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Arquivo : Bradley Beal

Washington Wizards: mudança de hábito
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015 (acabou!)

Nenê e os dois garotos: alto astral na capital

Nenê e os dois garotos: depois de muito tempo, alto astral na capital

Foram cinco anos inacreditáveis. Desde o episódio das armas de Gilbert Arenas, em meio a sua rixa com Javaris Crittenton, até as trapalhadas de JaVale McGee, os incessantes arremessos forçados de Nick Young e Jordan Crawford, a postura pouco elogiosa de Andray Blatche, as negociações fracassadas… Afe. A folha corrida seria interminável se fosse para esmiuçar cada um dos tópicos aqui citados.

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O gerente geral Ernie Grunfeld, porém, pode respirar aliviado. Ao que parece, toda a turbulência vivida entre 2008 e 2013, ficou realmente distante no retrovisor. O cartola ao menos conseguiu limpar a bagunça que ele mesmo fez, se desfazendo de uma tranqueira depois da outra, antes que John Wall fosse contaminado.

Muitos podem pensar que o Wizards hoje é um time jovem, em ascensão. A segunda parte se sustenta: depois de cinco anos fora dos playoffs, eles voltaram na campanha passada e ainda venceram o Chicago Bulls numa série. Mas a pecha de um elenco jovial a gente pode esquecer. Está certo que Wall e Bradley Beal são os grandes chamarizes, com 24 e 21 anos cada. Otto Porter Jr. também tem 21. No restante da rotação do técnico Randy Wittman, porém, são seis atletas acima dos 30 anos, com destaque para os 37 de Paul Pierce e os 38 de Andre Miller.

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O plano de Grunfeld está claro: rodear suas jovens estrelas com veteranos profissionais, para reforçar uma cultura séria no vestiário e jogar para vencer agora, para já. Talvez o mais prudente fosse dosar mais as coisas e detectar mais algumas promessas para desenvolver um sólido núcleo ao redor de sua dupla do perímetro. Todavia, levando em conta o circo que foi a franquia no início da década, o caminho adotado fica mais compreensível.

Nessa mudança de hábitos, o pivô Nenê foi essencial. Não só pelo fato de o clube ter se livrado de McGee e Young no mesmo negócio, mas também devido principalmente à influência do brasileiro dentro e fora de quadra. Ele não esquivou de dar tremendas broncas em Wall e Beal, quando julgou que os dois estavam sendo excessivamente individualistas, sem se importar com o sucesso do time.

O pivô acabou se tornando um aliado importante para Wittman, que também merece crédito depois de fracassar em Cleveland e Minnesota. Promovido a treinador após a demissão de seu camarada Flip Saunders, ele fez a defesa da equipe evoluir consideravelmente, se estabelecendo entre as dez melhores da liga desde a temporada passada. “Esse foi o primeiro passo. Nesta liga, você tem de vencer pela defesa e precisa ter disciplina, e acho que Randy, desde o primeiro dia, começou a pregar isso. Ele tratou todos da mesma forma, mas cobrava bastante. Ele fez um ótimo trabalho ao convencer os jogadores”, afirma Grunfeld.

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Numa Conferência Leste ainda desolada, Cleveland Cavaliers e Chicago Bulls apresentaram as contratações de impacto, as estrelas para serem apontados automaticamente como favoritos. Mas o clube de Washington também tem talento, experiência e confiança para ir longe. Depois de tanta palhaçada na capital norte-americana, esse time agora é sério.

O time: Trevor Ariza foi embora, Nenê voltou a ser afastado por conta de sua insistente fascite plantar, e, ainda assim, o Wizards segue com uma retaguarda imponente: é a quinta defesa mais eficiente no início de temporada, atrás de Warriors, Rockets, Spurs e Grizzlies. Nada mal. John Wall coloca muita pressão nos armadores adversários e, por trás dele, está um garrafão muito forte, físico para fechar os espaços. Gortat ajuda muito nesse sentido, assim como a coleção de pivôs que Grunfeld acumulou. Drew Gooden, Kevin Seraphin, Kris Humphries, DeJuan Blair… São diversos brutamontes para se revezar e castigar os adversários.

