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Arquivo : Chalmers

Jukebox NBA 2015-16: Grizzlies, bala na cabeça e resistência
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Bullet in the Head”, por Rage Against the Machine

O Memphis Grizzlies é o símbolo da resistência nesta temporada da NBA. Desde o princípio. Se Chicago e Indiana haviam abandonado o movimento, os senhores do “Grit & Grind” ainda apostavam em sua dupla de pivôs, em atacar o garrafão com brutamontes, em vez de ágeis e serelepes armadores, para abrir a quadra. Só não estavam completamente isolados devido ao resgate desta forma pelo San Antonio Spurs.

O recuo de Gregg Popovich, de todo modo, talvez tenha mais a ver com a proposta que julgue mais oportunista para o contexto atual de sua equipe, para tentar derrubar o Golden State Warrirs. Creio que só resgatou a fórmula que tanto castigou o Phoenix Suns de Nash e D’Antoni, por entender que seria muito complicado apostar corrida com os atuais campeões, em vez acreditar que há uma nova velha tendência na liga a ser capitaneada.

Uma vez eliminado dos playoffs no ano passado em uma épica série contra o Clippers, Popovich pode muito bem ter largado tudo para curtir a rota vinícola californiana. Ou pode ter dado uma espiada na semifinal de conferência entre Warriors e Grizzlies, em que os Splash Brothers e parceiros sofreram um tanto, e pinçado uma ou outra dica dali, a ponto de abastecer seu time com cinco pivôs de nível excepcional para bater bife na zona pintada.

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Já Memphis… Bem, o Memphis, com todo o respeito que o clube a cultivou nos últimos anos, vindo de três temporadas acima das 50 vitórias e de uma liderança de 2-1 neste embate com Golden State, não poderia se planejar seu elenco precisamente por conta de um oponente. Por mais otimistas que seus diretores possam ser, deveriam saber que a luta pelo título era algo improvável. Mas o contrato de Marc Gasol estava renovado, Zach Randolph, ao que tudo indica, não foi envolvido em nenhuma negociação séria, e ainda trataram de contratar Brandan Wright para fazer a escolta do velho par, cobrindo a lacuna deixada por Kosta Koufos.

Acontece que, dessa vez, a tática falhou. Muito antes das lesões, a equipe estava com dificuldade para assumir seu posto entre a elite do Oeste. Não em termos de competir com Warriors e Spurs, dois times que se distanciaram do pelotão muito cedo e com propriedade. A defesa, consistentemente uma das mais fortes da liga, não funcionava, com seu gigante espanhol fora de forma, fazendo sua pior temporada nesta década. Até o All-Star Game, era apenas a 16ª retaguarda mais eficiente da liga. Comparando, o time sempre esteve no top 10 de 2011 a 2015. E não é que tenham perdido intensidade na contenção para inflamar o ataque: seu sistema ofensivo continuava sôfrego (apenas o 20º…), sem uma artilharia confiável de fora.

E aí começou. Mike Conley, Zach Randolph, Wright, as suspensões de Matt Barnes… Até Marc Gasol sofrer uma fratura no pé, passar por cirurgia e ser afastado da temporada. Parecia, à época, a gota d’água. Por mais que tivessem boa vantagem para os times fora da zona de classificação, a posição na zona de classificação aos mata-matas parecia seriamente ameaçada.  E ainda vieram as trocas de Courtney Lee e Jeff Green.  Sério: como você vai sobreviver a isso?

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Simples: lutando, resistindo. Os caras não só se seguraram no quinto lugar da conferência, como conseguiram aumentar a vantagem para o sexto, que hoje é o Portland, mas já foi o Dallas. Não que tenham sido espetaculares, arrasadores – desde que seu principal jogador foi vetado, o Grizzlies disputou 20 partidas e venceu 11. Mas um aproveitamento superior a 50%, nessas condições, é algo fenomenal, ainda mais considerando que seu rendimento ofensivo e defensivo caiu desde o All-Star.

E quais são essas condições? Poderíamos dizer “calamitosas”, não fosse a resposta que mais importa, aquela que se dá em quadra, e por isso a trilha a de ser de porrada na orelha, ou, hã, bala na cabeça. É uma música que está entre as letras menos politizadas do Rage Against the Machine, mas entre seus seus sons mais raivosos.

Vejamos: até o início da semana, o time só estava atrás do Washington Wizards, de Nenê e Brad Beal, em termos de jogos perdidos por lesão, uma conta que aumentou recentemente com a ruptura que Mario Chalmers sofreu no tendão de Aquiles – algo muito cruel para um atleta que fazia um belíssimo campeonato e está prestes a entrar no mercado de agentes livres – e com a distensão na virilha de PJ Hairston.

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Para compensar tantos desfalques, a diretoria e seus scouts tiveram de se desdobrar. Hoje já são 27 jogadores utilizados neste campeonato, o que dá mais de cinco quintetos e praticamente dois elencos completos (cada equipe pode ter 15 atletas no máximo). Para constar, as trocas realizadas durante a temporada também influenciam aqui, com a chegada de Lance Stephenson, Chris Andersen, James Ennis, Chalmers e Hairston. Mas foram as questões médicas, mesmo, que mais contribuíram para essa lista, pedindo as contratações de curto prazo, aqueles vínculos básicos de 10 dias. Ryan Hollins, Elliott Williams, Ray McCallum e Jordan Farmar nós conhecíamos de outros verões – e, para constar, quanto à semana passada, Farmar diz que estava sentado no sofá; em sua estreia, contra o Phoenix Suns, cobrou lances livres decisivos pela vitória.  Mas e quanto a Briante Weber, Xavier Munford e Alex Stephenson? Um chegando atrás do outro pela porta giratória. “Com todo o respeito, mas às vezes eu não sei… os sobrenomes deles. Esse é o tipo de temporada que tivemos”, afirmou Matt Barnes ao ESPN.com.

