Vinte Um

Arquivo : DeRozan

Dez previsões nada ousadas para o Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Boogie Cousins, Team USA

Quando jornalista se mete a dar palpite, está arrumando confusão. Pode ser sobre um confronto Japão x Filipinas pelos Jogos Asiáticos Universitários. Você falou, escreveu, quis cravar? Imediatamente fica sob o risco de queimar a língua. Ou o dedão da mão direita.

A gente tem essa mania de se meter a sabichão, né? De querer se antecipar a quaisquer grupo de deuses que estejam vagando por aí e provar por A + B que sua lógica está infalível no momento. Dois, três dias depois? É bastante provável que vá dar tudo errado. Ainda mais num torneio olímpico cheio de equilíbrio.

Isso tudo não significa que esse tipo de exercício seja pura bobagem. Não estou aqui para pagar de mais sabichão ainda, esnobe, acima das vontades mudanas esportivas. É esporte só. Que, em diversos casos e eventos, obviamente ganha proporções gigantescas pela quantidade de dinheiro que move e por suas implicações político-culturais. Ainda assim, no final das contas, é só esporte. Que envolve paixão (por vezes em intensidade descabida), mas não deveria ser levado tão a sério. Então qual o problema de ficar palpitando? Tem um monte de gente por aí que anda emburrada pacas, querendo reclamar a toda hora. Mas há quem se divirta demais em comparar resultados e discutir depois, numa boa.

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Então o que este blogueiro vai fazer?

Dar alguns palpites, mas sem cravar resultados, para além do ouro olímpico para os Estados Unidos, que isso é coisa para bolão. Não tem nada muito ousado aqui, claro. Alguns dos itens abaixo têm o mesmo valor que dizer que a “Dinamarcá terá um bom goleiro” ou que “os quenianos vão dominar o pódio da maratona”. Coisa de bidu, mesmo. Podem bater:

O Rio 2016 será o Torneio de Boogie Cousins. Kevin Durant é mais jogador. Carmelo Anthony é outro cestinha perfeito para o mundo Fiba. Kyrie Irving vai ter mais oportunidades de arremesso. Mas podem se preparar para uma exibição, digamos, hulkiana do intempestivo DeMarcus. O pivô está enxuto como nunca, ganhando agilidade sem perder sua força física descomunal, prontinho para esmagar seus adversários, tal como o dito “Gigante Esmeralda” nos quadrinhos. Para quem tem desperdiçado alguns bons anos produtivos nos confins de Sacramento, jogar com o Team USA no Rio de Janeiro serve quase como uma experiência terapêutica. Quiçá, o contato com a elite da modalidade pela segunda competição internacional seguida também não motive Boogie a aceitar aquele procedimento básico que se chama amadurecimento. Com a cabeça no lugar, tem tudo para fazer paçoca da concorrência.

hulk-smash-esmaga

– O Grupo B vai ser um tiroteio. Sinceramente, qualquer pessoa pode se gabar aqui e dizer que tem certeza que a Espanha será a primeira colocada dessa chave, seguida por Lituânia, Brasil e Argentina. Tudo bem, pode ir em frente com essa. Mas a real é que ninguém, com o juízo em dia, sabe realmente qual será o desenrolar destas partidas. No meu entender, pelo menos, até a Nigéria tem chances, mesmo que correndo por fora. Isso sem nem levar em conta o que aconteceu nos amistosos. Vai ser uma disputa duríssima, com a seleção brasileira metida no meio. Haaaaaaaja coração. (Agora, pode muito bem que a Espanha não tome conhecimento de ninguém, vença todos e que a Nigéria apanhe – e, no final, restariam três vagas para quatro seleções. Ainda assim seria dramático.)

– Vamos ter um top 10 só com DeMar DeRozan. O ala do Raptors é outra figura de segundo escalão que pode aproveitar a experiência olímpica para expandir sua marca globalmente, como diria o agente de LeBron. Embora já eleito duas vezes para o All-Star Game, não dá para dizer que o jogador desfrute de tanto prestígio assim em todas as cidades da liga que não estejam em território canadense. Então lá vai essa maravilha atlética aproveitar os inúmeros contra-ataques em garbage time que a seleção norte-americana vai ter, para saltar em 720º, se desvencilhar de oito braços compridos chineses no ar e dar suas cravadas. Paul George, Kevin Durant, Jimmy Butler, Harrison Barnes e, principalmente, DeAndre Jordan podem ser todos ignorantes no ataque ao aro. Mas nenhum deles tem a plasticidade de DeRozan em seus movimentos. Ele será o Capitão Vine da Olimpíada, ganhando até de Usain Bolt.



– Nenê não será vaiado. O bom senso, afinal, ainda pode prevalecer. Quatro anos atrás, o pivô foi vaiado de modo deprimente pelo público presente na Arena HSBC, quando a NBA trouxe um amistoso de pré-temporada pela primeira vez ao Brasil. Maybyner Hilário agora retorna ao Rio de Janeiro com um papel importantíssimo pela seleção brasileira, liderando um garrafão 40% renovado após as baixas de Splitter e Varejão. Se for para buzinar no ouvido de alguém, é só procurar as figuras de Gerasime Bozikis e Carlos Nunes pelo ginásio. Eles certamente estarão presentes, em lugares privilegiados.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
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>> França chega forte e lenta, com uma nova referência

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>> Nigéria e Venezuela correm por fora. China? Só 2020

– A Venezuela vai encrespar com França e/ou Sérvia. Eles têm talento para bater de frente com essas seleções europeias? Não. A França foi campeã europeia em 2013, bronze pela Copa do Mundo em 2015 e bronze novamente pelo EuroBasket do ano passado. A Sérvia chegou ao segundo lugar no Mundial. Mas este time aguerrido de Néstor “Che” García parece destinado a aprontar, a fazer mais do que se esperava deles. A classificação olímpica já foi uma façanha, deixando a badalada e numerosa geração canadense pelo caminho (o Canadá está para o mundo Fiba hoje assim como a Bélgica, para o futebol). Mas por que eles se contentariam com isso? Seus armadores são manhosos e o time passou a defender muito bem com Che. Pode ser que consigam cozinhar a partida contra equipes muito mais expressivas.

Venezuela, Nestor Garcia, Copa América, Fiba Américas

– É melhor não se meter em um jogo parelho com a Argentina. Por falar em jogo apertado, eu não gostaria de ter defender contra uma equipe que vá colocar em quadra Manu Ginóbili e Luis Scola ao mesmo tempo numa última posse de bola. É muito talento e respeito em quadra. Cojones e muito mais, claro. Aqui tem a máxima que a mídia americana costuma usar para a NBA, com a qual concordo: é muito provável que o time com os dois, três melhores jogadores em quadra saia vencedor de uma partida. Em 2016, talvez a dupla argentina já não consiga mais ser superior por 40 minutos. Mas, num ataque final, valendo o jogo, com tudo o que eles já experimentaram de sucesso em suas carreiras? Eu gelaria.

Nando De Colo vai fazer muita gente se perguntar por que diabos ele não quis nem negociar direito com as equipes da NBA. É, o francês está jogando muito. O cara tem os números de Euroliga para exibir por aí e também um jogo vistoso demais, que deve ser ainda mais bacana ao vivo. Ele joga em seu próprio ritmo. O mais legal: geralmente consegue chegar aonde quer para finalizar. É nisso que dá sua combinação de drible, altura e fome de bola.

Huertas, Rodríguez e Tedosic vão dar passes para confundir até mesmo seus companheiros. É a turma do sexto sentido. Mais três jogadores que não são os mais explosivos em quadra, mas têm tanta habilidade, coordenação e visão de quadra, que fazem o jogo ficar muito mais rápido e imprevisível. As defesas muitas vezes podem achar que os têm controlados, e aí de repente sai aquele passe (quase) sem olhar para o pivô livre debaixo da tabela. É bom que Augusto Lima, Felipe Reyes, Milan Macvan & Cia. estejam espertos. Posso dizer: é meu tipo de lance favorito.

