um contato muito mais severo que o da falta flagrante de Horford”, afirmou. “Lembrem-se que a avaliação da falta flagrante não tem a ver com intenção. É uma regra em relação a ação e contato.”

“Espero que não”, diz Howard. “Mas não tem muito o que possa fazer a essa altura. Nunca é minha intenção machucar alguém em quadra. Minha reação foi apenas de tentar me livrar dele, mas não posso reagir desta maneira.”

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Caso seja realmente suspenso, ao menos Dwight Howard deu uma compensada com a torcida. Por morar num subúrbio distante do Toyota Center, o pivô não conseguiu sair imediatamente. Disse que as vias estavam interditadas devido ao temporal lá fora – foi como se a natureza pudesse sentir toda a turbulência deste Jogo 4 e resolvesse descarregar uma tempestade na cidade. Coisa de maluco:. Depois de banho tomado, entrevistas concedidas, voltou para a quadra para trocar uma ideia com alguns torcedores e curtir um pouco de música. Relatos da mídia de Houston, aliás, dão conta de que o sistema de som da arena tocou, até com certa ironia, “Purlpe Rain”, o clássico de Prince.

Numa relax, numa boa

Numa relax, numa boa

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Cadê o grito da galera?

Mais: o telão central do ginásio divulgou uma mensagem enquanto o jogo ainda estava em andamento, recomendando que os torcedores permanecessem em seus lugares, por precaução devido ao péssimo clima lá fora. Serviço.

Toyota Center, weather, Houston, storm

E outra sobre a torcida: os aplausos no momento em que Steph Curry saía de quadra após sua assustadora queda foram louváveis. Afinal, era o craque que havia despedaçado seus corações há duas noites e, na brincadeira, mandou um torcedor mais agitado se sentar.

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Curry, aliás, disse que não tem o menor interesse de ver o vídeo de seu capote, passando por cima de Ariza numa tentativa de toco. “Uma vez já foi o bastante”, afirmou. O armador passou por diversos exames e testes no vestiário até ser liberado de volta ao jogo, depois de constatada uma contusão na cabeça – contusão que não gerou concussão. Ele, Steve Kerr e a diretoria do Warriors asseguram que não havia o menor risco para que continuasse na partida. Depois de um airball e de levar um toco no perímetro, o MVP passou a pontuar com a naturalidade de sempre, mesmo. Importante dizer que há um protocolo bastante rígido hoje em vigência por parte da NBA para a avaliação de possíveis sintomas de concussão cerebral. A avaliação é isenta, independentemente do jogo ou do personagem envolvido.

Stephen Curry, Warriors, Rockets, queda, fall

A queda

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Juntos, Rockets e Warriors acertaram 37 de 78 arremessos de três pontos, estabelecendo um recorde para os playoffs da NBA. O aproveitamento foi de 47,4% no geral, com 52,1% para o time da casa. James Harden matou 7 em 11, superando Curry dessa vez (6-13, o mesmo número de Klay Thompson, que enfim fez uma partida para justificar o apelido de Splash Brothers). O recorde anterior dos mata-matas era de 33 acertos em 54 chutes de longa distância, envolvendo curiosamente o mesmo Rockets e o finado Seattle Supersonics, em 1996. Eventual vice-campeão da liga, perdendo para o histórico Chicago Bulls das 72 vitórias, o Sonics matou 20 em 27 tentativas, com rendimento de 74,1%.


Golden State Warriors mostra todo o seu potencial, chutando e defendendo
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Giancarlo Giampietro

O Golden State Warriors parte para a definição rápida. Se quiser, amigão, pode até chamar de “chega e chuta”, ou “chuta-chuta”, se preferir. Com o que Stephen Curry tem arremessado durante toda a temporada, não há o que se fazer, mesmo. Mas, depois de o time ter destroçado o Houston Rockets no Jogo 3 deste sábado, creio que não há mais como enxergar a máquina de Steve Kerr apenas como um time aríete, de tresloucados (e talentosos) gatilhos de três. Tem muito mais rolando por trás do sucesso

“Foi uma grande lição para nosso time: se defendermos como doidos e cuidarmos da bola, a gente tende a se dar bem”, afirmou o treinador em sua coletiva pós-jogo, numa das raras respostas em que não precisou falar sobre o show que seu armador deu em quadra no triunfo por 115 a 80, abrindo 3 a 0 na série, encaminhando uma varrida para cima do cabeça-de-chave número dois da Conferência Oeste.

