Vinte Um

Arquivo : Aaron Gordon

Aaron Gordon perdeu em tempo real, mas vai ganhar na memória
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

zach-lavine-got-the-trophy-but-aaron-gordon-won-the-dunk-contest-too-cbssports-com

Vitória moral existe no esporte? Creio que sim, embora, para os que perdem, em tempo real, não haja consolo nenhum. Mas a história dá conta disso, ainda mais com tantos meios diferentes para registro disponíveis hoje. Daí que a competição de enterradas da NBA de 2016, desconfio, vai ser lembrado para sempre como o torneio de Aaron Addison Gordon, californiano de San Jose, 20 anos e 2,06m de altura. A aberração atlética do Orlando Magic que, com toda a licença brega possível, tomou conta dos sonhos e do imaginário coletivo da NBA na noite deste sábado.

Por causa disto:


Ou disto:

E que tal esta? Que os jurados simplesmente não conseguiram entender, ver tudo em tempo real, e aí fica a dúvida se não era o caso de defender e exigir, nos dias de hoje, o auxílio do vídeo antes de se dar uma nota. Por outro lado, quem se importa com isso? Digo: Aaron Gordo – e seu irmão, Drew – obviamente acreditam que ele foi roubado e que deveria ter vencido. Mas, a julgar ao menos pela repercussão instantânea, o sentimento da maioria é de que ele havia tomado conta do evento e vencido a parada.

Zach LaVine, que fique claro, é um doente incontrolável. Também foi impressionante. Seu tempo de voo é praticamente o de uma ponte entre Cogonhas e Santos Dumont. Aliás, se na transmissão da TNT, Charles Barkley dizia que o garoto não havia saltado exatamente da linha do lance livre. Que teria queimado ao salto, por assim dizer. Só não nos esqueçamos que Michael Jordan, em sua cravada mítica, também invadiu o garrafão:

jordan-free-throw-dunk

Mas o garoto lutava não só contra o ala do Orlando e mas também contra suas próprias memórias do ano passado, quando ressuscitou o torneio com um desempenho de deixar a NBA inteira embasbacada. Em Toronto, não era mais novidade. Então, acho que tenho de admitir isto: se não tivesse visto a jovem promessa do Minnesota decolar antes, talvez estivesse hoje absolutamente chapado pela carga de adrenalina imposta por ambos os finalistas.

Além disso, o que pega é que, por ser o atual campeão e até por ter recebido as melhores notas desde o início, tinha a teórica vantagem de se apresentar por último. Só não esperava enfrentar um competidor tão criativo e assustador como Gordon. A partir do momento em que seu concorrente passou a convocar a mascotinha simpática digna do mundo de Walt Disney para participar da festa, LaVine esteve sob pressão. E, aqui num sofá castigado na Vila Guarani, ofuscado. Ou, talvez seja melhor colocar desta maneira: quando ele estava enterrando, a liga toda ainda estava pensando, assimilando e se emocionando com o que Gordon havia acabado de fazer. Não deu tempo, não teve break.

(E, por favor, sem chilique: é só uma opinião de uma só pessoa, e não a verdade absoluta. O Giampietro sênior, papai VinteUm, por exemplo, preferiu LaVine. A madrugada já havia ido longe quando recebi esta mensagem: “O Gordon teve um salto dobrando os joelhos para transpor o mascote que foi um show. Mas gostei mais do conjunto do LaVine, que foi mais bonito e consistente, lembrando muito o Jordan. Se bobear, ganha ano que vem, novamente”. Acrescento aqui que seu gesto em reverência ao rival, quando recebeu o troféu, o foi muito bacana, de aguçada sensibilidade, entendendo que talvez fosse o caso de ambos serem nomeados campeões.)

É irônico que o melhor torneio de enterradas desde a #Vinsanity de 2000 tenha sido realizado justamente em Toronto, com Tracy McGrady de jurado e Vince Carter longe dali, talvez nas Bahamas.

Para fechar, só resgato aqui uma notinha que fiz no ano passado, sobre o “show das enterradas”. Vamos deixar de ser chatos, né?