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Matthew Dellavedova vai irritar alguém – ou muita gente, mesmo. Ele sempre arruma uma em quadra, não? Se acontece nos playoffs esvaziados da Conferência Leste, com o Cavs passando por cima de tudo mundo, por que não iria ocorrer em uma Olimpíada, com os ânimos muito mais esquentados? Pior: Delly tem uma baita cobertura. É só olhar o tamanho dos pivôs australianos para compreender uma eventual super-agressividade do armador. Com Andrew Bogut retornando, fazendo uso nada econômico das cotoveladas, é chance quase zero que os Boomers não se metam em pelo menos uma confusão em jogos pelo Grupo A.

– Alguém vai dizer que lance livre ganha jogo. Mas talvez não digam que um rebote, um toco, uma assistência e um arremesso contestado de média distância o façam.

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Raptors está eliminado, mas tem muitas decisões pela frente
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Giancarlo Giampietro

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Raptors tem time competitivo para já e peças para o futuro. Como isso vai afetar os minutos de Caboclo?

Enquanto o Cleveland Cavaliers espera, sossegado, a definição do Oeste e de seu adversário em mais uma decisão da NBA, o Toronto Raptors já se concentra em ooooutros tipos de decisões. Enquanto Kyle Lowry e DeMar DeRozan preparam as malas para curtir as férias e digerir a eliminação, a diretoria chefiada por Masai Ujiri começa o período mais agitado de suas profissões.

Ujiri e seus assistentes precisam decidir o futuro do técnico Dwane Casey, se aprofundar no estudo dos prospectos do Draft, que vai rolar daqui a menos de um mês, e, depois, ainda mapear todo o mercado de agentes livres, no qual seu cestinha, inclusive, será um dos atletas mais cobiçados. Você acha que é fácil a vida de cartolada? Por mais que eles tenham de pensar primordialmente a longo prazo, para o clube canadense, na condição de vice-campeão do Leste, esse tipo de questão fica muito mais interessante. Dependendo dos movimentos que coordenarem, que pode afetar diretamente o futuro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, podem oferecer resistência de verdade aos LeBrons na próxima temporada já.

Demorou, mas este núcleo do Toronto fez enfim uma boa campanha nos playoffs, até esbarrar em um adversário bastante inspirado. Ao confronto derradeiro, até conseguiu dar uma graça ao vencer os Jogos 3 e 4. Pela temporada regular, teve uma grande chance de desbancar este mesmo Cavs do topo da conferência, ficando a apenas uma vitória do mando de quadra. Imaginem o quanto isso poderia ter sido relevante. Mas não aconteceu. Fora de casa, perdeu todas, mas perdeu de monte, por 31, 19, 38 e 26 pontos, com média de 28,4 por jogo. As que venceu, como anfitrião, foram por 21 pontos, saldo de 10,5. No geral, o que dá para ver é que a equipe foi presa fácil para o Cleveland.

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Está claro que, para esta formação do Raptors, a distância para competir com um Cavs no auge é muito maior ainda do que o avanço que fez em relação a Miamis, Charlottes e Indianas. Mesmo que DeMarre Carroll, um jogador valioso por ser efetivo dos dois lados da quadra, estivesse em uma forma deplorável, com dores no cotovelo, pulso, quadril, tornozelo e, claro, no joelho operado. Esse deu despesa ao departamento médico e de preparação física. Se tivesse inteirão, poderia tentar incomodar mais LeBron James na marcação individual, e talvez os marcadores do Raptors pudessem ter prestado mais atenção nos companheiros do Rei, sem que tivessem liberdade para chutar tanto nas primeiras duas partidas. Ainda assim, suponho que não seria o suficiente para compensar um déficit de 28,4 pontos.

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

DeRozan vai ficar? Que tipo de companhia Lowry vai ter no ano que vem?

É nessas horas que me vêm à cabeça o dia 18 de fevereiro, que era o prazo para os clubes da NBA fecharem trocas nesta temporada. Na ocasião, Ujiri preferiu não fazer nada. A única alteração feita: dispensou Anthony Bennett (que simplesmente não consegue paz) para contratar Jason Thompson, o homem que o Warriors cortou para abrir espaço para Anderson Varejão. Se o brasileiro não vem produzindo muito pelos atuais campeões, Thompson também não fez quase nada pela equipe canadense. Ficou apenas 55 minutos em quadra. Segundo o que se comenta nos bastidores, o Raptors não teria recebido nenhuma oferta que tenha agradado. Por outro lado, é de se questionar se o gerente geral não poderia ter sido mais agressivo e buscado .

Em termos de reputação, o gerente geral nigeriano se tornou uma das figuras mais respeitadas — e temidas — da liga. Como principal gestor, está em seu segundo trabalho, e até agora praticamente tudo o que ele tentou deu certo. Muito certo. Em três anos em Denver, viu seu time somar 145 vitórias e 85 derrotas (63,0%). Em Toronto, também em três anos, são 153 vitórias e 93 derrotas (62,1%).

Basta checar sua lista de negocicações, para entender como se chega a um aproveitamento desses. As principais, claro, foram as trocas com o Knicks de Carmelo Anthony, na qual se viu forçado a se livrar do astro e descolou um pacote muito bom com Gallo, Chandler, Felton, Mozgov, Koufos e mais uma escolha de primeira rodada de Draft, e a de Andrea Bargnani, por uma escolha de primeira rodada, duas de segunda e alguns contratos para fechar as contas. Também levou Andre Iguodala para Denver em troca por Arron Afflalo, Al Harringston e uma escolha de primeira e outra de segunda. Se for para criticar algum negócio, foi a transação que mandou Nenê para Washington e resultou na avoada chegada de JaVale McGee ao Colorado.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Talvez essa fama de quem rapela nas trocas possa atrapalhar agora — com os concorrentes receosos. Nem sempre dá para botar James Dolan, o proprietário do Knicks, no telefone. O que sabemos é que o Raptors está cheio de atletas jovens no elenco e ainda vai ter mais quatro escolhas de primeira rodada nos próximos dois Drafts. Neste ano, terá a sua e aquela coletada por Bargnani em uma transação inacreditável. Em 2017, a extra será a do Milwaukee Bucks, no rolo de Greivis Vasquez por Norman Powell (outra muito lucrativa). Para um clube que hoje mira o topo do Leste e pode até sonhar com o título, fica a dúvida do que fazer com tantos ativos assim e também algumas promessas que não conseguem sair do banco, entre eles os brasileiros. Isto é: moeda de troca não faltava.

A média de idade do elenco do Warriors é de 27,5 anos, segundo o Real GM. Já a de OKC é de 27,0. O Cavs é mais velho, com 29,5. O Raptors tem hoje 26,0, mas pode ficar muito mais jovem se for para inserir mais dois calouros no grupo neste Draft, se eles ocuparem vagas de alguns veteranos, para não falar da turma de 2017.  O Raptors terá a nona escolha no dia 18 de junho, com a possibilidade de se contratar, nesta faixa, segundo as projeções dos sites especializados, um pivô de futuro.

Considerando sua lista de agentes livres, é o que faria mais sentido, mesmo, desde que não feche nenhuma negociação antes. Em julho, Bismack Biyombo, ultravalorizado, vai exercer uma cláusula contratual e entrar no mercado. Os contratos de Luis Scola, James Johnson e Thompson vão acabar. Quer dizer: vão abrir quatro vagas no elenco na linha de frente, sendo que duas e meia, digamos, de rotação. Biyombo e Scola jogaram muito. Johnson, em sua relação de amor e ódio com Casey, só foi efetivado na rotação devido à lesão de DeMarre Carroll.

Ainda fica pendente a situação de DeRozan, que vai constar na lista de muitos clubes e vai custar muito. Mais de US$ 20 milhões por ano na NBA de boom nos investimentos, graças ao revigorado acordo bilionário de TV. Podem ter certeza disso, independentemente do quanto o ala-armador sofreu durante os playoffs. O ala afirmou no sábado, em sua entrevista de encerramento de temporada, que não se vê com outra camisa na próxima temporada. Nem com a do Lakers, seu time do coração, da sua cidade. Já Ujiri afirmou que sua prioridade absoluta é renovar o contrato do cestinha, e acho que não há muito o que discutir, mesmo. A não ser que Kevin Durant indique que sonhe em jogar em Toronto, o cartola assumiria um risco enorme em negociar com outros atletas do porte de Al Horford e Nicolas Batum, ouvir “não” (como o histórico da franquia indica) e ainda perder um de seus All-Stars.