Vitória magistral que mostra todo o potencial deste time

Vitória magistral que mostra todo o potencial deste time

Foi uma combinação de ataque e defesa que levou o Warriors a um resultado impressionante desses. Com os grandes campeões devem fazer, numa receita sempre ressaltada por Phil Jackson: a execução de uma boa marcação leva ao jogo de transição eficiente, enquanto um ataque bem realizado facilita a recomposição defensiva. Tudo em plena harmonia. Resta saber apenas se o Mestre Zen enxerga isso neste Golden State, dirigido pelo técnico que o deixou no altar antes de a temporada começar, ou se ainda se apega a uma visão conservadora e anuviada que pode tratar um timaço desses como um bando de delinquentes, que mancham a história do jogo. Pura bobagem.

Depois de duas derrotas apertadas na Califórnia, tentando dar o troco em sua casa, o Rockets deu de cara com um muro. Acertou apenas 28 de 83 arrmessos (33,7%), errando 20 de 25 chutes de longa distância (20%) e cometendo o mesmo número de turnovers e assistências (15) – comparando com médias de 44,7%, 33,7% e 22,3 x 15,1. Os 18 pontos do primeiro quarto e os 37 antes do intervalo foram suas marcas mais baixas nos playoffs.

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James Harden foi quem mais sentiu, limitado a apenas três cestas de quadra em 32 minutos e 16 chutes. Deu um jeito de bater 11 lances livres e chegar a 17 pontos, mas com sérios problemas. Não foi apenas o esforço de Barnes, Iguodala e Thompson que atrapalhou o barbudo. “Nossa marcação de ajuda e nossa proteção do aro também”, disse Klay. “Draymond, Andrew e Fetus fizeram um trabalho fabuloso contra ele.”

O que o Warriors faz é, na verdade, revolucionário. Uma equipe que combinou na temporada regular o ritmo de jogo mais veloz  e, ao mesmo tempo, sustentou a defesa mais eficiente. Supostamente, de acordo com a teoria de tudo, essas coisas não poderiam andar juntas. Ou você joga acelerado e abre mão da retaguarda, ou você adota um ritmo moderado para poder proteger seu garrafão de modo adequado. Vamos resgatar alguns exemplos recentes, comparando os resultados?

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Ritmo mais veloz que os outros quatro times e a melhor defesa disparada

Agora, quer saber um segredo? Durante os playoffs, o time está jogando com uma proposta mais comedida. Entre os 16 classificados, tem apenas o 11º ritmo mais rápido – ou o quinto mais lento. Obviamente que você desconta um pouco essa mudança pelo simples fato de ser uma amostra reduzida de jogo: apenas 13 comparando com os 82 da temporada, enfrentando um adversário que gosta de retardar as ações em quadra, como o Memphis Grizzlies, pelo caminho. São até agora 95,25 posses de bola por 48 minutos, muito mais perto do lanterninha Cleveland Cavaliers (92,67) do que do mais ligeirinho, o Dallas Mavericks (104,4). Se for pegar apenas a final do Oeste, contra um adversário que pede aceleração, o número sobe para 98,59 posses, ainda distante do topo.