No ataque, a ideia é acelerar sempre que possível, explorando o arranque de Wall, um dos jogadores mais velozes do mundo. Em situações de meia quadra, contra uma defesa já estabelecida, o time tende a encontrar mais dificuldades, mas a perspectiva é de melhora para quando Beal entrar em forma e sitnonia e quando Nenê retornar. Pierce oferece mais caminhos a serem explorados com seu jogo de mano-a-mano, visão de quadra e chute de longa distância. O conjunto de pivôs também se complementa bem.

A pedida: vocês vão dar licença, mas o Wizards tem o direito, sim, de pensar até mesmo nas finais da NBA.

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Olho nele: Otto Porter. No imprevisível Draft de 2013, o segredo mais mal guardado era de que, se pudesse, Washington selecionaria o ala de Georgetown na terceira posição. Não deu outra. O gerente geral Grunfeld via no espichado atleta um complemento ideal para Wall e Beal. Imagine, então, a apreensão do cartola ao observar uma primeira temporada desastrosa do garoto. Porter Jr. foi um fiasco sob qualquer perspectiva, desde a liga de verão, em que se mostrou perdido em quadra. Para piorar, sofreu uma lesão no quadril que o afastou da pré-temporada. Quando se recuperou, Trevor Ariza e Martell Webster ocupavam todos os minutos nas alas, e o time estava ajeitado, de modo que um calouro sem ritmo de jogo não teria espaço. Foi preciso paciência de ambas as partes, jogador e técnico, mas a espera valeu a pena. O jovem atleta de 21 anos ainda está no banco, mas agora tem um papel bem definido na rotação de Wittman e, em 15 jogos, já recebeu mais minutos do que no campeonato passado inteiro. De braços bastante longos e ágil, tem se esforçado para ajudar sua equipe nas pequenas coisas, contribuindo para uma defesa já forte. No ataque, muito mais confiante, elevou seu aproveitamento nos arremessos, com destaque para os 38,9% de três pontos.

Abre o jogo: “Só quero aproveitar o momento, sem me preocupar com o futuro, embora isso seja difícil. Vou para casa, e todo mundo fica me perguntando. Cara, é maluco. Até criancinhas de 4 anos perguntando se eu vou para o Wizards. E eu pergunto como diabos eles sabem dessas coisas. Com 4 anos de idade, eu nem sabia o que eram jogadores de basquete. Como eles sabem agora até sobre o mercado de agentes livres?”, Kevin Durant, ao USA Today, sobre a relativa pressão que sofre nos arredores de Washington, durante as férias, com muita gente esperando por sua assinatura em 2016, quando expira seu contrato com OKC.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Você não perguntou, mas… Pierce nem cogitava assinar com o Washington como agente livre, até que recebeu uma ligação de seu ex-companheiro de Boston, Sam Cassell. O clube estava preparado para perder Trevor Ariza e escolheu o veterano astro como uma opção. Será que rolaria? Bem, o ex-armador teve de ser persistente. Ambos estavam em Las Vegas e marcaram um almoço. No mesmo dia, também jantaram. Foi aí que o ala começou a assimilar a ideia. Gostou do plano e fechou contrato. A ironia é que, dias depois, Cassell deixou o Wizards e foi para o Clippers, trabalhar com Doc Rivers. Justamente o time para o qual Pierce acreditava que iria, caso não renovasse com o Nets.

2503-690978FrUm card do passado: Chris Webber. Infelizmente, aqui cabe um lembrete desagradável. Das últimas duas vezes que o time da capital conseguiu montar uma base forte e promissora, o sucesso durou pouco. No final dos anos 90, com a reunião de dois dos Fab 5, C-Webb e Juwan Howard, a equipe sonhava alto. Em 1996-97, chegaram a enfrentar o mítico Bulls nos playoffs e, claro, foram eliminados. A expectativa, porém, era de que voltassem ao mata-mata, e mais fortes. Não rolou: na temporada seguinte, até venceram mais do que perderam (42-40), e não foi o suficiente. As frustrações foram se acumulando, e a franquia fez uma das piores trocas possíveis: mandou Webber para Sacramento e recebeu Mitch Richmond e Otis Thorpe, dois veteranos que já estavam capengando. Na década passada, o núcleo formado por Arenas, Jamison e Butler durou mais tempo, deu trabalho para o Cavs do jovem LeBron, mas acabou se dissipando. A ver o que acontece com a formação de Wall e Beal.