Renovar com DeRozan e Biyombo seria difícil. A não ser que o mercado não se mostre tão entusiasmado assim com o pivô congolês. A expectativa de scouts e cartolas é de que ele possa assinar um contrato na faixa de US$ 12 a 15 milhões anuais, se não mais. Qualquer oferta nessa linha inviabilizaria sua permanência em Toronto, que vai ter menos de US$ 30 milhões para gastar. Ujiri teria menos de US$ 10 milhões para buscar reforços.

E aí? O que fazer? Investir pensando longe ou ‘sacrificar’ algumas dessas peças em busca de veteranos que possam fazer a diferença agora? Por melhor que possa ser seu programa de desenvolvimento de jovens atletas, qual seria o ponto de sobrecarga?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Sem Biyombo, seria a vez de Bebê?

Procuraria um substituto para Biyombo ou confiaria no progresso de Lucas Bebê como reserva de Jonas Valanciunas? Com rodagem na Espanha e a mesma idade do lituano, já era supostamente a hora de o carioca assumir um posto no time. (Claro que isso depende do quão satisfeitos os técnicos estão com seu desenvolvimento e amadurecimento.) Peguem também o caso do armador Delon Wright. Com Kyle Lowry e Cory Joseph sob contrato, quando ele terá chances de verdade? Lembremos que ele completou sua campanha de calouro, mas já tem os mesmos 23 anos de Lucas.

Bruno Caboclo ainda não estava pronto para participar de um jogo de playoff ao final de sua segunda temporada como profissional, e pode ser que leve um pouco mais de tempo. Ainda vai pedir muita atenção dos treinadores do clube. Ele tem mais um período de férias para avançar em sua trilha, mas, depois do que Norman Powell fez nos mata-matas, o calouro, que é dois anos mais velho que o brasileiro, está à frente na fila de entrada no time. Já não sobram muitos minutos na rotação, que tem DeRozan (eventualmente), Carroll e Terrence Ross, além da dupla armação com Lowry e Joseph, algo que funcionou bem demais neste campeonato.

(Um parêntese extenso sobre Bruno, então. Em suas últimas semanas pela D-League, o caçula brasileiro deu sinais de progresso. Foram 37 jogos, uma experiência muito valiosa. Ele terminou com média de quase 14,7 pontos em 36 minutos, mas foi progredindo mês a mês. Quando o Raptors B entrou em seu melhor momento, numa sequência de 18 vitórias e 9 derrotas, ele teve 15,7 pontos e 43,9% nos arremessos. Em março, no encerramento da temporada, subiu para 18,4 pontos e 44,7%, estabelecendo seu recorde pessoal em três noites diferentes. O ano não começou bem para o ala, e os indícios de imaturidade ainda preocupavam. A oportunidade de jogar com regularidade pela liga menor fez bem, porém. O técnico Jesse Mermuys observa como seu comportamento melhorou no decorrer do campeonato quando era substituído e criticado por sua seleção de arremessos. Em vez de fechar o bico e se alienar no banco, seguia envolvido com o jogo e com seus companheiros.

“A parte mental do jogo é extremamente importante na NBA porque essa liga é muito, muito dura, com seus altos e baixos. Se você tiver força para lidar com isso, é realmente importante. Essa maturidade fora de quadra foi quase mais importante do que no jogo. Ele ainda está correndo atrás do jogo, mas os avanços que ele fez foram consideráveis e muito maiores do que seriam se não tivéssemos dado essa oportunidade (de criar uma filial)”, afirmou. “No período em que vivemos, este é o único modo de vencer e desenvolver atletas ao mesmo tempo. Se você não tem seu próprio time de D-League, é como se tivesse de fazer uma escolha entre um e outro. Mas temos essa sorte de fazer ambos e desenvolver importantes ativos para o futuro de nosso clube.”)

O Toronto Raptors está numa situação um tanto parecida com a do Boston Celtics, nesse sentido, de fazer as contas entre investir sem perder o futuro de vista, mas também pressionado a progredir de imediato, curtindo um bom momento com a torcida e de confiança no elenco. A diferença é que o Raptors venceu nove partidas a mais na temporada e foi muito mais longe nos mata-matas — e não tem oito escolhas no próximo Draft. Mas a concorrência do Leste vai prestar muita atenção no que Ujiri vai fazer nos próximos meses. Até mesmo a diretoria do Cavs, dividindo sua atenção com o que acontece pela final da NBA, claro.

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Com astros de volta e boa defesa, Raptors dá graça ao Leste
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Giancarlo Giampietro

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Havia duas premissas ainda pendentes pelos #NBAPlayoffs do Leste:

– Uma hora a bola de três pontos do Cleveland Cavaliers iria parar de cair. Pelo menos com aquela frequência que castigou o Atlanta Hawks, com a segunda melhor defesa da liga, pelas semifinais.

– Uma hora Kyle Lowry e DeMar DeRozan iriam reencontrar o rumo pelo Raptors, de preferência juntos. Nem que fosse na próxima temporada (risos).

Calhou que, para dar graça à final de conferência, ambas se realizaram nos últimos dias em Toronto, com o time canadense empatando a série em 2 a 2 ao bater o Cavs por 105 a 99, nesta segunda-feira, num jogão. A primeira era realmente inevitável. A segunda? Sinceramente, um enorme mistério para mim, de tentar entender como a dupla de All-Stars pudesse cair tanto assim.

*   *   *

O Cavs converteu 50,7% de suas 152 tentativas de longa distância, em quatro partidas, pela varrida. Dá para dizer até que seria impossível sustentar um rendimento desses por uma longa sequência. Contra o Toronto, nestes mesmos quatro jogos, a mira já caiu para 33,3% em 123 chutes. Isso tem um pouco a ver com sorte, como naqueles em que a bola gira, gira e espirra. Mas não acontece só ao acaso.

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Numa liga com o nível da NBA, há grandes arremessadores, claro. Se eles ficarem sozinhos em quadra, o aro nem será incomodado. É justamente esse o problema: há grandes arremessadores, mas também existem excelentes defensores do outro lado, que, durante os playoffs, são abastecidos de relatórios de scouting ultradetalhados.

Os jogadores da casa estavam bem informados para este Jogo 4. Não é só uma questão de empenho, embora sem movimento, não há como parar nenhum adversário da liga. Que os jogadores correram muito, não há dúvida, em movimentos muito bem sincronizados. Mas também souberam contra quem é quando correr. Que LeBron James e Kevin Love tenham tido mais liberdade, relativamente, em relação a Kyrie Irving e JR Smith, é plano. Dos males, o menor. Os dois melhores chutadores do time titular de Cleveland foram obrigados a por a bola no chão em diversas ocasiões devido à atenta aproximação e contumaz contestação dos defensores pelo perímetro.

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Isso só foi possível também pelo fato de Dwane Casey, que em 2011 havia lidado com LeBron como coordenador defensivo do Mavericks, ter maneirado nas dobras ostensivas para cima do craque. Parece arriscado, depois de o veterano, mesmo cinco anos mais velho, ter feito estragos nas duas primeiras partidas. O ataque do Cavs, porém, fica muito mais perigoso quando o bombardeio de três funciona. O elenco vai te punir se você fizer a dobra com frequência, devido à artilharia ao seu redor. Não tem jeito.

Você obviamente não vai deixá-lo operar no mano a mano sempre, especialmente quando recebe a bola de costas para a cesta, na entrada do garrafão. Aí tem de vir a ajuda, mesmo, de preferência quando LBJ já tenha iniciado o movimento, para tentar no mínimo anuviar sua visão de quadra.