As idas e vindas causam uma bagunça. Se os próprios jogadores não se reconhecem com facilidade, imagine os oponentes como ficam? Depois da vitória mais expressiva desse grupo – um triunfo por 106 a 103 em Cleveland –, Kyrie Irving admitiu que havia se preparado para jogar contra Conley e afins e se viu surpreendido em quadra.  “Tem noite em que não vai ser bonito, mas vamos para a quadra competir e nos dar uma chance real de vencer. É fácil olhar para nosso time e rir, nos subestimar, se você é o jogador adversário. Mas se eles vão para o jogo e acham que podem te dominar cedo, pode ser uma longa e  dura noite para nós, então não queremos nos meter numa situação dessas”, afirmou o técnico Dave Joerger, para quem fazer esse tipo de observação deve ser uma ironia.

Se, para a NBA em geral, seu atual elenco é feito de remendos e renegados, para um treinador que iniciou sua carreira em ligas menores dos Estados Unidos, acostumado a pegar o busão, dormir em motéis à beira de estrada. De 1997 a 2004, passou pelo Dakota Wizards. Antes de chegar ao Sioux Falls Skyforce, pelo qual ficou de 2004 a 2006, ainda teve breve passagem pelo glorioso Cedar Rapids River Raiders. E aí voltou para mais uma temporada em Dakota, até ser contratado como assistente do Memphis.  Então não é que ele vá reclamar de poder contar com alguns veteranos como Tony Allen, Vince Carter e Barnes, que sabem o caminho das pedras, ou de jogadores ainda em busca de formação, mas promissores, que poderiam ser titulares em 90% da Euroliga.

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

O técnico destaca a liderança de seus atletas mais experientes, ajudando na aclimatação dos mais jovens. E esses caras que estão chegando sabem que pode ser a grande oportunidade de suas carreiras. A mistura vem dando certo. “Normalmente, quando temos tantas contratações pontuais, com jogadores da D-League, é para um time que não esteja competindo mais por nada. Mas o fato de estarmos lutando por uma posição nos playoffs, sustentando e até mesmo aumentando a vantagem, você tem de tirar o chapéu para esses caras que entraram e jogaram”, disse Barnes.

Neste mês, o time só levou sofreu duas derrotas de lavada, incluindo uma surra de 49 pontos contra o Rockets, em Houston. Em suas vitórias, só teve uma por duplo dígito, contra o Clippers, no dia 19. De resto, os placares se alternam entre -10 e +7 de saldo. Melhor é vencer como o Warriors, claro, ou como o Spurs. Mas nem todo mundo tem Splash Brothers. Aí procura-se um jeito. O curioso é que,  casualmente, Joerger encontrou uma formação de “small ball” funcional, mesmo sem arremessadores, mas com atletas versáteis, multifuncionais que cobrem uns aos outros, como Barnes, Carter, Stephenson, o calouro Jarell Martin, JaMychal Green. “Acho que somos uma equipe assustadora. Acho que somos o Golden State sem o poderio de chute. Nós todos podemos fazer muitas coisas em quadra, fazer jogadas”, disse Barnes.

Nesse contexto, gente, Allen tem média de 15,0 pontos neste mês, sendo que em sua carreira o máximo que teve foram 11,5 pontos no terceiro ano em Boston, com direito a jogos de 26 e 27 pontos. Ele não chegava a 20 pontos desde 2011-12. JaMycal é uma revelação (aliás, vale a regra: se um jogador tem o selo do Spurs, mas acaba dispensado, por razões diversas, não custa dar uma investidada).  Stephenson reencontrou a luz, se sentindo livre para criar. Ainda tentando entrar em boa forma, depois de uma lesão em sua última temporada por LSU, o calouro Martin tem seus momentos.

O que dá ainda mais graça nisso tudo é o conjunto de personalidades intrigantes agrupadas pelo gerente geral Chris Wallace. Tony Allen já pautava a loucura por lá, até com karaokê. Matt Barnes deu uma bela contribuição financeira ao clube e à liga em geral com suas suspensões, desde a briga com Derek Fisher a uma visita ou outra ao vestiário do oponente. Zach Randolph já se acalmou bastante desde o final da adolescência em Portland, mas vai aparecer aqui e ali com uma declaração de fazer chorar (de rir). Mario Chalmers é outro de frases daquelas. E aí, em trocas, Joerger ainda ganhou caras como Lance Stephenson, PJ Hairston e Chris Andersen. Para ficar nas referências ao universo pop, é como se fosse o Esquadrão Suicida. Ou como se Mike Conley se visse como Nicholas Cage em “Con Air”, clássico de “Temperatura Máxima”. Todo mundo merece uma segunda chance. Ou terceira. Ou quarta.

Com tanta excentricidade no vestiário, é capaz de os adversários realmente considerarem essa versão do Grizzlies assustadora, por outros motivos. Não era exatamente esse o plano, mas o “Grit & Grind” segue vivo.

A pedida: manter o quinto lugar e tentar infernizar ao máximo a vida dos velhos amigos/inimigos do Clippers na primeira rodada.