É uma balança difícil, uma discussão que talvez não tenha fim, a procura pelo equilíbrio entre o que é “certo” e “puro” com o que seja “espetacular”, numa conotação que, para alguns, singifica “espalhafatoso”. Sempre que um jogador for encarar a cesta para tentar suas acrobacias, esse debate vai ser resgatado, para tentar entender o que poderia estar dando errado, ou certo, no basquete.  Uma coisa realmente exclui a outra? São poucos os que chiam, se é que eles existem, sobre o concurso de arremessos de três pontos. Afinal, o ato do chute seria algo legítimo da modalidade, sua finalidade. A glamorização das cravadas já significaria a corrupção. Por outro lado, é claro que também há quem só saiba valorizar acrobacias na quadra e ignore tantos outros elementos ricos e decisivos do jogo como o ângulo de um corta-luz e o corte fora da bola. Mas a melhor solução não seria tentar sempre conciliar as coisas? Encontrar o meio termo nesse tipo de – sério, mesmo!? – polêmica? Hoje essa coisa de bola ao cesto já envolve muita gente, digamos, grandinha, espichados ou mais velhos. Enterrar faz hoje parte do jogo.

O que se viu na noite deste sábado foi maravilhoso. Foram dois atletas desafiando o senso comum e as regras da física em geral.

Aaron Gordon, enterrada, mascote

Aaron Gordon, impulsão, enterrada

LaVine, enterrada, 2016

Verizon Slam Dunk Contest 2016Zach LaVine, aerial


Jukebox NBA 2015-2016: Skiles, Orlando e o Pearl Jam
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

orlando-magic-nbaVamos lá: a temporada da NBA já está quase na metade, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “The Fixer”, por Pearl Jam.

O “fixer” é aquele cara que dá um jeito nas coisas. Não só um quebra-galho, mas alguém que realmente soluciona seus problemas, e de modo profissional, direto e reto. Como na letra: se está muito escuro, ele vai jogar um pouco de luz. Se algo já passou ou está perdido, ele vai brigar para recuperar.  Pensem em Pulp Fiction e Winston Wolf, com Harvey Keitel controlando tudo. Na NBA, Scott Skiles desenvolveu essa reputação em sua carreira como treinador. Aos 51 anos, assumindo seu quarto time diferente, 0 ex-armador parecia ser o cara mais indicado para lidar com uma equipe que não venceu mais do que 25 partidas nas últimas três temporadas e teve aproveitamento de 27,6% nesse ínterim. Ainda mais tendo vínculos históricos com a franquia.

OK, Jacque Vaughn merece um desconto: ele foi contratado quando a franquia havia passado por um processo de implosão, ainda procurando um rumo depois de aturar tanta choradeira (e flatulência…) por parte de Dwight Howard. Não era das tarefas mais fáceis de modo nenhum, ainda mais com o time carente de escolhas altas de Draft para uso imediato.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Acontece que, com o acúmulo de campanhas fracas, as oportunidades para se garimpar jovens talentos de ponta vieram. Não sabemos ainda o que vai ser de Victor Oladipo, Aaron Gordon e Elfrid Payton, mas o potencial do trio é inegável. Ao mesmo tempo, Nikola Vucevic se firmou como uma grande surpresa no garrafão, enquanto Tobias Harris foi surrupiado de Milwaukee, alguns bons cidadãos foram contratados.

Nos últimos três campeonatos, o Orlando estagnou na hora de atacar, com 98,6, 99,3 e 99,5 pontos a cada 100 posses de bola, o que lhe valeu apenas as 27ª, 29ª e 25ª colocações no ranking de eficiência ofensiva. De nada adiantaram os reforços ou o ganho de experiência dos jogadores já presentes para que o time decolasse. Além disso, não é que do outro lado da quadra as coisas fossem tão diferentes assim. O time teve as sexta e sétima piores defesas da liga com Vaughn e só apresentou um certo grau de evolução na campanha 2013-14, na qual terminou em 18º nesse quesito, para, depois, regredir. Muito pouco, ou quase nada.

A solução, por ora, tem sido separar Payton e Oladipo ao máximo, enquanto nenhum deles se torna uma arma perimetral. Segunda unidade do Orlando cresceu com o deslocamento de Oladipo, que fica muito tempo com a bola em mãos

A solução, por ora, tem sido separar Payton e Oladipo ao máximo, enquanto nenhum deles se torna uma arma perimetral. Segunda unidade do Orlando cresceu com o deslocamento de Oladipo, que fica muito tempo com a bola em mãos

E aí entra em cena o ranzinza Skiles, com suas sobrancelhas (ou o que restam delas) pesadas e uma abordagem detalhista e implacável. Alguém cujas equipes melhoraram consistentemente depois de sua chegada. O Phoenix Suns saltou de 54% de aproveitamento para 64,5% com ele, em 1999-2000. O Chicago Bulls sofreu um pouco em 2003-04, com 28,8%, vindo de 36,6% no ano anterior, mas, em sua segunda campanha, já ganhava mais do que perdia (57,3%). Depois foi a vez do Milwaukee Bucks, que pulou de 41,5% para 56,1%. Em 13 anos, foi para os playoffs seis vezes.