No geral, porém, o melhor é designar um marcador para o camisa 23 (DeMarre Carroll, mesmo baleado, e o indisciplinado James Johnson), e manter os demais atletas posicionados entre seu caminho para a cesta, sendo Bismack Biyombo a referência aqui, e a linha de passe para os chutadores. É um modo de montar uma espécie de parede em torno da zona pintada, sem perder de vista a linha perimetral. Não precisa ser tão apertado assim :

Com esse bloqueio bem armado e coordenado em suas coberturas, o time canadense levou 16 pontos de LeBron, mas só deixou que uma só cesta de quadra ocorresse após passe direto do astro. O Cavs, como um todo, só matou 3 em 22 chutes de fora. Nos dois jogos em casa, o Raptors levou apenas 91,5 pontos e permitiu ao Cavs apenas 41,4% nos arremessos e 32,9% de fora.

*   *   *

Do outro lado, talvez o segredo tenha sido que o aro estava bem mais largo que o normal. Só assim para entender. Lowry e DeRozan se tornaram os primeiros companheiros de equipe a passar da marca de 30 pontos e 60% de aproveitamento pelas finais de conferência desde Charles Barkley e Dan Majerle pelo Suns em 1993.

Técnica ou taticamente, podemos falar de alguns ajustes. Patrick Patterson e Luis Scola capricharam nos corta-luzes para liberar seus cestinhas. Lowry, no primeiro tempo, foi acionado mais vezes fora da bola, deixando a criação com DeRozan. O ala-armador, por sua vez, fez de tudo para poder partir à cesta contra JR Smith, em vez de LeBron. Mas, obviamente, isso não explica tanto.

Assim como Lowry fez durante a série contra o Miami, DeRozan resolveu dar uma esticada em suas atividades em quadra, arremessando até tardão, para ver se recuperava seu ritmo. O horário era tão estranho que chegou a ser barrado por uma segurança do ginásio. Foi isso que virou o jogo? Como fato isolado, claro que não. Aí tem aquela coisa de confiança, momento, uma zona cinzenta em meio à qual nem mesmo os atletas conseguem se expressar com precisão. Só sabemos que, por uma noite, tudo voltou a funcionar como antes, como na temporada regular.

“Tem uma coisa sobre nós: convivemos com o que tem de mau e bom em qualquer dia. Isso é a vida. Não dá para ficar muito cabisbaixo quando as coisas não estão funcionando, mas você entende que o treino que faz durante as férias, durante toda a temporada,  é para momentos como este. Você tem de estar pronto”, filosofou DeRozan, sobre quem Toronto tem o seguinte dado: nos seis jogos em que o ala fez 25 pontos por estes playoffs, a equipe está invicta. “Sempre disse a este cara (Lowry) que, enquanto tivéssemos uma oportunidade de seguir jogando, temos uma oportunidade de nos redimir. E acho que chegou a hora. Tudo acontece por um motivo.”

Foram 35 pontos para Lowry e 32 para DeRozan. Ambos fizeram 14 cestas de quadra e, juntos, erraram apenas 15 chutes em 43 tentativas. É só ver o quadro abaixo e ver também que eles não alteraram tanto assim sua seleção de arremessos:

Mesmo nos minutos funcionais, não teve pane, histeria, nem nada.  Os dois cestinhas conseguiram controlar a situação, em ataques individualistas, da mesma forma como fizeram em todo o campeonato.

Quem precisa, de todo modo, tomar um pouco de cuidado com a sanha no ataque é DeMarre Carroll. O ala forçou a barra na vitória desta segunda-feira, terminando com mais arremessos (12) do que pontos (11, quantia que poderia até ser menor se não tivesse sido brindado com uma falta de JR Smith quando tentava um de seus sete chutes de longa distância). Não que o ala esteja proibido de olhar para a cesta. Não pode ser mais um Andre Roberson. Mas houve um momento no terceiro período em que ele decidiu que era o caso de ralar com Kyrie Irving por quatro posses de bola seguidas, e essa não foi uma boa ideia. Foi num momento em que o time da casa perdeu a concentração, se desarranjou em quadra e quase pôs tudo a perder.

*    *    *

De tão habilidoso, Irving dá um jeito de driblar e converter seus disparos mesmo pressionado e desequilibrado. Se for de dois pontos, porém, o Raptos tem de conviver com isso, e aconteceu diversas vezes com Cory Joseph, por exemplo.

Nesse terceiro quarto, causou estragos por toda a quadra, ajudando a reduzir a larga vantagem de 18 pontos do Raptors pela metade. Depois, a segunda unidade com Channing Frye, Richard Jefferson e Matthew Dellavedova terminou o serviço.

Frye, por sinal, é o chutador que manteve o embalo desde o duelo com Atlanta. O veterano pivô está acertando 57,5% de seus disparos. Nos dois jogos em Toronto, ele matou 7 em 12 chutes de três, dando toda a razão à decisão de David Griffin de contratá-lo para o lugar de Anderson Varejão.

Sua presença em quadra foi fundamental para o Cavs até mesmo assumir a liderança do placar pelo quarto final, no qual os visitantes acertaram seus primeiros 11 arremessos, de modo incrível. O primeiro erro aconteceu só a 4min12s do fim. Sete desses arremessos foram de Frye, na zona morta, e Jefferson, se aproveitando dos espaços abertos, resultando em 17 pontos dos 27 pontos da equipe.

A presença de um pivô com esse tipo se habilidade pode bagunçar toda uma defesa. Mas Casey também falhou em fazer algum ajuste aqui. Mesmo depois de pedidos de tempo e de mais de sete minutos levando cesta após cesta, manteve Bismack Biyombo como o marcador de Frye, o que significava que estava muito longe da cesta, deixando a defesa interior do Raptos órfã, desguarnecida. Era o caso de colocar o congolês em LeBron na meia quadra ou em Jefferson, para ficar mais próximo do garrafão. Steve Kerr já fez muito disso com Andrew Bogut.

Nesta sequência quase demolidora para as pretensões de Toronto, o ataque do Cavs se alternou em duas jogadas simples que não encontravam simplesmente nenhuma resistência, devido ao afastamento do pivô africano no perímetro.

O pior, quando Biyombo foi enfim deslocado, era ver os defensores de Toronto ainda dando liberdade ao pivô nos minutos finais, ignorando não só a mão quente como sua altura. Para contestar um cara de 2,11m de altura, não dá para sair atrasado. De modo que foi irônico que o primeiro chute errado do Cavs tenha saído justamente de suas mãos.

Casey precisa mudar sua abordagem nesse tipo de situação para o decorrer da série. Mesmo que seu time tenha sobrevivido e levado apenas três pontos nos últimos 4min12s de jogo (1-10 nos arremessos). Uma questão nesse sentido envolve Biyombo: neste momento, o congolês está empolgado pacas, tendo coletado 40 rebotes e dado sete tocos nas últimas duas partidas . Mas é de se pensar quanto ele tem de gás sobrando para encarar a resposta dos oponentes em termos físicos. Fato é que o Toronto, se quiser avançar, vai precisar vencer ao menos um jogo em Cleveland – na temporada, clube canadense leva melhor no confronto direto por 4 a 3, mas ainda não triunfou na condição de visitante.

Da parte do Cavs, depois de belas apresentações e 10 vitórias seguidas, agora é a hora de administrar dois reveses consecutivos. Poderia ser muito pior, convenhamos, se o Raptors tivesse completado sua lavada. Se existe algo que esse elenco nos ensinou nos últimos dois anos, é que não têm as melhores cabeças para enfrentar adversidades. Dessa vez souberam lidar com os problemas de imediato, reagindo já em quadra. De zum-zum–zum, só rola algo em torno de Kevin Love, mesmo, pelo fato de o ala-pivô ter ficado no banco durante todos os 12 minutos do quarto período. Estava com o pé direito colorido ao pisar sobre o de um árbitro (!), mas o técnico Tyronn Lue disse que não foi esse o motivo pelo chá de cadeira. Love errou alguns arremessos completamente livre no primeiro tempo, mas seguiu agressivo na segunda metade, ainda que pouco efetivo (10 pontos em 14 arremessos e 31 minutos).