A gestão: com tamanho caos em quadra, a franquia passa por mais uma turbulência fora de quadra, como de praxe desde que o bilionário Robert Pera fechou sua compra. Segundo reportagem do ESPN.com, existe uma tensão entre os acionistas minoritários, que acusam um distanciamento de Pera, que os teria afastado das decisões diárias, mesmo que não esteja mais perto do clube, no dia a dia.

Entre tantos ricaços, com as mais diversas origens no mundo dos negócios, imagine a fogueira de vaidades. Esse é o tipo de entrevero que deve acontecer com frequência ao redor da liga, mas que quase nunca alcança as manchetes. Dessa vez só veio à tona quando Steve Kaplan, um desses acionistas minoritários, se colocou como candidato à compra do Minnesota Timberwolves.

Até o momento, o departamento de basquete, com Chris Wallace estabelecido como gerente geral e assessorado pelo veterano Ed Stefanski e pelo supernerd John Hollinger, parece blindado, e nada mais merecido, com tanta dor-de-cabeça para montar o time. Na busca por novas peças, Wallace optou por uma estratégia menos conservadora, e deu certo. Se Ryan Hollins foi contratado, quem o pediu era Dave Joerger. De resto, a diretoria decidiu apostar. “Temos procurado jogadores jovens para se analisar, e é algo que meu histórico mostra. Já me vi envolvido nesse tipo de situação na minha época de Miami, Boston e aqui. E as melhores apostas, como quando trouxemos Bruce Bowen para Miami, Adrian Griffin para Boston, eram caras jovens que não tiveram muitas oportunidades. Eles não tiveram a oportunidade de serem rejeitados e de falharem, como muitos caras mais velhos. Tivemos sorte com alguns desses jogadores, e eles ficaram na liga por um bom tempo”, afirmou.

E o Memphis precisa desse tipo de jogador. Se renovar com Mike Conley, sua folha salarial  já deve atingir a marca de US$ 70 milhões, para oito atletas. Por mais que o teto esteja prestes a subir consideravelmente, não sobraria muito para reforçar uma base envelhecida e que, hoje, não se vê em condições de fazer muito barulho nos playoffs. Sob contrato, seriam apenas dois jogadores jovens para desenvolver:  Jarell Martin e o lesionado Jordan Adams, ala que até agora não disse a que veio.

Ao menos o clube conseguiu recuperar algumas escolhas de Draft com trocas que, no final, não atrapalharam em nada o rendimento do time em quadra.  Courtney Lee contribui para o sucesso do Charlotte Hornets, mas não faria diferença neste novo contexto do Grizzlies. Jeff Green é aquele vive de lampejos aqui e acolá, numa irregularidade que não o permite se fixar em lugar nenhum, mas ainda atrai algum concorrente, sendo trocado pela quarta vez na carreira. Ao cedê-los, conseguiu uma escolha futura de primeira rodada e mais quatro de segunda, compensando algumas negociações do passado, com seleções prometidas ao Denver Nuggets e ao Boston Celtics.

Olho nele: Lance Stephenson

Olho no Lance

Olho no Lance

Para a torcida do Memphis, o ala já virou um problema. Mas dos bons, quem diria. Depois de uma passagem desastrosa pelo Hornets e de mal ser aproveitado por Doc Rivers pelo Clippers, Stephenson chegou a Memphis totalmente desprestigiado. Em seu release para anunciar a transação, o clube citou primeiro a escolha de Draft que receberia de Los Angeles, para depois mencionar o desmiolado ala como complemento. Havia a possibilidade de ele ser dispensado logo de cara, mas alguns atletas se manifestaram internamente a seu favor, acreditando em sua recuperação, de que poderiam, digamos, controlá-lo.

Em 17 jogos, aproveitando-se de tantos desfalques e da carência de homens criativos na escalação, o antigo pupilo de Larry Bird promoveu uma reviravolta em sua temporada. Enquanto Conley não volta, Stephenson é aquele que tem mais recursos no elenco ativo para criar situações de cesta por conta própria, usando 26,2% das posses de bola da equipe, o maior da temporada, produzindo 15,1 pontos, 2,8 assistências e 5,1 rebotes, com 49,8% de acerto nos arremessos, em 26,2 minutos.

O que pega nisso tudo é que, para a próxima temporada, Chris Wallace vai ter decidir o que fazer com o talentoso, mas problemático jogador. Seu contrato prevê um salário de US$ 9 milhões, mas sem garantias. O diretor pode dispensá-lo até julho, sem precisar pagar um tostão sequer. É uma boa grana, sem dúvida, mas, daqui a alguns meses, com a previsão de inflação geral, pode parecer uma pechincha. Agora: obviamente que tudo que se refere ao ala tem de ser apreciado com moderação. Estabilidade nunca foi seu forte, e nas últimas partidas, desde a chegada de Jordan Farmar, seus minutos e arremessos já estão mais controlados por Joerger.

juan-carlos-navarro-grizzlies-cardUm card do passado: Juan Carlos Navarro. Que tal falar sobre oportunidades desperdiçadas? Em 2007, o clube conseguiu convencer Navarro a abrir mão de seu reinado catalão para se juntar ao amigão Pau Gasol no interior do Tennessee. Os direitos sobre o espanhol pertenciam ao Washington Wizards, mas a diretoria queria tanto o cestinha, que aceitou pagar uma escolha futura de primeira rodada para contratá-lo. Como sabemos, o cestinha ficou apenas um ano no time, foi um prejuízo danado. Mas isso não tem nada a ver com a incapacidade de JC de emplacar o apelido de “La Bomba” na NBA. Alguém com seu arremesso, velocidade de raciocínio e personalidade vai encontrar um lugar em praticamente qualquer time do mundo. Acontece que aquele Grizzlies em específico, a despeito da presença de Pau Gasol, não estava preparado para recebê-lo.