Uma saudável entrevista para tentar decifrar Nenê
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Giancarlo Giampietro

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Numa cortesia do jornalista que faz a melhor cobertura da NBA nestes dias (Zach Lowe, do Grantland) –, temos a melhor entrevista de Nenê em muito tempo. Isso se não for a melhor de todas – até porque o acesso ao pivô do Washington Wizards nunca foi dos mais fáceis para quem tenta daqui do Brasil.

Corra para ler.

(…)

Já voltou?

Bem, são vários os pontos para serem destacados:

Nenê x Magnano, Washingotn, CBB, seleção

Seleção: Segundo o jornalista, Nenê supostamente afirma que a CBB não imagina o que seja disputar uma temporada da NBA e do desgaste que isso gera. Digo “supostamente” porque as palavras não estão precisamente saindo da boca do pivô, mas, sim, num complemento do próprio Lowe.

“Você vai disputar a Copa do Mundo da FIBA em 2014 se o Brasil ganhar um convite?” – esta foi a pergunta.

Ao que o grandão responde: “Não sei. Tive lesões no passado, e isso deu a oportunidade para que outros jogassem, para que pudessem se desenvolver um pouco e ganhar experiência. A temporada aqui, na NBA, tem quase 115 jogos se você vai para os playoffs. (A Confederação Brasileira de Basquete) não tem ideia do que é isso. Ao final da temporada, você precisa de descanso. Te de parar e acalmar um pouco”.

Dá para ler este trecho e já fazer a manchete chocante, não? “Nenê ataca a CBB: ‘Não tem noção sobre o que é a NBA'”.

Fica a tentação. Mas, a partir do momento em que a entidade não é mencionada na pergunta e a referência sai do jornalista, não parece correto. Após as lamentáveis vaias que tomou no Rio de Janeiro, é bem provável que o pivô esteja falando sobre o país como um todo, sobre a falta de compreensão do que se passa numa campanha na liga.

Ele admite que os clubes (Nuggets e Wizards) fazem pressão para que os jogadores recusem as convocações. “Mas quando você está lidando com a seleção nacional, não dá para controlar muito. Você sabe como é. Espero que eles mudem a cabeça sobre jogadores que estão na NBA. Temos muitos jogos, muita pancadaria aqui.”

– Mentor: O papel de liderança, de exemplo que o paulista de São Carlos desempenha no time. Saíram dois exemplos interessantes sobre os quais os brasileiros em geral não têm acesso, sem poder acompanhar de perto o cotidiano do Washington Wizards – a não ser que você, torcedor sofredor do ex-Bullets, abra o Post e blogs locais religiosamente:

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

1) De acordo com os relatos de gente de dentro do clube, Nenê é desses raros caras que dizem não liga para estatísticas e que realmente age desta maneira, sem se importar com sua produção em quadra. “Só olho mais quando perdemos, para ver o que posso fazer melhor”, diz o jogador.Esse tipo de postura, numa liga tomada pelos mais diversos egomaníacos, faz um bem danado em qualquer vestiário. Envergonha os mais aparecidos e estabelece uma boa referência aos mais jovens.

2) O ala-armador Bradley Beal, segundanista, revelou que, quando algum de seus companheiros falha no posicionamento em quadra, no ângulo ou no timing de um corte para a cesta, ele pode se preparar: lá vem berro do pivô. “Ah, mano, não grito tão duro assim”, defende-se Nenê.

O brasileiro, então, discorre sobr seu entendimento do jogo e afirma que ter jogado futebol na infância o ajudou nisso. “Tem a ver com a visualização das jogadas. Quando um jogador corre em campo, e você quer passar a bola, é preciso enxergar dois pontos (a trajetória). Você tem de enxergar a conexão. É a mesma coisa no basquete”.

Simples assim: o famoso ponto futuro de Cláudio Coutinho!

E, para constar, o francês Kevin Seraphin é quem fica de orelha mais quente. “Ah, sim! Ele pode ser um pouco lento. Aí vou gritar!”, sorri

Lesões: Sem se incomodar em ter fama de bichado, Nenê fala dos diversos problemas físicos que teve na carreira. “Aprendi sobre meu corpo. Sei que alguma coisa vai acontecer. Mas tem vezes que você não consegue controlar. Tem vezes que você precisa jogar e você vai lá e faz. Tento pensar de modos como evitar as lesões, mas estou recebendo um salário alto”. Aí o pivô diz que tudo isso aconteceria por uma razão, num determinismo religioso. “Não está no meu controle, tudo acontece por uma razão”, diz. Ok, não sou o maior fã desse tipo de discurso, mas cada um se guia pelo que quer. Depois, ele dá a entender que os planos de se aposentar em 2016 podem ser revistos. Mas tudo dependendo dos planos de uma entidade suprema.