O curioso é que, mesmo com um ataque mais lento, o Warriors tem cometido mais turnovers por 100 posses de bola do que na temporada regular (15,7 x 14,4), liderando essa estatística um tanto desagradável. Daí a preocupação de Kerr em mencionar os turnovers em sua declaração. Afinal, se cuidarem com carinho da bola, serão mais chances para Curry e Thompson chutarem. E aí…

Traduzindo em números, temos:

Sinta o estrago

Sinta o estrago. Esse é o gráfico de aproveitamento de Curry nestes mata-matas

Destacar o coletivo do Warriors não impede que a gente se delicie com o que o Chef Curry vem colocando na mesa. Tudo o que um ataque quer é que um cara desses parta para a finalização. Na mesma proporção, a defesa se desespera. Neste sábado, foi até um exagero: 40 pontos em apenas 19 arremessos para Curry, com 12-19 de quadra, 7-9 de três, 9-19 nos lances livres. Mais sete assistências, em 35 minutos. O bombardeio de longa distância é o que mais chama a atenção, mesmo, mas o estrago que o armador fez foi geral. Passeou pelo garrafão com seu drible belíssimo e fez aquelas bandejas que Steve Nash ensinou para a garotada. “Ele vem de um campeonato brilhante. É difícil descrever seu arremesso porque acho que nunca alguém chutou dessa forma a partir do drible, ou a partir do passe”, disse Kerr.

Chef Curry, aliás, é o apelido que vem ganhando força para o astro do Warriors. O engraçado, porém, é que ele prefere “Baby Face Assassin”, o assassino cara de bebê – “Cruel, muito cruel”, diria o Januário. “Entendemos que é um momento especial. Estamos envoltos nessa rotina do dia-a-dia de preparação para os jogos e ir para quadra e pôr em prática todo o esforço que precisamos para fazer essa história acontecer”, afirma o armador.

O lance mais emblemático em termos de crueldade aconteceu na metade do terceiro período, depois de um toco de Dwight Howard em Klay Thompson. A bola o procurou para isto:

Alguns minutos antes, ali do mesmo cantinho, já havia matado uma bola para silenciar – e mandar sentar – um torcedor texano mais enxerido:

“Isso que é divertido num jogo de playoff fora de casa. Você encontra esses caras que querem te perturbar, caras que pagam muita grana por esses assentos e querem fazer valer o dinheiro. Se eles querem falar, podem ouvir de volta, espero”, afirmou Curry. De fato. O torcedor do Rockets pagou uma nota e tem o direito de se chocar – ou se divertir – com uma apresentação dessas. Não só do armador, como de um todo.

Na saída do Jogo 2 em Oakland, quando James Harden teve a última bola em mãos para poder igualar a série, os atletas do Warriors em geral afirmaram que estavam se sentindo bem pelo fato de nem terem jogado tão bem assim e estarem com 2 a 0 no placar geral. Aí que o Rockets e o restante da NBA puderam ver todo o potencial da equipe em prática.  Defendendo e chutando muito. Um basquete para ser campeão e rever conceitos.


James Harden, um turnover e a liberdade de se tomar uma decisão
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Giancarlo Giampietro

Parece que a ampla maioria da rapaziada que embarcou no plantão corujão na madruga desta quinta para sexta entendeu que o técnico Kevin McHale cometeu um erro gravíssimo ao não pedir tempo e parar o jogo quando Harrison Barnes errou uma bandeja em reverso meio exagerada, com o rebote sobrando para seu Houston Rockets. Na mão de James Harden. Restavam 9 segundos no cronômetro, e o placar era de 99 a 98 para o Golden State Warriors.

McHale deixou o jogo correr, e o Sr. Barba saiu em disparada, e em três segundos, o Rockets tinha vantagem numérica na transição ofensiva, com quatro atletas contra três cruzando primeiro a linha que divide a quadra. Havia diversas possibilidades de execução ali, todas, claro, precisando ser processadas em questão de décimos de segundo (mais sobre elas adiante). O segundo jogador mais votado na eleição do MVP da temporada, porém, não as aproveitou. Deu uma hesitada com a bola, errou. A marcação apertou, a bola escapou. Nem mesmo o chute ele conseguiu executar. Warriors 2 a 0 na série.