Não vale individualizar nada aqui, todavia. Os problemas no retorno a Cleveland passam mais por um acerto coletivo. O Cavs arremessou 41 bolas de longa distância neste Jogo 4, mesmo contra uma defesa mais ligada. Se vão insistir no bombardeio, precisarão encontrar outros ângulos e possibilidades. Sorte não é tudo nessa vida. Ou, sei lá, de repente Lowry e DeRozan voltam a amassar o aro. Aí fica tudo mais fácil, claro, para LeBron jogar sua sexta final seguida pelo Leste.

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Cavs destroça a Conferência Leste, e não há do que duvidar aqui
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Giancarlo Giampietro

Tem sido um atropelo

Tem sido um atropelo

À medida que Stephen Curry vai acertando os parafusos em confronto com o Oklahoma City Thunder, a grande pergunta que fica no ar para os #NBAPlayoffs é sobre o Cleveland Cavaliers e sua assustadora dominância. O quanto isso tem mais a ver com o alto nível de rendimento que os LeBrons têm apresentado ou com a fragilidade de seus adversários? Parece ser o tópico mais intrigante por aí. Depois de o time espancar o Toronto Raptors pelo segundo jogo seguido, por 108 a 89, nesta quinta-feira, talvez já não seja mais relevante questionar isso.

A equipe se tornou apenas a quarta na história a somar dez vitórias em seus dez primeiros jogos. Se for pensar apenas em duelos com times da conferência, já são 17 triunfos seguidos desde o ano passado, que é a maior sequência da história dos mata-matas. Abrir um placar de 2 a 0 pelas finais de conferência não é algo tão raro assim de acontecer: 11 já haviam feito. Todos os 11 saíram vencedores rumo à decisão da liga. Quando reúne LeBron James a Kevin Love e Kyrie Irving, o Cavs também está invicto, com 14 vitórias.

Esse sucesso todo, acho que está claro, passa pelo sistema ofensivo, que é o mais eficiente destes playoffs, e de longe. Na média, são 116,9 pontos por 100 posses de bola, contra 112,7 do Golden State Warriors, o segundo colocado. A defesa não é tão de elite assim. Entre os 16 times classificados para a segunda fase, estão apenas em nono. Mas quer saber? Não está fazendo a menor diferença. Seu ataque tem trucidado a oposição.

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Em dez partidas até aqui, apenas três jogos foram decididos por menos de 10 pontos de diferença, dois deles contra o Detroit Pistons pela primeira rodada (106 a 101 pelo Jogo 1, bem parelho do início ao fim, e 100 a 98 pelo Jogo 4, quando o time da Motown lutava contra a varrida) e um contra o Altanta Hawks (100 a 99 pelo Jogo 4, também com os anfitriões lutando em vão para evitar o 4-0). Isto é: dois desses duelos mais equilibrados aconteceram quando já estava tarde demais nas respectivas séries.

Tem muita gente dizendo que isso se deve à fragilidade da conferência. Não acho que seja mais o caso de bater nessa tecla — e, se for para irritar o torcedor do Cavs, é só ficar falando sobre isso sem parar. O aproveitamento de seus concorrentes dos playoffs do Leste nesta temporada foi de 58,7%, com uma média de 48,1 vitórias. No ano passado, tiveram, respectivamente, e 56,4% e 46,2. Vale lembrar que dois times chegaram aos mata-matas em 2015 tiveram rendimento abaixo dos 50%, como o Boston Celtics, derrotado na primeira rodada. O oitavo colocado deste ano foi o Detroit Pistons, já com 44 vitórias. E outra: se os números lhe parecem similares, é porque houve a influência do excepcional rendimento do Hawks de 2014-15, de 60 triunfos. Tudo para ser varrido por Cleveland na final regional, com quatro de seus titulares jogando no sacrifício.

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%, segundo o Synergy

Essa é a ironia: pela segunda temporada seguida, os LeBrons pegam um adversário completamente desestabilizado na hora de disputar o troféu do Leste. Se é para falar de fraqueza do adversário, ao contrário daquele Hawks, as mazelas do Toronto Raptors são no momento técnicas e/ou psicológicas — por mais que Jonas Valanciunas faça falta, não dá para imaginar que só o lituano faria tanta diferença assim para compensar um saldo negativo de 50 pontos em duas partidas. Após uma belíssima campanha, a equipe canadense  se esfarelou em questão de semanas. Kyle Lowry e DeMar DeRozan já erraram, juntos, 374 arremessos em 16 partidas (23,3 por jogo). Estão acertando apenas 36,3% no total. Isso não é número para uma dupla de All-Stars.

Mas o Cavs não tem nada com isso. E, mesmo que Lowry e DeRozan estivessem jogando o máximo, o Raptors não seria páreo para o que o seu adversário vem apresentando. Um tipo de basquete que não tomou conhecimento nem mesmo da segunda melhor defesa da liga, a do Atlanta, pelas semifinais. Nem mesmo os hiperativos marcadores de Mike Budenholzer puderam impedir que o Cleveland chegasse aos 100 pontos em todas as suas partidas, incluindo contagens de 123 e 121 pelos Jogos 2 e 3 da série. Que isso fique claro: o Atlanta era um oponente em ascensão, que prometia dar trabalho graças a seu empenho na contenção, mas não teve chance nenhuma.

Não há quem tenha feito mais splash do que o Cavs. Em termos de aproveitamento efetivo dos arremessos de quadra (eFG%, que dá mais valor aos tiros de três), eles têm 56,2%, acima dos 54,8% do Golden State. O Spurs se despediu com 51,9%. O Thunder tem 51,1%. O Raptors, só 45,4%. Cheio de confiança, o Cavs vem arriscando 33,1 chutes de fora nos playoffs, acertando 44,7%, contra 40,8% do Warriors, para comparar.  É o segundo time que gera mais assistências por posse de bola, aí atrás dos atuais campeões, e o quarto em percentual de assistências para cestas de quadra.

Dando uma boa olhada nos números dos playoffs — com a devida ressalva de que eles são um pouco desequilibrados, pelo simples fato de que os times não têm se enfrentado entre si, mas só contra alguns adversários específicos –, houve algo que me surpreendeu, em relação ao que vemos em quadra. Sabe aquele papo de que Tyronn Lue queria ver seu time acelerando geral? Esqueça. Nos playoffs, eles só têm o quinto ritmo mais lento dos mata-matas, só correndo mais que Raptors, Pacers, Grizzlies e Pistons. Ainda assim, estão destroçando os oponentes, com este aproveitamento altíssimo.

A excelência coletiva ao mesmo tempo passa por e gera a excelência individual. E aí tudo começa com LeBron James, né? Embalado, com 23 pontos, 11 rebotes e 11 assistências nesta terça-feira, o ala passou Magic Johnson no ranking histórico de triple-doubles pelos playoffs, ocupando a liderança agora, e também deixou Shaquille O’Neal para trás na lista de cestinhas, assumindo o quarto lugar. Seu desempenho contra o Raptors é digno de um MVP e de quem não quer se distanciar da chata conversa sobre quem-é-o-melhor-do-mundo:

É, são 69,2% na conversão dos arremessos de quadra, algo devastador. O mais legal, porém, é entender como ele está chegando a esse aproveitamento. O departamento de estatísticas da ESPN levantou dados curiosos sobre o rendimento de LBJ e Stephen Curry após dois jogos pelas finais de conferência. Cada um converteu 18 arremessos de quadra. Ao medir a distância do ala para o aro quando fez suas cestas, você acumula até agora apenas 8,8m. Para Curry? São 105,4m. Demais o contraponto, né? Não dá para ter abordagens mais diferentes. Na área restrita, o trator do Cavs converteu 17 de 19 tentativas. Não tem Bismack Biyombo que o atrapalhe.

As coisas caminham juntas também. LeBron só consegue chegar à área restrita para castigar o aro por ter grandes chutadores ao seu lado, espaçando a quadra. E esses chutadores também se beneficiam da atenção que o craque chama, ganhando alguns instantes valiosos para receber o passe e olhar para a cesta — ou fazer a bola girar, como tem acontecido constantemente nesta fase decisiva, num avanço que chega a ser até milagroso, quando comparado ao que vimos na temporada regular. E aqui você tem de elogiar o trabalho de Tyronn Lue, conseguindo convencer seus astros a reparar o estrago, mas também não dá para não criticar a postura do elenco nos tempos de David Blatt.  