Rebotes: Para alguém com sua agilidade, tamanho, envergadura e inteligência de quadra, Nenê tem uma média um tanto ridícula de 6,9 rebotes na carreira. Mas Lowe destaca em uma de suas questões que, quando o brasileiro está jogando, seus times tendem a ter um dos melhores aproveitamentos na coleta de arremessos errados. O atleta explica: “Se eu não fizer o bloqueio de rebote, se tentar roubar a bola de meus companheiros, poderia ter média de 13 ou 14 por jogo. Mas eu aprendi do jeito certo. Aprendi a bloquear, respeitar cada lado da cesta. Há uma razão para termos um rebote melhor quando jogo, porque sei os fundamentos. Você precisa bloquear não só perto da cesta, mas no garrafão inteiro. Os caras de fora também, para que os baixinhos não nos surpreendam lá embaixo”. Para os que veem o brasileiro jogar há tempos, não há o que se questionar aqui: estes pequenos detalhes são evidentes.

Wizards x playoffs: no finalzinho da entrevista, Nenê evita em prometer qualquer coisa aos torcedores. Mas todo mundo sabe que é playoff ou nada para a equipe da capital neste ano. “Se eu for dizer que vamos terminar em tal lugar e não acontecer, então será tudo contra minhas palavras. Mas nosso time é muito, muito bom quando jogamos do jeito certo, quando exploramos nosso talento. O céu é o limite. As pessoas sempre perguntam se podemos ir para os playoffs. E eu digo que que sim. Essa é a resposta honesta. Mas temos de trabalhar.”

O problema: Nenê já perdeu sete partidas este ano, das 24 que o time fez até aqui. E o Wizards depende muito de suas habilidades e de seu jogo estabilizador. Segundo Lowe, o time venceu apenas 7 de 39 partidas sem o brasileiro. Com ele, são 42 triunfos e 46 derrotas.


Em menos de um mês, raçudo Bobcats já iguala número de vitórias da temporada passada
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Giancarlo Giampietro

Kemba tenta o chute em flutuação

Kemba força a mão na infiltração, mas ajuda o Bobcats em surpreendente largada

O calouro Bradley Beal, do Wizards, recebe a bola livrinho da silva na linha de três pontos, restando pouco mais de três segundos no cronômetro. Cotado como o melhor chutador de sua fornada, ele desperdiça o arremesso, mas, com instinto apurado, segue a bola, ciente de que ela “daria bico” (adoro essa) e pega o rebote ofensivo no meio do caminho. Duas mãos nela, e parte para a cesta, entrando no garrafão pela diagonal. Não segurou com firmeza: o armador Kemba Walker apareceu na cobertura e conseguiu desarmá-lo, dando um tapa por cima. Mas a missão do jogador do Bobcats ainda não estava cumprida, e ele se saltou em direção à bola na linha de fundo, alcançando-a para, então, fazer um movimento extremamente atlético e malandro, quando girou no ar para cair de costas no chão e, antes, ganhar tempo. Atirou-a na direção de Nenê, acertando o ombro do pivô brasileiro, que se atirava atrás de alguma rebarba. A bola respinga e sai. A bola era do Bobcats.

Veja: tudo isso aconteceu em dois segundos.

Restava então pouco mais de 1s no cronômetro e a reposição era dos visitantes de Charlotte. Que Byron Mullens tenha acertado apenas um de seus lances livres, que o ala Jeffery Taylor tenha feito a falta em Chris Singleton na posse de bola seguinte, no estouro do relógio, na linha de três pontos, que Singleton tenha convertido dois em três chutes e levado a partida à prorrogação e que, ufa!, tenhamos visto dois tempos extras até se definir o jogo…. Nada disso importa. Pelo menos nesse post, aqui e a agora.

É que a jogada de Walker foi sensacional e mais uma prova clara que no basquete não vence apenas aquele que coloca a bola na cesta. Não vamos seguir aqui a filosovia Parreirista de que “o ponto é só um detalhe”. Eles valem o jogo, claro. Mas os outros 300 mil detalhes de uma partida também contam, e muito.