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O desfecho foi todo atrapalhado, sufocante, é verdade. Mas ainda penso que foi a decisão correta – ou melhor: a decisão que me agrada mais, com um treinador demonstrando poder de confiança nos seus atletas, em vez de exercer um papel supercontrolador. Aliás, essa não é uma das grandes reclamações sobre a NBA de hoje? As constantes intervenções, paradas? Lembrando que, no basquete Fiba, não haveria a chance de se pedir tempo ali. Que os jogadores consigam solucionar problemas em quadra, ué. Ainda mais quando estamos falando de uma liga em que o salário médio é de US$ 4 milhões, o maior em todas as competições de alto nível do esporte mundial. Não só do basquete, mas no geral, mesmo. Caras que podem ser um tanto mimados por vezes, mas que, em quadra, presume-se grande maturidade.

Disse McHale sobre a jogada: “Era o Harden descendo a ladeira. Se tenho nosso melhor atleta criando a partir de uma jogada quebrada, aceito isso em qualquer dia da semana”. Trevor Ariza, que já ganhou um título pelo Lakers em 2009: “Harden tinha a bola, e toda vez que ele está com a bola, sentimos que temos uma chance”. O barbudo, então, fala por si: “Se tivermos essa jogada dez vezes, vamos para ela dez vezes”.

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Realmente, não vejo problema nisso. Harden teve a chance de definir, apenas falhou. Isso não significa que, com pedido de tempo e uma jogada desenhada, o Rockets teria garantido um arremesso livre. Jogadas como essa são estudadas exaustivamente pela oposição, gente. Mesmo uma bola decisiva no final certeira, a partir das instruções de um treinador, acaba geralmente contestada. Não é, Pierce? O ala do Washington executou lances mirabolantes neste mata-mata, mas com alto grau de dificuldade. Não sobrou livre para aprontar em nenhum buzzer beater. Aí cabe ao treinador desenhar algo mais criativo, claro. Mas mesmo uma versão alternativa corre o risco de já ter sido filtrada por uma comissão técnica vasta, apoiada por um batalhão de scouts, como no caso do Golden State Warriors. Que, por sinal, calha de ser a melhor defesa da NBA.

Vamos, então, ao lance derradeiro – se o torcedor do Houston quiser pular essa parte, tudo bem. Está na marca de 2min49s:

1) Barnes erra em sua infiltração, e Draymond Green vai com tudo para o rebote ofensivo, em vão, e acaba até mesmo saindo de quadra, enquanto seu companheiro está no chão, desequilibrado. Para que parar o jogo aqui, especialmente quando o seu time está treinado para jogar em velocidade?

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2) Em coisa de dois segundos, o que temos? Três jogadores do Rockets descendo a quadra contra três defensores. Quadra aberta, ainda mais quando a bola está nas mãos de um Harden, daqueles que consegue encontrar espaço num garrafão abarrotado.

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3) Harden acabou avançando um pouco além da conta? Talvez, mas os visitantes estão novamente em vantagem numérica, com quatro atacantes adiantados em relação aos defensores, ainda que os cinco Warriors apareçam no grame (Dwight Howard, com seu joelho dolorido, limitado, ficou para trás). Mais de 2 segundos se passaram.

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4) Aqui chegamos ao momento que julgo crítico. Percebam o corredor que Terrence Jones tem pela frente, e o garrafão escancarado. Klay thompson está logo atrás de Curry, preocupado com o camisa 13. Draymond Green estava atrasado na recuperação e, do lado direito, Iguodala tem um Corey Brewer para vigiar. Pior: Jones estava na mira de Harden. Um passe a partir do drible o encontraria livre, e aí era subir para a cravada. Iguodala se recuperia a tempo? Talvez, mas conseguiria parar um jogador mais alto, atlético em alta velocidade? Talvez só com falta. Só percebam que menos de um segundo passou do frame acima para este:

James Harden, turnover, Game 2, Rockets, Warriors, West Finals

5) Harden perdeu o bonde de Jones, no final. Aqui, a linha de passe já era. E aí ele passa para Howard, vindo de trás. Pois havia parado de driblar e estava numa posição delicada, já cercado também por Barnes. Este é o momento em que o astro ou McHale deveriam ter pedido tempo, enfim. Havia segundos de sobra para tramar algo.