Navarro chegou a um clube que havia ficado fora dos playoffs na temporada anterior, depois de alguns anos bem-sucedidos com o genial Hubie Brown e o czar Mike Fratello. A bola da vez era Marc Iavaroni, assistente de Mike D’Antoni no badalado Phoenix Suns de então. Pois a passagem de Iavaroni por Memphis foi um desastre absoluto. É difícil encontrar ex-jogador, ex-diretor, qualquer um que seja, disposto a elogiar o treinador. A equipe entrou em colapso, venceu apenas 22 jogos e, para piorar, mandou seu principal jogador para o Lakers, deixando seu compatriota desolado. Ficou um aninho apenas nos Estados Unidos e logo retornou ao Barça, correndo. É a diferença que faz quando um clube consegue cultivar internamente uma cultura vencedora. Por maior que seja o número de malucos no vestiário hoje, Memphis ainda está segurando as pontas.


Projeto Beasley: Riley aposta na reabilitação de seu próprio refugo
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Giancarlo Giampietro

B-easy? Não mais

Poderia Michael Beasley colocar a cabeça em ordem e deixar o Miami ainda mais forte? NBA aguarda

Garoto-propaganda da Armani por não sei quanto tempo, Pat Riley só pode ser um homem seguro de si. Ajuda também, imagino, o fato de já ter sido campeão da NBA como jogador, técnico e dirigente.

Pois, rumo ao campeonato 2013-2014, em busca do tricampeonato pelo Miami Heat, o presidente da equipe esbanja confiança de um jeito que até assustaria. Daria medo, sim, não contasse existisse no mesmo grupo com um certo LeBron James. Primeiro foi Greg Oden, o lesionado. Depois Michael Beasley, o desmiolado e um refugo da própria franquia da Flórida.

Não dá para dizer qual é o negócio mais arriscado. Para termos uma ideia da fama que o ala construiu com esmero, uma vez que o pivô não pisa em quadra desde 2009. É como se ele tivesse comprado, na loja online da Acme, um manual com o passo-a-passo de como se arranhar a imagem pública de alguém que, em 2008, estava envolvido em um ferrenho debate sobre a escolha número um do Draft, concorrendo com aquele tal de Derrick Rose. Até mesmo o armador sabia disso.

E, acreditem, para muitos olheiros não era nenhum absurdo essa proposição. Beasley, talento puro, fez uma temporada excepcional como calouro na NCAA, segundo qualquer perspectiva. Compare os seguintes números, num exercício de adivinhação que adoram fazer lá fora, especialmente o Sports Guy:

Jogador A: 35,9 min, 25,8 pts, 11, 1 reb, 1,9 blk, 1,9 st, 47,3% FG, 40,4% 3pt.

Jogador B: 31,5 min, 26,2 pts, 12,4 reb, 1,6 blk, 1,3 st, 53,2% FG, 37,9% 3pt.

Em 2013, fica difícil aceitar isso, mas o Jogador A é Kevin Durant, e o B, Michael Beasley. E não é que isso seja uma fraude estatística: um jogando contra as Dukes da vida e o outro, no circuito do Telecurso 2000 Nebraska. Ainda que em anos diferentes, Beasley, por Kansas State, na sequência de Durant, por Texas, os dois produziram essas estatísticas na mesma conferência, a Big 12.

Era esse tipo de craque que muitos esperavam quando o já rodado ala entrou na liga em 2008, com o aval de Riley. Aos poucos, contudo, o alarme foi tocando. Já no primeiro encontro dos calouros, numa semana, digamos, educativa promovida pela equipe de Stern e pelo sindicato dos atletas, Beasley foi multado em US$ 50 mil dólares por violar alguns protocolos ao lado do companheiro Mario Chalmers (e de Darrell Arthur, eternamente coadjuvante). O incidente teria envolvido “mulheres” e “odor de maconha”. A droga apareceria em reportagens de outras três ocorrências policias envolvendo o jogador, tendo a última delas resultado em sua dispensa pelo Phoenix Suns, depois de ser preso em Scottsdale.

“O Suns se dedicou muito pelo sucesso de Michael Beasley em Phoenix,” disse o presidente do clube, Lon Babby, em comunicado. “No entanto, é essencial que exijamos os mais altos padrões de conduta pessoal e profissional à medida que desenvolvemos uma cultura de campeão. A ação de hoje (a dispensa) reflete nosso compromisso com essas normas. O tempo e a natureza desta decisão e de todas as nossas transações recentes são baseadas no julgamento da nossas metas de basquete, assim como na melhor forma de alcançar o nosso objetivo singular de reconstruir e formar uma equipe de elite. “

Pegou?

E a questão aqui não é nem apelar para princípios moralistas. Os problemas vão muito além das questões legais. Em quadra, o jogador ainda não encontrou seu nicho – é um jogador que trabalha melhor do perímetro para dentro, ou do jogo interior para fora? Em meio a essa discussão, promovida pelos diversos técnicos com quem já trabalhou, o ala regrediu em diversos quesitos estatísticos desde seu ano de novato. As quedas mais sensíveis são detectadas no aproveitamento de arremessos de quadra: 47,2% em 2008-2009, 40,5% em 2012-2013 – e se refletem também nas métricas mais avançadas. Em Phoenix, o plano era que ele pudesse expandir seu jogo no ataque, ficando mais com a bola, desde que procurando passá-la um pouco mais, para variar. Meio que deu certo, com o jogador assistindo em 12,5% das cestas que os companheiros (a média de sua carreira é de 9,7%). O efeito colateral? Sua média de turnovers subiu, claro.