O próprio Walker talvez gostasse de seguir essa linha depois de ter feito 12 pontos contra o Wizards, mas acertando apenas três de 17 chutes de quadra. Foi um pesadelo para o aguerrido baixinho: ele conseguia fazer todos os movimentos corretos na hora de fintar seu defensor, mas simplesmente não matava nada na hora de se aproximar do aro. Foram diversas bandejas erradas. Por outro lado, sem perder a confiança, ele não deixou de atacar e perturbar a defesa do time da capital e ainda contribuiu com oito assistências e sete rebotes, dois deles na tábua ofensiva, um deles em outro lance capital. Faltavam 12 segundos na segunda prorrogação, e Ramon Sessions errou seu segundo lance livre, deixando o placar em 105 a 103. Aí o armador do Bobcats disse: “Chega!”. Encontrou um meio de bater o combalido Nenê na disputa pelo rebote, sofreu a falta do grandalhão no choque e matou as duas na linha, para alargar a vantagem para quatro pontos. E c’est fini.

*  *  *

As sete vitórias em 12 partidas do Bobcats são certamente a maior surpresa do início da temporada 2012-2013 da NBA, já que igualam em menos de um mês de campanha o total (!!!) do campeonato passado, quando tiveram o pior aproveitamento de toda a história da liga. De modo que Mike Dunlap desponta com um candidato a treinador do ano. Fato: muita gente zombou de Michael Jordan quando ele anunciou o ex-assistente de George Karl e ex-comandante da universidade de St. John’s. Que era um movimento para poupar dinheiro apenas, que o MJ não sabe nada, mesmo, como administrador. Bem, seu retrospecto nesse setor ainda é um horror, mas nessa parece ter acertado. Com um núcleo jovem no time e jogadores pouco habilidosos, instituiu treinamentos bem mais longos do que os de costume na liga, trabalhou com ênfase nos fundamentos e agora vai colhendo resultados surpreendentes. Até o Brendan Haywood aparece bem mais motivado.

*  *  *

MKG é demais

Kidd-Gilchrist luta por bola perdida com Beal e Nenê

Um dos termos mais valorizados e muito utilizados na cobertura do esporte nos Estados Unidos é o winner. Na América, ou você vence, ou está lascado. A ponto de, tamanha a insistência dos jornalistas, corre-se o risco de transformar essa definição num clichê banal. Mas ela tem tudo a ver quando vemos em ação o ala Michael Kidd-Gilchrist, escolha número dois do último Draft e outra influência decisiva em Charlotte.

Os relatos pré-recrutamento indicavam a personalidade e a energia do jovem ala de (!!!, de novo) 19 anos como algo contagiante. Batata. O rapaz não para em quadra, combate na defesa de modo incessante – e tem fundamentos, raça, força e agilidade para defender tanto jogadores mais baixos como mais fortes –, corre feito um maluco no contra-ataque, sabe de suas limitações nos disparos de fora e procura, então, o jogo interior… Dava para ficar o dia todo aqui listando e falando sobre o MKG.

Certamente ele vai voltar a aparecer por aqui muitas vezes. Podem apostar. Talvez para explorar o fato de ele se intimidar diante dos gravadores e microfones, gaguejando, e, ao mesmo tempo, ser o orgulho de qualquer treinador em quadra, como um líder nato, com tão pouca idade. É algo que vem desde os tempos do High School e que ficou bem claro em seu único ano com Calipari em Kentucky, botando fogo em Anthony Davis, Terrence Jones, Marquis Teague e o resto de um elenco badalado ao extremo e que realizou seu potencial para ser campeão.

Muito provavelmente ele se dê muito bem com Walker, alguém que chegou à universidade de Connecticut com pouca badalação em 2008, mas que evoluiu de maneira incrível por lá a ponto de, em sua terceira temporada, liderar os Huskies ao título nacional, sendo eleito o melhor jogador do torneio. Deu um duro danado.

E, como ensina o técnico e analista David Thorpe no ESPN.com, energia, vontade de se ralar e fazer as coisas certas são talentos que deveriam ser observados tanto como impulsão, munheca, velocidade. Tudo isso é parte de um rico e divertidíssimo universo.


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