O ganho, em geral, acontece na defesa. Em sete de suas 13 campanhas como treinador, Skiles gerenciou uma retaguarda que se colocou entre as dez mais eficientes da liga. Em seis dessas jornadas, na real, elas estavam entre as quatro mais duras de serem batidas. Sob sua orientação e a nova parceria com Monte Mathis, ex-coordenador defensivo de Rick Carlisle em Dallas, o Orlando ainda não chegou a este patamar, mas já deu um salto dramático, ocupando hoje a 14ª posição, sofrendo 101,5 pontos a cada 100 posses de bola.

Como faz isso? Para Skiles, não tem muito segredo: é preciso trabalhar. Sim, com alguns conceitos básicos para vedar o garrafão. Mas aí não basta um sistema: os jogadores têm de saber aplicá-lo. E, para isso, precisam de fundamentos. Sim, gente, todo jogador ainda tem o que aprender ou, pelo menos, aprimorar. Mesmo os de NBA, especialmente com elencos tão jovens. Você faz de tudo: como contestar um arremesso do lado contrário, como manter a bola em um lado da quadra, comunicação, bloqueio de rebote, como se comportar marcando em cima da bola, ou longe dela. Muitos e muitos exercícios de repetição em cima disso. Um processo enfático. Melhor que ele fale a respeito.

“Você tem de estabelecer sua fundação cedo e repetidas vezes durante os treinos. Tem de tirar toda e qualquer dúvida que os jogadores possam ter, em termos de suas responsabilidades em quadra. Eventualmente, eles tiram conforto disso. Sabem que, com o tempo, não vão precisar ficar pensando sobre o que deve ser feito, sobre quando trocar a marcação etc”, contou Skiles, em sua apresentação. “Quando você elimina essas dúvidas todas, é a hora em que eles sabem suas responsabilidades e começam a fiscalizar as coisas por conta própria. Cada jogador sabe exatamente 1000% o que deve ser feito, a cada dia. Mas isso precisa ser ensinado: o simples posicionamento dos pés, do corpo, das mãos, como para qualquer criança mais jovem. Vamos ser um bom time defensivo, só não sei quando. Mas sei que vamos conseguir isso.”

Skiles e Andrew Bogut montaram uma forte defesa em Milwaukee

Skiles e Andrew Bogut montaram uma forte defesa em Milwaukee

Um bom trabalho de um lado leva quase que invariavelmente a um melhor rendimento do outro. Os grandes treinadores conduzem defesa e ataque juntos. Uma coisa não deve funcionar separada da outra. São simbióticas. Na hora de buscar a cesta, então, o Magic tem agora é o 17º em eficiência. Curiosamente, o time faz os mesmos 101,5 pontos que toma a cada 100 posses de bola. Estão zerados, nesse sentido, e a tendência é de subida para os próximos meses e, principalmente, para 2016-17.

Agora… Tem uma coisa. Qualquer clube que contrate Skiles sabe qual o restante da história, do pacote. Não é alguém que, a despeito dos bons trabalhos, consiga ficar muito tempo em um lugar, até pelo estilo ranheta. Acho que 98,5% das relações humanas se desgastam com o tempo. A diferença é que, com este treinador, esse desgaste acontece em ritmo mais acelerado. Em Phoenix, depois de dois anos como assistente, só ficou uma temporada regular completa como técnico principal, tendo assumido durante um campeonato e sendo demitido no meio do outro. Em Chicago, ficou quatro anos. Em Milwaukee, foram três anos e meio. Em todos os seus empregos anteriores, foi demitido durante a temporada. Se for para fazer um paralelo com o futebol, seria José Mourinho, com a diferença de que o enjoado português tem muito mais sucesso em termos de troféus.

A pedida? Playoffs, quem sabe? Mas não vai ser fácil. Com poucos meses de instruções, Skiles já colocou o Orlando a briga por uma vaga no Leste, mas teve o azar de ver boa parte do pelotão intermediário da conferência despertar e sair da hibernação na mesma hora. Com o atual rendimento de 52,6%, teriam terminado em sétimo na temporada 2013-14 e em sexto em 2014-15. Agora, neste ano, ao meu ver, são quatro vagas a serem disputadas por sete times: Magic, mais Heat, Pistons, Celtics, Knicks, Wizards e Hornets.