Channing Frye está com um aproveitamento efetivo de 85% nos arremessos com os pés plantados. Impressionante, e não é nem mesmo o maior do time. O inabalável (!?) JR Smith está com 87%. No geral, Frye tem convertido 78,3% na soma de chutes de dois e três, enquanto JR tem 67,9%. Para termos uma ideia do que isso significa, Curry teve 64,3% durante a temporada regular. Klay Thompson, 56,9%. Isso para não falar de Irving e Love. Então chegou a hora de marcar LeBron individualmente, o tempo integral, e ver no que dá. Não pode dobrar mais. O problema do Raptors é que, debilitado, DeMarre Carroll não dá conta disso. OKC e Warriors estariam mais bem equipados. Mas obviamente é um risco a ser corrido. Hoje, com o Cavs acertando tanto nos disparos de fora, você tem de assumi-lo. Seria a sexta final seguida para LeBron, aliás.

Das três equipes anteriores que venceram seus dez primeiros jogos pelos playoff, só uma chegou ao título — o Lakers de 2001, com Shaq e Kobe arrancando cabeças para muito perto de concluir sua campanha pelo mata-mata com 100% de aproveitamento, sofrendo apenas um revés na abertura das finais contra Allen Iverson. Sim, aquele jogo pelo qual Tyronn Lue é lembrado até hoje. O Lakers já havia vencido 11 jogos seguidos em 1989, mas ficaria com o vice-campeonato ao ser superado pelo Detroit Pistons na decisão, com lesões limitando seu poder de fogo na hora decisiva. O outro caso foi o do San Antonio Spurs, em 2012, quando o esquadrão de Gregg Popovich estava barbarizando desde as últimas semanas da temporada regular até esbarrar no Oklahoma City Thunder numa das séries mais emocionantes da década.

Quer dizer, aqueles que não foram campeões só pararam em adversários especiais.  Acho que ninguém imagina que o Cleveland vá atropelar qualquer time que saia do Oeste, por mais desgastante que possa ser o confronto entre Warriors e Thunder.  Mas parece claro que aquela equipe que está jogando o basquete mais eficiente, bonito e, caceta, avassalador é o Cavs.

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Paul George volta a colocar Toronto em estado de choque
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Giancarlo Giampietro

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

Recordar é sofrer.

O ginásio do Raptors estava novamente tomado por clima de estádio de futebol. Lá fora, uma multidão acompanhando a partida na praça. Bandeiras, cantos fortes. O time deu mais um salto durante a temporada regular, chegou a incomodar o Cleveland Cavaliers na disputa pela primeira colocação da conferência. Tudo seria diferente dessa vez.

Mas… Não. Novamente essa atmosfera festiva seria mais uma vez silenciada nos minutos finais da abertura dos #NBAPlayoffs2016 para Toronto por um ala chamado Paul. Sai Pierce, entra George como sobrenome. O ala do Pacers foi a grande estrela da primeira partida dos mata-matas. Boa parte desses times classificados pelo Leste podem até não ser muito badalados, sem as chamadas superestrelas  — mas os jogos prometem bastante, de todo modo. Só não vale incluir o Indiana nesse grupo. Seu ala camisa 13 pertence ao primeiro time de craques da liga.

Com 33 pontos e uma defesa sufocante frente no perímetro, George provou que é uma estrela de verdade, que joga dos dois lados da quadra, comandando o cabeça-de-chave número sete numa grande vitória por 100 a 90, neste sábado, que já rouba o mando de quadra para os forasteiros.

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Do outro lado, dois de seus companheiros na seleção All-Star, Kyle Lowry e DeMar DeRozan, tiveram atuações beeeem diferentes, sentindo dois tipos de pressão: a primeira, mais importante, que foi a de seus marcadores, mesmo. A segunda tem a ver com os recentes fracassos em jogos pela fase decisiva. Dava para ver na cara de Lowry. George, sozinho, anotou oito pontos a mais do que a dupla do Raptors. Pior ainda para o time canadense foi checar o aproveitamento de quadra destes caras: um abismal 8-32, ou meros 25% de acerto. Eles tiveram mais turnovers (nove) do que cestas de quadra. Nem um fominha descontrolado como Monta Ellis (5-12, um turnover, 15 pontos e 5 assistências) aprova números como esses.

A sorte de DeRozan é que o jogo foi realizado bem cedo, na hora do almoço. Diminui, assim, as chances de ele ter pesadelos com seu conterrâneo californiano. Apenas um ano os separam. Talvez tenham até se cruzado em quadras pelo circuito AAU ou colegial no imenso estado. Desde cedo, o ala do Raptors sempre foi considerado uma futura estrela, enquanto o líder do Pacers se desenvolveu mais lenta e discretamente, sendo recrutado pela tímida Universidade de California State, por exemplo. Hoje, com suas carreiras profissionais bem encaminhadas, há uma enorme distância entre um e o outro. Devido ao histórico californiano, estamos falando de dois alas que, volta e meia, estiveram associados ao Los Angeles Lakers, como possíveis reforços. Agora que Kobe Bryant se aposentou, há uma clara lacuna para ser preenchida na rotação de perímetro do time, de fato. DeRozan será agente livre ao final da campanha. É bom que Mitch Kupchak tenha assistido a esta partida, para ver quem exatamente merece um salário máximo…

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga...

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga…

Sendo justo, DeRozan fez a melhor temporada de sua carreira. Só James Harden foi mais vezes à linha de lance livre do que ele. Também mostrou muito mais visão de quadra, criando para os companheiros. Foi eleito pela segunda vez para o All-Star, merecidamente. Neste sábado, porém, foi barrado no baile. Não havia corredor para ele passar. Com a infiltração removida de seu repertório, teve de apelar para o arremesso de média para longa distância, sempre contestado. Por mais que tenha melhorado um pouquinho neste fundamento, ainda é o seu ponto fraco. Ainda mais quando perturbado. O jogo não foi dos mais bonitos ou emocionantes, mas vale a pena revê-lo só para conferir a atuação defensiva de George. Não basta ter capacidade atlética, com explosão e agilidade nos pés. É preciso saber o que fazer com esses recursos, e o cara foi simplesmente impecável nesse sentido, se deslocando lateralmente com precisão impressionante. Também chamaram a atenção seus botes certeiros, quase kawhi-leonardianos, para terminar com quatro roubos de bola e dois tocos em 37 minutos. Dois desses roubos foram sensacionais, para consertar bobagens de seus companheiros no ataque, freando de imediato o contragolpe dos anfitriões.

Sobre Lowry, lembremos que ele já encerrou a temporada regular em baixa. Desde o All-Star, em casa, seus números despencaram. Para comparar, em fevereiro, ele anotou 23,6 pontos com 50,3% nos arremessos e 39,7% de três. Em março, produziu 21,9 pontos, mas com 40,4% e 37%, respectivamente. Em abril, em cinco jogos, teve 17,0 pontos, com 39,5% e 41%. O número de lances livres pelo baixinho também caiu consideravelmente na reta final. O armador está sofrendo com dores e inflamação no cotovelo direito desde janeiro, na verdade, e chegou até mesmo a fazer uma drenagem semanas atrás. Uma preocupação que Casey admitiu publicamente. Enfrentando outro excelente defensor como George Hill — que é mais alto e também tem braços longos toda a vida –, as coisas ficam ainda mais complicadas.

Se Lowry, devido a esta limitação física, não vai ser eficiente como no início da temporada, aumenta a carga de responsabilidade sobre DeRozan. Talvez seja o caso de Dwane Casey rabiscar mais jogadas para que seu cestinha seja acionado em movimento, em vez das manjadas investidas em mano a mano. O problema é que, mesmo nessas situações, não é garantia que o cestinha terreno, já que George é mais alto e mais comprido, sendo um terror nas linhas de passe. Ainda assim, forçando-o a encarar corta-luzes de Valanciunas, Scola e Patterson, ao menos você pode tentar desgastar o oponente.