De tudo o que já se falou sobre Beasley, um discurso o acompanhou em  uníssono: a de que o jogo parece muito fácil – e parece, mesmo –, mas que ele não faria sua parte, entrando com o mantra do basquete (e do sonho) americano. De que tem de ralar a poupança, respeitando os adversários e o grande jogo, enquanto, ao mesmo tempo, deveria entender as limitações e trabalhar duro em cima delas. Antes de ser demitido, Lance Blanks, ex-gerente geral do Suns, confiava em tudo isso: que seria possível guiar o jogador rumo ao Éden e, com ele, iria o time junto. Nenhum dos dois durou mais de uma temporada a partir da assinatura do contrato. Mesmo com a franquia ainda precisando pagar US$ 12 milhões em salário.

Fim da linha?

Não. Pat Riley resolveu fazer a aposta. Justo ele, o primeiro a abrir mão do atleta em uma negociação com o Minnesota Timberwolves – recebeu, em contrapartida, uma quantia não especificada de dinheiro e duas escolhas de segunda rodada no Draft, pacote conhecido também por “troco de pinga” na NBA. Naquela época, precisava se livrar de qualquer centavo que julgasse supérfluo em sua folha de pagamento, para abrir espaço para a contratação de LeBron e Bosh, além da renovação de Wade. O ala ganharia US$ 4,9 milhões. Então foi “rua!” para ele.

“Estou feliz que ele esteja de volta, e acho que ele é a vela de ignição de que este time precisava do ponto de vista de talento”, afirmou Wade, que acompanhou de perto os altos e baixos do atleta entre 2008 e 2010. “Sempre digo que a grandeza de Michael depende só dele. O quão bom ele quer ser. Agora vamos nós todos ver no que dá.”

Três anos depois, o ala retorna para South Beach. “Todo mundo me acolheu. D-Wade ficou no meu ouvido o tempo todo”, disse Beasley após seu primeiro treino com o time, num início de pré-temporada… Nas Bahamas! Vamos ver se a turma se comporta.

Será que o Miami Heat andava tão entediado assim? Conquistar a NBA estava muito fácil? Era preciso mais emoção? Não, brincadeira. Aí seria muito sádico de sua parte – e não vão se esquecer tão cedo do sufoco que passaram perante Tim Duncan e Tony Parker.

A verdade é que Riley não tinha muito o que fazer, mesmo. Já tinha sido obrigado a anistiar Mike Miller para economizar e evitar as multas pesadas de gestão da liga. De novo foi uma questão de economia. Desta vez Beasley chega com desconto, recebendo o salário mínimo, e ão havia ninguém disponível no mercado com o “potencial” (sempre ele) deste problemático jogador para se adequar a essa mixaria. “Michael teve os melhores anos de sua carreira conosco. Sentimos que ele pode ajudar”, disse o presidente do clube.

Para fechar, porém, só um adendo: o contrato  de Beasley não tem garantia para toda a temporada. Aprontou, dançou. Aí não tem terno bem cortado e currículo vitorioso que passe tanta confiança assim.


Chalmers (!) lidera ataque balanceado do Miami, que estoura no 2º tempo e empata final contra Spurs
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Giancarlo Giampietro

RIIIIO!

Tem noite que os jornalistas esperando do lado de fora do vestiário do Miami Heat só ouvem uma coisa: RIO!

É “Rio” pra cá, “Rio” pra lá, aos berros.

E, por mais que a maravilhosa que seja a cidade, não se trata de nenhuma fixação específica sobre a capital carioca: mas, sim, a rotineira sessão de esculacho para cima de Mario Chalmers. Pouco maduro com a bola, ele era afeito a alguns lances destrambelhados, que deixavam seus companheiros atônitos.

Além das pontes aéreas em contra-ataque, da admiração com as loucuras de Chris Andersen e de andar de bicicleta por South Beach, o esporte favorito de LeBron James e Dwyane Wade era avacalhar com seu armador.

Imagino que nesta noite de domingo os gritos tenham sido os mesmos. Mas dessa vez com uma ternura nos gritos, elogiosos, celebrando o companheiro que conseguiu, ao menos por uma noite, superar Tony Parker.

Chalmers marcou 19 pontos e foi o cestinha do Jogo 2 contra o San Antonio Spurs, liderando um ataque superbalanceado para uma vitória por 103 a 84. Não é uma quantia de outro mundo, mas não é todo dia que você consegue ser o cestinha num time com LeBron, Wade, Chris Bosh e Ray Allen. E o mais importante: a pontuação de Chalmers aconteceu quando o jogo estava no pau ainda, com o Spurs ameaçando triunfar pela segunda vez na Flórida.

Depois da noite impecável de Parker na primeira partida, dessa vez foi Chalmers a completar uma atuação sem nenhum desperdício de posse de bola. Além disso, ele matou 6 de 12 arremessos no geral, duas em quatro de três pontos e todos os seus cinco lances livres. Pegou ainda quatro rebotes e deu duas assistências. Com ele em quadra, seu time venceu por 30 pontos de diferença.

Porque de “armador”, na verdade, Chalmers tem pouco em um time que já conta com dois excelentes condutores em outras posições no quinteto inicial. Para o jogador, o fundamental é aproveitar as chances que tem a partir da marcação dobrada que seus companheiros mais célebres atraem. Nesta partida, ele executou o que lhe cabe com agressividade e muita eficiência.