(Não vou me estender sobre cada um desses times, pois tudo tem sua hora. Mas imagino que colocar o Miami nesse pelotão possa causar surpresa. Então vamos lá: no papel, é o elenco de mais cancha e mais qualificado, sim. Mas é fato que Wade e Dragic ainda não se entenderam em quadra e que Erik Spoelstra também não tem ajudado muito a vida dos dois. Você também não pode contar tanto assim com 80 jogos de Wade numa temporada. Neste momento, o time também se vê  no meio de uma sequência duríssima de jogos até o All-Star Game, com 14 jogos na estrada e duelos em casa com San Antonio, LA Clippers, Atlanta e Milwaukee. Ao final desta série, vamos ver qual será a campanha. Por fim, a situação contratual de Hassan Whiteside pode virar um problema.)

A gestão: o gerente geral Rob Hennigan parece entregar aquilo que a trilhardária família DeVos esperava: um Sam Presti light, tendo seu contrato renovado e prolongado até 2018 (o que não está tão longe assim, mas, ainda assim, significa algo de valioso depois das campanhas penosas dos últimos anos).

Rob Hennigan, quatro anos mais jovem que Kobe

Rob Hennigan, quatro anos mais jovem que Kobe

Hennigan tem, acreditem, apenas 33 anos de idade, sendo o dirigente mais jovem da liga, e, até o momento, vem fazendo um trabalho competente e paciente na coleta de jovens peças, sem apelar tanto como Sam Hinkie. Se o seu retrospecto no Draft ainda não é nenhum estrondo, também não dá para dizer que seja um fiasco, e isso só poderá ser avaliado de maneira mais razoável daqui a uns dois, três anos. O que dá para perceber é sua perspicácia em pequenas trocas que acabaram se tornando grandes para o time, como quando obteve os jovens e talentosos Harris e Evan Fournier ao despachar futuros agentes livres veteranos como JJ Redick e Arron Afflalo.

É o tipo de negócio que deixou Orlando numa posição interessante: o clube tem uma série de jogadores que podem amadurecer juntos e formar um núcleo fortíssimo, ao passo que também podem ser combinados em um superpacote para buscar uma troca por um All-Star, sem que a terra fique tão arrasada assim em uma transação de quatro-por-um, ou algo do gênero. A folha salarial também está sob controle, com espaço para adição de mais talentos nos próximos mercados de agente livre, ou para absorver eventuais extensões contratuais de Oladipo, Gordon e que tais. É a tal da “flexibilidade”, tão valorizada na condução de uma franquia e não muito simples de ser atingida.

Olho nele: Aaron Gordon. Se nenhuma lesão de última hora atrapalhar as coisas, muito provavelmente o ala estará no torneio de enterradas em Toronto. Aí é a hora em que você, leitor mais chato e consciente, pode dizer: e daí? Desde quando isso vale alguma coisa? No que deu o Harold Miner?! Sim, sim, sim, está certinho: por mais exuberante Gordon seja como atleta, sua impulsão e elasticidade não valem de nada se ele não souber o que fazer com a bola. E, hoje, a quarta escolha do badalado Draft de 2014 ainda não faz muito com ela. É um projeto em desenvolvimento e mais uma prova clara de que a formação de base dos Estados Unidos já têm alguns grandes buracos para serem tapados. Entre fraldinhas e juvenis, alguém que seja tão vigoroso e saltitante se impõe por conta própria. Aconteceu o mesmo quando o americano foi enviado ao Mundial Sub-19 de 2013, devorando a concorrência no garrafão. Entre profissionais, ele manteve a agressividade e produtividade, concluindo 69,2% de suas finalizações nas imediações da cesta.

Mas Gordon tem muita mobilidade para ser limitado a um jogador de uma bola só no ataque (cravadas e cravadas). Aos poucos, com apenas um ano pela Universidade do Arizona e uma campanha de calouro acidentada, novos elementos vão surgir. E aí tem de ser um trabalho de formiguinha, de longo prazo, adicionando um a um. A prioridade no momento é seu chute de três pontos, com os pés plantados, chegando agora a 34,7% de rendimento. Não é o ideal, mas já é um começo. Jogadas a partir do drible vindo do perímetro, arremessos em movimento, criação para os companheiros… Há muito o que ser desenvolvido no ataque. No momento, ele não representa ameaça alguma se não estiver equilibrado na linha perimetral ou atacando o aro. Ainda assim, o ala já merece seus quase 20 minutos por jogo pelo que é capaz de fazer na defesa, com uma presença física e vitalidade incômodas, imponentes e multiuso.