Para o Jogo 2, ainda não é para entrar em desespero. Você não vai jogar no lixo o trabalho que resultou em 56 vitórias na temporada regular. De toda forma, o ataque excessivamente individualizado do Raptors precisa ganhar em diversidade. Já havíamos registrado aqui: seu sistema ofensivo esteve entre os mais eficientes da liga, mas o jogo de playoff é outra história. Os adversários estão mais preparados, o scout fica muito mais detalhado. Os vícios se tornam mais evidentes em quadra. Você precisa de diversidade. Basicamente, tudo o que se cobra de Oklahoma City há anos, com a diferença de que eles atacam com Kevin Durant e Russell Westbrook. Com todo respeito aos a Lowry e DeRozan, mas os All-Stars podem até ser iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

No caso de Raptors, se for para apostar tão somente no repertório técnico de estrelas, é bem provável que o Pacers aceite o desafio, com Paul George ao seu lado. Se o ala puder ser dominante desta forma,  a série pode virar mais uma grande encrenca para o clube canadense, para tristeza de uma torcida que

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Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Jonas Valanciunas foi um leão no garrafão. Fato: pegou 19 rebotes em 21 minutos, sendo 11 ofensivos, ambos valendo como recordes para o Toronto em playoffs. Ainda anotou 12 pontos. Bacana, né? E, como assim o cara consegue números tão expressivos como esses e fica em quadra só por 21 minutos!? Dwane Casey pirou? Segue implicando com o lituano?

Não. É que ele cometeu seis faltas, mesmo. E uma consulta mais atenta à planilha estatística do pivô somada às ações que vimos em quadra nos passa um contexto mais complexo. Se Valanciunas apanhou 11 rebotes na tábua de ataque é porque ele, mesmo, desperdiçou diversas oportunidades ali embaixo. Errou 10 de 14 arremessos, tendo dificuldade para finalizar jogadas diante de dois pivôs que protegem muito bem a cesta: Ian Mahinmi  e Myles Turner. Foi um espetáculo (ou quase isso…) o embate entre os grandalhões.Juntos, cometeram 15 faltas, com cinco para o francês e quatro para o calouro.

Fisicamente, o titular do Raptors se impôs na busca pela bola. O problema era o  que fazer com ela depois. Ele obviamente tem munheca. Mas seus movimentos ficaram muito lentos e mecânicos a partir do momento que o Toronto bombou seu corpanzil. O cara se tornou um pivô sólido, competente, mas não está no primeiro escalão. Aos 23 anos, talvez possa melhorar ainda, mas isso está longe de ser uma certeza. Lembremos que ele joga em alto nível há um bom tempo já. Em 2010, já estava jogando a Euroliga. Quiçá o Raptors possa espaçar mais a quadra para que ele ganhe uns segundos preciosos para realizar suas jogadas. Mas não vejo muito para seu jogo possa se expandir agora.

Do outro lado, o contraste com Turner é gritante. O novato tem um potencial absurdo. Hoje, mesmo, já foi influente. Com ele em quadra, o Pacers teve saldo de 15 pontos. Por não tenha base para aguentar os trancos do lituano ou de Bismack Biyombo, o rapaz conseguiu causar impacto em quadra graças a sua envergadura e agilidade. Em 26 minutos, terminou com 10 pontos, 5 rebotes e, mais importante, 5 tocos. Dois foram em seu oponente direto. Mas também houve quase uma dezena de chutes que ele intimidou ou alterou, devido a sua presença bastante ativa. Logo mais, vai deixar a vida de Paul George muito mais feliz em Indiana.

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Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

jukebox-raptors-arcade

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.


Toronto Raptors, dois brasileiros, nós e o Norte
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Oh, Canada

Oh, Canada

Em 1995, a NBA anunciou que incorporaria duas franquias canadenses ao seu campeonato. A liga ainda curtia a popularidade de um Michael Jordan, já havia se beneficiado aos montes com a empreitada do Dream Team nos Jogos de Barcelona e estava pronta para dar mais um passo importantíssimo em seu processo de internacionalização. Nasceram, então, o Toronto Raptors e o Vancouver Grizzlies.

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As duas equipes tiveram dificuldades naturais para engrenar no princípio. Eles tinham de se montar a partir do zero, a partir do Draft de Expansão, no qual os demais clubes têm o direito de proteger oito atletas de seus elencos, sobrando apenas a rebarba para os irmãos canadenses. Acontece que, sob a direção do hoje esculhambado Isiah Thomas e de Glen Grunwald, o time de Toronto garimpou melhor no mercado e no Draft, enquanto em Vancouver as coisas só pioravam.

Em seis campanhas, a equipe não conseguiu superar a marca de 28% de aproveitamento. Cinco técnicos foram contratados e demitidos. A média de público despencou de 17,1 mil na primeira temporada para 13,7 mil na sexta, com uma ajudinha de um lo(u)caute no meio do caminho, em 1998. O dólar canadense também estava desvalorizado, aumentando as dívidas da gestão. Quando o grupo Orca Bay fechou a venda da franquia para Michael Heisley, em janeiro de 2001, o bilionário de Chicago havia dito que sua intenção era mantê-la na cidade. Heisley sabia, oras, que dias antes a NBA havia vetado um negócio com Bill Laurie, que pretendia levá-la para St. Louis.  Meses depois, contudo, após uma campanha duvidosa para difamar Vancouver, já estava fazendo uma turnê pelos Estados Unidos em busca de possíveis portos para realocação. Encontrou Memphis.

A NBA toparia retornar a Vancouver?

A NBA toparia retornar a Vancouver?

Esse contexto é importante para entender o momento vivido pelo Raptors. O clube passou por mais bocados durante a década passada, saindo dos anos eufóricos de Vince Carter a uma preocupante depressão, com Rafael “Baby” Araújo, Chris Bosh, Jorge Garbajosa, Anthony Parker e outros personagens no meio do caminho. Ainda que o produto em quadra não fosse dos mais interessantes, o aspecto comercial foi bem desenvolvido, conquistando uma sólida base de torcedores e parcerias no mundo corporativo. Eles eram o time do Canadá.

Reparem, então, como, no decorrer dos anos, a cor dos uniformes, por exemplo, migrou gradativamente do roxo para o vermelho. O dinossauro do primeiro logo perdeu seu aspecto cartunesco e foi encolhendo. Hoje, o finado animal está representado por uma simples e discreta pata com três garras que, nessas coisas da semiótica, remete direta ou indiretamente, dependendo do ponto de vista, a uma folha de maple (para eles, bordo para nós), o símbolo da bandeira nacional.

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Para culminar, na temporada passada eles lançaram com estrondoso sucesso a campanha “We, The North” (Nós, o Norte), que virou coqueluche na metrópole com camisetas, cartazes, outdoors e, dãr, #hashtag. Eles, do norte, assumindo de maneira interessante, orgulhosos, sua condição geográfica austral, o que não é tão lógico assim. Quanto mais ao Norte, mais frio. Não o frio paulistano de 12ºC, e, sim, o frio gélido bem pertinho do ártico, abaixo de zero e tal. É o tipo de clima que faz com que, nas obras anglo-saxônicas de ficção, o  “povo do Norte” seja invariavelmente associado a nobres austeros – porque seria assim a vida por lá, com as condições inóspitas exigindo mais trabalho, empenho, seriedade etc., ao contrário dos folgados de um Sul mais quente. Que nos digam os inimigos Stark e Lannister de George R.R. Martin (e da HBO).

Então aí está o marketing da franquia fazendo empréstimos desse tipo de mitologia. O slogan serviu para unir ainda mais uma das bases de torcedores já considerada das mais fervorosas e fanáticas da liga. A ponto de, na abertura dos playoffs 2014, vermos milhares e milhares de pessoas reunidas do lado de fora do Air Canada Centre, no centro de Toronto, para assistir num telão ao primeiro embate de playoff da equipe depois de seis anos, contra o Brooklyn Nets. Uma cena muuuuito rara no cotidiano da liga.