Na final da Conferência Leste, o jogador já havia feito a sua parte, diante de uma defesa fortíssima como a do Indiana Pacers, atacando George Hill com ousadia, sem se deixar intimidar por nada.

E esse é um traço do caráter do atleta – o destemor. Algo que vem desde os tempos de Kansas, pelo qual foi campeão universitário com direito a uma participação decisiva na final contra Memphis, encarando Derrick Rose, com direito a cesta de três pontos desequilibrada quase no estouro do cronômetro para forçar uma prorrogação.

Não percam de vista o seguinte: a final da NCAA é um dos maiores eventos esportivos de todos os Estados Unidos. Nível absurdo de pressão, e pra Chalmers aquilo parecia não dizer nada. Esse tipo de personalidade foi vital para sua sobrevivência num vestiário complicado e exigente.

Se os astros gritavam “RIO!”, talvez ele, sim, estivesse pensando em Copacabana ou algo do tipo.

*  *  *

Bosh x Manu

Bosh deixou as coisas um pouco mais difíceis para o Spurs no Jogo 2, ainda mais para Manu Ginóbili, em uma atuação horrível e destrambelhada

Tony Parker foi limitado a apenas 13 pontos e cinco assistências, com nove erros em 14 arremessos tentados, cometendo cinco turnovers. Seu marcador primário foi Chalmers, depois dos rumores de que LeBron talvez assumisse esse papel. Mas o crédito não pode ser todo dele, neste caso.

Erik Spoelstra dessa vez ordenou que seus jogadores fossem para baixo dos corta-luzes em cima do francês e que eles também fizessem a troca, com Haslem, LeBron ou Bosh recuando. Melhor que Parker arrisque seu arremesso melhorado de média distância, do que vá para a cesta com suas belas e velozes bandejas.

Bosh também foi muito melhor na proteção da cesta, atuando enfim como um pivô de força, protetor. Não terminou com nenhum toco, mas alterou diversos arremessos por parte do armador e outros. Tim Duncan (3-13 de quadra, nove pontos, irco!) surpreendentemente teve dificuldades ali debaixo, assim como Tiago Splitter.

(Em tempo: sobre o toco de LeBron para cima do catarinense? Digno de pôster e o tipo de jogada que, sinceramente, esperávamos acontecer aqui e ali: o catarinense nunca foi de saltar muito e acabou dando o azar de se deparar com o jogador errado na hora errada. Bom saber, contudo, que o brasileiro é daqueles que não dá a menor bola para isso. É do jogo, acontece. Sem criancices.

“Eu tentei fazer uma boa jogada. Fui para a enterrada e ele foi ainda melhor. Bloqueou. Tentei partir forte e ele estava bem ali. Ótima jogada para ele”, afirmou Splitter. Segue a vida.)

*  *  *

A sequência de 33 pontos contra 5 do Miami dos minutos finais do terceiro período em frente mostrou todo o potencial físico, atlético dessa equipe. Quando eles conseguem atingir essa quinta marca, fica praticamente impossível de se enfrentar. Foi o mesmo ritmo que usaram no Jogo 7 contra o Indiana Pacers. Nestas horas, as dobras defensivas se tornam sufocantes, com muitos desvios de direção e uma rotação e recuperações frenéticas.

MM e LBJ vibram

Baita vitória para o Miami, mas apenas uma vitória. Responderam bem, mas série só está 1 a 1. Não é que o placar geral tenha sido virado

Por isso é tão crucial para o Spurs cuidar da bola (foram 16 dessa vez, cinco no terceiro período), impedir ao máximo que eles entrem no contra-ataque, em quadra aberta. Porque, a partir daí, não só LeBron James se torna a arma mais letal do planeta, como seus arremessadores ganham espaço para atirar. E, se esses disparos começam a acertar o alvo, a coisa pode desandar rapidamente – o time da casa acertou 52,6% no perímetro, com destaque para as 3 em 3 de Mike Miller e as 3 em 5 de Ray Allen. Game. Set. Match.

Lembrando: com 3min49s restando no terceiro quarto, os texanos venciam por 62 a 61, após uma chute de Danny Green em flutuação. A partir dali, só deu Heat.  Não só a parcial terminou com dez pontos de vantagem 75 a 65, como, com menos de quatro minutos jogados do quarto período, o placar já era de 91 a 67, com uma cravada de LeBron.

*  *  *

Perder um jogo, aliás, em que LeBron tinha menos de dez pontos com quase três quartos disputados pode tirar o sono de alguns integrantes da comissão técnica do Spurs – menos o Popovich, que é não se abala com essas coisas, né?

Era uma atuação um tanto… Hã… Bizarra por parte do astro. Por um lado, dava para entender que ele não queria se precipitar perante aas armadilhas preparadas pelo Spurs. A tática de povoar o garrafão ou qualquer trecho de quadra à frente do supercraque foi mantida. O ala tinha, então, de decidir com sobriedade o que fazer diante dessa situação. Até aí tudo bem. Mas LeBron vinha com parcimônia demaaaaais. Era um pouco assustador.

Talvez por cansaço? Talvez por ter colocado na cabeça que era vital envolver todos os seus companheiros, a todo custo? De modo que se preservaria energia para arrebentar no quarto? Vai saber. Fato é que a arrancada de sua equipe no finalzinho do terceiro e início do quarto período nos poupou de mais uma daquelas discussões tipo Arquivo X para entender o que se passaria na cabeça do cara, que terminou com 17 pontos, 8 rebotes e 7 assistências, flertando com mais um triple-double.