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6) Harden fez o passe para Howard e recebeu a bola de volta. Agora já tem uma barricada a sua frente. Kevin McHale afirmou, depois, que neste instante pensou em parar o jogo. Deveria ter feito, restando 2s5 no cronômetro. Aí veio o turnover, e c’est fini. Game over.

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Harden teve uma brecha clara para o passe. Poderia também ter sido mais agressivo e batido para a cesta de vez – mas talvez estivesse preocupado também em não deixar alguns segundos para um eventual troco de um time que conta com Steph Curry. McHale realmente deveria ter invadido a quadra e brecado tudo. Havia tempo para rabiscar. Mas é fácil falar assim, né? Dividindo uma jogada de 9 segundos em seis frames. Sabendo que ela não deu certo. Na hora, tanto o treinador como o ala-armador precisam processar tudo o que se passava em quadra, jogando contra o relógio. Ambos falharam.

É tudo um aprendizado, no fim.

Como protagonista, lembremos, é apenas a primeira vez que Harden faz uma final de conferência, que chega tão longe nos playoffs. Em 2012, fez uma péssima série decisiva contra o Miami Heat, mas era apenas o número três, atrás de Durant e Westbrook. Não dá para falar em tremedeira também, por favor, já que o cara foi responsável por 10 dos últimos 12 pontos do Rockets e ainda municiou Dwight Howard para a outra cesta de quadra – terminou com 38 pontos, 10 rebotes, 9 assistências, 3 roubos de bola, descansando apenas sete minutos. Imagino que, na próxima chance que tiver, o barbudo não vai hesitar em agredir a cesta, assim como fez durante toda a temporada. Sua frustração incontrolável na saída de quadra indica isso.

Agora é só esperar que McHale aposte nele mais uma vez.

*    *    *

Sobre o Chef Curry? Afe.

O MVP já soma 57 bolas de três pontos nestes playoffs. Precisa de apenas mais uma para igualar o recorde de Reggie Miller em 2000. Naquela ocasião, o ala do Pacers foi até a final da liga, perdendo para o Lakers de Shaq e Kobe. A dúvida que fica é se Steph vai passar dessa marca com dois ou três minutos de jogo em Houston, no sábado. O queridinho da América tem um aproveitamento de 87,5% (14-16) nos arremessos em que teve liberdade durante os mata-matas – só não confundam com lance livre. De longa distância, foram 8 em 10 tentativas sob essas condições. Quando contestado no perímetro, esse número cai para 44%  e 3-12, respectivamente.

Ah, e esta aqui não vale, ufa:


Stephen Curry é o MVP da NBA 2014-15. E tudo ótimo
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Giancarlo Giampietro

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James Harden era o meu candidato na disputa pelo título de MVP da NBA 2014-15. O que não quer dizer que seja meu jogador predileto, ou uma figura incontestável. Era só uma preferência com base no que aconteceu na temporada. A Stephen Curry, de qualquer forma, era obviamente o favorito. Também o merecia – e levou o caneco, segundo diversos veículos anteciparam na noite deste domingo, logo depois de seu Golden State Warriors surrar o Memphis Grizzlies.

(Atualizando: a notícia foi confirmada pela NBA nesta segunda. Curry teve 1.198 pontos na votação, contra 936 de Harden. Com 552, LeBron foi o terceiro. Confira o resultado final da eleição, na qual o MVP recebeu 75 votos a mais na primeira colocação. Russell Westbrook superou Anthony Davis, se beneficiando da maior exposição dos jogos de OKC.)

Por que Harden seria, ou poderia ser o mais indicado? Devido a toda a carga que carregou pelo Houston Rockets, e não uma equipe qualquer, mas, sim, a segunda colocada numa Conferência Oeste brutal do início ao fim, dona da terceira melhor campanha da liga. O time texano pode não ter chegado ao patamar de Oklahoma City Thunder e Indiana Pacers no que se refere a lesões, mas passou por poucas e boas: Dwight Howard perdeu exatamente 50% da temporada; para Terrence Jones, foram 49 jogos de desfalque, e aqui já falamos de dois titulares; Patrick Beverley, outro do quinteto inicial, ficou fora de 26; Donatas Motiejunas, de 11. Josh Smith e Corey Brewer chegaram durante o campeonato para ajudar, é verdade, mas nem sempre é fácil assimilar novas peças.