Scott Skiles, Orlando Magic, 1990Um card do passado: Scott Skiles, dãr. essa é das anedotas mais batidas de qualquer transmissão da NBA, mas não tem como deixar passar. Na temporada 1990-91, em seu segundo ano como um dos pioneiros do Orlando Magic, o armador aproveitou que estava enfrentando uma das defesas mais patéticas da história (a do Denver Nuggets no início daquela década) e, no dia 30 de dezembro, ainda inspirado pelo espírito natalino, distribuiu 30 assistências em quadra no antigo . Até hoje é o recorde em uma partida de temporada regular, e duvido que alguém um dia supere essa marca.

O Orlando venceu aquela partida por inacreditáveis 155 a 116, e Skiles esteve envolvido em 60,6% das 61 cestas de quadra que o clube da Flórida anotou, terminando com um double-double (marcou ainda 22 pontos, numa linha estatística para lá de absurda). E não é que ele tivesse Shaquille O’Neal ao seu lado para desviar atenção da defesa e completar pontes – o gigantão só viraria vizinho do Pateta dois anos depois.O ala reserva Jerry Reynolds, que viveu seus únicos anos produtivos na liga como opção de um time de expansão, foi o cestinha, com 27 pontos em 26 minutos. No quinteto titular, ainda estavam os alas Dennis Scott e Nick Anderson, que fariam parte do time memorável de 1993 a 1996, além de Terry Catledge e do pivô Greg Kite, que era um horror.

Um armador de espírito enfezado, astro nos tempos de High School em Indiana e que aprontou das suas na época de universitário, sendo inclusive preso por dirigir embriagado e com posse de *entorpecentes*, Skiles era um armador cerebral no ataque e se tornou, com o passar dos anos, um ótimo arremessador, mas, curiosamente, entregava o ouro como defensor.


Orlando Magic: um Philadelphia mais adiantado
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Orlando Magic espera vencer mais com sua ainda jovem base este ano

Orlando Magic espera vencer mais com sua ainda jovem base este ano

Muito antes de o Sixers despertar asco, revolta e choque na NBA , o Orlando Magic embarcou no mesmo plano de reformulação via Draft. É a reconstrução de um mundo sem Dwight Howard, que chega agora a seu terceiro ano – estando, então, mais avançado que o de seus companheiros de pindaíba em Philly. Perder, perder, perder, coletar jovens jogadores no Draft e tentar dar um salto no futuro. A diferença é que em nenhum momento eles foram tão radicais no projeto, um pouco por força das circunstâncias, mas também para manter um ou outro veterano por perto, mesmo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Jameer Nelson, Arron Afflalo, Al Harrington, Jason Maxiell, Solomon Jones, Glen Davis (esse não, vai), JJ Redick. Todos eles estão fora agora, mas, em geral, duraram mais tempo com o gerente geral Rob Hennigan do que qualquer veterano que Sam Hinkie tenha herdado. E quer saber do que mais? Não adiantou de nada para deixar a equipe mais competitiva. As 121 derrotas que sofreram nas últimas duas temporadas contaram como a pior marca da liga.

O que Hennigan e o técnico Jacque Vaughn esperavam era que ao menos a influência de jogadores mais experientes pudesse influenciar os mais jovens, apontando a direção a ser seguida, em termos de profissionalismo. Nesta temporada, chegou a hora de avaliar tudo isso. O Orlando adicionou mais duas escolhas altas de Draft, com os extremamente promissores Aaron Gordon e Elfrid Payton saindo delas, mas não ficou só nisso. Usou seu espaço no teto salarial para ir às compras e se reforçar. Parece que decidiram que chegou a hora de brigar pelos playoffs. De pelo menos tentar.

Ben Gordon ainda vive. Ou quase

Ben Gordon ainda vive. Ou quase

Se contrataram certo, aí já é uma outra questão. Qualquer um poderia estranhar, de início, o valor pago por Channing Frye. São US$ 32 milhões por quatro anos de serviço para o pivô que já tem 31. Mas aí a gente lembra que o mercado de agentes livres sempre funcionou assim. Os preços ficam inflados. Além do mais, Frye é um jogador bastante útil para qualquer equipe, com sua habilidade para converter os chutes de três pontos e defender o garrafão do outro lado. Claro que não se trata de nenhum Dikembe Mutombo, mas é um marcador muito mais atento que um Ryan Anderson, por exemplo. Ao final do acordo, estará no finalzinho da carreira, mas supostamente seu arremesso não será afetado, já que é alto pacas. Sam Perkins provou isso para nós, afinal. E um detalhe: ele foi apenas a segunda opção do time. Antes, foram atrás de Patrick Patterson, oferecendo a vaga de titular ao lado de Nikola Vucevic. Mas o ala-pivô preferiu ficar em Toronto.