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Foram dez rebotes  para Bosh, um milagre em 31 minutos. Wade também deu sua contribuição. Por mais que sua linha final tenha sido de míseros dez pontos e seis assistências em 30 minutos, o ala-armador foi muito bem no primeiro tempo, atacando com agressividade, impedindo que o Spurs abrisse com as bombas de três de Danny Green. Na segunda etapa, sumiu do mapa novamente – e parece que será esse o seu papel na série, mesmo, uma vez que o joelho não permite muito mais.

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Para fechar, algo típico sobre este Miami Heat. Quando saem as decolagens de contragolpe, quando as bolas de três caem, quando sua torcida deixa os coquetéis de lado para, enfim, gritarem, a postura que o time adota em quadra beira o inaturável. São poses e poses, como a de LeBron após o toco em cima de Splitter. Com a bola em jogo, ele para no centro do garrafão e se petrifica como uma estátua. E não deveria haver time mais atento a esse tipo de infantilidade do que o próprio Heat.

Ou será que eles já se esqueceram de uma provocação de Dwyane Wade bem na fuça dos reservas do Dallas Mavericks nas finais de 2011 e a reação que aquela exibição de soberba desencadeou? A estrela acertou um chute da zona morta e ficou com o braço erguido por uma eternidade, matutando provavelmente se havia, ou não, desferido a adaga final naquele Jogo 2. Sofreram uma virada incrível, perderam por 95 a 92, e a história do confronto se alternaria por completo.

Está documentado aqui, a 9min55s, com seu chute abrindo 15 pontos de vantagem:


Série constante de graves lesões ameaça ‘Eldorado’ de armadores na NBA
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose abatido

Como Rose vai retornar depois da ruptura do CLA? Torcida do Bulls apreensiva

Se o cara é um armador sensacional, um craque de bola ganhando milhões na NBA, alguma coisa pode estar errada ou algo de errado está prestes a acontecer?

Eu, hein?!

Que toda a galera bata na mesa da escrivaninha agora ou, se estiver com o computador no colo, que se corra até a madeira mais próxima: toc, toc, toc.

(Vocês vão me desculpar o começo de texto absurdo, mas é que, quando se dá conta de um apanhado como este que vem por aqui, é de se ficar meio atônito, mesmo, escrevendo qualquer coisa. Explicando…)

Porque Rajon Rondo é a vítima mais recente de uma profissão mágica, fundamental para deixar nosso passatempo predileto mais divertido: a de bom armador. Uma profissão que, por exemplo, vai deixando cada vez mais conhecida a a famigerada sigla LCA. Significado: ligamento cruzado anterior e sua ruptura. A mesma lesão que tirou Ricky Rubio e Derrick Rose de quadra ao final da temporada passada, sendo que o astro do Bulls ainda nem voltou a jogar e Rubio ainda tem dificuldades para recuperar o basquete que encantou a NBA em sua primeira campanha.

Os problemas físicos de uma talentosa fornada de armadores não param por aí, porém. John Wall perdeu quase meia temporada por conta de uma lesão por estresse na rótula – aliás, não me perguntem nada além disso, por favor, porque taí algo bem estranho de se escrever. Stephen Curry já tem o tornozelo direito castigado por tantas torções. Kyrie Irving, o prodígio do Cavs, mal conseguiu jogar por Duke na NCAA, devido a uma lesão no pé, fazendo apenas 11 partidas. Em seu ano de novato, sofreu com concussões e uma lesão no ombro. Mais velho que essa turma toda, Chris Paul também já teve de lidar com a ruptura de um menisco no joelho em 2010.

Nessa lista estão sete dos talvez dez mais da posição. Vamos evitar a brincadeira de elencar um top 10, mas dá para fazer de outro modo. Veja abaixo.

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Russell Westbrook, aquele dínamo do Oklahoma City Thunder, nunca perdeu um jogo em sua carreira devido a contusão ou lesão.

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Rubio, CP3, Irving

Três armadores brilhantes em diferentes níveis

Em termos de armador (sem pensar exclusivamente em jogadores puramente passadores como Andre Miller), a NBA vive hoje uma espécie de eldorado.

Checando o titular da posição em cada equipe, e a grande maioria vai apresentar um jogador de destaque. Nem todos são incontestáveis, mas tem muita gente no auge e outros de muito potencial, além de Steve Nash e Jason Kidd, no ocaso de suas carreiras históricas. Alguns podem ser considerados apenas regulares, mas é difícil de encontrar alguém que ruim de chorar.

Vamos lá.

Na Divisão do Pacífico, temos Stephen Curry, Steve Nash, Chris Paul (para não falar de Eric Bledsoe), Isiah Thomas e Goran Dragic.

Na região do Noroeste: Russell Westbrook, Damian Lillard, Ricky Rubio, Ty Lawson e Mo Williams.

No Sudoeste: Tony Parker, Mike Conley Jr., Darren Collison, Jeremy Lin e Greivis Vasquez.

Na Divisão Central: Derrick Rose, George Hill, Brandon Jennings, Brandon Knight e Kyrie Irving.

No Sudeste: Mario Chalmers, Jameer Nelson, Jeff Teague, Kemba Walker e John Wall.

Por fim, nos lados do Atlântico: Raymond Felton/Jason Kidd, Deron Williams, Jrue Holiday, Rajon Rondo e José Calderón.

Levando a brincadeira adiante, talvez dê para dividi-los assim:

A elite: Paul, Westbrook, Parker, Rose, Deron Williams, Rondo.
Wess pode não ter o maior fã-clube lá fora, mas é uma força da natureza como Rose, que atacam de uma outra forma na posição, mas com sucesso inegável. Williams ainda se segura por aqui pelo conjunto da obra, mas ainda tem muito o que jogar pelo Nets para justificar seu salário. Os demais? Nem precisa discutir, né?