A constante, aqui, foi o Sr. Barba liderando o time. Com a assessoria de Trevor Ariza, o único que completou todos os 82 jogos regulares, um a mais que o astro. Harden, no entanto, liderou toda a liga em minutos de quadra, com 2.981, 51 a mais que o ala – isto é, um jogo e mais três minutos de lambuja. Ficou elas por elas.  Com tantos desfalques, entre pontos e assistências, o ala-armador foi responsável por 44% de toda a produção ofensiva de seu time, sempre seguindo as orientações táticas de Kevin McHale e do escritório de Daryl Morey) perfeitamente: atacando o garrafão e torpedeando de três pontos. Bateu 10,17 lances livres por jogo, sendo o primeiro no ranking da liga, e arriscou 6,8 chutes de longa distância, a mesma quantia de Ariza, dividindo com ele o terceiro lugar, atrás de Curry e Damian Lillard. O cara teve de atacar mais e mais, com eficiência e muita resistência, física e mental. Um esforço que não pode ser menosprezado jamais.

Em termos de números, no entanto, em geral Harden fica em atrás do genial líder do Warriors. E isso que é o mais interessante, e até irônico. O Rockets é tido como a franquia-modelo no uso de estatísticas, das mais simples ao que se tem de mais avançado, para conduzir suas operações de basquete. Internamente, então, devem reconhecer o quão magistral também foi a campanha de Curry, que leva a melhor também no quesito de pura diversão. Os torcedores e o marketing apreciam muito mais o estilo de Curry, com seus dribles vistosos e arremessos impensáveis de fora, a partir do drible. Muito mais legal que ver o barbado cobrar lances livres, claro.

O armador uniu imagem e substância, espetáculo e resultado. Ethan Sherwood Strauss, do ESPN.com, fez um grande artigo a respeito disso. No texto, levanta um dado estarrecedor: nos 29 jogos posteriores ao All-Star Game em Nova York, o eventual MVP acertou 125 disparos de três (média de 4,3). No seu caso, não foi só uma questão de quantidade excessiva de tentativas para gerar volume. Ele acertou 51% desses arremessos. Sim, estamos falando de um autêntico especialista na matéria. Na temporada, ele converteu 44,3%, um número que, isolado, já seria excepcional. Se gastarmos, porém, dez minutos para assisti-lo, esse aproveitamento vira algo de outro mundo, devido ao grau de dificuldade em que os executa.

Essa habilidade fora do comum está no centro do sistema ofensivo agressivo do Warriors, o time mais acelerado da liga. É fato que, quando Curry atravessa a linha central da quadra, já precisa ser marcado de perto. Por um atleta, e com um segundo, no mínimo, na sobra. De olho no que vai aprontar. Mesmo quando contestado, seu rendimento ainda é muito eficaz. É como se fosse impossível marcá-lo. Daí que ficamos no aguardo para saber quando Dave Joerger vai colocar Tony Allen em sua cola durante a série semifinal do Oeste.

E aí Strauss sai com uma sagaz comparação: Curry, nesse sentido, se torna tão assustador como um Shaquille O’Neal no auge, devido ao seu poderio ofensivo. A diferença, nessa sacada, é que Shaq arrebentava as defesas na pancadaria, enquanto o magricelo as estoura com suavidade e elasticidade. Ele é uma ameaça grave no tiro de fora, muito mais perigosa que a de Kyle Korver em Atlanta. O ala do Hawks tem um aproveitamento superior no fundamento, consegue se desmarcar muito bem na movimentação fora da bola, mas, durante a temporada, arriscou apenas 0,7 em média em jogadas individuais, partir do drible – uma senhora diferença para os 4,4 do armador.