Ainda mais rara – e absurdamente engraçada, vai – foi a manifestação do chefão das operações de basquete do clube, Masai Ujiri, naquele sábado histórico, diante da multidão de torcedores fora do ginásio. Provavelmente com a adrenalina a mil, sentindo aquela vibração descomunal, o dirigente nigeriano soltou logo um entusiasmado “F***-se, Brooklyn!” no microfone, de modo chocante. A galera foi ao delírio, claro. A liga, nem tanto: o dirigente acabou multado em US$ 25 mil. Ainda que daria para fazer uma boa aposta que, secretamente, os gestores tenham rachado o bico e só tenham decidido aplicar a punição por não haver outro modo, mesmo, de lidar com o causo. Além do mais, Ujiri ganha US$ 3 milhões por ano como um supercartola e, caso fizesse uma vaquinha com os torcedores, certeza que pagaria a taxa com tranquilidade e ainda sobraria um troco para um sorvete.

Ujiri foi o homem que selecionou Bruno Caboclo, para choque geral dos especialistas. O mesmo que foi atrás de Lucas Bebê um ano depois de ter falhado em sua missão de também assegurar os direitos sobre o pivô carioca no Draft. E aí que, num estalo, a metrópole canadense se tornou a capital brasileira no basquete da América do Norte. Tipo: agora são eles e ‘nós’ do Norte. O único senão aqui: para ver a dupla em quadra, vai demorar um pouco. Ambos são vistos como projetos de médio para longo prazo. Tanto o ainda adolescente Caboclo como Bebê, que, aos 22 anos e temporadas de Liga ACB nas costas,  já deveria estar num ponto mais adiantado em sua curva de aprendizado.

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Nos primeiros jogos do Raptors, conforme o esperado, os rapazes não vêm sendo nem relacionados pelo técnico Dwane Casey, que tem optado pelos veteranos Landry Fields e Greg Stiemsma no preenchimento de seu banco. Dois caras bem mais experimentados, preparados. De modo que, por enquanto, Bruno e Lucas não terão chance de jogar nem mesmo numa surra como a deste domingo sobre o Philadelphia 76ers, o lanterninha da liga e o jogo mais provável para seu aproveitamento.

“Vai levar um tempão para caras como Bruno e Bebê (estarem prontos), então vamos ser pacientes. Ainda somos uma equipe jovem”, disse Ujiri, sobre os garotos. É o tipo de frase que o espectador brasileiro precisa ter em mente na hora de checar as fichas dos jogos do Raptors e não ver a dupla relacionada. E Ujiri tem razão nesse aspecto: o núcleo principal da equipe ainda vai crescer.

Se o plano do dirigente der certo, os promissores atletas vão se juntar a um elenco mais maduro e ainda mais forte. Futuro próximo? Dois anos? Vai saber. É uma preocupação que um scout da NBA demonstrou em entrevista para o blog, lembram? O Raptors não tem uma filial na D-League. Então toda  a evolução dos brasileiros ficará por conta do trabalho individual com os treinadores durante uma temporada corrida, na qual eles competem para já. No Leste, distante de Memphis. E pelo Canadá.

O time: na temporada passada, Casey fez um dos trabalhos mais formidáveis. O plano de Ujiri, todos sabem, era implodir seu elenco e apostar numa derrocada rumo ao Draft estelar de Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Despachou Andrea Bargnani e Rudy Gay. Deu errado: digo, de acordo com essa ideia original. Porque a equipe melhorou, e muito.

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

A bola começou a girar de um lado para o outro, Kyle Lowry, DeMar DeRozan e Terrence Ross gostaram da responsabilidade maior e cresceram. O banco de reservas foi bastante produtivo, com Patrick Patterson assessorando a entrosada dupla Jonas Valanciunas-Amir Johnson. A melhor química resultou também numa melhora do sistema defensivo, com os atletas mais conectados. Ao final da campanha, o Raptors era um dos poucos posicionados entre os dez ataques e defesas mais eficientes da liga, ao lado de gente como Spurs, Heat, Clippers e Thunder.

Para este campeonato, a base está mantida. Os reforços que chegaram são peças complementares, para deixar a segunda unidade ainda mais sólida. O ala James Johnson endireitou a cabeça, vem de bela campanha pelo Grizzlies, fez as pazes com Casey e retorna a Toronto para fortalecer a defesa no perímetro. Lou Williams pode ter perdido muitos jogos pelo Hawks devido a uma séria lesão no joelho, mas ainda é mais habilidoso e explosivo que John Salmons. Se Lowry e DeRozan mantiverem o ritmo, a estrutura ao redor deles será o suficiente para lhes posicionar bem nos mata-matas. Dependendo do progresso de Ross e Valanciunas, as metas vão crescer.

A pedida: ir longe nos playoffs e, dependendo do nível que Bulls e Cavs tiverem atingido, sonhar, talvez, com uma final?

Olho nele: Terrence Ross. Porque vale a pena observar com atenção qualquer jogador que passe da barreira dos 50 pontos numa partida, não? Foi o que o ala de 23 anos conseguiu numa derrota para o Clippers no dia 25 de janeiro, assustando a imprensa norte-americana. A quantia é emblemática, mas o mais interessante é o modo como ele a atingiu, que mostra todo o seu potencial. Veja:

Ross é um desses atletas especiais que poderia competir tanto no torneio de enterradas como no de chutes de três pontos num All-Star Weekend. Além disso, é agil e tem envergadura para dar trabalho na defesa.

Abre o jogo: “É tanto dinheiro que eu guardo logo na minha conta. Talvez algo no futuro, mas não sei”, Bruno Caboclo ao ser questionado em Toronto sobre o que faria com o seu primeiro pagamento.

Você não perguntou, mas… a grande temporada do Raptors realmente foi produto do acaso. De vários causos fortuitos, mesmo. Por exemplo: quando a franquia acertou uma troca com o Houston Rockets para receber Kyle Lowry, esse era apenas um plano B do então presidente Bryan Colangelo. A principal opção do dirigente, que acabou substituído por Ujiri, era Steve Nash – negociação que acompanhava perfeitamente a guinada canadense do time. O veterano havia se tornado um agente livre em julho de 2012 e estava disposto a conversar com a franquia de seu país natal. Quando o Lakers surgiu para atrapalhar tudo, Colangelo se viu obrigado a procurar outras alternativas. E veio Lowry, de quem o Rockets queria se livrar para limpar sua folha salarial e também por que andavam cansados da dor-de-cabeça que o armador causava, de tanto reclamar que não aceitaria ser reserva. A ironia é que, a princípio, em Toronto ele também chegaria para ficar no banco de Nash.

Damon Stoudamire, Toronto RaptorsUm card do passado: Damon Stoudamire. Além do aspecto comercial e logístico, o Raptors também teve mais sucesso que o Grizzlies na montagem de seus primeiros elencos. Para 1995-96, sua primeira temporada, enquanto Vancouver foi de Bryant Reeves, Toronto selecionou o baixinho Stoudamire, de 1,78 m, para sua armação. Vindo da Universidade do Arizona, o talentoso armador, apelidado de Mighty Mouse (Super Mouse, aqui) foi a primeira grande esperança da franquia, tendo impressionantes médias de 19 pontos e 9,3 assistências como novato. Também foi a primeira grande esperança a deixar a equipe precocemente, forçando uma troca para o Portland Trail Blazers, de sua cidade natal. O mesmo aconteceria com Vince Carter, Tracy McGrady e Chris Bosh, numa sina daquelas (os impostos em Toronto são mais caros e ainda existe uma espécie de preconceito entre os atletas contra a ideia de viver no Canadá, acreditem). A carreira armador nunca mais teve tanto brilho. Ele ainda jogou pelo Grizzlies, mas em Memphis, teve uma curta passagem pelo Spurs e se aposentou em 2008. No mesmo ano, começou a trabalhar como treinador. Em fevereiro de 2009, retornou a Memphis para integrar a comissão técnica de Lionel Hollins, tendo sido importante no desenvolvimento de Mike Conley Jr. Hoje, é um dos assistentes de Sean Miller na sua alma mater, Arizona.


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