Chegando lá: Irving, Curry, Holiday, Wall, Lawson.
Irving só não está um degrau acima ainda pela brevidade de sua carreira e por sua defesa pífia. Curry é o melhor arremessador da turma, herdeiro de Nash nesse sentido, Holiday combina bem doses de Wess/Rose com ótima defesa, Lawson perdeu rendimento nesta temporada, mas, quando está em plena forma, com confiança, ninguém segura. Wall: quando os chutes de média distância, ao menos, vão começar a cair?

No meio do caminho: Felton, Conley Jr, Calderón, Hill.
Com Felton, o Knicks é uma coisa. Sem ele, outra. O que não quer dizer também que ele esteja entre os melhores de sua posição: isso apenas reflete o modo como o elenco do Knicks foi construído, e a dupla armação em sintonia com Kidd se tornou vital. Conley começou o ano barbarizando, mas deu uma boa desacelerada depois. Ótimo defensor, veloz, mas ainda longe de ser decisivo. Calderón é um dos poucos puros passadores nesse amontoado todo, um ótimo organizador, mas que sofre muito na hora de parar os adversários. George Hill é o contrário: marcador implacável, bom finalizador próximo da cesta, mas que não está na mesma categoria de Rose e Westbrook e não faz o jogo ficar mais fácil para seus companheiros.

Em franca evolução: Lillard, Walker, Dragic, Teague, Jennings, Bledsoe.
Grupo de potencial, mas que ainda não sabemos exatamente onde vão parar. Ninguém poderia imaginar o impacto que Lillard vem causando em Portland. Mais um ano desse jeito e já vai para o andar superior. Walker enfim parece aquele terror da NCAA. Dragic é vítima das circunstâncias em Phoenix. Teague e Jennings ainda alternam bastante, mas contribuem de modo mais positivo com suas equipes no momento do que complicam seus treinadores. Bledsoe jajá vai ganhar uma bolada de alguém.

Enigmas: Rubio, Lin, Knight, Vasquez.
Ainda está cedo para avaliar o físico do espanhol depois da lesão – a defesa e o arranque para a cesta especialmente –, mas seu arremesso está ainda pior. Lin: ainda não acho que dê para dizer que a Linsanidade foi uma mentira, vide suas principais atuações neste campeonato quando Harden está de molho. Knight é dos mais jovens da lista, com apenas 20 anos, mas, comparando, está beeeeem abaixo de Irving em termos de produção estatística e personalidade em quadra, sendo que o rapaz do Cavs é de sua mesma geração. Mas todos em Detroit dizem que é um cara sério, que trabalha duro e que tem muito a crescer. A ver. Já os números do venezuelano são ótimos neste ano, mas fica a dúvida ainda se ele consegue manter esse rendimento com consistência e se consegue fazer valer seu tamanho na defesa, se tornando mais combativo.

Já deu o que tinha de dar: Nelson, Mo Williams, Darren Collison.
Nelson é o líder emocional do Orlando Magic, corajoso, habilidoso mas… seu tamanho hoje impede que ele compita de um modo justo contra aberrações atléticas que vêm dominando a posição. Williams sempre foi mais moldado como um ótimo sexto homem do que como alguém que vá fazer a diferença para um bom time de titular. Collison ainda é bastante jovem, mas rende mais quando é a estrela da companhia – vide seu ano surpreendente como substituto de Paul no Hornets. E quem vai querer dar a Collison um time para liderar, levando em conta o nível dos outros jogadores aqui listados?

Sobram Mario Chalmers e Isiah Thomas, dois casos bem particulares. Jogando ao lado de Wade e LeBron, Chalmers tem um papel bem reduzido em Miami: abrir a quadra com chutes de três pontos e colocar muita pressão na linha de passe do oponente, duas coisas que faz muito bem. É um jogador que se encaixa perfeitamente num esquema e ainda não foi testado para valer de outra forma. Isaiah Thomas, com 1,75 m, é o jogador mais baixo desta página, enfrentando todas as dúvidas de sempre. Pelo Kings, se mostra um jogador, de qualquer forma, bastante útil, com números sólidos, boa velocidade, mas não chega a ter a eficiência de um Lawson que o torne irresistível no ataque para compensar sua fragilidade na retaguarda.

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'Rio já não ouve mais tantos gritos assim de Wade ou LeBron

É justo comparar Mario Chalmers com os demais armadores quando sua função é tão diferente?

Como o Knicks vem mostrando com Felton e Kidd, finalizadores e facilitadores, o Heat com a obrigação de condução do time dissipada entre seus principais nomes, a ascensão de cestinhas impossíveis como Irving, Rose e Westbrook, é cada vez mais raro pensar no armador da NBA como um Bob Cousy ou John Stockton, e isso não quer dizer que estejamos diante do fim do mundo. O jogo vai mudando, seguindo diversos caminhos, e os técnicos e jogadores mais antenados vão se adaptando junto.

Só esperamos que as lesões gravem não acabem com essa evolução natural da modalidade. Não quer dizer que os astros estejam ou tendam a ficar baleados. Muitas vezes uma cirurgia pode acontecer apenas em decorrência de um lance de azar. Que essas ocorrências fiquem mais raras. Um armador com velocidade e mobilidade avariadas se complica em uma liga que valoriza cada vez mais o jogo atlético espalhado por toda a quadra.

E outra: enfermaria não tem graça nenhuma.


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