Na hora de comentar as demais contratações, vocês me desculpem se tudo ficar muito mal-escrito. É que fechar com Luke Ridnour, Willie Green e Ben Gordon gera um tipo de confusão mental. Especialmente Gordon. O torcedor do Bulls ainda deve guardar um pouco de estima no coração sobre o veterano britânico, o que é compreensível. Agora, nem ouse falar sobre ele com aqueles que tenham apreço por Bulls e Bobcats/Hornets. O que ele mais fez por esses clubes? Reclamar. Dar trabalho aos técnicos. Ver seus índices de acerto nos arremessos despencar. Um horror.

Harris, 22, ainda está em evolução e vai virar agente livre: vale quanto?

Harris, 22, ainda está em evolução e vai virar agente livre: vale quanto? O Orlando lhe ofereceu algo em torno de US$ 8 a 9 milhões por ano. Seus agentes esperavam muito mais

Com tantos jovens atletas no elenco, Hennigan sentiu a necessidade de adicionar arremessadores experientes, para espaçar a quadra, encontrar um equilíbrio. Pena que o diminuto Gordon, seja por ferrugem ou pelo peso do tempo, mesmo, não pareça mais se enquadrar na condição de “especialista”. Seu contrato vale US$ 4,5 milhões, tem curta duração, mas não se justifica.

Ridnour, ao menos, oferece algo a mais: não só é mais produtivo hoje, como dá mais estabilidade na armação, para verdadeiramente contrabalancear o jogo ainda afoito de Payton e Victor Oladipo. Um cara para acalmar a situação quando necessário, errar pouco e ainda matar os chutes de média distância com muita eficiência. Tinha coisa melhor disponível, todavia? Sim, ainda mais se os recursos empregados em Gordon tivessem direcionados para tanto. Em termos de força estabilizadora, Frye já daria sua contribuição valiosa. Sem contar Green, cujos técnicos já encaram como um assistente extraoficial, dentro do vestiário.

De qualquer forma, está claro que para Orlando chegou a hora de subir alguns degraus. Querem se distanciar do fundo do poço. Ao final do campeonato, dependendo dos resultados e se a memória for curta, podem muito bem se achar no direito de criticar o que Philadelphia anda fazendo. Coisa. Feia. Mas faz parte do jogo.

O time: na última temporada, Vaughn coordenou o segundo pior ataque e a 17ª defesa. Quer dizer: tem muita coisa que acertar para que eles possam sonhar com os playoffs. No Oeste, seria impossível. Como a Flórida é um dos pontos mais visitados na Costa Leste, tudo muda de figura. Lá só um café com leite como o Sixers não pode ter aspiração a nada.

Vucevic sustenta números impressionantes, mas tem pouca presença defensiva. É, de qualquer forma, um dos pilares da equipe

Vucevic sustenta números impressionantes, mas tem pouca presença defensiva. É, de qualquer forma, um dos pilares da equipe

Em termos de material humano, o time tem grandes atletas para formar uma defesa asfixiante. Aaron Gordon infelizmente sofreu uma fratura, e o menino de 19 anos, apenas alguns dias mais velho que Bruno Caboclo, se mostrava muito mais pronto que o esperado para contribuir. Pode marcar oponentes de diversos perfis, e com segurança. Oladipo, um tremendo atleta e competidor, está retornando agora de uma lesão no joelho e de uma fratura facial.  Payton é um armador alto, veloz e impertinente. Tobias Harris é uma fortaleza, enquanto Maurice Harkless pode fazer de tudo um pouco. O problema é a inexperiência coletiva deles. O treinador precisa realmente ensinar o caminho das pedras.

Vucevic tem os números de um dos melhores reboteiros da liga, é verdade, mas ainda desperta dúvida na maioria dos scouts, principalmente por suas deficiências na defesa. Sua movimentação lateral fica aquém do desejado para impedir infiltrações de armadores e alas. Zach Lowe dá uma palhinha aqui.

No ataque, porém, o suíço-montenegrino vem evoluindo a cada ano, mesmo que sua carga aumente junto. Isto é: não perdeu eficiência quando foi mais exigido, o que é bom sinal. Ele pode matar seus arremessos de diversos pontos da quadra, tendo um excelente chute de média distância. Como finalizador, Harris também se destaca. Forte-pra-burro, ele tende a castigar defensores menores perto da cesta. Seu chute de longa distância vem sendo refinado, mas sua visão de jogo ainda é bastante limitada. A bola vai dele para a cesta, mas dificilmente encontra um companheiro mais bem posicionado.