A força de Steph se manifesta de outra forma

A força de Steph se manifesta de outra forma

Klay Thompson, Draymond Green, Harrison Barnes, Andrew Bogut, Leandrinho, Marreese Speights… Todos eles têm a vida muito mais fácil no ataque por desfrutar de sua companhia, pelo perigo que representa. Ele é a base do segundo sistema ofensivo mais eficiente da temporada, atrás do Los Angeles Clippers por coisa de 0,1 ponto por 100 posses de bola. Então vamos refazer isso, dado o empate técnico? Curry é a base do sistema ofensivo mais eficiente da temporada, ao lado do Clippers. Esse equilíbrio entre as duas equipes californianas, aliás, propicia uma comparação interessante.

Ambas apostam consideravelmente no arremesso de três. A diferença é que o jogo interno do Clippers, com as cravadas de Jordan e Griffin, compõe um elemento tão mais importante no ataque de Doc Rivers. É por isso que você coloca chutadores como Redick e Crawford ao redor deles e dá a bola para Chris Paul coordenar tudo: para torturar as defesas. Pelo Warriors, a preocupação vem de fora para dentro, ainda mais com Klay Thompson em gradativa evolução e a propensão de Draymond Green para jogar aberto. Mas tudo começa com Curry: o Warriors faz 14,3 pontos por 100 posses de bola a mais com ele em quadra, acerta mais arremessos, comete menos turnovers e se torna mais solidário. Sente o estrago? E as coisas só ficaram mais acentuadas nos cinco primeiros jogos de playoffs.

Poderíamos continuar aqui na construção da campanha “Curry MVP”, levantando mais e mais números. Se quiser visualizar esses dados, a Sports Illustrated reúne aqui uma série de gráficos. Sem se esquecer que ele esteve no Top 6, em médias, de pontos, assistências, roubos de bola e eficiência. Também apresentou melhora significativa na defesa individual, sendo cobrado por Steve Kerr, e sem poder alegar cansaço, uma vez que teve seus minutos controlados.

Como você vai se opor a alguém com esse currículo? Não dá. Ainda assim, meu candidato seria Harden, e tudo ótimo. Se tem uma coisa para a qual serve a disputa entre os dois é reforçar a noção de que raras e raras vezes você vai esbarrar numa discussão em que tudo se resume a certo ou errado. Ou melhor: uma discussão em que, se o outro discorda de você, já está automaticamente errado – aquilo que parece o mal do século, logo abaixo da ganância.  Não seria “absurdo” ou “ridículo” nomear Curry ou Harden como o jogador mais valioso do ano. Era difícil escolher entre os dois craques, mas muito fácil aceitar que o prêmio ficasse entre eles.

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O Golden State foi dominante contra o Memphis Grizzlies na abertura das semifinais do Oeste. Foi sua melhor partida nestes playoffs, em termos de consistência. O time está claramente um degrau acima de um time que perdeu muito em rendimento durante a temporada regular. Sem Mike Conley Jr., preservado enquanto se recupera de uma cirurgia facial após fratura múltipla na série contra o Blazers, fica ainda mais difícil. Ainda que o armador retorne para o Jogo 2 ou 3, estará fora de ritmo e talvez com um certo receio em quadra, mais que natural. Mesmo que estivesse 100%, talvez não seja o suficiente para equiparar o confronto hoje.

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Outra: o Warriors é hoje o único time oficialmente 100% nos mata-matas, em termos de saúdo do elenco. David Lee ficou fora do duelo com o New Orleans Pelicans, mas o problema nas costas do ala-pivô parece mais e mais uma medida cautelar por parte de Steve Kerr, que encontrou uma rotação perfeita sem contar com esse jogador talentos, que, no entanto, não marca ninguém. Draymond Green tomou conta da posição, enquanto, no banco, as melhores alternativas parecem girar em torno de formações mais baixas, ou com Festus Ezeli para combater especificamente os pivôs do Grizzlies.

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Começa nesta segunda o confronto Rockets x Clippers. Mais um ponto a favor dos líderes do Oeste, já que promete ser mais um duelo muito equilibrado. Quem passar daí deve entrar nas finais da conferência capengando. Os Splash Brothers deram sorte no emparelhamento final.


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