Payton e Oladipo vão colecionar highlights o ano todo, mas também vão cometer um caminhão de erros com a bola. São de todo modo os principais criadores da equipe, e Vaughn, um ex-armador pouco brilhante, mas muito regular, vai ter de conviver com seus desperdícios e ensinar algumas manhas. Cabe ao treinador e sua comissão desenvolver essas peças talentosas. Ainda que jovens, vai chegar uma hora em que todos vão querer ser pagos. Harris, por exemplo, já vira um agente livre ao final do campeonato. Orlando precisa saber quem é que merece aumento, e nada melhor que jogar para valer para avaliá-los.

A pedida: a contratação de veteranos indica que, sim, o Orlando já acha que chegou a hora de entrar nos playoffs.

Allez, Fournier: liberdade para o francês em Orlando

Allez, Fournier: liberdade para o francês em Orlando

Olho nele: Evan Fournier. Pouco aproveitado por Brian Shaw em Denver, Fournier veio na troca por Arron Afflalo. Poucos entenderam, acreditando que o experiente ala valia no mínimo uma futura escolha de primeira rodada. Acontece que, para Hennigan, o ala de 22 anos seria tão ou mais valioso que isso, e o início de campanha dá indícios de que esteja certo. Se Payton e Oladipo são os principais condutores do time, o francês pode dar uma ajudinha aqui. Ainda que venha causando impacto mais com suas bombas de três, ele é outro que pode driblar e dar dinamismo ao sistema ofensivo à medida que se sinta mais confortável em quadra.

Abre o jogo: “Vucevic é o melhor jogador que ninguém conhece. Ele é um All-Star”, Doc Rivers, dando moral ao pivô do Orlando, time pelo qual fez sua estreia como treinador em 1999, ganhando de cara o prêmio de Técnico do Ano. Ele ficou na franquia até 2003.

Payton foi brevemente sequestrado pelo Philadelphia na noite do Draft

Payton foi brevemente sequestrado pelo Philadelphia na noite do Draft

Você não perguntou, mas… o Orlando Magic foi sacaneado por Sam Hinkie e o Philadelphia no último Draft. O gerente geral do Sixers deduziu, até com uma ajuda do diário Orlando Sentinental, que o time da Flórida estaria extremamente interessado no armador Elfrid Payton, na 12ª posição, depois de selecionar Aaron Gordon em quarto. Sua equipe tinha a 10ª posição. O que ele fez? Escolheu Payton. Um prospecto interessante, e tal. Mas ele nunca teve a intenção de contar com o armador. A ideia era apenas extorquir o clube da Disney. Deu certo: Rob Hennigan queria tanto Payton, que pagou não só a 12ª escolha, mas também outra futura. Justamente um pick que a gestão anterior havia cedido ao Magic na supertroca de Howard, Bynum e Iguodala em 2012. Cruel, muito cruel, diria o Januário de Oliveira.

Jacque Vaughn, Orlando Magic, point guardUm card do passado: Jacque Vaughn. O atual treinador teve uma breve passagem pela equipe da Flórida, dividindo a armação da equipe em 2002-2003 com Darrell Armstrong, hoje um dos 39 assistentes técnicos de Rick Carlisle em Dallas. Naquele ano, Orlando tinha mais uma jovem estrela, Tracy McGrady, mas que não havia chegado via Draft, mas, sim, como agente livre. A franquia não teve paciência para se solidificar ao redor do ala, nem mesmo depois do trágico negócio envolvendo Grant Hill. Era para os dois formarem a melhor dupla de perímetro da liga, mas a imprudência médica no tratamento de Hill, resultando em constantes graves lesões, acabou com esse sonho. Ainda assim, a cartolagem investiu na contratação de gente como Shawn Kemp, em seu triste fim de carreira, Andrew DeClerq, Pat Burke e Horace Grant. Vaughn era mais um desses veteranos que fazia contrapeso aos mais jovens – e não tão talentosos – do  elenco, como Ryan Humphrey, Jeryl Sasser, Steven Hunter e Olumide Oyedji. Mike Miller era aquele que se salvava, mas acabou trocado ao lado de Hmphrey para Memphis, vindo para o seu lugar Drew Gooden e Gordan Giricek. Era um time indeciso, que nunca chegou a formar uma base forte, para frustração de T-Mac.


Notas sobre Flamengo x Orlando: Machado, torcida e mais
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Flamengo em Orlando

Vamos lá, mais curto dessa vez, algumas notas sobre a derrota do Flamengo sobre o Orlando Magic nesta quarta-feira:

– O Flamengo fez um confronto parelho até quando aguentou. Isto é: os minutos finais do terceiro período. Depois, chega uma hora que o elenco e o volume de jogo de um time de NBA – numa partida mais longa que as da Fiba – começam a fazer a diferença, mesmo em fase de pré-temporada. Por isso, era recomendável desacelerar ao máximo as ações em quadra, ainda que essa postura pudesse contrariar a identidade que a equipe brasileira assumiu nas últimas temporadas.

Tem de aplaudir: jogadores dão um salve para a torcida do Fla em Orlando

Tem de aplaudir: jogadores dão um salve para a torcida do Fla em Orlando

– Ficar falando maravilhas da torcida do Flamengo é redundância. Só foi bem engraçado escutar os coros dos torcedores rubro-negros no suntuoso ginásio, especialmente quando o time reagia no segundo tempo e encurtava a diferença. Não há como confirmar os rumores espalhados por passarinhos mágicos da Disney, mas se disse por aí que mais flamenguistas foram vistos por lá do que numa noite qualquer de um shopping da Barra da Tijuca. (Além do mais, merece um entusiasmado parabéns aquele que teve a iniciativa de transmitir o jogo no telão do Maracanã para aqueles que foram ver o confronto com o América-RN.)

– Em termos individuais, você pode não ser dos maiores fãs dele, era só um amistoso, mas não há como negar que Marcelinho Machado tenha vivido uma pequena revanche nesta quarta, ao anotar 20 pontos em 30 minutos contra os rapazes de Orlando, sendo pelo segundo jogo seguido o cestinha do Fla. Dessa vez, ele converteu seus chutes com muita eficiência, incluindo um 6-12 na linha de três. Quando matou a quinta bola no segundo tempo, até voltou sorrindo para sua quadra, sem se conter. Fica o registro – discutir a carreira do camisa 4 fica para outra hora. É algo bem mais complexo do que um parágrafo possa cuidar.

– O promissor Cristiano Felício foi novamente muito bem contra os gigantões da NBA. Vamos escrever mais sobre ele depois da partida de sexta contra o Memphis Grizzlies. Só dá para adiantar que o desempenho já volta a chamar a atenção dos scouts da liga. Entre eles está um colega meu, a serviço de uma franquia da Conferência Oeste. No duelo desta quarta, pelo menos cinco times estavam presentes em Orlando – claro que para tomar nota de tudo, e, não, especificamente sobre o pivô. Sem contar os que acompanhavam a partida pela TV, como no caso desta fonte. Descrição de conversa com ele. Eu disse: “Se alguém tivesse escolhido Felício no final do segundo round do Draft passado, estaria bem felizagora”. O scout respondeu:”Acabei de dizer isso ao meu chefe”.

O garotão Aaron Gordon dá o toco em Herrmann no perímetro: americano é 16 anos mais jovem que o argentino

O garotão Aaron Gordon dá o toco em Herrmann no perímetro: americano é 16 anos mais jovem que o argentino

– O elenco do clube da Flórida é um dos mais jovens da liga. Veteranos como Ben Gordon e Luke Ridnour (e o lesionado Channing Frye) foram contratados para ajudar um pouco no amadurecimento – e também por serem ótimos arremessadores, que isso ajuda bastante. O exuberante Aaron Gordon, por exemplo, é apenas cinco dias mais velho que Bruno Caboclo. Elfrid Payton, o armador novato, tem 20 anos. Tobias Harris, 22, ainda que esteja entrando em sua quarta temporada de NBA.

– Os jogadores do Orlando não estudaram os do Flamengo. A ideia do técnico Jacque Vaughn ao quebrar esse ritual era que o time testasse, praticasse seus conceitos defensivos independentemente das características dos adversários – e que, qualquer ajuste que precisassem fazer, que descobrissem por conta durante a partida.

– Por falar em Ben Gordon… Relegado ao ostracismo na temporada passada em Charlotte, o chutador tem agora como prioridade em sua cartilha o verbo desenferrujar, antes de entrar em sua cruzada para mostrar que ainda pode cumprir o papel de jogador relevante na liga. Depois, pode alinhar o chassi, verificar óleo e motores e, aí sim, sair da oficina.

– Se o Maccabi Tel Aviv levou dois sacodes em seus amistosos, o mesmo não pode ser dito de um de seus principais concorrentes nacionais em tempos recentes, o Maccabi Haifa, que, também nesta quarta, fez um jogo duríssimo contra o Washington Wizards, na capital norte-americana, perdendo por apenas seis pontos (101 a 95). O clube israelense foi campeão de sua liga em 2013 e vice no ano passado. Ainda assim, se formos dar uma espiada no elenco da equipe, não há nenhum nome de fazer parar o quarteirão.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>